As designações de “privilégios” e seus critérios
Um leitor Testemunha de Jeová (JW) encaminhou-nos uma série de considerações sobre as incoerências que ele vê nas chamadas “designações de privilégios teocráticos”. Esta resposta se concentra no seguinte trecho-chave da mensagem dele:
“… até hoje não entendo os critérios usados para designação de privilégios… o ponto aqui em questão, que me levou a pensar tudo isso foi tentar analisar os critérios, e não se Fulano merece ou não merece, não se eu mesmo mereço ou não mereço, até porque sei que Jesus e Jeová conhecem os nossos corações, motivações e interesses, e só eles realmente sabem das coisas. (1 Samuel 16:7). Eles dizem se basear no capítulo 3 de 1 Timóteo, porém alguns pontos citados nesse meu argumento e muitos outros que continuo vendo não “casam” com os pontos citados na carta de Paulo enviada a Timóteo.”
Resposta
A resposta que você receberia, caso questionasse essas coisas abertamente dentro da organização seria algo como ‘você deve esperar em Jeová’, ou então ‘os anciãos conhecem todos os fatores de cada caso, você não’, ou qualquer outra resposta desse gênero.
Na verdade suas dúvidas se enquadram num questionamento maior, que é analisado em artigos já publicados, tais como “Ancião” – Um “Cargo” Designado ou Uma Condição do Homem Cristão?
Entendemos que a razão da maioria das incoerências mencionadas em sua mensagem é a mesma: a institucionalização do Cristianismo, que dá margem à tendência dos homens de sistematizar e classificar as coisas, impondo isso às pessoas. Enfatizamos que não somos contra a autoridade na igreja, nem contra a existência de critérios para se fazer certas coisas. A própria Bíblia os estabelece, como neste caso. Porém, um dos grandes problemas do Cristianismo institucional é que o “poder de decisão” é atribuído a certos homens e os critérios deles são impostos aos demais, quer estes critérios estejam indo claramente “além das coisas escritas”, quer não. Neste caso específico dos pré-requisitos para os homens que assumem responsabilidades dentro da igreja, convém citarmos aqui o mencionado trecho da carta a Timóteo (as partes pertinentes a este discussão estão grifadas):
Esta declaração é digna de confiança: Se um homem está se esforçando para ser superintendente, deseja uma obra excelente. O superintendente, portanto, deve ser irrepreensível, marido de uma só esposa, moderado nos hábitos, sensato, ordeiro, hospitaleiro, qualificado para ensinar. Não deve ser beberrão nem violento, mas deve ser razoável, não briguento. Não deve amar o dinheiro. Deve presidir bem à sua própria família, tendo os filhos em sujeição com toda a seriedade. (Pois, se um homem não souber presidir à sua própria família, como cuidará da congregação de Deus?) Não deve ser recém-convertido, para que não se encha de orgulho e caia no julgamento aplicado ao Diabo. Além disso, deve ter também um bom testemunho de pessoas de fora, a fim de que não caia em desonra e num laço do Diabo. Os servos ministeriais devem igualmente ser sérios e homens de uma só palavra; não devem beber muito vinho, nem ser ávidos de ganho desonesto. Devem se apegar ao segredo sagrado da fé com a consciência limpa. Também, que esses sejam primeiro examinados quanto à aptidão; depois sirvam como ministros, se estiverem livres de acusação. As mulheres devem igualmente ser sérias, não caluniadoras, moderadas nos hábitos, fiéis em todas as coisas. Que os servos ministeriais sejam maridos de uma só esposa e presidam bem aos seus filhos e à sua própria família. Pois os homens que servem bem adquirem para si uma boa reputação e podem falar com grande confiança sobre a fé em Cristo Jesus. (1 Timóteo 3:1-13, Tradução do Novo Mundo, edição de 2015)
Como fica bem óbvio (e você de certa forma já expressou isso), Paulo mencionou critérios que ele (evidentemente sob a influência do espírito santo) julgou essenciais para que o homem cristão desempenhasse suas responsabilidades em meio a um grupo de cristãos de uma maneira que fosse de real ajuda para seus irmãos. Paulo não disse uma palavra sobre quantidade mínima de horas mensais de evangelização para o homem (ou para a esposa dele, caso tivesse. Aliás, ele nem mesmo afirmou que a esposa do homem em questão já deveria obrigatoriamente ter aceitado o Cristianismo, por mais que nós possamos achar isso a situação ideal.). O apóstolo também não levantou qualquer questão quanto à atividade profissional do homem cogitado para assumir estas responsabilidades.
Ainda mais bizarro (e não achamos que este termo seja exagerado) do que a existência desses critérios originados pelos homens que comandam as instituições é a maneira como esses critérios são impostos e também a prontidão com que milhares de homens os aceitam, apesar de saberem muito bem que a Bíblia não faz a menor referência a essas coisas. Às vezes, esses chamados “privilégios” ainda são usados como uma verdadeira “moeda de troca”, pairando sobre as pessoas uma ameaça de punição (a ‘perda do privilégio’), caso elas deixem de atingir os critérios dos homens! Você pode imaginar uma situação assim acontecendo na igreja primitiva?
Tudo considerado, é simplesmente uma questão de cada homem cristão decidir por si mesmo se vai se deixar controlar por critérios de outros homens ou não. Podemos afirmar isso com a consciência bem tranquila porque sabemos que, mesmo que sua decisão seja não aceitá-los, isto não equivalerá a ‘perder a fé em Jeová e no Senhor Jesus Cristo que nos resgatou do pecado e da morte’, para usar suas palavras. A fé em Deus, o respeito ao que está escrito na Palavra dele, bem como sua disposição de ajudar seus irmãos, quer você tenha um ‘rótulo’ ou ‘título’ oficial (obtido à custa de se submeter a padrões humanos) quer não, é que são as coisas importantes. Todo o resto é dispensável.
Agradecemos por sua mensagem e que Deus esteja com o espírito que mostra no serviço dele.
Você esta cospindo no prato que comeu e sabe que a destruição é o que espera por quem abona a verdade e ainda propaga a falsidade é o que estão fazendo