A Cronologia Absoluta da Era Neobabilônica
Introdução
Conforme já foi explicado no Capítulo 2, uma cronologia absoluta é geralmente mais bem estabelecida com a ajuda de antigas observações astronômicas.
Embora a Bíblia não registre qualquer observação que se possa usar para fins de datação, mencionou-se que em 2 Reis 25:2, 8 a data da desolação de Jerusalém no “décimo primeiro ano do Rei Zedequias”, o último rei de Judá, é sincronizada com o “décimo nono ano do Rei Nabucodonosor”, o desolador babilônico da cidade. Se pudermos fazer a fixação astronômica do reinado de Nabucodonosor em relação à nossa era, é possível estabelecer a data A.E.C. da desolação de Jerusalém.
Neste capítulo será demonstrado que o período neobabilônico inteiro, incluindo o reinado de Nabucodonosor, pode ser estabelecido como cronologia absoluta com a ajuda de documentos cuneiformes astronômicos encontrados na Mesopotâmia.
O estudo dos documentos astronômicos babilônicos
O estudo dos textos cuneiformes astronômicos começou há mais de cem anos. Nessa época, um dos principais assiriologistas era J. N. Strassmaier (1846-1920). Ele foi um diligente copista dos textos cuneiformes que, a partir de 1870, estavam sendo trazidos em enormes quantidades da Mesopotâmia para o Museu Britânico.
Strassmaier descobriu que grande parte dos textos continha dados astronômicos. Ele enviou cópias destes textos a seu colega J. Epping, que ensinava matemática e astronomia em Falkenburg, Holanda. Epping (1835-1894), dessa forma, viria a se tornar o pioneiro no estudo dos textos astronômicos babilônicos. Depois da morte dele, outro colega de Strassmaier, Franz Xaver Kugler (1862-1929), assumiu o trabalho de Epping.
Poucos, se é que houve alguém, contribuíram tanto para o estudo dos textos astronômicos como Kugler. Ele publicou seus resultados em uma série de obras monumentais, tais como Die Babylonische Mondrechnung (1901), Sternkunde und Sterndienst in Babel, Vol. I e II (1907-1924), e Von Moses bis Paulus (1922). Os dois últimos trabalhos incluem estudos detalhados de cronologia antiga, na qual os textos astronômicos são completamente elucidados e estudados a fundo.1
Após a morte de Kugler em 1929, alguns dos principais nomes no estudo da astronomia babilônica foram P. J. Schaumberger (falecido em 1955), Otto Neugebauer (1899-1990) e Abraham J. Sachs (1914-1983). Muitos outros estudiosos modernos contribuíram muito para a compreensão dos textos astronômicos, sendo que alguns deles foram consultados para a discussão que segue.
A astronomia antiga
Como se pode deduzir à base das tabuinhas astronômicas babilônicas, um estudo regular e sistemático do céu começou em meados do oitavo século A.E.C., talvez até antes disso. Observadores treinados eram usados especificamente para efetuar uma observação regular das posições e movimentos do sol, da lua e dos planetas, e registrar diariamente os fenômenos observados.
Esta atividade regular era executada em vários locais de observação na Mesopotâmia, situados nas cidades de Babilônia, Uruque, Nipur, Sipar, Borsipa, Cuta, e Dilbat.2 (Veja o mapa acompanhante.)
Em resultado desta atividade, os estudiosos babilônicos reconheceram em uma fase inicial os vários ciclos do sol, da lua e dos cinco planetas visíveis a olho nu (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, e Saturno), o que os permitiu predizer certos fenômenos, tais como eclipses lunares.
Finalmente, nas eras persa e selêucida, eles tinham desenvolvido um nível muito alto de astronomia científica e matemática que jamais tinha sido alcançado por qualquer outra civilização antiga.3
A natureza dos textos astronômicos babilônicos*
Embora também se tenham encontrado textos cuneiformes astronômicos nas ruínas de Nínive e Uruque, a maior parte deles — aproximadamente 1.600 — veio de um arquivo astronômico de algum lugar da cidade de Babilônia.
O arquivo foi encontrado e esvaziado por habitantes locais de aldeias próximas, e o local exato em que foi encontrado dentro da cidade não é conhecido hoje. A maioria dos textos foi obtida para o Museu Britânico por meio de negociantes na última parte do século dezenove.
Cerca de 300 dos textos dizem respeito à astronomia matemática científica e são dos últimos quatro séculos A.E.C. A maior parte deles consiste em efemérides, ou seja, tabelas que contêm cálculos das posições da lua e dos cinco planetas visíveis a olho nu.
Todavia, a maior parte dos textos restantes, cerca de 1.300, não se compõe de textos matemáticos e sim de natureza observacional. As observações datam desde aproximadamente 750 A.E.C. até o primeiro século da Era Cristã.4 O grande número de textos observacionais é da mais extrema importância para estabelecer a cronologia absoluta de todo este período.
Com respeito ao conteúdo, os textos não matemáticos podem ser subdivididos em várias categorias. De longe, o maior grupo é o dos chamados “diários” astronômicos. Estes registram regularmente um grande número de fenômenos, incluindo as posições da lua e dos planetas. Geralmente se aceita que tais “diários” foram mantidos continuamente de meados do oitavo século A.E.C. em diante. As outras categorias de textos, que incluem almanaques (cada um registrando dados astronômicos para um ano babilônico específico), textos com observações planetárias (sendo que cada um fornece dados para um planeta específico) e textos que registram eclipses lunares, eram aparentemente trechos dos “diários”.
Assim, embora só reste um punhado de diários dos últimos quatro séculos A.E.C., um grande número de observações registradas nos outros diários compilados neste período primitivo foi preservado nestes trechos.
Um exame rigoroso de todos os textos não matemáticos foi iniciado há várias décadas pelo Dr. A. J. Sachs, que dedicou os últimos trinta anos de sua vida ao estudo destes textos.5 Depois da morte dele em 1983, o trabalho de Sachs foi continuado pelo Professor Hermann Hunger (de Viena, Áustria), que é hoje o principal perito em textos de observações astronômicas. Estas duas autoridades foram consultadas para a discussão que segue.
A. OS DIÁRIOS ASTRONÔMICOS
Um “diário” normalmente abrange os seis ou sete meses da primeira ou segunda metade de um ano babilônico específico e registra, com freqüência em base diária, as posições da lua e dos planetas em relação a certas estrelas e constelações, fornecendo também detalhes de eclipses lunares e solares. Acrescentam-se muitas informações, tais como eventos meteorológicos, terremotos, preços de mercado e dados similares. Às vezes se registram também eventos históricos.6 Como elas têm mais de 2.000 anos de idade, é só natural que estas tabuinhas de barro muitas vezes sejam fragmentárias.
Foram descobertos mais de 1.200 fragmentos de diários astronômicos de vários tamanhos, mas devido à condição fragmentária deles só cerca de um terço deste número é datável.
A maioria destes abrange o período de 385 a 61 A.E.C. e contém informação astronômica de aproximadamente 180 destes anos, estabelecendo assim firmemente a cronologia deste período.7
Seis dos diários são mais antigos. Os dois mais antigos são o VAT 4956 do sexto século e o B.M. 32312 do sétimo século A.E.C. Ambos fornecem datas absolutas que estabelecem firmemente a duração do período neobabilônico.
A-1: O diário astronômico VAT 4956
O diário astronômico mais importante para nossa discussão é denominado VAT 4956 e é mantido no Departamento do Oriente Próximo (“Vorderasiatischen Abteilung”) do Museu de Berlim. Este diário é datado de 1º de nisanu do trigésimo sétimo ano do reinado de Nabucodonosor até 1º de nisanu de seu trigésimo oitavo ano, registrando observações de cinco meses do trigésimo sétimo ano dele (meses 1, 2, 3, 11 e 12). A mais recente transcrição e tradução do texto é a de Sachs e Hunger, publicada em 1988.8
Entre as muitas posições observadas, registradas no VAT 4956, há cerca de trinta descritas de modo tão exato que os astrônomos modernos podem estabelecer facilmente as datas precisas em que elas foram vistas. Procedendo assim eles puderam mostrar que todas estas observações (da lua e os cinco planetas então conhecidos) foram feitas durante o ano de 568/67 A.E.C.
Se o trigésimo sétimo ano do reinado de Nabucodonosor foi 568/67 A.E.C., segue-se que o primeiro ano dele foi 604/03 A.E.C., e o décimo oitavo ano dele, durante o qual ele devastou Jerusalém, foi 587/86 A.E.C.9 Esta é a mesma data indicada por todas as sete linhas de evidência discutidas no capítulo anterior!
Poderiam todas essas observações ter sido feitas vinte anos antes, em 588/87 A.E.C., data que segundo a cronologia do dicionário bíblico da Sociedade de Vigia Estudo Perspicaz das Escrituras, correspondeu ao trigésimo sétimo do reinado de Nabucodonosor?10 O mesmo dicionário (página 610 do Vol. 1, onde se faz uma óbvia referência ao VAT 4956) reconhece que “Cronologistas hodiernos salientam que tal combinação de posições astronômicas não se repetiria em milhares de anos.”
Consideremos um exemplo. Segundo este diário, em 1º de nisanu do trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor, o planeta Saturno pôde ser observado “em frente à Andorinha”, a “Andorinha” (SIM) referindo-se à parte sudoeste da constelação de Peixes (Pisces) do Zodíaco.11 Como Saturno tem uma órbita de aproximadamente 29,5 anos, ele se move pelo Zodíaco inteiro em 29,5 anos. Isto significa que pode ser observado em cada uma das doze constelações do Zodíaco por aproximadamente 2,5 anos. Significa também que Saturno poderia ter sido visto “em frente à Andorinha” 29,5 anos antes de 568/67 A.E.C., ou seja, em 597/96 A.E.C., mas com certeza não 20 anos antes, em 588/87 A.E.C., a data que a Torre de Vigia gostaria de assinalar para o trigésimo sétimo ano de reinado de Nabucodonosor. Isso é simplesmente uma impossibilidade astronômica, mesmo no caso deste único planeta. Mas há cinco planetas que aparecem nas observações astronômicas do diário.
Adicione-se, portanto, as órbitas diferentes dos outros quatro planetas, cujas posições são especificadas várias vezes no texto, juntamente com as posições fornecidas para a lua em vários momentos do ano, e torna-se facilmente compreensível por que tal combinação de observações não se repetiria em milhares de anos. As observações registradas no VAT 4956 foram obrigatoriamente feitas no ano de 568/67 A.E.C., porque elas não se ajustam a qualquer outra situação que tenha ocorrido milhares de anos antes ou depois daquela data!
Assim o VAT 4956 dá mui forte apoio à cronologia da era neobabilônica estabelecida pelos historiadores. Tentando neutralizar esta evidência, a Sociedade Torre de Vigia prossegue dizendo no supracitado dicionário bíblico que, “Embora, para alguns, isso talvez pareça ser evidência incontestável, há fatores que reduzem grandemente o seu peso.”
Quais são estes fatores? E será que eles reduzem realmente o peso da evidência presente nesta tabuinha antiga?
(a) O primeiro é que as observações feitas em Babilônia podem ter contido erros. Os astrônomos babilônios mostraram a maior preocupação com eventos ou fenômenos celestes que ocorriam perto do horizonte, ao nascer ou ao pôr da lua ou do sol. No entanto, o horizonte, conforme visto de Babilônia, freqüentemente é obscurecido por tempestades de areia.
Daí, cita-se o Professor Otto Neugebauer como dizendo que Ptolomeu se queixou da “falta de observações planetárias fidedignas [da antiga Babilônia]”.12
Todavia, muitas das observações registradas nos diários não foram feitas perto do horizonte, e sim mais para o alto no céu. Ademais, os astrônomos babilônicos tinham vários meios de lidar com condições de tempo desfavoráveis.
Conforme já foi mencionado, as observações eram feitas em vários locais da Mesopotâmia. O que não podia ser observado em um lugar devido a nuvens ou tempestades de areia, poderia provavelmente ser observado de algum outro local.13
Um método usado para superar a dificuldade de observar estrelas próximas do horizonte, devido à poeira, era observar, em vez disso, “a ocorrência simultânea de outras estrelas, as chamadas estrelas-ziqpu”, ou seja, estrelas que cruzavam o meridiano mais para o alto no céu quando estavam em seu ponto culminante.14
Por fim, o horizonte visível de Babilônia não era obscurecido por tempestades de areia todos os dias, e alguns eventos planetários podiam ser observados por muitos dias ou semanas seguidas, também mais para o alto no céu, como por exemplo a posição de Saturno, o qual, segundo o texto, podia ser observado “em frente à Andorinha [a parte sudoeste da constelação de Peixes].” Conforme se indicou acima, Saturno pode ser observado em cada uma das doze constelações do Zodíaco por aproximadamente 2,5 anos em média.
Portanto, a posição de Saturno poderia ter sido observada próxima do lado sul da constelação de Peixes por vários meses seguidos, o que impossibilitaria que os astrônomos babilônicos, em suas observações regulares dos planetas, tivessem cometido algum erro quanto a onde este planeta poderia ser visto durante o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor, apesar das freqüentes tempestades de areia. Na realidade, o texto afirma diretamente que Saturno não só foi observado “em frente à Andorinha” em primeiro de nisanu (o primeiro mês), como também em primeiro de ayaru (o segundo mês)!
Que as observações registradas no VAT 4956 estão substancialmente corretas pode-se ver à base do fato de que todas elas (com exceção de um ou dois erros de grafia contidos no diário) ajustam-se ao mesmo ano. Este não seria o caso se as observações estivessem erradas.15
O próximo fator trazido à atenção no dicionário bíblico da Sociedade Torre de Vigia, com a pretensão de reduzir a força do VAT 4956, é o fato de alguns diários não serem documentos originais e sim cópias posteriores:
(b) Segundo, é fato que a grande maioria dos diários astronômicos encontrados não foram escritos na época dos impérios neobabilônicos ou persas, mas no período selêucida (312-65 A.E.C.), embora contenham dados relacionados com aqueles períodos anteriores. Os historiadores presumem que se trata de cópias de documentos anteriores.
Não há nada que mostre que a maioria dos diários são cópias posteriores, mas alguns são, conforme indicado por convenções tipográficas usadas no texto. Os diários mais antigos frequentemente refletem a luta dos copistas para entender os documentos antigos que estavam copiando, alguns dos quais estavam quebrados ou de alguma maneira danificados, e muitas vezes os documentos usavam uma terminologia arcaica que os copistas tentavam “modernizar”. É evidente que isto é verdade no caso do VAT 4956 também. Duas vezes no texto o copista acrescentou o comentário “quebrado”, indicando que ele não conseguiu decifrar uma palavra na cópia. O texto reflete também sua tentativa de mudar a terminologia arcaica. Mas será que ele mudou também o conteúdo do texto?
A respeito disso os primeiros tradutores do texto, P. V. Neugebauer e E. F. Weidner, concluíram: “Até onde o conteúdo interessa, a cópia é naturalmente uma reprodução fiel do original”16 Outros estudiosos que examinaram o documento desde então, concordam. O Professor Peter Huber declara:
Só está preservado em uma cópia de data muito posterior, mas que parece ser uma cópia fiel (um pouco modernizada ortograficamente) de um original da época de Nabucodonosor.17
Suponhamos que alguma parte do material das cerca de trinta observações completas registradas no VAT 4956 tenha sido distorcida por copistas posteriores. Quão grande é a possibilidade de todas estas observações “distorcidas” se ajustarem a um único ano — exatamente aquele que é corroborado por Beroso, pelo Cânon Real, pelas crônicas, pelas inscrições reais, pelas tabuinhas comerciais, pela lista de reis de Uruque, e por muitos outros documentos — isto é, o trigésimo sétimo ano do reinado de Nabucodonosor? Erros acidentais deste tipo não “cooperam” a tal ponto extremo. Assim não há qualquer motivo razoável para duvidarmos de que as observações originais foram preservadas corretamente na cópia.
(c) Finalmente, como no caso de Ptolomeu, embora as informações astronômicas (como agora interpretadas e entendidas) nos textos descobertos sejam basicamente exatas, isto não prova que a informação histórica acompanhante seja exata. Assim como Ptolomeu usou os reinados de reis antigos (conforme ele os entendia) simplesmente como estrutura em que colocar seus dados astronômicos, assim também os escritores (ou copistas) dos textos astronômicos do período selêucida talvez simplesmente inserissem nos seus textos astronômicos aquilo que então era a cronologia aceita, ou “popular”, daquele tempo.18
O que a organização Torre de Vigia está sugerindo é que os copistas posteriores alteraram as datas encontradas nos “diários” com o fim de adaptá-las aos seus próprios conceitos sobre as antigas cronologias babilônica e persa. Assim, um escritor da revista Despertai! imagina que “o copista da ‘VAT 4956’ poderia, em harmonia com a cronologia aceita em seu tempo, ter inserido o ‘trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor’”.19 É plausível essa teoria?
Conforme foi mencionado acima, o VAT 4956 é datado de 1º de nisanu do trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor a 1º de nisanu do trigésimo oitavo ano dele. Ademais, quase todos os eventos mencionados no texto são datados, com o mês, o dia e — quando necessário — o período do dia mencionado. Aproximadamente quarenta datas deste tipo são fornecidas no texto, embora o ano, naturalmente, não esteja repetido em todos estes lugares. Todos os diários conhecidos são datados de modo semelhante.
Para mudar os anos no texto, os copistas teriam sido obrigados a mudar também o nome do rei reinante. Por quê? Nabucodonosor morreu no quadragésimo terceiro ano de seu reinado. Se o trigésimo sétimo ano dele tivesse sido 588/87 A.E.C., como a Sociedade Torre de Vigia defende, ele deveria estar morto há muitos anos em 568/67 A.E.C., quando foram feitas as observações do VAT 4956.
É realmente provável que os copistas selêucidas tenham se empenhado em tais amplas falsificações? O que sabemos sobre a cronologia “popular” do tempo deles que é apontada na publicação da Torre de Vigia como sendo o motivo para esta fraude deliberada?
A cronologia da era neobabilônica elaborada por Beroso no início do período selêucida representa evidentemente o conceito contemporâneo “popular” de cronologia neobabilônica.20 Se contarmos para trás a partir da queda de Babilônia em 539 A.E.C., os números que Beroso apresenta para os reinados dos reis neobabilônicos situam o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor em 568/67 A.E.C. como faz o VAT 4956.
Mais importante, conforme já se mostrou no Capítulo 3, a cronologia neobabilônica de Beroso tem a mesma duração que a fornecida por muitos documentos contemporâneos à própria era neobabilônica, tais como crônicas, inscrições reais, documentos comerciais, bem como documentos egípcios contemporâneos!
De modo que a cronologia neobabilônica “popular”, conforme se apresentava na era selêucida, não era algo baseado em mera suposição, mas possui as qualificações de uma cronologia verdadeira e correta e não havia qualquer necessidade de os copistas alterarem os documentos antigos para adaptá-los a ela. Logo, a teoria de que eles falsificaram estes documentos não tem base. Além do que ela é completamente refutada por outros textos astronômicos, incluindo o próximo diário a ser discutido.
A-2: O diário astronômico B.M. 32312
Em um artigo publicado em 1974, o Professor Abraham J. Sachs faz uma breve apresentação dos diários astronômicos. Ao mencionar que o diário datável mais antigo contém observações do ano de 652 A.E.C., ele explica como conseguiu estabelecer sua data:
Na primeira vez que tentei datar este texto, descobri que o conteúdo astronômico mal era adequado para tornar esta data praticamente certa. Foi um grande alívio quando consegui confirmar a data por encontrar uma combinação entre a observação histórica no diário e a declaração correspondente para – 651 em uma crônica histórica bem datada.21
Como este diário parecia ser de grande importância para a questão da cronologia babilônica, escrevi ao Professor Sachs lá em 1980 e formulei duas perguntas:
1. Que informação no diário torna a data – 651 [=652 A.E.C.], “praticamente certa?”
2. Que tipo de observação histórica no diário combina com qual declaração da crônica bem datada?
Em sua resposta o Professor Sachs incluiu uma cópia de uma fotografia do diário em questão, o B.M. 32312, e acrescentou informação que respondeu plenamente minhas duas perguntas. O conteúdo astronômico do diário estabelece claramente que as observações foram feitas no ano de 652/51 A.E.C. Sachs escreve que “os eventos astronômicos preservados (o último aparecimento de Mercúrio a leste, por trás da constelação de Peixes, o último aparecimento de Saturno por trás da constelação de Peixes, ambos por volta do dia 14 do mês I; o ponto estacionário de Marte na constelação de Escorpião no dia 17 do mês I; o primeiro aparecimento de Mercúrio na constelação de Peixes no dia 6 do mês XII) determinam a data de maneira exclusiva.”22
É interessante que não se pode alegar que este diário foi redigido por copistas posteriores, porque o nome do rei, seu ano de reinado e os nomes dos meses estão faltantes. Mas estes dados podem ser providos de maneira justificada devido a uma observação histórica no fim do diário. Para “o dia 27” do mês (cujo nome não aparece) o diário diz que no local de “Hiritu na província de Sipar as tropas de Babilônia e da Assíria lu[taram] entre si, e as tropas de Babilônia bateram em retirada e foram pesadamente derrotadas.”23 Felizmente, é possível situar o momento desta batalha uma vez que ela é também mencionada em uma famosa crônica babilônica.
A crônica é a chamada Crônica de Akitu, B.M. 86379 que abrange uma parte do reinado de Samas-sum-iuquin, especialmente os últimos cinco anos dele (do décimo sexto ao vigésimo). A batalha em Hiritu é datada de seu décimo sexto ano como segue:
Décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin:… No dia vinte e sete de adaru [o 12º mês] os exércitos de Assíria e de Acade [Babilônia] batalharam em Hirit. O exército de Acade se retirou do campo de batalha e uma grande derrota foi infligida sobre eles.24
Os eventos astronômicos descritos no diário fixam a batalha de Hiritu em 27 de adaru de 651 A.E.C.25 A Crônica de Akitu mostra que esta batalha, neste dia e lugar, foi travada no décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin. Assim o décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin foi 652/51 A.E.C. Portanto, seu reinado completo de vinte anos pode ser datado de 667/66 – 648/47 A.E.C.
Ora, este é o modo como os historiadores têm datado o reinado de Samas-sum-iuquin por muito tempo, e é por isso que o Professor Sachs concluiu sua carta dizendo: “Talvez eu deva acrescentar que a cronologia absoluta do reinado de Samas-sum-iuquin nunca esteve em dúvida, e está sendo apenas confirmada mais uma vez pelo diário astronômico.”
O reinado de Samas-sum-iuquin era conhecido, por exemplo, por meio do Cânon Real que dá vinte anos a ele e vinte e dois anos ao seu sucessor, Kandalanu. Depois disso Nabopolassar, o pai de Nabucodonosor, ascendeu ao trono.26 Estes números concordam de perto com as antigas fontes cuneiformes. Documentos comerciais, bem como a Crônica de Akitu, mostram que Samas-sum-iuquin reinou por vinte anos. Documentos comerciais, apoiados pela Lista de Reis de Uruque, mostram também que do primeiro ano de Kandalanu ao primeiro ano de Nabopolassar decorreu um período de vinte e dois anos. Desse modo, a cronologia dessa era, suprida por estas fontes, é a seguinte:
Samas-sum-iuquin | 20 anos | 667 – 648 A.E.C. |
Kandalanu | 22 anos | 647 – 626 A.E.C. |
Nabopolassar | 21 anos | 625 – 605 A.E.C. |
Nabucodonosor | 43 anos | 604 – 562 A.E.C. |
Embora o diário B.M. 32312 estabeleça uma data anterior ao período neobabilônico (que começou com Nabopolassar), mais uma vez está em harmonia com esta era e ajuda a confirmar sua cronologia.
De modo que este diário acrescenta ainda outra testemunha à quantidade crescente de evidência contra a data 607 A.E.C. Uma mudança do décimo oitavo ano de Nabucodonosor de 587 para 607 A.E.C. mudaria também o décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin de 652 para 672 A.E.C. Mas o diário B.M. 32312 não permite essa alteração.
E, conforme já se mostrou, ninguém pode alegar que copistas posteriores inseriram “16º ano de Samas-sum-iuquin” neste diário, porque o texto está danificado neste ponto e esse dado está faltando! É a exclusiva informação histórica no texto, informação esta repetida na Crônica de Akitu, que estabelece que o diário é do décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin.
De forma que este diário pode ser considerado como uma testemunha independente que apóia a autenticidade das datas fornecidas no VAT 4956 e em outros diários.27
B. A TABUINHA DE SATURNO (B.M. 76738 + B.M. 76813)
Um dos textos astronômicos mais importantes do sétimo século A.E.C. é a tabuinha de Saturno, do reinado do rei babilônico Kandalanu (647-626 A.E.C.), antecessor de Nabopolassar, o pai de Nabucodonosor.
Este texto consiste de dois fragmentos, B.M. 76738 e B.M. 76813.28 O texto foi descrito pela primeira vez por C. B. F. Walker em 1983 no Boletim da Sociedade para Estudos Mesopotâmicos.29 Uma transcrição e tradução com uma abordagem completa do texto feita pelo Sr. C. B. F. Walker foi publicada recentemente.30
Como já foi explicado (na seção A-1 deste capítulo), o planeta Saturno tem uma órbita de aproximadamente 29,5 anos. Devido à órbita da terra em torno do sol, Saturno desaparece atrás do sol por alguns semanas e reaparece novamente em intervalos regulares de 378 dias.
A tabuinha de Saturno fornece as datas (ano de reinado, mês e dia no calendário babilônico) e as posições do planeta Saturno em seus primeiros e últimos aparecimentos por um período de quatorze anos sucessivos, especificamente os primeiros quatorze anos do reinado de Kandalanu (647-634 A.E.C.). O nome do rei, dado apenas na primeira linha, está parcialmente danificado, mas pode ser restaurado como [Kand]alanu. O nome do planeta não é mencionado em parte alguma no texto, mas as observações se ajustam a Saturno e a nenhum outro planeta.
Conforme o Sr. Walker explica:
O nome do planeta Saturno não é fornecido na tabuinha, e o nome de Kandalanu é apenas uma restauração com base em poucos traços na primeira linha. Todavia, é certeza que estamos lidando com Saturno e Kandalanu. Saturno tem a movimentação mais lenta dos planetas visíveis, e só Saturno se moveria nas distâncias indicadas entre os primeiros aparecimentos sucessivos.31
O texto está danificado em vários lugares, e muitos dos números referentes a anos são ilegíveis. Todavia, os anos 2, 3, 6, 7, 8 e 13 não estão danificados.
Além disso, cada ano é abrangido por duas linhas no texto, uma para o último aparecimento do planeta e a outra para o primeiro, sendo então de vinte e oito o número total de linhas que abrangem os quatorze anos. Com esta estrutura não há qualquer problema em restaurar os números referentes a ano que estão danificados.
A maioria das posições fornecidas para Saturno em seu primeiro ou último aparecimento estão legíveis.32 O registro para o oitavo ano, que está quase completamente preservado é citado aqui como exemplo:
Ano 8, mês 6, dia 5, atrás de Furrow¥ (α+ Virgem), último aparecimento.
[Ano 8], mês 7, dia 5, ‘entre’ Furrow (α+ Virgem) e Balança (Libra), primeiro aparecimento.33
Qual é a implicação desta tabuinha astronômica para a cronologia da era neobabilônica? Conforme foi mencionado, Saturno tem uma órbita de 29,5 anos, o que também significa que o planeta se move pela eclíptica inteira neste período.
Mas, para o planeta ser visto novamente em um ponto específico (próximo a certa estrela fixa, por exemplo) da eclíptica na mesma época do ano, temos de esperar por 59 anos solares (2 x 29,5). Na verdade, este intervalo é muito mais longo no calendário lunar babilônico. Conforme C. B. F. Walker explica:
Um ciclo completo de fenômenos de Saturno em relação às estrelas leva 59 anos. Mas, quando esse ciclo tem de ser ajustado ao calendário lunar de 29 ou 30 dias então ciclos idênticos repetem-se periodicamente em intervalos um tanto maiores que 17 séculos. Assim não há qualquer dificuldade em determinar a data deste texto.34
Em outras palavras, a cronologia absoluta do reinado de Kandalanu é definitivamente estabelecida pela tabuinha de Saturno, porque o padrão de posições descrito no texto e associado a datas específicas no calendário lunar babilônico não se repete em mais de dezessete séculos! Desse modo, os primeiros quatorze anos do reinado dele mencionados no documento são fixados em 647-634 A.E.C. Uma vez que o reinado completo de Kandalanu pode ser contado cronologicamente como sendo de vinte e dois anos (vinte e um anos mais um ano “após Kandalanu”; veja a seção A-2 deste capítulo), a tabuinha estabelece a cronologia absoluta do reinado dele como sendo 647-626 A.E.C.35
Assim como o texto anterior, já considerado, (B.M. 32312), a tabuinha de Saturno anula definitivamente as tentativas de alongar a cronologia do período neobabilônico. Se vinte anos fossem acrescentados a este período, o reinado de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, teria de ser recuado de 625-605 para 645-625 A.E.C., e isto significaria recuar também o reinado do antecessor dele, Kandalanu, de 647-626 para 667-646 A.E.C. Os dados astronômicos na tabuinha de Saturno impossibilitam completamente tais mudanças.
C. AS TABUINHAS DE ECLIPSE LUNAR
Muitas das tabuinhas astronômicas babilônicas contêm relatos de eclipses lunares sucessivos, especificando o ano do rei reinante, o mês e com frequência também o dia. Cerca de quarenta textos deste tipo, registrando várias centenas de eclipses lunares, de 747 até por volta de 50 A.E.C., foram catalogados por Abraham J. Sachs em 1955.36
Em cerca de um terço dos textos, os eclipses são organizados em grupos de 18 anos, evidentemente porque os babilônios sabiam que o padrão de eclipses lunares se repete em intervalos de aproximadamente 18 anos e 11 dias, ou exatamente 223 meses lunares (= 6.585 1/3 dias). Este ciclo era usado pelos astrônomos babilônicos “para predizer as datas de possíveis eclipses desde pelo menos o meio do 6º século A.C. e bem provavelmente muito antes disso”.37
Como os eruditos modernos chamam este ciclo de Saros, os textos referentes aos períodos de 18 anos são frequentemente chamados de textos de ciclos Saros.38 Alguns destes textos registram séries de intervalos de 18 anos que se estendem por vários séculos.
A maioria dos textos referentes a eclipses lunares foi compilada durante a era selêucida (312-64 A.E.C.). Há evidência de que os registros de eclipses foram extraídos de diários astronômicos pelos astrônomos babilônicos, que evidentemente tiveram acesso a grande número de diários de séculos anteriores.39 Assim, ainda que a maioria dos diários de séculos anteriores tenha se perdido, muitos dos registros sobre eclipses que eles continham foram preservados nestes trechos.
Muitos dos textos sobre eclipse foram compilados por T. G. Pinches e J. N. Strassmaier na parte final do século dezenove, e estas cópias foram publicadas por A. Sachs em 1955.40 Traduções de alguns dos textos foram impressas em 1991.41 Os demais textos, traduzidos por H. Hunger, foram publicados em ADT V, 2001. (Veja a nota de rodapé 36 deste capítulo.)
Um texto datilografado preliminar com transliterações e traduções da maioria dos textos de eclipses lunares foi preparado em 1973 pelo Professor Peter Huber, mas ele nunca aprontou este texto para publicação, embora por muito tempo ele tenha circulado extraoficialmente entre eruditos. Os registros de Huber foram consultados para a discussão que segue, mas todo trecho usado foi conferido e em diversos casos foi melhorado ou corrigido pelo Professor Hermann Hunger, que depois publicou as transliterações e traduções destes textos.
Os textos que registram os eclipses lunares mais antigos são LBAT 1413 – 1421 do catálogo de Sachs. Só os últimos quatro destes, os de números 1418 a 1421, contêm eclipses do período neobabilônico. Mas como o LBAT 1417 contém eclipses dos reinados de Samas-sum-iuquin e Kandalanu, os últimos dois reis babilônicos antes do período neobabilônico (cf. seções A-2 e B deste capítulo), este texto é também uma testemunha importante no que se refere à duração do período neobabilônico.
Uma discussão de quatro destes textos e suas conseqüências para cronologia neobabilônica da Sociedade Torre de Vigia é apresentada na seção que segue.42
C-1: A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1417
A LBAT 1417 registra quatro eclipses lunares em intervalos de 18 anos de 686 a 632 A.E.C. Ela parece ser parte da mesma tabuinha em que estão os dois textos anteriores na série, LBAT 1415 e 1416. A primeira entrada registra um eclipse do terceiro ano do reinado de Senaqueribe em Babilônia43, que pode ser identificado com o eclipse que ocorreu no dia 22 de abril de 686 A.E.C. Infelizmente, o número do ano está danificado e só é parcialmente legível.
O próximo registro, datado ao ano de ascensão de Samas-sum-iuquin, dá esta informação:
Ano de ascensão de Samas-sum-iuquin,
Ayaru, 5 meses,
que passou.
A 40o após o nascer do sol.
À primeira vista este relatório parece dar muito pouca informação. Mas nas poucas breves linhas há mais do que alguém poderia possivelmente imaginar.
Os astrônomos babilônicos desenvolveram uma terminologia técnica tão abreviada para descrever os vários fenômenos celestes, que os relatórios deles assumiram um caráter quase estenográfico. A frase acadiana traduzida por “que passou” (shá DIB), por exemplo, era usada com relação a um eclipse predito para indicar que ele não seria visível.
Conforme Hermann Hunger explica, “o eclipse era conhecido pelos babilônios como ocorrendo num momento em que a lua não podia ser observada. Isso não significa que eles procuravam um eclipse e se desapontavam por ele não ter ocorrido”.44 Os babilônios não só computavam este eclipse com alguma antecedência por meio de um ciclo conhecido (talvez o ciclo Saros); a computação deles mostrava também que ele não seria visível no horizonte babilônico.
Isto também se deduz com base na próxima linha, “A 40o depois do nascer do sol”. 40o é uma referência ao movimento da esfera celeste, a qual, devido à rotação da terra, é vista fazendo um giro completo em 24 horas. Os babilônios dividiram este período em 360 unidades de tempo (graus) chamadas USH, cada uma das quais correspondendo a quatro minutos em nossa contagem. De modo que o texto nos diz que o eclipse foi calculado para ter início 160 minutos (40 USH x 4) depois do nascer do sol, o que significa que ele ocorreria de dia e assim não seria visível em Babilônia.
Modernos cálculos astronômicos confirmam isto. Se o primeiro ano de Samas-sum-iuquin foi 667/66 A.E.C. como geralmente se sustenta (veja a seção A-2 deste capítulo), seu ano de ascensão foi 668/67. O eclipse é datado em ayaru, o segundo mês, que começou em abril ou maio. (Os “5 meses” indicam o intervalo de tempo passado desde o eclipse anterior.)
Será que houve um eclipse do tipo descrito no texto, naquele momento do ano de 668 A.E.C.? Sim, houve.
Catálogos modernos de eclipses lunares mostram que um eclipse assim ocorreu no dia 2 de maio de 668 A.E.C. (calendário juliano). Começou por volta das 9:20, hora local#, o que concorda aproximadamente com a computação babilônica, segundo a qual ele começaria 160 minutos — 2 horas e 40 minutos — depois do nascer do sol. Como o sol nasceu aproximadamente às 5:20, o erro de cálculo foi de aproximadamente 1 hora e 20 minutos.45
Na cronologia da Sociedade Torre de Vigia, o ano de ascensão de Samas-sum-iuquin é recuado vinte anos para 688/87 A.E.C. Nenhum eclipse lunar ocorreu em abril ou maio desse ano, mas houve um eclipse total no dia 10 de junho de 688 A.E.C. Todavia, contrário ao eclipse registrado no texto, este aqui foi visível em Babilônia. Ele é, portanto, uma alternativa impossível.
O próximo registro no texto é datado no décimo oitavo ano de Samas-sum-iuquin, ou seja, 650/49 A.E.C. Este eclipse também foi um calculado, predito para “passar” no segundo mês. Começaria aproximadamente quatro horas (60 USH) “antes do pôr-do-sol.” Segundo cálculos modernos o eclipse ocorreu no dia 13 de maio de 650 A.E.C. O cânon de Liu e Fiala mostra que ele começou às 16:25 e terminou às 18:19, cerca de meia hora antes do pôr-do-sol nessa época do ano.46
Segundo a cronologia da Sociedade Torre de Vigia, este eclipse ocorreu vinte anos antes, em 670 A.E.C. Nenhum eclipse lunar ocorreu em abril ou maio desse ano, mas houve um eclipse total no dia 22 de junho de 670 A.E.C. Porém, ele não ocorreu “antes de pôr-do-sol”, como o registrado no texto, mas de manhã cedo, começando aproximadamente às 7:30. Assim, mais uma vez, ele não se ajusta.
O próximo e último registro do LBAT 1417 é datado no décimo sexto ano de Kandalanu. O eclipse registrado foi observado em Babilônia e são dados vários detalhes importantes:
(Ano) 16 de Kandalanu
(mês) simanu, 5 meses, dia 15. 2 Dedos (?)
no lado nordeste coberto (?)
No norte ele tornou-se brilhante. O vento norte [soprou]
20o começo, fase máxima, [e clareando.]
Atrás de Antares (α Escorpião) [foi eclipsada.]
Conforme indicado pelos pontos de interrogação e colchetes, o texto está um tanto danificado em alguns lugares, mas a informação preservada é suficiente para identificar o eclipse. Ocorreu no “dia 15” de simanu, o terceiro mês, que começou em maio ou junho. “2 dedos” significa que ele foi parcial, com apenas dois doze avos do diâmetro da lua sendo eclipsados. A duração total do eclipse foi 20o, isto é, 80 minutos.
Se o décimo sexto ano de Kandalanu começou em 1º de nisã de 632 A.E.C., como geralmente se defende (compare com as seções A-2 e B deste capítulo), a questão é saber se houve um eclipse lunar deste tipo no terceiro mês daquele ano.
Cálculos modernos mostram que houve. Segundo o cânon de eclipses de Liu e Fiala, um eclipse começou no dia 23 de maio de 632 A.E.C. às 23:51 e durou até 1:07 do dia 24 de maio, o que significa que sua duração total foi de aproximadamente 76 minutos, ou seja, muito próximo do período alistado no texto. O mesmo cânon dá a magnitude como sendo de 0.114.47
Estes dados estão em ampla harmonia com o registro antigo. Na cronologia da Sociedade Torre de Vigia, porém, este eclipse deveria ser procurado vinte anos antes, em maio, junho ou possivelmente julho de 652 A.E.C. É verdade que houve um eclipse no dia 2 de julho desse ano, mas em contraste com o parcial, registrado no texto, este foi total. Porém, como ele começou aproximadamente às 15:00, nenhuma fase dele foi visível em Babilônia.
Em resumo, a LBAT 1417 registra quatro eclipses lunares em intervalos sucessivos de 18 anos (18 anos e quase 11 dias) todos os quais podendo ser identificados facilmente com os que ocorreram em 21 de abril de 686, 2 de maio de 668, 13 de maio de 650 e 23 de maio de 632 A.E.C. Os quatro registros de eclipse são entrelaçados pelos sucessivos ciclos de Saros em um padrão que não se ajusta a qualquer outra seqüência de anos no sétimo século A.E.C.48
Desse modo, as últimas três datas são estabelecidas como sendo as datas absolutas do ano de ascensão e décimo oitavo ano de Samas-sum-iuquin e do décimo sexto ano de Kandalanu, respectivamente. A tentativa da Sociedade Torre de Vigia de acrescentar vinte anos à era neobabilônica, recuando assim em vinte anos os reinados dos reis, é mais uma vez impedida efetivamente por uma tabuinha astronômica babilônica, desta vez pelo texto de eclipse lunar LBAT 1417.
C-2: A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1419
A LBAT 1419 registra uma série ininterrupta de eclipses lunares em intervalos de 18 anos de 609/08 a 447/46 A.E.C. Os primeiros registros, que evidentemente alistaram eclipses que ocorreram em setembro de 609 e março de 591 A.E.C., estão danificados. Nomes reais e números de ano estão ilegíveis. Todavia, dois dos registros seguintes datam evidentemente do reinado de Nabucodonosor (as palavras entre parênteses são acrescentadas para elucidar os relatos lacônicos):
14º (ano de) Nebukadnezar,
mês VI, (eclipse) que foi omitido [literalmente, “passou”]
ao nascer do sol,
………………..
32º (ano de) Nebukadnezar,
mês VI, (eclipse) que foi omitido.
A 35o (= 35 USH, ou seja, 140 minutos) antes do pôr-do-sol.
O nome real no texto original está grafado como “Kudurri” que é uma abreviatura de Nabu-kudurri-usur, a forma transcrita de Nabucodonosor em acadiano.
O décimo quarto e o trigésimo segundo ano de Nabucodonosor são normalmente datados em 591/90 e 573/72 A.E.C., respectivamente. Os dois eclipses registrados, um ciclo de Saros à parte, ocorreram ambos no sexto mês (ululu) que começou em agosto ou setembro. Ambos foram calculados com antecedência, e os babilônios sabiam que nenhum dos dois seria visível em Babilônia. O primeiro eclipse começou “ao nascer do sol”, o segundo, 140 minutos (35 USH) “antes do pôr-do-sol”. Assim ambos ocorreram à luz do dia em Babilônia.
Isto é confirmado por cálculos modernos. O primeiro eclipse ocorreu no dia 15 de setembro de 591 A.E.C. Ele começou aproximadamente às 6:00. O segundo ocorreu na tarde do dia 25 de setembro de 573 A.E.C.49 De modo que ambos os eclipses se ajustam muito bem à cronologia estabelecida para o reinado de Nabucodonosor.
Na cronologia da Sociedade Torre de Vigia, porém, os dois eclipses deveriam ser procurados vinte anos antes, em 611 e 593 A.E.C. Mas nenhum eclipse que se ajuste a esses descritos no texto ocorreu no outono de qualquer um desses anos.50
O próximo registro, que relata o eclipse subseqüente no ciclo de 18 anos dá a seguinte informação detalhada:
Dia 13 do 7º mês, a 17° no lado oriental,
tudo (da lua) estava coberto. 28° fase máxima.
A 20° clareou do leste ao oeste.
Seu eclipse foi vermelho.
Por trás da anca de Áries foi eclipsado.
Durante o começo, o vento do norte soprou, durante o clarear, soprou o vento ocidental.
A 55° antes do nascer do sol.
Como se declara no texto, este eclipse ocorreu no dia treze do sétimo mês (tasritu) que começou em setembro ou outubro. Infelizmente o nome real e o número do ano estão faltando.
Porém, conforme indica o Professor Hunger, “apesar disso o eclipse pode ser identificado com certeza devido às observações fornecidas”.51 Os vários detalhes sobre o eclipse — sua magnitude (total), duração (a fase total durando 112 minutos) e posição (por trás da anca de Áries) — identificam-no claramente com o eclipse que ocorreu na noite 6-7 de outubro de 555 A.E.C.52
Segundo a cronologia geralmente estabelecida para o período neobabilônico, este eclipse ocorreu no primeiro ano de Nabonido, que começou em 1º de nisã de 555 A.E.C. Embora o nome real e o número do ano estejam faltando, é de extrema importância notar que o texto situa este eclipse um ciclo Saros depois do eclipse ocorrido no trigésimo segundo ano de Nabucodonosor. Como este último eclipse pode ser datado com certeza em 555 A.E.C., isto fixa definitivamente o trigésimo segundo ano de Nabucodonosor dezoito anos antes, em 573 A.E.C.
Por conseguinte, todos os três eclipses no texto estabelecem conjuntamente 591 e 573 A.E.C. como as datas absolutas do 14º e 32º ano de reinado de Nabucodonosor, respectivamente.
Desse modo, o texto de ciclo Saros LBAT 1419 provê ainda outra evidência independente contra a data de 607 A.E.C. como o décimo oitavo ano de Nabucodonosor. Se, como é estabelecido pelo texto, o trigésimo segundo ano dele foi 573/72 A.E.C. e seu décimo quarto ano foi 591/90 A.E.C., então o primeiro ano dele foi 604/03, e seu décimo oitavo ano, no qual ele devastou Jerusalém, foi 587/86 A.E.C.
C-3: A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1420
Em vez de registrar eclipses em intervalos de 18 anos, a LBAT 1420 contém relatórios anuais de eclipses. Todos os eclipses no texto são do reinado de Nabucodonosor, datando do primeiro ano dele (604/03 A.E.C.) até pelo menos seu vigésimo nono ano (576/75 A.E.C.).
O primeiro registro, que relata dois eclipses que “passaram” (ou seja, embora corretamente preditos, não seriam visíveis), está danificado e o número de ano é ilegível. Mas a última parte do nome de Nabucodonosor está preservada:
[(Ano) 1 Nebuchadn]ezzar, (mês) simanu.
O nome do rei não se repete nos registros subsequentes, indicando que se trata do mesmo rei durante o período inteiro. Isto é também confirmado pela série contínua de números de ano em ordem crescente até o último ano preservado no texto, “(Ano) 29”.
Os registros que falam sobre eclipses no período 603-595 A.E.C. estão também muito danificados, e faltam os números referentes a anos para este período. O primeiro registro no qual o número de ano está preservado relata dois eclipses do décimo primeiro ano:
(Ano) 11, (mês) ayaru [… …] 10 (?) USH após o pôr-do-sol e foi total. 10 [+x…] (Mês) arasamnu, que passou. Adaru2.
O décimo primeiro ano de Nabucodonosor começou em 1º de nisã de 594 A.E.C. “Adaru2” é incluído para indicar que havia um mês intercalar ao término do ano.
Não há qualquer problema em localizarmos estes dois eclipses. Ayaru, o segundo mês, começava em abril ou maio e arasamnu, o oitavo mês, começava em outubro ou novembro. O primeiro eclipse ocorreu no dia 23 de maio, e o segundo no dia 17 de novembro. O cânon de eclipses de Liu e Fiala confirma que o primeiro eclipse foi total e visível em Babilônia, conforme se declara no texto. Começou às 20:11 e terminou às 23:48. O segundo eclipse “passou” (não foi visível) uma vez que ocorreu durante o dia. Segundo o cânon de Liu e Fiala ele começou às 7.08 e terminou às 9:50.53
A maioria dos números de anos do décimo segundo ao décimo sétimo ano (593/92-588/87 A.E.C.) é legível.54 Treze eclipses lunares são descritos e datados neste período, oito dos quais “passaram” e cinco que foram observados. Cálculos modernos confirmam que todos estes eclipses ocorreram no período 593–588 A.E.C.
Depois do décimo sétimo ano há uma brecha no registro até o vigésimo quarto ano. O registro para esse ano relata dois eclipses, mas o texto está danificado e na maior parte ilegível. A partir deste ponto, porém, os números de anos e também a maior parte do texto está bem preservada.
Estes registros contêm relatórios anuais de um total de nove eclipses (cinco visíveis e quatro que “passaram”) datando do vigésimo quinto ao vigésimo nono ano (580/79-576/75 A.E.C.). Não há qualquer dificuldade na identificação de algum destes eclipses. Todos ocorreram no período 580–575 A.E.C. Seria cansativo e desnecessário expor o leitor a um exame detalhado de todos estes relatórios. O registro para o ano “25” pode bastar como exemplo:
(Ano) 25, (mês) abu, 1 1/2 beru após o pôr-do-sol.
(Mês) shabatu, ocorreu na vigília da noite.
Abu, o quinto mês babilônico, começava em julho ou agosto. Os babilônios dividiam nosso dia de 24 horas em doze partes chamadas beru. Então, um beru equivalia a duas horas. Diz-se que o primeiro eclipse ocorreu 1 1/2 beru, ou seja, três horas, após o pôr-do-sol. Como o vigésimo quinto ano de Nabucodonosor é datado em 580/79 A.E.C., este eclipse deveria ser localizado em julho ou agosto daquele ano, aproximadamente três horas após o pôr-do-sol.
O eclipse não é difícil de identificar. Segundo o cânon de Liu e Fiala foi um eclipse total que começou no dia 14 de agosto de 580 A.E.C. às 21:58 e terminou à 1:31 do dia 15 de agosto.55
O próximo eclipse ocorreu seis meses depois, em shabatu, o décimo primeiro mês, que começava em janeiro ou fevereiro. Diz-se que ocorreu “na vigília da noite” (a primeira das três vigílias do período da noite).
Este eclipse é também fácil de localizar. Ocorreu no dia 8 de fevereiro de 579 A.E.C. e durou das 18:08 às 20:22, segundo o cânon de Liu e Fiala.56
Na cronologia da Sociedade Torre de Vigia o vigésimo quinto ano de Nabucodonosor é datado vinte anos antes, em 600/599 A.E.C. Mas nenhum eclipse lunar visível em Babilônia ocorreu em 600 A.E.C. E embora tenha havido um eclipse na noite de 19-20 de fevereiro de 599 A.E.C., ele não ocorreu “na vigília da noite” como o relatado no texto.57
Detalhes sobre umas duas dúzias de eclipses lunares, datados em anos e meses específicos do reinado de Nabucodonosor, estão preservados na LBAT 1420. Nem sequer um destes está de acordo com a cronologia da Sociedade Torre de Vigia para o reinado de Nabucodonosor.
Juntos, estes eclipses lunares formam um padrão irregular, porém muito distinto de eventos distribuídos ao longo dos primeiros vinte e nove anos do reinado de Nabucodonosor. Só na hipótese de o reinado dele ter começado em 604 A.E.C. é que podemos encontrar uma correspondência abrangente entre este padrão e os eventos celestes que deram origem a ele. Mas se o reinado de Nabucodonosor for recuado um, dois, cinco, dez, ou vinte anos, esta correlação entre os registros e a realidade prontamente se desfaz. De forma que, apenas a LBAT 1420 já é suficiente para contestar totalmente a idéia de que o décimo oitavo ano de Nabucodonosor deveria ser datado em 607 A.E.C.
C-4: A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1421
A parte preservada da LBAT 1421 registra dois eclipses observados em Babilônia no sexto e no décimo segundo mês do ano “42”, evidentemente do reinado de Nabucodonosor:
(Ano) 42, (mês) ululu, (dia) 14. Ela surgiu eclipsada […] e ficou luminosa. 6 (USH) para tornar-se luminosa.
A 35o [antes do pôr-do-sol].
(Mês) adaru, (dia) 15, 1,30o após o pôr-do-sol […].
25o duração da fase máxima. Em 18o ela [ficou luminosa.]
Ocidental (vento) se foi. 2 côvados abaixo de γ Virgem eclipsada [… …]
Considerando-se que estes eclipses tenham ocorrido no quadragésimo segundo ano de Nabucodonosor — e não houve qualquer outro rei babilônico que tenha governado por tanto tempo assim no sexto, sétimo ou oitavo séculos A.E.C. — eles deveriam ser procurados em 563/62 A.E.C. E não há qualquer dificuldade em identificá-los: O primeiro, datado no sexto mês, ocorreu no dia 5 de setembro de 563 A.E.C. e o segundo, datado no décimo segundo mês, ocorreu no dia 2-3 de março de 562 A.E.C.
No primeiro a lua “surgiu eclipsada”, o que significa que ele teve início algum tempo antes do pôr-do-sol, de modo que quando a lua surgiu (aproximadamente às 18:30 naquela época do ano), ela já estava eclipsada. Isto está de acordo com cálculos modernos, que mostram que o eclipse começou aproximadamente às 17:00 e durou até por volta das 19:00.58
O cânon de Liu e Fiala confirma que o segundo eclipse foi total. “1,30o [seis horas] após o pôr-do-sol” refere-se provavelmente ao começo da fase total, que começou depois da meia-noite, à 0:19 e durou até 2:03, ou seja, por 104 minutos.59 Isto concorda de perto com o texto, que dá a duração da fase máxima como 25 USH, ou seja, 100 minutos.
Na cronologia da Sociedade Torre de Vigia, o quadragésimo segundo ano de Nabucodonosor é datado em 583/82 A.E.C. Mas nenhum eclipse do tipo descrito no texto ocorreu durante aquele ano.
Uma alternativa para o primeiro poderia ser o de 16 de outubro de 583 A.E.C., caso ele não tivesse começado muito tarde — às 19:45, segundo Liu e Fiala — para ser observado ao nascer da lua (que ocorreu por volta das 17:30). De qualquer modo, quanto ao segundo caso, não houve qualquer eclipse que poderia ter sido observado em Babilônia em 582 A.E.C.60
Os textos de eclipse lunares apresentados até aqui fornecem quatro evidências independentes adicionais para a duração do período neobabilônico.
O primeiro texto (LBAT 1417) registra eclipses lunares do ano de ascensão, do décimo oitavo ano de Samas-sum-iuquin e do décimo sexto ano de Kandalanu, convertendo estes anos em datas absolutas que impedem efetivamente qualquer tentativa de acrescentar um único ano que seja ao período neobabilônico, muito menos vinte.
Os outros três textos (LBAT 1419, 1420 e 1421) registram dúzias de eclipses lunares datados em vários anos dentro do reinado de Nabucodonosor, convertendo assim vez após vez o reinado dele em uma cronologia absoluta. Isso é o mesmo que prender um quadro numa parede com dúzias de pregos por todo ele, muito embora apenas um fosse suficiente.
Similarmente, teria sido suficiente estabelecer um único dos anos de reinado de Nabucodonosor como data absoluta para derrubar a idéia de que o décimo oitavo ano dele começou em 607 A.E.C.
Antes de concluir esta seção sobre os textos de eclipses lunares, parece necessário evitar antecipadamente uma objeção à evidência provida por estes textos. Como os astrônomos babilônicos já no sétimo século A.E.C. puderam calcular antecipadamente certos eventos astronômicos tais como eclipses, não poderia ser também o caso de, na era selêucida posterior, eles serem capazes de calcular retroativamente eclipses lunares, adaptando-os à cronologia estabelecida para os séculos anteriores? Não poderia ser o caso de os textos de eclipses lunares serem simplesmente resultantes de tal procedimento?61
É certamente verdade que os vários ciclos usados pelos babilônios para predizer eclipses poderiam muito bem ser usados para, da mesma maneira, calcular retroativamente eclipses, e há um pequeno grupo específico de tabuinhas que mostram que os astrônomos selêucidas extrapolaram tais ciclos para períodos anteriores.62
Todavia, os textos baseados em observações registram vários fenômenos que os babilônios não poderiam ter predito ou calculado retroativamente. Acerca dos registros nos diários e textos planetários, o Professor N. M. Swerdlow indica que, embora as distâncias entre planetas e estrelas normais pudessem ser preditas, “Conjunções de planetas com a lua e outros planetas, juntamente com suas distâncias, não poderiam ser calculadas por efemérides nem ser preditas com base em periodicidades”.63 No que se refere aos eclipses lunares, os babilônios podiam predizer e calcular retroativamente suas ocorrências, “mas nenhum dos métodos babilônicos poderia tê-los habilitado a calcular circunstâncias tais como a direção da sombra do eclipse, a visibilidade dos planetas e com certeza nem a direção do vento durante o eclipse, assim como encontramos em relatórios antigos”.64
Assim, embora os babilônios fossem capazes de calcular certos fenômenos astronômicos, os textos baseados em observações registram diversos detalhes relacionados com as observações que eles não poderiam ter predito ou calculado retroativamente. Isto contesta terminantemente a idéia proposta por alguns de que os dados podem ter sido calculados retroativamente num período posterior.
Resumo e Conclusão
No capítulo anterior a duração da era neobabilônica foi firmemente estabelecida por sete linhas de evidência diferentes. Todas se basearam em antigos textos cuneiformes babilônicos, tais como crônicas, listas de reis, inscrições reais e dezenas de milhares de documentos comerciais, administrativos e jurídicos do período neobabilônico.
Neste capítulo foram apresentadas outras sete evidências independentes. Todas se baseiam em antigos textos astronômicos babilônicos que fornecem toda uma série de datas absolutas do sexto e sétimos séculos A.E.C. Estas tabuinhas estabelecem — vez após vez — a cronologia absoluta da era neobabilônica:
1) O diário astronômico VAT 4956
O diário VAT 4956 contém aproximadamente trinta posições astronômicas totalmente verificadas, observadas no trigésimo sétimo ano do reinado de Nabucodonosor.
Essa combinação de posições astronômicas não se repete em milhares de anos. Conseqüentemente, só há um ano que se ajusta a esta situação: 568/67 A.E.C.
Se este foi o trigésimo sétimo do reinado de Nabucodonosor, como se declara duas vezes nesta tabuinha, então 587/86 A.E.C. foi obrigatoriamente o décimo oitavo ano dele, no qual ele devastou Jerusalém.
(2) O diário astronômico B.M. 32312
O B.M. 32312 é o mais antigo diário astronômico preservado. Registra observações astronômicas que permitem aos estudiosos datar esta tabuinha em 652/51 A.E.C.
Uma observação histórica no texto, repetida na crônica babilônica B.M. 86379 (a “Crônica de Akitu”) mostra que este foi o décimo sexto ano de Samas-sum-iuquin. Assim, o diário fixa o reinado de vinte anos deste rei em 667-648 A.E.C., o reinado de vinte e dois anos do sucessor dele, Kandalanu em 647-626, o reinado de vinte e um anos de Nabopolassar em 625-605 e o reinado de quarenta e três anos de Nabucodonosor em 604-562 A.E.C.
Isto fixa outra vez o décimo oitavo ano de Nabucodonosor e a destruição de Jerusalém em 587/86 A.E.C.
(3) A tabuinha de Saturno B.M. 76738+76813
A tabuinha de Saturno registra uma série contínua de posições do planeta Saturno em seus primeiros e últimos aparecimentos, datada dos primeiros quatorze anos de Kandalanu. Esse padrão de posições, associado a datas específicas do calendário lunar babilônico, não se repete por mais de dezessete séculos.
De forma que este texto fixa novamente o reinado de vinte e dois anos de Kandalanu em 647-626 A.E.C., o reinado de vinte e um anos de Nabopolassar em 625-605 e o reinado Nabucodonosor em 604-562 A.E.C.
(4) A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1417
A LBAT 1417 registra quatro eclipses lunares, cada um ocorrendo após o anterior em intervalos de 18 anos e aproximadamente 11 dias, um período de eclipse conhecido como ciclo de Saros.
Os eclipses são datados no terceiro ano do reinado de Senaqueribe em Babilônia, no ano de ascensão e décimo oitavo ano de Samas-sum-iuquin, e no décimo sexto ano de Kandalanu, respectivamente.
Os quatro eclipses inter-relacionados podem ser identificados claramente com uma série de eclipses que ocorreram em 686, 668, 650 e 632 A.E.C. Logo, esta tabuinha fixa novamente a cronologia absoluta para os reinados de Samas-sum-iuquin e Kandalanu e também — indiretamente — para os reinados de Nabopolassar e Nabucodonosor.
(5) A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1419
A LBAT 1419 contém relatórios de uma série ininterrupta de eclipses lunares em intervalos de 18 anos diretamente da própria era neobabilônica.
Dois dos eclipses são datados do décimo quarto e do trigésimo segundo ano de Nabucodonosor. Eles podem ser associados com os eclipses que ocorreram em 591 e 573 A.E.C., respectivamente, confirmando novamente a cronologia estabelecida do reinado deste rei para estes dois anos.
Embora o nome real e número do ano estejam faltando no relatório sobre o próximo eclipse do ciclo de 18 anos, a informação bem detalhada facilita que o identifiquemos com o eclipse que ocorreu no dia 6-7 de outubro de 555 A.E.C. Esta data, portanto, confirma e acrescenta força adicional às duas datas anteriores do ciclo, a saber, 573 e 591 A.E.C.
Como estes anos correspondem respectivamente ao trigésimo segundo e ao décimo quarto ano de Nabucodonosor, o décimo oitavo ano dele é, naturalmente, fixado mais uma vez por esta tabuinha em 587/86 A.E.C.
(6) A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1420
A LBAT 1420 fornece um registro anual de eclipses lunares do primeiro ao vigésimo nono ano de Nabucodonosor, com exceção de uma lacuna entre o décimo oitavo e o vigésimo terceiro ano dele. Os registros nos quais os números de ano de reinado estão preservados — cerca de uma dúzia — dão detalhes sobre umas duas dúzias de eclipses, sendo que todos estes se situam exatamente nos anos A.E.C. que já foram estabelecidos como sendo os anos de reinado mencionados no texto.
Uma vez que esta combinação específica de eclipses lunares datados não confere com qualquer série correspondente de eclipses que tenham ocorrido nas décadas imediatamente precedentes, somente esta tabuinha já é suficiente para estabelecer a cronologia absoluta do reinado de Nabucodonosor.65
(7) A tabuinha de eclipse lunar LBAT 1421
A LBAT 1421 registra dois eclipses datados no sexto e décimo segundo meses do ano “42”, evidentemente de Nabucodonosor, usualmente datado em 563/62 A.E.C. E, de fato, ambos os eclipses são também localizados nestes meses daquele ano. Mas nenhum eclipse do tipo registrado no texto ocorreu em 583/82 A.E.C. — a data do quadragésimo segundo ano de Nabucodonosor segundo a cronologia da Sociedade Torre de Vigia. De modo que esta tabuinha fornece uma prova adicional da falsidade dessa cronologia.
(8-11) Outras quatro tabuinhas astronômicas
Os sete textos astronômicos discutidos acima fornecem evidência mais que suficiente contra a data de 607 A.E.C da Sociedade Torre de Vigia. E isto ainda não é tudo. Outros quatro textos que foram publicados recentemente serão apenas descritos brevemente aqui. Traduções de três deles estão publicadas em ADT V, de Hunger (2001).
O primeiro é o LBAT 1415 que, conforme se mencionou na página 205 deste capítulo, faz parte da mesma tabuinha que a do LBAT 1417. Registra eclipses lunares datados no 1º ano de Bel-ibni (702 A.E.C.), no 5º ano, evidentemente de Senaqueribe (684 A.E.C.) e no 2º ano, evidentemente de Samas-sum-iuquin (666 A.E.C.).
O segundo é o texto de eclipse lunar nº. 5 em ADT V, de Hunger. Está bem danificado e o nome real está ausente, mas algumas notas históricas no texto mostram que ele é do reinado de Nabopolassar. Um dos eclipses descrito é datado no ano 16 e pode ser identificado com o eclipse de 15 de setembro de 610 A.E.C.
O terceiro texto é o nº. 52 em ADT V, de Hunger. Este é um texto planetário que contém mais de uma dúzia de registros legíveis das posições de Saturno, Marte e Mercúrio, datados nos anos 14, 17 e 19 de Samas-sum-iuquin (654, 651 e 649 A.E.C.), nos anos 1, 12 e 16 de Kandalanu (647, 636 e 632 A.E.C.), e nos anos 7, 12, 13 e 14 de Nabopolassar (619, 614, 613 e 612 A.E.C.). Como ocorre com alguns dos textos já discutidos acima, estes três textos impedem efetivamente qualquer tentativa de alongar a cronologia do período neobabilônico.
O quarto é uma tabuinha planetária, SBTU IV 171, que registra os primeiros e últimos aparecimentos e pontos estacionários de Saturno nos anos 28, 29, 30 e 31 de um rei desconhecido.66 Todavia, conforme o Professor Hermann Hunger demonstrou, os números referentes a anos combinados com a posição de Saturno na constelação de Pabilsag (mais ou menos em Sagitário) excluem todas as alternativas no primeiro milênio A.E.C. exceto os anos 28-31 de Nabucodonosor, fixando-os em 577/76 – 574/73 A.E.C. Novamente, isto estabelece o 18º ano dele como sendo 587/86 A.E.C.
Conforme se viu claramente, a interpretação da Sociedade Torre de Vigia dos “tempos dos gentios” requer que estes tenham se iniciado em 607 A.E.C., a data em que eles alegam que ocorreu a queda de Jerusalém. Uma vez que esse evento ocorreu no décimo oitavo ano de Nabucodonosor, esse ano de reinado também deve ser datado a partir de 607 A.E.C. Isto abre uma brecha de vinte anos quando se faz a comparação com todos os antigos registros históricos existentes, uma vez que estes situam o início do décimo oitavo ano de Nabucodonosor em 587 A.E.C. Como é possível explicar essa disparidade de vinte anos?
Neste capítulo foi comprovado que os dez textos astronômicos apresentados estabelecem a cronologia absoluta do período neobabilônico em diversos momentos, especialmente dentro do reinado de 43 anos de Nabucodonosor. O testemunho conjunto destes textos prova, além de qualquer dúvida razoável, que o reinado dele não pode ser recuado no tempo nem mesmo um ano, muito menos vinte.
De forma que, juntamente com a evidência apresentada no Capítulo 3, temos agora dezessete evidências diferentes, as quais, cada uma a seu próprio modo, derrubam a data 607 A.E.C., que a Sociedade Torre de Vigia atribui ao décimo oitavo ano de Nabucodonosor e provam que ele teve início vinte anos depois, ou seja, em 587 A.E.C.
Realmente, poucos reinos na história antiga podem ser datados desse modo tão conclusivo como o do rei neobabilônico Nabucodonosor.
Suponhamos por um momento que os números de Beroso para os reinados do reis neobabilônicos contenham um erro de vinte anos, como requer a cronologia da Sociedade Torre de Vigia. Então o(s) compilador(es) do Cânon Real deve(m) ter cometido exatamente o mesmo engano, evidentemente de maneira independente de Beroso!
Entretanto, poder-se-ia argumentar que ambos simplesmente repetiram um erro contido nas fontes que eles usaram, particularmente as crônicas Neobabilônicas. Então os escribas de Nabonido, que possivelmente usaram as mesmas fontes, teriam também eliminado vinte anos do reinado do mesmo rei (ou reis) quando fizeram as inscrições da Estela de Hila e da Estela de Adade-Gupi.
Mas, será possível que esses escribas, que assentaram corretamente os registros durante a era neobabilônica, não sabiam as durações dos reinados dos reis sob os quais viviam, especialmente levando-se em conta que esses reinados serviam também como anos civis por meio dos quais eles datavam diferentes eventos?
Se eles realmente cometeram tal erro estranho, como é possível que os escribas contemporâneos do Egito tenham também cometido o mesmo erro, eliminando o mesmo período de vinte anos ao fazerem inscrições em lápides tumulares e outros documentos?
Curiosamente então, os astrônomos babilônicos também devem ter cometido regularmente “erros” similares quando dataram as observações registradas no VAT 4956, LBAT 1420, SBTU IV 171, bem como em outras tabuinhas das quais os astrônomos posteriores abstraíram seus registros de ciclos de eclipses Saros — a menos, é claro, que as mudanças tenham sido feitas propositalmente por copistas da era selêucida, como a Sociedade Torre de Vigia argumenta.
Ainda mais incrível é a ideia de que os escribas e astrônomos puderam remover vinte anos da era neobabilônica vários anos antes daquela era — conforme se mostra à base do diário mais antigo, B.M. 32312, bem como das tabuinhas de eclipse lunar LBAT 1415+1416+1417 e ADT V, nº. 5, da tabuinha de Saturno B.M. 76738+76813, e da tabuinha planetária ADT V, nº. 52. — sendo que todas as cinco anulam inexoravelmente qualquer tentativa de alongar o período neobabilônico.
Mas a “coincidência” mais notável é esta: Foram escavadas dezenas de milhares de documentos comerciais, administrativos e jurídicos datados no período neobabilônico, abrangendo todos os anos deste período — exceto, como a Sociedade Torre de Vigia diria, os de um período de vinte anos para os quais nem sequer uma tabuinha foi encontrada.
Mais uma vez, mui curiosamente segundo esta lógica, ocorre que esse período é exatamente igual àquele período perdido devido a muitos outros “erros” de escribas de Babilônia e do Egito e de copistas e historiadores posteriores.
Ou houve uma conspiração internacional por vários séculos para apagar este período de vinte anos da história registrada do mundo — ou tal período jamais existiu! Se esse “complô” internacional ocorreu alguma vez, ele foi tão bem-sucedido que em todas as dezenas de milhares de documentos da era neobabilônica descobertos não há nenhum, nem mesmo uma linha em qualquer deles, que indique a existência desse período de vinte anos. De maneira que podemos concluir com certeza, que a cronologia da Sociedade Torre de Vigia está inquestionavelmente errada.
Mas se é esta a conclusão de nosso estudo, como podemos harmonizar este fato com a profecia bíblica sobre os setenta anos, durante os quais as terras de Judá e Jerusalém permaneceriam desoladas, conforme ensina a Sociedade Torre de Vigia? E como podemos encarar o ano de 1914, a suposta data de encerramento dos tempos dos gentios, segundo a escala cronológica da Sociedade Torre de Vigia? Não mostram claramente os eventos do mundo que as profecias bíblicas se cumpriram a partir daquele ano? Estas perguntas serão consideradas nos próximos capítulos.
Notas
1 – Os resultados de Kugler são de valor duradouro. O Dr. Schaumberger afirma que Kugler “fixou a cronologia para os últimos séculos antes de Cristo em todos os aspectos essenciais, tendo prestado assim um serviço inestimável à ciência histórica”. — “Drei babylonische Planetentafeln der Seleukidenzeit”, P. J. Schaumberger, Orientalia, Vol. 2, Nova Series (Roma, 1933), pág. 99.
2 – Na época assíria, tais observações eram também feitas nas cidades de Assur e Nínive. Possivelmente as observações em Babilônia eram feitas do topo de torres-templos, ou zigurates, tais como o zigurate de Etemenanki, em Babilônia.
3 – Tem sido mencionado com freqüência que o interesse babilônico no céu tinha em grande medida uma motivação astrológica. Embora isto seja verdade, o Professor Otto Neugebauer indica que o principal objetivo dos astrônomos babilônicos não era a astrologia, e sim o estudo de problemas do calendário. (Otto Neugebauer, Astronomia e História. Ensaios selecionados. Nova Iorque: Springer-Verlag, 1983, pág. 55 em inglês.) Para comentários adicionais sobre a motivação astrológica, veja o Apêndice ao Capítulo 4, Seção 1: “A astrologia como uma razão para a astronomia babilônica.”
* Uma abordagem de evidência astronômica envolve necessariamente muitos dados técnicos. Alguns leitores podem preferir pular isto e ir direto ao resumo no fim deste capítulo. De qualquer maneira, os dados técnicos encontram-se lá para confirmação.
4 – “Matemática, Astrologia e Astronomia Babilônica”, Asger Aaboe, História Antiga – Universidade de Cambridge, Vol. III:2 (Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 1991), págs. 277-78, em inglês. Os textos referentes a observações podem também conter ocasionalmente descrições de eclipses calculados com antecedência.
5 – Os vários tipos de textos foram classificados por A. J. Sachs na Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 2 (1948), págs. 271-90, em inglês. Na obra A Astronomia Babilônica Antiga e Textos Relacionados (em inglês – Providence, Rhode Island: Editora da Universidade Brown, 1955), Sachs apresenta um catálogo extenso dos textos cuneiformes astronômicos, astrológicos, e matemáticos, a maioria dos quais compilados por T. G. Pinches e J. N. Strassmaier, no final do século dezenove. O catálogo alista 1.520 textos astronômicos, mas foram descobertos muitos outros desde então.
6 – Evidentemente os escribas mantiveram registros contínuos de suas observações, como se pode ver à base de tabuinhas menores que abrangem muitos períodos mais curtos, às vezes de apenas alguns dias. Com base nestes foram compilados os diários mais longos. — Os Diários Astronômicos de Babilônia e Textos Relacionados, A. J. Sachs & H. Hunger, Vol. I (Viena: Verlag derÖsterreichischen Akademie der Wissenschaften, 1988), pág. 12.
7 – Otto Neugebauer, por exemplo, explica: “Uma vez que os dados planetários e lunares com esta variedade e abundância definem a data de um texto com absoluta precisão — posições lunares em relação a estrelas fixas não permitem sequer 24 horas de incerteza que, de outra maneira estariam envolvidas no caso de datas lunares — temos aqui registros da história selêucida [312-64 A.E.C.] que são muito mais confiáveis do que qualquer outra fonte histórica material que temos à disposição”. Orientalistische Literaturzeitung, Vol. 52 (1957), pág. 133.
8 – Sachs–Hunger, op. cit. (1988), págs. 46-53. A primeira tradução do texto, que também inclui um extenso comentário é a de P. V. Neugebauer e Ernst F. Weidner, “Ein astronomischer Beobachtungstext aus dem 37. Jahre Nebukadnezars II. (–567/66)”, em Berichte über die Verhandlungen der Königl. Sächsischen Gesellschaft der Wissenschaften zu Leipzig: Philologisch-Historische Klasse, Band 67:2, 1915, págs. 29-89.
9 – O diário atesta claramente que as observações foram feitas durante o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor. O texto começa com as palavras: “Ano 37 de Nabucodonosor, rei de Babilônia”. A última data, encontrada perto do fim do texto, é: “Ano 38 de Nabucodonosor, 1º do mês I”. — Sachs–Hunger, op. cit., págs. 47, 53.
10 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3 (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992), pág. 54, debaixo do subtítulo “Toma Tiro”.
11 – Sachs-Hunger, op. cit., págs. 46-49. A expressão “em frente de”, no texto, refere-se à rotação diária da esfera celeste em direção ao oeste e significa “para o oeste de.” (Ibid., pág. 22) Para uma abordagem dos nomes babilônicos das constelações, veja Despertar da Ciência, Bartel L. van der Waerden, Vol. II (em inglês – Nova Iorque: Editora da Universidade de Oxford, 1974), págs. 71-74, 97.
12 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, pág. 610.
13 – Veja os comentários de Hermann Hunger (ed.) em Relatórios Astrológicos para os Reis Assírios (Helsinque: Editora da Universidade de Helsinque, 1992), pág. XXII.
14 – B. L. van der Waerden, op. cit., págs. 77, 78. Ziqpu é o termo técnico babilônico para ponto culminante. O procedimento é explicado no famoso compêndio astronômico babilônico MUL.APIN do sétimo século A.E.C., aproximadamente (van der Waerden, Ibid.)
15 – Alguns eventos registrados nos diários não são realmente observações, e sim eventos calculados com antecedência. Assim, o VAT 4956 registra um eclipse da lua que ocorreu no dia 15 do mês de simanu (o terceiro mês). Que este eclipse tinha sido calculado com antecedência é evidente a partir da expressão AN-KUlo sin (também transcrita atalû Sin) que denota um eclipse lunar predito. Menciona-se mais adiante no texto que o eclipse “foi omitido” (literalmente, “passado por alto”), ou seja, foi invisível em Babilônia. (Sachs-Hunger, op. cit., Vol. I, 1988, págs. 23, 48, 49) Isto não significa que a predição falhou. A expressão quis dizer que não se esperava que o eclipse fosse visto. Segundo cálculos modernos, o eclipse ocorreu no dia 4 de julho de 568 A.E.C. (calendário juliano), mas, como ocorreu à tarde, não foi visível em Babilônia. O método que pode ter sido usado pelos astrônomos babilônicos para predizer este eclipse é abordado pelo Professor Peter Huber em B. L. van der Waerden (op. cit., nota de rodapé 11 deste capítulo), págs. 117-120.
16 – P. V. Neugebauer e E. F. Weidner, op. cit. (veja a nota de rodapé 8 deste capítulo), pág. 39.
17 – Peter Huber em B. L. van der Waerden, op. cit., pág. 96.
18 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, pág. 610. Conforme foi indicado no Capítulo 3 deste livro (seção A-2), o chamado “Cânon de Ptolomeu” (ou, Cânon Real) não foi elaborado por Cláudio Ptolomeu. Ademais, uma vez que suas citações dos antigos textos astronômicos babilônicos que lhe estavam disponíveis mostram que estes já estavam datados para anos específicos de reinados de reis antigos, ele não poderia ter usado o cânon “como estrutura em que colocar seus dados astronômicos”.
19 – Despertai! de 8 novembro de 1972, página 28.
20 – Conforme se explicou no Capítulo 3 deste livro (seção A-1), a cronologia de Beroso foi elaborada por volta de 281 A.E.C. A era selêucida começou em 312 A.E.C.
21 – “Astronomia observacional babilônica”, de A. J. Sachs, em O Lugar da Astronomia no Mundo Antigo, de F. R. Hodson (Transações Filosóficas da Real Sociedade de Londres, ser. A. 276, Londres: Editora da Universidade de Oxford, 1974), pág. 48, em inglês. – Com a finalidade de facilitar computações astronômicas, o ano que precede 1 E.C. é chamado de 0 em vez de 1 A.E.C. e o ano que precede 0 é chamado de –1 em vez de 2 A.E.C. Desse modo, o ano 652 A.E.C. é escrito astronomicamente como –651.
22 – Carta de Sachs a Jonsson, datada de 10 de fevereiro de 1980. O diário foi publicado desde então em Sachs-Hunger, op. cit., Vol. I (1988; veja a nota de rodapé 6 deste capítulo), págs. 42-47. Acerca dos dois primeiros eventos, o escriba diz: “Não fiz observação porque os dias estavam nublados”. (Ibid., pág. 43) Esta declaração não torna as datas astronomicamente fixadas das posições menos certas. Conforme já se indicou, os estudiosos babilônicos não só conheciam os vários ciclos dos planetas visíveis, como também observavam regularmente seus movimentos diários bem como suas posições em relação a certas estrelas fixas ou constelações ao longo da eclíptica. Assim, mesmo que um planeta não pudesse ser observado por alguns dias devido a nuvens, sua posição podia ser facilmente deduzida com base no ponto em que estava quando foi visto pela última vez.
23 – Sachs-Hunger, op. cit., pág. 45. Para uma discussão sobre esta batalha, veja Babilônia 689-627 A.C., de Grant Frame (Leiden: Nederlands Historisch-Archaeologisch Institut te Istambul, 1992), págs. 144-45, 289-92.
24 – Crônicas Assírias e Babilônicas, A. K. Grayson (em inglês – Locust Valley, Nova Iorque: J. J. Augustin Publisher, 1975), págs. 131-32.
25 – Uma vez que o primeiro mês, nisanu, começou em março ou abril de 652 A.E.C., o décimo segundo mês, adaru, começou em fevereiro ou março de 651 A.E.C.
26 – Que Kandalanu foi sucedido por Nabopolassar é declarado diretamente na Crônica de Akitu: “Depois de Kandalanu, no ano de ascensão de Nabopolassar”. — Grayson, op. cit., pág. 132.
27 – Um catálogo de documentos comerciais compilado por J. A. Brinkman e D. A. Kennedy, que inclui os reinados de Samas-sum-iuquin e Kandalanu está publicado na Revista de Estudos Cuneiformes (sigla em inglês: JCS), Vol. 35, 1983, págs. 25-52. (Cf. também JCS 36, 1984, págs. 1-6, e a tabela de G. Frame, op. cit., págs. 263-68.) Textos cuneiformes mostram que Kandalanu morreu evidentemente em seu vigésimo primeiro ano de reinado, após o que vários pretendentes ao trono lutaram pelo poder, até que Nabopolassar conseguiu ascender ao trono. Alguns documentos comerciais alongam o período entre reinados por prolongarem artificialmente o reinado de Kandalanu até depois da morte dele, sendo o último desses documentos (B.M. 40039) datado do “22º ano” dele (“dia 2 de arasamnu [o 8º mês] do 22º ano após Kandalanu”). Este método é também usado pelo Cânon Real, que dá a Kandalanu um reinado de vinte e dois anos. Outros documentos ampliam o período de modo diferente. A Lista de Reis de Uruque dá a Kandalanu vinte e um anos, e dá o ano entre reinados a dois dos contendores, Sin-shum-lishir e Sin-shar-ishkun. (Veja o Capítulo 3 deste livro, seção B-1-b.) A crônica babilônica B.M. 25127 diz sobre o mesmo ano: “Por um ano não houve qualquer rei na terra”. (Grayson, op. cit., pág. 88) Entretanto, todos os documentos estão de acordo no que se refere à duração total do período de Samas-sum-iuquin a Nabopolassar. (Para detalhes adicionais sobre o reinado de Kandalanu, veja a abordagem de G. Frame, op. cit., págs. 191-96, 209-13, 284-88.)
28 – Alistados como AH 83-1-18, 2109+2185 no Catálogo das Tabuinhas Babilônicas no Museu Britânico, E. Leichty et al, Vol. VIII (em inglês – Londres: Publicações do Museu Britânico Ltd, 1988), pág. 70.
29 – “Episódios na História da Astronomia Babilônica”, de C. B. F. Walker, Boletim da Sociedade para Estudos Mesopotâmicos, Vol. 5 (Toronto, maio de 1983), págs. 20, 21, em inglês.
30 – “Observações babilônicas de Saturno durante o reinado de Kandalanu”, C. B. F. Walker, em Astronomia Antiga e Divinação Celestial, de N. M. Swerdlow, (em inglês – Cambridge, Massachusetts e Londres: Editora do MIT, 2000), págs. 61-76.
31 – Walker, ibid., pág. 63.
32 – Em três casos, as datas fornecidas para o primeiro ou último aparecimento são seguidas pelo comentário “não observado”, sendo as nuvens mencionadas como razão impeditiva em dois casos; enquanto se diz no outro caso que o aparecimento foi “computado” (pela mesma razão). Conforme sugerido por Walker, “nestes casos as datas do primeiro ou do último aparecimento hipotético foram deduzidas com base na posição do planeta quando ele foi realmente visto pela primeira ou última vez”. — Ibid., págs. 64, 65, 74.
¥ – Nota do tradutor: Até o momento desta tradução não existe o nome oficial em português para esta estrela nos círculos astronômicos. Algumas sugestões que damos aqui são “sulco” e “caule de cevada”.
33 – Ibid., pág. 65.
34 – Ibid., pág. 63.
35 – Em sua discussão anterior sobre a tabuinha, Walker mostra que o padrão de fenômenos de Saturno descrito neste texto, datado em termos da fase da lua, “ocorrerá na realidade a cada 1770 anos aproximadamente”. — “Episódios na História da Astronomia Babilônica”, de C. B. F. Walker, Boletim da Sociedade para Estudos Mesopotâmicos, Vol. 5 (em inglês – Toronto, maio de 1983), pág. 20.
36 – Antigos Textos Astronômicos Babilônicos e Textos Relacionados, Abraham J. Sachs (em inglês – Providence, Rhode Island: Editora da Universidade Brown, 1955), págs. xxxi-xxxiii. Veja os de números 1413-30, 1432, 1435-52, e 1456-57. Para traduções da maior parte destes, veja Os Diários Astronômicos de Babilônia e Textos Relacionados (sigla em inglês: ADT), H. Hunger et al, Vol. V (Viena, 2001).
37 – “Rituais para uma possibilidade de eclipse no 8º ano de Ciro”, Paul-Alain Beaulieu e John P. Britton, na Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 46 (1994), pág. 83, em inglês.
38 – A palavra grega saros é derivada da palavra babilônica SAR, a qual na realidade significava um período de 3.600 anos. “O uso do termo ‘Saros’ com o sentido dum ciclo de eclipse de 223 meses é um anacronismo moderno que se originou com Edmund Halley [Phil. Trans. (1691) 535-40]… O nome babilônico para este intervalo era simplesmente ‘18 anos’.” — Beaulieu & Britton, op. cit., pág. 78, nota 11.
39 – “É quase certo que estes registros de eclipses só podem ter sido extraídos dos diários astronômicos”. — “Astronomia observacional babilônica”, A. J. Sachs, em O Lugar da Astronomia no Mundo Antigo, F. R. Hodson (Transações Filosóficas da Real Sociedade de Londres, ser. A. 276, 1974), pág. 44, em inglês. Veja também os comentários de F. Richard Stephenson e Louay J. Fatoohi, “Épocas de eclipses lunares registrados na história babilônica”, no Diário para a História da Astronomia, Vol. 24:4, nº. 77 (1993), pág. 256, em inglês.
40 – A. J. Sachs, op. cit. (1955; veja a nota de rodapé 36 deste capítulo), págs. 223 e seguintes.
41 – “Datas de Ciclos Saros e Textos Astronômicos Babilônicos Relacionados”, A. Aaboe, J. P. Britton, J. A. Henderson, O. Neugebauer e A. J. Sachs, em Transações da Sociedade Filosófica Americana, Vol. 81:6 (1991), págs. 1-75, em inglês. Os textos de ciclos Saros publicados são os designados como LBAT 1422, 1423, 1424, 1425 e 1428 no catálogo de Sachs. Como estes textos pertencem a um pequeno grupo à parte de textos teóricos, nenhum deles é usado neste livro. (Veja J. M. Steele em ADT V, de H. Hunger, 2001, pág. 390.)
42 – Não se inclui aqui uma discussão do LBAT 1418, uma vez que este é um dos textos teóricos mencionados na nota 41 acima. Ele não contém qualquer nome real, apenas números referentes a ano. (Nomes reais geralmente só são mencionados no primeiro ano do rei.) Ainda assim, conforme indicado pelo Professor Hermann Hunger, “os registros de eclipses lunares são detalhados o suficiente para serem datados”. A parte preservada do texto fornece anos e meses de possíveis eclipses lunares em intervalos de 18 anos, de 647 a 574 A.E.C. Os eclipses datados no texto em intervalos de 18 anos para os anos “2”, “20”, “16” e “13”, por exemplo, correspondem aos eclipses nos anos “2” e “20” de Kandalanu (646/45 e 628/27 A.E.C.), ano “16” de Nabopolassar (610/09) e ano “13” de Nabucodonosor (592/91). Assim, o LBAT 1418 apóia fortemente a cronologia estabelecida para os reinados destes reis. — Uma transliteração e tradução desta tabuinha foi publicada por Hunger, em ADT V (2001), págs. 88, 89, em inglês.
43 – As crônicas e as listas de reis babilônicas mostram que, em dois períodos, o rei assírio Senaqueribe foi também o verdadeiro governante de Babilônia, a primeira vez por dois anos (datados de 704-703 A.E.C.), e a segunda vez por oito anos (datados de 688-681 A.E.C.). O texto refere-se evidentemente ao segundo período.
44 – Carta de Hunger a Jonsson, datada de 21 de outubro de 1989. (Conforme também a nota de rodapé 15 deste capítulo.) Em uma carta posterior (datada de 26 de junho de 1990) Hunger acrescenta: “A expressão técnica referente ao observador esperar um eclipse e constatar que este não ocorre é ‘não foi visto quando se esperava’.”
# Nota: As horas alistadas nesta discussão estão de acordo com o formato de 24 horas, em vez de 12 horas no formato “da manhã” (em inglês: a.m.) / “da tarde” (em inglês: p.m.).
45 – Veja Cânon de Eclipses Lunares 1500 A.C. — 3000 D.C. de Bao-Lin e Alan D. Fiala, (em inglês – Richmond, Virgínia: Willman-Bell, Inc., 1992), pág. 66, nº. 2010. Como se demonstrou no estudo detalhado que o Dr. J. M. Steele fez dos eclipses lunares babilônicos, a precisão das cronometragens babilônicas dos eclipses observados estava dentro de aproximadamente meia hora em comparação com os cálculos modernos, enquanto que a precisão das cronometragens de eclipses preditos normalmente estava em cerca de uma hora e meia. Deve-se notar que antes de por volta de 570 A.E.C. os babilônios também arredondaram suas cronometragens o mais próximo de 5-10 USH (20-40 minutos). Embora aproximadas, estas cronometragens são suficientes para que os eclipses sejam identificados. (Veja Observações e Predições de Épocas de Eclipses por Astrônomos Antigos, de John M. Steele, Dordrecht, etc.: Publicadores Acadêmicos Kluwer, 2000, págs. 57-75, 231-235.) Para comentários adicionais sobre a identificação de eclipses lunares antigos, veja o Apêndice ao Capítulo 4: “Alguns comentários sobre antigos eclipses lunares.”
46 – Liu/Fiala, op. cit., pág. 67, nº. 2056. O cálculo de Steele mostra que ele começou às 16:45.
47 – Liu/Fiala, op. cit., pág. 68, nº. 2103.
48 – Deve-se notar que o ciclo Saros não abrange um mesmo número de dias; ele consiste em 6.585 1/3 dias. A terça parte extra de um dia (ou cerca de 7,5 horas) dá a entender que os eclipses subseqüentes na série não se repetem no mesmo período do dia, e sim aproximadamente 7,5 horas depois, em cada ciclo sucessivo. A duração e a magnitude também variam de um eclipse para o seguinte no ciclo. Desse modo, não há como confundir um eclipse com o anterior ou com o seguinte na série. — Veja a discussão feita por Beaulieu e Britton, op. cit. (na nota de rodapé 37 deste capítulo), págs. 78-84.
49 – Liu e Fiala, op. cit., págs. 69-70, nºs. 2210 e 2256. Os registros também relatam eclipses no décimo segundo mês de ambos os anos, mas o texto está gravemente danificado em ambos os locais.
50 – No dia 26 de setembro de 611 e no dia 7 de outubro de 593 A.E.C. ocorreram eclipses chamados penumbrosos, ou seja, nos quais a lua atravessou à meia-sombra (penumbra) do lado de fora da sombra (umbra) da terra. (Liu & Fiala, op. cit., págs. 68-69, nºs. 2158 e 2205.) Dificilmente tais passagens são visíveis, mesmo à noite, e os babilônios evidentemente os registraram como “passados”. O primeiro eclipse (26 de setembro de 611 A.E.C.) começou bem depois do pôr-do-sol, não ao nascer do sol como se declara explicitamente no texto. A fase penumbrosa do segundo eclipse (7 de outubro de 593 A.E.C.) começou bem antes do nascer do sol, não antes do pôr-do-sol como se declara no texto. Portanto, de qualquer maneira, ambas as alternativas estão definitivamente fora de cogitação.
51 – Carta de Hunger a Jonsson, datada de 21 de outubro de 1989.
52 – Segundo os cálculos de Liu e Fiala o eclipse, que foi total, começou no dia 6 de outubro às 21:21 e terminou no dia 7 de outubro à 1:10. A fase total durou das 22:27 à 0:04, ou seja, por 97 minutos, o que não está longe do número apresentado no texto, 28 USH (112 minutos). — Liu e Fiala, op. cit., pág. 70, nº. 2301.
53 – Liu & Fiala, op. cit., pág. 69, nºs 2201 e 2202.
54 – Nos registros para o décimo quarto e décimo quinto ano, os números referentes a ano estão danificados e só parcialmente legíveis. Mas como estes registros estão entre os dos anos “13” e “16”, os números danificados eram obviamente “14” e “15”.
55 – Liu & Fiala, op. cit., pág. 69, nº. 2238. O pôr-do-sol ocorreu por volta das 19 horas.
56 – Ibid., pág. 69, nº. 2239.
57 – Ibid., pág. 69, nº. 2188. O eclipse começou às 23:30 e terminou às 2:25. Houve quatro eclipses em 600 A.E.C. (Liu & Fiala, nºs. 2184-87), mas todos estes foram penumbrosos e, sendo assim, não visíveis (veja a nota de rodapé 50 deste capítulo).
58 – Liu & Fiala, op. cit., pág. 70, nº. 2281.
59 – Ibid., pág. 70, nº. 2282. O pôr-do-sol começou por volta das 18 horas.
60 – Em 582 A.E.C. houve quatro eclipses lunares, mas todos foram penumbrosos. — Liu & Fiala, op. cit., pág. 69, nos. 2231-34.
61 – Esta idéia foi defendida por A. T. Olmstead, que em um artigo publicado lá em 1937 (em Filologia Clássica, Vol. XXXII, págs. 5 e seguintes, em inglês.) criticou o uso que Kugler fez de alguns dos textos de eclipses. Conforme explicado depois por A. J. Sachs, Olmstead “entendeu de maneira completamente errônea a natureza de um grupo de textos astronômicos babilônicos que Kugler usou. Ele estava influenciado pelo mal-entendido de que eles foram calculados em uma data posterior, tendo assim valor histórico duvidoso; na realidade, eles são compilações de extratos tirados diretamente de autênticos diários astronômicos contemporâneos, devendo, portanto, ser manuseados com grande respeito”. — “Uma Lista de Reis Babilônica do Período Helenístico” (em inglês), A. J. Sachs & D. J. Wiseman, Iraq, Vol. XVI (1954), pág. 207, nota 1.
62 – Estes textos não registram observações de espécie alguma, sendo, portanto, classificados como textos teóricos. Eles são bem diferentes dos diários e dos textos de eclipses discutidos acima. Cinco de tais textos teóricos são conhecidos, quatro dos quais tendo sido publicados por Aaboe et al em 1991 (veja a nota de rodapé 41 deste capítulo). Dois destes são conhecidos como “Cânon Saros” (LBAT 1428) e o “Saros Solar” (LBAT 1430). A quinta tabuinha é a LBAT 1418, descrita na nota de rodapé 42 deste capítulo. — Veja J. M. Steele em ADT V (2001), Hunger, pág. 390.
63 – A Teoria Babilônica dos Planetas, N. M. Swerdlow (em inglês – Editora da Universidade de Princeton, 1998), págs. 23, 173. — Os diários registram também diversos outros fenômenos que não poderiam ser calculados, tais como halos solares, níveis de rios e mau tempo — nuvens, chuva, nevoeiro, neblina, granizo, relâmpago, ventos, etc. Alguns dados nos diários foram calculados devido ao mau tempo, mas a maioria é resultante de observações. Isto se evidencia também com base no nome acadiano dos diários, gravado no final das bordas deles: natsaru sha ginê, “observação regular”.
64 – Comunicação de J. M. Steele a Jonsson, datada de 27 de março de 2003. Conforme se mencionou na nota de rodapé 45 deste capítulo, há também uma diferença evidente de precisão entre as cronometragens fornecidas para eclipses observados e calculados.
65 – Esta tabuinha “provavelmente foi compilada logo após -575 [576 AEC]” — J. M. Steele em ADT V, Hunger, pág. 391.
66 – “Saturnbeobachtungen aus der Zeit Nebukadnezars II”, Hermann Hunger, Assyriologica et Semitica (=AOAT, Band 252), (Münster: Ugarit-Verlag, 2000), págs. 189-192.
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Imagem em destaque: O diário astronômico VAT 4956.
Fonte: www.lavia.org (Nesta página encontram-se traduções completas desse diário para idiomas modernos, tais como o inglês e o espanhol.