Os Líderes das Testemunhas de Jeová e a Especulação Cronológica – Parte 3

Declarações Referentes a 1918, 1925 e 1975

As Declarações Referentes ao Ano de 1918

O livro O Mistério Consumado, publicado em 1917, páginas 62, 64, disse, de maneira bem autoritativa:

Os dados apresentados nos comentários sobre Revelação 1:1 …. provam que a primavera [setentrional] de 1918 trará sobre a cristandade um espasmo de angústia ainda maior do que o vivido no segundo semestre de 1914.

O despertar dos santos adormecidos, em 1878 A.D., foi apenas metade do caminho (três anos e meio em cada direção) entre o início dos Tempos da Restituição em 1874 e o fim da Chamada do Alto em 1881. Nossa proposição é que a glorificação do Pequeno Rebanho na primavera de 1918 A.D. será meio caminho (três e meio ano em cada direção) entre o fim dos Tempos dos Gentios e o fechamento do Caminho Celestial, em 1921 A.D.

Naturalmente, estas predições também fracassaram. Talvez a linguagem mais forte usada estava nas predições de uma terrível destruição destinada a vir sobre as igrejas da Cristandade e seus membros em 1918, com os corpos mortos deles ficando espalhados insepultos. As páginas 484, 485 disseram:

Além disso, no ano de 1918, quando Deus destruir totalmente as igrejas e os membros das igrejas aos milhões, sucederá que qualquer pessoa que escapar se voltará para as obras do Pastor Russell para aprender o significado da derrocada do “Cristianismo”.

A página 513 dizia:

No ano de 1918, em que a cristandade cairá como sistema no esquecimento… Deus fará tremer as nações com revoluções gigantescas.

O livro também predizia eventos estupendos para 1920. Na página 258 ele disse:

Até as repúblicas desaparecerão no outono de 1920…

Todo reino da terra passará, será tragado pela anarquia…

Os três dias em que o exército de Faraó perseguiu os israelitas no deserto representam os três anos de 1917 a 1920, nos quais todos os mensageiros de Faraó serão tragados no mar da anarquia.

Na página 542 o livro dizia:

Assim como os apóstatas de mentalidade carnal do cristianismo, alinhados com os radicais e revolucionários, se regozijarão com a herança de desolação que será da Cristandade depois de 1918, assim Deus se regozijará com o bem-sucedido movimento revolucionário; ele será completamente desolado “todo ele.” Nenhum vestígio dele sobreviverá às devastações da completa anarquia mundial, no outono de 1920.

As Declarações Referentes ao Ano de 1925

O folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, (publicado no Brasil em 1923), disse nas páginas 111, 112:

Como previamente temos demonstrado, o grande ciclo do jubileu deve principiar em 1925. Nesta data a parte terrestre do Reino será reconhecida… Portanto, podemos seguramente esperar que 1.925 marcará a volta às condições de perfeição humana, de Abraão, Isaque, Jacó e os antigos profetas fiéis, especialmente esses mencionados pelo Apóstolo no capitulo onze de Hebreus.

Na página 122, o folheto disse:

Baseado nos argumentos até aqui apresentados, isto é, que a ordem velha das coisas, o velho mundo está se findando e desaparecendo, e que a nova ordem ou organização está se iniciando, e que 1925 será a data marcada para a ressurreição dos anciãos dignos e fiéis, e o princípio da reconstrução, chega-se à conclusão razoável de que milhões dos que vivem agora na terra ainda estarão vivos no ano de 1925, Então, baseados nas promessas encontradas nas palavras Divinas, chegamos à positiva e indiscutível conclusão de que milhões que agora vivem jamais morrerão.

A Torre de Vigia fez diversas referências à “Campanha dos Milhões”, mas nunca informou claramente seus leitores de que todo o fundamento dessa alegação de que “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”* assentava-se nas previsões sobre 1925, previsões que se revelaram totalmente falsas, e sobre as quais J. F. Rutherford admitiu depois perante a família de Betel: “Sei que fiz papel de tolo.”

[* A campanha teve início com um discurso intitulado “O Mundo Acabou — Milhões Que Agora Vivem Talvez Jamais Morram”, proferido em 24 de fevereiro de 1918 por J. F. Rutherford em Los Angeles (Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, pág. 127; revista A Sentinela de 1º de janeiro de 1984, pág. 18; livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 648). O discurso aparentemente gerou uma reação tão empolgante que seu nome foi logo mudado para ter um efeito ainda mais forte.]

A organização Torre de Vigia publicou muitas declarações de que a data de 1925, e todas as demais dentro de sua cronologia, eram absolutamente sólidas. Num artigo sobre cronologia, a revista A Torre de Vigia de 15 de maio de 1922 disse:

Não temos dúvida alguma sobre a cronologia relacionada com as datas de 1874, 1914, 1918 e 1925.

Foi neste método de contagem que as datas de 1874, 1914 e 1918 foram localizadas e, o Senhor colocou a marca do seu selo sobre 1914 e 1918 além de qualquer possibilidade de ser apagada. De que evidência adicional precisamos?

Usando esse mesmo método de medição… é uma tarefa elementar localizar 1925, provavelmente no outono, por volta do início do jubileu antitípico. Não pode haver mais dúvida quanto 1925 do que havia quanto a 1914. O fato de que todas as coisas que alguns esperavam para 1914 não terem se concretizado, não altera em nada a cronologia. Observando a data marcada de forma tão proeminente, é muito fácil para a mente finita concluir que todo o trabalho a ser feito deve estar centralizado nisso e, assim, muitos se inclinam a antecipar mais do que foi realmente predito. Assim foi em 1844, 1874, 1878, bem como em 1914 e 1918. Olhando para trás, podemos ver facilmente que essas datas foram indicadas claramente nas Escrituras e, sem dúvida, o Senhor tinha a intenção de encorajar seu povo, como eles foram, bem como usá-las como um meio de testar e peneirar quando tudo o que alguns esperavam não veio a ocorrer. O fato de que tudo o que alguns esperam ver em 1925 poder não se manifestar nesse ano não alterará de modo algum a data mais do que alterou nos outros casos.

Surpreendentemente, a responsabilidade pelas expectativas fracassadas resultantes de profecias cronológicas anteriores foi toda atribuída a Deus; ‘sem dúvida, o Senhor tinha a intenção de encorajar seu povo… e usá-las como um meio de testar e peneirar…’ Nada se viu de estranho neste conceito de que Deus e Cristo usariam a mentira como um meio para incentivar seus servos. Conforme diz 1 João 1:5, “Deus é luz e com ele não há escuridão alguma.” A ideia de que Deus ou seu Filho usariam o erro para orientar os cristãos é alheia às Escrituras.

A Torre de Vigia de 15 de junho de 1922, pág. 187, disse:

A cronologia da verdade atual poderia ser uma mera casualidade se não fosse pelas repetições em dois grandes ciclos de 1.845 e 2.520 anos, que a tira do âmbito da probabilidade e a coloca no da certeza. Se existissem apenas uma ou duas datas correspondentes nestes ciclos, seriam possivelmente meras coincidências, mas onde as concordâncias de datas e eventos ocorrem às dúzias, não pode ser por acaso, mas deve ser pelo desígnio ou plano do único Ser pessoal capaz de um plano assim – o próprio Jeová; e a cronologia em si deve estar certa.

Nas passagens da Grande Pirâmide de Gizé, a concordância de uma ou duas medidas com a cronologia da verdade atual poderia ser acidental, mas a correspondência de dúzias de medidas prova que o mesmo Deus projetou tanto a pirâmide como o plano – e prova ao mesmo tempo a exatidão da cronologia…

É com base nessa e em muitas outras correspondências que – segundo as mais sólidas leis conhecidas da ciência – afirmamos que, bíblica, científica e historicamente, a cronologia da verdade atual está correta, além de dúvida. Sua confiabilidade foi abundantemente confirmada pelas datas e  pelos eventos de 1874, 1914 e 1918. A cronologia da verdade atual é uma base segura sobre a qual o filho consagrado de Deus pode se esforçar a pesquisar as coisas por vir.

A edição de A Torre de Vigia de 15 de julho de 1922, debaixo do título “O Cabo Forte da Cronologia”, disse:

Existem aí, portanto, relações bem-estabelecidas entre as datas da cronologia da verdade atual. Estas ligações internas de datas dão uma força muito maior do que a que se pode encontrar em outras cronologias. Algumas delas são de caráter tão notável de maneira a indicar claramente que esta cronologia não é de homem, e sim de Deus. Sendo de origem divina e divinamente comprovada, a cronologia da verdade atual se mantém por si mesmo numa categoria absoluta e indiscutivelmente correta

Na cronologia da verdade atual, existem tantas relações internas entre as datas que não se trata de mera sequência de datas, nem de uma corrente, mas de um cabo de fios firmemente entrelaçados – um sistema divinamente unificado, com a maioria das datas tendo relações tão notáveis com outras, que sela o sistema como não sendo de origem humana

Será mostrado claramente que a cronologia da verdade atual mostra evidência incontestável de presciência divina das principais datas, e que isso é prova de origem divina, e que o sistema não é uma invenção humana mas uma descoberta de verdade divina… cremos que ela leva o sela de aprovação do Deus Todo-Poderoso.

Seria absurdo alegar que a relação descoberta não foi o resultado de arranjo divino.

A Torre de Vigia de 1° de setembro de 1922, disse na página 262:

…. toda a Europa é como uma panela fervente, com a intensidade do calor cada vez maior. Se qualquer um que tenha estudado a Bíblia viajar pela Europa e não se convencer de que o mundo acabou, que o dia da vingança de Deus está aqui, que o reino messiânico está às portas, então essa pessoa leu a Bíblia em vão. Os fatos físicos mostram sem sombra de dúvida que em 1914 terminaram os tempos dos gentios; e conforme o Senhor predisse, a velha ordem está sendo destruída pela guerra, fome, pestilência e revolução.

A data de 1925 é ainda mais distintamente indicada pelas Escrituras porque é estabelecida pela lei que Deus deu a Israel. Vendo a situação atual na Europa, uma pessoa se perguntará como é possível conter a explosão por muito mais tempo, e que, mesmo antes de 1925 a grande crise terá sido atingida e provavelmente passado.

O congresso de Cedar Point, Ohio, em 1922, é regularmente mencionado nas publicações da Torre de Vigia como um marco importante na história da organização. Hoje, porém, cita-se uma pequena parte do discurso em apoio de 1914. Ignora-se o fato de que 1799 e 1874 figuravam com igual destaque no argumento apresentado e na conclusão da audiência foi chamado para alcançar. A Torre de Vigia de 1° de novembro de 1922 reproduziu o discurso:

A profecia bíblica indica que o Senhor estava destinado a aparecer pela segunda vez no ano de 1874. A profecia cumprida mostra, além de dúvida, que ele apareceu realmente em 1874. A profecia cumprida é também chamada de fatos físicos; e estes fatos são incontestáveis…

Já que ele [Cristo] tem estado presente desde 1874, segue-se, pelos fatos como os vemos agora, que o período de 1874 a 1914 é o dia da preparação. Isto de modo algum entra em choque contra o pensamento de que “o tempo do fim” vai de 1799 a 1914…

Durante seis mil anos Deus tem se preparado para este reino. Por 1.900 anos ele vem ajuntando dentre os homens a classe do reino. Desde 1874, o Rei da glória tem estado presente; e, durante esse tempo, tem conduzido uma colheita e ajuntado a si a classe do templo. Desde 1914, o Rei da glória assumiu seu poder e reina. Tem purificado os lábios da classe do templo e os envia com a mensagem. A importância da mensagem do reino não pode ser superestimada. É a mensagem de todas as mensagens. É a mensagem do momento. É incumbência dos que pertencem ao Senhor proclamá-la. O  reino do céu está próximo; o Rei reina; o império de Satanás está  caindo; milhões que agora vivem jamais morrerão.

Credes nisso? Credes que o Rei da glória está presente e tem  estado desde 1874? Credes que ele tem, durante esse tempo,  conduzido a obra da colheita? Credes você que ele tem tido, durante esse tempo, um servo fiel e prudente por meio do qual dirigiu sua obra e alimentou a família da fé? Credes que o Senhor está  agora em seu templo, julgando as nações da terra? Credes que o Rei da glória começou seu reinado?

Então, voltai ao campo, ó filhos do Deus altíssimo! Ponde a vossa  armadura! Sede sóbrios, sede vigilantes, sede ativos, sede valentes. Sede testemunhas fiéis e verdadeiras do Senhor. Avançai na luta até que todo vestígio de Babilônia venha a jazer desolado. Proclamai a mensagem por toda a parte. O mundo deve saber que Jeová é Deus e  que Jesus Cristo é Rei dos reis e Senhor dos senhores. Este é o dia de todos os dias. Eis que o Rei reina! Vós sois seus agentes de publicidade. Portanto, anunciai, anunciai, anunciai, o Rei e seu reino.

Eram realmente palavras empolgantes. Mas, resistiram elas ao teste do tempo? Duas destas três datas principais mencionadas já foram abandonadas. Dos ‘milhões que então viviam que jamais morreriam’, quase todos já faleceram (no momento em que se escreve isso). Curiosamente, esse discurso também mudou os eventos que se ensinava antes que tinham ocorrido de 1878 a 1914.

A Torre de Vigia de 1º de abril de 1923, disse na página 106, na seção “Perguntas e Respostas”:

Pergunta: Foi dada a ordem há oito meses para que os peregrinos parassem de falar sobre 1925? Temos mais razão, ou tanta razão para crer que o reino será estabelecido em 1925 quanto Noé tinha para crer que haveria um dilúvio?

Resposta: … Jamais houve em qualquer momento alguma sugestão aos irmãos peregrinos de que eles deveriam parar de falar sobre 1925… Nosso pensamento é que 1925 está definitivamente estabelecido pelas Escrituras, marcando o fim dos jubileus típicos. Exatamente o que vai ocorrer naquele momento ninguém pode dizer com certeza, mas esperamos tal clímax nos assuntos do mundo, que as pessoas começarão a perceber a presença do Senhor e seu poder no reino. Ele já está presente, como sabemos, e assumiu o poder e começou seu reinado. Ele veio ao seu templo. Ele está despedaçando as nações. De modo que todo cristão deveria estar contente, para fazer com seu poder o que suas mãos encontrarem para fazer, sem parar para fazer divagações sobre o que vai acontecer em determinada data.

Como Noé, o cristão de hoje tem muito mais em que basear a sua fé do que Noé tinha (até onde as Escrituras revelam) em que basear a fé dele no dilúvio vindouro.

A Torre de Vigia de 15 de julho de 1924, disse:

Que ninguém seja agora enganado por cálculos quanto a exatamente em que momento o Senhor encerrará seu trabalho com a Igreja na Terra. O ano de 1925 é uma data definitiva e claramente marcada nas Escrituras, ainda mais claramente que a de 1914, mas seria presunçoso da parte de qualquer seguidor fiel do Senhor supor exatamente o que o Senhor fará durante aquele ano.

A Torre de Vigia de 1º de janeiro de 1925, página 3, começou um discurso contido, dizendo:

O ano de 1925 está aqui. Com grande expectativa os cristãos tem aguardado este ano. Muitos estão esperando confiantemente que todos os membros do corpo de Cristo sejam transformados para a glória celestial durante este ano. Isto pode se cumprir. Pode não ser. Em seu tempo devido Deus cumprirá seus propósitos referentes ao seu próprio povo. Os cristãos não devem estar tão profundamente preocupados sobre que pode suceder durante este ano ao ponto de deixarem de fazer alegremente o que o Senhor deseja que eles façam.

A Torre de Vigia de 15 de fevereiro de 1925, páginas 56, 57, começou a lançar uma base para controlar danos maiores, sugerindo que qualquer culpa futura por predições fracassadas deveria ser colocada sobre “os amigos”:

Que 1925 será um ano fenomenal em muitos aspectos, é evidente … Parece ser uma fraqueza de muitos Estudantes da Bíblia que se eles localizam uma data futura na Bíblia, imediatamente eles focam nessa data tantas profecias quanto possível. Esta foi a causa de muitos peneiramentos no passado. Tanto quanto nos lembramos, todas as datas previstas estavam corretas. O problema foi que os amigos inflamaram sua imaginação além da razão; e quando a imaginação deles se despedaçou, eles se inclinaram a jogar tudo fora. Sem dúvida, o Sr. Miller estava correto em fixar 1844 como uma data bíblica. Mas ele espera demais. 1874 foi também facilmente localizado. 1878 também foi uma data marcante, e que trouxe ao irmão Russell uma provação severa até que ele corrigiu suas expectativas, como foi observado em seu “Peneiramentos da Colheita”, de abril de 1894, que não é mais impresso. Muitos podem se lembrar de quão “absolutamente certos” alguns estavam sobre 1914. Sem dúvida, o Senhor estava satisfeito com o zelo manifestado pelos seus servos; mas, tinham eles base bíblica para tudo o que esperavam que ocorreria naquele ano? Sejamos cautelosos, portanto, quanto à predição de particularidades. O Senhor vai torná-las claras tão rápido quanto elas se tornarem alimento no tempo apropriado.

Por esta época, longe de continuar predizendo dogmaticamente que em 1925 os “anciãos dignos e fiéis” seriam ressuscitados e o Reino de Deus estabelecido na terra, o artigo continuou sem convicção:

Podemos razoavelmente esperar que 1925 será um ano muito ativo para os santos deste lado do véu; e também que o adversário estará cada vez mais ativo em sua oposição, já que ele sabe que seu tempo está encurtando… Ninguém pode predizer com segurança exatamente o que vai acontecer, até mesmo no próximo ano, mas Deus forneceu indicações gerais em sua Palavra sobre muitas coisas que ainda vão acontecer.

A Torre de Vigia de setembro de 1925, página 262, começou a controlar o dano de modo decisivo:

É de se esperar que Satanás tentaria implantar nas mentes dos consagrados o pensamento de que 1925 deveria presenciar o fim da obra.

A edição de 1º de agosto de 1926 de A Torre de Vigia, página 232, culpou seus leitores pelo fracasso de suas predições:

Alguns anteciparam que esta obra terminaria em 1925, mas o Senhor não declarou isso.

Numa série de assembléias em 1975, uma das quais eu assisti, Fred Franz, o vice-presidente da Sociedade Torre de Vigia, proferiu um discurso no qual ele contou como J. F. Rutherford caracterizou sua proclamação da data de 1925:

“Sei que fiz papel de tolo.”

Esta caracterização não foi a que Rutherford deu para o consumo da comunidade dos Estudantes da Bíblia. Pelo contrário, o Anuário das Testemunhas de Jeová de 1981, página 62, narra a visita dele à Suíça em 1926 e sua participação em uma sessão de perguntas, na qual ocorreu o seguinte diálogo:

Pergunta: Retornaram os merecedores da antiguidade?

Resposta [de Rutherford]: Certamente não retornaram. Ninguém os viu e seria tolice fazer tal declaração. Foi declarado no livro ‘Milhões’ que poderíamos razoavelmente esperar que retornassem pouco depois de 1925, mas isto era simplesmente uma opinião expressa.”

Como é que as recentes publicações da Torre de Vigia retratam a situação ocorrida em 1925? O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976 atribuiu o problema, não à organização que publicou a informação, mas aos “irmãos” que a leram, dizendo (página 146):

Veio e foi-se o ano de 1925. Os seguidores ungidos de Jesus ainda estavam na terra como classe. Os homens fiéis da antiguidade — Abraão, Davi e outros — não foram ressuscitados para se tornarem príncipes na terra. (Sal. 45:16) Assim como recorda Anna MacDonald: “1925 foi um ano triste para muitos irmãos. Alguns deles tropeçaram, suas esperança’ foram despedaçadas. Tinham esperado ver alguns dos ‘antigo’ dignitários’ [homens da antiguidade, como Abraão] serem ressuscitados. Ao invés de isso ser considerado uma ‘probabilidade’, leram que era uma ‘certeza’, e alguns se prepararam para seus próprios entes queridos, na expectativa de sua ressurreição.

Será que isso está de acordo com qualquer das declarações publicadas na revista A Torre de Vigia que foram mostradas acima? Será que o que vimos acima confirma que a Torre de Vigia tinha sido fiel à Palavra de Deus ou discreta em suas afirmações? Se a alegação de Rutherford de que o que foi publicado eram apenas ‘opiniões’ dele, então como pode a Torre de Vigia alegar que o que foi publicado era ‘alimento espiritual no tempo apropriado’? E como se justifica que as pessoas que questionaram esses ensinamentos no momento em que foram promulgados foram menosprezadas e tiveram sua lealdade e humildade perante Deus postas em dúvida?

O livro Vindication I, publicado em inglês em 1931,  página 338, indica que Rutherford tinha aprendido sua lição:

Houve certa medida de desapontamento por parte dos fiéis a Jeová na terra com relação aos anos de 1914, 1918 e 1925, desapontamento este que durou por algum tempo… e eles aprenderam também a parar de marcar datas.

Mas será que a Torre de Vigia realmente aprendeu a parar de marcar datas? Vejamos.

Em 1930, usando US$ 75.000 em dinheiro (note-se que isso foi na época da Grande Depressão, iniciada em 1929) doados por um Estudante da Bíblia rico, J. F. Rutherford concluiu a construção de uma grande mansão em San Diego, Califórnia, chamada Beth Sarim, que significa “Casa dos Príncipes”. A casa valeria cerca de US$ 2.000.000 hoje (no momento em que foi escrito isso). Beth Sarim foi construída para oferecer um lugar no qual os “príncipes”, Abraão, Isaque, Jacó e outros, poderiam ficar logo antes dos eventos concludentes do fim. A casa seria entregue a eles quando aparecessem e fossem devidamente identificados. Conforme disse o livro Salvação, de 1939:

Em San Diego, Califórnia, Estados Unidos, há um terreno pequeno, no qual, em 1929, construiu-se uma casa, que se chama e se conhece como Beth-Sarim. As palavras hebraicas Beth-Sarim significam “Casa dos Príncipes”; e o intento de adquirir essa propriedade e edificar a casa foi para que houvesse alguma prova tangível de que existem pessoas na terra atualmente que acreditam plenamente em Deus e em Cristo Jesus e em seu reino, crendo que os fiéis da antiguidade serão brevemente ressuscitados pelo Senhor, voltarão à terra, e se encarregarão dos negócios visíveis da terra. A escritura da Beth-Sarim está feita em nome da Watch Tower Bible & Tract Society, para ser usada presentemente pelo presidente da Sociedade e seus ajudantes, ficando depois disso para sempre à disposição dos príncipes da terra acima mencionados. Com certeza tudo na terra pertencerá ao Senhor, e nem o Senhor nem os príncipes precisam que outros lhes edifiquem casas; mas considerou-se bom e agradável a Deus que se edificasse a casa acima mencionada como testemunho ao nome de Jeová, mostrando fé em seus propósitos expressos. A casa serviu como testemunho a muitas pessoas por toda a terra, e enquanto que os incrédulos mofaram e falaram dela desdenhosamente, ela ali permanece como um testemunho ao nome de Jeová; e quando os príncipes voltarem, se alguns deles fizerem uso dessa propriedade, isso confirmará a fé e a esperança que induziu a edificação de Beth-Sarim”.

No estilo típico dum advogado, Rutherford se assegurou de que só ele ou pessoas que fossem aprovadas por ele poderiam usar a propriedade, de maneira que nenhum impostor tomasse posse dela. A escritura da propriedade dizia:

Está previsto que, se o referido JOSEPH F. RUTHERFORD enquanto estiver vivo na terra por arrendamento, escritura ou contrato estabelecer que qualquer outra pessoa ou pessoas associadas com a referida SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS tem o direito de residir no referido local até a chegada de Davi ou de algum dos outros homens mencionados no capítulo onze de Hebreus, conforme estabelecido acima, essa pessoa ou pessoas designadas pelo referido JOSEPH F. RUTHERFORD nesse arrendamento, ou outro documento escrito, têm o direito e o privilégio de residir no referido local até que a posse do mesmo seja tomada por Davi ou algum dos outros homens aqui nomeados, sendo esta propriedade e instalações dedicadas a Jeová e ao uso de seu reino, sendo usadas dessa maneira para sempre. Qualquer pessoa que vier para tomar posse do referido local deverá primeiro provar e identificar-se para os oficiais credenciados da referida Sociedade como sendo a pessoa ou pessoas descritas em Hebreus capítulo 11 e nesta escritura.

O livro O Novo Mundo, publicado em 1942, relatou na pág. 104:

… assim, pode-se esperar que esses homens fiéis da antiguidade retornem da morte a qualquer dia… Nesta expectativa, a casa em San Diego, Califórnia, casa esta que recebeu muita publicidade com intenção maliciosa por parte de inimigos religiosos, foi construída em 1930 e chamada de “Beth-Sarim”, que significa “Casa dos Príncipes”. É mantida agora em fideicomisso para ser ocupada por esses príncipes por ocasião de seu retorno.

De modo que, apesar de ter aprendido a “parar de marcar datas”, Rutherford continuava a todo vapor com uma ação igualmente tola.

Depois da morte de Rutherford em 1942, outros funcionários da organização Torre de Vigia queriam enterrá-lo na propriedade de Beth Sarim, mas esse pedido foi negado pelas autoridades de San Diego. Um artigo intitulado “Funcionários de San Diego Alinham-se Contra os Príncipes da Nova Terra” na revista Consolação de 27 de maio de 1942, página 3, criticou as autoridades por sua recusa:

Antes de sua morte o Juiz Rutherford fez o pedido simples de que seus restos mortais fossem enterrados em algum lugar da propriedade de cem hectares, em San Diego, Califórnia, mantida em fideicomisso para os Príncipes da Nova Terra. A casa construída nela, à qual ele chamou de “Beth-Sarim”, teve a escritura lavrada para os príncipes. Em 14 de março, mais de dois meses depois de ter ido para a sua recompensa em 8 de janeiro, a Comissão de Planejamento do Condado de San Diego proferiu a decisão de que os ossos dele não poderiam repousar em lugar algum daquela terra.

A Torre de Vigia vendeu quietamente Beth Sarim em 1948. Isso parece ser um tanto embaraçoso para a organização hoje, e durante muito tempo ela preferiu que o verdadeiro propósito da casa não fosse conhecido. O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, só dava uma informação parcial na página 194:

Na década de 1920, [Rutherford] foi para San Diego sob tratamento médico. O clima ali era excepcionalmente bom e o médico instou com ele a que passasse o maior tempo possível em San Diego. Foi isso que o irmão Rutherford fez por fim.

Com o tempo, foi feita uma contribuição direta para a construção duma casa em San Diego para uso do irmão Rutherford. Ela não foi construída às custas da Sociedade Torre de Vigia (EUA). A respeito desta propriedade, declarava o livro Salvação, de 1939: “Em San Diego, Califórnia Estados Unidos, há um terreno pequeno, no qual, em 1929, construiu-se uma casa, que se chama e se conhece como Beth-Sarim.”

Conforme se aproximava a Segunda Guerra Mundial, J. F. Rutherford encontrou solo fértil para mais predições do fim.

O folheto Guerra Universal Próxima, escrito em 1935, dizia na página 26:

Durante os poucos meses restantes até ao quebrar este cataclismo universal, os poderes que governam as nações da terra continuarão fazendo tratados e dizendo ao povo que com tais meios conservarão a paz no mundo e trarão prosperidade. Também continuarão a passar e a forçar leis rigorosas para suprimir a liberdade de palavra e para tirar as liberdades do povo. Continuarão a perseguir e a se opor às testemunhas de Jeová que estão procurando levar a verdade ao povo. Tendo lançado poderosa mão sobre o povo e tendo-o subjugado completamente, então dirão os poderes ditatoriais das nações da terra: “Agora temos paz e segurança”; porém as Escrituras, em 1 Tessalonicenses 5:3, V.A., replicam a isso: “Pois que, quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão”.

O livro Salvação, de 1939, dizia:

As abundantes evidências bíblicas, juntamente com os acontecimentos naturais que se deram mostrando o cumprimento da profecia, provam concludentemente que o tempo da batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso está muito próximo e que nessa batalha serão destruídos todos os seus inimigos e a terra ficará limpa de iniquidade, como preparação para o completo estabelecimento da justiça. (pág. 275, debaixo do subtítulo “VINDO JÁ”).

Assim também agora, todas as nações e povos da terra estão enfrentando a máxima emergência. Estão sendo avisados, por ordem de Deus, de que o desastre do Armagedon está pendente. (pág. 318).

O livro Religião, publicado em 1940, disse:

As profecias do Deus Todo-Poderoso, cujo cumprimento vê-se agora pelos factos físicos, mostram que chegou o fim da religião e com êle a queda total de toda a organização de Satanaz… (Página 290)… O dia do ajuste final de contas está próximo. (página 292).

A revista A Sentinela de 1º de setembro de 1940, disse na página 265:

A obra de testemunho para A TEOCRACIA parece estar quase completa na maior parte dos países da “Cristandade”…

… Agora, o governo totalitário suprimiu a mensagem Teocrática, e deve-se esperar que, quando pararem de lutar entre si todos os governantes totalitários vão voltar sua atenção para a supressão completa de tudo o que pertence ao governo teocrático.

O que significa isso, então, o fato de o governo teocrático estar agora suprimido em muitas nações? Significa que está se aproximando rapidamente a hora em que o “sinal” do Armagedom será claramente revelado e todos os que estão do lado de Jeová vão vê-lo e apreciá-lo.

A Sentinela de 15 de setembro de 1941, página 288, disse sobre a distribuição do livro Filhos (escrito por Rutherford):

Ao receber o presente, as crianças enfileiradas o acolheram a si, não como um brinquedo ou passatempo para o prazer ocioso, mas como o instrumento de Deus para a obra mais efetiva nos meses que restam antes do Armagedom.

Será que “os fatos físicos” mostram que qualquer destas previsões se cumpriu? O que significavam as expressões “muito próximo”, “se aproximando rapidamente” ou “poucos meses restantes”? Não quer dizer nada o fato de que todas as crianças que receberam esse livro Filhos são avós hoje ou até já faleceram?

As Especulações Sobre 1975 Ser o Ano do Fim do Mundo

Em meados da década de 1960, a organização Torre de Vigia tinha aparentemente esquecido grande parte do que havia aprendido sobre ‘parar de marcar datas’. O livro Vida Eterna – Na Liberdade dos Filhos de Deus, publicado em 1966, disse nas páginas 26-30:

Aproxima-se rapidamente o tempo em que a realidade prefigurada pelo Jubileu de liberdade será proclamada em toda a terra a toda a humanidade agora oprimida por muitas coisas escravizadoras. Em vista da situação global e das condições mundiais, parece ser da maxima urgência que a libertação igual à do Jubileu venha em breve. Certamente, o tempo mais apropriado para ela seria o futuro próximo. A própria Palavra escrita de Deus indica que este é o tempo designado para ela

… Neste século vinte, realizou-se um estudo independente que não acompanha cegamente certos cálculos cronológicos tradicionais da cristandade, e a tabela de tempo publicada, resultante deste estudo independente, fornece a data da criação do homem como sendo 4026 A.E.C. Segundo esta cronologia bíblica fidedigna, os seis mil anos desde a criação do homem terminarão em 1975 e o sétimo período de mil anos da história humana começará no outono (segundo o hemisfério setentrional) do ano de 1975 E.C… Assim, dentro de poucos anos em nossa própria geração atingiremos o que Jeová Deus poderia considerar como o sétimo dia da existência do homem.

Quão apropriado seria se Jeová Deus fizesse deste vindouro sétimo período de mil anos um período sabático de descanso e livramento, um grandioso sábado de jubileu para se proclamar liberdade através da terra a todos os seus habitantes! Isto seria muito oportuno para a humanidade. Seria muito apropriado da parte de Deus, pois, lembre-se de que a humanidade ainda tem na sua frente o que o último livro da Bíblia Sagrada chama de reinado de Jesus Cristo sobre a terra por mil anos, o reinado milenar de Cristo. Jesus Cristo, quando na terra há dezenove séculos, disse profeticamente a respeito de si mesmo: “Por que Senhor do sábado é o que é o Filho do homem.” (Mateus 12:8) Não seria por mero acaso ou acidente, mas seria segundo o propósito amoroso de Jeová Deus que o reinado de Jesus Cristo, o “Senhor do sábado”, correspondesse ao sétimo milênio da existência do homem.

Embora o escritor não tenha dito taxativamente que 1975 marcaria o início do milênio, ele certamente insinuou isso. Parece razoável que, se ele disse que seria “apropriado” para Deus fazer certas coisas, então ele deveria estar com uma boa dose de certeza. Se ele não tinha certeza, então foi presunçoso. Ao dizer que “seria segundo o propósito amoroso de Jeová Deus” os dois milênios coincidirem, não estava ele dando ao leitor uma forte impressão de sua certeza? Principalmente levando-se em conta que todas as sugestões do “escravo fiel e discreto” devem ser encaradas com grande consideração?

A revista Despertai! de 22 de abril de 1967 publicou um artigo intitulado “Quanto Tempo Ainda Levará?” e, debaixo do subtítulo “Os 6.000 Anos Terminam em 1975”, estabeleceu fortemente a base para a ideia de que o milênio constituiria os últimos 1.000 anos de um dia de descanso de 7.000 anos de Deus. Deixando um pouco de lado a cautela mostrada acima, a revista disse na página 20:

Por conseguinte, estarmo-nos aproximando do fim dos primeiros 6.000 da existência do homem é algo de grande significado.

Será que o dia de descanso de Deus decorre paralelamente ao tempo em que o homem tem estado na terra, desde sua criação? Parece que sim. Segundo as investigações mais fidedignas da cronologia bíblica, harmonizadas com muitas datas aceitáveis da história secular, descobrimos que Adão foi criado no outono do ano 4026 A.E.C. Em algum tempo naquele mesmo ano, Eva bem que poderia ter sido criada, logo após o que começou o dia de descanso de Deus. Em que ano, então, terminariam os primeiros 6.000 anos do dia de descanso de Deus? No ano de 1975. Isto é digno de nota, especialmente em vista de que os “últimos dias” começaram em 1914, e que os fatos físicos de nossos dias, em cumprimento da profecia, marcam esta como a última geração deste mundo iníquo. Por conseguinte, podemos esperar que o futuro imediato esteja cheio de eventos emocionantes para aqueles que depositam sua fé em Deus e em suas promessas. Isto significa que dentro de relativamente poucos anos testemunharemos o cumprimento das profecias restantes que têm que ver com o “tempo do fim”.

A revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1967 apresentou os seguintes comentários (págs. 124-127):

Somente um povo liberto pode pregar a libertação aos cativos, foi dito aos congressistas na palestra: “Preguem o Livramento aos Cativos”, que os emocionou com sua perspectiva esperançosa. “Jeová, o Deus de liberdade e de libertação, livrou seu povo da escravidão babilônica e lhes deu uma obra de libertação a executar. Tal obra de libertação e de salvação tem de prosseguir até o fim! A fim de ajudar, atualmente, nestes tempos críticos, aos filhos prospectivos de Deus”, anunciou o presidente Knorr, “ foi publicado um novo livro em inglês, intitulado “A Vida Eterna – na Liberdade dos Filhos de Deus”. Em todos os lugares de assembléia em que foi lançado, o livro foi entusiasticamente acolhido. Multidões se juntaram em volta dos balcões e dentro em poucos se esgotaram os suprimentos do livro. Imediatamente se examinou o seu conteúdo. Não demorou muito para que os irmãos achassem a tabela que começa na página 31, mostrando que 6.000 anos da existência do homem terminam em 1975. A palestra sobre 1975 eclipsou tudo o mais. “O novo livro nos obriga a compreender que o Armagedom, com efeito, está muito próximo”, disse certo congressista. Por certo, foi uma das bênçãos notáveis com que se pôde voltar para casa!…

O ANO DE 1975

Na assembléia de Baltimore, EUA, o irmão Franz, em seus comentários finais, teceu interessantes comentários a respeito do ano de 1975. Começou dizendo casualmente: “Pouco antes de vir à tribuna um rapaz se aproximou de mim e disse: ‘Diga-me, o que significa este negócio de 1975? Será que significa isto, aquilo ou alguma outra coisa?’” Em parte, o irmão Franz passou a dizer: ‘Os irmãos notaram a tabela [em páginas 31-35 do livro A Vida Eterna – na Liberdade dos Filhos de Deus, em inglês]. Mostra que 6.000 anos da experiência humana terminarão em 1975, cerca de nove anos a contar de agora. O que isso significa? Será que significa que o dia de descanso de Deus começou em 4026 A.E.C.? É possível que tenha começado. O livro A Vida Eterna não diz que não começou. O livro simplesmente apresenta a cronologia. Poderão aceitá-la ou rejeitá-la. Se este é o caso, o que significa para nós? [Demorou-se um tanto no assunto, para demonstrar a possibilidade da data de 4026 A.E.C. ser o começo do dia de descanso de Deus.].

‘O que dizer do ano de 1975? O que irá significar, caros amigos?’ perguntou o irmão Franz. ‘Será que significa que o Armagedom estará terminado, com Satanás preso, por volta de 1975? É possível! É possível! Todas as coisas são possíveis para Deus. Será que significa que Babilônia, a Grande, terá sido derrubada por volta de 1975? É possível. Será que significa que o ataque de Gogue de Magogue será lançado contra as testemunhas de Jeová, para eliminá-las, daí o próprio Gogue sendo posto fora de ação? É possível. Mas, não estamos afirmando. Todas as coisas são possíveis para Deus. Mas, não estamos afirmando. E que nenhum dos irmãos seja específico em dizer algo que irá acontecer daqui até 1975. Mas o ponto capital de tudo é isso é o seguinte, caros amigos: O tempo é curto. O tempo se escoa, não há dúvida sobre isso.

‘Quando nos aproximávamos do fim dos Tempos dos Gentios em 1914, não havia sinal de que os tempos dos gentios iriam terminar. As condições na terra não nos davam indício do que viria, mesmo até fins de junho daquele ano. Daí, subitamente, houve um assassinato. Estourou a Primeira Guerra Mundial. Já conhecem o resto. Fomes, terremotos e pestes se seguiram, conforme Jesus predisse que aconteceria.

‘Mas, o que temos hoje, ao nos aproximarmos de 1975? As condições não têm sido pacíficas. Temos tido guerras mundiais, fomes, terremotos, pestes e ainda temos tais condições ao nos aproximarmos de 1975. Será que tais coisas significam algo? Estas coisas significam que estamos no “tempo do fim”. E o fim tem que chegar, mais cedo ou mais tarde. Disse Jesus: “Mas, quando estas coisas principiarem a ocorrer, erguei-vos e levantai as vossas cabeças, porque o vosso livramento está-se aproximando.” (Lucas 21:28) Assim, sabemos que, ao nos aproximarmos de 1975, o nosso livramento está esse tanto mais próximo.’

No ano seguinte ano as expectativas eram grandes. O trecho que segue é retirado de um discurso intitulado “Servindo com a Vida Eterna em Vista”, proferido numa assembléia de circuito, na primavera [setentrional] de 1967, em Sheboygan, Wisconsin, EUA, por um representante da Torre de Vigia. O palestrante enfatizou a proximidade do Armagedom e disse especificamente que ele viria antes de 1975. Falando sobre o mundo que viria depois do Armagedom, ele disse:

Bem, agora, quem estará lá, dentre nós que estamos aqui esta noite? Pois a Sociedade fez aplicação deste texto, apontando que os dentre nós Testemunhas de Jeová que não estão se associando regularmente com o seu povo, sem justa causa, como estando deitados de costas, não estarão na nova ordem. E são os que virão quando as portas se fecharem e dirão ‘quero entrar agora. Senhor, abre para nós!’ E Jesus terá de dizer, ‘Sinto muito, eu nem sequer os conheço.’ Ora, isso seria uma coisa terrível. Vocês podem perceber agora por que a Sociedade nos implora, ano após ano, a mesma coisa: ‘Irmãos, entrem no rebanho. Não deixem que qualquer desculpa se interponha em nosso caminho. Nada de qualquer tipo. Só há uma coisa que vai contar quando chegar a hora, e é estarmos dentro.’ E esperamos que todos nós aqui esta noite ouçam a admoestação da Sociedade. Vamos ouvir a súplica persistente, ‘Entrem, irmãos!’, porque eles sabem o que está por vir. E está vindo rápido – e não esperem até ’75. A porta vai estar fechada antes disso.

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 1968 deu continuidade a esse estímulo da expectativa. Usando grande parte do mesma argumentação presente no artigo citado acima, esta revista disse na página 660:

O futuro imediato com certeza estará repleto de eventos climáticos, pois este velho sistema se aproxima de seu fim completo. Dentro de alguns anos, no máximo, as partes finais da profecia bíblica relativas a estes “últimos dias” terão cumprimento, resultando na libertação da humanidade sobrevivente para o glorioso reino milenar de Cristo. Que dias difíceis, mas, ao mesmo tempo, que dias grandiosos estão bem à frente!

Da mesma maneira, a revista Despertai! de 22 de abril de 1969, página 13, enfatizava a brevidade do tempo restante:

O fato de que já se passaram quase cinqüenta e cinco anos do período chamado de ‘últimos dias’ é altamente significativo. Quer dizer que restam apenas alguns anos, no máximo, antes de o corrupto sistema de coisas que domina a terra ser destruído por Deus.

Hoje, décadas depois destes pronunciamentos, alguém poderia muito bem perguntar: O que significa a expressão “o futuro imediato”? Quantos anos representam “alguns anos, no máximo”?

A Sentinela de 15 de fevereiro de 1969, falou muito sobre o significado de 1975 nas páginas 104-117. No artigo intitulado “O Livro de Datas Históricas Verídicas” foi dito na página 104:

Sabemos que no sétimo ano, desde agora, terminará o 6.000º desde a criação de Adão? E, se chegarmos a viver até aquele ano de 1975, que devemos esperar que aconteça?

Nesta mesma edição, de A Sentinela de 15 de fevereiro de 1969, o artigo intitulado “Por Que Está Aguardando 1975?” criou uma grande dose de expectativa ao dizer na página 110:

“O que há com toda esta conversa sobre o ano de 1975? Nos meses recentes surgiram repentinamente animadas palestras, algumas baseadas em especulação, entre sérios estudantes da Bíblia. Seu interesse foi suscitado pela crença de que 1975 marcará o fim de 6.000 anos da história humana desde a criação de Adão. A proximidade de tal data importante deveras estimula a imaginação e apresenta ilimitadas possibilidades para palestras.”

… Depois de tanta matemática e genealogia, realmente, que nos aproveita esta informação hoje em dia?… Afinal de contas, por que deveríamos estar mais interessados na data da criação de Adão, do que no nascimento do Rei Tut? Bem, em primeiro lugar, se adicionarmos 4.026 a 1.969 (tomando em conta a falta de um ano zero entre E.C. e A.E.C.), obtemos o total de 5.994 anos neste outono (segundo o hem. set.), e desde a criação de Adão. Isto significa que no outono (hem. set.) do ano de 1975, dentro de pouco mais de seis anos contados desde agora (e não em 1997, como seria o caso se os algarismos de Ussher fossem corretos), terão passado 6.000 anos desde a criação de Adão, o pai de toda a humanidade!

Note-se o senso de urgência, e a sugestão de que os 6.000 anos é um número com significado especial. A revista prossegue dizendo na página 115:

“Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então? Possivelmente, mas, nós esperamos para ver quão de perto o sétimo período de mil anos da existência do homem coincide com o reinado milenar de Cristo, que é como um sábado. Se este dois períodos decorrerem paralelamente quanto ao ano calendar, não será por mero acaso ou acidente, mas será segundo os propósitos amorosos e oportunos de Jeová. Nossa cronologia, porém, que é razoavelmente exata (mas, admitidamente não infalível,) no melhor dos casos apenas aponta para o outono de 1975 como o fim de 6.000 anos da existência do homem na terra. Isto não necessariamente significa que 1975 assinala o fim dos primeiros 6.000 anos do sétimo “dia” criativo de Jeová. Por que não? Porque, depois de sua criação, Adão viveu algum tempo durante o “sexto dia”, quantidade desconhecida de tempo que teria de ser descontada dos 930 anos da Adão, para se determinar quando terminou o sexto período ou “dia” de sete mil anos e quanto tempo Adão viveu no “sétimo dia”. Não obstante, o fim deste sexto “dia” criativo pode ter terminado no mesmo ano do calendário gregoriano em que Adão foi criado. A diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos.

Note-se como este raciocínio produz um senso de urgência no leitor. Ele ignora também a declaração expressa em Gênesis 2:23: “Esta, por fim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne.” Por que a Bíblia usaria o termo “por fim” se só um curto período de menos de um ano estavam envolvido? A Torre de Vigia está bem ciente disso; Frederick Franz fez a maior parte da tradução das Escrituras Hebraicas (da Tradução do Novo Mundo) e ele escreveu o livro Vida Eterna – Na Liberdade dos Filhos de Deus, no qual esta contagem foi originalmente enfatizada. Além disso, não há qualquer justificativa bíblica obrigando que a criação de Eva tenha assinalado o fim do sexto dia criativo. Há muita margem para tempo extra, como os eventos desde 1975 têm confirmado.

Na realidade, não existe qualquer justificativa bíblica para a ênfase forte e contínua na ideia de que 6.000 ou 7.000 anos signifiquem alguma coisa. C. T. Russell colocou a aceitação do esquema profético de 6.000 anos na perspectiva correta, quando escreveu, em Está Próximo o Tempo (1889), página 39:

E embora a Bíblia não contenha qualquer declaração direta dizendo que o sétimo milênio será a época do reino de Cristo, o grande Dia Sabático de restituição para o mundo, ainda assim a venerável tradição não deixa de ter um fundamento razoável.

Uma das pessoas de quem Russell obteve muitas idéias foi um ministro luterano da Filadélfia chamado Joseph A. Seiss. Por muitos anos Seiss foi o editor de uma revista chamada Os Tempos Proféticos. Na edição de janeiro de 1870, Vol. VIII, nº 1, páginas 12, 13, Seiss abordou suas idéias sobre cronologia bíblica, apresentando números que, segundo ele, davam evidência de que “1870 nos leva ao início do Sétimo Milhar de anos, desde que o mundo atual começou.” Em contraste com Barbour e Russell, Seiss não era dogmático quanto a esses números: “Não colocamos muita ênfase na aritmética da profecia, porque os pontos de partida, bem como muitos dos números inteiros dos cálculos estão na zona da incerteza.”

Com relação à tradição do “Grande Dia Sabático”, Russell escreveu:

É uma teoria muito antiga e na qual se acreditou amplamente, de que o mundo do qual Adão foi o início deve continuar por 6.000 anos em sua condição secular, doentia e penosa, e que o sétimo milhar de anos deve ser um período de glorioso descanso sabático, iniciado com a obliteração da era ou dispensação atual.

A ideia é realmente uma tradição venerável. Ela pode, em última análise, basear-se numa antiga tradição de que o sétimo dia criativo de Gênesis é em si de 7.000 anos, e que o Messias reinaria durante os últimos 1.000 anos dele. Uma fonte bem primitiva, mui possivelmente do 1º século DC, é o livro apócrifo do Novo Testamento chamado “A Epístola de Barnabé”. Existem diversos textos cristãos primitivos, aos quais se refere às vezes como os apócrifos do Novo Testamento, que foram em alguns momentos cogitados para serem incluídos no cânon do Novo Testamento. Eis aqui alguns trechos relevantes da reedição de 1979 de uma tradução (em inglês) deles, do ano de 1926, chamada de Os Livros Perdidos da Bíblia:

Ademais, nos Dez Mandamentos que Deus transmitiu no Monte Sinai a Moisés, face a face, está escrito sobre o sábado; Santificai o sábado do Senhor com mãos purificadas, e com um coração puro. E em outro lugar, ele diz: Se teus filhos guardarem os meus sábados, então eu porei minha misericórdia neles. E até mesmo no princípio da criação, ele faz menção do sábado. E em seis dias Deus fez as obras de suas mãos; e ele as acabou no sétimo dia, e descansou no sétimo dia, e o santificou.

Notem, meus filhos, que isso significa que ele as terminou em seis dias. O significado disto é o seguinte; que em seis mil anos o Senhor Deus vai levar todas as coisas ao fim. Pois para ele um dia é como mil anos; como ele mesmo testifica, dizendo: Eis que este dia será como mil anos. Portanto, filhos, em seis dias, ou seja, em seis mil anos, todas as coisas serão cumpridas. E quando ele diz, E ele descansou no sétimo dia: ele quer dizer o seguinte; que quando o seu Filho vier e abolir a era do Maligno, e julgar os ímpios; mudando o sol, a lua e as estrelas; daí ele deverá descansar gloriosamente neste sétimo dia. [Os Livros Perdidos da Bíblia, págs. 160-2; Cap. 13, A Epístola de Barnabé].

Escrevi uma carta para a Torre de Vigia no início da década de 1970, expressando minhas dúvidas sobre os 6.000 e os 7.000 anos como números exatos. A resposta disse, essencialmente, que o arredondamento dos números era uma suposição, ou seja, uma vez que já estávamos perto do marco dos 6.000 anos, e com o fim tão próximo, o número redondo de 6.000 parecia muito bom.

Outro ponto é que, se o período de 6.000 anos, como um número exato, tem algum significado, e se Jesus foi realmente aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas, e se os anjos foram testemunhas de todas as atividades criativas, conforme o livro de Jó 38:7 parece indicar, então Jesus e os anjos teria sido capazes de descobrir quando exatamente o fim do mundo viria. Mas Jesus disse explicitamente: “Acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai.” Portanto, supor que 6.000 anos é um número redondo deve estar errado.

Ignorando estas considerações, o artigo da revista A Sentinela  de 15 de fevereiro de 1969 prossegue dizendo nas páginas 115, 116:

Note-se que este tempo entre a criação de Adão e o começo do sétimo dia, o dia de repouso, não precisava ter sido longo. Poderia ter sido antes bastante curto. Dar Adão nomes aos animais e descobrir que não havia complemento para ele não exigiu muito tempo.

Observe-se quão taxativo o escritor é sobre este ponto. É evidente que a criação de um senso de urgência é o ponto fundamental do artigo inteiro. Continuando na página 116:

Uma coisa é absolutamente certa, a cronologia bíblica, reforçada pela profecia bíblica cumprida, mostra que em breve, sim, dentro desta geração, acabarão seis mil anos da existência do homem! (Mateus 24:34) Portanto, este não é o tempo para se ser indiferente e complacente.

O artigo dá a entender ainda que se deve ter cuidado em dar muito crédito às próprias palavras de advertência de Jesus:

Não é o tempo para se brincar com as palavras de Jesus de que “acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai”. (Mateus 24:36) Ao contrário, é o tempo em que se deve estar vivamente apercebido de que o fim deste sistema de coisas está chegando rapidamente ao seu término violento. Não se engane, basta que o próprio Pai saiba ‘o dia e a hora’!

O artigo chegou até a justificar a criação desse senso de urgência:

Os apóstolos não podiam ver nem até aqui; não sabiam nada sobre 1975. Tudo o que podiam ver era um tempo curto na frente para terminar a obra que se lhes designara (1 Ped. 4:7) Por isso havia um tom de alarme e um clamor de urgência em todos os seus escritos (Atos 20:20; 2 Tim. 4:2) E isso corretamente. Se tivessem demorado ou protelado, e se tivessem sido complacentes, com a ideia de que o fim demoraria ainda milhares de anos, nunca teriam acabado de correr a carreira que se lhes apresentava. Não, eles correram com vigor e com rapidez e venceram! Era para eles uma questão de vida ou de morte.

Como se os apóstolos precisassem ser mantidos no escuro, senão teriam desistido! Esse trecho diz muito sobre a atitude da liderança da Torre de Vigia para com as pessoas sob seu comando.

A Sentinela de 1º de novembro de 1968 abandonou toda a cautela ao dizer na página 659:

Assim, dar Adão nome aos animais e compreender que precisava de alguém correspondente teria levado apenas breve período de tempo depois de sua criação. Visto que o propósito de Jeová para o homem também era que este se multiplicasse e enchesse a terra, é lógico que criaria Eva pouco depois de Adão, talvez apenas algumas semanas ou meses mais tarde, no mesmo ano, 4.026 A.E.C. Depois de sua criação, o dia de descanso de Deus, o sétimo período, seguiu-se imediatamente.

Daí, a pergunta de estudo para este parágrafo foi: “Quando Adão e Eva foram criados?” Os parágrafos 5 e 6 diziam em seguida:

Por conseguinte, o sétimo dia de Deus e o tempo em que o homem tem estado na terra, pelo que parece, decorrem paralelamente. Para calcular onde o homem se acha na corrente de tempo em relação ao sétimo dia de Deus de 7.000 anos, precisamos determinar quanto tempo decorreu desde o ano da criação de Adão e Eva em 4026 A.E.C.

… O sétimo dia da semana judaica, o sábado, bem prefiguraria o reinado final  de 1.000 anos do reino de Deus sob Cristo, quando a humanidade será soerguida dos 6.000 anos de pecado e de morte. (Rev 20:6) Por isso, quando os cristãos notam pela tabela cronológica de Deus o fim aproximador dos 6.000 anos da história humana, isso os enche de expectativa. Isto se dá especialmente porque o grande sinal dos “últimos dias” tem estado em cumprimento desde o começo do “tempo do fim” em 1914.

Comparemos isso com o que Russell havia dito em Está Próximo o Tempo (acima) – a ideia de que o dia de sábado representa o 7º período de 1000 anos era uma venerável tradição nos dias dele.

O artigo da revista A Sentinela acrescentou uma nota acauteladora na página 661:

Será que isto significa que o ano de 1975 trará a batalha do Armagedom? Ninguém pode afirmar com certeza o que determinado ano trará.

Todavia, esta cautela ficou isolada, em vista das fortes declarações anteriores. Que alguns escritores da Torre de Vigia perderam sua cautela é ainda mais enfatizado pela declaração na Despertai! de 22 de abril de 1969, que disse na página 14:

Segundo a fidedigna cronologia bíblica, Adão e Eva foram criados em 4026 A. E. C.

A publicação Ajuda ao Entendimento da Bíblia (lançada originalmente em inglês em 1971), indica que Adão e Eva foram criados no mesmo ano. Na página 333, sob o tema “Cronologia”, disse que do tempo da criação de Adão até o nascimento de Sete decorreram 130 anos, e na página 538, sob o verbete “Eva”, o livro disse que à idade de 130 anos, Eva deu à luz Sete.* Uma vez que este livro foi publicado como uma enciclopédia autorizada de referência, estes comentários novamente garantiram ao leitor que a organização Torre de Vigia tinha certeza de que Adão e Eva foram criados no mesmo ano, e deu a entender que tinha certeza de que “tudo estaria terminado” por volta de 1975.

[* Nota do tradutor: É realmente desta maneira que o assunto estava expresso na edição original em inglês de Ajuda ao Entendimento da Bíblia (lançada em 1971). Na página 538, a frase dizia: “À idade de 130 anos, nasceu outro filho a ela. Eva chamou-o de Sete…” Na edição em português (publicada em 1982, portanto vários anos depois do fracasso das afirmações sobre 1975) isso foi mudado discretamente. A frase (na página 564) diz: “Quando Adão, marido dela, tinha 130 anos, Eva deu à luz outro filho. Ela chamou-o de Sete…” (Os grifos são nossos.).]

O folheto A Paz de Mil Anos Que Se Avizinha, lançado em 1969, foi também taxativo quanto a 1975. Nas páginas 24-26, ele disse:

Mais recentemente, pesquisadores sérios da Bíblia Sagrada verificaram novamente sua cronologia. Segundo os seus cálculos os seis milênios da vida da humanidade na Terra terminariam nos meados de década de mil novecentos e setenta. Portanto, o sétimo milênio a partir da criação do homem por Jeová Deus começaria em menos de dez anos.

… A fim de que o Senhor Jesus Cristo seja ‘Senhor até do sábado’, seu reinado de mil anos terá de ser o sétimo de uma série de períodos de mil anos ou milênios.

O material acima é notavelmente similar em espírito às alegações reconhecidamente tolas feitas por J. F. Rutherford na publicação Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão.

Algumas declarações bem diretas sobre 1975 saíram no periódico Ministério do Reino. A edição de maio de 1968 (página 4) incentivou os irmãos a entrar rapidamente no serviço de pioneiro, dizendo:

Em vista do curto período de tempo que resta, desejamos fazer isso tão amiúde quanto as circunstâncias o permitam. Apenas pensem, irmãos, restam menos de noventa meses até que se completem os 6.000 anos da existência do homem na terra. Lembram-se do que aprendemos nas assembléias no verão passado? A maioria das pessoas que vivem atualmente estarão vivas provavelmente quando irromper o Armagedom, e não há esperança de ressureição para os que forem destruídos então. Assim, agora, mais do que nunca, é vital não desconsiderar aquele espírito de querer fazer mais.

Ministério do Reino de dezembro de 1969 (Artigo:  SERVIÇO DE TEMPO INTEGRAL – Oportunidade Esplêndida Para Jovens) mencionou com aprovação que alguns estavam rejeitando bolsas de estudo e de emprego, no espírito da incrementada atividade de pioneiro.

Ministério do Reino, de julho de 1974, referindo-se ao “pouco tempo que resta”, disse com aprovação:

Receberam-se notícias a respeito de irmãos que venderam sua casa e propriedade e que planejam passar o resto dos seus dias neste velho sistema de coisas empenhados no serviço de pioneiro. Este é certamente um modo excelente de passar o pouco tempo que resta antes de findar o mundo iníquo.

Neste ponto, alguns poderiam dizer: “Ah, mas todas essas declarações só demonstram que a Torre de Vigia só estava especulando sobre 1975.” De jeito nenhum! O livro O “Propósito Eterno” de Deus Triunfa Agora Para o Bem do Homem, lançado em inglês em 1974, mostra que a ideia de que o “7º dia criativo” começou em 4026 A.E.C. era nesta ocasião uma doutrina bem estabelecida. Sem qualquer hesitação, a página 51 mostra o subtítulo “COMEÇA A “NOITINHA” DO SÉTIMO “DIA” CRIATIVO, 4026 A.E.C.” [Nota do tradutor: Na edição em português deste livro, lançada em 1976 (ou seja, depois de 1975 ter passado), este subtítulo foi silenciosamente mudado para “COMEÇA A “NOITINHA” DO SÉTIMO “DIA” CRIATIVO, APROXIMADAMENTE EM 4026 A. E. C.” (Página 44 – Grifo acrescentado)]

Tendo em vista as citações acima, fica claro que a Torre de Vigia ensinou dogmaticamente que Adão e Eva foram criados em 4026 A.E.C., que o 7º dia criativo começou naquele ano, que 6.000 anos de história humana se completariam em 1975, e que o Milênio seria a última parte do 7º dia. Estas afirmações dogmáticas levaram inevitavelmente à conclusão de que a batalha do Armagedom teria terminado em 1975.

Conforme 1975 ia se aproximando, a Torre de Vigia recuou um pouco do dogmatismo anterior. Às vezes, ao comentar sobre a “lacuna entre a criação de Adão e de Eva”, a Torre de Vigia ou seus representantes diziam que não se sabia ao certo quanto tempo durou esta lacuna, mas daí voltavam-se e davam forte indicação da ideia de que tinha de ser “um curto período de tempo”. Por exemplo, Fred Franz proferiu um discurso na Los Angeles Sports Arena em 10 de fevereiro de 1975. Em seu discurso, “O Tempo no Qual Estamos Agora Interessados”, Franz afirmou que 6.000 anos de história humana iriam terminar ao pôr do sol de 5 de setembro de 1975. Ele também revelou o que muitas Testemunhas estavam esperando em 1975:

Agora [em] nossas pesquisas junto aos irmãos em todo o mundo, quanto ao que eles estão esperando que ocorra entre agora e o fim de 1975, revela-se que alguns estão muito otimistas sobre as questões num futuro próximo, e eles estão esperando que a grande tribulação ocorra e a destruição de Babilônia, a Grande, e a aniquilação de todos os sistemas políticos do mundo, e, em seguida, a prisão de Satanás e seus demônios e o lançamento deles no abismo ocorram antes deste ano terminar. Este ano de 1975. E que logo depois disso o reinado de mil anos de Jesus Cristo comece. Assim, eles esperam muitas coisas. E eles estão divulgando seus pontos de vista para seus irmãos e irmãs nas congregações e aumentando suas expectativas muito, muito alto, realmente. Ora, não estamos dizendo que até o fim deste ano de 1975 todas essas coisas não possam ocorrer. Que Deus não pode trazer todas essas coisas! Ele pode! Ele é Todo-Poderoso. E este onipotente pode trazer isso rapidamente, se ele quer fazer isso. Mas, em vista do que as Escrituras nos informam, estamos garantidos em esperar que tantas coisas ocorram até 5 de setembro de 1975? …

Daí, Franz explicou novamente o significado do “lacuna entre Adão e Eva”, que havia um intervalo de tempo entre a criação de Adão e a criação de Eva, e que o 6º dia criativo só terminou depois da criação de Eva. Assim, embora  o dia 5 setembro de 1975 marcaria o fim de 6.000 anos da existência do homem, isso não significava necessariamente que a humanidade estaria 6.000 anos dentro do 7º dia. Este conceito foi depois apresentado na edição de A Sentinela de 1º de outubro de 1975.* Se este intervalo de tempo foi de um mês, então as coisas poderiam terminar em outubro, se foi de dois meses, em novembro, e assim por diante. Franz disse: “Bem, se este é o caso, então não temos de necessariamente insistir ou até mesmo esperar que tudo vai ocorrer e terminar até 5 de setembro deste ano…”

*Nota do tradutor: Em português esta matéria só apareceu depois de 1975 ter acabado, na edição de A Sentinela de 1º de janeiro de 1976, pág. 3:

“DESDE o começo do novo ano lunar judaico em setembro de 1975 atingiu-se um ponto significativo na história humana. Qual? Segundo a cronologia bíblica, a humanidade completou então 6.000 anos de existência na terra. Sim, o primeiro homem Adão, se tivesse escolhido permanecer obediente à regência de Deus, ainda estaria vivo e teria tido 6.000 anos de idade em setembro do ano findo.

Significa isso, então, que a humanidade já avançou agora 6.000 anos dentro do período de 7.000 anos que Deus ‘abençoou e fez sagrado’ como seu grande ‘dia de descanso’? Significa isso que o Reinado milenar de Cristo, como os últimos 1.000 anos deste ‘dia de descanso’, deve ser contado a partir de setembro de 1975? — Gên. 1:27, 31; 2:2, 3; Rev. 20:1-6.

Não, não significa isso. Por que não? Ora, o registro bíblico mostra que as criações de Deus no “dia” que precedeu àquele ‘dia de descanso’ de 7.000 anos não terminaram com a criação de Adão. Mostra que houve um intervalo de tempo entre a criação de Adão e a de sua esposa Eva. Durante este tempo, Deus fez que Adão desse nomes aos animais. Não sabemos se este período durou semanas, meses ou anos. Por isso não sabemos exatamente quando começou o grande ‘dia de descanso’ de Jeová, nem sabemos exatamente quando terminará. O mesmo se aplica ao começo do reinado milenar de Cristo. A Bíblia não nos fornece meios para fixarmos a data, e por isso não adianta especular qual seria esta data.

Apesar dessas palavras de cautela, Franz voltou a criar o senso usual de urgência:

… Depois de 5 de setembro, as coisas podem ocorrer, e parece bem provável que vão ocorrer, conforme a maneira que estão indo os assuntos do mundo … Assim, poderiam vir rapidamente, dentro de um curto período de tempo depois do dia final do ano lunar de 1975. E não deveríamos nos voltar para decisões erradas por conta disso e dizer, bem, o período depois de 5 de setembro de 1975 é indefinidamente longo e por isso ele vai me permitir realizar minhas aspirações humanas, casar e criar uma família – ter filhos; ou ir para a faculdade por alguns anos e aprender engenharia e encontrar uma boa colocação como engenheiro… ou alguma outra atividade proeminente e bem remunerada. Não! O tempo não permite isso, queridos amigos …. Evidentemente, não resta muito tempo…

Assim, segundo Franz, que era, na prática, o teólogo principal da Torre de Vigia, o Armagedom e o reinado milenar de Cristo poderiam ocorrer quase imediatamente – ou em algum momento durante os próximos poucos anos.

A revista A Sentinela de 15 de setembro de 1975, pág. 552, informou que Franz pouco depois discursou numa formatura da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia, realizada em 2 de março de 1975, e, de maneira bem semelhante ao que ele havia dito na Los Angeles Sports Arena, ele disse:

Outro orador, F. W. Franz, vice-presidente da Sociedade, incutiu fortemente na assistência a urgência da obra cristã de pregação. Salientou que, segundo a cronologia bíblica, fidedigna, 6.000 anos da história humana acabarão neste setembro, segundo o calendário lunar. Isto coincide com o tempo em que ‘a espécie humana está prestes a matar-se de fome’, bem como a ser confrontada com o envenenamento pela poluição e com a destruição por armas nucleares. Franz acrescentou: “Não há base para se crer que a humanidade, confrontada com o que agora enfrenta, possa existir durante o sétimo período de mil anos” sob o atual sistema de coisas.

Significa isso que sabemos exatamente quando Deus destruirá este velho sistema e estabelecerá o novo? Franz mostrou que não sabemos, porque não sabemos quão breve foi o intervalo de tempo entre a criação de Adão e a criação de Eva, ponto em que começou o dia de descanso de Deus, de sete mil anos. (Heb. 4:3, 4) Mas, ele salientou que “não devemos pensar que este ano de 1975 não seja de nenhum significado para nós”, porque a Bíblia prova que Jeová é “o maior cronologista” e “temos a data-base de 1914 assinalando o fim dos Tempos dos Gentios”. Assim, prosseguiu, “estamos cheios de expectativa quanto ao futuro próximo, quanto à nossa geração”. — Mat. 24:34.

A organização foi ainda mais direta em suas comunicações particulares com seus próprios agentes. O trecho a seguir foi extraído de uma carta da Torre de Vigia para o superintendente de distrito Lester Duggan, aparentemente em algum momento do ano de 1975, em resposta a uma pergunta sobre o subtítulo na página 51 da edição em inglês do livro O “Propósito Eterno” de Deus Triunfa Agora Para o Bem do Homem (mencionado acima):

Embora o início do “sétimo dia” seja admitidamente provisório, o fim dos seis mil anos de história do homem no outono [setentrional] de 1975 não é algo provisório, mas é aceito como uma data certa. Assim, em boa fé e com a motivação correta de promover a educação bíblica, a data de 1975 foi apresentada com confiança, como uma data de grande significância. Ao passo que algumas pessoas de fora têm sido rápidas em denunciar a Sociedade, ainda assim aguardamos calmamente a conclusão deste ano bíblico de 1975, à medida que continuamos a fortalecer-nos espiritualmente. Do ponto de vista de Jeová e seu propósito eterno para a terra, a conclusão de seis mil anos de residência do homem nesta terra é obrigatoriamente importante.

Até mesmo os textos do ano para os anos iniciais da década de 1970 refletiam o senso de urgência que a Torre de Vigia estava criando:

1973: “Mas nós, da nossa parte, andaremos no nome de Jeová, nosso Deus, por tempo indefinido, para todo o sempre.” — Miq. 4:5.

1974: “Ainda que a própria figueira não floresça… vou rejubilar com… Jeová.” — Hab. 3:17, 18.

1975: “Vou dizer a Jeová: ‘Tu és meu refúgio e minha fortaleza.’” — Sal. 91:2.

O senso de urgência continuou a ser enfatizado durante 1974 e 1975. Observe-se a maneira como o trecho da revista A Sentinela  de 15 de março de 1975 (págs. 189, 190) fez isso:

… E agora, neste ano crítico de 1975, pode-se perguntar: Será que o Deus Altíssimo da profecia fez para si um nome? A resposta é óbvia: Sim! Por meio de quem? Não pela cristandade, nem pelo judaísmo, mas pelas testemunhas cristãs de Jeová! …

Só a partir do fim do ano de 1928 abriu-se ao entendimento espiritual do restante ungido do “Israel de Deus” a perspectiva de sobreviver à “guerra do grande dia de Deus, o Todo-poderoso”, no Har-Magedon, e entrar aqui na terra na nova ordem justa de Jeová… E agora, no ano de 1975, alguns milhares dos do restante ungido, ainda vivos nesta terra, aguardam o cumprimento desta perspectiva alegre. A crescente “grande multidão” de seus companheiros semelhantes a ovelhas aguarda com eles entrar na Nova Ordem sem interrupção de vida. Na Nova Ordem, Jeová Deus aumentará a “longura de dias” do restante ungido na terra ao ponto de fartar os membros dele. Resta a ver se serão ainda retidos aqui na terra para ver o começo da ressurreição dos mortos terrestres e para conhecer testemunhas fiéis dos tempos antigos, pré-cristãos. Gostariam disso, antes de serem tirados do cenário terrestre para a recompensa celestial junto a Cristo.

Note-se como o artigo citado acima enfatizou o “ano crítico de 1975”. Se, como afirmam hoje alguns apologistas, a Torre de Vigia só sugeriu 1975 como uma data possível para o “fim”, então porque o artigo o chamou de “ano crítico”? O que havia de “crítico” sobre ele, exceto que ele provavelmente seria o ano do “fim”?

Em dezembro de 1975 publicou-se uma versão revisada do livro As Testemunhas de Jeová e a Especulação Profética (Edmond C. Gruss, Igreja Presbiteriana e Reformada, 1972, 1975). Nas páginas vii-viii ele citou o jornal religioso londrino Evangelical Times de janeiro de 1975, que publicou um artigo intitulado “O Mundo Acabará Neste Ano?”” (Escrito pelas ex-Testemunhas de Jeová Richard E. Cotton e George Terry). O artigo disse:

O ano de 1975 raiou, e com ele vem a pergunta: Poderia ser este o ano da Nêmesis, da retribuição, para as Testemunhas de Jeová? Poderia ser o ano de mais uma esperança frustrada?

Para muitos dentro das fileiras do Movimento da Torre de Vigia, 1975 significa só uma coisa – o tão esperado esperado ano da Ira Divina. A hora do julgamento, quando Deus destruiria os ímpios e restauraria esta velha terra a uma condição paradisíaca. A vida eterna na terra restaurada tem sido a esperança das maioria das Testemunhas de Jeová.

Por quase dez anos 1975 paira sobre as cabeças dos fiéis como uma cenoura cronológica. É verdade que se escreveu muito pouco sobre o assunto nas publicações oficiais da Torre de Vigia, mas já se disse muito no nível das bases. E quando as Testemunhas são ensinadas a acreditar que Deus está usando a organização Torre de Vigia com a exclusão total de todas as outras igrejas ou organizações (pois isto é o que a organização alega) exige-se apenas uma sugestão de uma data para iniciar uma onda de especulação. Isso é muito compreensível em um grupo que sustenta que estamos vivendo no próprio final do que a Bíblia menciona como o “tempo do fim”.

Uma data como 1975 teve um toque bem apocalíptico, quando ela ainda estava dez anos ou perto disso à frente. Em 1966 uma publicação chamada Vida Eterna – Na Liberdade dos Filhos de Deus anunciou que uma pesquisa independente sobre a cronologia bíblica havia estabelecido que 6.000 anos da história humana chegariam ao fim no outono [setentrional] de 1975. Como as Testemunhas de Jeová acreditam que haverá um milênio para completar um ciclo divino de 7.000 anos, era claro que o período longamente aguardado começaria por volta do outono de 1975.

Quando a data foi tornada pública em 1966, o escritor deste livro era Testemunha de Jeová e pôde ver o que aconteceu. Muito pouco além dessa declaração foi publicado, mas coisas começaram a ser ditas e foi grande a especulação. Sem dúvida, muitos podem recordar o famoso astro do futebol, que afirmou na televisão que a Bíblia ensina que o fim viria em 1975. Ele tinha tanta certeza disso, que disse aos espectadores que se os resultados esperados não se concretizassem, ele atiraria longe sua Bíblia.

Nos meses e anos que se seguiram, superintendentes e oradores visitantes do culto eram conhecidos por falar à congregação sobre o “pouco tempo que resta”. Alguns dos mais convencidos contavam o número de dias até outubro de 1975. Quando moradores de casas diziam, indignados: “Vocês sempre vêm às nossas portas”, um trabalhador por tempo integral [das Testemunhas de Jeová] respondeu: “Nós não vamos tocar muitas vezes mais.”

Os estudos bíblicos com os não convertidos se limitavam a um determinado número de semanas por causa da proximidade do fim. Algumas Testemunhas nunca se preocupavam em aumentar seus reembolsos da hipoteca à medida que as taxas de juros subiam. Elas estavam esperando por uma solução definitiva sobre o montante em dívida em 1975. Alguns estavam tão convencidos de que o mundo estava em seus últimos passos que especulavam que o sistema poderia não durar até 1975.

Empreendedores que seguiam a organização eram conhecidos por enfatizarem no início da década de 1970 que nem seria necessário repintar a casa. Houve até Testemunhas de Jeová que precisavam de cirurgias, que preferiram conviver com a situação até que os raios curativos do milênio restaurassem todos à saúde perfeita.

Perguntamo-nos: Quantas testemunhas estão sofrendo de amnésia neste ano sobre suas esperanças expressas há apenas um ano ou mais? Mas estas coisas foram ditas e nenhuma quantidade de esquecimento pode desdize-las.

Para alimentar mais ainda as chamas da especulação, algumas Testemunhas conseguiam cópias datilografadas de algum discurso que se alegava ter sido feito por um dos diretores da Torre de Vigia em algum país distante. Este material explosivo indicava que logo calamidades e até mesmo pragas consumidoras da carne, de natureza cósmica, se abateriam sobre o mundo da humanidade. No entanto, membros da organização Torre de Vigia não seriam tocados por essas manifestações da cólera divina.

Quão seguros todos pareciam estar. Porém, agora 1975 está aqui e o dilema das Testemunhas de Jeová continua a aumentar…

Mas isso não é tudo. Surgem agora outros problemas para a visão de mundo das Testemunhas de Jeová. Elas já não se podem dar ao luxo de poder estender seu período de espera por mais anos adicionais. Há décadas as publicações vêm enfatizando que a segunda vinda ou presença de nosso Senhor começou no ano de 1914. Usando este ano como uma âncora cronológica para o plano dos “últimos dias”, elas dizem confiantemente (“com base em” Mateus 24:34) que num período menor que a passagem de uma geração humana a partir de 1914 tudo estará terminado.

O observador honesto pode muito bem se perguntar o que muitas Testemunhas de Jeová pensantes desejam. Quanto tempo dura uma geração? De 1914 a 1975 são 61 anos, um período bem longo. Se pensarmos em termos de 40 anos como um período razoável e bíblico, então o culto fracassou. Mesmo que ampliemos o período pós-1914 até o seu limite total, atribuindo-lhe um valor bíblico total de “setenta anos”, ainda encontramos problemas.

Conforme já foi dito, a organização salienta que é a geração que está viva agora e que presenciou os eventos de 1914, que ainda estará por aqui quando o ponto final vier. De modo que estamos tratando de um período de tempo inferior ao total de 70 anos.

O tempo não está mais do lado da Torre de Vigia. Sua ampulheta profética está vazia, exceto por uns poucos grãos de areia. Conforme o ano crítico avança, pode muito bem acontecer que a pressão seja aliviada por manobras de despistamento. Não temos dúvida quanto à habilidade dos “homens da cúpula” em fazer novos cálculos para o futuro, mas a verdade é que este ano pode muito bem ser crítico para o movimento.

As previsões do artigo acima, em relação às ações da organização Torre de Vigia depois de 1975 acertaram direto no alvo. Em 1977, as Testemunhas de Jeová começaram a ver um decréscimo no número de membros da organização, pela primeira vez desde o final da década de 1920. Em 1995, a Torre de Vigia se apercebeu que até suas especulações proféticas sobre a duração da “geração de 1914” estavam erradas, e por isso eles desconectaram totalmente “a geração” de 1914 por completo, deixando-a com uma duração indeterminada.

Por volta do início de 1976, tornou-se evidente que as expectativas da Torre de Vigia para 1975 não se realizariam, assim como tinha sido o caso em 1914 e 1925. Seguiriam os líderes da organização o exemplo dos escritores bíblicos, assumindo o erro? Mostrariam os líderes a mesma candura daqueles escritores? Não. Em vez disso, seguiram exatamente o mesmo procedimento que J. F. Rutherford havia seguido depois do fracasso de 1925, e lançaram a culpa pela decepção sobre as próprias Testemunhas de Jeová. A revista A Sentinela de 15 de janeiro de 1977, página 57, abordou o problema por alto. Sem qualquer menção ao ano de 1975, a revista disse:

… não é aconselhável que fixemos a vista em certa data, negligenciando coisas cotidianas, de que devemos normalmente cuidar, como cristãos, coisas tais como as de que nós e nossa família realmente precisamos. Talvez nos esqueçamos de que, quando o “dia” vier, não mudará o princípio de que os cristãos precisam sempre cuidar de todas as suas responsabilidades. Caso alguém tenha ficado desapontado, por não seguir este raciocínio, deve agora concentrar-se em reajustar seu ponto de vista, por não ter sido a palavra de Deus que falhou ou o enganou e lhe causou desapontamento, mas, sim, seu próprio entendimento baseado em premissas erradas.

Quem teria estabelecido essas “premissas erradas”? Será que cada uma das Testemunhas de Jeová havia concluído por si mesma que 1975 deveria ser o fim de 6000 anos da história humana, que “não devemos pensar que este ano de 1975 não seja de nenhum significado para nós”, que “segundo a fidedigna cronologia bíblica, Adão e Eva foram criados em 4026 A. E. C.”, que “o sétimo milênio a partir da criação do homem por Jeová Deus começaria em menos de dez anos”, que “a fim de que o Senhor Jesus Cristo seja ‘Senhor até do sábado’, seu reinado de mil anos terá de ser o sétimo de uma série de períodos de mil anos ou milênios” e que “o sétimo dia de Deus e o tempo em que o homem tem estado na terra, pelo que parece, decorrem paralelamente”? Eu sei e afirmo que nunca pensei essas coisas por mim mesmo. E nem me teria sido permitido expressar ou agir com base nelas, se fosse eu quem as tivesse pensado.

Em 1979 tornou-se evidente que o fracasso de 1975 tinha criado um furo na credibilidade da organização. Pior ainda, os anos de 1977 e 1978 mostraram uma queda no número mundial de pregadores das Testemunhas de Jeová, pela primeira vez em décadas. Por isso, em 1980 a liderança da Torre de Vigia finalmente admitiu que estivera errada, que tinha tido pelo menos uma parte da responsabilidade pela criação de falsas esperanças para 1975.

A edição da revista A Sentinela de 15 de setembro de 1980 contém, nas páginas 17 e 18, o reconhecimento de que a Torre de Vigia desencaminhou as pessoas ao promover o ano de 1975. Que esta admissão só tenha vindo mais de quatro anos depois que o fracasso da predição de 1975 tornou-se evidente é indesculpável. O artigo intitulado “A Escolha do Melhor Modo de Vida” dizia:

Nos tempos modernos, tal avidez, embora elogiável em si mesma, tem levado a tentativas de fixar datas para a desejada libertação do sofrimento e das dificuldades, que são o quinhão das pessoas em toda a terra. Quando foi publicado o livro Vida Eterna — na Liberdade dos Filhos de Deus e seus comentários sobre quão apropriado seria se o reinado milenar de Cristo fosse paralelo ao sétimo milênio da existência do homem, criou-se muita expectativa sobre o ano de 1975. Fizeram-se naquele tempo, e depois, declarações que enfatizavam que se tratava apenas de uma possibilidade. Infelizmente, porém, ao lado de tal informação acauteladora, publicaram-se outras declarações que davam a entender que tal cumprimento da esperança até aquele ano era mais uma probabilidade do que mera possibilidade. Lamenta-se que estas últimas declarações, pelo visto, tenham ofuscado as acauteladoras e tenham contribuído para o aumento duma expectativa já criada.

A Sentinela, no seu número de 15 de janeiro de 1977, comentou que não era aconselhável fixarmos a vista em determinada data, dizendo:

“Caso alguém tenha ficado desapontado, por não seguir este raciocínio, deve agora concentrar-se em reajustar seu ponto de vista, por não ter sido a palavra de Deus que falhou ou o enganou e lhe causou desapontamento, mas, sim, seu próprio entendimento baseado em premissas erradas.” Ao dizer “alguém”, A Sentinela incluiu todos os desapontados entre as Testemunhas de Jeová, portanto, inclusive os que tinham que ver com a publicação da informação que contribuiu para criar as esperanças que giravam em torno daquela data.

Note-se que até mesmo essa admissão está embutida dentro de um artigo sobre “a escolha do melhor modo de vida”. Ele não admite imparcialmente que a Torre de Vigia teve alguma responsabilidade pelo ocorrido. Em vez disso, o artigo usa a voz passiva, transferindo a responsabilidade para o ar: “Lamenta-se que” essas coisas ocorreram.

Quanto ao fato de as ‘declarações que indicavam probabilidade terem ofuscado as acauteladoras’, será que não teria sido esta a intenção desde o princípio? Por que outra razão essas declarações empolgantes teriam sido tão enfatizadas? Que outro resultado poderia ser esperado? Não têm os líderes da organização emitido frequentemente declarações sobre como esperam que as Testemunhas de Jeová reajam diante do que eles publicam, tais como:

Faremos bem em perguntar-nos: “Reconhecemos realmente como Jeová dirige a sua organização visível?… Quando aceitamos com apreço as provisões espirituais que são feitas por intermédio da classe do “escravo” e seu Corpo Governante, a quem mostramos respeito? (Livro Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, pág. 123).

Hoje em dia, um restante desse “escravo fiel” ainda está vivo na terra. Seus deveres incluem receber e passar adiante a todos os servos terrestres de Jeová o alimento espiritual no tempo apropriado… Quão vital é que todos os da família de Deus se sujeitem realmente aos ensinos e aos arranjos do Grande Teocrata, Jeová, e de seu Filho-Rei, Cristo Jesus, conforme transmitidos por intermédio do “escravo fiel” na terra! (Revista A Sentinela de 1º de dezembro de 1982, pág. 13).

É verdade que a Torre de Vigia reconheceu alguma responsabilidade pelas esperanças suscitadas devido às predições para 1975, mas isso não foi para consumo público geral. O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1981, página 23, falou sobre um discurso proferido nos congressos de 1979, com o mesmo título do artigo da revista A Sentinela citado acima (“A Escolha do Melhor Modo de Vida”). Segundo esse Anuário, “os irmãos apreciaram também a candura deste mesmo discurso, que reconheceu a responsabilidade da Sociedade por parte do desapontamento que alguns sentiram quanto a 1975.” (Grifo e sublinhados acrescentados.).

Hoje, toda aquela década (1966-1975) de criação de expectativas baseadas no ano de 1975 é desconsiderada como não tendo importância alguma. Muitas pessoas que se tornaram Testemunhas de Jeová depois de 1975 tem, no máximo, uma noção muito vaga do senso de urgência que estava no ar por causa dessa data. A essência das palavras de Russell em 1916 é expressa outra vez pela organização: Isso “certamente teve um efeito bem estimulante e santificador sobre milhares, todos os quais podem louvar ao Senhor – até mesmo pelo erro.”

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