O “Sinal dos Últimos Dias” – Quando?
Prefácio à Primeira Edição em Inglês (1987)
“Que guerras terríveis, tanto aqui como no estrangeiro! Que pestilências, fomes… e tremores de terra a história registrou!” — Tertuliano em Ad Nationes, escrevendo no ano 197 D.C.
Os “bons tempos de outrora”
A VINDA de Jesus Cristo à terra e a promessa de seu retorno despertaram grandes expectativas nos corações humanos. Nos vinte séculos que passaram desde aquele tempo até hoje, nem todas as expectativas que as pessoas acalentaram foram saudáveis, solidamente baseadas na Bíblia ou em fatos.
Uma característica de grande parte das pessoas de todas as gerações parece ter sido a crença de que sua época era única. Embora cientes das dificuldades e calamidades que foram o quinhão das pessoas em todas as eras, ainda assim cada grupo concluiu que sua época era pior – que os problemas e perigos estavam aumentando rapidamente em direção à calamidade extrema que poderia, e iria, acabar com o mundo.
Ouvimos frequentemente a expressão “os bons tempos antigos”. A nostalgia faz o passado parecer melhor e o presente cada vez pior. Esta atitude faz lembrar o conselho bíblico: “Nunca pergunte: ‘Por que será que antigamente tudo era melhor?’ Essa pergunta não é inteligente.” – Eclesiastes 7:10, BLH
Comentando este texto, um erudito diz:
A suposição é uma reflexão tola sobre a providência de Deus neste mundo… Somos tão estranhos em relação às épocas passadas, e juízes tão incompetentes até mesmo da atualidade, que não podemos esperar uma resposta satisfatória à questão e por isso ‘não fazemos uma pergunta inteligente’1
Talvez por sermos “tão estranhos em relação às épocas passadas”, é fácil vermos nos acontecimentos e circunstâncias dos nossos dias uma distinção e unicidade que na verdade eles não têm.
Na mente de muitas pessoas religiosas existe a crença de que a guerra final do Armagedom, a vinda de Cristo Jesus para o julgamento final, ocorrerá com certeza durante a vida delas. É difícil uma pessoa aceitar que um acontecimento dessa importância não ocorra durante seu período de vida. Resistimos no nosso íntimo ao pensamento de perdermos esse acontecimento, de não usufruirmos um ‘encontro pessoal com a história’, particularmente com a história divina. Sem dúvida, é por esta razão que livros que alimentam e estimulam esse tipo de expectativas gozam muitas vezes de grande popularidade. Como apenas um exemplo, no final da década de 1980 o livro O Extinto Grande Planeta Terra (em inglês), de Hal Lindsey, teve uma circulação de 25 milhões de cópias em 30 idiomas. É óbvio que as pessoas querem acreditar que a época delas é única, assinalada na profecia bíblica como especial.
No entanto, a história mostra que uma geração após outra fixou grandes expectativas em certas datas ou predições, sofrendo depois desapontamento, muitos ficando seriamente, até mesmo amargamente desiludidos quando suas expectativas não se concretizaram.
Em nítido contraste com essa atitude, a Bíblia mostra a simples realidade dos fatos com respeito à vida humana em geral, quando diz:
O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja, isto nunca aconteceu no mundo”? Não. Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. Ninguém se lembra do que aconteceu no passado; quem vier depois das coisas que vão acontecer no futuro também não vai se lembrar delas. – Eclesiastes 1:9-11, BLH.
Seja na Era do Obscurantismo, na Idade Média, na Era dos Descobrimentos, na Era Industrial, na Era Atômica, na Era Espacial, os eventos cotidianos são essencialmente repetições, variações, elaborações ou extensões do passado, e a vida na terra, o rumo geral da humanidade, a própria natureza humana e os relacionamentos entre os humanos, continuam a ser muito semelhantes ao que eram no passado. O que parece marcante, até mesmo estupendo, para uma geração, não o é para a seguinte e raramente surge nos pensamentos e preocupações diárias das pessoas que vivem nessa época posterior. Por mais espetacular que um pouso na lua possa ser, quantos hoje em dia se lembram do nome do primeiro homem que pisou na lua? O passado desaparece dos pensamentos humanos que estão imersos no presente e se debatem com o futuro.
Na realidade, as Escrituras mostram que a única mudança genuinamente completa ocorrerá no momento da revelação do Filho de Deus, que pode verdadeiramente renovar todas as coisas.
Se a história tem alguma lição para nós, não é outra senão a tolice de se “marcar datas” para o fim. O escritor Noel Mason disse num editorial:
A história dos ‘marcadores de datas’ judeus e cristãos, com todo o seu amargo desapontamento e desilusão, não restringiu o desejo de muitos cristãos de calcular o fim. Alguns grupos continuam apegando-se às suas datas apesar do embaraço criado pelo prosseguimento da história. Em vez de reconhecerem que suas interpretações de Daniel e Revelação estão erradas, muitos simplesmente evitam o embaraço reinterpretando o suposto ‘cumprimento’.2
Portanto, essas marcações de datas e esses escritos religiosos alarmistas são ‘notícias muito velhas’, que ocorreram repetidamente ao longo de todos os séculos da Era Cristã. Já no primeiro século encontramos o apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos em Tessalônica:
Quanto à Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e à nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, que não percais tão depressa a serenidade de espírito, e não vos perturbeis nem por palavra profética, nem por carta que se diga vir de nós, como se o Dia do Senhor já estivesse próximo. Não vos deixeis enganar de modo algum por pessoa alguma. – Segunda aos Tessalonicenses 2:1-3, BJ.
Apesar desse apelo, as conjecturas e predições não acabaram. No terceiro século, por exemplo, encontramos Cipriano, um dos pais da igreja, pintando este quadro ominoso para os cristãos de seus dias:
Que as guerras continuam prevalecendo com frequência, que a morte e a fome acumulam ansiedade, que a saúde é abalada por doenças violentas, que a raça humana é assolada pela desolação da pestilência, saibam que isto foi predito; que os males se multiplicariam nos últimos dias, e que as desgraças seriam variadas; e que o dia do julgamento está agora se aproximando.3
No sexto século, num sermão poderoso e empolgante, o Papa Gregório, o Grande proclamou:
De todos os sinais descritos pelo nosso Senhor como pressagiando o fim do mundo, alguns já vemos realizados… Pois sabemos que nação se levanta contra nação e que elas pressionam e oprimem a terra nos nossos próprios tempos como nunca antes nos anais do passado. Terremotos soterram inúmeras cidades, como temos ouvido frequentemente de outras partes do mundo. A pestilência continuará sem interrupção. É verdade que não presenciamos sinais no sol, na lua e nas estrelas, mas que estes não estão muito longe podemos deduzir à base das mudanças na atmosfera.4
Assim, a história registra a longa e sombria lista de predições e fracassos de inúmeros “profetas” do fim dos tempos. Não parece haver qualquer necessidade de entrar em detalhes sobre todos os proclamadores dos últimos dias que em nossa própria época têm – tanto por meio da página impressa como por meio de sermões transmitidos pelo rádio e pela televisão – suscitado expectativas empolgantes com suas predições escatológicas alarmistas.
A questão essencial
Significa isto que um senso de expectativa é errado? De modo algum, pois somos constantemente incentivados nas Escrituras a permanecer “vigilantes”. Vigilantes em relação a quê? Será que os fracassos das predições feitas no passado significam necessariamente que nossa geração não pode ser a exceção, que nossa época não pode de fato conter acontecimentos que a marcam definitivamente como sendo aquela em que a profecia bíblica atingirá seu cumprimento final? Se a Bíblia de fato estabelece certo “sinal” (talvez composto por vários “sinais” individuais) que nos permita identificar esse período e se esse “sinal” é agora visível, seria desastroso deixarmos de reconhecê-lo, seria repreensível não contribuir para divulgá-lo. Por outro lado, se essas afirmações não passam de manipulação de fatos e, pior ainda, manipulação das Escrituras, então seria igualmente desastroso e repreensível promovermos confiança nessas afirmações, contribuindo para a sua difusão. Repreensível porque significaria desobedecer à Palavra de Deus que avisa contra enganar outros, engano esse que pode ser não só doloroso emocional, material e fisicamente, como também causar uma erosão devastadora da fé na genuína mensagem de Deus.
Com certeza se faz a afirmação de que estamos hoje presenciando esse “sinal” ou “sinais” que identificam nossa geração como sendo aquela que vive no tempo do fim do mundo.
Em seu best-seller intitulado O Tropel Que Se Aproxima, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (em inglês), o Dr. Billy Graham declara:
Temos de nos perguntar: É este o tempo ‘do fim’ do qual a Bíblia fala em termos tão vívidos em tantos lugares? … A Bíblia ensina que haverá certo número de sinais que são facilmente discerníveis à medida que nos aproximamos do fim dos tempos. Todos estes sinais parecem estar ficando em foco atualmente. – Páginas 126, 127.
Sob o cabeçalho “Observai Estes Sinais”, no livro A Promessa (em inglês), publicado em 1982, Hal Lindsey faz referência às palavras de Jesus em Mateus capítulo 24 e enumera estes sinais como sendo guerras, fome, pestes, criminalidade e terremotos. Ele assemelha estes e outros aspectos da profecia a peças de um “grande quebra-cabeça complexo” e diz ainda que, depois do estabelecimento do Estado Judaico em Israel no ano de 1948, “todo o cenário profético começou a encaixar-se com vertiginosa rapidez.” – Páginas 197-199 em inglês.
Em Adeus, Planeta Terra (em inglês), um livro que em alguns aspectos parece ser feito aos moldes do livro O Extinto Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o autor Robert H. Pierson, Adventista do Sétimo Dia, cita a pergunta dos discípulos a respeito da vinda de Jesus e depois diz:
Leia o que Jesus respondeu – o que Ele tinha a dizer acerca do seu tempo e do meu – a parte final do século vinte…
Leia estas palavras à luz dos atuais acontecimentos mundiais.
Em seguida, vem o subtítulo:
O Aumento Fenomenal da Guerra, Crime, Violência e Medo, São Todos Sinais da Segunda Vinda de Jesus!5
O falecido Herbert W. Armstrong, fundador e líder da Igreja Mundial de Deus, numa carta dirigida a assinantes da revista A Verdade Simples (em inglês), escreveu:
… permita-me dar-lhe uma breve descrição do mundo em que O LEITOR vive hoje, e do que os próximos anos trarão à SUA e à minha vida. Estamos vivendo numa época de PERIGO extremo! … Toda a evidência parece indicá-lo – poluição, crime e violência sem precedentes, vida familiar em desagregação, moral decadente, terrorismo, guerras locais na Ásia, no Oriente Médio, na América do Sul. TODOS os sinais apontam para o fato de que estamos vivendo no TEMPO DO FIM desta atual civilização! …
Estamos vivendo nos dias mais tremendos da história do mundo – no próprio FIM DOS TEMPOS, o FIM deste atual mundo mau, infeliz, violento – logo antes da Segunda Vinda de Jesus Cristo.
Embora numerosas fontes proclamem que nossa época é de fato diferente de qualquer outra época passada e que estamos vendo de fato acontecimentos e condições que marcam definitivamente nossa era como sendo a predita e final, provavelmente nenhuma fonte é mais notória em fazer essa afirmação do que a organização internacional conhecida como Testemunhas de Jeová (JW.org). A liderança delas, sediada nos Estados Unidos da América, construiu um império editorial mundial raramente igualado quanto ao volume de publicações produzidas. Os milhões de membros da organização são continuamente incentivados a estarem cônscios da ‘urgência dos tempos’. Em resposta, esses membros batem às portas das casas em todos os países em que essa atividade é permitida, oferecendo literatura que afirma ser um fato incontestável que os últimos dias tiveram início em 1914.*
Mais ainda, o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová torna a crença nesse ensino um artigo de fé, essencial para a aprovação de Deus e Cristo e, portanto, necessário para todos que queiram ser salvos.6 Por essa razão, qualquer membro que questione seriamente a solidez desse ensino – baseando-se nas Escrituras e em fatos – está sujeito à excomunhão, devendo daí em diante ser considerado, e totalmente rejeitado, como “apóstata” da verdadeira fé.
Devido a esses fatores, e principalmente porque suas alegações a respeito da “singularidade” dos nossos tempos muitas vezes ultrapassam – tanto na ênfase como na extensão – as de outras fontes, nas comparações feitas entre os ensinos das Escrituras e os fatos históricos, este livro em certas partes poderá analisar mais detidamente as alegações e predições feitas pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e sua organização JW.org quanto ao tempo em que vivemos.
Ao fazermos isso, não estamos de modo algum perdendo de vista as opiniões de outras fontes muito divulgadas, pois os mesmos fatos aqui considerados têm uma relevância muito grande para as alegações e predições feitas por essas outras fontes.
Seja qual for a fonte, a questão essencial é:
São essas alegações realmente autorizadas pelas Escrituras? Será que os acontecimentos e condições apontados de forma tão dramática, constituem realmente um “sinal” bíblico? Será que eles são verdadeiramente exclusivos do nosso tempo e distintivos de nossa geração? O que mostram os fatos?
Cremos que o material preparado pelos autores deste livro mostrará para a maioria de nós o quanto temos sido “estranhos em relação às épocas passadas”, e consequentemente, como é fácil sermos ‘juízes incompetentes da atualidade’. A evidência histórica resultante da pesquisa intensiva dos autores, sem dúvida será surpreendente para muitos, no entanto ela está documentada de forma cuidadosa e autêntica. Temos prazer em publicar este trabalho, certos de que irá esclarecer amplamente algumas questões muito cruciais.
Os Editores.
Notas
1 – Comentário de Matthew Henry [em inglês] sobre Eclesiastes 7:10.
2 – Revista Boas Novas Ilimitadas (em inglês), setembro de 1984, p. 4.
3 – “Um Comunicado a Demetriano”, Cipriano, Tratado 5, Os Pais Antenicenos (em inglês), editado por A. Roberts e J. Donaldson, Eerdmans, 1978. Vol. V, p. 459.
4 – Citado em Sua Manifestação e Seu Reino (em inglês), de T. Francis Glasson, M.A., D.D., Editora Epworth, Londres, 1953, p. 45.
5 – Adeus, Planeta Terra (em inglês), Pacific Press Publishing Association, 1976, pág. 48. Conforme se verá no capítulo 8, nem todas as fontes dos Adventistas do Sétimo Dia têm a mesma posição do escritor Pierson.
* Nota do tradutor: Embora a liderança das Testemunhas de Jeová ainda afirme que o início dos “últimos dias” foi em 1914, eles já não dizem que algumas pessoas que já eram nascidas na época da Primeira Guerra Mundial ainda estarão vivas quando chegar o fim do mundo. O ensino sobre a “geração de 1914” não resistiu à passagem do tempo e teve de ser abandonado em fins de 1995.
6 – Veja, por exemplo, A Sentinela de 1º de abril de 1986, págs. 30 e 31.