Os Períodos de Reinado dos Reis Neobabilônicos
Introdução
Pode-se acreditar nas ideias mais estranhas, não porque haja qualquer evidência mostrando que elas são verdadeiras, e sim por haver pouca ou nenhuma evidência para mostrar que tais ideias são falsas. Por muitos séculos, acreditou-se que a terra era plana, simplesmente porque esta ideia não podia ser testada e refutada facilmente. Muitas ideias que foram associadas a profecias bíblicas também pertencem definitivamente a esta categoria. É evidente que estas incluem algumas que foram associadas à declaração de Jesus sobre os “tempos dos gentios” em Lucas 21:24.
Por exemplo, em parte alguma a Bíblia diz de maneira explícita:
- Que Jesus, ao falar destes “tempos dos gentios”, estava pensando nos “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor mencionados no livro de Daniel, capítulo 4;
- Que estes “sete tempos” eram sete anos;
- Que estes “anos” não eram simples anos civis babilônicos, e sim “anos proféticos” de 360 dias cada, totalizando desta forma 2.520 dias;
- Que estes 2.520 dias não se aplicaram apenas ao período da demência de Nabucodonosor, mas teriam também um cumprimento maior;
- Que neste cumprimento maior os dias devem ser contados como anos, de forma tal que obtenhamos um período de 2.520 anos, e
- Que este período de 2.520 anos teve início quando Nabucodonosor, em seu 18º ano de reinado, desolou a cidade de Jerusalém.
Nenhuma destas seis suposições pode ser confirmada por declarações bíblicas claras. Na realidade, elas nada mais são que uma série de conjecturas. No entanto, ao passo que a Bíblia não aborda ou sequer menciona qualquer destas ideias, ela também nunca diz explicitamente que são falsas.
Porém, quando se alega em seguida o que constituiria a sétima suposição da série, a saber: Que a desolação de Jerusalém por Nabucodonosor ocorreu em 607 A.E.C., chegamos a um ponto da linha de raciocínio que pode ser posto à prova e refutado.
Isto se dá porque a cronologia do período neobabilônico não está entre as suposições que não possam ser testadas.
Como será demonstrado neste e no próximo capítulo, a duração do período neobabilônico foi firmemente estabelecida atualmente por pelo menos dezessete linhas diferentes de evidência, quatorze das quais serão discutidas com certo detalhamento nestes dois capítulos.
No capítulo anterior foi indicado que a validade da interpretação profética da Sociedade Torre de Vigia referente à data 1914 está intimamente relacionada com a duração do período neobabilônico.1 Esse período terminou quando Babilônia foi capturada pelos exércitos do rei persa Ciro em 539 A.E.C., que é uma data reconhecida e confiável.
No primeiro ano de seu reinado sobre Babilônia, Ciro emitiu um decreto permitindo que os judeus retornassem a Jerusalém. (2 Crônicas 36:22, 23; Esdras 1:1-4) Segundo a Sociedade Torre de Vigia, isto encerrou o período de setenta anos, mencionado em Jeremias 25:11, 12; 29:10; Daniel 9:2 e 2 Crônicas 36:21.
Se, como a Sociedade sustenta, o restante judaico retornou a Jerusalém em 537 A.E.C., o período de dominação babilônica teria começado setenta anos antes, ou seja, em 607 A.E.C.2 E uma vez que a Sociedade Torre de Vigia defende que este período de setenta anos é um período de desolação completa de Judá e de Jerusalém, afirma-se que 607 A.E.C. foi o ano em que Nabucodonosor, em seu décimo oitavo ano de reinado, destruiu Jerusalém. (2 Reis 25:8; Jeremias 52:12, 29) Presume-se que este evento deu início aos 2.520 anos, período que é chamado de “tempos dos gentios” e que teria começado no ano 607 A.E.C.
Todavia, este ponto inicial está em contradição com diversos fatos históricos.
Nota Prévia
A matéria que será abrangida neste capítulo e no próximo inclui muita informação de natureza técnica, acompanhada por documentação detalhada. Ao mesmo tempo em que isto contribui para reforçar a base das datas estabelecidas, tal exposição faz-se também necessária devido às tentativas por parte de algumas fontes de desacreditar a evidência histórica, ao apresentarem informação que tem aparência de validade, ou mesmo de erudição, mas que, ao ser examinada, prova-se inválida e com frequência superficial. Alguns leitores podem achar o exame dos dados técnicos muito árduo. Aqueles que não acharem necessário saber todos os detalhes podem passar diretamente para os resumos no final de cada um destes dois capítulos. Estes resumos dão uma ideia geral da discussão, da evidência apresentada e das conclusões derivadas desta evidência.
A. Os Historiadores Antigos
Até a última parte do século dezenove, a única maneira de determinar a duração do período neobabilônico era consultando os antigos historiadores gregos e romanos. Esses historiadores viveram centenas de anos depois do período neobabilônico, e infelizmente as declarações deles frequentemente se contradizem.3
Os que são considerados como os mais confiáveis são: 1) Beroso e 2) o(s) compilador(es) da lista de reis comumente conhecida como Cânon de Ptolomeu, às vezes também chamada mais apropriadamente de Cânon Real.
Parece apropriado começar nossa discussão com uma breve apresentação destas duas fontes históricas, pois, embora nenhuma delas por si mesma proveja evidência conclusiva para a duração do período neobabilônico, o antigo testemunho que dão é certamente digno de consideração.
A-1: Beroso
Beroso foi um sacerdote babilônico que viveu no terceiro século A.E.C.
Por volta de 281 A.E.C. ele escreveu uma história de Babilônia em grego conhecida como Babiloníaca ou Caldaica que dedicou ao rei selêucida Antíoco I (281 – 260 A.E.C.), cujo vasto império incluía Babilônia. Depois Beroso deixou Babilônia e fixou-se na ilha ptolemaica de Cós.4
Infelizmente os escritos dele se perderam, e tudo o que se sabe sobre tais escritos provém de vinte e duas citações ou paráfrases que outros escritores antigos fizeram de sua obra, e de onze declarações que escritores clássicos (judeus e cristãos) fizeram sobre Beroso.5
As citações mais extensas tratam dos reinados dos reis neobabilônicos e encontram-se nas obras Contra Apião e Antiguidades Judaicas, de Flávio Josefo, ambas escritas na parte final do primeiro século E.C.; na Crônica de Eusébio e em sua obra Preparação para o Evangelho, ambas do início do quarto século E.C., e em outras obras antigas.6 Sabe-se que Eusébio citou Beroso indiretamente por meio do erudito greco-romano Cornélio Alexandre Polistor (do primeiro século A.E.C.).
Embora alguns eruditos tenham presumido que Josefo também só tomou conhecimento de Beroso através de Polistor, não há evidência que confirme isto. Outros eruditos concluíram que Josefo tinha uma cópia da obra de Beroso à mão, e recentemente o Dr. Gregory E. Sterling argumentou fortemente que Josefo citou diretamente da obra de Beroso.7 Os eruditos concordam que as citações preservadas mais confiáveis da obra de Beroso são as feitas por Flávio Josefo.8
Onde Beroso obteve sua informação sobre os reis neobabilônicos?
Segundo suas próprias palavras ele “traduziu muitos livros que tinham sido preservados com bastante cuidado em Babilônia e que abrangiam um período de mais de 150.000 anos.”9 Estes “livros” incluíam relatos de reis lendários de “antes do Dilúvio” com períodos de reinado muito exagerados.
Sua história das dinastias após o Dilúvio até o reinado do rei babilônico Nabonassar (747–734 A.E.C.) está também muito longe de ser confiável e contém evidentemente muita matéria fictícia e períodos de reinado exagerados.
O próprio Beroso indica que foi impossível apresentar uma história confiável de Babilônia anterior a Nabonassar, uma vez que esse rei “juntou e destruiu os registros dos reis anteriores a ele para que a lista dos reis caldeus começasse por ele.”10
Todavia, apesar destes problemas, para períodos posteriores, e especialmente para o crítico período neobabilônico, foi estabelecido que Beroso usou as geralmente muito confiáveis crônicas babilônicas, ou fontes similares a estes documentos, e que ele registrou cuidadosamente o conteúdo delas em grego.11 Os números que ele apresenta para os reinados dos reis neobabilônicos concordam substancialmente com os números que constam em outros documentos cuneiformes antigos.
A-2: O Cânon Real
O Cânon de Ptolomeu ou, mais apropriadamente, o Cânon Real é uma lista de reis e os períodos de seus reinados, começando pelo reinado de Nabonassar em Babilônia (747–734 A.E.C.), e seguindo pelos governantes babilônicos, persas, gregos, romanos e bizantinos
A lista de reis foi incluída nas Tabelas Práticas, elaboradas pelo famoso astrônomo e geógrafo Cláudio Ptolomeu (70 – 165 E.C.), que finalizou a lista com o imperador romano contemporâneo Antonino Pio (138-161 E.C.).12 É por isso que ela veio a ser conhecida como Cânon de Ptolomeu (Veja a página seguinte.). Todavia, há evidência de que listas reais deste tipo eram usadas muito antes da época de Cláudio Ptolomeu.
A razão por que a lista de reis não poderia ter se originado com Cláudio Ptolomeu é que uma tabela deste tipo era um pré-requisito para a pesquisa e para os cálculos feitos pelos astrônomos babilônicos e gregos. Sem isto eles não teriam como datar os eventos astronômicos que seus cálculos indicavam ter ocorrido no passado distante.
Encontraram-se fragmentos antigos de listas reais deste tipo, escritas em papiro.13 O renomado perito em astronomia babilônica, F. X. Kugler, concluiu que o chamado Cânon de Ptolomeu “evidentemente foi elaborado por um ou mais peritos em astronomia e cronologia babilônica, e por meio do uso na escola de Alexandria passou com êxito por rigorosos testes indiretos.”14 O Dr. Eduard Meyer escreveu de modo similar sobre o cânon em 1899, argumentando que, “uma vez que ele fazia parte da matéria tradicional de conhecimento dos astrônomos, foi transmitido de erudito para erudito; nem mesmo Hiparco [do 2º século A.E.C.] poderia ter passado sem a lista babilônica.”15
Esta é a razão por que o Professor Otto Neugebauer chamou a expressão “Cânon de Ptolomeu” de inapropriada:
É inapropriado chamar tais tabelas cronológicas de ‘cânon ptolemaico.’ O ‘Almagesto’ de Ptolomeu nunca conteve um cânon deste tipo (apesar das afirmações contrárias, feitas frequentemente na literatura moderna), mas sabemos que uma βασιλεϖν χρονογραφια [crônica de reis] foi incluída em suas ‘Tabelas Práticas’. . . . Por outro lado, não há qualquer razão para pensar que cânones reais para fins astronômicos não existissem muito antes de Ptolomeu.16
De modo que o cânon, ou lista de reis, estava em uso séculos antes de Cláudio Ptolomeu. Foi transmitido e atualizado de uma geração de eruditos para a seguinte.
Deve-se observar que o cânon não apresenta apenas uma lista consecutiva de reis e de seus períodos de reinado; em uma coluna à parte há um breve resumo dos reinados individuais, desde o primeiro rei, Nabonassar, até o fim da lista. Este sistema provê uma dupla verificação dos números individuais, confirmando que eles foram copiados corretamente de um erudito para o próximo. (Veja o “Cânon Real”, na página anterior.)
De que fonte o(s) compilador(es) do Cânon Real obtiveram a lista de reis? Evidentemente ele foi compilado de fontes similares àquelas usadas por Beroso. Friedrich Schmidtke explica:
Com respeito à dependência das fontes, o Cânon de Ptol[omeu] certamente extraiu em grande medida sua matéria das Crô[nicas] Bab[ilônicas]. Isto fica evidente a partir da característica αβασιλευτα ετη [anos de intervalo entre reinados] 688-681 que se encontra também na Crônica (III, 28), ao passo que a Lista de Reis “A” mostra, em vez disso, Senaqueribe nesta parte, bem como nos dois αβασιλευτα ετη [anos de intervalo entre reinados] 704–703. O Cânon de Ptolomeu assim como a Crônica reflete aqui a tradição babilônica de não reconhecer Senaqueribe como rei legítimo, uma vez que ele saqueou e destruiu Babilônia.17
Há também alguma evidência de que o Cânon Real reflete não só as crônicas babilônicas, mas também as antigas listas babilônicas de reis, compiladas pelos escribas babilônicos. Assim os eruditos concluíram que ele se baseou em crônicas babilônicas e listas de reis, provavelmente através de fontes intermediárias, mas evidentemente independentes de Beroso.18 Esta é uma conclusão muito importante, uma vez que os números dados no cânon para os reis neobabilônicos concordam significativamente com os números anteriores de Beroso.
Temos assim duas testemunhas independentes que refletem a duração da era neobabilônica estabelecida nas crônicas antigas, e apesar de tais crônicas só estarem parcialmente preservadas em tabuinhas cuneiformes, os números que apresentam para os períodos de reinado dos reis neobabilônicos dão toda a evidência de terem sido fielmente transmitidos por Beroso e pelo Cânon Real.19
TABELA 1: OS REINADOS DOS REIS NEOBABILÔNICOS SEGUNDO BEROSO E O CÂNON REAL
NOME | BEROSO | CÂNON REAL | A.E.C. |
Nabopolassar | 21 anos | 21 anos | 625-605 |
Nabucodonosor | 43 anos | 43 anos | 604-562 |
Avil-Marduque* | 2 anos | 2 anos | 561-560 |
Neriglissar | 4 anos | 4 anos | 559-556 |
Labashi-Marduque | 9 meses | — | 556 |
Nabonido | 17 anos | 17 anos | 555-539 |
* Chamado de Evil-Merodaque em 2 Reis 25:27 e em Jeremias 52:31.
O Cânon Real omite Labashi-Marduque, pois sempre computa apenas anos inteiros. O curto reinado de Labashi-Marduque de apenas alguns meses caiu no último ano de Neriglissar (que foi também o ano de ascensão de Nabonido).20 Desse modo, o Cânon Real, pôde deixá-lo de fora.
Se estas listas estiverem corretas, o primeiro ano de Nabucodonosor seria 604/603 A.E.C. e seu décimo oitavo ano, quando ele devastou Jerusalém, seria 587/86 A.E.C., não 607 A.E.C. como na cronologia da Torre de Vigia.
Mas mesmo que estas listas representem verdadeiramente os períodos de reinado apresentados nas crônicas neobabilônicas originais, como sabemos que a informação cronológica contida originalmente nestas crônicas é confiável? Como podem os períodos de reinado dos reis serem convertidos em uma “cronologia absoluta”?21
B. Os Documentos Cuneiformes*
Hoje, os historiadores não precisam de Beroso nem do Cânon Real para estabelecer a duração do período neobabilônico. A duração deste pode ser firmemente estabelecida de muitas outras maneiras, graças aos numerosos documentos cuneiformes deste período que foram descobertos.
É um fato notável que foram escavados mais documentos cuneiformes do período neobabilônico do que de qualquer outra era pré-cristã. Foram encontrados literalmente dezenas de milhares de textos, consistindo principalmente de documentos comerciais, administrativos e jurídicos, mas há também documentos históricos tais como crônicas e inscrições reais.
Mais importante é a descoberta de textos cuneiformes astronômicos que registram observações datadas da lua e dos planetas para o período. A maior parte deste material está escrita no idioma acadiano e foi desenterrado na Mesopotâmia desde meados do século dezenove.
O primeiro grupo de documentos que nos interessa pertence à categoria apresentada no subtópico seguinte, sendo que outros grupos serão apresentados em subtópicos posteriores.
B-1: Crônicas, listas de reis, e inscrições reais
a) Crônicas Neobabilônicas
Uma crônica é uma forma de narrativa histórica que abrange uma sucessão de eventos.
Foram descobertas várias crônicas cuneiformes que abrangem partes da história neobabilônica, sendo que todas elas são mantidas no Museu Britânico, em Londres. Provavelmente a maior parte delas consiste de cópias (ou extratos) de documentos originais escritos na época dos eventos.22
A tradução mais recente delas foi publicada por A. K. Grayson em Crônicas Assírias e Babilônicas23 Grayson subdivide as crônicas babilônicas em duas partes, sendo a primeira destas chamada de Série de Crônicas Neobabilônicas (Crônicas 1-7). A Crônica 1 (= B.M. 92502) começa pelo reinado de Nabonassar (747–734 A.E.C.) e termina com o ano de ascensão de Samas-sum-iuquin (668 A.E.C.). As Crônicas 2–7 começam pelo ano de ascensão de Nabopolassar (626 A.E.C.) e prosseguem até o início do reinado de Ciro (538 A.E.C.).
Em que consistem estas “crônicas?” Com respeito ao conteúdo das crônicas, Grayson explica:
A narrativa é dividida em parágrafos, sendo cada parágrafo geralmente dedicado a um ano de reinado. O texto refere-se apenas a assuntos relacionados com Babilônia e, em particular, com seu rei, e os eventos, que são quase exclusivamente de natureza política e militar, são narrados de modo muito sucinto e objetivo.24
A maior parte destas crônicas está incompleta. As partes preservadas (realmente existentes) das Crônicas 2-7 abrangem os seguintes anos de reinado:
TABELA 2: PARTES PRESERVADAS DAS CRÔNICAS NEOBABILÔNICAS 2-7
CRÔNICA nº | REGENTE | ANOS DE REINADO ABRANGIDOS |
2 = B.M. 25127 | Nabopolassar | Ano de asc. – 3 |
3 = B.M. 21901 | Nabopolassar | 10 – 17 |
4 = B.M. 22047 | Nabopolassar | 18 – 20 |
5 = B.M. 21946 | Nabopolassar | 21 |
Idem | Nabucodonosor | Ano de asc. – 10 |
6 = B.M. 25124 | Neriglissar | 3 |
7 = B.M. 35382 | Nabonido | 1 – 11 |
Idem | Nabonido | 17 |
Ao todo, o Período Neobabilônico (625–539 A.E.C.) abrange um total de oitenta e sete anos de reinado. Como se pode ver na tabela acima, menos da metade deste período é abrangido pelas partes preservadas das crônicas. Ainda assim, algumas informações importantes podem ser obtidas com base nelas.
A Crônica 5 (B.M. 21946) mostra que Nabopolassar governou Babilônia por vinte e um anos, e que foi sucedido por seu filho Nabucodonosor. Essa parte do texto diz:
Por vinte e um anos Nabopolassar governou Babilônia. No dia oito do mês de ab ele morreu. No mês de elul Nabucodonosor (II) retornou a Babilônia e no primeiro dia do mês ele ascendeu ao trono real em Babilônia.25
A última crônica (B.M. 35382), a famosa Crônica de Nabonido, abrange o reinado de Nabonido, que foi o pai de Belsazar. Infelizmente esta crônica está danificada. Falta a parte que abrange do décimo segundo ao décimo sexto ano do reinado de Nabonido, e o trecho onde sem dúvida estavam as palavras “décimo sétimo ano” está danificada.26
Todavia, é notável que, para o sexto ano, declara-se que Ciro, rei de Anxã, derrotou o rei medo Astíages e capturou Ecbátana, capital da Média.27 Se Nabonido governou por dezessete anos e se ele foi destronado por Ciro em 539 A.E.C., seu primeiro ano deve ter sido 555/54 A.E.C. e seu sexto ano, quando Ciro conquistou a Média, deve ter sido 550/49 A.E.C.
Na realidade, a Sociedade Torre de Vigia concorda com estas datações. O motivo é que a base secular de sua cronologia, 539 A.E.C., como data para a queda de Babilônia, está diretamente conectada com o reinado de Ciro. O historiador grego Heródoto, do quinto século A.E.C., diz que o período completo do reinado de Ciro foi de vinte e nove anos.28 Como Ciro morreu em 530 A.E.C., em seu nono ano de reinado sobre Babilônia, o primeiro ano dele como rei de Anxã deve ter começado por volta de 559 A.E.C., ou cerca de três anos antes de Nabonido ascender ao trono em Babilônia.
Suponhamos agora que vinte anos devam ser acrescentados à era neobabilônica, o que se requer caso a destruição de Jerusalém seja fixada em 607 em vez de 587 A.E.C., e que acrescentemos estes vinte anos ao reinado de Nabonido, fazendo-o durar trinta e sete anos, em vez de dezessete. O primeiro ano dele seria então 575/74 A.E.C. em vez de 555/54. O sexto ano de Nabonido, quando Astíages foi derrotado por Ciro, seria então recuado de 550/49 para 570/69 A.E.C.
Todavia, essas datas são impossíveis, uma vez que Ciro só ascendeu ao poder por volta de 559 A.E.C., como foi mostrado acima. É claro que ele não poderia ter derrotado Astíages dez anos antes de subir ao poder! Esta é a razão de a Sociedade datar corretamente esta batalha em 550 A.E.C., indicando assim que o período de dezessete anos para o reinado de Nabonido está correto, como defendem todas as autoridades e escritores clássicos.29
Embora as crônicas disponíveis não forneçam uma cronologia completa do período neobabilônico, a informação preservada nelas apóia as datas para os períodos de reinado dos reis neobabilônicos apresentadas por Beroso e pelo Cânon Real.
Como a evidência já apresentada indica fortemente que ambas as fontes derivaram sua informação das crônicas babilônicas de maneira independente entre si, e como os números que dão para os reinados neobabilônicos estão de acordo, é lógico concluir que a informação cronológica dada originalmente nas crônicas neobabilônicas foi preservada sem alterações por Beroso e pelo Cânon Real.
Porém, mesmo que se aceite a conclusão acima, será que podemos confiar na informação apresentada nestas crônicas babilônicas?
Menciona-se freqüentemente que os escribas assírios distorceram a história com o objetivo de glorificar seus reis e deuses. “É um fato bem conhecido que em inscrições reais assírias nunca se admite abertamente um sério revés militar.”30 Às vezes os escribas falsificaram a narrativa por mudarem a data de uma derrota e incluí-la no relato de uma batalha posterior.31 Será que as crônicas neobabilônicas fazem o mesmo com a história? O Dr. A. K. Grayson, uma famosa autoridade em crônicas assírias e babilônicas, conclui:
Ao contrário dos escribas assírios os babilônicos não deixam de mencionar as derrotas babilônicas nem tentam transformá-las em vitórias. As crônicas contêm um registro razoavelmente confiável e representativo dos eventos importantes de cada período considerado.32
Temos então motivo para certeza de que os números referentes aos reinados dos reis neobabilônicos, fornecidos nestas crônicas e preservados até nossa época – graças a Beroso e ao Cânon Real – representam os verdadeiros períodos de reinado destes reis. Esta conclusão será confirmada, vez após vez, na discussão à frente.
b) Listas de reis babilônicos
Uma lista de reis cuneiforme difere de uma crônica porque a primeira é geralmente uma lista de nomes de reis, bem como os anos de reinado, semelhante ao Cânon Real posterior.
Embora tenham sido desenterradas várias listas de reis, tanto da Assíria como de Babilônia, somente uma delas abrange a era neobabilônica: a Lista de Reis de Uruque, mostrada na figura que segue. Infelizmente, como se pode ver, ela está muito mal conservada, e faltam algumas partes. Apesar disso, como será demonstrado, ela tem valor histórico definido.
As partes preservadas abrangem os períodos de Kandalanu a Dario I (647–486 A.E.C.) e, no lado reverso, de Dario III a Seleuco II (335–226 A.E.C.). Ela foi evidentemente elaborada em algum momento após o reinado de Seleuco II com base em fontes mais antigas.
A Lista de Reis de Uruque foi descoberta durante as escavações em Uruque (a moderna Warka, ao sul do Iraque) em 1959-60 juntamente com cerca de 1.000 outros textos cuneiformes (na maior parte textos comerciais) de diversos períodos.33
A parte preservada do anverso (frente ou lado principal), a qual inclui o período neobabilônico, fornece a seguinte informação cronológica (partes danificadas ou faltantes são indicadas por aspas ou parêntesis):34
LISTA DE REIS DE URUQUE
(anverso)
21 anos | K(anda)lanu |
1 ano | Sin-shum-lishir eSin-shar-ishkun |
21 anos | Nabopolassar |
43 (a)nos | Nabucodonosor |
2 (a)nos | Avil-Marduque |
‘3’(anos) e 8 meses | Neriglissar |
(…) 3 meses | Labashi-Marduque |
‘17[?]’ (anos) | Nabonido |
Como se pode ver, os nomes dos reis e os números preservados para o período neobabilônico estão de acordo com os de Beroso e do Cânon Real: A Nabopolassar se dão 21 anos, a Nabucodonosor 43 anos, e a Avil-Marduque (Evil-Merodaque) 2 anos. A única divergência é o período de reinado de Labashi-Marduque que se estabelece como 3 meses contra os 9 meses estabelecidos por Beroso. O número menor está sem dúvida correto, como se pode comprovar através dos documentos comerciais que foram descobertos.35
Em contraste com o Cânon Real, que apresenta apenas anos inteiros, a Lista de Reis de Uruque é mais específica, dando também o número de meses para os reinados de Neriglissar e Labashi-Marduque. Os números danificados referentes a Neriglissar e Nabonido podem ser restaurados (reconstituídos) como sendo “3 anos e 8 meses” e “17 anos”, respectivamente. Os textos comerciais indicam também que o reinado de Neriglissar foi de três anos e oito meses (agosto de 560 a abril de 556 A.E.C.).36
Assim, mais uma vez verificamos que os números de Beroso e do Cânon Real são confirmados por este documento antigo, a Lista de Reis de Uruque. Admitidamente, esta lista de reis foi composta (com base em documentos mais antigos) mais de 300 anos depois do fim da era neobabilônica. À base disso, alguém poderia argumentar que os erros dos escribas podem ter conduzido a isto.
Assim é importante perguntar: Há algum registro histórico preservado da própria era neobabilônica que estabeleça sua cronologia? Sim, há, como logo será comprovado.
c) Inscrições reais
Inscrições reais de diversos tipos (inscrições de construções, inscrições votivas, anais, etc.) das próprias eras assíria e babilônica foram encontradas em abundância.
Em 1912 uma tradução alemã das inscrições neobabilônicas conhecidas nessa época foi publicada por Stephen Langdon, mas desde então foram descobertas muitas outras inscrições do período em questão.37 Por isso, uma nova tradução de todas as inscrições reais neobabilônicas está sendo elaborada.38
Esta é uma tremenda tarefa. Paul-Richard Berger estima que foram encontradas aproximadamente 1.300 inscrições reais do período neobabilônico, um terço das quais estando intactas, sendo a maioria delas dos reinados de Nabopolassar e Nabucodonosor.39
Para a cronologia que nos interessa, três das inscrições são especialmente valiosas. Todas são documentos originais do reinado de Nabonido.40 Como podem elas ajudar a estabelecer a data crítica para a destruição de Jerusalém?
Vimos que, para defender a data 607 A.E.C., a Sociedade Torre de Vigia questiona a confiabilidade da duração do período neobabilônico, apresentada por Beroso e pelo registro do Cânon Real (freqüentemente chamado de Cânon de Ptolomeu), alegando que estão faltando 20 anos. A primeira das inscrições reais a serem discutidas, chamada de Nabonido nº. 18, confirma a duração do reinado desse rei tal como se apresenta naquelas fontes antigas.
A segunda tabuinha cuneiforme, Nabonido nº. 8, estabelece claramente a duração total dos reinados dos reis neobabilônicos até Nabonido, e permite-nos saber tanto o ano em que teve início o reinado de Nabucodonosor como o ano crucial no qual ele desolou Jerusalém.
A terceira, Nabonido nº. 24, fornece a duração do reinado de cada rei neobabilônico desde o primeiro, Nabopolassar, até o nono ano do último rei, Nabonido (Belsazar era evidentemente um co-regente com seu pai Nabonido no momento da queda de Babilônia).41
Seguem-se os detalhes de cada uma destas tabuinhas cuneiformes:
(1) Nabon. nº. 18 é uma inscrição cilíndrica de um ano não especificado de Nabonido. Cumprindo o desejo de Sin, o deus-lua, Nabonido dedicou uma de suas filhas (chamada En-nigaldi-Nana) a este deus como sacerdotisa no templo de Sin em Ur.
O fato importante aqui é que um eclipse lunar, datado no texto em 13 de ululu e observado na vigília da alvorada, levou a esta dedicação. Ululu, o sexto mês no calendário babilônico, correspondia a partes de agosto e setembro (ou, às vezes, a partes de setembro e outubro) em nosso calendário. A inscrição diz explicitamente que a lua “se pôs enquanto estava eclipsada”, ou seja, o eclipse começou antes e terminou depois do nascer do sol.42 O fim do eclipse, portanto, foi invisível em Babilônia.
Qual é a importância de tudo isso?
Quando estão disponíveis detalhes suficientes sobre um eclipse lunar e se sabe que ele ocorreu dentro de certo intervalo restrito de tempo no passado, os movimentos astronômicos são tão precisos que a data de um eclipse específico numa região particular pode ser determinada com precisão. Uma vez que os detalhes aqui satisfazem este requisito, em que momento do reinado de Nabonido ocorreu o eclipse descrito na tabuinha?
Em 1949 Hildegard Lewy examinou o eclipse e descobriu que apenas uma vez durante o reinado de Nabonido ocorreu um eclipse naquela época do ano, isto é, em 26 de setembro de 554 A.E.C. (segundo o calendário juliano).43 O eclipse começou aproximadamente às 3 horas da madrugada e durou aproximadamente três horas. Se Nabonido reinou por dezessete anos e o primeiro ano dele foi 555/54 A.E.C., como é geralmente aceito, o eclipse e a dedicação da filha de Nabonido ocorreram no segundo ano de seu reinado (554/53 A.E.C.).
Uma notável confirmação desta datação foi revelada vinte anos depois, quando W. G. Lambert publicou sua tradução de quatro fragmentos de uma inscrição do reinado de Nabonido que ele chamou de Crônica Real. A inscrição estabelece que a dedicação da filha de Nabonido ocorreu logo antes do terceiro ano dele, sendo obviamente no segundo, exatamente como Lewy tinha concluído.44
Assim, o eclipse lunar de 13 de ululu, fixa definitivamente o segundo ano de Nabonido em 554/53 A.E.C. e o primeiro ano dele em 555/54, dando assim uma confirmação muito forte aos números para o reinado de Nabonido estabelecidos por Beroso e pelo Cânon Real.45
(2) Nabon. nº. 8, ou Estela de Hila, foi descoberta em fins do século 19 nas vizinhanças de Hila, cerca de 24 quilômetros a sudeste das ruínas de Babilônia.46
A inscrição “consiste em um relatório sobre o ano de ascensão e sobre o início do primeiro ano de reinado de Nabonido” e, à base da evidência interna, pode-se comprovar que ela foi escrita quase na metade do primeiro ano de reinado dele (no outono setentrional de 555 A.E.C.).47
A informação fornecida neste documento, ajuda-nos a estabelecer a duração total do período desde Nabopolassar até o início do reinado de Nabonido. Como ela possibilita isto?
Em várias de suas inscrições reais (nº. 1, 8, 24 e 25 na lista de Tadmor) Nabonido diz que num sonho que teve em seu ano de ascensão, os deuses Marduque e Sin mandaram-no reconstruir Ehulhul, o templo do deus-lua Sin, em Harã. Relacionado com isto, o texto em discussão (Nabon. nº. 8) fornece uma parte muito importante da informação:
(Quanto a) Harã (e) Ehulhul que jaziam em ruínas por 54 anos por causa de sua devastação pelos medos (que) destruíram os santuários, aproximou-se o tempo para a reconciliação com o consentimento dos deuses, 54 anos, quando Sin deveria voltar ao seu lugar. Quando ele voltou ao seu lugar, Sin, o senhor do diadema, lembrou- se de sua posição elevada, e (sobre) todos os deuses que deixaram sua capela com ele, ou seja, Marduque, o rei dos deuses que ordenou o seu ajuntamento.48
Sabemos a data em que o templo Ehulhul em Harã foi arruinado pelos medos com base em duas fontes confiáveis diferentes:
A Crônica 3 babilônica (B.M. 21901) e a inscrição de Harã Nabon. H 1, B, também conhecida como Estela de Adade-Gupi (Nabon. nº. 24 na lista de Tadmor). A crônica diz que no “décimo sexto ano” de Nabopolassar, no mês de marchesvã (partes de outubro e novembro), “os uman-manda (os medos), [que] tinham vindo [ajud]ar o rei de Acade, reuniram seus exércitos e marcharam para Harã [contra Assur-Ubal]it (II) que tinha ascendido ao trono na Assíria. . . . O rei de Acade chegou a Harã e [. . .] capturou a cidade. Ele levou o vasto despojo da cidade e do templo.”49 A Estela de Adade-Gupi dá a mesma informação:
Visto que no 16º ano de Nabopolassar, rei de Babilônia, Sin, o rei dos deuses, estava irado com sua cidade e seu templo e foi para o céu — a cidade e as pessoas que (estavam) nela foram arruinadas.50
Assim é óbvio que Nabonido computa os “cinqüenta e quatro anos” desde o décimo sexto ano de Nabopolassar até o começo de seu próprio reinado quando os deuses lhe ordenaram que reconstruísse o templo.51
Isto está em excelente concordância com os números para os reinados neobabilônicos dados por Beroso e pelo Cânon Real. Como Nabopolassar reinou por vinte e um anos, decorreram cinco anos do décimo sexto ano até o fim de seu reinado. Depois disso Nabucodonosor reinou por quarenta e três anos, Avil-Marduque por dois e Neriglissar por quatro anos antes de Nabonido assumir o poder (os poucos meses de Labashi-Marduque podem ser desconsiderados).
Somando-se estes anos de reinado (5+43+2+4) nós obtemos cinqüenta e quatro anos — exatamente como Nabonido diz em sua estela.
Se, como foi estabelecido, o primeiro ano de Nabonido foi 555/554 A.E.C., o décimo sexto ano de Nabopolassar deve ter sido 610/609, seu primeiro ano 625/624 e seu vigésimo primeiro e último ano 605/604 A.E.C. O primeiro ano de Nabucodonosor foi então 604/603, e seu décimo oitavo ano, quando ele devastou Jerusalém, foi 587/586 A.E.C. — não 607 A.E.C. Estas datas concordam inteiramente com as datas obtidas à base dos números de Beroso e do Cânon Real.
Por conseguinte, a estela em questão acrescenta seu testemunho no estabelecimento da duração total dos reinados de todos os reis neobabilônicos anteriores a Nabonido. A força desta evidência — produzida exatamente durante a própria era neobabilônica — dispensa qualquer consideração adicional.
(3) Nabon. nº. 24, também conhecida como Inscrição de Adade-Gupi, existe em duas cópias. A primeira foi descoberta em 1906 por H. Pognon em Eski Harã, sudeste da Turquia, nas ruínas da antiga cidade de Harã (conhecida como Harã no tempo de Abraão). A estela, agora no Museu Arqueológico de Ancara, é uma inscrição tumular, evidentemente composta por Nabonido para sua mãe, Adade-Gupi.
O texto não só inclui um esboço biográfico da mãe de Nabonido, abrangendo o período desde o rei assírio Assurbanipal até o nono ano de Nabonido (quando ela morreu), mas fornece também o período de reinado de cada um dos reis neobabilônicos, excetuando-se naturalmente o do próprio Nabonido, que ainda estava vivo. Infelizmente, na primeira cópia a parte do texto que especifica os reinados está danificada, e os únicos números legíveis são os quarenta e três anos do reinado de Nabucodonosor e os quatro anos do reinado de Neriglissar.52
Todavia, em 1956 o Dr. D. S. Rice descobriu em Harã três outras estelas do reinado de Nabonido uma das quais continha uma duplicata da inscrição da estela descoberta em 1906! Felizmente, as seções da nova estela que contém a informação cronológica não estavam danificadas. A primeira destas seções diz o seguinte:
Do 20º ano de Assurbanipal, rei da Assíria, quando nasci, até o 42º ano de Assurbanipal, o 3º ano de seu filho Assur-etil-ili, o 21º ano de Nabopolassar, o 43º ano de Nabucodonosor, o 2º ano de Evil-Merodaque, o 4º ano de Neriglissar, durante (todos) estes 95 anos nos quais visitei o templo do grande deus supremo Sin, rei de todos os deuses do céu e do mundo inferior, ele olhou com favor para minhas piedosas boas obras, ouviu minhas orações e aceitou meus votos.53
Deve-se observar que os dois primeiros reis, Assurbanipal e seu filho Assur-etil-ili, foram reis assírios, enquanto os reis seguintes foram reis neobabilônicos. Isto indica que Adade-Gupi viveu primeiro sob o domínio assírio, daí, por causa da rebelião de Nabopolassar e libertação de Babilônia do jugo assírio, ela passou a viver sob o domínio babilônico.54 A mãe de Nabonido viveu mais de cem anos, e mais adiante o texto dá um resumo completo da longa vida dela:
Ele [o deus-lua Sin] acrescentou (à minha vida) muitos dias (e) anos de felicidade e manteve-me viva desde o tempo de Assurbanipal, rei da Assíria, até o 9º ano de Nabonido, rei de Babilônia, o filho que dei à luz, (ou seja) cento e quatro anos felizes (gastos) na devoção que Sin, o rei de todos os deuses, implantou em meu coração.55
Esta rainha morreu no nono ano de Nabonido, e o pranto pela mãe falecida é descrito na última coluna da inscrição. É interessante que a mesma informação é também dada na Crônica de Nabonido (B.M. 35382):
Nono ano: … No dia cinco do mês de nisã a rainha-mãe morreu em Durkarashu, que (está na) margem do Eufrates, rio acima, em Sipar.56
Todos os reinados dos reis neobabilônicos são fornecidos nesta inscrição real, desde Nabopolassar em diante até o nono ano de Nabonido, e os períodos de reinado estão em completa harmonia com o Cânon Real — um fato muito significativo, porque a confirmação é proveniente de uma testemunha contemporânea a todos estes reis neobabilônicos e intimamente associada com todos eles!57 Mais do que o testemunho individual de qualquer fonte, é a harmonia de todas estas fontes que é muito notável.
Os resultados de nossa discussão dos registros históricos neobabilônicos são resumidos na tabela seguinte.
TABELA 3: OS REINADOS DOS REIS NEOBABILÔNICOS SEGUNDO OS REGISTROS HISTÓRICOS NEOBABILÔNICOS
Nome do rei | Crônicas Neobab. | Lista de Reis de Uruque | Inscrições reais | Datas A.E.C. |
Nabopolassar | 21 anos | 21 anos | 21 anos | 625-605 |
Nabucodonosor | 43 anos* | 43 (a)nos | 43 anos | 604-562 |
Avil-Marduque | 2 anos* | 2 (a)nos | 2 anos | 561-560 |
Neriglissar | 4 anos* | ‘3’(a) + 8 m | 4 anos | 559-556 |
Labashi-Marduque | alguns meses* | 3 meses | — | 556 |
Nabonido | ‘17 anos | ‘17?’ (anos) | 17 anos | 555-539 |
* Estes números nas crônicas só estão preservados por meio de Beroso e do Cânon Real. Veja a discussão neste capítulo.
Como se pode ver à base da tabela, a cronologia neobabilônica adotada por historiadores seculares é apoiada com muita força pelas antigas fontes cuneiformes, algumas das quais foram produzidas durante a própria era neobabilônica. Três linhas diferentes de evidência em defesa desta cronologia são providas por estas fontes:
(1) Embora faltem partes importantes das Crônicas Neobabilônicas e alguns números da Lista de Reis de Uruque estejam parcialmente danificados, o testemunho combinado destes documentos apóia fortemente as cronologias neobabilônicas de Beroso e do Cânon Real, ambas as quais foram realmente — e de modo independente entre si — derivadas das crônicas e listas de reis neobabilônicas.
(2) A inscrição real Nabon. nº. 18 e a Crônica Real fixa astronomicamente o segundo ano de Nabonido em 554/53 A.E.C. A duração total do período neobabilônico anterior a Nabonido é fornecida por Nabon. nº. 8, que dá o tempo decorrido entre o décimo sexto ano de Nabopolassar até o ano de ascensão de Nabonido como sendo de cinqüenta e quatro anos. A estela fixa assim o décimo sexto ano de Nabopolassar em 610/09 e o primeiro ano dele em 625/24 A.E.C. De modo que estas duas inscrições estabelecem a duração de toda a era neobabilônica.
(3) A inscrição de Adade-Gupi apresenta os reinados de todos os reis neobabilônicos, desde Nabopolassar até o nono ano de Nabonido (com exceção do breve reinado de Labashi-Marduque, que durou apenas alguns meses, podendo ser desconsiderado). Como a Sociedade Torre de Vigia aceita indiretamente que Nabonido reinou por dezessete anos, esta estela sozinha já derruba a data de 607 A.E.C. para a desolação de Jerusalém.
Assim as crônicas babilônicas, a lista de reis de Uruque e as inscrições reais estabelecem firmemente a duração da era neobabilônica. E isto é só o começo. Estão para ser apresentadas linhas de evidência mais fortes em apoio da cronologia mostrada na tabela acima. O testemunho adicional delas deveria estabelecer os fatos históricos do assunto além de qualquer questionamento razoável.
B-2: Documentos econômico-administrativos e jurídicos
Foram escavados literalmente centenas de milhares de textos cuneiformes na Mesopotâmia desde meados do século 19.
A esmagadora maioria deles trata de itens econômico-administrativos e de direito privado, tais como notas promissórias, contratos (de venda, arrendamento ou doação de terra, casas e outras propriedades, ou de aluguel de escravos e gado), e registros de ações judiciais.
Grande parte destes textos é datada da mesma maneira que as cartas comerciais, contratos, recibos e outros comprovantes na atualidade. A datação é feita por se fornecer o ano do rei reinante, o mês, e o dia do mês. Um texto referente a sal cerimonial dos arquivos do templo Eana, em Uruque, datado do primeiro ano de Avil-Marduque (o Evil-Merodaque de 2 Reis 25:27-30, grafado como Amel-Marduque no idioma acadiano, com o m pós-vocálico pronunciado como w), é apresentado aqui como exemplo:
Ina-sila trouxe um talento e meio de sal, o sattukku regular oferecido no mês de simanfor ao deus Usur-amassu. Dia seis do mês de simanu, do primeiro ano de Amel-Marduque, rei de Babilônia.58
Foram desenterrados dezenas de milhares de tais textos datados do período neobabilônico. Segundo o famoso assiriologista russo M. A. Dandamaev, mais de dez mil destes foram publicados antes de 1991.59 Muitos outros foram publicados desde então, mas a maioria deles ainda não foi publicada. O Professor D. J. Wiseman, outro destacado assiriologista, estima que “provavelmente há uns 50.000 textos, publicados ou não, referentes ao período 627-539” A.E.C.60
Assim existe grande número de tabuinhas datadas para todos os anos da era neobabilônica inteira. O Dr. Wiseman estima que isso daria uma média de quase 600 textos datados para cada um dos oitenta e sete anos de Nabopolassar até Nabonido, inclusive.
É verdade que entre estes textos há muitos que estão danificados ou fragmentários, estando as datas freqüentemente ilegíveis ou faltantes. Além do mais, os textos não estão distribuídos uniformemente ao longo do período, uma vez que o número aumenta gradualmente e chega ao auge no reinado de Nabonido.
Apesar disso, todo ano individual ao longo do período inteiro está abrangido por numerosas, freqüentemente por centenas de tabuinhas que são datáveis.
Devido a esta abundância de textos datados, os estudiosos modernos podem não apenas estabelecer a duração do reinado de cada rei, mas também a época do ano em que cada mudança de reinado ocorreu, em alguns casos determinando quase o dia!
Os últimos textos conhecidos do reinado de Neriglissar, por exemplo, são datados de 2/I/4 e 6/I?/4 (isto é, dias 2 e 6, mês 1, ano 4, correspondendo a 12 e 16 de abril de 556 A.E.C., calendário juliano), e o primeiro texto do reinado de seu filho e sucessor, Labashi-Marduque, é datado de 23/I/asc. (3 de maio de 556).61 O último texto do reinado de Nabonido é datado de 17/VII/17 (13 de outubro de 539), ou um dia depois da queda de Babilônia (datada de 16/VII/17 na Crônica de Nabonido). A razão para a sobreposição de um dia após a queda de Babilônia explica-se facilmente:
É interessante saber que a última tabuinha datada de Nabonido, proveniente de Uruque é datada do dia seguinte à queda de Babilônia diante de Ciro. Notícias de sua captura não tinham ainda chegado à cidade ao sul, a cerca de 750 quilômetros de distância.62
Tendo em vista esta enorme quantidade de evidência documental, deve-se perguntar: Se vinte anos têm de ser acrescentados à era neobabilônica para situar a destruição de Jerusalém em 607 A.E.C., onde estão os textos comerciais e administrativos datados desses anos que faltam?
Quantidades de documentos datados existem para cada um dos quarenta e três anos de Nabucodonosor, para cada um dos dois anos de Avil-Marduque (Evil-Merodaque), para cada um dos quatro anos de Neriglissar e para cada um dos dezessete anos de reinado de Nabonido. Além disso, há muitos textos datados do reinado de Labashi-Marduque, que durou apenas dois meses, aproximadamente.
Se qualquer um dos reinados destes reis tivesse sido mais longo do que os períodos que acabamos de mencionar, grandes números de documentos datados certamente existiriam para cada um desses anos extras. Onde estão eles? Vinte anos são aproximadamente um quinto do período neobabilônico. Entre as dezenas de milhares de tabuinhas datadas deste período, deveriam ter sido encontradas muitos milhares referentes a esses vinte anos que faltam.
Se uma pessoa lança um dado (de um jogo de dados) dezenas de milhares de vezes sem nunca conseguir um 6, ela logicamente concluiria: “Não há número 6 algum neste dado.” O mesmo se aplica aos vinte “anos-fantasmas” da Torre de Vigia que estão faltando e que são procurados inutilmente no período neobabilônico.
Mas suponhamos que vários anos faltantes tenham realmente existido, e que, por algum incrível azar, os muitos milhares de tabuinhas datadas que deveriam estar lá não tenham sido encontradas. Por que ocorre, então, que os períodos de reinado segundo as tabuinhas datadas que foram descobertas, concordam com os números de Beroso, do Cânon Real, da Lista de Reis de Uruque, das inscrições reais contemporâneas, bem como com os números fornecidos por todas as outras evidências que ainda serão apresentadas? Por que será que, qualquer que seja o tipo de fonte histórica considerada, os anos supostamente “faltantes” são sempre vinte anos exatos? Por que não um período de dezessete anos num caso, treze em outro caso, sete anos em mais outro, ou talvez diferentes anos isolados, distribuídos ao longo do período neobabilônico?
Todo ano são descobertas quantidades adicionais de tabuinhas datadas, e freqüentemente se publicam catálogos, transliterações e traduções de tais textos, mas os vinte anos que faltam nunca aparecem. Até a improbabilidade tem limite.63
A importância dos textos econômico-administrativos e jurídicos para a cronologia do período neobabilônico dificilmente poderia ser exagerada. A evidência fornecida por estes textos datados é simplesmente esmagadora. Os reinados de todos os reis neobabilônicos são abundantemente confirmados por dezenas de milhares de tais documentos, todos eles tendo sido escritos durante esta era. Como se mostra na tabela abaixo, estes reinados estão em completa concordância com o Cânon Real e com os outros documentos discutidos anteriormente.
TABELA 4: A CRONOLOGIA NEOBABILÔNICA SEGUNDO OS DOCUMENTOS ECONÔMICO-ADMINISTRATIVOS E JURÍDICOS
Nabopolassar | 21 anos | (625 – 605 AEC) |
Nabucodonosor | 43 anos | (604 – 562 AEC) |
Avil-Marduque | 2 anos | (561 – 560 AEC) |
Neriglissar | 4 anos | (559 – 556 AEC) |
Labashi-Marduque | 2 a 3 meses | (556 AEC) |
Nabonido | 17 anos | (555 – 539 AEC) |
B-3: Evidência prosopográfica
A prosopografia (da palavra grega prósopon, que significa “rosto, pessoa”) pode ser definida como “o estudo das biografias, especialmente de indivíduos unidos por relações familiares, econômicas, sociais, ou políticas.”64
Uma vez que os nomes de muitos indivíduos freqüentemente se repetem nos documentos comerciais e administrativos — em alguns casos centenas de vezes por todo o período neobabilônico — os estudiosos geralmente aplicam o método prosopográfico em sua análise destes textos. Tal abordagem não só contribui para a compreensão da estrutura da sociedade neobabilônica e da vida nela, como também provê evidência interna adicional em apoio da cronologia estabelecida para o período.
Das dezenas de milhares de documentos da era neobabilônica, mais da metade são decorrentes de atividades de templo e foram encontrados em arquivos de templo, particularmente nos arquivos do templo de Eana em Uruque (o templo da deusa Istar) e no templo de Ebabar em Sipar (o templo de Xamaxe, o deus-sol). Mas muitos milhares de textos vêm também de arquivos e bibliotecas particulares.
Os mais ricos arquivos particulares são os das casas de Egibi e Nur-Sin, concentradas na área de Babilônia. Outros arquivos particulares foram encontrados, por exemplo, em Uruque (os filhos de Bel-uxalim, Nabu-uxalim e Bel-supê-muhur), em Borsipa (família de Ea-iluta-bâni), em Larsa (Iti-Xamaxe-balatu e seu filho Arade-Xamaxe) e em Ur (família Sin-ubalit).
Nenhum arquivo estatal do período neobabilônico foi encontrado, pois se sabe que nesta época tais documentos (no idioma aramaico) eram escritos sobre couro e papiro, materiais que se decompunham facilmente, dadas as condições climáticas da Mesopotâmia.65
Considere agora como o estudo de um dos arquivos disponíveis pode render valiosas informações de natureza cronológica.
a) A casa comercial de Egibi
Sem dúvida o maior arquivo particular do período neobabilônico é o da casa comercial de Egibi. Sobre este empreendimento, Bruno Meissner diz:
Da empresa Filhos de Egibi nós possuímos tão grande abundância de documentos, que podemos rastrear quase todas as transações comerciais e experiências pessoais de seus dirigentes, desde a época de Nabucodonosor até a época de Dario I.66
Os documentos comerciais da casa de Egibi foram descobertos pelos árabes durante a estação chuvosa do ano de 1875-76, num monte de terra na vizinhança de Hila, uma cidade aproximadamente vinte e cinco quilômetros a sudeste das ruínas de Babilônia. Umas três ou quatro mil tabuinhas foram descobertas encerradas em vários potes de barro, semelhantes a potes comuns de água, cobertos no topo por um azulejo e cimentados com betume.
Os descobridores trouxeram as tabuinhas para Bagdá e ali as venderam a um negociante. Naquele mesmo ano George Smith visitou Bagdá e adquiriu para o Museu Britânico cerca de 2.500 destes importantes documentos.
As tabuinhas foram examinadas durante os meses seguintes por W. St. Chade Boscawen, e o relatório dele apareceu em 1878 em Transações da Sociedade de Arqueologia Bíblica.67 Boscawen afirma que as tabuinhas “referem-se às diversas transações monetárias de um banco e agência financeira babilônica, fazendo transações sob o nome de Egibi e Filhos.” As tabuinhas “referem-se a toda transação comercial possível; desde o empréstimo de alguns siclos de prata, até a venda ou hipoteca de propriedades inteiras cujo valor é de milhares de manas de prata”.68
Boscawen logo percebeu a importância de rastrear a sucessão dos dirigentes da empresa de Egibi e, depois de uma análise mais cuidadosa, ele certificou-se de que as linhas principais da sucessão eram as seguintes:
Desde o terceiro ano de Nabucodonosor um indivíduo chamado Sula atuou como dirigente da empresa de Egibi e continuou nessa posição por um período de vinte anos, até o vigésimo terceiro ano de Nabucodonosor, quando morreu e foi sucedido por seu filho, Nabu-ahê-idina.69
O filho, Nabu-ahê-idina, continuou como gerente comercial durante um período de trinta e oito anos, ou seja, do terceiro ano de Nabucodonosor até o décimo segundo ano de Nabonido, quando foi sucedido por seu filho Iti-Marduque-balatu.70
Iti-Marduque-balatu, por sua vez, permaneceu como dirigente da empresa até o primeiro ano de Dario I (521/20 A.E.C.), que foi o vigésimo terceiro ano de sua liderança na empresa. Boscawen resume estas descobertas da seguinte maneira:
Agora, somando-se estes períodos, obtemos como resultado que do 3º ano de Nabucodonosor II até o 1º ano de Dario Histaspes decorreu um período de oitenta e um anos:
Sula na chefia da empresa | 20 anos |
Nabu-ahê-idina | 38 anos |
Iti-Marduque-balatu | 23 anos |
TOTAL | 81 anos |
Isto daria um intervalo de oitenta e três anos do 1º ano de Nabucodonosor até o 1º ano de Dario Histaspes.71
O fato significativo é que isto está em exata harmonia com Beroso, o Cânon Real, e os registros históricos neobabilônicos. Contando-se para trás oitenta e três anos desde o primeiro ano de Dario I (521/20 A.E.C.) leva-nos a 604 A.E.C. como o primeiro ano de Nabucodonosor o que se harmoniza completamente com as outras linhas de evidência já apresentadas.
Apenas o arquivo da casa de Egibi já bastaria para estabelecer a duração do período neobabilônico. Com este extenso conjunto de tabuinhas comerciais datadas que estavam no arquivo de uma das famílias de “barões” de Babilônia “haveria muito pouca dificuldade em estabelecer de uma vez para sempre a cronologia deste período importante da história antiga”, conforme escreveu Boscawen já em 1878.72
A evidência destes documentos não dá qualquer margem para uma lacuna na história neobabilônica de Nabucodonosor em diante, muito menos para uma de vinte anos! O arquivo, que contém tabuinhas datadas até o quadragésimo terceiro ano de Nabucodonosor, o segundo ano de Avil-Marduque, o quarto ano de Neriglissar e o décimo sétimo ano de Nabonido, confirma completamente a cronologia de Beroso e do Cânon Real.
Desde o século passado foram descobertas ainda outras coleções de tabuinhas pertencentes à família de Egibi.73 Vários estudos sobre a família de Egibi foram produzidos, todos os quais confirmam as conclusões gerais a que chegou Boscawen.74 Graças à enorme quantidade de textos desta família, os estudiosos conseguiram traçar a história, não só dos dirigentes da empresa, como também de muitos outros membros da casa de Egibi, e foram até mesmo elaboradas árvores genealógicas abrangendo todo o período neobabilônico até dentro da era persa!75
O padrão de entrelaçamento das relações familiares que foi estabelecido desta maneira para várias gerações, seria totalmente distorcido se vinte anos adicionais fossem inseridos no período neobabilônico.
b) A expectativa de vida no período neobabilônico
(1) Adade-Gupi:
Conforme se mostrou acima, na discussão sobre a Estela de Harã (Nabon. H 1, B), Adade-Gupi, a mãe de Nabonido, nasceu no 20º ano do poderoso rei assírio Assurbanipal, 649/648 A.E.C. Ela morreu no nono ano de Nabonido, em 547/546 A.E.C. à idade de 101 ou 102 anos, um notável período de vida.76
O que aconteceria à idade dela se tivéssemos de acrescentar vinte anos à era neobabilônica? Isto necessariamente aumentaria a idade de Adade-Gupi para 121 ou 122 anos. A única maneira de evitar esta conseqüência seria acrescentar os vinte anos extras ao reinado de seu filho sobrevivente, Nabonido, após a morte dela, fazendo o reinado dele ser de trinta e sete anos, em vez de dezessete, algo que os documentos contemporâneos simplesmente não nos permitem fazer.
Este não é o único problema deste tipo que confronta aqueles que defenderiam a cronologia da Sociedade Torre de Vigia. Muitas pessoas cujos nomes aparecem nos textos comerciais e administrativos do período neobabilônico, podem ser rastreadas de texto para texto, por quase todo o período, às vezes até mesmo dentro da era persa. Descobrimos que algumas destas pessoas — homens de negócios, escravos, escribas — teriam oitenta anos ou noventa anos ou mais, ao fim de suas carreiras. Mas, se tivéssemos de acrescentar vinte anos à era neobabilônica, seríamos também obrigados a acrescentar vinte anos às vidas destas pessoas, fazendo-as ter de 100 a 110 anos de idade — e ainda estarem ativas em suas ocupações. Seguem alguns exemplos.
(2) Apla, filho de Bel-idina:
Um escriba chamado Apla, filho de Bel-idina, que pertencia à casa comercial de Egibi, aparece pela primeira vez como escriba em um texto datado do vigésimo oitavo ano de Nabucodonosor (577 A.E.C.). Depois disso, o nome dele se repete em muitos textos datados dos reinados de Nabucodonosor, Avil-Marduque, Neriglissar, Nabonido, Ciro, Cambises e Dario I.
Ele aparece pela última vez como testemunha em um documento, uma nota promissória, datada do décimo terceiro ano de Dario, 509 A.E.C. Isso significa que a carreira deste escriba pode ser rastreada durante um período de sessenta e oito anos, de 577 a 509 A.E.C. O assiriologista russo M. A. Dandamaev comenta:
Ele deveria ter, pelo menos, vinte anos quando se tornou escriba. Mesmo se presumirmos que Apla morreu exatamente no mesmo ano em que se faz referência a ele pela última vez ou logo em seguida, ele deve ter vivido aproximadamente 90 anos.77
Mas se permitirmos que seja feito o acréscimo de vinte anos à era neobabilônica, não só aumentaríamos a idade de Apla para 110 anos ou mais, como também seríamos obrigados a concluir que nessa idade avançada ele ainda estava ativo como escriba.
(3) Idina-Marduque e sua esposa Ina-Esagila-ramat
Dois outros exemplos são o comerciante Idin-Marduque, filho de Iqixa, da família de Nur-Sin, e sua esposa Ina-Esagila-ramat. Idin-Marduque aparece pela primeira vez como gerente de suas atividades empresariais em um texto que anteriormente tinha sido datado do oitavo ano de Nabucodonosor (597 A.E.C.). Mas um recente confronto com a tabuinha original revelou que o número do ano está danificado e provavelmente seria o 28º ano (577 A.E.C.). Idin-Marduque aparece em centenas de documentos datados, o último dos quais sendo do terceiro ano de Cambises, 527 A.E.C. Outros documentos indicam que ele morreu pouco antes do quinto ano de Dario I (517 A.E.C.). Se presumirmos que ele tinha apenas vinte anos quando apareceu pela primeira vez como diretor, ele teria cerca de oitenta anos quando morreu.
A esposa de Idin-Marduque, Ina-Esagila-ramat, sobreviveu a seu marido. Ela também estava envolvida em atividades comerciais. Os documentos mostram que ela se casou com Idin-Marduque antes do 33º ano de Nabucodonosor (572 A.E.C.). Então, devemos presumir que ela tinha pelo menos vinte anos quando apareceu pela primeira vez como parte contratante em um texto datado do 34º ano de Nabucodonosor (571 A.E.C.). Ela aparece pela última vez em um texto datado do 15º ano de Dario I (507 A.E.C.) quando teria no mínimo 84 anos.78
Novamente, se acrescentássemos vinte anos à era neobabilônica, aumentaríamos a idade de Idina-Marduque para aproximadamente 100 anos e a idade de Ina-Esagila-ramat para no mínimo 104 anos. Seríamos também forçados a defender que ela, a esta idade, ainda estava envolvida ativamente nos negócios.
(4) O profeta Daniel:
A Bíblia também fornece alguns exemplos internos. No ano de ascensão de Nabucodonosor (605 A.E.C.), Daniel, então um jovem de talvez 15-20 anos, foi trazido para Babilônia (Daniel 1:1, 4, 6). Ele serviu na corte babilônica até depois do fim do período neobabilônico, estando ainda vivo no terceiro ano de Ciro, em 536/35 A.E.C. (Daniel 1:21; 10:1). Nessa época ele deveria ter quase noventa anos de idade. Se outros vinte anos fossem acrescentados a este período, Daniel teria quase 110 anos.
É realmente provável que durante o período neobabilônico as pessoas freqüentemente atingissem idades de 100, 110 ou até mesmo 120 anos? É verdade que às vezes ouvimos falar de pessoas no sul da Rússia ou no norte da Índia que se diz terem 150 anos ou mais. Porém, num exame rigoroso, todas estas afirmações têm sido desmentidas.79 A mais velha pessoa conhecida nos tempos modernos, foi uma francesa, Jeanne Calment, que nasceu no dia 21 de fevereiro de 1875 e morreu no dia 4 de agosto de 1997, à idade de 122 anos.80 O recorde desta francesa teria sido igualado por Adade-Gupi, caso essa mulher babilônica tivesse vivido 122 anos, em vez de aproximadamente 102, como indicam os registros antigos.
Considerando-se estes casos já apresentados de vida excepcionalmente longa, podemos apropriadamente perguntar: Temos qualquer razão para crer que o período de vida das pessoas daquela época superasse o das pessoas de hoje?
O assiriologista russo M. A. Dandamaev examinou o período de vida das pessoas em Babilônia do sétimo ao quarto século A.E.C., usando dezenas de milhares de textos comerciais e administrativos como base para sua pesquisa. A conclusão dele é que o período de vida das pessoas daquela época não era diferente do de agora. Em sua exposição, Dandamaev faz referência ao Salmo 90:10: “Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor” (NVI). Estas palavras eram tão verdadeiras na era neobabilônica como são hoje.81
Por conseguinte, as idades extremamente avançadas que seriam criadas por se datar a destruição de Jerusalém em 607 em vez de 587 A.E.C. constituem mais um argumento de peso contra a cronologia da Sociedade Torre de Vigia.
Como se mostrou nesta seção, um exame prosopográfico dos textos cuneiformes dá forte apoio à cronologia estabelecida para o período neobabilônico. As carreiras de comerciantes, escribas, administradores de templo, escravos, e outros podem ser acompanhadas por décadas, em alguns casos por quase todo o período neobabilônico e mais além, dentro da era persa. Milhares de documentos datados fornecem um vislumbre detalhado das atividades cotidianas dessas pessoas. Notavelmente, porém, as vidas e atividades dessas pessoas jamais contêm referência a qualquer ano que esteja fora do prazo reconhecido como “período neobabilônico”, jamais sobrepõem ou estendem o prazo além desse intervalo, nem apontam para um único ano do período de vinte anos exigido pela cronologia da Sociedade Torre de Vigia.
B-4: Junções de interligação cronológica
Só há dois modos possíveis de estender o período neobabilônico para incluir os vinte anos extras exigidos pela cronologia da Torre de Vigia:
Ou os reis neobabilônicos conhecidos tiveram reinados mais longos do que o indicado por todos os documentos discutidos acima, ou havia outros reis desconhecidos que pertenceram à era neobabilônica além dos que conhecemos através desses documentos.
Estas duas possibilidades, porém, estão completamente excluídas, não só devido às várias linhas de evidência apresentadas até aqui, e à evidência astronômica que será abordada no próximo capítulo, como também por uma série de textos que fazem a junção inseparável de cada reinado com o próximo ao longo de todo o período neobabilônico. Onze de tais junções de interligação cronológica serão discutidas a seguir.
a) De Nabopolassar a Nabucodonosor
(1) Na discussão anterior das crônicas neobabilônicas, uma delas (Crônica 5) foi citada como dizendo que Nabopolassar, o primeiro rei neobabilônico, governou “por vinte e um anos”, que ele morreu “no dia oito do mês de ab [o quinto mês]”, e que no primeiro dia do mês seguinte (elul) seu filho Nabucodonosor “ascendeu ao trono real em Babilônia.”
De modo que neste ponto não há qualquer margem para um reinado mais longo de Nabopolassar além da duração reconhecida de vinte e um anos, e nem espaço para um “rei extra” entre ele e Nabucodonosor.
b) De Nabucodonosor a Avil-Marduque
(2) Que Nabucodonosor foi sucedido por seu filho Avil-Marduque (o Evil-Merodaque bíblico) no quadragésimo terceiro ano do reinado de Nabucodonosor é confirmado por um documento comercial, B.M. 30254, publicado por Ronald H. Sack em 1972.
Este documento menciona tanto o quadragésimo terceiro ano de Nabucodonosor como o ano de ascensão de Avil-Marduque. Uma moça, Lit-ka-idi, escrava de Gugua, foi “colocada à disposição de Nabu-ahê-idina, o filho de Shula, descendente de Egibi no mês de ajaru [o segundo mês], do quadragésimo terceiro ano de Nabucodonosor, rei de Babilônia, e (por quem) doze siclos de prata foram dados como fiança.” Depois, no mesmo ano, “no mês de quislimu [o nono mês], do ano de ascensão de [Amel]-Marduque, rei de Babilônia. . . Gugua por vontade própria vendeu Lit-ka-idi para Nabu-ahê-idina pelo valor total de dezenove siclos e meio de prata.”82 Este documento não dá qualquer margem para um reinado mais longo de Nabucodonosor, ou para um “rei extra” entre ele e Avil-Marduque.
(3) No período neobabilônico o rendimento de um campo ou horta era freqüentemente estimado antes da época da colheita. Depois da colheita os trabalhadores do campo deviam entregar a quantia estimada aos proprietários ou compradores. Foram encontrados muitos documentos que registram esses procedimentos.
Um deles, designado como AO 8561, inclui estimativas de rendimento de numerosos campos por três anos sucessivos, o quadragésimo segundo e quadragésimo terceiro anos de Nabucodonosor e o primeiro ano de Avil-Marduque. Inclui “também um registro de quais partes desse rendimento foram recebidas de cada pessoa e quais foram distribuídas para cada pessoa … no mês de quislimu [o nono mês], do ano de ascensão de Neriglissar.”83
De modo que este documento provê outra junção comum ou conexão entre o quadragésimo terceiro ano de Nabucodonosor e o reinado de Avil-Marduque.
(4) Outro texto semelhante, YBC 4038, datado do “dia 15 do mês de adaru [o décimo segundo mês], do ano de ascensão de Amel-Marduque”, descreve a partilha mensal de “17.619 litros de cevada” no templo de Eana em Uruque do “43º ano de Nabu-kudurri-usur [Nabucodonosor]” ao “1º ano de Amel-Marduque.”84 Novamente, este texto liga os reinados de Nabucodonosor e de seu sucessor Avil-Marduque de uma maneira que não dá margem para qualquer ano adicional entre os dois.
A própria Bíblia confirma que o ano de ascensão de Avil-Marduque caiu no quadragésimo terceiro ano de seu pai, Nabucodonosor. Pode-se deduzir isso à base das datações fornecidas em 2 Reis 24:12; 2 Crônicas 36:10, e Jeremias 52:28, 31. Uma breve discussão desta evidência está incluída no “Apêndice ao Capítulo 3” (página 380).
c) De Nabucodonosor a Avil-Marduque e a Neriglissar
(5) No período neobabilônico, a contabilidade já era uma atividade antiga, altamente complexa e formalizada.85 Um exemplo interessante disto é uma tabuinha conhecida como NBC 4897. Na realidade, o documento é um livro-razão, que tabula o crescimento anual de um rebanho de ovelhas e cabras pertencentes ao templo de Eana em Uruque por dez anos consecutivos, do trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor ao primeiro ano de Neriglissar.
No começo de cada ano, o número de cordeiros e cabritos nascidos durante o ano é somado, e o número de animais mortos (com base em suas peles) ou pagos aos pastores como salários, é subtraído. Os totais gerais são então registrados nas colunas da extrema-direita. Assim é possível acompanhar o aumento numérico do rebanho ano após ano. O texto mostra que o pastor responsável pelo rebanho, Nabu-ahe-xulim, no intervalo de dez anos conseguiu aumentar o rebanho de 137 ovelhas e cabras para 922 animais.86
É verdade que o escriba babilônico cometeu algumas inexatidões e erros matemáticos que dificultam parcialmente a interpretação do documento.87 Todavia, não há qualquer dúvida, de que este é um registro anual, uma vez que números anuais são fornecidos para cada ano sucessivo. No registro para o primeiro ano de Neriglissar, por exemplo, a coluna do total geral contém a seguinte informação:
Total geral: 922, 1º ano de Nergal-sharra-usur, rei de Babilônia, foram recebidos 9 cordeiros em Uruque (e) 3 cordeiros para tosquia.
Informação similar é dada para cada ano do trigésimo sétimo ao quadragésimo terceiro ano de Nabucodonosor, para o primeiro e segundo ano de Avil-Marduque, e, como já citado, para o primeiro ano de Neriglissar.88
De modo que este documento não só provê uma confirmação adicional dos períodos de reinado de Nabucodonosor e de Avil-Marduque, como também demonstra que não se pode inserir qualquer rei ou ano adicional entre Nabucodonosor e Avil-Marduque, ou entre Avil-Marduque e Neriglissar.
d) De Neriglissar a Labashi-Marduque
(6) Uma tabuinha cuneiforme na coleção babilônica da Universidade de Yale, YBC 4012, não só mostra que Labashi-Marduque sucedeu a Neriglissar como rei, como também que isto ocorreu no início do quarto ano do breve reinado do pai dele.
O documento registra que “no mês de adaru [o décimo segundo mês], do 3º ano de Nergal-[sharra-usur], rei de Babilônia” (março-abril de 556 A.E.C.), Muxezibe-Marduque, inspetor do templo de Eana em Uruque, levou uma quantia considerável de dinheiro para Babilônia, em parte como pagamento de mão-de-obra e material para o templo de Eana. Este documento foi redigido aproximadamente dois meses depois do evento a que se refere, evidentemente em Babilônia, antes do retorno de Muxezibe-Marduque a Uruque, e é datado do “dia 22 do mês de ajaru [o segundo mês do ano seguinte], do ano de ascensão de Labashi-Marduque, rei de Babilônia” (1º de junho de 556 A.E.C.).89
Segundo este documento, Labashi-Marduque ascendeu ao trono em algum momento do primeiro ou do segundo mês do quarto ano do reinado de Neriglissar. Isto concorda de perto com a evidência fornecida pelas tabuinhas comerciais, que mostram que a transferência da coroa ocorreu no primeiro mês do quarto ano de Neriglissar. (Veja o “Apêndice ao Capítulo 3”, páginas 382, 383.)
e) De Neriglissar a Labashi-Marduque e a Nabonido
(7) Que Neriglissar foi sucedido por seu filho Labashi-Marduque é declarado diretamente por Nabonido em uma das inscrições reais já discutidas, Nabon. nº. 8 (a Estela de Hila). Na coluna iv desta estela, Nabonido relata que o culto da deusa Anunitum em Sipar tinha sido renovado por Neriglissar. Daí, ele prossegue dizendo:
Depois que se completaram (seus) dias e ele tinha começado a jornada do destino (humano), seu filho Labashi-Marduque, um menor (que) não tinha (ainda) aprendido a se comportar, sentou-se no trono real contra a vontade dos deuses e [faltam três linhas neste ponto].90
Depois das três linhas que faltam, Nabonido prossegue falando, na próxima coluna, de sua própria entronização, evidentemente como sucessor direto de Labashi-Marduque. Ao fazer isso, ele também diz os nomes de seus quatro antecessores reais: Nabucodonosor e Neriglissar (que ele considerava como reis legítimos), e os filhos deles Avil-Marduque e Labashi-Marduque, respectivamente (os quais ele considerava como usurpadores ilegítimos). Ele declara:
Conduziram-me para dentro do palácio e todos se prostraram a meus pés, beijaram meus pés saudando-me vez após vez como rei. (Assim) fui elevado ao poder no país por ordem de meu senhor Marduque e (assim) obterei tudo o que desejo — não terei qualquer rival!
Sou o verdadeiro executor das vontades de Nabucodonosor e de Neriglissar, meus antecessores reais! Seus exércitos são confiados a mim, não tratarei suas ordens negligentemente e estou (ansioso) para agradá-los [isto é, executar seus planos].
Avil-Marduque, filho de Nabucodonosor, e Labashi-Marduque, filho de Neriglissar [convocaram] suas [tro]pas e . . . suas . . . elas se dispersaram. As ordens deles (faltam 7 ou 8 linhas neste ponto).91
De modo que esta inscrição interliga os reinados de Neriglissar e Labashi-Marduque, e evidentemente também o de Labashi-Marduque e Nabonido. Este texto exclui a possibilidade de inserir um “rei adicional” em algum lugar entre estes três reis.
(8) Alguns documentos jurídicos contêm também informação que abrange os reinados de dois ou mais reis. Um exemplo é Nabon. nº. 13, que é datado do “dia 12 do (mês) de shabatu [o décimo primeiro mês], do ano de ascensão de Nabonido, rei de Babilônia [2 de fevereiro de 555 A.E.C.]”. A inscrição fala sobre uma mulher, Belilitu, que expôs o seguinte caso perante o tribunal real:
Belilitu, filha de Bel-uxezibe, descendente do mensageiro, declarou o seguinte aos juízes de Nabonido, rei de Babilônia: ‘No mês de abu, do primeiro ano de Nergal-shar-usur [Neriglissar], rei de Babilônia [agosto-setembro de 559 A.E.C.], vendi meu escravo Bazuzu para Nabu-ahê-idina, filho de Sula, descendente de Egibi, por meia mina, cinco siclos de prata, mas ele não pagou em dinheiro e emitiu uma nota promissória.’ Os juízes reais (a) ouviram e ordenaram que Nabu-ahê-idina fosse trazido perante eles. Nabu-ahê-idina trouxe o contrato que ele tinha firmado com Belilitu e o mostrou aos juízes, (o qual provava que) ele pagara a prata por Bazuzu.92
Faz-se assim referência aos reinados de Neriglissar e de Nabonido. A cronologia universalmente aceita indicaria que tinham passado aproximadamente três anos e meio desde que Belilitu tinha vendido seu escravo, no primeiro ano de Neriglissar, até o momento em que, no ano de ascensão de Nabonido, ela fez uma tentativa fraudulenta e vã de receber um pagamento em dobro pelo escravo. Mas, se vinte anos fossem adicionados em algum momento entre os reinados de Neriglissar e Nabonido, Belilitu teria esperado vinte e três anos e meio antes de trazer seu caso ao tribunal, algo que parece extremamente improvável.
f) De Nabonido a Ciro
Que Nabonido era o rei de Babilônia quando Ciro a conquistou em 539 A.E.C. é comprovado claramente pela Crônica de Nabonido (B.M. 35382).93 A crônica evidentemente datou este evento no “décimo sétimo ano” de Nabonido, mas conforme já foi indicado, esta parte da crônica está danificada e o número do ano está ilegível. Apesar disso, foi encontrado um conjunto inteiro de textos comerciais que provê conexões de interligação cronológica entre o décimo sétimo ano de Nabonido e o reinado de Ciro. Estes incluem as tabuinhas com os números de catálogo CT 56:219, CT 57:52.3, e CT 57:56.94
(9) O primeiro dos três documentos (CT 56:219) é datado do ano de ascensão de Ciro e os outros dois (CT 57:52.3 e CT 57:56) são datados de seu primeiro ano. Mas todas as três tabuinhas se referem também ao “17º ano” do rei anterior, e uma vez que se aceita como fato que Nabonido foi o último rei da linha neobabilônica, antecedendo o rei persa Ciro, isto confirma que o reinado de Nabonido durou 17 anos.95
(10) Um dos maiores exemplos gráficos de uma interconexão cronológica entre dois reinados é uma tabuinha cuneiforme que está no museu arqueológico de Florença, conhecida como SAKF 165. Conforme indica o Professor J. A. Brinkman, este documento “apresenta um inventário anual de tecidos de lã convertidos em roupas para o culto às estátuas dos deuses de Uruque, inventário este que é único no gênero. . . . Além disso, este inventário abrange os anos cruciais antes e após a conquista persa de Babilônia.”96
O inventário é organizado cronologicamente e a parte preservada do texto abrange cinco anos sucessivos, do décimo quinto ano de Nabonido ao segundo ano de Ciro, com números de ano dados ao término do inventário para cada ano:
Linhas 3 – 13: | 15º ano [de Nabonido] |
14 – 25: | 16º ano [de Nabonido] |
26 – 33: | 17º ano [de Nabonido] |
34 – 39: | 1º ano de Ciro |
40 – : | [2º ano de Ciro] |
Evidentemente o nome real só era dado no primeiro ano de cada rei. Mas como o antecessor imediato de Ciro foi Nabonido, “ano 15”, “ano 16” e “ano 17” referem-se claramente ao reinado deste. O inventário do ano seguinte ao “ano 17” termina com as palavras, “1º ano de Ciro, Rei de Babilônia, Rei das Terras” (linha 39). As últimas linhas do registro para o quinto ano do inventário estão danificadas, e pode-se apenas subentender que se referem ao “ano 2” (de Ciro).97
(11) Na antiga Mesopotâmia, a presença das deidades nos vários templos era representada por suas estátuas. Em época de guerra, quando uma cidade era tomada, geralmente os templos eram pilhados e as estátuas divinas eram levadas como “cativas” à terra dos conquistadores.
Uma vez que tais capturas eram vistas pelos cidadãos como um presságio de que os deuses haviam abandonado a cidade e queriam sua destruição, quando uma força militar se aproximava eles freqüentemente tentavam proteger as estátuas transferindo-as para um lugar mais seguro.
Foi isto o que aconteceu logo antes da invasão do norte de Babilônia pelos persas em 539 A.E.C., quando segundo a Crônica de Nabonido, este ordenou um ajuntamento dos deuses de várias cidades em Babilônia. A mesma crônica relata também que, após a queda de Babilônia, Ciro devolveu as estátuas para suas respectivas cidades.98
Conforme abordado pelo Dr. Paul-Alain Beaulieu, há diversos documentos do arquivo do templo de Eana, em Uruque, que confirmam que, no décimo sétimo ano de Nabonido, a estátua de Istar (referida nos documentos como “Dama de Uruque” ou “Dama do Eana”) foi trazida de barco, rio Eufrates acima, para Babilônia. Mais adiante, estes documentos mostram também que as ofertas regulares para esta estátua de Istar não foram interrompidas durante sua permanência temporária em Babilônia. Foram enviados carregamentos de cevada e de outros tipos de gêneros alimentícios de Uruque para Babilônia, para serem usados no culto dela.
Um exemplo disto é dado numa tabuinha que está na Coleção Babilônica da Universidade de Yale, YOS XIX:94 que é datada do décimo sétimo ano de Nabonido e registra um testemunho antes da assembléia dos nobres de Uruque:
(Estes são) os mar bani [nobres] em cuja presença Zeriya, filho de Ardiya, disse o seguinte: Bazuzu, filho de Ibni-Istar, o descendente de Gimil-Nanaya, trouxe um barco de Babilônia, alugando-o pe[lo valor de. . . . . .], e disse o seguinte: “Eu levarei a cevada para as ofertas regulares da Dama de Uruque para Babilônia.” . . . . . .
Cidade do cais de Nanaya, domínio da Dama de Uruque: Dia 5 do mês de abu [o quinto mês] – Décimo sétimo ano de Nabonido, rei de Babilônia [= 4 de agosto de 539 A.E.C., calendário juliano].99
Estes documentos comprovam claramente que a conquista de Babilônia por Ciro ocorreu no décimo sétimo ano de Nabonido, confirmando assim mais uma vez que este foi o último ano do reinado dele.
Os muitos exemplos citados até aqui demonstram que a atividade registrada em um texto às vezes abrange dois reinados sucessivos, conectando-os. Demonstram também que é possível estabelecer a duração de toda a era neobabilônica só com a ajuda de tais “junções cronológicas.” Na verdade, os períodos de reinado de alguns reis (Nabucodonosor, Nabonido) são estabelecidos por mais de um texto deste tipo.
C. Sincronismos com a Cronologia do Egito
Uma excelente prova da exatidão de uma cronologia é quando ela está em harmonia com as cronologias de outras nações contemporâneas, desde que estas outras cronologias tenham sido estabelecidas de modo independente e existam sincronismos, ou seja, conexões datadas que sirvam para unir as duas ou mais cronologias em um ou mais pontos.
A razão da importância de estas cronologias terem sido estabelecidas de modo independente é porque anulam qualquer tentativa de desacreditar seu valor com base na alegação de que a cronologia de certo período em uma nação foi simplesmente estabelecida com a ajuda da cronologia do período correspondente de outra nação.
Para o período neobabilônico há pelo menos quatro de tais sincronismos entre o Egito e os reinos de Judá e Babilônia. Três destes são fornecidos na Bíblia, em 2 Reis 23:29 (onde aparecem o Faraó egípcio Neco e o rei judaico Josias), Jeremias 46:2 (onde aparecem Neco, Nabucodonosor e Jeoiaquim), e Jeremias 44:30 (que cita o Faraó Hofra, o rei Zedequias e Nabucodonosor).
O quarto é dado em um texto cuneiforme, B.M. 33041 que faz referência a uma campanha contra Amásis, rei do Egito, no trigésimo sétimo ano do reinado de Nabucodonosor.100 O significado destes sincronismos será esclarecido a seguir.
C-1: A cronologia do período saítico
Os reis que governaram o Egito durante o período neobabilônico pertenceram à Vigésima Sexta Dinastia (664-525 A.E.C.). O período desta dinastia é também chamado de período saítico, uma vez que seus faraós constituíram a cidade de Saís, no Delta, como capital.
Para que os quatro sincronismos mencionados tenham valor decisivo em nosso estudo, precisa-se mostrar primeiro que a cronologia dessa vigésima sexta dinastia do Egito é estabelecida de modo independente da cronologia neobabilônica contemporânea, tendo assim base própria, assim como a neobabilônica.
Isto pode ser estabelecido de uma maneira bem incomum, a respeito da qual o Dr. F. K. Kienitz escreve:
A cronologia dos reis da 26ª dinastia, de Psamético I em diante, é completamente estabelecida por meio de uma série de lápides e colunas sagradas do touro Ápis, as quais especificam a data de nascimento no ‘dia x do mês y do ano z do rei A’ e a data da morte no ‘dia x do mês y do ano z do rei B, bem como o período de vida do [touro ou pessoa] em termos de anos, meses e dias.101
Isto quer dizer que, se uma lápide diz que um touro sagrado Ápis ou uma pessoa nasceram no décimo ano do Rei A e morreu à idade de vinte e cinco anos no vigésimo ano do Rei B, sabemos que o Rei A governou por quinze anos.
É a este tipo de evidência contemporânea que o Dr. Kienitz se refere. Uma tradução do levantamento que Kienitz fez deste material é fornecida aqui.102
1. LÁPIDE DO 3º ÁPIS DA 26ª DINASTIA
Data do Nascimento: Dia 19 do 6º mês do 53º ano de Psamético I
Entronização: Dia 12 do 3º mês do 54º ano de Psamético I
Data da Morte: Dia 6 do 2º mês do 16º ano de Neco II
Data do Sepultamento: Dia 16 do 4º mês do 16º ano de Neco II
Período de Vida: 16 anos, 7 meses e 17 dias,
Resultado: Período de reinado de Psamético = 54 anos.
2. LÁPIDE DO 4º ÁPIS DA 26ª DINASTIA
Data de Nascimento: Dia 7 do 2º mês do 16º ano Neco II
Entronização: Dia 9 do 11º mês do 1º ano de Psamético II
Data de Morte: Dia 12 do 8º mês do 12º ano de Apriés
Data do Sepultamento: Dia 21 do 10º mês do 12º anos de Apriés
Período de Vida: 17 anos, 6 meses e 5 dias,
Resultado: Como se declara em outro lugar que a data da morte de Psamético II foi no dia 23 do 1º mês do 7º ano103, então o período do reinado de Neco foi de 15 anos e o de Psamético II foi de 6 anos.
3. DUAS LÁPIDES DE UM SACERDOTE CHAMADO PSAMÉTICO
Data de Nascimento: Dia 1º do 11º mês do 1º ano de Neco II
Data da Morte: Dia 28 do 8º mês do 27º ano de Amásis
Período de Vida: 65 anos, 10 meses e 2 dias,
Resultado: Soma dos períodos de reinado de Neco II, Psamético II e Apriés = 40 anos. Como Neco II reinou por 15 anos, e Psamético II por 6 anos, o reinado de Apriés foi de 19 anos.
4. LÁPIDE DE OUTRO PSAMÉTICO
Data de Nascimento: Dia 1º ou 2 do 10º mês do 3º ano de Neco II
Data da Morte: Dia 6 do 2º mês do 35º ano de Amásis
Período de Vida: 71 anos, 4 meses e 6 dias,
Resultado: O mesmo que o do item 3.
5. LÁPIDE DE UM BESMAUT
Ano do Nascimento: 18º ano de Psamético I
Ano da Morte: 23º ano de Amásis
Período de Vida: 99 anos
Resultado: Confirma-se mais uma vez o total de 94 anos para o período dos reinados desde Psamético I até Apriés, inclusive.
Consequentemente, estas lápides contemporâneas estabelecem de forma conclusiva os períodos de reinado dos primeiros quatro reis da vigésima sexta dinastia do Egito como segue:
Psamético I | 54 anos |
Neco II | 15 anos |
Psamético II | 6 anos |
Apriés (= Hofra) | 19 anos |
Para os últimos dois reis da vigésima sexta dinastia, Amásis e Psamético III, infelizmente falta material deste tipo. Todavia, tanto o historiador grego Heródoto (c. 484-425 A.E.C.) como o sacerdote e historiador greco-egípcio Maneto (em atividade por volta de 300 A.E.C.) dão quarenta e quatro anos para Amásis e seis meses para Psamético III.104 E estes períodos de reinado foram confirmados por descobertas modernas, como segue:
No papiro Rylands IX (também chamado de “Petição de Petiese”) datado da época de Dario I (521-486 A.E.C.), o quadragésimo quarto ano de Amásis é mencionado num contexto que indica que este foi o seu último ano completo de reinado. Cada ano, um profeta de Amon de Teuzoi (chamado Psammetkmenempe) que vivia no Delta do Nilo, costumava enviar um representante para buscar seu salário. Ele fez isto até o quadragésimo quarto ano de Amásis. Isto, em si mesmo, não é uma prova decisiva. Mas a “Crônica Demótica”, um relato sobre a compilação das leis egípcias escritas sob Dario I, faz também duas menções ao quadragésimo quarto ano de Amásis como algum tipo de ponto terminal. Finalmente, o mesmo número é fornecido em uma inscrição de Wadi Hamamat.105 De modo que o número dado por Heródoto e Maneto é fortemente apoiado por esta combinação de inscrições.
Quanto a Psamético III, a maior data disponível para este rei é o segundo ano. Descobriram-se três documentos (papiros) datados do terceiro, quarto e quinto mês de seu segundo ano. Ainda assim, isto não contradiz de forma alguma a declaração já feita, de que o reinado deste rei abrangeu na verdade apenas seis meses. Como assim?
Os egípcios usavam um sistema de ano não-ascensional. Neste sistema o ano em que um rei assumia o poder era considerado como o primeiro ano de seu reinado. Psamético III foi destronado pelo rei persa Cambises quando este conquistou o Egito, fato que é normalmente datado em 525 A.E.C. pelas autoridades em cronologia.106 Naquele momento específico, o ano civil egípcio era quase coincidente com o ano do calendário juliano.107 Se a conquista de Egito ocorreu no sexto mês do reinado de Psamético III, isto deve ter sido em maio ou junho de 525 A.E.C.108 Partindo-se desta premissa, seus seis meses de reinado tiveram início ao término do ano anterior, 526 A.E.C., bem possivelmente apenas alguns dias ou semanas antes do fim daquele ano. Embora ele tenha governado durante apenas uma fração daquele ano, esta fração de alguns dias ou semanas já foi considerada como primeiro ano de seu reinado de acordo com o sistema não-ascensional egípcio. Desse modo, o transcorrer de seu segundo ano de reinado começou apenas alguns dias ou semanas depois de sua ascensão ao trono. Embora ele tenha reinado por apenas seis meses, documentos datados até o quinto mês do segundo ano dele são, devido a esta evidência apresentada, algo que naturalmente deveríamos esperar encontrar. A ilustração seguinte esclarece o assunto:
Conforme se demonstrou na discussão acima, a cronologia da Vigésima Sexta Dinastia do Egito é solidamente estabelecida de modo independente. Os resultados são resumidos na seguinte tabela:
CRONOLOGIA DA VIGÉSIMA SEXTA DINASTIA:
Psamético I | 54 anos | 664 – 610 A.E.C. |
Neco II | 15 | 610 – 595 |
Psamético II | 6 | 595 –| 589 |
Apriés (= Hofra) | 19 | 589 – 570 |
Amásis | 44 | 570 – 526 |
Psamético III | 1 | 526 – 525 |
C-2: Sincronismos com a cronologia do período saítico
Será que a cronologia do período saítico egípcio concorda com a cronologia da era neobabilônica que foi estabelecida acima? Ou, em vez disso, harmoniza-se com a cronologia da Sociedade Torre de Vigia como esta é apresentada, por exemplo, em seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, páginas 617 a 621?
Os quatro sincronismos com a cronologia egípcia já mencionados (sendo que os primeiros três provêm da Bíblia) decidem a questão:
Primeiro sincronismo — 2 Reis 23:29: Nos seus dias [isto é, nos dias do rei Josias] subiu Faraó Neco, rei do Egito, contra o rei da Assíria junto ao rio Eufrates, e o Rei Josias passou a sair para enfrentá-lo; mas, assim que o viu, este o entregou à morte em Megido. (TNM)
Aqui se mostra claramente que o rei judaico Josias morreu em Megido no reinado do Faraó Neco do Egito. Segundo a cronologia da Sociedade Torre de Vigia, a morte de Josias ocorreu em 629 A.E.C. (Veja Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 2, pág. 604 e Vol. 3, pág. 74.) Mas segundo a evidência histórica clara, o reinado de Neco só começou dezenove anos depois, em 610 A.E.C. (veja a tabela acima).109 Desse modo, a morte de Josias não ocorreu em 629 A.E.C. mas vinte anos depois, em 609.110
Segundo sincronismo — Jeremias 46:2: Para o Egito, referente à força militar de Faraó Neco, rei do Egito, que veio a estar junto ao rio Eufrates, em Carquemis, a quem Nabucodorosor, rei de Babilônia, derrotou no quarto ano de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá. (TNM)
Esta batalha no “quarto ano de Jeoiaquim” é situada no ano 625 A.E.C. pela Sociedade Torre de Vigia (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3, pág. 75.), o que, mais uma vez, não pode ser harmonizado com a cronologia contemporânea do Egito. Mas, se esta batalha em Carquemis ocorreu vinte anos depois, no ano de ascensão de Nabucodonosor, isto é, em junho de 605 A.E.C., segundo todas as linhas de evidência já apresentadas, descobrimos que esta data está em perfeita harmonia com o reinado reconhecido do Faraó Neco, 610–595 A.E.C.
Terceiro sincronismo — Jeremias 44:30: Assim disse Jeová: “Eis que entrego Faraó Hofra, rei do Egito, na mão dos seus inimigos e na mão dos que procuram a sua alma, assim como entreguei Zedequias, rei de Judá, na mão de Nabucodorosor, rei de Babilônia, seu inimigo e aquele que procurava a sua alma”. (TNM)
Como mostra o contexto (do versículo 1 em diante) estas palavras foram proferidas pouco depois da destruição de Jerusalém e de seu templo, quando o restante da população judaica tinha fugido para o Egito, após o assassinato de Gedalias. Naquele momento o Egito era governado pelo Faraó Hofra, ou Apriés, como Heródoto o chama.111
Se Apriés governava o Egito na ocasião em que os judeus fugiram para lá alguns meses depois da desolação de Jerusalém, esta desolação não pode ser datada em 607 A.E.C., porque Apriés só começou o reinado dele em 589 A.E.C. (veja a tabela acima). Mas, se datarmos a desolação de Jerusalém em 587 A.E.C., isto concorda bastante com os anos de reinado estabelecidos historicamente para ele: 589–570 A.E.C.
Quarto sincronismo: Conforme já mencionado, este texto faz referência a uma campanha feita contra o rei Amásis ([Ama]-a-su) no trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor. A tradução de A. L. Oppenheim deste minguado fragmento reza como segue:
“. . . [n]o 37º ano, Nabucodonosor, rei de Bab[ilônia], mar[chou contra] o Egito (Misir) para travar uma batalha. [Amá]sis (no texto: [ . . . ]-a(?)-su), do Egito, [convocou seu e]xérci[to]. . . [ . . . ]ku da cidade de Putu-Iaman. . .regiões distantes que (é situado em ilhas) entre o mar. . . muitos. . . que/os quais (estão) no Egito. . . [le]vando, armas cavalos e [carruage]ns. . . ele chamou para ajudá-lo e. . . fez [ . . . ] em frente a ele. . . ele confiou. . . .”112
Este texto está muito danificado, mas declara definitivamente que a campanha no Egito ocorreu no “trigésimo sétimo ano” de Nabucodonosor, e embora seja verdade que o nome do faraó só esteja parcialmente legível, os sinais cuneiformes preservados parecem ajustar-se apenas a Amásis, e a nenhum outro faraó da vigésima sexta dinastia.
A Sociedade Torre de Vigia data o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor em 588 A.E.C. (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, pág. 779), mas isto foi durante o reinado de Apriés (veja a tabela). Por outro lado, se o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor foi em 568/67 A.E.C., como é estabelecido por todas as linhas de evidência já apresentadas, esta data está em excelente harmonia com o reinado de Amásis (570–526 A.E.C.).
Consequentemente, nenhum dos quatro sincronismos com a cronologia egípcia, estabelecida independentemente, concorda com a cronologia desenvolvida pela Sociedade Torre de Vigia. A discrepância nessa contagem da Sociedade está numa constante desarmonia de aproximadamente vinte anos.
É interessante, porém, que todos os quatro sincronismos estão em perfeita harmonia com as datas a que se chegou com base nas outras linhas de evidências que foram discutidas. De modo que estes sincronismos com a cronologia egípcia acrescentam mais uma linha de evidência às outras que apontam constantemente para 587 A.E.C. como a data definitiva para a destruição de Jerusalém.
Resumo e Conclusão
Apresentaram-se neste capítulo sete linhas de evidência contra qualquer possibilidade de datar a destruição de Jerusalém no ano 607 A.E.C., sendo que todas estas linhas de evidência estão de acordo em datar esse evento vinte anos depois. Pelo menos quatro destas linhas de evidência são claramente independentes entre si.
Consideremos primeiramente as três linhas de evidência que são interdependentes:
(1) Historiadores antigos, as crônicas neobabilônicas e a lista de reis de Uruque
Primeiramente, vimos que no terceiro século A.E.C. o sacerdote babilônico Beroso escreveu uma história de Babilônia, citada por historiadores posteriores, tanto do período A.E.C. como do início da E.C. A validade das datas apresentadas por Beroso em sua história é comprovada por ele refletir fielmente o conteúdo do material histórico agora disponível nas antigas tabuinhas cuneiformes que foram descobertas em Babilônia, particularmente as Crônicas Neobabilônicas (uma série de esboços históricos que narram certos episódios referentes ao Império Babilônico, principalmente registros de sucessão real e de campanhas militares empreendidas) e também as listas reais babilônicas (particularmente a que veio a ser conhecida como Lista de Reis de Uruque) que alista os reis babilônicos por nome juntamente com os anos de reinado deles.
O mesmo ocorre com a fonte conhecida como Cânon Real, uma lista de reis babilônicos que, embora só esteja inteiramente preservada em manuscritos das Tabelas Práticas de Ptolomeu, datadas do oitavo século E.C. e em manuscritos posteriores, evidentemente parece ter sido a fonte comum na qual se baseou o astrônomo Cláudio Ptolomeu (70-161 E.C.) e outros estudiosos mais antigos, tais como Hiparco, do segundo século A.E.C., quando estes abordaram os eventos datados do período neobabilônico. Embora o Cânon Real tenha evidentemente utilizado fontes comuns às usadas por Beroso — ou seja, as antigas crônicas neobabilônicas e listas de reis — a ordem e o formato dos nomes de reis encontrados no Cânon diferem da apresentação de Beroso, o suficiente para indicar que os dois registros foram desenvolvidos de maneira independente entre si.
Reconhece-se que as crônicas neobabilônicas descobertas até agora ainda estão incompletas, e também que alguns dos números referentes aos reinados dos reis neobabilônicos constantes na Lista de Reis de Uruque estão danificados e só parcialmente legíveis. Porém, todos os números que constam lá e são legíveis nestas tabuinhas cuneiformes concordam com os números correspondentes, encontrados tanto nos escritos de Beroso como na listagem do Cânon Real.
Há, portanto, forte razão para crer que a informação cronológica originalmente presente nessas fontes neobabilônicas foi preservada sem alterações por Beroso e pelo Cânon Real. Ambos os registros estão de acordo no tocante à duração total da era neobabilônica. Na área crucial sob investigação aqui, seus números indicam 604/03 A.E.C. como o primeiro ano do reinado de Nabucodonosor, e 587/86 A.E.C. como seu décimo oitavo ano quando ele devastou Jerusalém.
Embora esta evidência seja significativa, permanece o fato de que Beroso e o Cânon Real são fontes secundárias, e até mesmo essas antigas tabuinhas conhecidas como Crônicas Babilônicas e Lista de Reis de Uruque são evidentemente cópias de originais mais antigos. Que evidência, então, dá base para crermos que os registros em questão foram realmente escritos contemporaneamente às épocas e aos eventos descritos?
(2) As inscrições Nabon. nº. 18 e Nabon. nº. 8 (a Estela de Hila)
Além das Crônicas Babilônicas e listas de reis, há outros documentos antigos que dão evidência de ser, não cópias, mas originais. A inscrição real Nabon. nº. 18, datada com a ajuda de outra inscrição conhecida como Crônica Real do segundo ano de Nabonido, fixa astronomicamente este ano em 554/53 A.E.C. Como o reinado de Nabonido terminou com a queda de Babilônia em 539 A.E.C., esta inscrição mostra que o período total do reinado dele foi de dezessete anos (555/54 — 539/38 A.E.C.).
A duração total do período neobabilônico anterior a Nabonido é fornecida pela inscrição Nabon. nº. 8 (a Estela de Hila) que diz que o tempo decorrido do décimo sexto ano do primeiro rei, Nabopolassar, até o ano de ascensão do último rei, Nabonido, foi de cinqüenta e quatro anos. Dessa forma, a estela fixa o décimo sexto ano de Nabopolassar em 610/09 A.E.C.
Se este foi o décimo sexto ano de Nabopolassar, o vigésimo primeiro e último ano dele foi 605/04 A.E.C., o primeiro ano de Nabucodonosor foi então 604/03 A.E.C. e o décimo oitavo ano dele foi 587/86, o ano da destruição de Jerusalém.
(3) Nabon. H 1, B (Estela de Adade-Gupi)
Nabon. H 1, B (a Estela de Adade-Gupi) dá os reinados de todos os reis neobabilônicos desde Nabopolassar até o nono ano de Nabonido (com exceção do de Labashi-Marduque, uma vez que o curto reinado dele não afeta a cronologia apresentada). Uma vez que a Sociedade Torre de Vigia aceita indiretamente um reinado de dezessete anos para Nabonido (como se mostrou acima na discussão da Crônica de Nabonido), só a Estela de Adade-Gupi já derruba a data de 607 A.E.C. para a desolação de Jerusalém e mostra que este evento ocorreu vinte anos depois, em 587 A.E.C.
Podem-se logicamente agrupar estas três linhas de evidência porque não há como estabelecer claramente que os vários documentos envolvidos são completamente independentes entre si. Conforme já se indicou, há razões para crer que tanto em Beroso como no Cânon Real as informações apresentadas foram obtidas de crônicas babilônicas e listas de reis. É possível também que a informação cronológica fornecida nas inscrições reais tenha sido derivada das crônicas (embora isto seja algo que não se pode provar).113 A sugestão de Grayson, de que as próprias crônicas podem ter sido compostas por meio da informação fornecida nos “diários” astronômicos, foi fortemente contestada por outros estudiosos.114
Todavia, esta possível interdependência de algumas destas fontes, não anula o peso da evidência conclusiva que elas provêem. Visto que as antigas inscrições reais preservam informação cronológica que é contemporânea à própria era neobabilônica, temos todas as razões para aceitar isto como informação factual e verdadeira. Isto seria verdade mesmo que esta informação fosse baseada em crônicas babilônicas contemporâneas. Pois, embora a cronologia destas crônicas esteja preservada em apenas algumas cópias fragmentárias, em uma lista de reis posterior e também por Beroso e pelo Cânon Real, a concordância entre estas fontes posteriores e as antigas inscrições reais é impressionante. Esta concordância confirma que os números que estavam nas crônicas neobabilônicas originais foram preservados corretamente nestas fontes posteriores.
Restam então quatro linhas de evidência que dão forte evidência de serem independentes.
(4) Documentos econômico-administrativos e jurídicos
Chegaram às nossas mãos dezenas de milhares de textos econômicos, administrativos e legais do período neobabilônico, que especificam o dia, o mês e o ano do rei reinante. Existe um grande número de tabuinhas datadas para cada ano de todo este período. De modo que a duração do reinado de cada rei pode ser estabelecida por estes documentos, às vezes quase com precisão de dia.
Os resultados obtidos concordam de perto com os números fornecidos por Beroso, pelo Cânon Real e pelas crônicas e inscrições reais contemporâneas ao reinado de Nabonido.
Os vinte anos exigidos pela cronologia da Sociedade Torre de Vigia estão totalmente ausentes.
Os documentos comerciais e administrativos são documentos originais, contemporâneos à própria era neobabilônica o que torna esta linha de evidência extremamente forte. Estes documentos apontam definitivamente para 587/86 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de reinado de Nabucodonosor, quando ele devastou Jerusalém.
(5) Evidência prosopográfica
O estudo prosopográfico das tabuinhas cuneiformes provê vários meios de conferir a precisão da cronologia neobabilônica.
As carreiras de escribas, administradores de templo, escravos, comerciantes e outros, podem ser rastreadas por décadas, em alguns casos por quase todo o período neobabilônico, entrando na era persa. Milhares de documentos datados lançam luz sobre as atividades destas pessoas, incluindo as atividades comerciais, jurídicas, religiosas, familiares e outras. Muitos textos tratam de assuntos que se estendem por semanas, meses ou até mesmo anos, tais como inventários, arrendamentos de terra ou casas, prestações de dívidas, aluguel de escravos e gado, escravos fugitivos, procedimentos de tribunal, e assim por diante.
As atividades de algumas pessoas podem ser rastreadas por quase toda a vida delas. Mas nunca se encontra um caso em que tais atividades extrapolem os limites cronológicos estabelecidos para o período, fazendo-as pertencer a algum intervalo desconhecido de vinte anos, que a Sociedade Torre de Vigia acrescentaria à era neobabilônica. Na realidade, a inserção destes vinte anos não só distorceria o entendimento das carreiras, atividades e relações familiares de muitos indivíduos, como também daria a muitos deles um período de vida incomum para a época e mesmo para os dias de hoje.
(6) Junções de interligação cronológica
Às vezes um texto pode conter atividades e datas que se cruzam em dois ou mais reinados sucessivos, de maneira tal que conecta cronologicamente tais reinados e exclui qualquer possibilidade de se inserir reis e anos adicionais entre eles.
Conforme foi demonstrado nesta seção específica, existem muitos de tais documentos que interligam cada reinado com o seguinte ao longo de todo o período neobabilônico. Embora se tenham apresentado onze documentos deste tipo neste capítulo, um exame atento de dezenas de milhares de tabuinhas não publicadas do período neobabilônico provavelmente multiplicaria o número. Todavia, os que foram apresentados bastam para mostrar que a ajuda de tais “junções cronológicas” já é suficiente para que estabeleçamos firmemente a duração de toda a era neobabilônica.
(7) Sincronismos com a cronologia egípcia contemporânea
A cronologia dos reis egípcios contemporâneos provê um excelente teste da cronologia neobabilônica, uma vez que há quatro sincronismos conectados a ela, três dos quais sendo fornecidos na Bíblia.
Estes sincronismos têm extrema importância, uma vez que a cronologia egípcia contemporânea foi estabelecida independentemente das cronologias de outras nações daquela época. No entanto, mostrou-se que a cronologia egípcia está em completa harmonia com os dados fornecidos por Beroso, pelo Cânon Real, e por todos os documentos cuneiformes discutidos neste capítulo, enquanto uma comparação com a cronologia da Sociedade Torre de Vigia mostra uma constante diferença de aproximadamente vinte anos.
Todos estes quatro sincronismos com a cronologia egípcia refutam a data de 607 A.E.C. para a desolação de Jerusalém e mais uma vez apoiam 587/86 A.E.C. como sendo a data correta para esse evento.
A evidência de todo este material é sobrepujante e certamente deveria ser conclusiva. Para a maioria dos estudiosos, apenas duas ou três destas sete linhas de evidência já constituiriam prova suficiente da exatidão da cronologia neobabilônica. Para os líderes da Sociedade Torre de Vigia, porém, nem mesmo sete linhas de evidência são o bastante para fazê-los mudar de ideia, como se vê pela sua constante rejeição dessa evidência que já lhes foi apresentada.
Já que a cronologia constitui a própria base das principais reivindicações e mensagem da organização, eles evidentemente sentem que muita coisa está em jogo se abandonarem sua cronologia dos tempos dos gentios, a saber, nada menos que a própria posição de autoridade divina que alegam ocupar. Assim, é extremamente improvável que até mesmo o dobro do número de linhas de evidência faça qualquer diferença para eles.
Para sermos rigorosos, porém, sete linhas adicionais de evidência serão apresentadas em detalhes no próximo capítulo e algumas outras serão descritas brevemente. Como todas são baseadas em antigos textos astronômicos babilônicos, a apresentação delas tem o objetivo de converter a cronologia de toda a era neobabilônica naquilo que é chamado de cronologia absoluta.
Notas
1 – O termo “neobabilônico” refere-se geralmente ao período que começou com o reinado de Nabopolassar (datado de 625 – 605 A.E.C.) e terminou com Nabonido (555 – 539 A.E.C.). Deve-se notar, porém, que muitos estudiosos aplicam o termo “neobabilônico” a um período mais extenso. O Dicionário Assírio (em inglês – editado por I. J. Gelb et al, Chicago: Instituto Oriental, 1956–), por exemplo, inicia o período em 1150 A.E.C. e o finaliza em algum momento do quarto século A.E.C. Neste livro o termo se limita à dinastia babilônica que começou com Nabopolassar e terminou com Nabonido.
2 – O primeiro ano de Ciro estendeu-se da primavera setentrional (1º de nisã) de 538 à primavera setentrional de 537 A.E.C. Se Esdras seguiu o método judaico de contar o ano de ascensão como o primeiro ano, ele pode ter considerado 539/38 como o primeiro ano de Ciro. De qualquer maneira, a evidência é que Ciro emitiu seu decreto não muito tempo depois da queda de Babilônia. O chamado Cilindro de Ciro mostra que, logo após a conquista de Babilônia, Ciro emitiu um decreto permitindo que os diversos povos que haviam sido deportados para Babilônia voltassem para seus países de origem. (Textos Antigos do Oriente Próximo Relacionados com o Velho Testamento [sigla em inglês: ANET], editado por James B. Pritchard, Princeton, Nova Jersey: Editora da Universidade de Princeton, 1950, pág. 316.) É bem provável que o decreto que permitiu aos judeus retornarem a Jerusalém fez parte desta libertação geral dos povos exilados. Conforme se mostra no livro de Esdras, os judeus que acataram imediatamente o decreto começaram a se organizar para a viagem de regresso (Esdras 1:5-2:70), e “no sétimo mês” (tisri, que abrange parte de setembro e parte de outubro) eles tinham se instalado em suas cidades de origem. (Esdras 3:1) O contexto parece indicar que isso ainda foi no “primeiro ano de Ciro” (Esdras 1:1-3:1). Por isso, a maior parte das autoridades conclui que o retorno deles ocorreu no outono de 538 A.E.C. e não em 537 como insiste a Sociedade Torre de Vigia. (Veja, por exemplo, a discussão do Dr. T. C. Mitchell em História Antiga – Universidade de Cambridge, 2ª ed. em inglês, Vol. III:2, Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 1991, págs. 430-432; também a discussão completa da historicidade do decreto de Ciro, feita por Elias Bickerman em Estudos da História Judaica e Cristã [em inglês], Leiden: E.J. Brill, 1976, págs. 72-108.) A Sociedade Torre de Vigia, porém, não pode aceitar a data 538 A.E.C. para o retorno, uma vez que tal data recuaria o início de seu período de setenta anos para 608 A.E.C. Isto, é claro, destruiria seu cálculo dos tempos dos gentios.
3 – Estes historiadores antigos incluem Megástenes (3º século A.E.C.), Beroso (c. 250 A.E.C.), Alexandre Polistor (1º século A.E.C.), Eusébio Pânfilo (c. 260-340 E.C.), e Geórgio Sincelo (parte final do 8º século E.C.). Para uma avaliação oportuna dos números fornecidos por estes historiadores antigos, veja Nabonido e Belsazar, de Raymond Philip Dougherty, (em inglês – New Haven: Editora da Universidade de Yale, 1929), págs. 8-10; cf. também Imagens de Nabucodonosor, de Ronald H. Sack, (em inglês – Selinsgrove: Editora da Universidade de Susquehanna; Londres e Toronto: Editora das Universidades Associadas, 1991), págs. 31-44.
4 – Reallexikon der Assyriologie, Erich Ebeling e Bruno Meissner, Vol. II (Berlim e Leipzig: Walter de Gruyter & Co., 1938), págs. 2, 3.
5 – Uma tradução com uma abordagem extensa sobre estes fragmentos foi publicada por Paul Schnabel em Berossos und die Babylonisch-Hellenistische Literatur (Leipzig e Berlim: B. G. Teubner, 1923). A primeira versão inglesa completa dos fragmentos restantes da obra de Beroso foi publicada por Stanley Mayer Burstein em A Babiloníaca de Beroso. Fontes do Antigo Oriente Próximo, Vol. 1, fascículo 5 (Malibu, Califórnia: Publicações Undena, 1978).
6 – Veja Contra Apião, de Flávio Josefo, Livro I: 19-21; Antiguidades Judaicas, Livro X:XI, 1. A Crônica de Eusébio só está preservada em uma versão armênia e em uma versão latina, com exceção dos trechos preservados na Cronografia do cronista bizantino Geórgio Sincelo (final do oitavo e início do nono século E.C.). Todas as obras citadas aqui estão em inglês.
7 – Historiografia e Autodefinição, Gregory E. Sterling, (em inglês – Leiden, Nova Iorque, Köln: E. J. Brill, 1992), págs. 106, 260, 261.
8 – Burstein, por exemplo, diz: “Os mais antigos são os elaborados por Josefo no primeiro século D.C. com base nas seções referentes ao segundo e particularmente ao terceiro livro da Babiloníaca, o último dos quais provê realmente nossa melhor evidência acerca da abordagem de Beroso sobre o período neobabilônico.” (Op. cit., págs. 10, 11; ênfase acrescentada.) A longa citação que Josefo faz sobre a era neobabilônica em Contra Apião está mais bem preservada em Preparação para o Evangelho, de Eusébio, Livro IX, capítulo XL. (em inglês – Veja a discussão de H. St. J. Thackeray em Josefo, Vol. I [Biblioteca Clássica Loeb, Vol. 38:1], Londres: William Heinemann, e Nova Iorque: G. P. Putnam’s Sons, 1926, págs. xviii, xix.) Por isso, a transmissão textual deficiente da Crônica de Eusébio não tem qualquer relevância para nosso estudo. A Sociedade Torre de Vigia, em seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras (Vol. I, pág. 607), dedica somente um parágrafo a Beroso. Quase todo o parágrafo consiste em uma citação da Historiografia Assíria (em inglês) de A. T. Olmstead, na qual ele lamenta a tortuosa história da preservação dos fragmentos de Beroso através da Crônica de Eusébio (conforme a nota de rodapé 6 deste capítulo). Embora isto seja verdade, é irrelevante para nossa discussão, como já foi dito.
9 – Burstein, op. cit., pág. 13. A versão armênia da Crônica de Eusébio apresenta “2.150.000 anos” em vez de “150.000”, o número preservado por Sincelo. Acredita-se que nenhum destes é o numero original apresentado por Beroso. (Burstein, pág., 13, nota 3.)
10 – Burstein, op. cit., pág. 22.
11 – Burstein indica que, embora Beroso tenha cometido vários erros surpreendentes e tenha sido pouco rigoroso no tocante às suas fontes, “os fragmentos evidenciam que ele escolheu boas fontes, mui provavelmente de uma biblioteca em Babilônia, e que ele registrou cuidadosamente os conteúdos destas em grego.” (Burstein, op. cit., pág. 8. Ênfase acrescentada.) Robert Drews, em seu artigo “As Crônicas Babilônicas e Beroso”, publicados em Iraq, Vol. 37, parte 1 (Primavera setentrional de 1975), chega à mesma conclusão: “Não pode haver dúvida de que as crônicas estavam entre estes registros.” (pág. 54) Isto foi demonstrado por uma comparação cuidadosa das declarações de Beroso com as crônicas babilônicas. Paul Schnabel também conclui: “Que em toda parte ele usou registros cuneiformes, principalmente crônicas, fica evidente vez após vez.” — Schnabel, op. cit. (veja a nota de rodapé 5, neste capítulo), pág. 184.
12 – Os três manuscritos mais antigos das Tabelas Práticas de Ptolomeu, que contêm a lista de reis, datam do oitavo ao décimo século. Veja Leo Depuydt, “‘Mais Valioso do Que Todo o Ouro’: O Cânon Real de Ptolomeu e a Cronologia Babilônica”, na Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 47 (1995), págs. 101-106 (em inglês). A lista de reis foi continuada por astrônomos posteriores a Ptolomeu bem dentro do período bizantino.
13 – Almagesto de Ptolomeu, G. J. Toomer (em inglês – Londres: Gerald Duckworth & Co., 1984), pág. 10, nota de rodapé 12. Os fragmentos, porém, são posteriores a Ptolomeu.
14 – Sternkunde und Sterndienst in Babel, Franz Xaver Kugler, II. Buch, II. Teil, Heft 2 (Münster, Westfália: Aschendorffsche Verlagsbuchhandlung, 1924), pág. 390. Traduzido do alemão.
15 – Forschungen zur alten Geschichte, Eduard Meyer, Zweiter Band (Halle a. S.: Max Niemeyer, 1899), págs. 453-454. Traduzido do alemão. Ênfase acrescentada.
16 – “‘Anos’ nos Cânones Reais’”, Otto Neugebauer, A Locust’s Leg. Estudos em Honra de S. H. Taqizadeh, editado por W. B. Henning e E. Yarshater (em inglês – Londres: Percy Lund, Humphries & Co., 1962), págs. 209, 210. Compare também com Uma História Política da Babilônia Pós-Cassita, 1158-722 A.C., J. A. Brinkman (em inglês – Roma: Pontifício Instituto Bíblico, 1968), pág. 22.
17 – Der Aufbau der Babylonischen Chronologie, Friedrich Schmidtke (Münster, Westfália: Aschendorffsche Verlagsbuchhandlung, 1952), pág. 41. Traduzido do alemão.
18 – Burstein, por exemplo, indica que o cânon “representa uma tradição babilônica existente por volta do primeiro milênio A.C. que é independente de Beroso, como se pode observar na ordem e nas formas dos nomes dos reis.” (Op. cit., pág. 38) Na mesma página Burstein dá uma tradução do cânon que, infelizmente, contém dois erros. No caso dos anos de reinado apresentados para Nabucodonosor, “23”, é uma grafia errada de “43”; e o nome “Illoaroudamos” no cânon corresponde a “Avil-Marduque”, não “Labashi-Marduque”. Para uma publicação confiável do cânon, veja, por exemplo, A Cronologia do Mundo Antigo (em inglês), de E. J. Bickerman, edição revisada (Londres: Tâmisa e Hudson, 1980), págs. 109-111.
19 – Das duas fontes, o Cânon Real é evidentemente a melhor testemunha. Conforme indica o Professor J. A. Brinkman, o cânon “é de precisão conhecida e elogiável”. (Op. cit. [nota de rodapé 16 deste capítulo], pág. 35). Descobertas modernas de crônicas babilônicas, listas de reis, textos astronômicos, etc., escritas em tabuinhas cuneiformes podem ser apresentadas como estando em completa concordância com o cânon para todo o período que vai do oitavo ao primeiro século A.E.C. A evidência disto é brevemente discutida em “Os Fundamentos da Cronologia Assiro-Babilônica”, de C. O. Jonsson, Revista de Cronologia & Catastrofismo, Vol. IX (em inglês – Harpenden, Inglaterra: Sociedade de Estudos Interdisciplinares, 1987), págs. 14-23.
20 – Conforme mostrado por documentos cuneiformes contemporâneos, Neriglissar morreu no primeiro mês de seu quarto ano de reinado (em fins de abril ou princípio de maio). Seu filho e sucessor, Labashi-Marduque, foi assassinado em uma rebelião após reinar por aproximadamente dois meses. O número dado por Beroso através de Josefo, “9” meses, é geralmente considerado como um erro de cópia de “2” meses no escrito original, devido aos sinais (letras) gregos para “9” (θ) e “2” (β) serem muito parecidos. (Cronologia Babilônica 626 A.C.-75 A.D., R. A. O Parker e W. H. Dubberstein, Providence: Editora da Universidade Brown, 1956, pág. 13, em inglês.) A Lista de Reis de Uruque (discutida a seguir) apresenta um reinado de três meses para Labashi-Marduque, o qual indubitavelmente se refere à cidade de Uruque, onde, segundo as tabuinhas comerciais, ele foi reconhecido como rei por três meses incompletos (nisanu, ayaru e simanu). — O Reinado de Nabonido, Rei de Babilônia, 556-539 A.C., Paul-Alain Beaulieu (em inglês – New Haven e Londres: Editora da Universidade de Yale, 1989), págs. 86-90.
21 – Conforme indicado no capítulo anterior, uma cronologia absoluta é mais bem estabelecida com a ajuda de datas fixadas astronomicamente. Cláudio Ptolomeu, em sua famosa obra Almagesto, registra um grande número de observações astronômicas antigas, muitas das quais são descrições detalhadas de eclipses lunares. Um destes é datado no quinto ano de Nabopolassar e foi identificado com um que ocorreu em 621 A.E.C. Se este foi o quinto ano de Nabopolassar, seus 21 anos de reinado seriam fixados entre 625-605 A.E.C. O primeiro ano de seu filho e sucessor, Nabucodonosor, teria começado então em 604 A.E.C. e seu 18º ano (quando ele devastou Jerusalém) em 587. Todavia, alguns eruditos questionaram a confiabilidade das observações astronômicas registradas por Ptolomeu. Em seu livro sensacionalista, O Crime de Cláudio Ptolomeu (em inglês – Baltimore e Londres: Editora da Universidade Johns Hopkins, 1977), o Dr. Robert R. Newton alegou que Ptolomeu falsificou, não só um grande conjunto de observações que ele diz ter feito por si mesmo, como também diversas observações que ele registra de períodos anteriores. (A evidência é, contudo, que todas as observações para períodos anteriores registrados por Ptolomeu foram obtidas do matemático grego Hiparco [do segundo século A.E.C.], que por sua vez obteve-as diretamente dos astrônomos babilônicos. Veja o artigo de G. J. Toomer, “Hiparco e a Astronomia Babilônica”, em Um Estudo Científico Humanista em Memória de Abraham Sachs, editado por E. Leichty, M., deJ. Ellis, & P. Gerardi, Filadélfia, 1988, págs. 353-362, em inglês.) Ao supor que Ptolomeu foi o originador do “Cânon de Ptolomeu”, Newton também achou que a suposta falsificação de Ptolomeu pode ter chegado ao ponto de inventar os períodos de reinado nesta lista de reis. Mas como a lista de reis não foi uma criação de Ptolomeu, Newton estava errado nisto. Nas edições anteriores deste livro as alegações de Newton e o debate resultante que elas causaram em periódicos acadêmicos foram discutidos até certo ponto. Esta divagação do assunto principal foi omitida nesta edição não só por motivo de espaço, mas também porque as observações registradas por Ptolomeu são realmente de pouca importância para nossa discussão. Deve-se notar, porém, que “muito poucos historiadores de astronomia aceitaram as conclusões de Newton em sua totalidade”. — Dr. James Evans no Diário para a História de Astronomia, Vol. 24 Partes 1/2, 1993, págs. 145, 146, em inglês. (O Dr. Newton faleceu em 1991.) Um artigo sobre R. R. Newton e o Cânon Real está publicado em inglês na Internet: http://user.tninet.se/~oof408u/fkf/english/epage.htm
* “Cuneiforme” refere-se à escrita “em forma de cunha” usada nestas antigas tabuletas de argila. Os sinais eram impressos na argila úmida com uma vara pontiaguda ou palheta (estilo).
22 – O Professor D. J. Wiseman diz: “Os textos da Crônica Neobabilônica são redigidos com escrita pouco elaborada, do tipo que não permite por si só qualquer datação precisa, o que pode significar que eles foram escritos em qualquer período desde a época quase contemporânea aos próprios eventos até o final do domínio aquemênida [331 A.E.C.].” (Crônicas dos Reis Caldeus [em inglês – Londres: Curadores do Museu Britânico, 1961], pág. 4) O Professor J. A. Brinkman é um pouco mais específico, declarando que as cópias existentes das crônicas Neobabilônicas são “ligeiramente anteriores ao Historiai [Histórias] de Heródoto” que foi escrito por volta de 430 A.E.C. (“A Crônica Babilônica Revisitada”, J. A. Brinkman, em Delongando-se em Palavras. Estudos Literários do Antigo Oriente Próximo em Honra de William L. Moran, editado por T. Abusch, J. Huehnergard, e P. Steinkeller [Atlanta: Editora dos Acadêmicos, 1990], págs. 73, 85, em inglês.) O Dr. E. N. Voigtlander diz que as cópias das crônicas neobabilônicas parecem originárias do reinado de Dario I (Uma Pesquisa da História Neobabilônica, Voigtlander [em inglês – tese de doutorado não publicada, Universidade de Michigan, 1963], pág. 204, nota 45.) A Crônica 1A tem um colofão no qual se declara explicitamente que o texto foi copiado (de um original mais antigo) no 22º ano de Dario I (500/499 A.E.C.).
23 – Crônicas Assírias e Babilônicas, A. K. Grayson (em inglês – Locust Valley, Nova Iorque: J.J. Augustin Publisher, 1975). Esta obra será daqui em diante denominada ABC.
24 – A. K. Grayson em Reallexikon der Assyriologie und vorderasiatischen Archäologie (daqui em diante abreviado para RLA), editado por D. O. Edzard, Vol. VI (Berlim e Nova Iorque: Walter de Gruyter, 1980), pág. 86.
25 – ABC, Grayson (1975), págs. 99, 100.
26 – Ibid. pág. 109.
27 – Ibid., págs. 106, 107. “Sexto ano” também está apagado, mas como o registro para cada ano está separado do próximo ano por uma linha horizontal, e como o relato da derrota de Astíages aparece logo antes do registro para o sétimo ano, é muito evidente que ele se refere ao sexto ano. – Anxã era uma cidade e também um nome arcaico da província na qual ela se situava, Parsa (Persis), que fica no Golfo Pérsico a sudeste de Babilônia. Na época em que Ciro ascendeu ao poder, Anxã (Parsa) era um reino tributário medo.
28 – Historiai de Heródoto I:210-216. Outros historiadores antigos tais como Ctésias, Dínon, Diodoro, Africano e Eusébio concordam de modo geral com esta duração do reinado de Ciro. — Veja Estudo Perspicaz das Escrituras (1990), Vol. 1, pág. 608.
29 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1 (1990), págs. 511, 608; Vol. 3 (1992), pág. 257. Que Astíages foi derrotado em 550 A.E.C. pode ser também confirmado de outras maneiras. Se, conforme declara Heródoto (Historiai I:130), Astíages reinou na Média por trinta e cinco anos, o reinado dele teria começado em 585 A.E.C. (550+35=585). Ele foi o sucessor do pai dele, Ciaxares, que morreu logo após uma batalha contra Aliates da Lídia, batalha esta que, segundo Heródoto (Historiai I:73, 74), foi interrompida por um eclipse solar. De fato, um eclipse solar total visível naquela área ocorreu no dia 28 de maio de 585 A.E.C., o qual é geralmente identificado com esse mencionado por Heródoto. — História do Irã – Universidade de Cambridge, I. M. Diakonoff, Vol. 2 (em inglês – Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 1985), págs. 112, 126; cf. M. Miller, “As antigas datas persas segundo Heródoto”], Klio, Vol. 37 (Berlim: Akademie-Verlag, 1959), pág. 48.
30 – “Assíria e Babilônia”, A. K. Grayson, Orientalia, Vol. 49, Fasc. 2, 1980, pág., 171, em inglês. Veja também Vetus Testamentum, de Antti Laato, Vol. XLV:2, abril de 1995, págs. 198-226.
31 – Ibid, Grayson (1980), pág. 171.
32 – Ibid, pág. 175. Isto não significa que as crônicas sejam registros infalíveis. Conforme o Dr. J. A. Brinkman mostra, “a ausência de preconceito nacionalista não garante confiabilidade efetiva; e as crônicas babilônicas têm seu quinhão de erros comprovados.” Ainda assim, ele concorda que as crônicas contêm um registro essencialmente confiável de eventos e datas para o período entre o oitavo e o sexto séculos A.E.C.: “Para o período de 745 a 668, estes documentos alistam governantes e datas exatas de reinado em Babilônia, Assíria, e Elão. Após esse período, a apresentação é deficiente, em parte por causa das lacunas no registro; mas estes textos ainda fornecem a maior parte do contexto cronológico preciso, que dá base para o conhecimento atual da queda do Antigo Império Assírio, a ascensão do Império Neobabilônico, o reinado de Nabonido, e a transição para o domínio persa.” — Brinkman em Delongando-se em Palavras (veja a nota de rodapé 22, neste capítulo), nota 148. Para comentários adicionais sobre a confiabilidade das crônicas neobabilônicas, veja o Capítulo 7 deste livro: “Tentativas de Neutralizar a Evidência”.
33 – A primeira transcrição e tradução do texto, que incluiu uma discussão extensa do Dr. J. van Dijk, foi publicada em 1962. – UVB, J. van Dijk (= Vorläufiger Bericht über die von dem Deutschen Archäologischen Institut unter der Deutschen Orient-Gesellschaft aus Mitteln der Deutschen Forschungsgemeinschaft unternommenen Ausgrabungen in Uruk-Warka), Vol. 18, Berlim, 1962, págs. 53-60. Uma versão inglesa da tradução de van Dijk (da lista dos reis) é publicada por J. B. Pritchard, O Antigo Oriente Próximo (em inglês – Princeton, Nova Jersey: Editora da Universidade de Princeton, 1969), pág. 566. Outra transcrição mais recente de A. K. Grayson foi publicada em 1980. – RLA, A. K. Grayson (veja a nota de rodapé 24 e a imagem acima), Vol. VI (1980), págs. 97, 98.
34 – Baseado na transcrição de Grayson em RLA VI (1980), pág. 97.
35 – Veja a nota de rodapé 20 deste capítulo. De qualquer maneira, o reinado de Labashi-Marduque foi abrangido pelo quarto ano de Neriglissar, que também foi o ano de ascensão de Nabonido, não afetando a duração total da era.
36 – UVB 18, J. van Dijk (veja a nota de rodapé 33 deste capítulo), página 57. Como Neriglissar morreu em seu quarto ano de reinado, o governo dele normalmente teria sido contado cronologicamente como quatro anos, de acordo com o sistema babilônico de ano de ascensão. A Lista de Reis de Uruque diverge de tal método neste ponto, dando informação mais específica. Conforme van Dijk indica, “a lista é mais precisa que o Cânon [Real] e confirma completamente os resultados da pesquisa.” — Archiv für Orientforschung, ed. E. Weidner, Vol. 20 (Graz, 1963), pág. 217. Para informação adicional sobre o mês da ascensão de Neriglissar e a Lista de Reis de Uruque, veja o Apêndice ao Capítulo 3.
37 – Die neubabylonischen Königsinschriften, Stephen Langdon (=Vorderasiatische Bibliothek, Vol. IV) (Leipzig: J. C. Hinrichs’sche Buchhandlung, 1912).
38 – O primeiro dos três volumes planejados foi publicado em 1973 como Die neubabylonischen Königsinschriften (= Alter Orient und Altes Testament, Vol. 4/1), de Paul-Richard Berger, (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1973).
39 – Aproximadamente 75 por cento destes documentos foram encontrados em Babilônia durante as escavações minuciosas de R. Koldewey em 1899-1917. (Berger, Ibid., págs. 1-3) Conforme explica o Dr. Ronald Sack, só do reinado de Nabucodonosor sobreviveu “praticamente uma montanha” de inscrições reais. (Imagens de Nabucodonosor [em inglês – Selinsgrove: Editora da Universidade de Susquehanna; Londres e Toronto: Editora das Universidades Associadas, 1991], pág. 26.) Seis das inscrições são do reinado de Avil-Marduque, oito do reinado de Neriglissar, e aproximadamente trinta do reinado de Nabonido. (Berger, op. cit., págs. 325-388.)
40 – Em 1989 Paul-Alain Beaulieu, em sua tese de doutorado O Reinado de Nabonido (em inglês), incluiu um novo catálogo com descrições detalhadas das inscrições reais do reinado de Nabonido. — O Reinado de Nabonido, Rei de Babilônia 556 – 539 A.C., Paul-Alain Beaulieu (em inglês – New Haven e Londres: Editora da Universidade de Yale, 1989), págs. 1-42.
41 – Infelizmente, os eruditos organizaram ou numeraram as inscrições de maneira diferente, o que pode gerar alguma confusão. Nos sistemas de Tadmor, Berger, e Beaulieu as três inscrições são listadas como segue:
Tadmor 1965: | Berger 1973: | Beaulieu 1989: | |
(1) | Nabon. nº 18 | Nbd Zyl. II, 7 | nº 2 |
(2) | Nabon. nº 8 | Nbd Stl. Frgm. XI | nº 1 |
(3) | Nabon. nº 24 | (faltante) | (Estela de Adade-Gupi) |
O arranjo de Beaulieu é cronológico: A nº 1 foi escrita no primeiro ano de Nabonido, a nº 2 em seu segundo ano e a nº 13 depois do ano 13, possivelmente no ano 14 ou 15. (Beaulieu, op. cit., pág. 42.) Na lista de Tadmor, as inscrições de Nabonido são numeradas na ordem de sua publicação, começando com os quinze textos publicados por Langdon em 1912. (Hayim Tadmor, “As Inscrições de Nabonido: Arranjo Histórico” em Estudos em Honra de Benno Landsberger em seu 75º aniversário [= Estudos Assiriológicos nº 16], ed. H. Güterbock & T. Jacobsen, Chicago: Editora da Universidade de Chicago, 1965, págs. 351-363, em inglês.) Os sistemas de Tadmor, Berger, e Beaulieu, por sua vez, diferem do de H. Lewy em Archiv Orientální, Vol. XVII, Praga, 1949, págs. 34, 35, nota 32. Na discussão apresentada aqui serão usados os números de Tadmor.
42 – Esta parte do texto diz, segundo a tradução de Beaulieu: “Por causa do desejo por uma sacerdotisa entu, no dia 13 do mês de ululu, o mês (cujo nome sumeriano significa) ‘trabalho das deusas’, a lua foi eclipsada e se pôs enquanto estava eclipsada. Sin pediu uma sacerdotisa entu. Assim (foi) seu sinal e sua decisão.” (Beaulieu, op. cit., pág. 127) A conclusão de que este eclipse lunar indicou que Sin havia pedido uma sacerdotisa, baseou-se evidentemente na série de tabuinhas astrológicas Enuma Anu Enlil, o “Escrito Sagrado” dos astrólogos assírios e babilônicos, que regularmente dava base às suas interpretações de eventos astronômicos em sua antiga coleção de presságios. Um eclipse lunar visto na vigília da manhã de 13 de ululu é expressamente interpretado nestas tabuinhas como uma indicação de que Sin deseja uma sacerdotisa. — Veja H. Lewy, “O Antecedente Babilônico da Lenda de Kay Kâûs”, Archiv Orientální, Vol. XVII (ed. por B. Hrozny, Praga, 1949), págs. 50, 51.
43 – H. Lewy, op. cit., págs. 50, 51.
44 – “Uma Nova Fonte Sobre o Reinado de Nabonido”, W. G. Lambert, Archiv für Orientforschung, Vol. 22 (ed. por Ernst Weidner, Graz, 1968/69), págs. 1-8. A conclusão de Lewy foi confirmada por outros eruditos. (Veja por exemplo Beaulieu, op.cit, págs. 127-128.) O eclipse de 26 de setembro de 554 A.E.C., foi examinado em 1999 pelo Professor F. Richard Stephenson de Durham, Inglaterra que é um dos principais peritos em eclipses antigos. Ele diz:
“Meus detalhes computados são os seguintes (períodos fracionados em décimos de hora):
(i) Início às 3,0 h[oras], hora local, altitude lunar 34 gr[aus] a SO.
(ii) Fim às 6,1 h[oras], hora local, altitude lunar -3 gr[aus] a O.
Assim, o eclipse terminaria aproximadamente 15 minutos depois de a lua se pôr. Um eclipse intensamente penumbroso pode possivelmente ser visível por bem poucos minutos e há sempre a possibilidade de refração anômala no horizonte. Eu julgaria, porém, que a lua se pôs realmente eclipsada naquela ocasião.” — Carta de Stephenson a Jonsson, datada de 5 de março de 1999.
45 – Alguém poderia argumentar que é possível encontrar outro eclipse lunar de posicionamento helíaco em 13 de ululu, vários anos antes, que combine com a descrição dada por Nabonido, talvez cerca de vinte anos antes, com o fim de adaptar a observação à cronologia da Sociedade Torre de Vigia. Todavia, modernos cálculos astronômicos comprovam que nenhum eclipse lunar deste tipo, visível em Babilônia, ocorreu nesta época do ano nos vinte anos anteriores, ou mesmo cinqüenta anos antes do reinado de Nabonido! O mais próximo eclipse lunar deste tipo ocorreu cinqüenta e quatro anos antes, no dia 24 de agosto de 608 A.E.C. Portanto, o eclipse lunar descrito em Nabon. nº. 18, só pode ter sido esse de 26 de setembro de 554 A.E.C. Para mais informações sobre a identificação de eclipses lunares antigos, veja o Apêndice ao Capítulo 4: “Alguns comentários sobre eclipses lunares antigos.”
46 – Uma tradução do texto foi publicada por S. Langdon em 1912, op. cit. (nota de rodapé 37 deste capítulo), págs. 53-57, 270-289. Para uma tradução inglesa, veja Antigos Textos do Oriente Próximo (citado daqui em diante como ANET), editado por James B. Pritchard (em inglês – Princeton, N. J.: Editora da Universidade de Princeton, 1950), págs. 308-311.
47 – A Col. IX menciona a visita de Nabonido ao sul de Babilônia logo após o festival do Ano-Novo. Esta visita é também documentada em textos do arquivo de Larsa datados dos primeiros dois meses do primeiro ano de Nabonido. — Beaulieu, op. cit., págs. 21, 22, 117-127.
48 – Traduzido por Beaulieu, op. cit., pág. 107.
49 – ABC, Grayson (1975), pág. 95. Não se dá o mês exato da destruição do templo, mas como a crônica diz mais adiante que o rei de Acade foi para casa no mês de adar (o décimo segundo mês, correspondendo a fevereiro/março), a destruição deve ter ocorrido em algum momento entre outubro de 610 e março de 609 A.E.C., provavelmente perto do fim deste período.
50 – “As Inscrições de Harã Referentes a Nabonido”, C. J. Gadd em Estudos Anatolianos, Vol. VIII, 1958, pág., 47 (em inglês). Que o templo de Ehulhul foi arruinado neste momento é confirmado por outras inscrições, incluindo o Cilindro de Sipar (Nº. 1 na lista de Tadmor), que diz: “(Sin) irou-se contra essa cidade [Harã] e o templo [Ehulhul]. Ele despertou os medos, que destruíram esse templo e o transformaram em ruínas.” — Gadd, Ibid., págs. 72, 73; Beaulieu, op. cit., pág. 58.
51 – A reconstrução do templo de Ehulhul é mencionada em vários textos que não se harmonizam facilmente. Devido a alguma incerteza nas inscrições, não está claro se o templo de Harã foi completado no início do reinado de Nabonido ou depois de sua permanência de dez anos em Teima, na Arábia. O problema foi extensivamente discutido por vários estudiosos. É bem provável que o projeto tenha sido iniciado nos primeiros anos do reinado de Nabonido, mas não pôde ser totalmente concluído até depois do retorno dele de Teima, talvez em seu décimo terceiro ano de reinado ou depois. (Beaulieu, op. cit., págs. 137, 205-210, 239-241.) “Os diferentes textos seguramente se referem a fases diferentes do trabalho”, diz o Professor Henry Saggs em sua análise do problema. (Povos do Passado: Babilônios, H. W. F. Saggs [em inglês], Londres: Curadores do Museu Britânico, 1995, pág. 170) De qualquer maneira, todos os eruditos concordam que Nabonido conta os cinqüenta e quatro anos desde o décimo sexto ano de Nabopolassar até seu próprio ano de ascensão quando a “ira” dos deuses “[por fim] se acalmou”, segundo a Estela de Hila (coluna vii), e “ordenou-se” a Nabonido que reconstruísse o templo. Para mais comentários sobre a Estela de Hila, veja o Apêndice.
52 – Para uma abordagem extensa sobre a inscrição, veja “Die Basaltstele Nabonids von Eski-Harran”, B. Landsberger, em Halil-Edhem Halil-Edhem Hâtira Kitabi , Kilt I (Ancara: Turk Tarih Kurumu Basimevi, 1947), págs. 115-152. Uma tradução em inglês está incluída no ANET de Pritchard, págs. 311, 312. No ANET a tradução da estela H 1, A, col. II diz “6º” ano de Nabonido, o que é um erro de grafia. O texto original diz claramente “9º” ano.
53 – C. J. Gadd, op. cit., págs. 46-56. Gadd traduziu a inscrição em 1958 e chamou a nova estela de Nabon. H 1, B, para distingui-la da estela de Pognon que ele chamou de Nabon. H 1, A. A citação feita aqui é da tradução de A. Leo Oppenheim em O Antigo Oriente Próximo. Nova Antologia de Textos e Imagens, James B. Pritchard, Vol. II (em inglês – Princeton e Londres: Editora da Universidade de Princeton, 1975), págs. 105, 106, col. I:29-33. Como esta passagem é usada como base para o cálculo da idade de Adade-Gupi na col. II:26-29, isto evidentemente quer dizer que o número de reis e seus reinados estão completos. Em outra parte do texto a informação cronológica está repetida (col. II:40-46), mas omite-se o reinado de Avil-Marduque, evidentemente porque o objetivo desta seção é diferente, ou seja, explicar a quais dos reis neobabilônicos Adade-Gupi tinha servido obedientemente. Isto é indicado claramente no princípio da seção que diz: “Eu obedeci com todo meu coração e cumpri minha obrigação (como pessoa) durante…”, etc. Conforme sugerido por Gadd “ela foi banida, ou ausentou-se”, da corte de Avil-Marduque, “sem dúvida por que, não importa quais fossem os motivos, aquele rei ganhou má reputação na tradição oficial.” (Gadd, op. cit., pág. 70)
54 – Nabonido e sua mãe descendiam do ramo setentrional dos arameus, que logo de início foram tão completamente assimilados pela sociedade assíria que até mesmo seu deus-lua Sin “veio a ser honrado entre os assírios em pé de igualdade com o deus nativo Assur.” (A Escravidão em Babilônia, M. A. Dandamaev, DeKalb, Illinois: Editora da Universidade Norte de Illinois, 1984, págs. 36-39, em inglês.) Em uma de suas inscrições (Nabon. nº. 9, na listagem de Tadmor), Nabonido fala explicitamente dos reis assírios como “meus ancestrais reais.” — H. Lewy, op. cit. (na nota de rodapé 42 deste capítulo), págs. 35, 36.
55 – Oppenheim em Pritchard, op. cit. (1975), pág. 107, col. II:26-29. Para comentários adicionais sobre a inscrição de Adade-Gupi, veja o Apêndice ao Capítulo 3.
56 – ABC, Grayson, pág. 107. Até a última coluna (III 5ff.), a Estela de Adade-Gupi está escrita na primeira pessoa. Mas é evidente que a inscrição foi talhada após a morte dela, sem dúvida por ordem de Nabonido. Esta é a razão por que o Dr. T. Longman III gostaria de classificá-la como uma “autobiografia fictícia” (um método literário conhecido também à base de outros textos acadianos), embora ele acrescente: “Todavia, isto não quer dizer que os eventos e mesmo as opiniões associadas com Adade-Gupi não sejam autênticas.” (Autobiografia Ficcional Acadiana, Tremper Longman III, [em inglês], Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 1991, págs. 41, 101, 102, 209, 210; cf. Beaulieu, op. cit., pág. 209.) Mas é questionável que a inscrição de Adade-Gupi possa, mesmo neste sentido, ser classificada como uma “autobiografia ficcional.” Em sua análise do trabalho de Longman, o Dr. W. Schramm aponta que o texto é “essencialmente uma autobiografia genuína. O fato de haver uma adição na col. III 5ff., composta por Nabonido (já vista em Estudos Anatolianos, Gadd, 8, 55, sobre a III 5), não dá a ninguém o direito de supor que o texto inteiro seja fictício. É claro que a inscrição foi talhada após a morte de Adade-Gupi. Mas não se pode duvidar que se usou uma apresentação autêntica sobre a história da vida de Adade-Gupi.” — Bibliotheca Orientalis, Vol. LII, No. 1/2 (Leiden, 1995), pág. 94.
57 – Naturalmente o Cânon Real não fornece os reinados dos reis assírios Assurbanipal e Assur-etil-ili. Para o período mais antigo (747 – 539 A.E.C.) o Cânon dá uma lista de reis de Babilônia, não da Assíria contemporânea. Os reinados dos reis assírios só são fornecidos quando eles também reinaram diretamente sobre Babilônia, o que se deu, por exemplo, no caso de Senaqueribe que reinou duas vezes em Babilônia (em 704/03–703/02 e em 688/87–681/80 A.E.C.) e no caso de Esar-Hadom, que reinou em Babilônia por treze anos (680/79–668/67 A.E.C.). Durante o período do reinado de Assurbanipal na Assíria, o Cânon fornece os reinados dos reis vassalos contemporâneos em Babilônia, Samas-sum-iuquin (20 anos) e Kandalanu (22 anos).— Compare com Gadd, op. cit., págs. 70, 71.
58 – Amel-Marduque 562-560 A.C., Ronald H. Sack (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1972), pág. 79.
59 – O Dr. M. A. Dandamaev declara: “O período de menos de noventa anos entre o reinado de Nabopolassar e a ocupação da Mesopotâmia pelos persas é documentado por dezenas de milhares de textos referentes a economia doméstica e administrativa e direito privado, mais de dez mil dos quais tendo sido publicados até o momento.” — História Antiga – Universidade de Cambridge 2ª ed., Vol. III:2 (em inglês – Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 1991), pág. 252.
60 – Carta pessoal de Wiseman a Jonsson, datada de 28 de agosto de 1987. Esta é provavelmente uma estimativa muito conservadora. A coleção mais extensa de textos neobabilônicos é mantida no Museu Britânico, a qual inclui cerca de 25.000 textos datados do período 626-539 A.E.C. A maioria destes pertence à “coleção de Sipar”, que contém tabuinhas escavadas por Hormuzd Rassam no local da antiga Sipar (atualmente Abu Habbah) nos anos de 1881 e 1882. Esta coleção foi catalogada recentemente. (Catálogo das Tabuinhas Babilônicas do Museu Britânico, E. Leichty et al [em inglês], Vols. VI-VIII, Londres: Publicações do Museu Britânico Ltd, 1986-1988. Estes catálogos serão citados daqui em diante como CBT.) Coleções substanciais estão também em Istambul e Bagdá. Muitas outras coleções de documentos neobabilônicos são mantidas em museus e em universidades nos EUA, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e outras partes do mundo. É verdade que muitas das tabuinhas estão danificadas e as datas estão com freqüência ilegíveis. No entanto, ainda restam hoje dezenas de milhares de tabuinhas neobabilônicas com datas legíveis. Em resultado das contínuas escavações arqueológicas que estão sendo efetuadas na área da Mesopotâmia, “o conjunto de fontes escritas expande-se significativamente todo ano. Por exemplo, dentro de uma única temporada de escavações em Uruque, foram descobertos aproximadamente seis mil documentos dos períodos neobabilônico e aquemênida.” — A Escravidão em Babilônia, M. A. Dandamaev, (DeKalb, Illinois: Editora da Universidade Norte de Illinois, 1984), págs. 1, 2 (em inglês).
61 – Cronologia Babilônica: 626 A.C.–75 A.D., R. A. Parker e W. H. Dubberstein (em inglês – Providence: Editora da Universidade Brown, 1956), págs. 12, 13.
62 – Ibid., pág. 13. Um texto do reinado de Nabonido, publicado por G. Contenau em Textos Cuneiformes, Tomo XII, Contratos Neobabilônicos I (em francês – Paris: Librarie Orientaliste, 1927), Pl. LVIII, nº. 121, aparentemente dá a ele um reinado de dezoito anos. A linha 1 dá a data de “6/VI/17”, mas quando ela é repetida na linha 19 o texto é dado como “6/VI/18”. Parker e Dubberstein (na pág. 13) presumiram que isso foi “um erro de escrita ou um erro de Contenau.” A questão foi resolvida pela Dra. Béatrice André, que, atendendo a meu pedido, confrontou com o original que está no Museu do Louvre em Paris em 1990: “A última linha tem, assim como a primeira, o ano 17 e o erro foi de Contenau.” — Carta de Béatrice André a Jonsson, 20 de março de 1990.
63 – Como é costumeiro, certos defensores da cronologia da Sociedade Torre de Vigia fizeram grandes esforços para desacreditar a evidência provida por estas enormes quantidades de tabuinhas cuneiformes datadas. Ao examinar atentamente catálogos modernos de documentos datados da era neobabilônica, eles encontraram uns poucos documentos que aparentemente atribuem reinados mais longos a alguns reis babilônicos alistados no Cânon Real e em outras fontes. Todavia, uma simples verificação nas tabuinhas originais mostrou que a maioria destas datas adicionais são simplesmente erros de cópia, transcrição, ou impressão, cometidos na atualidade. Algumas outras datas adicionais são comprovadamente erros dos escribas. Para uma discussão detalhada destes textos, veja o Apêndice ao Capítulo 3: “Alguns comentários sobre erros de cópia, leitura e escrita em tabuinhas cuneiformes”.
64 – Novo Dicionário Mundial de Webster, 3ª edição acadêmica, eds. V. Neufeldt & D. B. Guralnik (Nova Iorque: Novos Dicionários Mundiais de Webster, 1988), pág. 1080, em inglês.
65 – Para uma pesquisa dos arquivos neobabilônicos, veja o artigo de M. A. Dandamaev em Arquivos e Bibliotecas Cuneiformes, editado por K. R. Veenhof (Leiden: Holanda Instituto Histórico-Arqueológico de Istambul, 1986), págs. 273-277.
66 – Babilônia e Assíria, Bruno Meissner, Vol. II (Heidelberg, 1925), pág. 331. A citação é traduzida do alemão.
67 – “Tabuinhas Babilônicas Datadas e o Cânon de Ptolomeu”, W. St. Chad Boscawen em Transações da Sociedade de Arqueologia Bíblica, Vol. VI (em inglês – Londres, janeiro de 1878), págs. 1-78. Como Boscawen aponta (Ibid., págs. 5, 6), o próprio George Smith, durante sua permanência em Bagdá em 1876, tinha começado um exame sistemático e cuidadoso das tabuinhas, estudo esse que foi interrompido pela morte prematura dele em Alepo, em agosto daquele ano. O estudo de Boscawen foi evidentemente baseado nos cadernos de Smith. — “George Smith e as Tabuinhas de Egibi”, Sheila M. Evers, Iraq, Vol. LV, 1993, págs. 107-117.
68 – Ibid., pág. 6. Uma “mana” (mina) pesava aproximadamente 0.5 kg.
69 – Ibid., págs. 9, 10. Sula morreu entre as datas 21/VII/23 (dia/mês/ano) e 15/IV/24 do reinado de Nabucodonosor (entre outubro de 582 e julho de 581 A.E.C.). — “A Ascensão da Casa de Egibi”, G. van Driel, Jaarbericht van het Vooraziatisch-Egyptisch Genootschap, No. 29 (Leiden, 1987), pág. 51.
70 – Nabu-ahê-idina evidentemente morreu no décimo terceiro ano de Nabonido, ou seja, no ano seguinte àquele em que Iti-Marduque-balatu assumiu os negócios. Veja “Das Haus Egibi,” Arthur Ungnad, Archiv für Orientforschung, Band XIV (Berlim, 1941), pág. 60, e van Driel, op. cit., págs. 66, 67.
71 – Boscawen, op. cit., págs. 10, 24. George Smith também já tinha chegado a essa conclusão em seu estudo das tabuinhas. — S. M. Evers, op. cit. (nota de rodapé 67 deste capítulo), págs. 112-117.
72 – Boscawen, op. cit., pág. 11.
73 – Por exemplo, durante as escavações em Uruque em 1959-60, foi descoberto um arquivo pertencente a membros da família de Egibi, contendo 205 tabuinhas que datam desde o sexto ano de Nabonido até o terceiro ano de Dario I. A maioria das tabuinhas era datada como sendo do reinado de Dario. Veja UVB 18, de J. van Dijk, (conforme a nota de rodapé 33 deste capítulo), págs. 39-41. O mais antigo texto conhecido da família de Egibi data de 715 A.E.C. Dessa forma, os documentos comerciais da família aparecem regularmente entre 690 e 480 A.E.C. — M. A. Dandamaev, op. cit. (1984; veja a nota de rodapé 60 deste capítulo), pág. 61.
74 – Alguns dos trabalhos mais importantes são: Das Haus Egibi in neubabylonischen Rechtsurkunden, de Saul Weingort, (Berlim: Buchdruckerei Viktoria, 1939), 64 páginas; “Das Haus Egibi”, de Arthur Ungnad, Archiv für Orientforschung, Band XIV, Heft 1/2 (Berlim, 1941), págs. 57-64; Das Geschäftshaus Egibi in Babylon in neubabylonischer und achämenidischer Zeit, de Joaquim Krecher, (“Habilitationsschrift”, Universitätsbibliothek, Münster da Westfália, 1970, obra não publicada), ix + 349 páginas e “Os Dotes das Mulheres da Família de Iti-Marduque-Balatu” (em inglês), de Martha T. Roth, Revista da Sociedade Oriental Americana, Vol. 111:1, 1991, págs. 19-37, em inglês.
75 – Veja por exemplo, Aus dem Babylonischen Rechtsleben, IV, J. Kohler & F. E. Peiser, (Leipzig: Verlag von Eduard Pfeiffer, 1898), pág. 22, e M. T. Roth, op. cit., págs. 20, 21, 36. Outra empresa particular, a família Nur-Sin, que através de casamento foi incorporada à família de Egibi, foi estudada de modo abrangente por Laurence Brian Shiff em O Arquivo Nur-Sin: Empresariado Particular em Babilônia (603-507 A.C.) (em inglês – dissertação de mestrado; Universidade da Pensilvânia, 1987), 667 páginas.
76 – A própria inscrição de Adade-Gupi enfatiza que a idade dela era bem avançada: “Vi meus [tri]netos, até a quarta geração, com boa saúde, e tive (assim) meu quinhão de idade extremamente avançada.” — “Longevidade: Conceitos Bíblicos e Alguns Paralelos do Antigo Oriente Próximo”, de A. Malamat, Archiv für Orientforschung, Beiheft 19: Vorträge gehalten auf der 28. Rencontre Assyriologique Internationale em Viena, 6–10 de julho de 1981 (Horn, Áustria: Verlag Ferdinand Berger & Söhne Gesellschaft M.B.H., 1982), pág. 217. O Dr. Malamat faz também referência a uma tabuinha encontrada em Sultantepe que “categoriza as fases de vida dos 40 aos 90 anos de idade [da seguinte maneira]: 40 – lalûtu (‘primor da vida’); 50 – umu kurûtu (‘vida curta’); 60 – metlutu (‘maturidade’); 70 – umu arkûtu (‘vida longa’); [80] – shibutu (‘velhice’); 90 – littutu (‘idade extremamente avançada’).” — A. Malamat, Ibid., pág. 215.
77 – “Sobre a Expectativa de Vida em Babilônia no Primeiro Milênio A.C.”, de Muhammad A. Dandamaev, em A Morte na Mesopotâmia (= Mesopotâmia. Estudos de Copenhague Sobre Assiriologia, Vol. 8)], ed. Bendt Alster (Copenhague: Akademisk Forlag, 1980), pág. 184.
78 – Die Urkunden des baylonischen Geschäftsmannes Iddin-Marduk, 1, Cornelia Wunsch (Groningen: Publicações STYX, 1993), págs. 19, 10, notas de rodapé 43, 12, 66.
79 – “Em Busca de Matusalém: Estimando os Limites Máximos da Longevidade Humana”, S. Jay Olshansky et al, Ciência, Vol. 250, 2 de novembro de 1990, pág. 635 (em inglês).
80 – Guinness Livro dos Recordes 2004. Segundo alguns relatórios da mídia, este recorde pode ter sido batido por uma mulher em El Salvador, Cruz Hernandez, a qual se diz ter nascido em 3 de maio de 1878, vindo a falecer em 9 de março de 2007, à idade de 128 anos.
81 – M. A. Dandamaev, op. cit. (1980), pág. 183.
82 – Amel-Marduque, 562-560 A.C., Ronald Herbert Sack (Neukirchen-Vluyn: Verlag Butzon & Bercker Kevelaer, 1972), págs. 62, 63.
83 – Ibid., págs. 41, 116-118. O intervalo de tempo entre uma colheita e a distribuição do rendimento era normalmente curto, sendo de alguns anos no máximo. No caso presente, os rendimentos das colheitas dos três anos foram distribuídos no ano de ascensão de Neriglissar, ou seja, três anos depois das colheitas do primeiro ano. A inserção de vinte anos extras em algum momento entre Nabucodonosor e Neriglissar aumentaria este intervalo de tempo para vinte e três anos — uma espera extremamente longa pelos rendimentos, para se dizer o mínimo.
84 – “O Escriba Nabû-bani-ahi, filho de Ibnâ, e a Hierarquia de Eana conforme visto nos Contratos de Uruque”, Ronald H. Sack, Zeitschrift für Assyriologie, Band 67 (em inglês – Berlim, Nova Iorque: Walter de Gruyter, 1977), págs. 43-45.
85 – A contabilidade é tão antiga quanto a escrita. De fato, a mais antiga escrita conhecida, a escrita protocuneiforme, que surgiu em Uruque (e geralmente datada de aproximadamente 3200 A.E.C.), “restringiu-se quase exclusivamente à contabilidade; era um ‘manuscrito de contador’.” — Contabilidade Arcaica, H. J. Nissen, P. Damerow, & R. K. Englund (em inglês – Chicago e Londres: Editora da Universidade de Chicago, 1993), pág. 30.
86 – “Práticas de contabilização de um rebanho para fins institucionais em Eana”, G. van Driel & K. R. Nemet-Nejat, Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 46:4, 1994, pág., 47 em inglês. A forma de manutenção de registros usada no texto “envolve acrescentar dados fazendo o confronto entre contas, com o objetivo de comprovar que todas as entradas foram registradas.” — Ibid., pág. 47, nota 1.
87 – Os erros ocorrem nos totais, provavelmente porque os escribas tiveram dificuldades na leitura dos números em seus livros-razões. — Ibid., págs. 56, 57.
88 – No caso de Nabucodonosor, só são fornecidos os números referentes a ano. Os nomes reais aparecem apenas no primeiro ano de cada rei. Para o trigésimo sétimo, trigésimo oitavo e quadragésimo primeiro anos (de Nabucodonosor) há dois registros cada, e nenhum registro para o trigésimo nono e quadragésimo ano dele. Como foi indicado por van Driel e Nemet-Nejat, “estes erros podem ser explicados facilmente: o resultado da conta para o ano anterior é o ponto de partida para o inventário do ano seguinte. Ou seja, se o ‘contador’ tinha um arquivo completo, ele encontraria os mesmos dados em tabuinhas que tratam de anos sucessivos: uma vez no término de um texto e outra vez no início do texto seguinte.” (Op. cit., pág. 54.) No entanto, do quadragésimo primeiro ano de Nabucodonosor ao primeiro ano de Neriglissar, as datas seguem um padrão regular.
89 – “Alguns Comentários sobre Sin-Idina e Zerija, quipu e shatammu de Eana em Ereque… 562-56 A.C.”, Ronald H. Sack, Zeitschrift für Assyriologie, Band 66 (em inglês – Berlim, Nova Iorque: Walter de Gruyter, 1976), págs. 287, 288. Conforme já mencionado, no sistema babilônico o ano de ascensão de um rei era o mesmo que o último ano de seu antecessor. Segundo o texto, o ano de ascensão de Labashi-Marduque seguiu-se ao terceiro ano de Neriglissar. Desse modo, o ano de ascensão de Labashi-Marduque foi também o quarto e último ano de Neriglissar.
90 – Textos do Antigo Oriente Próximo, James B. Pritchard (em inglês – Princeton, Nova Jersey: Editora da Universidade de Princeton, 1950), pág. 309.
91 – Ibid., pág. 309. Beroso, cuja história neobabilônica, conforme se mostrou, está baseada nas crônicas babilônicas, apresenta um relato similar destes eventos: “Depois de Eveil-maradouchos ter sido assassinado, Neriglisaros, o homem que tinha conspirado contra ele, sucedeu-o no trono e foi rei por quatro anos. Laborosoarchodos [Labashi-Marduque], filho de Neriglisaros, que era apenas uma criança foi o senhor do reino por nove [provavelmente um erro para “2”; veja a nota de rodapé 20 neste capítulo] meses. Devido à maldade dele ter se tornado manifesta de muitas maneiras, houve conspiração e ele foi brutalmente assassinado por seus amigos. Depois que ele tinha sido morto, os conspiradores se reuniram e de comum acordo conferiram o reino a Nabonnedus, um babilônio e partidário da conspiração.” — A Babiloníaca de Beroso. Fontes do Antigo Oriente Próximo, Vol. 1, fascículo 5, Stanley Mayer Burstein (em inglês – Malibu, Califórnia: Publicações Undena, 1978), pág. 28.
92 – A Escravidão em Babilônia, M. A. Dandamaev (em inglês – DeKalb, Illinois: Editora da Universidade Norte de Illinois, 1984), págs. 189, 190.
93 – Já em 1877, W. St. Chad Boscawen encontrou um documento entre as tabuinhas de Egibi, datado do reinado de Ciro “que declarava que o dinheiro foi pago no reinado de ‘Nabunaid, o ex-rei’.” — Transações da Sociedade de Arqueologia Bíblica, Vol. VI (em inglês – Londres, 1878), pág. 29.
94 – “CT 55-57” refere-se aos catálogos denominados Textos Cuneiformes de Tabuinhas Babilônicas no Museu Britânico, Partes 55-57 (em inglês), que contêm textos econômicos copiados por T. G. Pinches durante os anos de 1892 a 1894 e publicados por Museu Britânico Publicações Ltda. em 1982.
95 – “Gubaru: Governador ou Rei Vassalo de Babilônia?”, Stefan Zawadzki, Eos, Vol. LXXV (Wroclaw, Varsóvia, Cracóvia, Gdansk, Lódz, 1987), págs. 71, 81; Iranianos na Babilônia Aquemênida, M. A. Dandamaev (em inglês – Costa Mesa, Califórnia e Nova Iorque: Mazda Publishers, 1992), pág. 91; “Ciro ‘rei das terras’, Cambises ‘rei de Babilônia’: a co-regência contestada”, Jerome Peat, Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 41/2, outono de 1989, pág. 209, em inglês. Deve-se notar que uma das três tabuinhas, CT 57:56, é datada do primeiro ano de Cambises, na condição de co-regente com Ciro.
96 – “Textos Neobabilônicos do Museu Arqueológico de Florença”, J. A. Brinkman, Revista de Estudos do Oriente Próximo, Vol. XXV, janeiro-outubro de 1966, pág. 209, em inglês.
97 – Ibid., pág. 209. Uma transliteração da tabuinha é dada por Karl Oberhuber em seu Sumerische und akkadische Keilschriftdenkmäler des Archäologischen Museums zu Florenz (= Innsbrucker Beiträge zur Kulturwissenschaft, Sonderheft 8, Innsbruck, 1960), págs. 111-113.
98 – ABC (1975), A. K. Grayson, págs. 109, 110, em inglês.
99 – “Um Episódio na Queda de Babilônia Diante dos Persas”, Paul-Alain Beaulieu, Revista de Estudos do Oriente Próximo, Vol. 52:4, outubro de 1993, págs. 244, 245; em inglês, cf. também O Reinado de Nabonido, Rei de Babilônia, 556–539 A.C, Beaulieu (em inglês – New Haven e Londres: Editora da Universidade de Yale, 1989), págs. 221, 222.
100 – O texto B.M. 33041 foi publicado originalmente por T. G. Pinches em Transações da Sociedade de Arqueologia Bíblica, Vol. VII (em inglês – Londres, 1882), págs. 210-225.
101 – Die politische Geschichte Ägyptens vom 7. bis zum 4. Jahrhundert vor der Zeitwende, Friedrich Karl Kienitz (Berlim: Akademie-Verlag, 1953), págs. 154, 155. (Traduzido do alemão.) O culto de Ápis já era praticado na Primeira Dinastia do Egito. Quando morriam, os touros Ápis eram mumificados e enterrados num caixão ou (a partir do reinado de Amásis) num sarcófago de granito. O local do sepultamento – que a partir do reinado de Ramsés II passou a ser uma ampla catacumba conhecida como “Serapeum”, em Sacara, a necrópole de Mênfis – foi escavada por Mariette em 1851. Desde o princípio da Vigésima Sexta Dinastia, os sepultamentos foram caracterizados por lápides com dados biográficos sobre o touro Ápis, tais como as datas da entronização, da morte e as idades que os touros tinham quando morreram. — “Da fertilidade ao simbolismo cósmico. Esboços da história do culto de Ápis”, László Kákosy, Acta Classica Universitatis Scientiarum Debrecenienses, Tomo XXVI 1990 (Debrecini, 1991), págs. 3-7.
102 – Kienitz, op. cit., págs. 155, 156. As lápides sob os números 1, 2 e 3 foram traduzidas e publicadas por James Henry Breasted em Registros Antigos do Egito, Vol. IV (em inglês – Chicago: Editora da Universidade de Chicago, 1906), págs. 497, 498, 501-503, 518-520. Para as que estão sob os números 4 e 5, veja as referências feitas por Kienitz, op. cit., pág. 156, notas 1 e 2.
103 – Linhas 5/6 da Estela de Ank-nes-nefer-ib-Re. Veja Ann. Serv. 5, G. Maspero (1904), págs. 85, 86, e a tradução feita por J. H. Breasted, op. cit., IV, pág., 505.
104 – A História Egípcia de Maneto, que foi escrita em grego, sendo provavelmente baseada em arquivos de templo, é preservada apenas em extratos de Flávio Josefo e de cronógrafos cristãos, especialmente Júlio Africano, em sua Cronografia (c. 221 E.C.) e Eusébio de Cesaréia em sua Crônica (c. 303 E.C.). Africano, que transmite os dados de Maneto de modo mais preciso, dá quarenta e quatro anos para Amásis e seis meses para Psamético III. Isto concorda com os números de Heródoto. — Maneto, W. G. Waddell (em inglês – Londres: Editora da Universidade de Harvard, 1948), págs. xvi-xx, 169-174.
105 – Die Sogenannte Demotische Chronik, W. Spiegelberg (Leipzig: J. C. Hinrichs’sche Buchhandlung, 1914), pág. 31; Kienitz, op. cit., pág. 156; e “O Período de Reinado de Amásis e o Início da Vigésima Sexta Dinastia”, Richard A. Parker, Mitteilungen des Deutschen Archäologischen Instituts, Kairo Abteilung, XV, 1957, pág. 210 em inglês. Durante algum tempo defendeu-se que Amásis morreu em seu quadragésimo quarto ano de reinado e, devido ao sistema de ano não-ascencional egípcio, no qual o ano de ascensão de um rei era considerado como seu primeiro ano de reinado, foram dados a Amásis apenas quarenta e três anos completos. Mas em 1957, no artigo mencionado acima, R. A. Parker demonstrou conclusivamente que Amásis reinou por quarenta e quatro anos completos. Isto naturalmente recuou em um ano os reinados dos reis anteriores da dinastia saítica. Desse modo, o começo da dinastia foi reajustado para 664 em vez de 663 A.E.C., como tinha sido defendido anteriormente. (R. A. Parker, op. cit., 1957, págs. 208-212.) Desde 1957, as conclusões de Parker ganharam aceitação geral entre os estudiosos. — Para informação adicional sobre a contagem não-ascensional, veja o Apêndice ao Capítulo 2: “Métodos de contagem de anos de reinado.”
106 – Kienitz, op. cit., pág. 157, nota 2. Esta data é também aceita pela Sociedade Torre de Vigia, como se pode ver em Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1 (1990), pág. 780.
107 – Nos dois anos, 526 e 525 A.E.C., o ano civil egípcio começou em 2 de janeiro do calendário juliano. — “Zur Datierungspraxis in Ägypten unter Kambyses und Dareios I”, Winfried Barta, Zeitschrift für Ägyptische Sprache und Altertumskunde, Band 119:2 (Berlim: Akademie Verlag, 1992), pág. 84.
108 – A época exata do ano em que Cambises capturou o Egito não é conhecida. (Compare com “As mais antigas datas persas em Heródoto”, de Molly Miller, em Klio, Band 37, 1959, págs. 30, 31 em inglês.) — No século dezenove E. Revillout, um dos fundadores da revista erudita Revue Égyptologique na década de 1870, alegou que Psamético III reinou por pelo menos dois anos, uma vez que um documento datado do quarto ano de um rei Psamético parecia ter sido redigido no fim da Vigésima Sexta Dinastia. (Revue Égyptologique, Vol. 3, Paris, 1885, pág. 191; e Vol. 7, 1896, pág. 139.) Mas, desde então foram descobertos muitos novos documentos que tornam insustentável a teoria de Revillout. O documento refere-se evidentemente a um dos reis mais antigos conhecidos pelo nome de Psamético, ou a um dos reis vassalos posteriores que tinha esse nome. Durante o período saítico houve três reis com o nome Psamético, e também dois ou três reis vassalos com esse nome no quinto século, e às vezes era difícil decidir a qual deles um texto estava fazendo referência. Alguns documentos que uma geração anterior de egiptólogos datou no reinado de Psamético III tiveram de ser redatados depois. — Lexikon der Ägyptologie, de Wolfgang Helck & Wolfhart Westendorf (eds.), Band IV (Wiesbaden, 1982), págs. 1172-75.
109 – Helck & Westendorf, op. cit., Band IV, págs. 369-71. Neco ascendeu ao trono após a morte de seu pai Psamético I, na primavera ou no verão setentrional de 610 A.E.C., mas, segundo o método retroativo egípcio, seu primeiro ano foi contado a partir do início do ano civil egípcio, que teve início no dia 23 de janeiro do calendário juliano. — W. Barta, op. cit., pág. 89.
110 – Para uma discussão da data exata da morte de Josias, veja a seção final do Apêndice: “Tabelas cronológicas que abrangem os setenta anos.”
111 – Nas inscrições egípcias o nome dele é transcrito como Wahibre. Na versão Septuaginta do Velho Testamento (LXX), o nome está soletrado como Ouafré.
112 – Traduzido por A. Leo Oppenheim no ANET, de Pritchard (veja nota de rodapé 2 neste capítulo), pág. 308.
113 – “Assíria e Babilônia”, A. K. Grayson, Orientalia, Vol. 49 (1980), pág. 164 em inglês.
114 – Ibid., pág. 174. Cf. Observações e Predições de Períodos de Eclipse por Astrônomos Antigos, John M. Steele (em inglês – Dordrecht, etc.: Publicadores Acadêmicos Kluwer, 2000), págs. 127, 128. As observações astronômicas registradas nestes diários devem em todo o caso ser tratadas como linhas de evidência à parte e independentes.
Imagem em destaque: Porta de Ishtar. https://architectureguru.ru/ishtar-gate/