Os Tempos dos Gentios Reconsiderados – Prefácio
PREFÁCIO À QUARTA EDIÇÃO EM INGLÊS
A questão dos “tempos dos gentios” é atualmente crucial para milhões de pessoas. Cristo usou essa frase em uma única ocasião, como parte da resposta à pergunta de seus discípulos sobre sua vinda futura e o fim dos tempos. Nos séculos que se seguiram, desenvolveram-se numerosas interpretações e aplicações cronológicas da expressão dele.
Ao passo que este livro apresenta uma visão notavelmente ampla do assunto, focaliza sobretudo uma interpretação proeminente, que num sentido bem real marca para milhões de Testemunhas de Jeová a época em que elas vivem, provê o que elas consideram como um poderoso critério para julgar o que constitui “as boas novas do Reino”, as quais Cristo disse que seriam pregadas, e funciona para elas como um padrão para testar a validade da reivindicação de qualquer organização religiosa quanto a representar Cristo e os interesses de seu Reino. Um fato incomum é que a fundação desta interpretação é “emprestada”, uma vez que, conforme o autor documenta, originou-se quase meio século antes de a própria organização religiosa delas começar a surgir no cenário mundial.
Raramente uma única data desempenhou um papel tão penetrante e definido na teologia de uma religião como a data focalizada por esta interpretação: a data 1914. Mas há uma data por trás desta, sem o apoio da qual 1914 perde todo o significado que lhe é atribuído. Essa data anterior é 607 A.E.C. e é na associação que a religião das Testemunhas faz dessa data com um evento específico — a destruição de Jerusalém por Babilônia — que está o ponto crucial da questão.
Aqueles dentre nós que participaram na edição desta obra e que, mais de trinta anos atrás, fazíamos parte do departamento de redação e editorial da sede internacional das Testemunhas de Jeová em Brooklyn, Nova Iorque, podemos recordar o efeito bem impactante que nos causou a chegada de um tratado sobre os “tempos dos gentios”, da autoria de Carl Olof Jonsson, da Suécia, em agosto de 1977. Não só o volume da documentação, mas, principalmente o peso da evidência, deixou-nos um tanto desconcertados. Estávamos, com efeito, sem saber o que fazer com relação ao material. Esse tratado tornou-se depois a base para o livro de Carl Olof Jonsson Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, agora em sua quarta edição.
Quando lemos este livro hoje, tornamo-nos beneficiários de mais de três décadas de pesquisa profunda e cuidadosa. Não só a enorme quantidade de tempo, mas também os meios de acesso às fontes de informação que tornaram possível um estudo tão intensivo assim, são algo que muito poucos de nós teriam à disposição. O autor fez uso não só de instalações tais como o Museu Britânico, mas também manteve contato direto e teve a ajuda de membros de seu pessoal, bem como de assiriólogos de diversos países.
A pesquisa nos conduz a uns dois milênios e meio no passado. Muitos de nós podemos encarar aqueles tempos como “primitivos” e desta forma pode ser uma surpresa perceber como certos povos antigos eram avançados, os escritos deles não abrangendo simplesmente eventos históricos e dinastias monárquicas, mas lidando também com documentos comerciais datados, tais como livros-razões, contratos, inventários, escrituras de venda, notas promissórias, títulos, e itens semelhantes. Seu entendimento de astronomia, dos movimentos progressivos e cíclicos dos corpos lunares, planetários e estelares, numa época em que não existiam telescópios, é extraordinário. À luz da declaração de Gênesis, segundo a qual esses luminares celestes servem “para marcar os dias, os anos e as estações”, isto assume real significado, particularmente em um estudo no qual a cronologia desempenha um papel central.1 Com exceção dos relógios atômicos modernos, nada ultrapassa esses corpos celestes em precisão na medição do tempo.
Quanto à qualidade da pesquisa acerca do período neobabilônico, o professor de assiriologia Luigi Cagni escreve:
Vez após vez durante minha leitura [do livro de Jonsson] fui sobrepujado por sentimentos de admiração e profunda satisfação pela maneira como o autor lida com argumentos relacionados com o campo da Assiriologia. Isto é especialmente verdadeiro no caso da abordagem dele sobre a astronomia de Babilônia (e do Egito) e sobre a informação cronológica encontrada em textos cuneiformes do primeiro milênio A.E.C., fontes que ocupam uma posição central na argumentação de Jonsson.
… A seriedade e o cuidado dele evidenciam-se em ter ele mantido contato freqüente com assiriólogos que têm competência especial nos campos da astronomia e cronologia babilônicas, tais como os professores H. Hunger, A. J. Sachs, D. J. Wiseman, Sr. C. B. F. Walker do Museu Britânico e outros.
Com respeito ao campo com que sou mais particularmente familiarizado, ou seja, os textos econômico-administrativos dos períodos neobabilônico e aquemênida, posso dizer que Jonsson os avaliou mui corretamente. Eu o testei durante a leitura do livro. Quando terminei a leitura, tive de admitir que ele passou magnificamente no teste.2
Os leitores da primeira ou segunda edição deste livro encontrarão aqui muitas novidades. Seções inteiras, incluindo alguns capítulos novos, foram acrescentadas. Contribui para a legibilidade do livro a inclusão de cerca de trinta ilustrações, incluindo cartas e outros documentos. Muitas das ilustrações são raras e sem dúvida serão novas para a maioria dos leitores.
A pesquisa original por trás do livro colocou inevitavelmente o autor em curso de colisão com a organização Torre de Vigia e — como era de se esperar — levou à sua excomunhão como “apóstata” ou herege em julho de 1982. Esta história dramática, não contada nas primeiras duas edições, é apresentada agora na seção da Introdução intitulada “A expulsão”.
A abordagem sobre a cronologia do período neobabilônico foi grandemente ampliada. As sete linhas de evidência contra a data de 607 A.E.C., apresentadas nas duas primeiras edições, foram desde então mais que duplicadas. A evidência dos textos astronômicos forma um capítulo à parte. O conjunto da evidência apresentada nos Capítulos 3 e 4 é realmente enorme e revela um desacordo com a cronologia da Torre de Vigia para este período antigo, refutando-a de maneira incontestável.
Apesar da riqueza de informação de fontes seculares antigas, este livro permanece primariamente bíblico. No capítulo “Cronologia Bíblica e Secular” esclarece-se um mal-entendido comum e grave acerca de como chegamos a uma “cronologia bíblica”, assim como também a ideia errônea de que a rejeição da data 607 A.E.C. da Torre de Vigia significa colocar a cronologia secular acima dessa “cronologia bíblica”.
Estamos confiantes que a leitura deste livro sem igual ajudará muitos a adquirir um conhecimento mais preciso do passado e também uma perspectiva mais esclarecida em relação ao próprio tempo em que vivem, além de uma incrementada apreciação da confiabilidade e historicidade das Escrituras.
Os Editores.
NOTAS
1 – Gênesis 1:14, BLH.
2 – Trecho do prefácio à edição italiana de Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, por Luigi Cagni, professor de assiriologia na Universidade de Nápoles, Itália. O Professor Cagni era, entre outras coisas, um dos principais peritos nas tabuinhas de Ebla, os cerca de 16.000 textos cuneiformes que foram escavados desde 1975 no palácio real da antiga cidade de Ebla (nome árabe atual: Tell Mardikh), na Síria. Luigi Cagni morreu em janeiro de 1998.
O Mundo Antigo: Mesopotâmia
Imagem em destaque: Arco de Tito (Roma). © José Luiz Bernardes Ribeiro.