Para ex-Testemunhas de Jeová: Como lidar com os sentimentos de rejeição

“… mesmo sendo difícil, não devemos manter contato desnecessário com um parente desassociado, seja por telefone, cartas, mensagens de texto, e-mails ou redes sociais.” (Revista A Sentinela, outubro de 2017, pág. 16)

Quando uma pessoa intensamente envolvida deixa a organização das Testemunhas de Jeová, ela se expõe a uma série de situações que podem ser completamente novas, desconhecidas e inesperadas. Embora saiba que terá problemas, não faz ideia de como sua vida mudará drasticamente e provavelmente tem medo de que surjam situações que não imaginava. As pessoas próximas e as circunstâncias mudarão, e a vida pode repentinamente se transformar num caos que pode ser temporário.

Uma ex-Testemunha se sentirá melhor se compreender que agora sua mente tem uma abordagem diferente da vida e da espiritualidade. Ela não pensa mais como antes. Ocorreu uma mudança mental muito drástica, uma mudança radical de perspectiva que alterará completamente o mundo em que vivia. Sua concepção, sua visão de mundo, tudo muda e, portanto, perturba sua vida. Ela deve estar ciente de que isso vai ocorrer e estar preparada para aceitar mudanças fundamentais. É preciso muita coragem para experimentar a libertação mental e emocional que sentirá.

Enquanto a pessoa expulsa (ou que saiu por decisão própria) não tiver consciência do que está acontecendo, ela não entenderá o motivo das reações de seus ex-amigos e familiares. É preciso entender que as outras pessoas continuam vendo as coisas como antes, do ponto de vista da organização. Seus antigos associados agora o veem como um inimigo, como um apóstata com toda a carga emocional que essa palavra contém. Isso faz com que todos os seus relacionamentos pessoais sejam completamente alterados.

Vejamos o exemplo de uma pessoa que é casada e foi expulsa, mas seu cônjuge e filhos permanecem na religião. De momento, o relacionamento com seu cônjuge e filhos muda completamente. A imagem que eles tem dela agora é diferente; ela será vista como um “mundano”, uma pessoa entregue às tentações do mundo, uma pessoa má que a liderança das Testemunhas diz que abandonou e deu as costas a Jeová e se tornou “um demônio”. É preciso ter coragem e força interna para não julgá-los e suportar a rejeição de sua família e seus amigos.

Nessa religião, quando uma pessoa deixa de acreditar em qualquer uma de suas doutrinas, ela é classificada como apóstata. A apostasia é vista como o pior dos males, visto que é interpretada como uma rebelião contra Deus. Eles veem a pessoa como inimiga de Jeová, da organização e de seus membros. Eles também dizem que a pessoa está mentalmente doente.

É imperativo que você cultive uma mente saudável, estável e clara para enfrentar esta situação. Não podemos ser fracos, nem desenvolver um sentimento de vítima ou mártir, nem ficar o tempo todo pensando no mal que nos foi feito. Ao contrário, devemos superar esse sentimento e ficar em paz e felizes por termos ganho coragem, por nossa mente ter clareado e termos sido capazes de deixar aquela organização que controlava nossos pensamentos e crenças. Não é necessário ficar ruminando o passado o tempo todo. Qual é a vantagem de repisar situações que aconteceram conosco para compartilhá-las com outras pessoas e sofrer o dano que elas nos causaram novamente?

Outra questão importante é ser o “dono” da própria vida. Nosso caminho deve ser de livre escolha. A vida que escolhemos é nossa e, portanto, é essa que vamos viver. Temos de enfrentar com responsabilidade as condições, consequências e benefícios que resultam de nossa escolha. Não podemos viver a vida de outras pessoas ou permitir que tentem viver a nossa própria. Isto significa que teremos de decidir como vamos interpretar as experiências e assumir a responsabilidade por nossas ações. Decidiremos a quem damos autoridade e o que permitiremos que nos afete.

Nós geralmente sofremos, não por causa do que acontece, mas por causa da nossa maneira de interpretar o que acontece, devido à nossa maneira de pensar. Temos de ser corajosos e assumir a responsabilidade para ousar viver a vida que queremos e essa responsabilidade recai sobre nós, não sobre outra pessoa ou organização.

O medo é o principal instrumento dessa organização religiosa para reter e manter seus membros sob controle. As Testemunhas vivem com medo constante de serem vítimas de muitas situações angustiantes se perderem seu relacionamento com a organização. Aqui estão algumas situações de medo a que as Testemunhas de Jeová estão sujeitas:

Cair vítima do Diabo
Ganhar o ódio de Jeová
Perder a amizade dos membros da congregação
Ficar sozinho no mundo
Tornar-se um “mundano”
Cair vítima do “espírito do mundo” e tornar-se uma pessoa imoral e cruel
Perder o amor e a companhia de seus familiares Testemunhas
Ser destruído no Armagedom
Cair vítima da “religião falsa”

Mesmo que uma pessoa tenha deixado essa organização há muitos anos, ela ainda pode ocasionalmente sentir-se vitimizada pela atitude fria de alguns parentes e Testemunhas de Jeová que eram suas amigas. Mas ela pode ser feliz e manter sua mente clara e objetiva se compreender a atitude dessas pessoas e seu modo de agir e optar por ver as coisas como são e deixá-las seguir seu curso, para não ser afetada por isso.

Deixar uma religião afeta diferentes aspectos importantes de nossa vida. Um deles é que precisamos nos sentir amados por aqueles que amamos. Quando nossa família e amigos nos rejeitam e cortam o relacionamento conosco, isso é difícil e doloroso de suportar. Perdemos o sentimento de pertencer a algo maior do que nós mesmos, como estar na suposta organização de Jeová. Todos nós queremos saber sobre o desconhecido e encontrar respostas para questões fundamentais como quem somos, por que estamos aqui e o que acontece após a morte. Até aquele momento, de certa forma, tudo parecia claro. As publicações da organização ofereciam uma explicação para tudo. Num primeiro momento, nosso mundo desmoronou e as coisas não são como nos ensinaram.

Entendemos que todas as pessoas têm o direito de acreditar no que desejam ou no que lhes parece mais claro e que são livres para fazê-lo. Cada um é responsável pela sua própria vida, assim como somos responsáveis pela nossa. Se pensarmos repetidamente no mal que nos causaram, ou como nos tratam mal, ficamos presos a esses sentimentos. Quando exploramos esses incidentes, colocamos a tais em sua devida perspectiva, entendemos e aceitamos, é só então que podemos avançar rumo ao futuro e desfrutar de uma vida saudável e plena de satisfação.

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Finalmente ¡Libres!: Las memorias de Néstor y Toni Kuilan [Finalmente Livres!: Memórias de Néstor e Toni Kuilan], 2019 – Capítulo 17 (adaptado).

One thought on “Para ex-Testemunhas de Jeová: Como lidar com os sentimentos de rejeição

  • outubro 3, 2021 em 11:25 am
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    A Palavra de Deus é a verdade. Onde há o Espírito de Deus, ali há liberdade. Obviamente, não a liberdade para fazermos a nossa vontade, mas a vontade do Pai.
    Qualquer sistema religioso que impeça seus membros de buscar a verdade, deveria repensar sua atuação. Pois a Palavra do Senhor elogiou a atitude dos cristãos em Beréia. E Paulo acrescentou: “examinai todas as coisas.” Também: “persisti em provar se estais na fé.” Que fé? No conjunto das verdades reveladas por Deus por meio de sua Palavra e por meio de Jesus.
    A verdade absoluta é que há um só Deus, o Pai e um só Senhor, Jesus Cristo. Que a Bíblia é a Palavra de Deus.
    Quando as religiões insistem em ensinar coisas que não estão na Palavra, muitos problemas ocorrem. Não apenas as Testemunhas de Jeová, mas quase todas fazem isso. E caem no erro.
    A começar por suas denominações: TJ, Assembleia de Deus, Igreja Universal…e por aí vai.
    O Espírito Santo deu a denominação daqueles que eram seguidores de Jesus: cristãos.
    Portanto, todo aquele que é seguidor de Jesus deve ser reconhecido como cristãos.
    Os inimigos diziam que eles pertenciam à seita dos nazarenos. Eram conhecidos assim pelos inimigos. Mas, na igreja, são conhecidos como cristãos.

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