Os Líderes das Testemunhas de Jeová e a Especulação Cronológica – Parte 4

A Organização Torre de Vigia Afirma Ser Profeta e Inspirada

Afirma Ser Profeta

A revista A Sentinela de 15 de janeiro de 1959 (em inglês), págs. 40, 41 mostrou que a Torre de Vigia vê a si própria como uma organização “profeta” quando disse:

Quem Deus usou realmente como seu profeta?… As Testemunhas de Jeová estão profundamente gratas hoje pelos fatos simples mostrarem que Deus se agradou em usá-las… Jeová estendeu sua mão de poder e tocou nos lábios delas e colocou as suas palavras nas bocas delas.

A revista A Sentinela de 15 de dezembro de 1964, pág. 749 diz que as Testemunhas de Jeová profetizam de um modo “sem paralelo” na história:

Assim como Jeová revelou suas verdades por meio da congregação cristã do primeiro século, assim também ele o faz, atualmente, por meio da atual congregação cristã. Por meio desta agência, faz com que se cumpra o profetizar em escala intensificada e sem paralelo. Toda esta atividade não é feita por acaso. Jeová é quem está por trás dela. A abundância de alimento espiritual e dos surpreendentes pormenores dos propósitos de Jeová que têm sido revelados às testemunhas ungidas de Jeová, são evidência clara de que são as mencionadas por Jesus, quando ele predisse a classe do “escravo fiel e discreto” que seria usada para dispensar as revelações progressivas de Deus, nestes últimos dias.

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 1972, págs. 581, 584, fez as seguintes declarações:

Portanto, tem Deus algum profeta para ajudá-las, para adverti-las dos perigos e para declarar-lhes coisas futuras?

IDENTIFICAÇÃO DO “PROFETA”

A estas perguntas pode-se responder na afirmativa. Quem é este profeta?… Este “profeta” não era um só homem, mas um grupo de homens e mulheres. Era o grupo pequeno dos seguidores das pisadas de Jesus Cristo, conhecidos naquele tempo como Estudantes Internacionais da Bíblia. Hoje são conhecidos como testemunhas cristãs de Jeová… Naturalmente, é fácil dizer-se que este grupo age como “profeta” de Deus. Outra coisa é provar isso. A única maneira em que isto pode ser feito é recapitular a história. O que demonstra ela?…

O rolo foi sem dúvida entregue a Ezequiel pela mão de um dos querubins da visão. Isto indicaria que as testemunhas de Jeová fazem hoje a sua proclamação das boas novas do Reino sob direção e apoio angélicos. (Rev. 14:6, 7; Mat. 25:31, 32) E visto que nenhuma palavra ou obra de Jeová pode fracassar, por ele ser o Deus Todo-poderoso, as nações verão o cumprimento daquilo que estas testemunhas dizem segundo são orientadas desde o céu.

Sim, em breve terá de vir o tempo em que as nações terão de saber que houve realmente um “profeta” de Jeová no seu meio. Na realidade, mais de um milhão e meio de pessoas ajudam agora este “profeta” coletivo ou composto na sua obra de pregação, e bem mais do que aquele número estudam a Bíblia com o grupo do “profeta” e seus companheiros… Jeová não só está interessado na vindicação de seu próprio nome, mas também na vindicação de seu “profeta”.

A revista A Sentinela de 1º de janeiro de 1974 afirmou na página 18 que a Torre de Vigia é a 

… única organização na terra que compreende as “coisas profundas de Deus”.

Fazendo referência a sua profecia sobre os “Tempos dos Gentios” terminarem em 1914, este número da revista declarou na mesma página:

Apenas Deus, por seu espírito santo, podia ter revelado isso àqueles primitivos estudantes da Bíblia com tanta antecedência.

É claro que tendo Deus revelado isso para algum homem ou grupo de homens, quem quer que fossem, estas pessoas seriam profetas de Deus, em virtude de ensinar essa revelação a outros. O livro As Nações Terão de Saber Que Eu Sou Jeová, de 1973, disse nas páginas 54, 55, 57 e 58:

Quem é o equivalente atual de Ezequiel, cuja mensagem e conduta correspondem às daquele antigo profeta de Jeová? De quem, na atualidade, era ele “sinal” ou “portento”? Não de algum homem individual, mas de um grupo de pessoas. Constituído de um grupo unido de pessoas, o hodierno Ezequiel é uma pessoa composta, constituída de muitos membros, do mesmo modo como o corpo humano… Assim se dá com o equivalente hodierno de Ezequiel: não é o corpo de uma só pessoa, mas é um corpo composto, constituído de muitos membros… Então, quem é o grupo de pessoas, que, perto do início deste “tempo do fim”, foi comissionado a servir como porta-voz e agente ativo de Jeová? A fim de determinar isso, verifique a história de 1919, o primeiro ano do após-guerra depois da Primeira Guerra Mundial…

Certamente, pois, lá no ano de após-guerra de 1919, não havia ninguém entre os elementos religiosos, culpados da guerra, do judaísmo e da cristandade, que estivesse habilitado para ser comissionado como o equivalente moderno ou o antítipo de Ezequiel… A quem podia o verdadeiro “carro” da organização de Jeová dirigir-se e confrontar, para que Ele pudesse dar a tal habilitado a comissão de falar como profeta em nome de Jeová? Ora, havia um grupo, cujos membros haviam sofrido perseguição religiosa durante a Primeira Guerra Mundial às mãos de Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa, e cujos membros, de fato, haviam saído das organizações religiosas de Babilônia, a Grande. De fato, haviam recusado a participar ativamente com a cristandade e com todos os demais de Babilônia, a Grande, na guerra carnal durante a Primeira Guerra Mundial. Quem eram eles?  

O “EZEQUIEL” HODIERNO

Eram um pequeno grupo minoritário de homens e mulheres que se dedicaram a Jeová como Deus por seguirem as pisadas de Seu Filho Jesus Cristo…

Por alguma razão o livro evita em vários momentos dizer explicitamente quem compunha esse grupo, mas sugere fortemente que era o grupo mais influenciado pela revista A Torre de Vigia e Arauto da Presença de Cristo. Estes eram, naturalmente, os Estudantes Internacionais da Bíblia. Por fim o livro menciona novamente quem era a “classe de Ezequiel”, na página 63:

O mesmo se deu com as testemunhas ungidas e dedicadas de Jeová lá no ano de 1919 E. C. Os fatos desde então provam que receberam sua ordenação, designação e comissão para seu trabalho neste “tempo do fim” do próprio Jeová, mediante sua organização celestial semelhante a um carro. Por isso têm tomado muito a sério sua comissão divina, como sendo a verdadeira coisa bíblica, e têm procurado cumpri-la fielmente…

A revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1980 disse na página 29:

Já por mais de 60 anos, os da classe de Jeremias têm proclamado fielmente a Palavra de Jeová.

A Sentinela de 1º de maio de 1983, págs. 26, 27 descreve como a organização Torre de Vigia encara a si mesma como um profeta semelhante a Jeremias:

É por causa de tais pessoas de coração reto que Jeová, com consideração, suscitou seu “profeta para as nações”. Jeová fez isso durante este “tempo do fim”, desde o fim da Primeira Guerra Mundial em 11 de novembro de 1918… Em prol de tais pessoas, que no coração buscam antes o governo de Deus do que o governo do homem, o “profeta” suscitado por Jeová não tem sido um único homem, como no caso de Jeremias, mas uma classe. Os membros desta classe, iguais ao profeta-sacerdote Jeremias, estão plenamente dedicados a Jeová Deus, por meio de Cristo, e, pela geração pelo espírito santo de Jeová, foram tornados parte duma “raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo para propriedade especial”. (1 Pedro 2:9) Nesta data avançada, existe apenas um restante desta classe do “profeta” ainda na terra. A “guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso”, no Har-Magedon, não pode começar antes de findar a obra deste “profeta” composto.

A Organização Alegou Ser Inspirada

Segundo o Webster’s New Collegiate Dictionary, “inspirar” significa “influenciar, mover ou guiar por inspiração divina ou sobrenatural; exercer animação, animar, ou exaltar a influência sobre; estimular, impelir, motivar”. 2 Timóteo 3:16 diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus”. Segundo a obra Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 2, pág. 399, “a expressão “inspirada por Deus” traduz o termo grego composto the·ó·pneu·stos, que significa, literalmente, “[por] Deus soprado” ou “soprado por Deus”.”

Além disso, segundo Estudo Perspicaz, pág. 399, “inspiração” é “a qualidade ou o estado de ser movido, ou produzido, sob a direção de um espírito originário de uma fonte sobre-humana. Quando esta fonte é Jeová, o resultado são pronunciamentos ou escritos que são realmente a palavra de Deus… os homens utilizados para escrever as Escrituras cooperaram com a operação do espírito santo de Jeová. Estavam dispostos e mostravam-se submissos à direção de Deus (Is 50:4, 5), estavam ansiosos de conhecer a Sua vontade e orientação… Deus os orientava, de modo que aquilo que escreviam coincidia com Seu propósito e o cumpria… Como homens espirituais, seu coração e sua mente estavam sintonizados com a vontade de Deus, ‘tinham a mente de Cristo’, de modo que não redigiam mera sabedoria humana, nem “a visão do seu próprio coração”, como faziam os profetas falsos.

As seguintes citações de publicações da Torre de Vigia deixam bem claro que a organização acredita que suas atividades se enquadram nessa definição, embora reserve a palavra “inspiração” para a Bíblia somente, e use outras palavras para descrever suas atividades. Mas, quão diferente é orientação ou direção de inspiração? É uma distinção sem qualquer diferença.

Mantenhamos em mente as definições acima ao ler as seguintes citações, conforme elas refletem a língua que falamos e o conceito bíblico de inspiração.

A revista A Sentinela (em inglês) de 1º de novembro de 1956 declarou na página 666, para todos os efeitos práticos, que a Torre de Vigia é inspirada:

Quem controla a organização, quem a dirige? Quem está à frente? Um homem? Um grupo de homens? Uma classe clerical? Um papa? Uma hierarquia? Um concílio? Não, nenhum destes. Como isso é possível? Em qualquer organização, não é necessário que haja um cabeça dirigente ou uma parte formuladora de políticas que controle ou guie a organização? Sim. É o Deus vivente,  Jeová, o diretor da organização teocrática cristã? Sim!

Embora o escritor dessa A Sentinela não use aqui a palavra “inspirada”, por razões óbvias, o fato é que ser dirigido por Deus é o mesmo que ser inspirado. Essa é a definição de inspiração, conforme mostrado acima.

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 1972 disse na página 584:

O rolo foi sem dúvida entregue a Ezequiel pela mão de um dos querubins da visão. Isto indicaria que as testemunhas de Jeová fazem hoje a sua proclamação das boas novas do Reino sob direção e apoio angélicos. (Rev. 14:6, 7; Mat. 25:31, 32) E visto que nenhuma palavra ou obra de Jeová pode fracassar, por ele ser o Deus Todo-poderoso, as nações verão o cumprimento daquilo que estas testemunhas dizem segundo são orientadas desde o céu.

O livro Espírito Santo — A Força por Detrás da Vindoura Nova Ordem!, 1976, disse na página 148:

O espírito santo, sobre o qual Jeová profetizou que o derramaria nos últimos dias, não deixou de operar, pois o restante ainda está batizando discípulos de Cristo no nome desse espírito… O propósito anunciado deste derramamento de seu espírito por Deus, sobre toda sorte de carne, é que aqueles que o recebessem pudessem profetizar. Os fatos confirmam que os do restante dos discípulos ungidos de Cristo têm profetizado a todas as nações, em testemunho a favor do reino de Deus. Portanto, é lógico que eles devem ser aqueles sobre quem realmente foi derramado o espírito de Deus. Este espírito está por detrás de sua pregação mundial. Por que disputar isso?

É claro que alguém a quem Deus move a falar suas próprias palavras é, por definição, inspirado. Observe o que o livro Espírito Santo — A Força por Detrás da Vindoura Nova Ordem! disse adicionalmente, nas páginas 175, 176:

O seguinte é o que ele [Jeová] disse em Isaías 51:15, 16:

“Eu, Jeová, sou teu Deus, Aquele que agita o mar para tumultuar as suas ondas. Jeová dos exércitos é seu nome. E porei as minhas palavras na tua boca e hei de cobrir-te com a sombra da minha mão, a fim de plantar os céus e lançar o alicerce da terra, e para dizer a Sião: ‘Tu és meu povo.”

Nenhum obstáculo colocado no Seu caminho pelos inimigos mostrará ser invencível para Jeová. Assim como no monte Sinai Ele colocou sua palavra na boca de seu povo escolhido, por meio do mediador Moisés, e depois os guiou sob a sombra protetora de sua mão para a Terra da Promessa, assim fez com o restante do Israel espiritual. Pôs a sua palavra, sua mensagem do momento, na boca do restante espiritual, para que este a confessasse abertamente, perante todo o mundo, para a salvação de si mesmo e de todos os ouvintes favoráveis.

Qualquer pessoa em cuja boca Jeová “colocou sua palavra” é inspirada por Ele, por definição. Essa palavra é, por definição, “soprada por Deus”, e se enquadra na definição dada acima pela enciclopédia Estudo Perspicaz. Claramente, este material prova que a organização Torre de Vigia considera suas próprias palavras como equivalentes às de Moisés no Monte Sinai, por meio de quem Jeová transmitiu sua palavra aos israelitas. Moisés certamente foi inspirado naquele momento, e nada que Jeová falou por meio dele falhou – “tudo se cumpriu.” (Josué 21:45) Além disso, nenhuma palavra precisou ser revisada em algum momento posterior, devido ao aparecimentos de alguma “nova luz”. Não se pode dizer o mesmo sobre as informações que a Torre de Vigia tem disponibilizado em suas publicações.

Da mesma maneira, invocando a noção de “soprada por Deus”, o livro Sobrevivência Para Uma Nova Terra (1984), disse na página 109:

Os membros do Israel espiritual aguardavam uma herança “reservada nos céus” para eles. (1 Pedro 1:3-5) Mas antes de realmente receberem esta recompensa, Jeová tinha um trabalho para eles. Sobre isso ele disse profeticamente: “Porei as minhas palavras na tua boca e hei de cobrir-te com a sombra da minha mão, a fim de plantar os céus e lançar o alicerce da terra, e para dizer a Sião: ‘Tu és meu povo.’” (Isaías 51:16) Ele pôs as suas “palavras”, sua mensagem, na boca de seus servos para as proclamarem em toda a terra. Estes começaram confiantemente a divulgar que Deus implantou os “novos céus” tão firmemente, que nem homens, nem demônios podem deslocá-los. A maneira em que Jeová tem lidado com os representantes da Sião celestial os tem identificado claramente como seu povo. Em contraste com a condição espiritual e moralmente desolada do mundo, a “terra” ocupada pelo Israel espiritual, seu campo de atividade, tem-se tornado um lugar em que prosperam valores e atividades espirituais. É um paraíso espiritual!

As duas citações acima dizem explicitamente que Deus faz com que o “restante ungido” fale as palavras de Deus. Isso é inspiração.

O livro Luz I, de 1930, disse na página 12 (em inglês):

O restante agora “tem visões”; ou seja, é dado a ele um entendimento de coisas até agora não compreendidas… O tempo para o cumprimento da profecia de Revelação parece ser de por volta de 1879 em diante até que o reino esteja com pleno domínio. Foi por volta dessa data que a segunda presença do Senhor começou a ser observada, e essa e outras verdades começaram a aparecer em A Torre de Vigia, que desde então até agora tem sido o meio de comunicar a verdade para os que amam o Senhor. Todos os que amam a Deus acreditam extremamente que A Torre de Vigia foi iniciada e mantida pelo seu poder e graça.

Na página 106, o mesmo livro, Luz I, dizia:

As criaturas humanas visíveis tinham que ver com a mensagem, [uma resolução adotada no congresso de Cedar Point, Ohio, EUA, em 1922], no entanto, ela era de fato uma mensagem do Senhor enviada por meio de seus anjos invisíveis, porque sem dúvida estes são revestidos com autoridade para dirigir a ação dos membros terrestres da organização de Deus.

Na página 113 o livro dizia:

… parece claro que o espírito do Senhor, operando por meio de seus anjos invisíveis, dirigiu seu povo na terra para tomar esta ação [a distribuição de uma resolução adotada num congresso em Los Angeles, EUA, em 1923].

A revista A Sentinela de 15 de agosto de 1976 disse nas páginas 507, 508:

Temos de tomar a sério o que a sua Palavra diz e o que a sua organização nos revela… ‘Será que nós queremos mesmo o governo de Deus?’ Não indicaria o não acatarmos a orientação de Deus, por meio de sua organização, que na realidade rejeitamos o governo divino?

A organização Torre de Vigia até publicou histórias que tentam provar que houve a orientação direta de Deus nas ações de alguns de seus membros. O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976 descreveu como as Testemunhas de Jeová adquiriram seu nome, e contou esta história em páginas 150, 151:

Quando tinha 88 anos, A. H. Macmillan compareceu à Assembléia “Frutos do Espírito” das Testemunhas de Jeová na mesma cidade. Ali, em 1.° de agosto de 1964, o irmão Macmillan teceu os seguintes comentários interessantes sobre como ocorreu a adoção daquele nome:

“Tive o privilégio de estar aqui em Columbus, em 1931, quando recebemos . . . o novo título ou nome . . . eu estava entre os cinco que deveriam comentar o que achávamos da ideia de aceitar esse nome, e eu lhes disse brevemente o seguinte: Achava que era esplêndida ideia, porque esse título ali dizia ao mundo o que fazíamos e qual era nosso propósito. Antes disso, éramos chamados Estudantes da Bíblia. Por quê? Porque era isso que éramos. Daí, quando outras nações começaram a estudar conosco, fomos chamados de Estudantes Internacionais da Bíblia. Mas, agora, somos testemunhas a favor de Jeová Deus, e esse título diz ao público exatamente o que somos e o que fazemos…

“Com efeito, creio que foi o Deus Todo-poderoso que nos levou a isso, pois o irmão Rutherford mesmo me dissera que acordara, certa noite, quando se preparava para esse congresso e disse: ‘Por que será que fui sugerir um congresso internacional quando não tenho nenhum discurso ou mensagem especial para eles? Por que trazê-los todos para cá?’ Então, começou a pensar sobre isso, e Isaías 43 lhe veio à mente. Levantou-se às duas da madrugada e escreveu, em taquigrafia, na sua própria escrivaninha, um esboço do discurso que iria proferir sobre o Reino, a esperança do mundo e sobre o novo nome. E tudo que foi proferido por ele naquela ocasião foi preparado naquela noite, ou naquela madrugada, às duas horas. E não [há] dúvida alguma em minha mente — nem naquele tempo nem agora — que o Senhor o guiou nisso, e que é o nome que Jeová deseja que levemos e estamos felicíssimos e contentíssimos de tê-lo.”

Naturalmente, quase toda pessoa que se põe a pensar bastante sobre determinado assunto pode experimentar algo semelhante. Alguém pode estar fazendo alguma coisa totalmente alheia ao assunto quando lhe ocorre um “flash” de pensamento e ele sente que o problema foi resolvido. Isto ocorre até mesmo no meio da noite, quando a pessoa está deitada, mas com o pensamento alerta. Os que não são dados a pensar muito não costumam ter essa experiência e não entendem como é que algo assim pode acontecer.

Às Vezes não é Inspirada

Quando é conveniente, a Torre de Vigia afirma que é falível e que não é inspirada. O livro Raciocínios á Base das Escrituras disse na página 162:

As Testemunhas de Jeová não professam ser profetas inspirados. Cometeram enganos. Como no caso dos apóstolos de Jesus Cristo, tiveram às vezes expectativas erradas… É verdade que as Testemunhas cometeram erros de entendimento, sobre o que ocorreria no fim de certos períodos de tempo, mas não cometeram o erro de perder a fé ou de cessar de ficar vigilantes quanto ao cumprimento dos propósitos de Jeová… Os assuntos em que foram necessárias correções de ponto de vista têm sido relativamente mínimos em comparação com as verdades bíblicas vitais que discerniram e publicaram.

Observe como as grandes predições consideradas acima são trivializadas como “correções de ponto de vista”. O teste dum falso profeta, que Deuteronômio 18:20-22 fornece não é mencionado. Esse teste era: “Quando o profeta falar em nome de Jeová e a palavra não suceder nem se cumprir, esta é a palavra que Jeová não falou. O profeta proferiu-a presunçosamente. Não deves ficar amedrontado por causa dele.” As boas intenções e principalmente ensinamentos corretos não são suficientes para negar ter falhado nesse teste. Predições fracassadas feitas por alguém que afirma falar em nome de Deus têm toda a relação com o teste. Alegar ter direção e apoio de Deus e ser o “canal de comunicação entre Deus e os homens” num determinado momento, e em outro momento afirmar não ser inspirado, não é outra coisa além de conversa dupla.

A revista Despertai! de 22 de abril de 1969 disse na página 23:

É verdade, houve aqueles que, em tempos passados, predisseram um “fim do mundo”, até mesmo anunciando uma data específica… Todavia, nada aconteceu. O “fim” não veio. Eram culpados de profetizar falsamente.

Esta é verdadeiramente uma admissão surpreendente, quando se consideram todas as predições feitas pela Torre de Vigia que fracassaram, tendo em vista o fato de que Mateus 12:37 diz:

“Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado.”

Neste ponto, deve estar evidente que a única razão de se mudarem quaisquer das datas previstas, como a da presença do Senhor de 1874 para 1914, foi o fracasso das predições. Como já vimos anteriormente, numa série de assembléias em 1975, Frederick Franz proferiu um discurso no qual ele contou como J. F. Rutherford caracterizou sua predição quanto a 1925:

“Eu sei que me fiz de tolo.”

A Torre de Vigia trata os problemas que resultaram nesta admissão como decorrentes simplesmente da imperfeição humana, e como prova do grande desejo e entusiasmo em ver as promessas de Deus cumpridas.

Porém, há mais envolvido nisso. Uma coisa é alguém fazer de si mesmo um “tolo” por causa do desejo de ver algo acontecer. Outra coisa é essa pessoa incentivar outros a compartilhar seus conceitos, criticá-los se eles não o fazem, e questionar sua fé ou suas motivações se não fizerem, chegando até o ponto da expulsão da comunidade (desassociação).

Ainda mais grave é uma organização que se apresenta como porta-voz designado por Deus para toda a humanidade fazer isso – e durante décadas, em nível mundial. A responsabilidade pelos resultados dificilmente poderia ser descartada, por simplesmente dizer: “Bem, ninguém é perfeito.” No que se refere a todas as predições não cumpridas, não é verdade que as palavras da Torre de Vigia caíram “por terra” (1 Sam. 3:19)? No que se refere às palavras de Jesus em Mateus 24:44 “o Filho do homem vem numa hora em que não pensais”, não violam o princípio delas todas as atuais exortações da Torre de Vigia quanto à proximidade do fim? Não está todo o espírito dos relatos do Evangelho na ideia de que os cristãos devem ignorar os tempos e as datas e estar sempre prontos para a volta de Cristo?

Mas as Testemunhas de Jeová individuais não estão autorizadas a aceitar este ponto de vista. Em vez disso, devem aceitar as interpretações proféticas que são publicadas, sem questionar. A Torre de Vigia pode mudar seus conceitos sobre uma interpretação a qualquer momento. Mas uma Testemunha que, depois de estudar uma interpretação publicada de um trecho bíblico, concluir que está errada e persistir nessa conclusão antes de a liderança da Torre de Vigia chegar à mesma conclusão, seria desassociada.

Declarações Oficiais

Fica evidente com base no trecho da transcrição do julgamento que segue, que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová encara sua autoridade, e a unidade da organização, mostrada pelo apoio das Testemunhas aos conceitos do momento, como algo mais importante do que a verdade. O depoimento é extraído do Levantamento de Provas do julgamento de Douglas Walsh, realizado na Corte Escocesa de Sessões, em novembro de 1954.

Frederick W. Franz, na época vice-presidente da Torre de Vigia, foi o primeiro a ser chamado e respondeu às perguntas do advogado do Ministério do Trabalho e Serviço Nacional:

P. Além destas publicações regulares, vocês produzem e lançam vários panfletos e livros teológicos de tempos a tempos?

R. Sim.

P. Poderia me dizer: Estas publicações teológicas e os periódicos quinzenais são usados para a consideração de declarações doutrinárias?

R. Sim.

P. Estas declarações doutrinárias são consideradas como autoritativas dentro da Sociedade?

R. Sim.

P. A aceitação delas é uma questão de opção ou é obrigatória para todos os que são e desejam continuar sendo membros da Sociedade?

R. É obrigatória.

P. Quer dizer então que, efetivamente, haverá na terra uma nova sociedade humana em resultado disso?

R. Sim. Haverá uma sociedade do novo mundo numa nova terra sob os novos céus, tendo os céus e a terra anteriores passado, depois da batalha do Armagedom.

P. Então a população desta nova terra consistirá unicamente de Testemunhas de Jeová?

R. Inicialmente consistirá só de Testemunhas de Jeová. Os membros do restante esperam sobreviver a essa batalha do Armagedom, assim como uma grande multidão destas outras ovelhas. A permanência do restante sobre a terra depois da batalha do Armagedom será temporária, pois eles devem primeiro terminar sua carreira terrestre, fiéis até a morte, mas as outras ovelhas, se continuarem obedecendo a Deus, poderão continuar a viver na terra para sempre.

P. E são estes poderes disciplinares de fato exercidos quando surge a ocasião?

R. Sim, são.

P. Bem, não vou mais lhe fazer perguntas sobre este lado da questão, mas existem ofensas consideradas graves o bastante para ocasionar a expulsão sem esperança de readmissão?

R. Sim. O fato é que a excomunhão em si mesma pode levar à aniquilação do excomungado, se esse indivíduo jamais se arrepender e corrigir seu proceder, e continuar fora da organização. Não haveria para ele esperança alguma de vida no novo mundo, mas existe um proceder que resultaria em excomunhão, da qual se pode ter certeza que o indivíduo jamais retorna, e este é chamado de pecado contra o Espírito Santo.

Depois, o advogado do governo britânico voltou a atenção para certos ensinos que a organização Torre de Vigia com o tempo rejeitou, inclusive alguns envolvendo certas datas específicas. O que dizer de alguém que, na época em que o ensino estava em voga percebesse o erro e em conseqüência não o aceitasse? Que atitude teria a organização em relação a esta pessoa? O depoimento explica:

P. Não foi o caso de o Pastor Russell ter fixado essa data em 1874?

R. Não.

P. Não fixou ele a data antes de 1914?

R. Sim.

P. Que data ele fixou?

R. O fim dos tempos dos gentios ele fixou em 1914.

P. Ele não fixou 1874 como outra data crucial?

R. 1874 costumava ser entendida como a data da Segunda Vinda de Jesus em espírito.

P. O senhor disse ‘costumava ser entendida’?

R. Correto.

P. Isto foi publicado como um fato a ser aceito por todos os que eram Testemunhas de Jeová?

R. Sim.

P. Isso não é mais aceito, é?

R. Não.

P. Ao concluir isso, o Pastor Russell publicou o conceito com base numa interpretação do livro de Daniel, não foi?

R. Em parte.

P. E especificamente Daniel, capítulo 7, versículo 7, e Daniel, capítulo 12, versículo 12?

R. Daniel 7:7 e 12:12. O que o senhor disse, que ele baseou alguma coisa nestes textos?

P. A data dele de 1874 como data crucial e a data da Segunda Vinda de Cristo?

R. Não.

P. E como o senhor disse que ele a fixou; entendi que foi isso o que o senhor disse, será que o entendi mal?

R. Ele não baseou 1874 nestes textos.

P. Ele se baseou nestes textos, associados ao conceito de que a Monarquia Austro-Gótica ocorreu em 539?

R. Sim. 539 era uma data que ele utilizava no cálculo. Mas 1874 não se baseou nisto.

P. Mas era um cálculo que não é mais aceito pelo Corpo de Diretores da Sociedade?

R. Correto.

P. Bem, se estou correto, estou simplesmente curioso para definir precisamente esta posição: tornou-se obrigação das Testemunhas de Jeová aceitar este cálculo errado?

R. Sim.

P. De modo que o que é publicado como verdade hoje pela Sociedade, pode ter de ser considerado errado poucos anos depois?

R. Temos de esperar para ver.

P. E enquanto isso a comunidade das Testemunhas de Jeová fica seguindo um erro?

R. Elas ficam seguindo más interpretações das Escrituras.

P. Um erro?

R. Bem, um erro.

De novo entrou em discussão o grau da autoridade atribuída às publicações da Torre de Vigia. Embora em certo momento o vice-presidente tenha dito que “a pessoa não tem de aceitar compulsoriamente”, o depoimento dele daí em diante reverte à posição anterior, conforme podemos ver:

R. Para tornar-se ministro ordenado da congregação ele deve obter entendimento das coisas contidas nesses livros.

P. Mas, então, o batismo não é a ordenação da pessoa como ministro?

R. Sim.

P. Sendo assim, para o batismo, ela deve conhecer esses livros?

R. Ele tem de entender os propósitos de Deus que são explicados nesses livros.

P. Explicados nesses livros e explicados neles como uma interpretação da Bíblia?

R. Estes livros fornecem uma interpretação de toda a Escritura.

P. Mas, é esta exposição imposta?

R. Eles expõem a Bíblia ou as declarações feitas nela, e o indivíduo examina as declarações e depois as Escrituras para ver se elas têm apoio bíblico.

P. Ele o quê?

R. Ele examina as Escrituras para ver se as declarações têm apoio nas Escrituras. Como disse o apóstolo: “Examinai todas as coisas; apegai-vos ao que é bom.”

R. Entendi qual é a posição – corrija-me, por favor, se eu estiver errado – um membro das Testemunhas de Jeová deve aceitar como interpretação bíblica verdadeira o que é fornecido nos livros a que me referi?

R. Mas ele não faz isso compulsoriamente, ele tem seu direito cristão de examinar as Escrituras para confirmar se isto tem base bíblica.

P. E se ele descobrir que as Escrituras não concordam com os livros ou vice-versa, o que ele faz?

R. Os textos bíblicos estão lá, em apoio da declaração, é por isso que são colocados ali.

P. O que faz um homem se encontrar desarmonia entre a Bíblia e esses livros?

R. É preciso que o senhor me apresente um homem que ache isso, para que eu possa responder, ou ele.

Note-se que Frederick Franz não estava disposto, nem sob juramento, a admitir que a compreensão atual de um assunto pode estar errada, muito embora ele tinha acabado de dizer que o que é publicado como verdade hoje pode ser considerado errado poucos anos depois.

P. O senhor quis dizer que o membro individual tem o direito de ler os livros e a Bíblia e formar sua própria opinião quanto à interpretação apropriada dos Escritos Sagrados?

R. Ele passa a —

P. Poderia dizer sim ou não, e depois explicar melhor?

R. Não. Quer que eu explique melhor agora?

P. Sim, se desejar.

R. O texto bíblico é fornecido lá em apoio da declaração e, portanto, quando o indivíduo consulta as Escrituras e confirma a declaração, ele passa então a ter o conceito bíblico do assunto, o entendimento bíblico, conforme escrito em Atos, capítulo 17, versículo 11, que os bereanos eram mais nobres do que os de Tessalônica, pois recebiam a Palavra com a maior prontidão, e pesquisavam as Escrituras para ver se aquelas coisas eram assim, e nós orientamos a seguir esse nobre proceder dos bereanos, de pesquisar as Escrituras para ver se estas coisas são assim.

P. Uma Testemunha não tem alternativa a não ser aceitar como compulsórias e obedecer às instruções publicadas em “A Sentinela”, no “Informante” ou na “Despertai”, ela tem?

R. Ela deve aceitá-las.

P. Há alguma esperança de salvação para o homem que depende apenas de sua Bíblia, quando ele está numa situação no mundo em que não é possível obter os tratados e publicações de sua Corporação?

R. Ele estará dependente da Bíblia.

P. Será ele capaz de interpretá-la corretamente?

R. Não.

P. Não pretendo ficar trocando textos bíblicos com o senhor, mas não disse Jesus, “Aquele que crê em mim, viverá, e aquele que crê em mim jamais morrerá”?

R. Sim.

A Fonte Apropriada

O próximo a ser chamado foi o conselheiro jurídico da Sociedade, Hayden C. Covington:

P. Não é vital falar a verdade em assuntos religiosos?

R. Certamente é.

P. Há, em sua opinião, margem para que uma religião mude suas interpretações dos Escritos Sagrados de tempos a tempos?

R. Em nossa visão, há todas as razões para uma mudança na interpretação da Bíblia. Nossa visão se torna mais clara à medida que vemos o tempo cumprir as profecias.

P. Os senhores já anunciaram – perdoe-me a expressão – falsas profecias?

R. Não acho que anunciamos falsas profecias, houve declarações que eram errôneas, é assim que coloco, e equivocadas.

P. É uma questão bem vital, na situação atual do mundo, saber, caso esta profecia esteja corretamente interpretada, quando ocorreu a Segunda Vinda de Cristo?

R. Isto é verdade, e sempre nos esforçamos em verificar se estamos com a verdade, antes de anunciá-la. Pautamo-nos pelas melhores informações que temos, mas não podemos esperar até ficarmos perfeitos, porque se esperássemos até ficarmos perfeitos jamais poderíamos falar.

P. Prossigamos nisso um pouco mais. Foi promulgado como um fato, no qual todos os membros das Testemunhas de Jeová tinham de crer, que a Segunda Vinda do Senhor ocorreu em 1874?

R. Não estou familiarizado com isso. O senhor está falando de um assunto que desconheço.

P. O senhor ouviu a evidência do Sr. Franz?

R. Ouvi o Sr. Franz depor, mas não estou familiarizado com o que ele disse sobre isso, quero dizer, o assunto sobre o qual ele estava falando, assim não posso dizer mais do que o senhor, tendo ouvido o que ele disse.

P. Deixa-me fora disso?

R. Essa é a fonte de minha informação, o que ouvi no tribunal.

P. O senhor estudou a literatura do seu movimento?

R. Sim, mas não toda. Não estudei os sete volumes de “Estudos das Escrituras”, e não estudei este assunto que o senhor está mencionando agora sobre 1874. Não estou familiarizado com isso de modo algum.

P. Supõe, à base de minha informação, que a Sociedade anunciou oficialmente que a Segunda Vinda de Cristo foi em 1874?

R. Tomando esta suposição como um fato, é uma afirmação hipotética.

P. Isso foi a publicação de uma falsa profecia?

R. Isso foi a publicação de uma falsa profecia, foi uma afirmação falsa ou uma declaração errônea do cumprimento de uma profecia que era falsa ou errônea.

P. E todas as Testemunhas de Jeová tinham de acreditar nisso?

R. Sim, porque o senhor deve entender que precisamos ter unidade, não podemos estar desunidos, com muitas pessoas indo para todas as direções, um exército deve marchar alinhado.

P. Vocês não acreditam nos exércitos do mundo, acreditam?

R. Acreditamos no exército cristão de Deus.

P. Acreditam nos exércitos do mundo?

R. Nada temos a dizer sobre isso, não pregamos contra eles, dizemos simplesmente que os exércitos do mundo, assim como as nações do mundo atual, são parte da Organização de Satanás, e nós não tomamos parte dela, mas não dizemos que as nações não podem ter seus exércitos, não pregamos contra a guerra, apenas reivindicamos isenção dela, só isso.

P. Voltemos ao assunto agora. Foi promulgada uma falsa profecia?

R. Concordo com isso.

P. Ela tinha de ser aceita pelas Testemunhas de Jeová?

R. Está correto.

P. Se um membro das Testemunhas de Jeová adotasse a posição pessoal de que essa profecia estava errada e dissesse isso, ele seria desassociado?

R. Sim, se dissesse isso e persistisse em criar problemas, porque se a organização inteira acredita numa coisa, ainda que errônea, e alguém, por conta própria começa a divulgar suas idéias, então haverá desunião e problemas, não pode haver harmonia nem marcha alinhada. Quando vem uma mudança, ela deve partir da fonte apropriada, da dianteira da organização, o corpo governante, não de baixo para cima, porque cada um teria idéias próprias e a organização se desintegraria e iria em mil direções diferentes. Nosso objetivo é ter unidade.

P. Unidade a todo custo?

R. Unidade a todo custo, porque cremos e temos certeza que Jeová Deus está usando nossa organização, o corpo governante de nossa organização, para dirigi-la, mesmo que de vez em quando se cometam erros.

P. Unidade baseada na aceitação obrigatória de falsa profecia?

R. Admite-se que isso é verdade.

P. E a pessoa que expressou sua opinião, conforme o senhor diz, de que isso estava errado, e foi desassociada, estaria ela violando o Pacto, sendo ela batizada?

R. Está correto.

P. E como o senhor disse ontem expressamente, ela seria merecedora da morte?

R. Acho que —-

P. Poderia dizer sim ou não?

R. Digo sim, sem hesitação.

P. O senhor chama isso de religião?

R. Certamente é.

P. O senhor chama isso de cristianismo?

R. Certamente chamo.

P. Com relação aos erros, vocês foram extensamente analisados quanto às diferenças de conceito que aconteceram nas exposições oficiais das Escrituras feitas ao longo dos anos, desde a fundação da Sociedade, e penso que o senhor concordou que tem havido diferenças.

R. Sim.

P. O senhor também concordou bem francamente que as pessoas que, em qualquer momento, não estiverem dispostas a aceitar as interpretações oficiais, estão passíveis de expulsão pela Sociedade, com todas as conseqüências espirituais que isso possa acarretar?

R. Sim, eu disse isso e digo novamente.

O depoimento de Covington em favor da Torre de Vigia é certamente significativo.

1. Como assessor jurídico e ex-vice-presidente da Torre de Vigia, ele admitiu que nunca tinha sequer lido os sete volumes de Estudos das Escrituras, sendo que todos os quais, exceto o último, foram escritos por C. T.  Russell, o fundador da Sociedade.

2. Ele concordou que a Sociedade era culpada de publicar e promulgar “falsa profecia”.

3. A unidade pode exigir de um cristão que aceite como verdade o que ele acredita que a Palavra de Deus mostra ser falso.

Assim, segundo Covington, independentemente do que leia na Bíblia, um cristão não pode expressar isso se não coincidir com os ensinos oficiais da organização. Ele deve esperar que a “fonte apropriada”, o Corpo Governante lhe diga o que é aceitável para crer e considerar. Uma “unidade a todo custo”, ainda que baseada na “aceitação obrigatória de falsa profecia” sob penalidade de desassociação e morte eterna para quem não acatar isso, não parece ser um ensino cristão. Com efeito, embora alguém possa ler as próprias palavras do Amo, por escrito, ele não pode aceitá-las ou agir de acordo com elas se o alegado “escravo” do Amo lhe diz algo diferente. Este é, em termos claros, o que a Torre de Vigia tem exigido de seus seguidores desde o tempo de seu segundo presidente, J. F. Rutherford.

Não admira que o advogado tenha perguntado a Covington: “O senhor chama isso de cristianismo?” Em parte alguma as Escrituras apresentam a ideia de que a verdadeira unidade cristã é criada, sustentada, protegida e forçada por alguma instituição humana. Onde na Bíblia podemos encontrar um princípio ou declaração de que Deus exige “unidade a todo custo” ou com o sacrifício da verdade? Poderíamos encontrar esses princípios nos excessos da Inquisição Católica, não na Bíblia.

O último a depor foi Grant Suiter, que era Secretário-Tesoureiro da Sociedade Torre de Vigia, e ele fez as seguintes declarações sobre a posição oficial:

P. Qual é a posição de um servo de companhia* quanto a isso?

R. Ele tem de preencher os requisitos a que nos referimos anteriormente, maturidade, discernimento e compreensão espiritual e a capacidade de compreender a congregação. Ele tem de passar por esse treinamento já mencionado, na Escola do Ministério Teocrático, assumir a liderança no próprio ministério de campo, estar habilitado para ensinar e ter todos as outras qualificações que as Escrituras determinam. Como o senhor pode ver, o homem não pode estabelecer requisitos que as Escrituras não estabelecem.

P. Isso em termos gerais. Mas, para chegar à prática efetiva ele deve assistir à Escola do Ministério Teocrático, não é?

R. Sim.

P. E lá ele encontra uma biblioteca?

R. Sim.

P. Não se espera que ele se familiarize com as publicações da Sociedade?

R. Certamente ele deve.

P. Ele pode, de alguma maneira, na opinião das Testemunhas de Jeová, ter um entendimento das Escrituras fora das publicações das Testemunhas de Jeová?

R. Não.

P. Só por meio das publicações é que ele pode ter um entendimento correto das Escrituras?

R. Está correto.

P. Isso não é arrogância?

R. Não.

P. O senhor ouviu as evidências de que 1874 mostrou ser errada como data material e crucial, e de que 1925 era uma data errada. Nestes dois itens, a aceitação, a aceitação absoluta como Verdade era imposta a todas as Testemunhas de Jeová da época?

R. Está correto.

P. O senhor concorda que isso foi uma aceitação do que era falso?

R. Não, não totalmente. Os pontos que estavam errados eram falsos porque estavam errados, mas o resultado geral é que é o importante. Ao longo de todos estes anos do ministério das Testemunhas de Jeová, desde a formação da Sociedade, a corporação de Pensilvânia, houve uma obra constante de voltar os corações e mentes das pessoas para a Palavra de Deus e seus preceitos justos, e de prover-lhes força espiritual para tomar posição em favor do que sabem ser correto, para enaltecer o nome de Jeová e anunciar o seu Reino. Não há qualquer comparação entre os pontos incidentais que foram corrigidos e a importância da coisa principal, a adoração de Jeová Deus. Isso foi inculcado nas mentes das Testemunhas de Jeová e de um número incontável de pessoas ao longo de todos estes anos.

[*Nota do tradutor: Nome que se dava antigamente ao principal responsável por uma congregação das Testemunhas de Jeová.]

Suiter afirmou: “O homem não pode estabelecer requisitos que as Escrituras não estabelecem.” Porém, o próprio depoimento dele, bem como o dos outros dois representantes, é que “só por meio das publicações da Torre de Vigia é que se pode ter o entendimento correto das Escrituras.” Embora falsas profecias tenham sido publicadas, “a aceitação absoluta (delas) como Verdade foi imposta a todas as Testemunhas de Jeová da época”, e ele declarou firmemente que esta imposição está correta. Suiter asseverou que “o resultado geral é que é o importante”, de modo que a organização não deveria ser julgada de modo negativo porque promulgou erros em “pontos incidentais”, já que a “coisa principal, a adoração de Jeová Deus” foi divulgada. Não seria justo igualar a importância desses erros à mensagem principal. “Não há qualquer comparação”, disse Suiter.

Esta última declaração não está errada em si mesma. Mas o próprio depoimento de Suiter, assim como os dos outros dois homens, mostra que, enquanto a organização pede essa tolerância e tratamento equilibrado para si mesma, como seu devido direito, ela nega isso a outros. Ao mesmo tempo em que pede tolerância para si, ela não a concede a nenhum membro que faça objeção a ensinos errôneos, e que não possa aceitá-los. Para estes o resultado é a desassociação, ser cortado como alguém merecedor da morte. O caso é esse, não importa o quanto a pessoa aceite o ponto “principal” da mensagem ou a sinceridade e devoção dela em “adorar a Jeová Deus”. Não, a pessoa deve aceitar a mensagem inteira, o pacote completo, do jeito que o mensageiro organizacional ache bom apresentar, incluindo os erros, sendo a expulsão a única alternativa. A organização minimiza como apenas “incidentais” os erros que ela publica, e porém, se esses mesmos erros não forem aceitos ou houver objeções, eles assumem, paradoxalmente, uma importância enorme, suficiente para dar base à ação de desassociar pessoas.

Esta ideia faz parecer que Deus fica descontente com qualquer pessoa que não aceitar os erros que um suposto mensageiro fale em seu nome, ou se desagrada em que a pessoa insista em ‘examinar todas as coisas; apegar-se ao que é bom”, provindo genuinamente de Deus. Se esta pessoa for expulsa da organização Torre de Vigia, Deus a julgará como indigna da vida. Incrivelmente, os que deram esse depoimento evidentemente não viram qualquer inconsistência em tudo isso.

Tudo isso faz lembrar o que diz Provérbios 20:23: “Dois tipos de pesos são algo detestável para Jeová, e uma balança fraudulenta não é boa.” (Tradução do Novo Mundo) Parece razoável que este texto não se aplica só a transações comerciais, mas especialmente a transações envolvendo interesses espirituais, no qual os homens aplicam um padrão para si mesmos ao reivindicar tolerância e um padrão muito diferente para os outros. Jesus disse: “Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” (Mat. 7:2) Claramente, padrões duplos não são aceitáveis ​​a Deus.

Jó 13:7-11 tem algo a dizer sobre as pessoas que distorcem a verdade, com o fim de defender Deus:

Acaso falareis injustiça para com o próprio Deus, E falareis dolo para ele? Sereis parciais com ele, Ou contendereis em juízo pelo [verdadeiro] Deus? Porventura seria bom que ele vos sondasse? Ou o ludibriareis assim como se ludibria o homem mortal? Ele decididamente vos repreenderá. Se tentardes às escondidas ser parciais; Não vos assustará a sua própria dignidade, E não cairá sobre vós o próprio pavor dele? (Tradução do Novo Mundo).

Vocês vão falar com maldade em nome de Deus? Vão falar enganosamente a favor dele? Vão revelar parcialidade por ele? Vão defender a causa a favor de Deus? Tudo iria bem, se ele os examinasse? Vocês conseguiriam enganá-lo, como podem enganar os homens? Com certeza ele os repreenderia, se no íntimo vocês fossem parciais. O esplendor dele não os aterrorizaria? O pavor dele não cairia sobre vocês? (Nova Versão Internacional).

Falareis por Deus injustamente, E usareis de engano em nome dele? Sereis parciais por ele? Contendereis a favor de Deus? Estais prontos a que ele vos esquadrinhe? Ou zombareis dele, como quem zomba de um homem? Certamente vos repreenderá, Se em oculto vos deixardes levar de respeitos humanos. Porventura não vos amedrontará a sua majestade, E não cairá sobre vós o seu terror? (Sociedade Bíblica Britânica).

Porventura por Deus falareis perversidade e por ele falareis mentiras? Fareis acepção da sua pessoa? Contendereis por Deus? Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como se zomba de algum homem? Certamente vos repreenderá, se em oculto fizerdes acepção de pessoas. Porventura não vos espantará a sua alteza, e não cairá sobre vós o seu terror? (Almeida Revisada e Corrigida).

Para defender Deus, ireis dizer mentiras. Será preciso enganardes em seu favor? Tereis, para com ele, juízos preconcebidos, e vos arvorais em ser seus advogados? Seria, porventura, bom que ele vos examinasse? Iríeis enganá-lo como se engana um homem? Ele não deixará de vos castigar, se tomardes seu partido ocultamente. Sua majestade não vos atemorizará? Seus terrores não vos esmagarão? (Tradução Ecumênica).

Será que para defender a Deus vocês vão dizer mentiras? Vão falar palavras enganosas a favor dele? Será que vocês vão ficar do lado dele? Vão defender a causa dele no tribunal? Por acaso, seria bom que ele os examinasse? Vocês pensam que podem enganar a Deus como enganam as pessoas? Se vocês forem injustos, mesmo em segredo, ele certamente os repreenderá; a sua grandeza os encherá de medo, e os seus terrores cairão sobre vocês. (A Bíblia na Linguagem de Hoje).

Comentário Keil-Delitzsch ao Antigo Testamento, Vol. 4, sob o verbete “Jó”, páginas 209, 210 (em inglês), fez o seguinte comentário sobre Jó 13:7-11, tratando do falso testemunho dado pelos companheiros de Jó:

A defesa que eles fizeram de Deus – este é a ideia desta estrofe – é uma injustiça para com Jó, e um desserviço a Deus, que não pode escapar da punição clara por parte dele. Eles se apresentam como advogados de Deus … e, ao mesmo tempo, aceitam Sua pessoa, … ou enaltecem, ou seja, favorecem, ou dão preferência à pessoa dele, mas ao custo da verdade: eles são parciais em seu favor, como se lembra e se dá a entender duas vezes a eles… Eles sabem que Jó não é um pecador flagrante, porém, enganam-se com a ideia de que ele é, e por causa dessa ilusão assumem a causa de Deus contra ele. Essa perversão da verdade in majorem Dei gloriam é uma abominação para Deus. Quando Ele os escrutina, seus advogados… vão se conscientizar disso; será que se mofa de Deus como alguém mofa de homens mortais?… Deus não fica satisfeito com latreia [grego, ‘serviço sagrado’] (João xvi. 2) que dá a honra a Ele, mas não com a verdade, esse zelos Theou all ou kat epignosin [grego: ‘zelo de Deus, mas não de acordo com o conhecimento exato’] (Rom x. 2), esse tipo de advocacia contrária ao melhor conhecimento e consciência de alguém, em que se pensa que o fim justifica os meios. Esse tipo de defesa deve ser exposta à vergonha e frustrada quando Aquele que não precisa da ocultação da verdade para Sua justificação se manifestar… e por sua influência direta expor toda a mentira à luz. Este é o mais ousado pensamento imaginável, que o que não se atreve a ter respeito até mesmo para com a pessoa de Deus, quando se obriga a mentir para si mesmo. Além do que é também auto-evidente. Pois Deus e a verdade nunca podem ser antagônicos.

Não só no caso Walsh, como também muitas outras vezes a Torre de Vigia conclamou as Testemunhas de Jeová a fazerem pouco caso de seus erros, afirmando que estes são contrabalançados e superados por outros fatores mais favoráveis. A revista A Sentinela de 1º de agosto de 1982 contém uma série de artigos que defendem claramente esse padrão. Entretanto, a organização não o aplica às suas ações para com os que estão sob sua autoridade. Se estas pessoas promoverem qualquer conceito, ainda que trivial, que não coincida com os ensinamentos da organização, isso não é considerado só como um erro humano, que pode ser corrigido com o tempo, mas, em vez disso é considerado como base para desassociação. O fato de o “resultado geral” mostrar que o indivíduo discordante manifesta claramente genuínas qualidades cristãs não é considerado relevante. A pessoa deve concordar totalmente com a organização. As palavras de Jesus deixam claro que ele não aprova essa aplicação desigual de padrões.

A Nova Luz

Na revista A Sentinela de 1º de agosto de 1982, pág. 30, a Torre de Vigia rejeitou o princípio patriótico: “Nossa pátria!… que ela sempre tenha razão; mas nossa pátria acima de tudo, tenha ela razão ou não.”, dizendo: “Mas isso não se dá com as testemunhas cristãs de Jeová!” Todavia, conforme o testemunho acima de Frederick Franz, Hayden Covington e Grant Suiter prova, a liderança da organização exige que as Testemunhas endossem esta ideia: “A Torre de Vigia!… que ela sempre tenha razão; mas a Torre de Vigia acima de tudo, tenha ela razão ou não.”

Charles T. Russell teria ficado bem surpreso se ouvisse depoimentos como os transcritos acima. Na revista A Torre de Vigia de Sião de setembro de 1893, página 264, ele escreveu:

O esforço para obrigar todos os homens a pensarem da mesma maneira em todos os assuntos culminou na grande apostasia e no desenvolvimento do grande Sistema Papal; e desse modo o ‘evangelho’, a ‘uma só fé’ que Paulo e os outros apóstolos estabeleceram, foi perdida – enterrada sob a massa de decretos não inspirados de papas e concílios. A unidade da igreja primitiva – baseada no evangelho simples e mantida unicamente por meio do amor – deu lugar à servidão à igreja de Roma – uma servidão dos filhos de Deus sob a qual ainda padecem as multidões. O movimento da Reforma no século dezesseis surgiu como um esforço para recuperar a liberdade de consciência; mas, iludido pela ideia de um credo elaborado… formou outros sistemas de escravidão muito similares aos do Papado.

Curiosamente, a princípio Russell não concordava com o que depois se tornou prática costumeira na Torre de Vigia com relação à “nova luz”. Na página 188 da edição de A Torre de Vigia de Sião de fevereiro de 1881, ele escreveu:

Se estivéssemos seguindo um homem isto seria sem dúvida diferente conosco; indubitavelmente uma ideia humana contradiria a outra e o que era luz um, dois ou seis anos atrás seria  agora considerado como escuridão: Mas com Deus não há variação, nem virada da sombra, e assim é com a verdade; qualquer conhecimento ou luz que vêm de Deus deve ser como seu autor. Uma nova visão da verdade nunca pode contradizer uma verdade anterior. A “nova luz” nunca extingue a velha “luz”, e sim a complementa. Se você estivesse iluminando um edifício com sete lamparinas, você não iria apagar uma a cada vez que acendesse outra, mas adicionaria uma luz à outra e elas estariam em harmonia para, desta forma, aumentar a luz: Assim é com a luz da verdade, o verdadeiro aumento se dá por adicionar, não por substituir uma por outra.

A Torre de Vigia não endossa este conceito hoje em dia. Em vez disso, promove a doutrina da “revelação progressiva”, um conceito particularmente obscuro que nunca é claramente definido e jamais é cuidadosamente analisado. Isso normalmente significa uma compreensão organizacional progressiva da Bíblia por meio da aplicação do raciocínio, estudo, e algum tipo de orientação indefinida do espírito santo. Afirma-se que este conceito é baseado em Prov. 4:18, que diz: “Mas a vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido.” (Tradução do Novo Mundo).

Entretanto, um exame contextual deste texto mostra que não há base para a interpretação da Torre de Vigia. O escritor de Provérbios estava estabelecendo um simples contraste entre o que acontece com os ímpios, de um lado e os justos do outro. (Veja Provérbios 4: 14-19) Este texto não tem relação alguma com “revelação de novas verdades” a indivíduos ou a uma organização.

A revista A Sentinela de 1º de agosto de 1982 afirmou na página 17:

As profecias esclarecem-se para nós, ao passo que o espírito santo de Jeová lança luz sobre elas e à medida que se cumprem nos acontecimentos mundiais ou no que acontece com o povo de Deus.

E quanto às profecias que foram rejeitadas depois? De que maneira foram elas esclarecidas à Torre de Vigia pelo espírito de Deus? Não eram elas apenas produtos do desejo de acreditar? Não dá a aplicação que a Torre de Vigia faz de Prov. 4:18 base para justificar virtualmente qualquer mudança de direção, não importa quão radical seja ela? Não é verdade que sempre que o novo conhecimento era revelado aos servos de Deus na Bíblia, ele não contradizia o conhecimento anterior, mas o completava e cumpria? E não é verdade que nenhum verdadeiro servo de Deus é descrito na Bíblia como tendo feito predições falsas? Eles cometeram muitos erros, é verdade, mas nunca ao emitir profecias em nome de Deus.

A liderança da Torre de Vigia às vezes faz uso de ilustrações para justificar suas muitas predições fracassadas e mudanças doutrinárias. A contida na revista A Sentinela de 1º de agosto de 1982, página 27, é um exemplo disso:

No entanto, a alguns talvez tem parecido que a vereda nem sempre seguiu reto em frente. Ocasionalmente, as explicações dadas pela organização visível de Jeová têm indicado ajustes que aparentemente voltam a pontos de vista anteriores. Mas, na realidade, não tem sido assim. Poderia ser comparado ao que se conhece em náutica como “bordejar”. Manobrando as velas, os marujos podem fazer o barco ir da direita para a esquerda, em ziguezague, mas sempre avançando em direção ao seu destino, apesar de ventos contrários.

Será que o navio da Torre de Vigia não navegou em círculos, em alguns casos? Não houve um giro completo em relação ao entendimento de quem são as “autoridades superiores”? E o entendimento de quem deve ser chamado de “ministro ordenado”? Como se poderia dizer que estas mudanças doutrinárias não voltaram a “pontos de vista anteriores”?

Na ilustração os marinheiros estabelecem o rumo do navio. Quem é que faz isso no caso da Torre de Vigia? Não é esta ilustração um exercício de sofisma? Não se enquadraria isso na descrição dada em Provérbios 3:32: “Porque a pessoa sinuosa é algo detestável para Jeová, mas ele tem intimidade com os retos.”? E não faz lembrar a descrição do apóstolo Paulo em Efésios 4:14: “Não sejamos mais pequeninos, jogados como que por ondas e levados para cá e para lá por todo vento de ensino, pela velhacaria de homens, pela astúcia em maquinar o erro.”?

Embora referindo-se a outras religiões, a revista A Sentinela de 15 de abril de 1977, pág. 246 apresenta uma boa descrição de andar em círculos:

É assunto sério representar Deus e Cristo de um modo, e depois achar que nosso entendimento dos principais ensinos e das doutrinas fundamentais das Escrituras estava errado, e, daí, retornar às mesmas doutrinas que, por anos de estudo, cabalmente verificamos ser erradas. Os cristãos não podem vacilar — ser indecisos — a respeito de ensinos fundamentais. Que confiança se pode ter na sinceridade ou no critério de tais pessoas?

Ilustrando bem como o princípio da “crescente luz” funciona, a edição de  1º de setembro de 1979 de A Sentinela  disse em páginas 23, 24:

Por causa desta esperança, o “escravo fiel e discreto” tem alertado a todos os do povo de Deus ao sinal dos tempos, indicando a proximidade do governo do Reino de Deus. Neste respeito, porém, é preciso observar que este “escravo fiel e discreto” nunca foi inspirado, nunca foi perfeito. Os escritos feitos por certos membros da classe do “escravo”, que passaram a constituir a parte cristã da Palavra de Deus, foram inspirados e são infalíveis, mas isto não se dá com outros escritos desde então. O que foi publicado nos dias de Charles Taze Russell, primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, dos E. U. A., não era perfeito; nem o que foi publicado nos dias de J. F. Rutherford, o presidente que lhe sucedeu. A crescente luz sobre a Palavra de Deus, bem como os fatos da história, exigiram repetidas vezes ajustes de uma espécie ou de outra, até o tempo atual. Mas, não nos esqueçamos de que a motivação deste “escravo” sempre foi pura, altruísta; sempre foi bem-intencionada. Além disso, as palavras encontradas em Romanos 8:28 também são apropriadas aqui: “Deus faz que todas as suas obras cooperem para o bem daqueles que amam a Deus, os que são os chamados segundo o seu propósito.” Na realidade, quaisquer ajustes que tiveram de ser feitos no entendimento ofereceram a oportunidade para os servidos por este “escravo” mostrarem lealdade e amor, a espécie de amor que distinguiria os seguidores de Jesus, conforme ele disse. (João 13:34, 35; veja 1 Pedro 4:8.) Para os que realmente amam a lei de Deus, não há pedra de tropeço. — Sal. 119:165.

Não é este praticamente o mesmo argumento usado por Russell ao justificar o fracasso óbvio da maioria de suas predições, a saber, que isso “certamente teve um efeito muito estimulante e santificador sobre milhares, todos os quais podem louvar ao Senhor – até mesmo pelo erro”? Esta é mais uma prova de que, ainda que as Testemunhas de Jeová tenham sido obrigadas a acreditar em muitas doutrinas que mudaram ao longo dos anos, sempre que as doutrinas se tornarem insustentáveis a Torre de Vigia irá se sair com a afirmação de que o “escravo fiel e discreto” não é perfeito nem infalível, mas deve progredir com o aumento da “nova luz”.

Avisos Contra os Falsos Profetas

Algumas declarações oficiais da Torre de Vigia sobre os falsos profetas são encontrados na página 3 da edição de 1º  de fevereiro de 1992 de A Sentinela, no artigo “Cuidado Com os Falsos Profetas!”:

Quando se pensa em profetizar, talvez a primeira coisa que vem à mente seja predizer o futuro. Este era, de fato, um aspecto do trabalho dos profetas de Deus na antiguidade, mas não era o trabalho principal.

Daí, o artigo tenta igualar um falso profeta com alguém que não entende e ensina falsidade sobre o “Reino”. Embora isso possa ser um teste de um falso profeta, desconsidera-se o teste da Bíblia de um falso profeta, registrado em Deut. 18:20-22, no qual a Torre de Vigia obviamente falhou. Focalizar apenas o argumento que aparece na revista A Sentinela evita ter de considerar as muitas predições da Torre de Vigia que fracassaram.

Como visto acima, a edição de 1º de setembro de 1979 apresentou outro argumento que impediria a Torre de Vigia de ser classificada como um falso profeta:

Mas, não nos esqueçamos de que a motivação deste “escravo” sempre foi pura, altruísta; sempre foi bem-intencionada.

Onde é que lemos na Bíblia que “motivação pura” tem algum valor para determinar se as palavras de um profeta são verdadeiras ou falsas? A própria Torre de Vigia diz com frequência que Deus vai destruir os membros de todas as outras religiões, exceto as Testemunhas de Jeová, não importa quão sinceros eles sejam, uma vez que o padrão de Deus é a Verdade, não a sinceridade. Isso não é um padrão duplo de pensamento? Se uma Testemunha de Jeová discordar publicamente de algum ensino da Torre de Vigia, não estará ela sujeita à expulsão (desassociação), não importa quão certa ela esteja, ou quão puras sejam as motivações dela?

Com relação a deturpações da Bíblia, o livro É Esta Vida Tudo o Que Há?, publicado em 1975, disse na página 46, sem levar em conta as motivações do deturpador:

Sabendo disso, o que fará você, leitor? É evidente que o verdadeiro Deus, sendo “Deus da verdade” e odiando a mentira, não considerará com favor os que se apegam a organizações que ensinam a falsidade. (Salmo 31:5; Provérbios 6:16-19; Revelação 21:8) Realmente, gostaria mesmo de se associar com uma religião que não o tratou com honestidade?

Uma Profecia Falsa Mais Recente

A organização Torre de Vigia muitas vezes fez comentários sobre os capítulos 11 e 12 do livro bíblico de Daniel. A organização afirma que os que são da “classe ungida” cumprem Daniel 12:3, 4, onde se lê na Tradução do Novo Mundo:

“E os perspicazes raiarão como o resplendor da expansão; e os que levam muitos à justiça, como as estrelas por tempo indefinido, para todo o sempre. E quanto a ti, ó Daniel, guarda em segredo as palavras e sela o livro até o tempo do fim. Muitos [o] percorrerão, e o [verdadeiro] conhecimento se tornará abundante.”

A Torre de Vigia acredita que os que são Testemunhas de Jeová da “classe ungida” são “os perspicazes”, conforme se mostra na edição de 1º de julho de 1987 da revista A Sentinela, que disse que, nas páginas 23-5, debaixo dos subtítulos “Brilhando Como Iluminadores” e “O Verdadeiro Conhecimento se Tornará Abundante”:

Mas a profecia diz a respeito daqueles que permanecem fiéis: “E os perspicazes raiarão como o resplendor da expansão; e os que levam muitos à justiça, como as estrelas por tempo indefinido, para todo o sempre.” (Daniel 12:3) “Os perspicazes”, evidentemente, são os fiéis membros remanescentes da ungida congregação cristã, os quais estão “cheios do conhecimento exato da sua vontade, em toda a sabedoria e compreensão espiritual”… Desde 1919, embora ‘a própria escuridão cubra a terra e densas trevas os grupos nacionais’, eles estão “brilhando como iluminadores” no meio da humanidade. (Isaías 60:2; Filipenses 2:15; Mateus 5:14-16) ‘Brilham tão claramente como o sol, no reino de seu Pai.’ — Mateus 13:43.

Como é que mostram que são “os que levam muitos à justiça”? (Daniel 12:3) Graças ao fiel testemunho que dão, os últimos do Israel espiritual foram ajuntados e declarados justos para a vida nos céus. Além disso, tem-se manifestado uma grande multidão de “outras ovelhas”, afluindo à luz provinda de Jeová conforme refletida pelo ‘povo de Daniel’…

O anjo deu então palavras de conselho a Daniel: “E quanto a ti, ó Daniel, guarda em segredo as palavras e sela o livro até o tempo do fim. Muitos o percorrerão, e o verdadeiro conhecimento se tornará abundante.” (Daniel 12:4) Estas palavras atraem a nossa atenção. Embora a profecia do anjo, a respeito dos dois reis, começasse a se cumprir há uns 2.300 anos, o entendimento dela se tornou claro principalmente durante “o tempo do fim”, em especial desde 1919. Nestes dias, ‘muitos percorrem’ a Bíblia, e o verdadeiro conhecimento deveras tornou-se abundante. Este é o tempo em que Jeová tem dado conhecimento aos entendidos…

Portanto, mantenha-se achegado aos “perspicazes”, que ‘raiam como o resplendor da expansão’.

O trecho acima quer dizer que durante o tempo do fim, o verdadeiro conhecimento se tornaria abundante devido ao ensino vindo dos “perspicazes”. Este verdadeiro conhecimento incluiria especialmente a compreensão do livro de Daniel em si, já que Dan. 12:9, 10 diz:

E ele prosseguiu, dizendo: “Vai, Daniel, porque as palavras são guardadas em segredo e seladas até o tempo do fim. Muitos se purificarão, e se embranquecerão, e serão refinados. E os iníquos certamente agirão iniquamente, e absolutamente nenhum iníquo entenderá; mas os perspicazes entenderão.

Nesta mesma linha de raciocínio, o livro Seja Feita a Tua Vontade na Terra (publicado em português em 1962), disse:

O livro de Daniel foi aberto e o selo quebrado para nós os que vivemos neste “tempo do fim”. (pág. 304, veja também A Sentinela de 1º de abril de 1960, pág. 222 [em inglês].).

Somente aos biblicamente inteligentes será permitido entender o livro de Daniel e todo o resto da Bíblia (pág. 308, veja também A Sentinela de 15 de abril de 1960, pág. 250 [em inglês]).

A revista A Sentinela de 15 de novembro de 1969 apresentou todas estas idéias, afirmando que o livro de Daniel havia sido “aberto”:

O profeta Daniel predisse os tempos momentosos em que vivemos agora… O anjo disse-lhe que o cumprimento era segredo e ficaria selado até o “tempo do fim”, e é neste que nos encontramos agora. Quão emocionado Daniel se sentiria se pudesse viver hoje, quando seu livro de profecia é aberto ao entendimento humano! Quanto ele se alegraria e deleitaria de ter chegado a este tempo na história, para a culminação de suas palavras proféticas! Por isso, deve deleitar-nos muito examinarmos as palavras de Daniel para os nossos dias, sentindo-nos especialmente privilegiados de compreender o que o próprio Daniel não pôde discernir. (pág. 680).

Alguns dos servos de Jeová talvez palestrarão com ele [Daniel] sobre o conteúdo do livro ‘Seja Feita a Tua Vontade na Terra’, que contém uma consideração pormenorizada de muitas das profecias de Daniel. Ele estará bem interessado em saber como se cumpriram as suas maravilhosas profecias, para a glória de Deus. Nós estaremos interessados ​​em suas reações e nos alegraremos com ele na sua sorte.

Sim, o companheiro angélico de Miguel indicou uma grande obra para os verdadeiros seguidores do messiânico Príncipe Miguel neste “tempo do fim”. Aqui está a profecia: “Os perspicazes raiarão como o resplendor da expansão; e os que levam muitos à justiça, como as estrelas por tempo indefinido, para todo o sempre.” (Daniel 12:3) Aqui se prediz, pois, o nosso trabalho para hoje. Os espiritualmente inteligentes precisam brilhar com a luz celestial. As testemunhas de Jeová têm raiado como o sol com as boas novas do recém-nascido reino de Deus, sol que não deixa nada ocultar-se do seu calor em volta do globo. Na escuridão de meia-noite deste mundo, temos de brilhar como estrelas de luz, para ajudar a muitos mais das “outras ovelhas” a se voltarem para a justiça, que é a adoração e o ministério do grande Deus, Jeová. Sendo que vivemos neste “tempo do fim”, desde que Miguel, o Grande Príncipe se pôs de pé, vivemos num tempo mais favorecido do que o de Daniel. Abriu-se o livro de Daniel. Benditos os que agem em harmonia com as palavras de Daniel para os nossos dias! (pág. 692).

O livro O Reino de Deus — Nosso Iminente Governo Mundial, publicado em 1977, disse:

… podemos reconhecer que vivemos num tempo favorecido. Desde o fim dos tempos dos gentios, em 1914, vivemos no “tempo do fim”. E tempo para crescente esclarecimento espiritual, para muitas das profecias não explicadas da Bíblia Sagrada, inclusive a profecia de Daniel, serem abertas para a nossa mente e o nosso coração. Nosso é o tempo indicado pelo anjo, quando disse a Daniel: “E quanto a ti, ó Daniel, guarda em segredo as palavras e sela o livro até o tempo do fim. Muitos o percorrerão, e o verdadeiro conhecimento se tornará abundante.” — Daniel 12:4. (Pág. 125)

Daniel ‘não podia entender’ o que ouvia, nos seus dias. Mas nós, atualmente, neste “tempo do fim”, desde 1914, podemos entender. (Pág. 132)

Será que a organização Torre de Vigia entende realmente o que o livro de Daniel diz sobre o nosso período de tempo, que a organização diz ser o tempo do fim? Numa série de artigos sobre as profecias de Daniel capítulos 11 e 12, a revista A Sentinela de 1º de julho de 1987 disse na página 11:

Há muitos anos, Jeová revelou o desenrolar histórico de acontecimentos que levariam a ele trazer paz à terra. Por meio dum anjo, ele falou ao seu fiel profeta Daniel sobre a “parte final dos dias”, o nosso tempo. (Daniel 10:14) Ele predisse a atual rivalidade das superpotências e mostrou que ela acabará em breve dum modo que nenhuma dessas duas potências suspeita…

Em seguida, os artigos falavam sobre alguns dos cumprimentos de Daniel 11, encaminhando o leitor interessado ao livro ‘Seja Feita a Tua Vontade na Terra’. Especificamente, os artigos discutiam as atividades do “rei do norte” e do “rei do sul”. Em 1987, supunha-se que estes eram, respectivamente, o “bloco na maior parte socialista de nações” e o “bloco na maior parte capitalista” (pág. 13).

A descrição aplicada ao bloco socialista soava bem marcante em 1987 (págs. 13, 14):

A disposição de ânimo do mais recente rei do norte é bem descrita nos versículos 37, 38: “E não dará consideração ao Deus de seus pais… Mas dará glória ao deus dos baluartes, na sua posição; e dará glória a um deus que seus pais não conheceram, por meio de ouro, e por meio de prata, e por meio de pedras preciosas, e por meio de coisas desejáveis.” Pode-se deixar de reconhecer esta descrição? O atual rei do norte promove oficialmente o ateísmo, rejeitando os deuses religiosos dos anteriores reis do norte. Prefere confiar em armamentos, o “deus dos baluartes”…

Então, o que acontece por fim entre esses dois reis? O anjo diz: “E, no tempo do fim [no fim da história dos dois reis], o rei do sul se empenhará com ele em dar empurrões, e o rei do norte arremeterá contra ele com carros, e com cavaleiros, e com muitos navios.” (Daniel 11:40; Mateus 24:3) É evidente que as conferências de cúpula não são a solução para a rivalidade entre as superpotências. As tensões causadas pelos “empurrões” do rei do sul e o expansionismo do rei do norte podem atravessar fases mais agudas ou menos agudas; mas, por fim, de algum modo, o rei do norte será provocado a tomar a ação extremamente violenta descrita por Daniel.

Este mesmo artigo encaminha o leitor à “luz” exposta no livro ‘Seja Feita a Tua Vontade na Terra’, capítulo 11. Eis aqui alguns exemplos do que a organização Torre de Vigia predizia nesse livro. Como essas coisas se encaixam no fato de que as Testemunhas de Jeová, junto com a maioria das outras religiões, estão agora se expandindo na ex-União Soviética e seus aliados, devido à legalização da religião?

Predisse-se que esta perseguição [pelo rei do norte contra os cristãos verdadeiros] continuaria até que o rei do norte viesse ao seu “tempo do fim” no Armagedom. Quando o Diabo, no seu papel de Gog de Magog, fizer o seu ataque final e total, ele terá certamente o rei comunista do norte entre suas forças de assalto. (pág. 265).

… tanto o rei do sul como o rei do norte estarão no Armagedom… Até o “tempo do fim” no Armagedom haverá coexistência rivalizadora entre os “dois reis”. Na luta confusa entre os “dois reis” como inimigos estonteados de Jeová Deus e do seu reino, os “reis” terão a oportunidade e a ocasião de experimentar e usar um contra o outro as suas terríveis e mortíferas armas de todas as espécies. (Págs. 275, 276).

Mas agora, no tempo designado por Deus para a batalha do Armagedom, o rei do norte está decidido a destruir a “terra gloriosa” [condição terrestre da “classe ungida”] para eliminá-la da terra… Esta se torna então a ocasião para Jeová iniciar a guerra do seu grande dia. Consequentemente, Daniel 11:41 avisa de antemão a classe do santuário contra o assalto final do rei do norte sob a chefia invisível de Gog de Magog. (Págs. 276, 277).

O anjo de Jeová predisse ainda outras agressões do rei comunista do norte, antes do seu fim no Armagedom: “Extenderá a sua mão também contra os paizes; e a terra do Egypto não escapará. Apoderar-se-á dos thesouros de ouro e de prata, e de todas as cousas preciosas do Egypto; os Lybios e os Ethiopes o seguirão.”… Só o futuro dirá até onde o rei do norte conseguiu avançar quando ele chegar ao seu “tempo do fim”. Mas, está predito que ele obterá o controle sobre os tesouros de ouro, de prata e de todas as coisas preciosas deste mundo, comercializado e materialista, inclusive sobre o petróleo. (Págs. 278, 281).

Claramente, a dissolução da União Soviética e da maioria de seus aliados colocou essas previsões além da possibilidade de se cumprirem. Como a organização Torre de Vigia não pode afirmar que as profecias de Daniel poderiam estar erradas, então a predição fracassada deve estar na interpretação que a própria organização deu. Mas, segundo Dan. 12:3, 4, 10, os perspicazes entenderiam as profecias que Daniel tinha sido instruído a selar, e as fariam amplamente conhecidas. O livro de Daniel em si mesmo indica que os “perspicazes” não poderiam estar errados ao fazerem “amplamente conhecidas” as interpretações das profecias de Daniel. Uma vez que as interpretações da Torre de Vigia do livro de Daniel estão evidentemente erradas, esta organização não se qualifica entre os “perspicazes”. Mas, como eles alegam ter esta designação, devem ser, portanto, falsos mestres, e por seu próprio padrão de julgamento, falsos profetas.

Conforme a revista A Torre de Vigia de 15 de maio de 1930 disse nas páginas 154-155:

… um profeta verdadeiro é aquele que está proclamando fielmente o que está escrito na Bíblia… Mas, pode-se perguntar: Como vamos saber se a pessoa é um verdadeiro ou um falso profeta? Há pelo menos três maneiras pelas quais podemos decidir terminantemente: (1) Se ele for um profeta verdadeiro, sua mensagem irá se cumprir exatamente como foi profetizada. Se ele for um falso profeta, sua profecia vai deixar de ocorrer… A diferença entre um profeta verdadeiro e um falso é que um deles está declarando a palavra do Senhor e o outro está declarando seus próprios sonhos e palpites… O profeta verdadeiro de Deus hoje vai antecipar o que a Bíblia ensina, e as coisas que a Bíblia nos diz que em breve ocorrerão. Ele não proclamará teorias feitas pelo homem ou suposições, sejam as suas ou as de outros …. No Novo Testamento, e em nossos dias, a palavra “profeta” tem um sentido semelhante ao da nossa palavra “instrutor”, significando um expositor público. Assim, quando a expressão “falso profeta” é utilizada, teremos o pensamento correto, se tivermos em mente um falso instrutor.

Quem é realmente que faz com que a organização Torre de Vigia publique o que ela publica? Por exemplo, não são homens falíveis os que editam a revista A Sentinela? Não, de acordo com a liderança da Torre de Vigia. Com relação às declarações publicadas na edição de 1º de novembro de 1914 da revista A Torre de Vigia acerca dos acontecimentos que haviam sido preditos para 1914, o livro Luz I, lançado em 1930, disse na página 195:

O Senhor previu e predisse o que estava acontecendo, e … ele sem dúvida fez com que seus anjos dirigissem a preparação exatamente do que foi publicado.

Segundo Frederick W. Franz (vice-presidente da Sociedade Torre de Vigia de 1945-1977 e presidente de 1977 até sua morte, em 1992), sob juramento no caso Olin Moyle (Supremo Tribunal de Nova Iorque, Kings County Clerk’s Index Nº. 15845, 1940, pág. 795), Jeová é o editor de A Sentinela. Franz deu o seu depoimento maio de 1943, o qual é reproduzido aqui:

P. Quem se tornou depois o editor da revista, o editor principal da revista “A Torre de Vigia”?

R. Em 15 de outubro de 1931, pelo que me lembro, “A Torre de Vigia” descontinuou a publicação dos nomes de qualquer comissão editorial na segunda página.

O Tribunal. Ele lhe perguntou quem se tornou o editor.

A Testemunha. E foi dito –

O Tribunal. Quem se tornou o editor?

P. Quem se tornou o editor quando isto foi descontinuado?

R. Jeová Deus.

P. A revista “A Torre de Vigia” é dogmática?

R. A revista não é dogmática. Dogma significa literalmente opinião e “A Torre de Vigia” não estabelece a opinião de homem. “A Torre de Vigia” em vez de ser dogmática é confiante porque baseia suas conclusões na palavra de Deus e, portanto, está segura quanto ao terreno onde pisa. Ela não expressa arrogantemente qualquer opinião categórica de maneira infundada.

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