Publicações

As Testemunhas de Jeová e a Celebração da Morte de Cristo

Introdução

A CELEBRAÇÃO da morte sacrificial de Cristo com o uso dos símbolos do pão e do vinho é a única cerimônia religiosa ordenada especificamente no Novo Testamento. O próprio Jesus, na noite anterior à sua morte, instruiu seus seguidores a realizar regularmente este procedimento. Conforme a Bíblia indica, os primitivos cristãos acataram a instrução dele. E no decorrer dos séculos desde então, tanto cristãos individuais como grupos religiosos organizados continuaram realizando esta cerimônia e isto é assim até hoje. Grandes e pequenas organizações religiosas fazem isso com regularidade.

Emblemas da Celebração

Embora todas as organizações cristãs da atualidade tenham um entendimento semelhante quanto ao significado da celebração, há variações na maneira como a efetuam. Não se pode dizer, porém, que estas diferenças sejam profundas. Geralmente elas se referem a aspectos nos quais a própria Bíblia é omissa, tais como a frequência da realização, o horário, o local e até certos detalhes da cerimônia em si.

A Igreja Católica Romana, por exemplo, já há séculos conclama seus fiéis a comparecerem aos seus templos (ou então a solenidades feitas ao ar livre), nos quais a celebração é realizada diariamente e todos os procedimentos relacionados com o que eles chamam de “sacramento da Eucaristia” são bem conhecidos. Não há por parte desta igreja uma preocupação com horários específicos, uma vez que as missas podem ser feitas em momentos bem diferentes do dia.

Os grupos evangélicos diferenciam-se dos católicos no tocante à frequência. Diversos deles chegaram à conclusão de que a celebração deve ser feita em base semanal. Já a maior denominação pentecostal, a Assembleia de Deus, realiza sua celebração mensalmente. E esta costuma ser também realizada nos templos usados para os cultos da igreja. Todos os fiéis participam do pão e do vinho usados, muito embora a liderança desta igreja não insista que o pão seja sem fermento e o vinho seja puro.

Outros grupos celebram com frequências ainda menores. Tanto a Igreja Adventista do Sétimo Dia, como um grupo dissidente dela (chamada de “Igreja Adventista do Sétimo Dia – Movimento de Reforma”) celebra a Ceia do Senhor trimestralmente. 1Explicando o motivo da adoção da frequência trimestral, uma publicação oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia declara: “19. A Bíblia não especifica a frequência com a qual deve ser celebrada a Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:25,26). Os adventistas têm acompanhado a prática comum entre muitos protestantes de celebrar esta ordenança quatro vezes por ano. ‘Ao adotarem a frequência trimestral, os primeiros crentes adventistas sentiram que celebrar o serviço com maior frequência poderia significar risco de formalidade e fracasso na compreensão da solenidade do serviço.’ Esta parece ser uma decisão equilibrada – um ponto equidistante da frequência excessiva e da prática apenas a cada longo período como, por exemplo, um ano. (W. E. Read, “Frequency of the Lord’s Supper” [A Frequência da Ceia do Senhor], Ministry, abril de 1955, pág. 43).” – Nisto Cremos: 27 ensinos bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia, Casa Publicadora Brasileira, 2003, págs. 278, 279. As Testemunhas de Jeová defendem que a comemoração deve ser feita anualmente. Este é também o caso de outras organizações protestantes e evangélicas.Segundo estas ensinam, uma vez que Cristo instituiu a celebração no mesmo dia em que se celebrava a Páscoa judaica e como esta era uma celebração anual, então o sacrifício de Cristo deve igualmente ser comemorado apenas uma vez por ano. Além do mais, de acordo com a Bíblia, a Páscoa judaica era comemorada após o pôr-do-sol e num dia específico do ano, determinado astronomicamente. Como Jesus instituiu a celebração neste mesmo dia e horário, alguns insistem na observância estrita destes detalhes.

Embora não haja aqui a intenção de questionar qualquer destes procedimentos, devemos relembrar o fato simples de que a Bíblia não especifica nenhum deles de maneira clara. O que Cristo fez foi instruir seus seguidores a ‘persistirem’ em realizar o ato ‘em sua memória’, mas, nem nas palavras dele, nem nos escritos apostólicos posteriores, encontramos qualquer diretriz quanto a detalhes tais como “frequência”, “local” e “horário”.

Com relação ao modo de celebrar, embora haja variações de igreja para igreja, pode-se dizer também que não existe diferença radical. Todos os grupos fazem uso do pão e do vinho e todos entendem que estes têm ligação com o corpo e o sangue de Cristo, dados em sacrifício. Talvez a maior diferença neste caso seja entre o ensino católico romano e o dos demais grupos. De acordo com a doutrina católica, ocorre o fenômeno “transubstanciação” no momento da celebração, isto é, o pão (chamado de “hóstia sagrada”) e o vinho tornam-se realmente o corpo e o sangue de Cristo. Esta ideia se reflete em detalhes do ritual católico. Os demais grupos religiosos discordam desse ensino e argumentam que, embora os símbolos devam ser tratados com respeito, eles nada mais são que uma representação da realidade, não ocorrendo, portanto, uma transformação milagrosa desse tipo.

Diferenças à parte, o fato é que o conceito de participação comum está nitidamente presente nas cerimônias realizadas pela grande maioria dos grupos religiosos. Os diversos termos associados à celebração tais como, “Ceia do Senhor” e “Comunhão Cristã”, sugerem algo feito em grupo, com a participação de todos os presentes e com o objetivo de celebrar alegremente um evento de importância para a família cristã.

As Testemunhas de Jeová (JW) também aceitam que a cerimônia está relacionada primariamente com o sacrifício de Cristo, o qual abriu à humanidade a perspectiva de vida eterna. Assim como os demais grupos religiosos, elas utilizam o pão e o vinho e fazem todo o esforço de convidar o maior número possível de pessoas interessadas a comparecer aos seus templos de culto (chamados de “Salões do Reino”) por ocasião do evento. Um detalhe que chama a atenção, porém, é que, diferente das demais igrejas, na celebração que elas realizam não são todos os que participam do pão e do vinho. Na realidade, qualquer convidado que for a uma celebração promovida pelas Testemunhas, notará imediatamente que, na grande maioria dos locais, nenhum dos presentes come o pão ou bebe o vinho. Estes itens apenas circulam de mão em mão dentro do recinto onde se realiza a reunião.

Alguns poderiam dizer que este procedimento pode ser colocado na mesma categoria dos mencionados acima, ou seja, como algo que não é tão crucial assim, sendo apenas uma modalidade particular da celebração que uma determinada igreja resolveu seguir.

Há, contudo, motivos válidos para examinarmos isso. Em primeiro lugar, para muitos cristãos, a questão da participação ou não nesses alimentos está numa categoria bem diferente das questões referentes a local, horário, etc. A participação é algo intrínseco à celebração; sem isso ela perde o sentido. E é justamente neste particular que as Testemunhas vão “na contramão” dos outros movimentos cristãos.

Mas não é só pelo fato de as Testemunhas procederem de modo contrário aos demais grupos que esta análise é importante. Na verdade, não foram elas que estabeleceram esse procedimento com base na leitura da Bíblia. Se fosse assim, toda Testemunha de Jeová saberia explicar facilmente por que não faz isso. Mas não é o que acontece. A grande maioria delas simplesmente veio a aceitar o que sua entidade dirigente, a organização Torre de Vigia ensina sobre o assunto. É por isso que quando alguém de fora da organização pergunta a uma Testemunha por que os membros de sua religião evitam comer o pão e beber o vinho, dificilmente a Testemunha tentará dar uma resposta baseada unicamente na Bíblia. O mais provável é que ela dirija a atenção da pessoa para o que diz uma das publicações da organização que trata do assunto, ou mesmo encaminhe a pessoa para um “ancião” da igreja ou outro membro mais “qualificado” para responder. E mesmo esta outra pessoa certamente usará as explicações que aparecem nas publicações, para dar uma resposta autoritativa.

Veremos que existe todo um conjunto de ensinos por trás disso. E qualquer um que se ponha a examiná-lo, notará que a argumentação é bem diversificada. Com toda a certeza, os líderes da Torre de Vigia não consideram isso como um detalhe de somenos importância, pois defendem esses ensinos com frequência e muito zelo.

Qual é então o fundamento doutrinário desse procedimento seguido na comemoração promovida pela Torre de Vigia (JW.ORG), que faz com que as Testemunhas de Jeová se sintam proibidas de fazer algo que os membros das outras igrejas fazem com tanta naturalidade?

O Ensino da Torre de Vigia

COMO MUITOS SABEM, as Testemunhas de Jeová entendem os 144.000 (mencionados em Apocalipse 7:4 e Apocalipse 14:1,3) como um número literal. A organização ensina que apenas estes são destinados a irem para o céu. De acordo com a doutrina, eles têm sido escolhidos por Deus desde o primeiro século da Era Cristã e ainda existem alguns vivos na Terra atualmente, que se encontram dentro da organização das Testemunhas de Jeová e em nenhum outro lugar. Uma vez que se crê que todas estas pessoas serão reis e sacerdotes no céu, junto com Cristo, e como a organização alista uns poucos milhares restando vivos na Terra, as Testemunhas os chamam de “restante ungido”. Entre as Testemunhas de Jeová existem, portanto, duas classes: Os “ungidos”, que são esses poucos milhares de membros e a “grande multidão” (cujos integrantes já foram conhecidos também como “outras ovelhas” ou “jonadabes”), composta pelas demais Testemunhas, que não irão para o céu, mas viverão para sempre na Terra.

Já por muitas décadas este tem sido um ensino peculiar às publicações da Torre de Vigia. E, diferente do que se poderia imaginar, os mais fortes questionamentos dele não têm se originado de membros de outras organizações religiosas, e sim de ex-Testemunhas de Jeová. Muita matéria que contesta esse entendimento dos 144.000, como número literal, e da “grande multidão” como sendo uma “classe terrestre” tem sido escrita por dissidentes da organização. Uma vez que este folheto não tem o objetivo primário de questionar isso, não será apresentada toda essa informação aqui. 2Caso o leitor tenha interesse em examinar alguns destes questionamentos com mais detalhes, sugerimos o folheto Onde a “Grande Multidão” Serve a Deus? e também o artigo intitulado Existem Duas Classes de Cristãos?, ambos disponíveis no Mentes Bereanas. Mas é importante fazermos esta breve referência à doutrina, pois tal informação é essencial para se entender por que a vasta maioria das Testemunhas se abstém de participar do pão e do vinho simbólicos.

Durante a comemoração, se alguma delas participar, os demais presentes concluirão que esta pessoa está afirmando ser parte do “restante ungido”. A ideia é que, quando Jesus instituiu a celebração e disse ‘comam e bebam todos vocês’ (Mateus 26:26-28), ele estava falando apenas com os desse grupo. A aplicação que a Torre de Vigia faz desse texto apenas aos 144.000 não é algo isolado. Muitos textos bíblicos que os membros de outras religiões entendem aplicar-se a todos os verdadeiros cristãos são também entendidos desta maneira. Por exemplo, tudo o que o Novo Testamento relaciona com a “nova aliança” (“novo pacto”, segundo a Tradução do Novo Mundo) é também aplicado pela Torre de Vigia apenas aos “ungidos”. Além de ensinar que a esperança de vida celestial é exclusividade deles, a organização ensina também que Jesus Cristo é o Mediador apenas entre Deus e estes ungidos, sendo que apenas eles constituem o que o apóstolo Paulo chama de “Israel de Deus” (Gálatas 6:16) Nada disso se aplica às outras Testemunhas de Jeová, nem aos demais cristãos. (Para exemplos do que a Torre de Vigia ensina sobre isso, veja a lista de citações de publicações no quadro do final deste capítulo.).

Mas, e se alguém que não afirma ser desse grupo do restante dos 144.000 comer o pão e beber o vinho da Celebração? As Testemunhas dirão que essa pessoa está “participando indignamente”, e se ela persistir nisso será julgada adversamente por Deus. Isso porque tal pessoa não recebeu ‘o testemunho do espírito’ (mencionado em Romanos 8:16) e nem é “filho de Deus” no pleno sentido da palavra. Segundo a organização, apenas os 144.000 receberam esse ‘testemunho’ e gozam da condição de cristãos ‘nascidos de novo’.

A informação apresentada nos parágrafos acima é apenas um resumo dos ensinos tradicionais da Torre de Vigia quanto a este assunto. Existem muitos outros detalhes e as publicações apresentam várias linhas de argumentação em defesa desses ensinos. 3O Apêndice 4 é um comentário de todos os parágrafos de um “estudo de A Sentinela”. Este “estudo” é uma amostra da argumentação contida nas publicações da Torre de Vigia. Frisamos que este folheto não tem o objetivo de discutir se o número 144.000 é literal ou não. Tampouco há aqui a ideia de questionar ensinos bíblicos claros relacionados com o Reino de Deus e com a vida eterna.

A verdadeira questão que constitui o escopo deste trabalho é: Há realmente base bíblica para essa conexão que a Torre de Vigia faz entre a esperança de vida celestial e a participação no pão e no vinho usados na Celebração da morte de Cristo? Para se analisar isso, há necessidade de examinarmos os argumentos mais importantes que aparecem nas publicações da organização, verificando-os à luz do que diz a Bíblia. É por isso que este folheto foi publicado.

Sem dúvida, o argumento principal que se usa como base para esta conexão é aquilo que Jesus declarou sobre os “pactos” na noite em que instituiu a comemoração de sua morte. O entendimento da organização sobre isso será considerado nos próximos dois capítulos.

O Que a Liderança da Torre de Vigia Ensina Sobre os 144.000 “Ungidos”

(Naturalmente, esta lista de ensinos e de citações não é exaustiva. Mas é representativa da maneira como as publicações se expressam inúmeras vezes acerca dos 144.000. Foi incluída aqui para que o leitor possa confirmar facilmente o que foi exposto neste capítulo.).
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O NÚMERO 144.000 É LITERAL, NÃO SIMBÓLICO

“… o contexto de Revelação 7:4, bem como declarações relacionadas encontradas em outras partes da Bíblia, confirma que o número 144.000 deve ser tomado literalmente.” (A Sentinela de 1º de setembro de 2004, pág. 31)

SÓ ELES VÃO PARA O CÉU

“… a Bíblia estabelece dois destinos para humanos fiéis: (1) vida perfeita numa terra paradísica restaurada e (2) vida no céu para o “pequeno rebanho” de Cristo, de 144.000 membros.” (A Sentinela de 15 de agosto de 1989, pág. 30)

APENAS ELES ESTÃO NO “NOVO PACTO”

“Claramente, pois, o novo pacto não é um arranjo livre, aberto a toda a humanidade. Trata-se duma cuidadosamente providenciada provisão legal envolvendo Deus e os cristãos ungidos.” (A Sentinela de 15 de agosto de 1989, pág. 30)

O PACTO DO REINO TAMBÉM FOI FEITO ENTRE JESUS E ELES, UNICAMENTE

“Na sua última noite com os discípulos, o próprio Jesus também fez um pacto diferente com eles. “Eu faço convosco um pacto”, disse-lhes, “assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino”. (Lucas 22:29) Este é o pacto do Reino. O número dos humanos imperfeitos incluídos no pacto do Reino é de 144.000.” (A Sentinela de 15 de março de 2004, pág. 6)

AS EXPRESSÕES “ISRAEL ESPIRITUAL” E “ISRAEL DE DEUS” REFEREM-SE A ELES

“O número dos selados pelo espírito santo para serem parte do Israel espiritual é de 144.000, ‘comprados dentre a humanidade’”. (A Sentinela de 1º de fevereiro de 2002, pág. 20) “Cada membro do “Israel de Deus” é um cristão dedicado, batizado e ungido com espírito santo…” (A Sentinela de 1º de março de 2004, págs. 9 e 10)

JESUS É O MEDIADOR ENTRE DEUS E ELES, ESTRITAMENTE

“…em estrito sentido bíblico, Jesus é o “mediador” apenas dos cristãos ungidos.” (A Sentinela de 15 de setembro de 1979, pág. 32. Veja também A Sentinela de 15 de agosto de 1989, págs. 30 e 31)

CONSTITUEM “O ESCRAVO FIEL E DISCRETO” DE CRISTO

“Antes de Jesus morrer, ele prometeu que “o escravo fiel e discreto” proveria aos seguidores de Jesus o “alimento [espiritual] no tempo apropriado”. (Mateus 24:45) O restante dos 144.000 ungidos constitui hoje essa classe do escravo. Por meio deles, Jeová realmente tem providenciado uma abundância de alimento espiritual.” (A Sentinela de 15 de janeiro de 2004, pág. 18)

A IMORTALIDADE É RECOMPENSA EXCLUSIVA DELES

“’Imortalidade’ significa mais do que apenas nunca morrer. Envolve ‘o poder duma vida indestrutível’… Por conceder aos 144.000 a imortalidade, Deus indica sua plena confiança neste grupo, que tão notavelmente tem refutado o desafio de Satanás. Mas, que dizer dos demais da humanidade? Jesus disse aos membros iniciais deste ‘pequeno rebanho’ de herdeiros do Reino que eles ‘se sentariam em tronos para julgar as doze tribos de Israel’. (Lucas 12:32; 22:30) Isto significa que outros receberão a vida eterna na Terra, como súditos do seu Reino. Embora não se dê a estas ‘outras ovelhas’ a imortalidade, elas recebem ‘vida eterna’.” (A Sentinela de 15 de agosto de 1997, págs. 13 e 14)

SÃO OS ÚNICOS “FILHOS DE DEUS”, “IRMÃOS DE CRISTO”, BEM COMO A “NOIVA DE CRISTO”

“O termo ‘noiva’ é aplicado aos co-herdeiros de Cristo qual congregação e qual corpo celeste de pessoas, que finalmente somam 144.000. Como pessoas, quer homens, quer mulheres, são chamados diversamente ‘filhos de Deus’, ‘irmãos” de Cristo’ e ‘virgens’.” (A Sentinela de 15 de janeiro de 1975, pág. 62)

SÃO OS ÚNICOS CRISTÃOS QUE ‘NASCEM DE NOVO’

“De acordo com todos os textos sobre o assunto, os ‘nascidos de novo’ serão comparativamente poucos… Quantos deles é que haverá? O apóstolo João fala sobre ver 144.000 israelitas espirituais selados nas testas, também sobre 144.000 em pé no Monte Sião, junto com o Cordeiro Jesus Cristo.” (A Sentinela de 1º de fevereiro de 1982, pág. 19)

O RESTANTE DELES NA TERRA ENCONTRA-SE ENTRE AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

“É privilégio das Testemunhas de Jeová ter no seu meio os últimos dos membros do corpo de Cristo, batizados pelo espírito, que servem como ‘escravo fiel e discreto’ para prover alimento espiritual no tempo apropriado.” (A Sentinela de 1º de fevereiro de 1992, pág. 14)

A Primeira Celebração e o “Pacto para um Reino”

QUANDO AS PUBLICAÇÕES da Torre de Vigia defendem o ensino de que somente alguns devem participar do pão e do vinho, muitas vezes dirigem a atenção dos leitores para os acontecimentos da última páscoa que Jesus celebrou na terra, momento em que instituiu a ceia comemorativa de sua morte. Examinemos o que dizem duas destas publicações:

Raciocínios à Base das Escrituras, página 88:

Quem deve participar do pão e do vinho?
Quem participou quando Jesus instituiu a Refeição Noturna do Senhor pouco antes de morrer? Onze seguidores fiéis aos quais Jesus disse: “Eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino.” (Luc. 22:29) Todos eles eram pessoas que estavam sendo convidadas a participar com Cristo no seu Reino celestial. (João 14:2, 3) Todos os que participam hoje do pão e do vinho devem também ser pessoas a quem Cristo introduz nesse ‘pacto para um reino’.

A Sentinela de 15 de fevereiro de 1990, página 19:

16 Na noite em que Jesus instituiu a Refeição Noturna do Senhor, ele disse a seus apóstolos leais que ele lhes estava preparando um lugar no céu. (João 14:2, 3) Lembre-se, porém, que Jesus disse também que aqueles que tomassem do pão e do copo estariam em Seu Reino e se sentariam em tronos para julgar. Seriam estes apenas os apóstolos? Não, pois mais tarde o apóstolo João ficou sabendo que outros cristãos também venceriam e ‘se sentariam com Jesus em Seu trono’, e que juntos se tornariam ‘um reino e sacerdotes para governar sobre a terra’. (Revelação 3:21; 5:10) João foi informado também do número final de cristãos que são “comprados da terra” — 144.000. (Revelação 14:1-3) Visto ser este um grupo relativamente pequeno, um “pequeno rebanho” em comparação com todos os que adoraram a Deus ao longo das eras, é necessário discernimento especial na época da Comemoração. — Lucas 12:32.

Milhões de pessoas aceitam estas declarações grifadas sem conferir o relato. Uma vez que, como base para estes ensinos, estas publicações chamam atenção para os eventos da primeira celebração, vale a pena recapitularmos o que ocorreu naquela ocasião. 

Antes, devemos frisar o seguinte: Nenhum cristão, crente na Bíblia, duvida que Jesus tenha feito um “pacto para um reino” com seus apóstolos fiéis. Lucas 22:29 afirma isso diretamente. Nem é questionável a ideia de que outros seriam incluídos neste mesmo “pacto”. A Bíblia também admite esta conclusão.

Mas será que Jesus relacionou o pão e o vinho da celebração com esse “pacto para um reino”, como afirmam as duas publicações acima? Disse ele realmente que todos os que participassem do pão e do vinho estariam automaticamente incluídos nesse pacto e iriam para o céu?

Examinando Atentamente o Relato

Embora haja quatro versões independentes do que ocorreu na noite da última páscoa, os evangelistas Mateus, Marcos e João dão mais ênfase ao que ocorreu após a instituição da nova celebração. Lucas é o único que especifica detalhadamente o que Jesus disse em ambas as celebrações. A consideração das palavras dele é vital para nosso entendimento. O relato encontra-se em Lucas 22:14-30. Recomendamos fortemente uma leitura na íntegra destes versículos. Eles podem ser divididos assim:

Versículos 14 a 18: Jesus comemora a Páscoa com os apóstolos;
Versículos 19 e 20: Jesus institui a celebração de sua morte;
Versículos 21 a 27: Os apóstolos discutem e Jesus os repreende;
Versículos 28 a 30: Jesus faz com eles o “pacto para um reino”.

A leitura desse relato, por si só, já desautoriza o que a Sentinela disse acima. Jesus distribuiu o pão e o vinho aos seus apóstolos e mais tarde naquela noite, fez com eles o “pacto para um reino”. Mas ele não fez ligação deste “pacto para um reino” com a participação no pão e no vinho, e nem disse que os que participassem nesses alimentos estariam em seu reino celestial. As palavras dele, conforme constam em Lucas 22:20, foram:

“Ele fez o mesmo com respeito ao cálice, depois de terem tomado a refeição, dizendo: “Este cálice representa o novo pacto com base no meu sangue, que será derramado em seu benefício.”

Ainda que, conforme esta ilustração numa publicação da Torre de Vigia mostra, Jesus tenha mencionado o “reino” naquela noite, ele não associou a herança celestial com o pão e o vinho nos quais aqueles homens haviam participado. Este foi um dos vários assuntos considerados na longa palestra que ele teve com seus apóstolos, no período posterior à celebração que fora instituída.


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Ele falou sobre um ‘novo pacto com base no seu sangue’. No relato correspondente de Mateus 26:28 encontramos a expressão “sangue do pacto”. Naquele momento Jesus não disse qualquer palavra sobre “reino”. Só se ele tivesse usado a expressão “sangue do pacto para um reino” é que a ideia apresentada na Sentinela estaria além de questionamento. O máximo que se pode extrair do relato é que Jesus relacionou o pão e o vinho com este “novo pacto” e foi só num momento posterior (após as duas discussões entre os apóstolos) que ele fez o “pacto para um reino” com os que estavam presentes.

Apesar disso, a organização Torre de Vigia insiste que há uma conexão entre os alimentos e esse “pacto para um reino”, uma vez que, ao fazer o pacto, Jesus acrescentou as seguintes palavras que aparecem em Lucas 22:30:

“…a fim de que vocês comam e bebam à minha mesa, no meu Reino, e se sentem em tronos para julgar as 12 tribos de Israel.”

‘Assim’, ensinam os líderes da Torre de Vigia, ‘como os apóstolos haviam acabado de comer e beber na refeição, Jesus quis dizer que todos os que comem o pão e bebem o vinho estarão também nessa “refeição” à mesa dele, e ‘sentados em tronos’ no céu’. 

Embora à primeira vista esta ideia pareça bem convincente, ela é resultado duma leitura parcial do relato. Quando tratam desse assunto, as publicações da Torre de Vigia só dão ênfase a estas palavras do versículo 30, mas não chamam a atenção dos leitores para o fato de que Jesus já tinha mencionado essa “refeição celestial” antes de instituir a celebração de sua morte. E ele a relacionou, não com esta celebração, e sim, com a Páscoa judaica.

Mais uma vez, o relato de Lucas capítulo 22, versículos 14 a 18 ajuda-nos a entender isso. Tratando da celebração da Páscoa, as palavras são:

Quando chegou a hora, ele se recostou à mesa junto com os apóstolos.  E ele lhes disse: “Desejei muito comer esta refeição pascoal com vocês antes de sofrer,  pois eu lhes digo: Não a comerei de novo até que ela se cumpra no Reino de Deus.” E ele recebeu um cálice, deu graças e disse: “Peguem este cálice e passem-no de um para o outro, pois eu lhes digo: De agora em diante não beberei de novo do produto da videira até que venha o Reino de Deus.

Note-se que ele falou isso em conexão com os alimentos da Páscoa. Até aí, ele ainda não havia introduzido a nova celebração. O que disse ele?

– Que ‘a Páscoa se cumpriria no reino de Deus’;

– Que ele ‘não a comeria de novo, nem beberia vinho até que viesse o Reino de Deus’.

Acrescente-se a isso o seguinte detalhe relevante: Ao passo que o relato torna evidente que Jesus comeu dos alimentos da Páscoa, torna claro também que ele não comeu o pão nem bebeu o vinho que usou para instituir a celebração de sua morte. Recordemos as palavras do versículo 22: “De agora em diante não beberei de novo do produto da videira até que venha o Reino de Deus.”Já que ele disse isso no momento da Páscoa, fica claro que ele não tomou o vinho que usou para instituir a nova celebração. Apenas distribuiu esses alimentos aos apóstolos, mandando que comessem e bebessem. 4Este fato é reconhecido até mesmo nas publicações da Torre de Vigia. Sua enciclopédia oficial, Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume III, página 394, diz: “Não há evidência de que o próprio Jesus tenha comido o pão assim oferecido, ou bebido do copo durante esta refeição da Comemoração. O corpo e o sangue que ofereceu eram em benefício deles e para validar o novo pacto, mediante o qual os pecados deles foram removidos. (Je 31:31-34; He 8:10-12; 12:24) Jesus não tinha pecado algum. (He 7:26) Ele mediava o novo pacto entre Jeová Deus e os escolhidos quais associados de Cristo.”

Se, de acordo com o ensino da Torre de Vigia, a participação no pão e no vinho significa que a pessoa estará naquela ‘refeição’ simbólica no reino celestial, não teria sido lógico Jesus participar deles? Como poderia Jesus convidar outros para ‘comer e beber à sua mesa no seu reino’, e ele mesmo não participar da refeição?

Para serem coerentes, portanto, os líderes da Torre de Vigia deveriam aplicar seu entendimento – e com ainda mais força – a todos os que participavam da Páscoa judaica. Pois Jesus disse que a Páscoa é que ‘se cumpriria no reino de Deus’. Ele não disse isso sobre a celebração de sua morte.

Será que devemos entender então que os milhões de judeus da antiguidade, que comiam os alimentos e bebiam o vinho da Páscoa, estarão também no reino celestial, ‘participando à mesa’ de Cristo? Para o esquema doutrinário da organização Torre de Vigia, essa simples ideia é inconcebível.

O motivo básico de o ensino da Torre de Vigia gerar estas questões, é que ele é especulativo, indo além do que o relato declara. Pois o fato simples é que, nem no caso da Páscoa judaica, nem no caso da Celebração cristã a participação nos alimentos tem um significado além daquele que a Bíblia estabelece. No decorrer daquelas celebrações, Jesus realmente falou em dois momentos sobre esse “banquete” celestial, mas ele não disse que todas as pessoas que participassem dos alimentos usados em ambas, estariam automaticamente convidadas. Quando ele fez o “pacto para um reino” com os apóstolos, declarou que eles também estariam lá, ‘comendo e bebendo à sua mesa’.

Uma Questão Pertinente: Estava Judas Iscariotes Presente na Primeira Celebração?

Há quem defenda que Judas estava presente no momento em que Jesus distribuiu o pão e o vinho, assim como há os que defendem o contrário, ou seja, que Judas deixou o local antes disso. Não há aqui o propósito de tentar determinar quem está certo nesta discussão e nem há essa necessidade. Mas, na discussão que segue será mostrado por que isto é pertinente ao assunto tratado aqui.

A razão principal por que não podemos ser taxativos, é que nenhum dos quatro relatos evangélicos especifica o momento exato em que Judas Iscariotes deixou o local. Mateus e Marcos colocam a discussão sobre a traição, bem como o diálogo de Jesus com Judas em algum momento anterior à celebração (Mat. 26:21-29; Mar. 14:18-21), ao passo que Lucas coloca isto num momento posterior (Luc 22:19-23). E estes três evangelistas não fazem menção alguma à saída dele. João é o único que faz isso (João 13:21-30), mas ele não diz se Judas saiu antes ou depois da distribuição do pão e do vinho, até porque, diferente dos outros evangelistas, ele nem fala sobre essa distribuição em seu relato.

A liderança da Torre de Vigia defende que Judas saiu antes. Para tentar harmonizar esta ideia com o relato de Lucas, a publicação Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2, página 618, oferece a seguinte explicação:

Judas deixou imediatamente o grupo. Uma comparação entre Mateus 26:20-29 e João 13:21-30 indica que ele partiu antes de Jesus instituir a celebração da Refeição Noturna do Senhor. A apresentação deste incidente por Lucas evidentemente não segue uma estrita ordem cronológica, porque Judas definitivamente já havia partido quando Cristo elogiou o grupo por ter ficado com ele; isto não se ajustaria a Judas, nem teria ele sido incluído no ‘pacto para um reino’. — Lu 22:19-30.

Todavia, essa comparação entre Mateus 26:20-29 e João 13:21-30 não dá qualquer indicação clara que Judas tenha saído antes da celebração. Como já foi declarado, os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas nem sequer mencionam que ele deixou o grupo em algum momento. Além disso, a comparação das versões permite a conclusão de que Jesus teria identificado quem seria o traidor mais de uma vez naquela noite (Compare Mateus 26:23 com João 13:26. Note que a identificação do traidor é feita de maneira diferente nos dois relatos.).

Ademais, esta hipótese de que “Lucas não seguiu uma estrita ordem cronológica” é duvidosa. Embora a publicação diga que isso é ‘evidente’, não se apresenta qualquer evidência. Eles estão afirmando isso do evangelista que dá mais indicações de ter ‘pesquisado todas as coisas com exatidão’ e ter apresentado os fatos relacionados com Cristo “em ordem lógica” (Luc 1:3). É bem mais provável que o metódico e detalhista Lucas, e não Mateus, tenha seguido uma estrita ordem cronológica em sua narrativa.

A publicação acima reflete a mistura dos assuntos que os líderes da Torre de Vigia fazem. Como já enfatizamos, a distribuição do pão e do vinho, bem como a menção ao “novo pacto”, ocorreram num determinado momento. O ‘elogio’ de Cristo ao grupo, bem como o estabelecimento do “pacto para um reino” ocorreram num momento posterior.

Ter em mente esta seqüência de acontecimentos dá margem à conclusão de que Judas Iscariotes não estava mais presente quando Jesus elogiou os apóstolos e fez com eles o “pacto para um reino”. É realmente difícil imaginar que Jesus celebrasse esse “pacto” com um homem que ele sabia que o estava traindo há algum tempo. (João 6:64). Mas isto não impede que Judas tenha estado presente quando Jesus distribuiu o pão e o vinho e tenha saído no intervalo de tempo entre essa distribuição e o momento em que Jesus fez o “pacto para um reino”. Se foi assim que ocorreu, então o relato de Lucas é que está realmente seguindo uma ordem cronológica exata. Caso este raciocínio esteja correto, isto seria um argumento adicional em favor da ideia de que a participação no pão e no vinho nada teve que ver com o “pacto para um reino”, pois embora Judas Iscariotes possa ter participado dos alimentos, ele não foi incluído neste pacto

Por Que o “Pacto para um Reino” Foi Celebrado?

Esse ‘elogio’ que Jesus fez aos apóstolos esclarece o motivo básico disso. As palavras (registradas em Lucas 22:28, 29) são:

“No entanto, vocês são os que ficaram comigo nas minhas provações; e eu faço com vocês um pacto para um reino, assim como o meu Pai fez um pacto comigo,…”

Portanto, a razão que Jesus apresentou para a concessão desse privilégio a eles foi, não o fato de terem participado do pão e do vinho (pois isso nem entrou na consideração), e sim o fato de aqueles homens ‘terem ficado com ele em suas provações’ (durante todo o período de seu ministério terrestre, até aquele momento).

Em contraste com isso, o trecho de Lucas 22:19, 20 torna claro que o significado do pão e do vinho da celebração cristã relaciona-se unicamente ao corpo e ao sangue de Cristo, dados em sacrifício, para possibilitar o “perdão de pecados”. Jesus, como perfeito cumpridor da lei, celebrou a Páscoa e participou dos alimentos dela, mas não participou do pão e do vinho da celebração que instituiu. Já que ele não tinha pecados que precisassem ser perdoados, não haveria o menor sentido em ele simbolicamente comer o seu próprio corpo e beber seu próprio sangue.

Quem estabelece uma conexão forçada entre a participação na celebração e a herança celestial são os líderes da Torre de Vigia. Isto é resultante de extraírem do relato uma conclusão que não está lá. Como mostrado na Sentinela de 15 de fevereiro de 1990 (citada acima), eles chegam ao ponto de colocar indevidamente palavras na boca de Cristo, afirmando que ele “disse” algo nesse sentido, quando na verdade o próprio Jesus não fez qualquer ligação de uma coisa com a outra.

Como vimos, além desse “pacto para um reino”, Jesus fez referência a um “novo pacto”, e este sim foi relacionado com a celebração. Mas o que é este “novo pacto”? A quem se aplica? É fundamental examinarmos isso, pois é justamente o ensino organizacional sobre este “pacto” que influencia o entendimento das Testemunhas de Jeová acerca da participação nos alimentos da celebração.

O “Novo Pacto” e seus Participantes

ATÉ AGORA foi estabelecido biblicamente o seguinte: Quando instituiu a nova celebração, Jesus não relacionou o pão e o vinho com o “pacto para um reino” e sim com o “novo pacto”.

O que é um “pacto”? Basicamente é um acordo feito entre duas ou mais partes. Estas “partes” podem ser indivíduos ou grupos de pessoas e o acordo pode ser verbal ou escrito. Além da palavra “acordo”, é costumeiro o uso de sinônimos tais como “contrato” e “tratado”. Em diversas traduções da Bíblia aparecem também as palavras “aliança” e “concerto”.

Independentemente da palavra que se use e de qual seja a natureza do acordo, o importante é que, quando isso é feito, ambas as partes impõem a si mesmas uma ou mais obrigações e ambas desfrutam de um ou mais benefícios decorrentes dele. E não é diferente no caso dos “pactos” mencionados na Bíblia.

A bem da consistência, dentre todas as palavras com este mesmo significado, a palavra “pacto” será usada neste folheto, uma vez que ela é a usada na Tradução do Novo Mundo, a versão oficial da Torre de Vigia. Assim, em lugar das expressões “novo concerto” ou “nova aliança”, que aparecem em outras versões bíblicas, a expressão equivalente, “novo pacto”, será a usada aqui.

O que ensina a organização Torre de Vigia sobre este “novo pacto”? Entre as muitas referências existentes nas publicações, temos esta:

A Sentinela de 1º de fevereiro de 1998, página 19, parágrafo 3:

3 Para os 144.000, a bênção do pacto abraâmico é administrada por meio do novo pacto. Sendo participantes deste pacto, eles estão “debaixo de benignidade imerecida” e “debaixo de lei para com Cristo”. (Romanos 6:15; 1 Coríntios 9:21) Portanto, apenas os 144.000 membros do Israel de Deus têm corretamente participado dos emblemas durante a Comemoração da morte de Jesus, e foi somente com eles que Jesus fez o seu pacto para um Reino. (Lucas 22:19, 20, 29) Os membros da grande multidão não participam neste novo pacto. No entanto, estão associados com os do Israel de Deus e vivem com eles na “terra” deles. (Isaías 66:8) Por isso é razoável dizer que eles também estão debaixo da benignidade imerecida de Jeová e debaixo da lei para com Cristo. Embora não participem no novo pacto, são beneficiados por ele.

Portanto, de acordo com as declarações acima, não é somente o “pacto para um reino” que se aplica apenas aos 144.000. Este é o caso do “novo pacto” também. Apenas os 144.000 são “participantes” dele. Todos os demais estão fora, sendo apenas “beneficiados”. E como Jesus fez uma conexão direta entre este “novo pacto” e o vinho da celebração, isso permite que a Torre de Vigia mantenha o ensino de que apenas os 144.000 podem participar dos alimentos simbólicos usados nela.

Para começar, há um problema de definição aqui. Conforme visto acima, todo e qualquer pacto exige necessariamente que ambas as partes assumam obrigações mútuas e colham benefícios decorrentes. Caso estas condições não sejam satisfeitas, o pacto simplesmente não existe. Se a Sentinela disse que o “novo pacto” é feito apenas entre Deus e os 144.000, isso significa que apenas estes têm obrigações para com Deus, e seriam apenas eles os beneficiados. Se a “grande multidão” está fora do pacto, nenhuma pessoa desse grupo teria qualquer obrigação para com Deus e nem usufruiria de qualquer benefício. É contraditório, pois, o parágrafo dizer que a “grande multidão” está ‘sob a lei do Cristo’, ‘debaixo da benignidade imerecida de Jeová’, e na condição de ‘beneficiada’ pelo pacto. Tudo isso seria verdadeiro se a “grande multidão” fosse também participante do pacto.

Pelo que se nota, a organização Torre de Vigia parece ter elaborado um conceito diferente de “pacto”. Milhões de leitores que aceitam informações similares à veiculada nessa revista A Sentinela deixam de perceber que a essência da definição do termo está sendo desconsiderada. É impossível citar um único exemplo (bíblico ou não), em que uma pessoa (ou seus herdeiros e sucessores) tenha sido beneficiada por um pacto, sem ser participante dele.

Mas este aspecto “semântico” é só uma pequena parte do problema. Muito mais importante do que isso é a seguinte questão: Existe fundamento bíblico para a ideia de que só os 144.000 são participantes do “novo pacto”?

A própria Bíblia esclarece por que Jesus se referiu a esse pacto deste modo. Se ele falou em “novo pacto”, é porque existiu um pacto anterior. Qualquer leitor da Bíblia sabe que esse anterior foi o pacto estabelecido entre Deus e os judeus da antiguidade. Uma análise da situação dos que estavam naquele pacto será muito esclarecedora.

O “Pacto” entre Deus e a Nação de Israel

Assim como o “novo pacto”, o anterior teve um mediador (Gálatas 3:19; Hebreus 8:6), e foi validado com sangue (Êxodo 24:8; Lucas 22:20). E quanto ao número de pessoas que faziam parte daquele pacto anterior? Moisés esclarece isso em Deuteronômio 5:1-3

Então Moisés convocou todo o Israel e lhes disse: “Ouça, ó Israel, os decretos e as decisões judiciais que hoje lhes falo. Vocês devem aprendê-los e obedecê-los cuidadosamente. Jeová, nosso Deus, fez um pacto conosco em Horebe. Não foi com os nossos antepassados que Jeová fez esse pacto, mas conosco, todos os que hoje estamos aqui vivos.”

De imediato, fica claro o seguinte: O pacto estava sendo celebrado entre Deus e todos os judeus. Todos os milhões de judeus ‘que estavam ali, vivos’ eram participantes. Mas quais seriam as vantagens deste pacto para eles? Êxodo 19:5, 6, responde:

Agora, se obedecerem fielmente à minha voz e guardarem o meu pacto, certamente se tornarão minha propriedade especial dentre todos os povos, pois a terra inteira pertence a mim. Vocês se tornarão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’ Essas são as palavras que você deve dizer aos israelitas.

Embora seja claro que estas palavras teriam aplicação em todas aquelas pessoas, a organização Torre de Vigia faz uma leitura diferente. Assim se expressou A Sentinela de 1º de fevereiro de 1989, página 13:

18 Ao fazer o pacto temporário, Deus também mencionou o seguinte objetivo emocionante: “Se obedecerdes estritamente à minha voz e deveras guardardes meu pacto, então vos haveis de tornar minha propriedade especial… E vós mesmos vos tornareis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” (Êxodo 19:5, 6) Que perspectiva! Uma nação de reis-sacerdotes. Mas, como seria isso possível? Como a Lei mais tarde especificou, a tribo governante (Judá) e a tribo sacerdotal (Levi) receberam responsabilidades diferentes. (Gênesis 49:10; Êxodo 28:43; Números 3:5-13) Nenhum homem poderia ser tanto governante civil como sacerdote. Ainda assim, as palavras de Deus em Êxodo 19:5, 6 forneciam motivo para se crer que de alguma maneira não revelada, os que estavam no pacto da Lei teriam a oportunidade de prover os membros de “um reino de sacerdotes e uma nação santa”.

Observe, “de alguma maneira não revelada”. Não houve qualquer “revelação” que dê apoio a esta hipótese! O que este parágrafo da Sentinela declara, está em conflito direto com o que os textos dizem.

Em primeiro lugar, Moisés não falou em “uma nação de reis-sacerdotes”. A expressão que ele usou foi “reino de sacerdotes e uma nação santa”. O que ele destacou foi o aspecto da pureza espiritual, e não propriamente a questão do poder régio. Os exemplos seguintes podem nos ajudar a entender o significado dessas palavras:

Quando dizemos que “a Grécia foi um império de filósofos”, ou “a Fenícia foi um reino de grandes navegadores”, o que estamos fazendo é destacar características marcantes desses povos. As palavras “reino” e “império” não são usadas aqui para destacar o sistema de governo que estas nações tinham e nem sugere que todos os cidadãos destas nações eram “reis” ou “imperadores”. Assim foi com esta expressão de Moisés. Ele não disse que todos aqueles judeus se tornariam “reis” ou “governantes civis”, caso obedecessem. Mas assegurou que Deus os consideraria como um “reino de sacerdotes” e uma “nação santa”.

Até mesmo a questão de saber quantos sacerdotes atuariam entre eles é irrelevante. Os mesmos exemplos acima elucidam isso. Dizer que a Grécia foi um “império de filósofos”, não significa que todos os gregos eram filósofos. Assim como não é verdade que cada fenício era necessariamente um “grande navegador”. Mas tais nações se destacaram nestas características. Da mesma maneira, se os judeus fossem fiéis ao pacto, eles se destacariam como um “reino de sacerdotes” e uma “nação santa” diante de Deus. 

Outra coisa afirmada na Sentinela é que quando Deus disse isso, Ele tinha a ideia de tirar dentre aqueles judeus que estavam no pacto, os “membros” de um “reino de sacerdotes e uma nação santa”. Já vimos que, segundo o entendimento da organização, esse número de “membros” é literal, ou seja, 144.000 e são os mesmos que se diz que irão para o céu governar ao lado de Cristo. A Sentinela de 1º de setembro de 2000, confirma que é este mesmo o entendimento da organização sobre estas palavras de Moisés. Disse a revista, na página 21:

13 Os do Israel natural poderiam ter fornecido o pleno número dos que participariam com o Messias no seu Reino celestial como um reino de sacerdotes e uma nação santa. Mas eles não deram valor à sua preciosa herança. Apenas um restante de israelitas naturais aceitou o Messias quando este chegou. Em resultado disso, apenas um pequeno número deles foi incluído no predito reino de sacerdotes. O Reino foi tirado do Israel natural e ‘dado a uma nação que produz os seus frutos’. (Mateus 21:43)

É válido esse raciocínio? De forma alguma, e por diversos motivos.

Essa Sentinela condiciona o ‘fornecimento desse pleno número do reino de sacerdotes’ (o número literal de 144.000, segundo ensina a organização) com a ‘aceitação do Messias quando este chegou’. Mas não foi isso o que Moisés disse. As palavras de Deuteronômio 5:1-3 são claras: “Ouça, ó Israel, os decretos e as decisões judiciais que hoje lhes falo. Vocês devem aprendê-los e obedecê-los cuidadosamente.” Moisés disse que a condição para aqueles judeus se tornarem um “reino de sacerdotes e uma nação santa” era a ‘obediência cuidadosa’ àquele pacto que estava sendo celebrado e não a ‘aceitação do Messias’. O Messias só viria 1.500 anos depois.

Além do mais, quando a Sentinela fala em “predito reino de sacerdotes”, dá-se a entender que Moisés estava fazendo uma “predição” de algo futuro. Novamente, não foi isso o que ele disse. Os termos foram bem claros: “Vocês se tornarão [“E vós mesmos vos tornareis”, TNM, 1950] para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” Isso significa simplesmente que, se aqueles que estavam ouvindo as palavras dele se mantivessem fiéis ao pacto, tais palavras teriam aplicação neles mesmos. Moisés não estava restringindo a aplicação dessas palavras a pessoas que viveriam no futuro. Nem estava sugerindo que tais palavras teriam aplicação a um número limitado de pessoas. Os milhões que estavam ali “vivos” naquele exato momento seriam “um reino de sacerdotes e uma nação santa”. E enquanto eles (e seus descendentes) se mantivessem fiéis ao pacto, tais palavras continuariam em vigor.

Além disso, a afirmação de que os judeus ‘não conseguiram completar’ sequer um número de 144.000 fiéis é altamente improvável. Por quê?

Consideremos duas hipóteses:

Suponhamos que a interpretação da Torre de Vigia estivesse correta quanto ao número de componentes desse “reino de sacerdotes” ser literalmente 144.000, os quais, segundo eles, os judeus ‘poderiam ter fornecido’. Surge a seguinte pergunta: Será que durante esses 1.500 anos em que o pacto vigorou, e em meio a tantos milhões de judeus que viveram no decorrer desse tempo, o número de fiéis foi inferior a 144.000

Pode-se ampliar a questão: Suponhamos que a Torre de Vigia estivesse correta nas duas interpretações, a saber, (1) que ser parte do “reino de sacerdotes e nação santa” dependeria da “aceitação do Messias” e (2) que pelo menos 144.000 pessoas deveriam aceitá-lo, para se completar o número de “membros” desse reino. A questão levantada seria ampliada. De que forma?

A Sentinela disse que “apenas um restante de israelitas naturais aceitou o Messias quando este chegou. Em resultado disso, apenas um pequeno número deles foi incluído no predito reino de sacerdotes.” Isto pode ser verdade no caso dos judeus que estavam vivos na época da chegada de Cristo. A maioria o rejeitou de fato. Mas, e os milhões e milhões de judeus que viveram nas gerações anteriores à chegada dele? Será que o total dos que cumpriram fielmente o “pacto” e teriam acolhido a Cristo teria sido inferior a 144.000

O objetivo dessa consideração é mostrar que, com tais palavras “reino de sacerdotes e nação santa”, Moisés não poderia ter em mente um número específico de pessoas, como as publicações da Torre de Vigia sugerem. Por qualquer ângulo que tais palavras sejam analisadas, torna-se claro que o pacto anterior foi estabelecido entre Deus e um número indeterminado de pessoas. Milhões delas ‘estavam ali vivas’ no exato momento em que o pacto foi celebrado. Não há como afirmar que esse pacto anterior teria aplicação a um número pequeno e específico de indivíduos. 

A Situação sob o “Novo Pacto”

No início deste capítulo, foi citada a Sentinela de 1º de fevereiro de 1998, página 19, parágrafo 3, onde se afirmou que apenas os 144.000 são “participantes do novo pacto”. Um simples exame do que a Bíblia diz sobre este, porém, mostra-nos facilmente quão inválida é esta ideia.

Quando Paulo fez sua consideração sobre o “novo pacto”, no livro de Hebreus, ele não fez qualquer referência a um número fixo. As palavras dele, em Hebreus 8:7-12, foram:

Se aquele primeiro pacto não tivesse defeito, não teria havido necessidade de um segundo. Porque ele vê defeito no povo quando diz: “‘Vejam! Estão chegando os dias’, diz Jeová, ‘em que farei com a casa de Israel e com a casa de Judá um novo pacto. Não será como o pacto que fiz com os seus antepassados no dia em que os peguei pela mão para tirá-los da terra do Egito, porque eles não permaneceram no meu pacto, e por isso parei de me importar com eles’, diz Jeová.”

“‘Pois este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias’, diz Jeová. ‘Porei as minhas leis na sua mente e as escreverei no seu coração. E eu me tornarei o seu Deus, e eles se tornarão o meu povo.

“‘E não ensinarão mais cada um ao seu concidadão e cada um ao seu irmão, dizendo: “Conheça a Jeová!” Porque todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior. Pois serei misericordioso em relação às suas ações injustas e não me lembrarei mais dos seus pecados.’”

É apenas e tão-somente isso que ele diz. Nada nessa consideração dá a ideia de um número fixo de pessoas e não se diz uma única palavra sobre “vida celestial”. Se isto se aplicasse apenas a um grupo de 144.000, teríamos de concluir que apenas eles têm a lei de Deus ‘escrita nos corações’, apenas eles fazem parte do ‘povo de Deus’, somente eles ‘conhecem o verdadeiro Deus’ e apenas eles têm seus pecados perdoados por Deus.

Esta última declaração de Paulo quanto a ‘Deus não se lembrar mais dos pecados deles’, faz lembrar aquilo que Cristo disse, quando celebrou o “novo pacto”. As palavras dele, conforme o relato de Mateus 26:27, 28, foram:

E, pegando um cálice, ele deu graças e o deu a eles, dizendo: “Bebam dele, todos vocês, pois isto representa o meu ‘sangue do pacto’, que será derramado em benefício de muitos, para o perdão de pecados.

Novamente, associa-se aqui o “pacto” não com alguns, e sim com “muitos”. Ele não é limitado a um grupo específico de indivíduos.

Foram consideradas aqui as principais referências que as Escrituras fazem aos dois “pactos”. Da mesma maneira que o pacto anterior se aplicava a todos os judeus, sem limitação de número, em todos os casos em que o “novo pacto” é considerado na Bíblia, tal expressão é perfeitamente aplicável a todos os que têm fé em Cristo e acreditam no valor de seu sangue redentor. Os textos citados aqui são suficientes para mostrar que a ideia de que tais pactos foram celebrados unicamente com um número específico de pessoas não é um ensino bíblico.

Deus promete aplicar a todos os que estão neste “novo pacto” o valor do sangue de Cristo, derramado em sacrifício, perdoando-lhes os pecados e concedendo-lhes a vida eterna.  Em contrapartida, todos estes se obrigam perante Deus a depositar fé nesse sacrifício e viver de acordo com esta fé. À luz de tudo o que foi considerado acima, não há, e nem deve haver distinção entre os cristãos no momento em que a celebração é realizada. Todos os que estão nessa relação pactuada com Deus, por intermédio de Cristo, devem participar ativamente nela.

Paralelos entre a Páscoa e a Celebração Cristã

SEMPRE QUE as Testemunhas de Jeová realizam sua celebração, o orador que preside inclui explicações para validar os procedimentos que serão seguidos. Ele diz à assistência por que a celebração está sendo feita naquela noite específica, por que é feita em base anual e diversos outros detalhes relacionados com a Bíblia e com as doutrinas da organização. Tudo isso consta no esboço, cujo conteúdo está disponibilizado no Apêndice 1 deste folheto.

Conforme foi declarado na Introdução, no que se refere aos procedimentos que cada igreja segue, não há por que polemizar. Já que a própria Bíblia não chega a esse nível de discussão “técnica”, a questão de se determinar o que é “correto” ou “errado” depende muito da interpretação da liderança de cada grupo religioso. Por isso, não questionamos os procedimentos cerimoniais da organização Torre de Vigia, nem os de qualquer outra religião. 5Esta edição inclui um artigo de autoria do ex-“ancião” José Martín Pérez, que comenta a questão da frequência da celebração. Esta matéria encontra-se no Apêndice 3.

O que se nota no caso dos líderes da Torre de Vigia, porém, é um padrão duplo de pensamento, mesmo neste assunto. Como assim?

Grande parte da argumentação que eles usam para definir os procedimentos que consideram como os “corretos”, baseia-se nos paralelos existentes entre a Páscoa judaica e a Celebração instituída por Cristo. Todavia, só há a preocupação de seguir de perto o exemplo do que ocorria na Páscoa quando isso não compromete a doutrina da organização. Se, ao contrário, o paralelo contradisser algo que a organização ensina, ele é simplesmente ignorado ou até deturpado.

Consideremos as similaridades costumeiramente apontadas nas publicações da Torre de Vigia:

– A Páscoa judaica era celebrada anualmente, portanto, a única freqüência que se admite para a comemoração é também a anual.

– Os judeus a celebravam no dia 14 de nisã do calendário lunar deles. Hoje a organização faz esforço para determinar precisamente a data correspondente do calendário gregoriano. As publicações da Torre de Vigia fornecem até mesmo explicações técnicas do procedimento seguido para inferir a data com precisão. Como a Páscoa judaica era celebrada nesse dia, não se admite a celebração em outra data. Inclusive, se um dos “ungidos” não puder comparecer na noite da comemoração, é nos procedimentos que se seguiam na Páscoa judaica que a Torre de Vigia vai buscar uma solução. 6Veja, por exemplo, A Sentinela de 15 de março de 1985, página 32

– O pão sem fermento e o vinho tinto puro estavam entre os alimentos usados na Páscoa. Sempre que o assunto da Celebração é considerado, a liderança da organização insiste que os alimentos a serem usados também tenham essas características. No caso do vinho, por exemplo, as publicações já chegaram até a especificar tipos de vinho que podem conter alguma mistura, sendo, portanto, inapropriados para o uso na celebração.

Mas estas são apenas questões referentes ao cerimonial. Como será mostrado a seguir, existem diversos outros pontos de contato muito mais importantes que a própria Bíblia estabelece entre as duas celebrações e que são aceitos sem qualquer questionamento pela Torre de Vigia. O aspecto contraditório disso é que, ao mesmo tempo em que a organização publica muita matéria enfatizando esses paralelos, quando se coloca a questão da participação geral no pão e no vinho, ocorre uma surpreendente reversão. Nesse ponto, a organização passa a fazer todo o esforço para provar que uma das celebrações não é típica da outra!
Analisemos, como exemplo, a resposta que foi dada num momento em que essa questão surgiu. A matéria encontra-se na revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, páginas 17 e 18:

A Páscoa e a Comemoração

6 Alguns sugeriram que o crescente número dos das “outras ovelhas” deviam tomar os emblemas. Raciocinam do seguinte modo: Visto que “a Lei tem uma sombra das boas coisas vindouras”, e visto que um dos requisitos da Lei era a guarda da Páscoa tanto pelos israelitas como pelos residentes forasteiros circuncisos, isto daria a entender que ambas as classes de pessoas semelhantes a ovelhas, no “um só rebanho” sob “um só pastor”, deviam tomar os emblemas da Comemoração. (Hebreus 10:1; João 10:16; Números 9:14) Isto suscita uma importante pergunta: Era a Páscoa tipo da Comemoração?

7 É verdade que certos aspectos da observância da Páscoa no Egito, sem dúvida, se cumpriram em Jesus. Paulo comparou Jesus ao cordeiro pascoal, dizendo: “Cristo, a nossa páscoa, já tem sido sacrificado.” (1 Coríntios 5:7) A aspersão do sangue do cordeiro pascoal sobre as ombreiras e as vergas das portas assegurava a libertação do primogênito em cada lar israelita. De maneira similar, é por meio da aspersão do sangue de Cristo que a “congregação dos primogênitos que foram alistados nos céus” recebe sua libertação ou seu “livramento por meio de resgate”. (Hebreus 12:23, 24; Efésios 1:3, 7) Além disso, não se devia quebrar nenhum osso do cordeiro pascoal, e isso também teve cumprimento em Cristo Jesus. (Êxodo 12:46; Salmo 34:20; João 19:36) Portanto, pode-se dizer que a Páscoa, em certos aspectos, era uma das muitas particularidades da Lei que fornecia “uma sombra das boas coisas vindouras”. Todas essas particularidades apontavam para Cristo Jesus, “o Cordeiro de Deus”. — João 1:29.

Embora reconheça os paralelos existentes, estes já são apresentados apenas como “certos aspectos”. A matéria da Sentinela até grifa esta expressão. E há um detalhe que é logo introduzido sutilmente, sem qualquer confirmação bíblica. É o seguinte:

Dá-se a entender que o sangue de Cristo foi ‘aspergido’ apenas em benefício dos “primogênitos alistados nos céus”. A Torre de Vigia entende que esses “primogênitos” referem-se apenas aos 144.000. Mesmo que isso fosse verdade, ainda não seria possível encontrarmos uma base bíblica para o que o parágrafo sugere. Os textos citados (Hebreus 12:23, 24 e Efésios 1:3, 7) não apoiam a ideia. A Bíblia ensina consistentemente que o sangue de Cristo foi ‘derramado’ em benefício de muitos, como resgate correspondente por todos, não só por alguns. Embora Hebreus 12:23, 24 fale nesses “primogênitos alistados nos céus”, não diz em momento algum que o resgate beneficiaria apenas a eles.

Note-se que não há hesitação em apontar o paralelo entre as duas celebrações, principalmente porque esta particularidade referida no parágrafo anterior parece apoiar o ensino da organização. Como a palavra “primogênitos” aparece em ambos os casos e uma vez que a organização entende que os “primogênitos alistados nos céus” são apenas os 144.000, a comparação reflete a crença de que o “sangue do pacto” está vinculado primariamente com a herança celestial. Nesse ponto, o escritor da matéria desconsiderou as palavras de Mateus 26:27, 28, já citadas, segundo as quais o ‘sangue do pacto haveria de ser derramado em benefício de muitos’. Este texto não diz qualquer palavra sobre vida celestial e sim, simplesmente sobre “perdão de pecados”.

Após ter reconhecido que todas estas particularidades da Páscoa (essenciais, devemos salientar) apontavam para o sacrifício de Cristo, a Sentinela procura estabelecer certas diferenças. O parágrafo 8 prossegue dizendo:

8 Não obstante, a Páscoa não era estritamente tipo da Refeição Noturna do Senhor. Por que não? Quando se instituiu a Páscoa no Egito, consumia-se a carne dum cordeiro assado, mas não se consumia nada do sangue do cordeiro pascoal. Em contraste, porém, quando Jesus instituiu a Comemoração de sua morte, ele mandou especificamente que os então presentes comessem sua carne e bebessem seu sangue, simbolizados pelo pão e pelo vinho. (Êxodo 12:7, 8; Mateus 26:27, 28) Neste aspecto muito importante — o sangue — a Páscoa não era tipo da Refeição Noturna do Senhor.

O que é ocorre aqui é um desvio sutil da questão, juntamente com omissão de fatos.

Desde o início, o que está em discussão, é se os que comparecem a ambas as celebrações devem participar dos alimentos ou não. Diante disso, quais são exatamente os símbolos usados, é qual é o uso específico que se faz deles são questões secundárias.

Na Bíblia, quando uma realidade tipifica outra, os paralelos devem obrigatoriamente existir, mas não se requer de modo algum que todos os detalhes sejam “estritamente” iguais. Se fosse assim, todos os paralelos que a Torre de Vigia aponta existirem na Bíblia deveriam seguir este padrão e não é isso o que ocorre.

Se fizermos uma comparação, veremos que o sangue está presente nas duas celebrações, sim, e de maneira decisiva, fazendo a diferença entre a vida e a morte. No caso da primeira Páscoa, o sangue do cordeiro foi aspergido nas ombreiras das portas, o que significou salvação para os primogênitos dos israelitas. Analogamente, na comemoração, o sangue de Cristo, também significa salvação de muitas vidas. O ‘aspecto’ do sangue estava tão presente na Páscoa que ela era realmente chamada de “sacrifício da Páscoa” (veja Êxodo 12:26, 27). Nenhum israelita bebia o sangue do cordeiro pascoal, porque isso era proibido (e a Lei Mosaica manteve a proibição). No caso da Celebração cristã, bebe-se o vinho, mas ele é apenas uma representação. Ninguém bebe literalmente o próprio sangue do Cordeiro Jesus Cristo.

Se a questão se resumisse aos próprios símbolos e seu uso, a Sentinela não deveria omitir que, mesmo o vinho, pode não ter sido usado quando a Páscoa judaica foi instituída, mas foi acrescentado à celebração posteriormente, e a organização está a par deste fato. Em algum momento, todos os judeus que compareciam à Páscoa começaram a usar cálices de vinho como parte da celebração. Jesus não fez qualquer objeção a isso, e ainda usou este vinho como símbolo de seu próprio sangue salvador.

Portanto, no “aspecto muito importante” do sangue, o paralelo entre as duas celebrações é muito claro. O fato de que os judeus da antiguidade não bebiam o sangue do cordeiro não invalida de modo algum esse paralelo e nem constitui em si mesmo uma prova de que alguém deva deixar de tomar o vinho na Celebração hoje.

No parágrafo seguinte da Sentinela, a organização procura encontrar outro “ponto de ataque”:

9 Há algo mais que não deve ser despercebido. Jesus considerou com seus discípulos dois pactos relacionados, “o novo pacto” e ‘um pacto para um reino’. (Lucas 22:20, 28-30) Ambos os pactos tinham que ver com os participantes se tornarem compartilhadores com Cristo Jesus quais sacerdotes e reis. Mas em Israel, nenhum residente forasteiro circunciso jamais podia tornar-se sacerdote ou rei. Neste respeito, também, encontramos uma diferença entre a festividade da Páscoa, em Israel, e a Refeição Noturna do Senhor.

De novo o escritor dessa Sentinela se desviou da questão e omitiu fatos. Quem lê o parágrafo acima é induzido a pensar que existe uma diferença, onde, na realidade, não há diferença alguma! O que se faz é um jogo de palavras para levar milhões de pessoas a aceitar uma determinada doutrina. Primeiro afirma-se que:

Ambos os pactos tinham que ver com os participantes se tornarem compartilhadores com Cristo Jesus quais sacerdotes e reis.”

Este é o ensino da organização! Não há um só texto bíblico que apóie a ideia de que o “novo pacto” tinha alguma coisa que ver com isso! O parágrafo não dá prova alguma. Apenas afirma. Daí, com a mente dos leitores convenientemente focalizada nisso, acrescentam-se estas duas frases:

“Mas em Israel, nenhum residente forasteiro circunciso jamais podia tornar-se sacerdote ou rei. Neste respeito, também, encontramos uma diferença entre a festividade da Páscoa, em Israel, e a Refeição Noturna do Senhor.”

E o escritor da matéria deixa de mencionar o seguinte: Nem mesmo a vasta maioria dos israelitas naturais podia tornar-se sacerdote ou rei. Segundo a Bíblia, tais privilégios só estavam disponíveis para a tribo de Levi e para a tribo de Judá, respectivamente. Ademais, a designação estava restrita a apenas uma família de cada tribo. No caso dos levitas, somente os descendentes de Arão podiam tornar-se sacerdotes. Na tribo de Judá, só os da descendência de Davi tinham direito legal ao trono.

Como esta informação enfraqueceria o argumento, é omitida na Sentinela. E visto que neste ponto a mente dos leitores foi desviada para a questão de quem podia ou não “tornar-se sacerdote ou rei”, todos já esqueceram qual era o assunto em discussão. Isto os faz perder de vista estas duas verdades básicas que todo leitor da Bíblia conhece:

– Os sacerdotes, os reis, os israelitas de todas as tribos, bem como todos os residentes forasteiros participavam da Páscoa. Nunca esteve em dúvida se alguém deveria ou não participar.

– Essa participação nos alimentos servidos na Páscoa não tinha absolutamente nada que ver com a pessoa vir a se tornar sacerdote ou rei em Israel. O objetivo era comemorar a libertação do cativeiro no Egito.

Com base nessas “diferenças” apontadas nos parágrafos 8 e 9, o parágrafo 10, apresenta a “conclusão”:

10 Portanto, a que conclusão nos leva isso? O fato de que o residente forasteiro circunciso comia o pão não levedado, as ervas amargas e o cordeiro da Páscoa não determina hoje que os que são das “outras ovelhas” do Senhor e que estão presentes à Comemoração devam tomar o pão e o vinho.

Eis o que a matéria da Sentinela fez para chegar a essa conclusão:

– Desviou-se da questão principal o tempo todo, transferindo a discussão para detalhes secundários;

– Usou raciocínio circular, pois apresentou a doutrina da organização como se fosse uma verdade inquestionável e depois “acomodou” a informação bíblica a esta premissa;

– Omitiu informações relevantes para o esclarecimento do assunto.

Se o raciocínio partisse de bases concretas, atendo-se apenas à informação bíblica, e reconhecendo o amplo paralelismo existente, as conclusões seriam outras:

– Nem a Páscoa judaica nem a Celebração cristã tem qualquer relação com ‘sacerdócio’ ou ‘realeza’;

– Ambas as cerimônias foram instituídas para comemorar a libertação dum jugo opressivo. No primeiro caso, a libertação do cativeiro numa terra estrangeira. No segundo caso, a libertação do pecado e da morte;

– Em ambas as celebrações, todos os presentes foram instruídos a participar dos alimentos simbólicos servidos. Jamais alguém foi proibido de fazer isso.

Toda a motivação por trás desse esforço de enfraquecer o paralelismo entre a Páscoa e a Celebração cristã, é o desejo de defender a todo custo uma doutrina religiosa particular. Conforme visto aqui, a atenção a informações simples, conhecidas por todos os leitores da Bíblia, é suficiente para mostrar a falta de validade da argumentação que se usa em apoio das supostas “diferenças” entre as duas celebrações.

Participando com ‘Dignidade’ e ‘Discernimento’

NA PRIMEIRA CARTA de Paulo aos cristãos em Corinto, há algumas referências adicionais à celebração. Uma vez que a Torre de Vigia apresenta um entendimento particular desses textos, eles serão analisados neste capítulo.

Em 1 Coríntios 11: 27, 28, lemos:

“Portanto, quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor. Primeiro, que o homem examine e aprove a si mesmo, e só então coma do pão e beba do cálice.”

Em geral, reconhece-se que esse ‘comer e beber indignamente’, refere-se à má atitude do participante durante a celebração. Assim, o livro da Torre de Vigia intitulado “Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro”, capítulo 14, parágrafo 12 (páginas 114 e 115) diz:

… O apóstolo Paulo escreveu conselho sério a cristãos de Corinto, na Grécia, no primeiro século, visto que alguns deles deixaram de mostrar o devido apreço pela ocasião, dizendo: “Quem comer o pão e beber o copo do Senhor indignamente, será culpado com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor.” O que os tornava ‘indignos’ como participantes? Eles não se preparavam devidamente no coração e na mente. Havia divisões na congregação. Alguns também entregavam-se em excesso ao comer e ao beber antes da reunião. Tratavam a Refeição Noturna do Senhor com indiferença. Não estavam em condições de discernir o significado sério do pão e do vinho. — 1 Cor. 11:17-34.

Se a liderança da Torre de Vigia se ativesse a estes pontos, não haveria razão para discutir. Acontece que o ensino não se limita a isso. A Sentinela de 15 de março de 1991, página 21, acrescenta a seguinte ideia:

É Vital Fazer um Exame Cuidadoso

Um ponto muito significativo foi apresentado pelo apóstolo Paulo quando escreveu: “Quem comer o pão ou beber o copo do Senhor indignamente, será culpado com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor. Primeiro, aprove-se o homem depois de escrutínio, e deste modo coma do pão e beba do copo. Pois, quem come e bebe, come e bebe julgamento contra si mesmo, se não discernir o corpo.” (1 Coríntios 11:27-29) Portanto, o cristão batizado que em anos recentes começou a achar que recebeu a chamada celestial deve dar cuidadosa consideração a esse assunto, com oração.

A Sentinela de 1º de abril de 1996, página 8, complementa isso, dizendo:

Se alguém, “depois de escrutínio”, descobrir que realmente não devia ter tomado os emblemas, deve passar a refrear-se disso.

Estas publicações, e muitas outras, associam ‘participar indignamente’ com a pessoa não ter recebido a “chamada celestial”. Ensina-se que esse “escrutínio” significa um autoexame que a pessoa deve fazer, para averiguar se de fato recebeu essa chamada ou não. Se ela concluir que não, então não deve mais se servir dos alimentos da celebração. A ordem da Sentinela é clara: A pessoa “deve passar a refrear-se disso”.

O mais curioso é que, embora esse acréscimo muitas vezes seja feito de forma um tanto sutil e sem claro apoio bíblico, ele é que passa a ser a ideia dominante. É por isso que qualquer um que perguntar a uma Testemunha de Jeová o que significa “participação indigna” no pão e no vinho, invariavelmente ouvirá como resposta que ‘é a pessoa participar sem ser do “restante ungido”.

O Que Era a ‘Participação Indigna’ e o ‘Escrutínio’, Referidos por Paulo?

De acordo com o ensino da Torre de Vigia a “escolha geral” dos 144.000, que vão para o céu, começou com os apóstolos de Cristo e prosseguiu ao longo dos séculos, terminando por volta do ano de 1935. 7Este ensino foi mudado em 2007. O ano de 1935 foi descartado. Quer estes ensinos estejam certos, quer não, permanece o fato de que eles creem que todos os primitivos cristãos esperavam ir para o céu. 8Como um exemplo dentre muitos, A Sentinela de 1º de março de 2004 afirmou na página 10: “No primeiro século EC, todo cristão tinha a esperança celestial.”

Mas isto gera uma contradição: Se a esperança da pessoa era o que estava em questão, sendo o fator determinante para ela ‘participar dignamente’ dos emblemas, que necessidade tinha Paulo de escrever alguma coisa sobre ‘participação indigna’? Se todos lá tinham “esperança celestial” e uma vez que Paulo não questionou isso em momento algum, não havia entre eles qualquer diferença, ao ponto de alguns serem “dignos” de participar e outros serem “indignos” de fazê-lo. As palavras do apóstolo não teriam qualquer propósito.

Torna-se evidente então que não era a esperança daquelas pessoas que estava em discussão. Ademais, Paulo não estava questionando o direito de participação delas. O que ele disse foi que alguns daqueles cristãos (que esperavam ir para o céu) ao participarem, estavam fazendo isso ‘indignamente’. Ele estava se referindo ao modo como a pessoa participava. Em outras palavras, alguns naquela época estavam participando do pão e do vinho de maneira indigna. O trecho de 1 Coríntios 11:17-22 deixa isso bem claro. Para introduzir este assunto da “participação indigna”, Paulo se expressou deste modo:

Na orientação que agora vou dar a vocês, eu não os elogio. Porque as suas reuniões na igreja fazem mais mal do que bem. Em primeiro lugar me contaram que há grupos de pessoas que estão brigando nas reuniões da igreja. Eu acredito que em parte isso é verdade. Não há dúvida de que é preciso haver divisões entre vocês para que apareçam os que estão certos. Quando vocês se reúnem, não é a ceia do Senhor que vocês comem. Porque quando vão comer, cada um se adianta para tomar a sua própria refeição. E assim, enquanto uns ficam com fome, outros chegam até a ficar bêbados. Será que vocês não têm as suas próprias casas onde podem comer e beber? Ou será que preferem desprezar a Igreja de Deus e envergonhar os que são pobres? O que é que esperam que eu diga a vocês? Querem que lhes dê parabéns? É claro que não vou fazer isso!  (A Bíblia na Linguagem de Hoje)

Qual era então o objetivo do “escrutínio” que aqueles primitivos cristãos deveriam fazer? Era averiguar se tinham a “esperança celestial”? É claro que não, pois, como vimos, ao iniciar sua repreensão, Paulo não disse uma palavra sobre isso. Se ele estava chamando atenção para a atitude daqueles celebrantes, só poderia ser isto o alvo do escrutínio. Cada um daqueles cristãos deveria avaliar conscienciosamente sua própria atitude para com a celebração e, se fosse o caso, mudá-la para melhor, para poder continuar participando desses alimentos de maneira digna.

A ideia da Torre de Vigia sobre esse “escrutínio” ou autoexame, põe a perder esse objetivo. O resultado para milhões de pessoas é exatamente o oposto do que deveria ser. Como a ideia da “esperança celestial” (limitada a um número literal de 144.000) é introduzida arbitrária e desnecessariamente neste assunto, isso confunde as Testemunhas (e seus convidados). Com a mente dominada pela questão da “esperança celestial”, quando os que comparecem à Celebração JW fazem esse “escrutínio” de si mesmos, concluem que não são “dignos” de participar do pão e do vinho. Em resultado disso, na quase totalidade dos casos, o resultado do “escrutínio” é negativo! Mas não foi isso o que Paulo disse. As palavras dele foram:

“Primeiro, que o homem examine e aprove a si mesmo, e só então coma do pão e beba do cálice”.

O autoexame era (e continua sendo) necessário no caso de todos os cristãos, mas o resultado deveria ser sempre no sentido de participar. Em momento algum Paulo disse que aquelas pessoas que estavam ‘participando indignamente’ deveriam ‘parar de participar’ (como a liderança da Torre de Vigia ordenou na Sentinela citada acima).

‘Discernindo o Que Nós Mesmos Somos’

Em 1 Cor. 11: 29-31, lemos:

“Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe julgamento contra si mesmo. É por isso que muitos entre vocês estão fracos e doentes, e um bom número está dormindo na morte. Mas, se discerníssemos o que nós mesmos somos, não seríamos julgados.”

Sobre tais palavras, o número de A Sentinela de 15 de fevereiro de 1990, página 19, parágrafo 17, começa dizendo:

17 Paulo trouxe isso à atenção na sua carta aos coríntios, numa época em que alguns apóstolos ainda viviam e em que Deus chamava cristãos “para ser santos”. Paulo disse que se havia desenvolvido um mau costume entre aqueles ali que estavam sob a obrigação de tomar dos emblemas. Alguns tomavam refeições de antemão, em que comiam ou bebiam em excesso, deixando-os sonolentos, obtusos em seus sentidos. Em resultado, não podiam “discernir o corpo”, o corpo físico de Jesus representado pelo pão. Era isso tão sério assim? Sim! Por comerem indignamente, tornaram-se “culpado[s] com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor”. Se estivessem mental e espiritualmente alertas, ‘poderiam discernir o que eram e não seriam julgados’. — 1 Coríntios 1:2; 11:20-22, 27-31.

Novamente: Se o ensino da Torre de Vigia se ativesse somente a estes pontos, não haveria o que questionar, pois, nada do que se diz acima foge do contexto bíblico. Infelizmente, mais uma vez, a Sentinela vai ‘além do que está escrito’. Os dois parágrafos seguintes acrescentam:

18 O que aqueles cristãos tinham de discernir e como? Primariamente, tinham de discernir no coração e na mente a sua chamada para estar entre os 144.000 herdeiros da vida celestial. Como discerniram eles isso, e devem muitos hoje crer que sejam parte desse pequeno grupo que Deus vem selecionando desde os dias dos apóstolos?

19 Realmente, apenas uma minoria bem pequena de cristãos verdadeiros hoje discerne isso acerca de si mesmos. … A vasta maioria – sim, milhões de outros leais, cristãos abençoados que se reuniram – discerniram que sua esperança válida é viver para sempre na terra.

Há um detalhe curioso aqui: O escritor da Sentinela presume que aqueles cristãos estavam pensando num número literal de 144.000 e entendiam os assuntos da mesma maneira que a organização entende hoje. Isso apesar de Paulo ter-lhes enviado esta carta antes de João receber a Revelação, onde esses “144.000” são mencionados pela primeira vez!

Mas, independentemente desse detalhe, o fato é que as palavras do apóstolo sobre ‘discernir o que somos’, são interpretadas como significando o cristão discernir qual é o seu destino, a sua esperança. Ele pode ‘discernir que recebeu a chamada celestial’ ou ‘discernir que vai viver na terra’. O parágrafo 18 diz, inclusive, que foi “primariamente” este o sentido das palavras de Paulo.

O Que Paulo Quis Dizer com “Discernir o Corpo” e “Discernir o Que Somos”?

Se prestarmos detida atenção a tudo o que os três versículos dizem, temos condições de entender o significado dessas duas frases. Vejamos:

1 Cor 11:29: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe julgamento contra si mesmo.” 

O que traria “julgamento” contra a pessoa? Seria ela ‘comer o pão e beber o vinho’? Dificilmente, pois todos aqueles primitivos cristãos faziam isso. Paulo explica: o julgamento adverso só viria se o cristão fizesse isso ‘sem discernir o corpo’, ou seja, se encarasse aquele pão e vinho como simples alimentos, despercebendo que eles ‘eram’ o corpo e o sangue de Cristo. A maneira como este mesmo texto é expresso na versão abaixo deixa isso claro:

Pois, a pessoa que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer que se trata do corpo do Senhor, estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio castigo. (Nova Tradução na Linguagem de Hoje)

Ou seja, aqueles cristãos não deveriam encarar a celebração como simplesmente uma oportunidade de saciar a fome. Foi por isso que Paulo disse no versículo 34: “Se alguém estiver com fome, que coma em casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em julgamento.” Note-se que Paulo mais uma vez associa o “julgamento” com a possibilidade de alguém usar os alimentos da celebração para saciar a fome, despercebendo o verdadeiro significado deles. Ele não diz nada além disso, confirmando que o “julgamento contra si mesmo” (mencionado no versículo 29) nada tem que ver com a “esperança celestial”. 

1 Cor 11:30: É por isso que muitos entre vocês estão fracos e doentes, e um bom número está dormindo na morte.

Paulo não estava falando em ‘fraqueza’, ‘doença’ e ‘morte’ literais. A expressão “É por isso”, indica que esse versículo complementa o que o anterior: Aqueles cristãos estavam ‘fracos, doentes e mortos’ em sentido espiritual porque ‘não discerniam o corpo’

1 Cor 11:31: Mas, se discerníssemos o que nós mesmos somos, não seríamos julgados.”

O que conduziria a pessoa ao julgamento?  Seria por ela achar que era “ungido” sem ser realmente, como dá a entender a Torre de Vigia? Não, a frase do texto é clara: O julgamento adverso só viria se a pessoa ‘não discernisse o que ela mesma era’. Em outras palavras: O julgamento viria, não devido à pessoa “discernir errado” e sim devido à pessoa ‘deixar de discernir’.

O destino daqueles cristãos não era o que estava em discussão. Eles não tinham como “errar”, neste particular. Se, como dizem os líderes da Torre de Vigia, todos tinham a “esperança celestial”, esse “julgamento” referido por Paulo não poderia ser em razão de algum deles participar do pão e do vinho sem tê-la. No entanto, mesmo tendo essa esperança, alguns daqueles cristãos ainda poderiam estar deixando de discernir algo. O que?

Para entender isso, temos de atentar novamente às palavras de Paulo ditas pouco antes. Em 1 Cor 11:29, ele falou que se a pessoa ‘não discernisse o corpo’, estaria sujeita ao julgamento. Esse ‘discernir o que somos’ referido por ele em 1 Cor 11:31 tem conexão direta com isso.

O que aqueles cristãos ‘eram’? Logo no capítulo seguinte desta mesma carta aos coríntios, Paulo discutiu o assunto do “corpo de Cristo”. Em certo momento da discussão, ele disse em 1 Cor 12:27:

“Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo.”

A organização Torre de Vigia insiste em dizer que esta expressão “corpo de Cristo” aplica-se apenas aos 144.000. A Sentinela de 1º de fevereiro de 1992 diz na página 14:

É privilégio das Testemunhas de Jeová ter no seu meio os últimos dos membros do corpo de Cristo, batizados pelo espírito, que servem como “escravo fiel e discreto” para prover alimento espiritual no tempo apropriado.

Mas, na discussão que Paulo fez no capítulo 12 dessa primeira carta à congregação de Corinto, não se encontra uma única indicação de que essa expressão “corpo de Cristo” só pode ser aplicada a um grupo específico. Ele simplesmente alista diversos dons que Deus pode conceder a cada membro do “corpo” e defende o relacionamento harmonioso que deve existir entre todos os membros da congregação cristã, assim como o que existe entre os membros dum corpo humano. O ensino da Torre de Vigia faz parecer que Deus concede dons espirituais apenas a um grupo de 144.000 pessoas e que são apenas as pessoas desse grupo que devem ter relacionamento harmônico entre si. As palavras de Paulo não apóiam isso de modo algum. Tudo o que ele diz lá é aplicável a todos os verdadeiros cristãos. O leitor pode conferir isso, examinando esse capítulo da carta dele, na íntegra.

Dessa forma, quando ele falou em ‘discernir o que nós mesmos somos’, era a isso que ele se referia. Em sentido espiritual, todos os verdadeiros cristãos são membros do “corpo de Cristo”. Deixar de discernir essa condição de membro e não agir como tal é que sujeita o cristão ao julgamento adverso de Deus. Se o cristão ‘discerne’ que é membro do “corpo de Cristo” e está em harmonia com os demais membros, ele terá plena condição de participar na comemoração ‘discernindo o corpo’. É isso o que significa participação no pão e no vinho ‘com discernimento’.

À base de tudo o que foi discutido acima, podemos ver quão impróprio é a organização Torre de Vigia fazer esses acréscimos às palavras de Paulo, modificando radicalmente o entendimento do que ele disse em 1 Coríntios 11:27-31. A simples análise da situação daqueles primitivos cristãos não dá qualquer fundamento para a conclusão de que somente um pequeno e específico grupo de pessoas pode participar do pão e do vinho ‘com dignidade e discernimento’.

‘Comer a Carne e Beber o Sangue de Cristo’

O EVANGELHO de João 6:48-58 diz:

Há uma história relacionada com este trecho, que ilustra bem os malabarismos que a organização Torre de Vigia faz muitas vezes, com o fim de sustentar suas doutrinas.

Anteriormente, as publicações da organização admitiam a ideia de que esse ‘comer a carne e beber o sangue de Cristo’ (conforme o versículo 53) tem paralelo com comer o pão e beber o vinho na Ceia do Senhor. Porém, uma vez que o ensino é que só os “ungidos” podem fazer isso, ensinava-se que o texto acima tinha aplicação apenas a eles. Dava-se muita ênfase à expressão “vida em si mesmos”, como se isso significasse uma qualidade especial de vida que só os ungidos iriam possuir. Os líderes da Torre de Vigia simplesmente se recusavam a reconhecer que essa expressão não significa nada além de “vida eterna”, como o próprio Jesus torna claro logo no versículo seguinte (o 54), vida eterna esta que ele já havia dito estar disponível para “todo aquele” que comesse o “pão do céu” (conforme o versículo 50), uma referência a ele próprio.

Em outras palavras, por mais que o contexto tornasse claro que tanto a expressão ‘comer a carne e beber o sangue de Cristo’ quanto a expressão “vida em si mesmos” têm aplicação a todos os cristãos, a Torre de Vigia não aceitava isso. Havia pessoas que questionavam fortemente o ensino, mas os líderes da organização mantinham-se inflexíveis. O desejo deles era que ambas as expressões se aplicassem apenas aos “ungidos” e a ninguém mais.

Mas em 1986, eles finalmente mudaram de ideia. A Sentinela de 15 de fevereiro daquele ano oficializou isso no “estudo” e também na seção “Perguntas dos Leitores” (na página 30). Transcrevemos abaixo a pergunta e o início da resposta:


· Referia-se Jesus apenas aos cristãos ungidos quando disse, em João 6:53: “Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”?

Por muitos anos temos explicado que estas palavras se limitavam aos cristãos ungidos que serão levados ao céu para governar com Jesus Cristo. Contudo, um estudo adicional deste assunto recomenda uma aplicação mais ampla de João 6:53.

Curiosamente, no final dessa mesma “Pergunta dos Leitores”, a Sentinela diz que uma das razões da mudança foi que “maior peso foi dado, também, ao contexto imediato de João 6:53.” Ora, o “contexto imediato” (transcrito no início deste capítulo) sempre estivera na Bíblia, e mostrava claramente que a aplicação do texto apenas aos “ungidos”, não podia estar certa. No entanto, o ensino errado foi mantido durante “muitos anos”, até que apareceu esse “estudo adicional”.

Bem, o velho ensino estava abandonado. Agora a organização estava admitindo que ‘comer a carne e beber o sangue de Cristo’, bem como a expressão “vida em si mesmos”, tem aplicação geral a todos os cristãos verdadeiros. Mas será que as demais Testemunhas de Jeová, bem como seus convidados, estavam agora livres para comer o pão e o vinho na Ceia?

Não, porque os líderes fizeram o seguinte: “Desconectaram” essas palavras de Cristo do contexto da Celebração (dando ênfase ao fato de que houve uma diferença de um ano entre os dois eventos) e passaram a admitir uma única explicação para elas.

A comparação do que dizem as duas edições do livro Raciocínios à Base das Escrituras, nas páginas 88 e 89 permite visualizar a mudança no entendimento. Uma destas edições é anterior à mudança feita em 1986, e a outra é posterior. O quadro comparativo é mostrado na página seguinte (os trechos que interessam à discussão estão grifados):


Raciocínios à Base das Escrituras (Edição de 1985)

 

Raciocínios à Base das Escrituras (Edição de 1989)

Indica João 6:53, 54 que apenas os que participam realmente é que ganharão a vida eterna?
João 6:53, 54: “Jesus disse-lhes: ‘Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia.’” (Este comer e beber seria obviamente em sentido simbólico, como na Refeição Noturna do Senhor; do contrário, aquele que assim fizesse estaria violando a lei de Deus que proíbe comer sangue. Veja Gênesis 9:4; Atos 15:28, 29.)
Note que os que assim participam do pão e do vinho emblemáticos são os que hão de ganhar a recompensa da vida somente por meio de uma ressurreição. Isto se dá porque precisam renunciar à sua vida humana para alcançarem a recompensa da vida celestial com Cristo. Mas, em outra ocasião, Jesus mostrou que outros que depositarem fé nele ‘nunca jamais morrerão’. (João 11:25, 26) Revelação 7:9, 10, 14 descreve esses últimos como pessoas que se beneficiaram do sangue do Cordeiro e que são poupadas com vida na terra através da grande tribulação.
Que significa ‘terem vida em si mesmos’, conforme João 6:53 o diz? Evidentemente significa muito mais do que simplesmente viver para sempre. A expressão no texto grego é similar àquela que se acha em João 5:26, onde se faz uma consideração sobre o poder de Jesus de ressuscitar os mortos. João 5:26, segundo vertido em NTI, reza: “Como o Pai é a fonte da vida, concedeu ao Filho o poder de dar a vida.” De modo que, aqueles a quem se concedeu ter ‘vida em si mesmos’, como Cristo, terão parte com ele em transmitir à humanidade os benefícios vitalizadores do sacrifício de resgate. – Rom. 6:23; 1 Cor. 15:45.

 

Indica João 6:53, 54 que apenas os que participam realmente é que ganharão a vida eterna?
João 6:53, 54: “Jesus disse-lhes: ‘Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia.’” Este comer e beber teria obviamente de ser feito em sentido figurativo; do contrário, aquele que assim fizesse estaria violando a lei de Deus. (Gên. 9:4; Atos 15:28, 29) Mas, deve-se notar que a declaração de Jesus em João 6:53, 54 não foi feita com relação à inauguração da Refeição Noturna do Senhor. Ninguém que o ouviu tinha alguma ideia da comemoração com o pão e o vinho usados para representar a carne e o sangue de Cristo. Esse arranjo foi introduzido cerca de um ano depois, e o relato do apóstolo João sobre a Refeição Noturna do Senhor só começa mais de sete capítulos mais adiante (em João 14) no Evangelho que leva seu nome.
Assim, pois, como pode alguém ‘comer a carne do Filho do homem e beber o seu sangue’ em sentido figurativo a não ser por participar do pão e do vinho por ocasião da Comemoração? Repare que Jesus disse que os que assim comessem e bebessem teriam “vida eterna”. Antes, no versículo 40, ao explicar o que as pessoas precisam fazer para ter vida eterna, o que disse ele ser a vontade de seu Pai? Que “todo aquele que observa o Filho e exerce nele tenha vida eterna”. Portanto, é razoável que o ‘comer sua carne e beber seu sangue’ em sentido figurativo seja por se exercer no poder redentor da carne e do sangue de Jesus, dados em sacrifício. Exige-se que todos os que ganharão a plenitude da vida, quer nos céus com Cristo, quer no Paraíso terrestre, exerçam tal fé.

A comparação dos dois textos mostra que aquele significado da expressão “vida em vós mesmos”, que a Torre de Vigia dizia ser tão ‘evidente’ (na edição de 1985), foi abandonado e esquecido. A Refeição Noturna [Ceia] do Senhor não servia mais como exemplo de participação simbólica no corpo e no sangue de Cristo. Em vez disso, a expressão ‘comer a carne e beber o sangue’ foi explicada como significando unicamente “exercer fé no poder redentor da carne e do sangue de Jesus, dados em sacrifício”.

Qual foi o argumento que passou a ser usado para provar que o pão e o vinho não têm qualquer relação com essa expressão? A edição de 1989 do livro diz que é porque “ninguém que ouviu [Jesus] tinha alguma ideia da comemoração com o pão e o vinho usados para representar a carne e o sangue de Cristo. Esse arranjo foi introduzido cerca de um ano depois…”. Essa mesma ideia foi apresentada na Sentinela de 15 de fevereiro de 1986 (tanto no “estudo” oficial que mudou o ensino, como na seção Perguntas dos Leitores).

A ênfase nisso nada mais é que um “despistamento”. É claro que nenhuma daquelas pessoas sabia da celebração que Jesus instituiria. Por ficarem chocadas com o que Jesus disse e não terem paciência para aguardar a explicação, foram embora. Só ficaram com ele seus apóstolos. Mas os líderes da Torre de Vigia “esquecem” que foi Jesus quem proferiu essas palavras sobre ‘comer sua carne e beber seu sangue’ e ele sabia muito bem o que iria fazer posteriormente. As palavras que ele usou quando instituiu a celebração repetem literalmente aquelas mesmas ideias expressas um ano antes. O fato de seus ouvintes não saberem disso no momento em que Jesus falou, não prova que uma coisa não tem relação com a outra. O paralelo entre as palavras de Cristo registradas em João 6:53 e aquilo que ele disse por ocasião da primeira Ceia é tão evidente que até a organização Torre de Vigia aceitava isso antes.

Há ainda outra “pista falsa”, lançada na Sentinela de 15 de fevereiro de 1986. Como “justificativa” adicional para a ideia de que comer o pão e beber o vinho na Ceia não têm relação com as palavras de João 6:53, a revista disse no parágrafo 17, da página 20:

“Tomar dos emblemas na Comemoração não concede vida eterna.”

É claro que não! Ninguém afirma que o ato de participar do pão e do vinho em si mesmo concede automaticamente a vida eterna a alguém. Todos concordam que a vida eterna é decorrente de se exercer fé no sacrifício de Cristo. As palavras da parte final do livro Raciocínios (edição de 1989), citadas acima, não acrescentam qualquer novidade ao que todo cristão sempre soube.

Observa-se, porém, que, embora Jesus já tivesse falado (em João 6:40) sobre a necessidade de se exercer fé nele, depois ele passou a usar especificamente os verbos “comer” e “beber”, em conexão com sua carne e seu sangue. Se ele já tinha deixado bem claro que as pessoas deveriam exercer fé nele, que necessidade havia de acrescentar a ideia de ‘comer sua carne e beber seu sangue’, a qual pareceu tão repulsiva para aqueles ouvintes? Há realmente alguma razão válida para não vermos nisso um paralelo evidente com os alimentos simbólicos da Ceia? Será que essa nova explicação da Torre de Vigia impede que a participação no pão e no vinho possa ser vista como uma demonstração simbólica que todo cristão faz de sua fé no sacrifício de Cristo? Se eles concluem o assunto na nova edição do livro afirmando que “exige-se que todos os que ganharão a plenitude da vida, quer nos céus com Cristo, quer no Paraíso terrestre, exerçam tal fé”, então por que proíbem a maioria das pessoas de demonstrar isso por participar no ‘corpo’ e no ‘sangue’ dele?

Vimos que, antes de 1986 a própria organização admitia que esse simbolismo é válido. Por que seus líderes passaram a resistir a isso? Por que fizeram esse esforço para dissociar um contexto do outro?

A resposta é óbvia: O objetivo disso foi manter a todo custo o ensino sem base bíblica de que participar do pão e do vinho significa uma afirmação de “esperança celestial”. Como no sistema doutrinário da Torre de Vigia isso só está aberto para poucas pessoas, apenas estas podem comer o pão e beber o vinho na Ceia, estando automaticamente excluídos todos os demais.

O ‘Testemunho do Espírito’

EM PRIMEIRO LUGAR, convém esclarecer o seguinte: o assunto que será discutido neste capítulo não tem qualquer relação com a Celebração da morte de Cristo. Tendo em vista o escopo deste folheto, nem haveria necessidade de analisarmos o conteúdo do capítulo 8 da carta de Paulo aos romanos. O pão e o vinho não são mencionados nele, nem sequer indiretamente.

Mas a organização Torre de Vigia estabelece uma conexão, e bem forte. Seus representantes usam certas declarações feitas por Paulo neste capítulo como argumentos favoráveis ao ensino da organização. E a grande maioria das Testemunhas de Jeová acaba aceitando esta explicação como uma das principais justificativas para a ideia de que somente o “restante dos 144.000” pode participar do pão e do vinho.

Para introduzir a discussão, cita-se o trecho dum artigo da revista A Sentinela de 1º de março de 1988. Este artigo é uma autobiografia de um falecido membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Num dos parágrafos da pág. 11, ele disse:

“Começamos o nosso serviço de pioneiro antes de termos sido batizados, pois naquele tempo não se entendia claramente se aqueles que tinham esperança terrestre deviam ser batizados ou não. No entanto, depois que fui batizado, no Lago Vandercook, Michigan, em 24 de julho de 1932, ficou evidente que a minha esperança mudara para a de um ungido, confirmado pelo ‘testemunho do espírito’. — Romanos 8:16.”

Não há aqui a menor intenção de desrespeitar, ou mesmo contestar a crença que esse membro do Corpo Governante mantinha. Se num determinado momento de sua vida, ele passou a fixar o coração na vida celestial, isso é algo entre ele e Deus e não há motivo válido para se menosprezar isso.

O detalhe que chama a atenção é que a razão que o fez chegar à conclusão de que ele era parte do ‘restante dos 144.000’, e, sendo assim, sua esperança mudara (de “terrestre” para “celestial”) foi ter recebido o ‘testemunho do espírito’, mencionado pelo apóstolo Paulo em Romanos 8:16.

Embora este homem não tenha tratado disso no momento em que contou a história de sua vida, o fato é que a organização Torre de Vigia tem uma interpretação bem particular desse texto. E este falecido membro do Corpo Governante central da religião era, com certeza, um dos mentores da ideia. Qual é o ensino?

Observemos o que diz A Sentinela de 1º de abril de 1977, página 220:

Assim, são somente os que esperam compartilhar com Jesus de seu Reino celeste, e que também se acham no novo pacto, que devem participar da Refeição Noturna do Senhor, como também é chamada. — Luc. 12:32; Heb. 8:10-13; 1 Cor. 11:20.

Sobre estes que participam deles, lemos ainda mais: “O próprio espírito dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. Então, se somos filhos, somos também herdeiros: deveras, herdeiros de Deus, mas co-herdeiros de Cristo, desde que soframos juntamente, para que também sejamos glorificados juntamente.” (Rom. 8:16, 17).

Tampouco este é um ensino antigo, que foi abandonado. Ele pode ser encontrado em publicações mais recentes. A Sentinela de 1º de abril de 1996, página 7, reafirma:

Alguns têm tomado os emblemas da Comemoração, embora mais tarde se dessem conta de que não deviam ter feito isso. Aqueles que legitimamente tomam os emblemas da Comemoração foram escolhidos por Deus e têm o testemunho do espírito de Deus neste sentido. (Romanos 8:15-17; 2 Coríntios 1:21, 22) Não é a decisão ou determinação pessoal deles que os torna dignos disso. Deus limitou o número dos que governarão com Cristo nos céus a 144.000, número relativamente pequeno em comparação com todos os beneficiados pelo resgate de Cristo. (Revelação [Apocalipse] 14:1, 3) A escolha começou nos dias de Jesus, de modo que hoje há apenas poucos participantes. E ao passo que a morte leva alguns, este número deve diminuir.

Mas, e quanto aos que não fazem parte dos 144.000? Não teriam eles também recebido esse ‘testemunho do espírito’ de Deus? Não, segundo a Torre de Vigia. Na edição de A Sentinela de 15 de outubro de 1999, páginas 13 e 14, o parágrafo 10 diz, entre outras coisas:

Será que então podemos imaginar que hoje seja diferente, quando a maioria dos verdadeiros cristãos não tem o testemunho do espírito de que eles sejam os “escolhidos de Deus, santos e amados”?

Não há margem para ambigüidade. O que as publicações dizem taxativamente, é que ninguém além dos 144.000 recebeu o ‘testemunho do espírito’. Nem mesmo as demais Testemunhas de Jeová (que a organização entende serem os “verdadeiros cristãos”). Muito menos os cristãos que não estão sob a autoridade da organização Torre de Vigia.

Todo ano, por volta da época da Celebração das Testemunhas, os “ungidos” ficam em evidência, e invariavelmente surge conversa a respeito deles. Sempre que alguém pergunta como é que um “ungido” sabe que é ungido, normalmente as Testemunhas citam o texto de Romanos 8:15-17 como resposta. É só natural que façam isso, pois, como vimos, as publicações da organização afirmam repetidamente que o conteúdo deste texto se aplica a eles, ungidos, e a ninguém mais.

O Conteúdo do Capítulo 8 da Carta aos Romanos

É interessante fazer uma leitura atenta do capítulo inteiro. Sugerimos isso ao leitor. Por questão de espaço, não vamos transcrevê-lo na íntegra aqui, mas faremos uma consideração dos versículos mais pertinentes. O capítulo pode ser dividido assim:

– Nos versículos de 1 a 17, Paulo traça um contraste entre os que “andam de acordo com a carne” e os que “andam de acordo com o espírito”, declarando que os que são guiados pelo espírito de Deus são “filhos de Deus”, “herdeiros” e serão “glorificados”.

– Nos versículos de 18 a 30, ele faz diversos comentários sobre a esperança dessa “glorificação” que está em reserva para os “filhos de Deus”.

– Finalmente, nos versículos de 31 a 39, ele assegura que esses que têm o espírito são apoiados pelo próprio Deus e por Cristo. E nada pode separar esses “filhos de Deus” do amor que os dois têm por eles.

É dentro deste contexto que se encontram as palavras de Paulo que constam nos versículos de 15 a 17. É óbvio que para se chegar a um correto entendimento delas, os versículos circundantes deveriam ser levados em consideração. Mas isso a organização Torre de Vigia jamais fez. E por uma razão muito simples: Esse contexto desautoriza completamente a interpretação de que os “filhos de Deus” são apenas os 144.000.

Consideremos nove declarações que Paulo faz antes do versículo 16 (os versículos estão entre parêntesis):

(01) “… não há nenhuma condenação para os que estão em união com Cristo Jesus.”

(02) “… a lei do espírito que dá a vida em união com Cristo Jesus libertou você da lei do pecado e da morte.”

(05) “… os que vivem de acordo com a carne fixam a mente nas coisas da carne; mas os que vivem de acordo com o espírito, nas coisas do espírito.”

(06) “… fixar a mente na carne significa morte, mas fixar a mente no espírito significa vida e paz.”

(07) “… fixar a mente na carne significa inimizade com Deus,…”

(08) “… os que vivem em harmonia com a carne não podem agradar a Deus.”

(09) “… se alguém não tem o espírito de Cristo, essa pessoa não pertence a ele.”

(13) “…se vocês viverem de acordo com a carne, certamente morrerão; mas, se pelo espírito entregarem à morte as práticas do corpo, vocês viverão.”

(14) “… todos os que são guiados pelo espírito de Deus são realmente filhos de Deus.”

Tanto os evangelhos, quanto as cartas apostólicas fazem diversas referências a esta expressão “filhos de Deus”. Para citar mais um exemplo, em 1 João 3:10, lemos:

Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: aquele que não pratica a justiça não se origina de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão.

Este texto estabelece um nítido contraste entre os que são “filhos de Deus” os “filhos do Diabo” e o apóstolo diz qual é a diferença. Os líderes da Torre de Vigia aceitam isso. Assim, em geral eles concordam que todo cristão verdadeiro é um “filho de Deus”.

Mas nem sempre. Para a expressão idêntica que aparece em Romanos capítulo 8, aplica-se outra definição. Referindo-se a esta, a revista A Sentinela de 1º de junho de 1992 disse na página 15:

Quem são esses “filhos de Deus”? São os irmãos de Jesus, ungidos com o espírito, que serão governantes com ele no Reino celestial. Os primeiros deles surgiram no primeiro século EC. Aceitaram a verdade libertadora ensinada por Jesus, e a partir de Pentecostes de 33 EC, participaram dos gloriosos privilégios mencionados por Pedro quando lhes escreveu: “Vós sois ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo para propriedade especial’.” — 1 Pedro 2:9a; João 8:32.

As demais Testemunhas de Jeová, que, segundo a organização, fazem parte do grupo chamado “grande multidão” ou “outras ovelhas” não gozam dessa condição. A revista A Sentinela de 15 de março de 1987, páginas 14 e 15, explica:

Que dizer daqueles que Jesus chamou de suas “outras ovelhas”? (João 10:16) Usufruem tal paz com Deus? Não como filhos de Deus, mas Colossenses 1:19, 20, os inclui como os beneficiados pela paz divina.

O problema é que esta ideia expressa nas revistas acima, deixa todos os cristãos que não têm esperança celestial numa condição extremamente precária. Ora, se essas pessoas não são “filhos de Deus” no pleno sentido da palavra, então não são conduzidas pelo espírito de Deus e sim pela carne. Segundo dizem os versículos do capítulo 8 de Romanos que transcrevemos acima (e na mesma ordem), se alguém for conduzido pela carne, essa pessoa:

Está separada de Cristo e sujeita à condenação;

Está sujeita à lei do pecado e da morte;

Tem a mente fixa nas coisas carnais;

Está sujeita à morte;

É inimiga de Deus;

Não pode agradar a Deus;

Não pertence a Cristo;

Morrerá com certeza;

E mais ainda: Tendo em mente o que João disse, se essas pessoas não são “filhos de Deus”, então só podem estar no grupo dos “filhos do Diabo”! 

Devemos pensar que isto se aplica a todos os demais que não fazem parte do “restante dos 144.000” na terra?

Essa ideia espantosa é conseqüência de os líderes da Torre de Vigia atribuírem sua definição particular à expressão “filhos de Deus”, referida em Romanos 8:15-17, com o único propósito de acomodar a doutrina organizacional. Dizem que somente os 144.000 são legitimamente “filhos de Deus”, para poderem dar base à ideia de que somente estes recebem o ‘testemunho do espírito’. Eles simplesmente não aceitam a definição dada por Paulo no versículo 14: “todos os que são guiados pelo espírito de Deus são realmente filhos de Deus.” Se todos estes “são guiados pelo espírito de Deus”, é só lógico que recebam o “testemunho” desse mesmo “espírito”, confirmando essa condição (Compare isso com o que diz Hebreus 11:5). O que Paulo diz no versículo 16 nada mais é que uma decorrência direta da definição que ele mesmo dá no versículo 14. E mais ainda: Esta definição está de pleno acordo com aquela dada pelo apóstolo João (citada acima) e com todas as demais referências que a Bíblia faz a esta expressão. Em parte alguma a Bíblia associa o conceito de “filho de Deus” com “esperança celestial”.

O que devemos aceitar: As palavras de Paulo, que estão de acordo com o contexto imediato e com o resto das Escrituras, ou a definição da organização Torre de Vigia, que provoca toda essa contradição?

Mas, e quanto ao que Paulo diz no versículo 17? As palavras são:

“Então, se somos filhos, somos também herdeiros — herdeiros de Deus, mas co-herdeiros com Cristo —, desde que soframos com ele, para que também sejamos glorificados com ele.”

Qual é o significado disso? Devemos entender que todos os “filhos de Deus” mencionados aí são necessariamente pessoas que receberão um corpo espiritual e irão para o céu compartilharem o “Reino” com Cristo? Esta questão será discutida nos próximos dois subtópicos.

‘Herdeiros de Deus e Co-Herdeiros de Cristo’

Consideremos a seguinte ilustração: Quando um pai de família vem a falecer, geralmente ele deixa uma herança para seus filhos. Em casos assim, o que acontece é uma partilha de seus bens entre os herdeiros. Um desses herdeiros tomará posse de um ou mais bens, que serão a partir daí, sua propriedade particular. Outros filhos que ele porventura teve, também tomarão posse de outros bens, diferentes dos daquele filho. Mas o fato de estes filhos herdarem bens diferentes não altera em nada o fato de que todos eles são herdeiros do pai e co-herdeiros entre si.

Essa mesma ideia pode ser aplicada à relação que existe entre Deus e Seus filhos. Quando se referiu aos “filhos de Deus”, Paulo aplicou a eles os termos “herdeiros” e “co-herdeiros”. Mas isso não significa obrigatoriamente que todos devam herdar a mesma coisa. Deus, como Pai, é quem decide qual parte da herança cabe a cada um, assim como um pai humano determinaria isso num testamento.

A Bíblia deixa claro que Deus estabeleceu que Seu Filho, Jesus Cristo, haveria de ser rei celestial. Ninguém duvida também que outros humanos estão destinados a compartilhar esse reino com Cristo. Se forem apenas 144.000, como ensina a Torre de Vigia, ou não, é outra questão, que não está sendo discutida aqui. O fato é que há humanos destinados a isso e ninguém melhor do que Deus para determinar quem e quantos são estes.

Mas a questão principal é: O que constitui a “herança”? Será que é apenas o “céu”? A Bíblia responde a isso. Em 1 Coríntios 3:21-23, Paulo diz:

Assim, que ninguém ponha seu orgulho nos homens; porque a vocês pertence tudo: quer Paulo, quer Apolo, quer Cefas, quer o mundo, quer a vida, quer a morte, quer as coisas presentes, quer as coisas por vir, tudo pertence a vocês; vocês, por sua vez, pertencem a Cristo; Cristo, por sua vez, pertence a Deus.

Em Hebreus 1:2, Paulo confirma isso:

“no fim destes dias [“nestes últimos dias”, Nova Versão Internacional], ele nos falou por meio de um Filho, a quem designou herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez os sistemas de coisas.”

Portanto, a herança de Deus inclui “todas as coisas”. Cristo foi designado herdeiro de tudo e os outros “filhos de Deus”, como co-herdeiros dele, compartilham de tudo, inclusive do “mundo”.

As Escrituras não dão base para a ideia de que o planeta Terra será destruído. Este local do Universo, no qual o homem foi colocado por Deus, está incluído na “herança” que Ele tem em reserva para seus filhos.

É verdade que as Escrituras Cristãs (ou Novo Testamento) fazem muitas referências a uma herança celestial. Mas a Terra não deixa de ser incluída. A conhecida passagem de Mateus 5:5, diz:

“Felizes os de temperamento brando, porque herdarão a terra.”

Nada do que está sendo expresso aqui tem o objetivo de argumentar contra ou a favor da esperança de alguém, seja ela “terrestre” ou “celestial”. Nem há a intenção de dogmatizar sobre as possibilidades para o futuro distante. A ideia é simplesmente mostrar que essa expressão “herdeiros” pode ser perfeitamente entendida em sentido amplo. Não há porque restringirmos estas palavras de Paulo em Romanos 8:17 a uma “esperança celestial”, até porque o próprio Paulo não particularizou o assunto dessa maneira. Questões tais como “onde” cada “filho de Deus” ficará e “por quanto tempo” são secundárias. Mesmo que a vontade de Deus seja que determinados “filhos” vivam na terra (pelo tempo que Ele determinar), isso não torna tais pessoas menos ‘herdeiras de Deus e co-herdeiras de Cristo’ do que aqueles que forem designados a viver no céu.

‘Sofrer com Ele e Ser Glorificado com Ele’

A mesma variabilidade de sentidos que existe no caso das palavras “herdeiros” e “herança” existe também no caso dos termos “glorificar” e “glorificação”. Em Provérbios 13:18, aparecem as seguintes palavras:

“Quem rejeita a disciplina acaba em pobreza e desonra, mas aquele que aceita correção será glorificado.”

Este texto simplesmente contrasta a ‘glorificação’ das pessoas que aceitam correção com a ‘desonra’ dos que não o fazem. 

Outros exemplos podem ser citados. Nos muitos textos em que aparece a expressão “glorificar a Deus” a referência é, sem dúvida a honrá-Lo ou reverenciá-Lo. Não poderia de modo algum significar Deus assumir uma posição superior à que Ele tem ou ir para algum domínio superior àquele em que Ele se encontra.

Com respeito a Jesus, quando a Bíblia conta que o amigo de Jesus, Lázaro, ficou doente (doença esta que resultou em sua morte) lemos o seguinte em João 11:4:
Mas Jesus, quando ouviu isso, disse: “O resultado dessa doença não será a morte, mas a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela.”

A ressurreição de Lázaro não fez com que Jesus recebesse de imediato um corpo espiritual e fosse para o céu. Mas ele foi honrado; reconhecido pelo que fez. É este o sentido que a palavra “glorificado” tem neste texto.

O termo “glória” é aplicado liberalmente na Bíblia tanto a seres humanos como a coisas inanimadas. Ela fala em “glória dos reis” (Provérbios 25:2), “glória do Líbano” (Isaías 35:2), “glória do homem” (1 Coríntios 11:7) ‘glória dos cabelos de uma mulher’ (1 Coríntios 11:15), ‘glória do sol, da lua e das estrelas’ (1 Coríntios 15:41), ‘glória do rosto de Moisés’ (2 Coríntios 3:7), etc. Isso mostra que essa palavra não tem um significado único.

É inegável que existem ocorrências bíblicas ao termo “glória” com o sentido específico de glória celestial. Por exemplo, numa oração que fez a Deus, Jesus fez a seguinte declaração, registrada em João 17:5:

“E agora, Pai, glorifica-me ao teu lado com a glória que eu tive junto de ti antes de o mundo existir.”

Aqui só há margem para um entendimento. Ele se referia ao tipo de glória que usufruía quando vivia no domínio espiritual, estando numa elevada posição ‘junto do Pai’.

Acontece que na referência que Paulo faz à ‘glorificação’ dos “filhos de Deus” em Romanos 8:17 não se encontra uma particularização tão estrita assim. Ele simplesmente falou em os “herdeiros de Deus” ‘sofrerem junto com Cristo e serem glorificados junto com ele’. Se Paulo não restringiu o termo, esta ‘glorificação’ pode também ser entendida no sentido amplo, querendo dizer uma grande melhoria na condição de todos os “herdeiros de Deus”, mas não obrigatoriamente significando que todos têm de ‘ir para o céu’.

Com que base poderia alguém dizer que um corpo perfeito, semelhante ao que Adão e Eva tinham não é um corpo “glorioso”? Há total validade na ideia de que a perfeição é uma situação infinitamente melhor do que aquela em que nos encontramos atualmente. Que razão temos, então, para não encarar este aperfeiçoamento como um tipo possível de “glorificação”?

Outra ideia que dá base para este entendimento amplo é a seguinte: Paulo falou em os herdeiros ‘sofrerem juntamente e serem glorificados juntamente’. É uma verdade evangélica que Cristo sofreu terríveis padecimentos às mãos de seus inimigos. Os sofrimentos pelos quais ele passou são bem conhecidos.

Mas, quando Paulo fala em ‘sofrermos juntamente’, será que devemos entender que todo cristão tem de passar pelo mesmo tipo de padecimento pelo qual Cristo passou, ou então que todos os cristãos sofram no mesmo grau? É óbvio que não! Existem as mais diversas formas de sofrimento que se possa imaginar; não só o sofrimento físico. E no decorrer do tempo, os cristãos estiveram sujeitos a todas estas. Muitos sofreram horrivelmente de maneira física, mas muitos enfrentaram sofrimento de outras espécies. O ‘sofrer juntamente’, portanto, não significa sofrer com a mesma intensidade e nem que todas as pessoas envolvidas passem pelo mesmo tipo de sofrimento.

O mesmo raciocínio ajusta-se à “glorificação”. Embora Paulo tenha usado a expressão “glorificados com ele”, tal expressão não nos obriga a entender que todos os “filhos de Deus” tenham de ser “glorificados” no mesmo nível e da mesma maneira. O tipo pode variar de “filho” para “filho”, conforme a decisão final de Deus, o Pai.

Essa maneira de entender a ‘glorificação’ pode ser também aplicada às palavras acompanhantes de Paulo no restante do capítulo 8 (versículos 18 a 39). Examinemos dois últimos exemplos pertinentes, os quais, em uma primeira análise, pareceriam apoiar a ideia da Torre de Vigia (versículos entre parêntesis):

(23) “… esperamos ansiosamente a adoção como filhos — sermos livrados do nosso corpo por meio de resgate.”

“Sermos livrados do nosso corpo” pode, de fato, significar uma mudança de um corpo físico para um espiritual. Mas, não necessariamente. Paulo acrescenta que isso ocorre “por meio de resgate”. O resgate aplica-se a todos os que têm fé em Cristo. Portanto, um entendimento alternativo destas palavras é a pessoa ser levada à perfeição, ‘livrando-se’ de um corpo imperfeito e duma condição decaída.

(29) “… aqueles a quem ele primeiro deu consideração, a esses também predeterminou que fossem modelados à imagem do seu Filho, para que este fosse o primogênito entre muitos irmãos.”

É claro que sermos ‘modelados à imagem do Cristo’ pode envolver receber um corpo espiritual, semelhante ao dele. Mas, não necessariamente. Segundo o Gênesis, Adão foi criado “à imagem de Deus” (Gênesis 1:27), mas Adão não recebeu um corpo igual ao de Deus. O que se concedeu ao homem foram atributos espirituais semelhantes aos de Deus. O que Paulo diz neste versículo 29 pode igualmente ser entendido em sentido espiritual.

E assim por diante. Quando examinamos todas as palavras do restante do capítulo, em nenhum caso é obrigatório que haja apenas uma interpretação. O leitor pode examinar os versículos e raciocinar sobre as informações fornecidas neles.

Tudo considerado, há validade na conclusão de que as palavras de Paulo neste capítulo 8 de sua carta aos romanos não dão base para se estabelecer uma distinção arbitrária entre os cristãos, restringindo os termos “filhos de Deus”, “herdeiros de Deus”, “co-herdeiros de Cristo” ou ‘testemunho do espírito’ a um grupo específico de pessoas (144.000), como faz a Torre de Vigia.

Pelo contrário, se o conteúdo do capítulo tivesse realmente algo que ver com a Celebração da morte de Cristo, ele poderia muito bem ser usado como mais um argumento favorável, e não contrário à participação geral de todos os cristãos no pão e no vinho.

O Objetivo da Participação no Pão e no Vinho

SEMPRE QUE um ensino da Torre de Vigia é contestado, a reação da liderança da organização segue o mesmo padrão. Ou as evidências que contradizem o ensino são totalmente ignoradas ou os líderes tentam lidar com elas de modo parcial ou tendencioso. Este folheto apresentou diversos exemplos disso.

Acrescente-se a isso outro método também usado com freqüência pelos homens da liderança: enaltecer a organização e seus ensinos, ao mesmo tempo em que procuram rebaixar os questionadores e o próprio questionamento em si, referindo-se a ambos em termos depreciativos.

Segue-se um exemplo. O que está transcrito abaixo é um trecho do livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (Capítulo 9, páginas 44 e 45):

Logo no parágrafo seguinte a este, são dados diversos exemplos do que estaria incluído nessa “conversa suave e enganosa”. Entre as acusações feitas, encontra-se a seguinte:

Ora, se esses que questionam ensinos da Torre de Vigia estão na verdade questionando “o canal de Jeová”, e se o que eles dizem não passa de ‘ideias sectárias’ e de uma ‘tentativa de causar divisão e tropeço’, é claro que nenhum cristão que se preza deveria gastar tempo investigando isso. Afinal, por que alguém daria atenção a “ideias inventadas”, originadas na imaginação de “apóstatas orgulhosos”?     

Além dessa linguagem pejorativa (acompanhada por uma ameaça de punição às mãos de Cristo), os dois parágrafos também se expressam em termos bem vagos. Em se tratando da Celebração, não dizem aos leitores o que exatamente esses “apóstatas” da atualidade estão ‘inventando’. Mas, não é difícil descobrir. Se, como visto até aqui, não há discussão quanto a se a Celebração deve ser feita com pães sem fermento, se deve ser realizada após o pôr-do-sol ou qualquer outro detalhe desse gênero, então o livro só pode estar se referindo à questão da participação geral dos cristãos no pão e no vinho, algo que é terminantemente proibido pela organização Torre de Vigia.

Mas será que argumentar que o pão e o vinho da celebração nada têm que ver com “esperança de vida celestial” e sim unicamente com o sacrifício de Cristo e que, desta forma, todos os celebrantes podem e devem participar desses alimentos, demonstrando fé no valor desse sacrifício equivale a “inventar ideias sobre a Comemoração da morte de Jesus”?

Para a conveniência do leitor, apresentam-se aqui os principais textos bíblicos relacionados diretamente com o pão e o vinho:

João 6:48-55:

Eu sou o pão da vida. Seus antepassados comeram o maná no deserto, no entanto morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo aquele que comer dele não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre; de fato, o pão que eu darei é a minha carne a favor da vida do mundo.”

Então os judeus começaram a discutir entre si, dizendo: “Como este homem pode nos dar sua carne para comer?” Assim, Jesus lhes disse: “Digo-lhes com toda a certeza: A menos que comam a carne do Filho do Homem e bebam o seu sangue, vocês não têm vida em si mesmos. Quem se alimenta da minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia, pois a minha carne é verdadeiro alimento, e o meu sangue é verdadeira bebida.”

Embora tais palavras tenham parecido chocantes para muitos, mais tarde ficou claro de que maneira esse ato de ‘comer e beber’ seria efetuado. A conhecida passagem de Mateus 26:26-28 mostra isso:

Ao continuarem a comer, Jesus pegou um pão e, depois de proferir uma bênção, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: “Peguem, comam. Isto representa o meu corpo.” E, pegando um cálice, ele deu graças e o deu a eles, dizendo: “Bebam dele, todos vocês, pois isto representa o meu ‘sangue do pacto’, que será derramado em benefício de muitos, para o perdão de pecados.”

Numa de suas cartas apostólicas, Paulo confirmou esse mesmo entendimento. Em 1 Coríntios 10:16, encontramos as seguintes palavras:

Será que o cálice de bênção que abençoamos não é uma participação no sangue do Cristo? O pão que partimos não é uma participação no corpo do Cristo?

Um pouco à frente, em 1 Coríntios 11:23-26, reafirmando a instrução de Jesus, ele disse:

Pois eu recebi do Senhor o que também lhes transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que ia ser traído, pegou um pão, e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto representa o meu corpo, em benefício de vocês. Persistam em fazer isso em memória de mim.” Ele fez o mesmo também com respeito ao cálice, depois de terem tomado a refeição, dizendo: “Este cálice representa o novo pacto com base no meu sangue. Persistam em fazer isso, sempre que o beberem, em memória de mim.” Pois, sempre que vocês comerem esse pão e beberem esse cálice, estarão proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.

Mas ele deu um alerta com referência à atitude dos celebrantes. Foi por isso que disse em 1 Coríntios 11:27-29:

Portanto, quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor. Primeiro, que o homem examine e aprove a si mesmo, e só então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe julgamento contra si mesmo.

Todas estas referências bíblicas são muito consistentes em associar esse pão e vinho unicamente com a ‘memória de Cristo’ e a ‘proclamação da morte dele’. A “vida eterna” e o “perdão de pecados” estão disponíveis para “todo aquele” que depositar fé neste sacrifício e simbolizar isto por ‘comer do pão e beber do cálice’, fazendo-o de maneira ‘digna’ e com ‘discernimento’.

Devemos nos perguntar: O que exige mais esforço da imaginação: Aceitar o que estes textos dizem de maneira simples ou extrair deles a ideia de que se uma pessoa comer o pão e beber o vinho ela está afirmando que ‘vai para o céu’? É justo acusar os que não concordam com a limitação da participação a um grupo de 144.000 de estarem “promovendo seita”, colocando-os na condição de merecedores da punição divina, caso não se ‘arrependam’? À luz do que os textos acima dizem, quem é que está realmente ‘inventando suas próprias ideias’ sobre a celebração da morte de Jesus? Que o leitor reflita cuidadosamente acerca destas questões.

Resumo e Perguntas Respondidas

TUDO O QUE FOI APRESENTADO nos capítulos anteriores pode ser resumido do seguinte modo:

– Quando instituiu a celebração, Jesus fez um “pacto para um Reino” com seus apóstolos fiéis. Mas o pão e o vinho da celebração não foram associados com este, e sim com o “novo pacto”;

– Assim como o pacto anterior havia sido celebrado entre Deus e todos os judeus, sendo Moisés o mediador, e com validação através de sacrifícios de animais, o “novo pacto” foi celebrado entre Deus e todos os cristãos, tendo a Jesus como mediador e sendo validado pelo sangue deste;

– Existe o mais amplo paralelismo entre a Páscoa judaica e a Celebração cristã. Assim, se todos os convidados participavam dos alimentos da Páscoa, isto indica que deve ocorrer o mesmo na celebração instituída por Jesus;

– O cristão deve participar do pão e do vinho de maneira digna e ‘discernindo o corpo’, tendo em mente o significado destes alimentos. Procedendo desta forma, ele não está sujeito ao julgamento adverso de Deus;

– Comer o pão e beber o vinho na comemoração é o mesmo que ‘comer a carne e beber o sangue de Cristo’ de maneira representativa;

– Todo cristão que é ‘guiado pelo espírito’ é um “filho de Deus” e recebe o ‘testemunho do espírito’ que confirma essa condição;

– O perdão de pecados e a vida eterna dependem da fé no sacrifício de Cristo. A participação nos alimentos servidos na refeição comemorativa desse sacrifício é uma demonstração dessa fé.

Quando confrontadas com toda a evidência que conduz às conclusões acima, algumas pessoas que conhecem bem a doutrina da Torre de Vigia expressam certas preocupações. Em vista disso, fazemos a seguir algumas considerações que cremos ser de ajuda no sentido de amenizá-las. São cabíveis as seguintes perguntas:

É Apropriado Questionar Essa Proibição da Torre de Vigia?

Na mesma publicação citada no capítulo anterior, o livro Revelação Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, há na página 45 outras acusações que a Torre de Vigia lança contra todo aquele que questiona seus ensinos. O parágrafo começa dizendo:

E conclui dizendo o seguinte sobre esses questionadores:

O objetivo dessa linguagem é impor aos leitores a ideia de que somente a organização Torre de Vigia tem autoridade para instruir e tudo o que ela apresenta é “verdade bíblica”. Por isso, é inapropriado alguém questionar ensinos dela. Qualquer um que ouse fazer isso está “se arvorando em instrutor”.

Infelizmente, muitos deixam de perceber que essa premissa é antibíblica. Por quê? Por causa do que está registrado em Mateus 23:8:

“Mas vocês não sejam chamados ‘Rabi’, pois um só é o seu Instrutor, e todos vocês são irmãos.”

As pessoas que questionam ensinos da organização, não estão, certamente, colocando-se na posição de “instrutores”. O texto acima deixa bem claro quem é o Instrutor dos cristãos, de modo que nem outro homem, nem liderança religiosa alguma tem o direito de se apresentar na posição de “Rabi”.

Dificilmente alguém que publica uma matéria que reafirma uma instrução de Cristo, poderá ser acusado de estar usurpando sua autoridade como Instrutor, ainda mais quando essa pessoa não alega ocupar uma posição elevada, de maneira que todos sejam obrigados a acatar suas idéias. Isto teria muito mais aplicação a quem elabora toda uma argumentação que contradiz o ensino bíblico e influencia milhões de pessoas a deixarem de acatar algo que o Instrutor dos cristãos mandou que fosse feito, ousando até mesmo proibi-las de obedecer à instrução expressa dele.

O mesmo vale para essa absurda acusação de ‘espancamento sob a influência satânica’, lançada na publicação citada acima contra as pessoas que não concordam com a organização Torre de Vigia. Questionar biblicamente uma proibição de líderes religiosos não é o mesmo que “espancar”. E aqueles que discordam conscientemente da Torre de Vigia não encaram as Testemunhas de Jeová como seus “anteriores irmãos”. Quem considera tais discordantes como “anteriores irmãos” são estes líderes religiosos, que muitas vezes decretam isso à revelia, por meio de seus processos de “desassociação” (excomunhão) por “apostasia”.

Em condições normais, não há maneira de alguém ser “espancado” espiritualmente, sendo de alguma maneira “disciplinado” pelo simples fato de participar no pão e no vinho. Esta situação só poderia ocorrer, é claro, dentro dos domínios da Torre de Vigia.

Examinei cuidadosamente toda a evidência apresentada e cheguei à conclusão de que todos os cristãos precisam participar conscienciosamente do pão e do vinho na Celebração da Morte de Cristo. O que devo fazer agora?

Parte desta pergunta já foi respondida. Embora haja evidência de que a argumentação usada pela Torre de Vigia como base para proibir isso seja seriamente falha e contradiga ensinos claros das Escrituras, ainda assim nenhum homem está em posição de dizer a outros o que fazer. Cada cristão é livre para seguir sua consciência, conhece sua própria situação na vida e tem condições de determinar o que é melhor para si. Mas talvez os raciocínios que seguem possam ser de ajuda.

A preocupação de muitos que fazem a pergunta acima é relativa ao aspecto formal da celebração. Os que são Testemunhas de Jeová – ou foram no passado – conhecem muito bem os procedimentos que a Torre de Vigia estabeleceu. Para muitas dessas pessoas, chega a ser inconcebível que a celebração da morte de Cristo possa ser realizada em lares particulares e ainda ter o mesmo “valor” daquela realizada nos “Salões do Reino”. Porém, informações bíblicas simples são suficientes para eliminar esta preocupação.

Onde foi que Jesus instituiu a celebração? Os evangelhos nos informam que foi na sala dum sobrado (Veja Marcos 14:15 e Lucas 22:12). Isso porque ele instituiu a celebração no mesmo lugar onde comemorou a última Páscoa com seus apóstolos. Aliás, este é mais um detalhe no qual a Torre de Vigia é inconsistente. Enquanto os líderes da organização preocupam-se em seguir de perto os procedimentos da Páscoa judaica como modelo para a celebração da morte de Cristo (dia, horário, etc.), eles costumam omitir que a Páscoa era uma celebração familiar, realizada em lares particulares. E quando instituiu a nova celebração, Jesus estava num lar particular com seus apóstolos, não num edifício religioso. E não há qualquer evidência, bíblica ou secular, de que os primitivos cristãos se reuniam em edifícios religiosos para realizarem a celebração.

É verdade que a liderança da Torre de Vigia (e provavelmente os líderes de outras organizações religiosas) nunca afirma diretamente que a celebração só é “válida” se for realizada nos templos de culto da religião (no caso das Testemunhas, o “Salão do Reino”). Mas, é um fato que nas mentes das Testemunhas em geral é esta a ideia dominante, e os líderes da organização a promovem indiretamente de várias maneiras. Vale lembrar, porém, as seguintes palavras de Jesus, que aparecem em Mateus 18:20:

“Pois, onde há dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.”

Poderia haver uma reunião onde tais palavras de Cristo tenham mais aplicação do que na celebração da morte dele? Pode-se extrair de tais palavras simples, a ideia de que a celebração tenha de ocorrer num local específico, tal como o templo de culto duma igreja e com a presença de um expressivo número de celebrantes? Esta frase dita por Cristo mostra que, com certeza, ele não pensa que a presença de centenas de pessoas reunidas num local confira mais valor à celebração do que a presença de apenas duas ou três pessoas numa casa.

Tendo em vista as ideias acima, não há realmente motivo para preocupação com tais aspectos “mecânicos” da celebração. Se o leitor examinou todo o conteúdo apresentado neste folheto, conferiu as referências bíblicas e concluiu conscientemente que a participação deve ser geral, é perfeitamente livre para ‘recordar Cristo’ no local que lhe for conveniente, sem precisar entrar em confrontação com quem quer que seja. Pois, biblicamente falando, o que é importante na celebração é o que se faz e a atitude com que é feito, e não onde se faz.

A Celebração Cristã e Você

ALÉM DE CONDUZIR milhões de pessoas a não acatarem a instrução de Cristo, a organização Torre de Vigia procura determinar até mesmo qual deve ser a reação das pessoas a isso.

A publicação intitulada Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, páginas 201 e 202 (parágrafos 29 e 30) estabelece o contraste entre o que é feito pelos “ungidos” e pelos “milhões de outros” que comparecem à celebração feita nos Salões do Reino das Testemunhas de Jeová em toda a terra:

Pode-se levantar questão quanto a se todos esses milhões de pessoas (Testemunhas de Jeová “não-ungidas” e convidados) sentem realmente prazer em ser apenas “observadores”. Determinar quais são os pensamentos e sentimentos de cada pessoa em meio a um grupo de milhões é algo realmente arrojado. Provavelmente é mais correto dizer que muitos, talvez a maioria dessas pessoas aja desta forma porque vieram a aceitar os argumentos da liderança da organização. As Testemunhas de Jeová são cabalmente doutrinadas nesse sentido. A ideia de que é errado questionar ensinos da liderança é enfatizada constantemente nas publicações da organização, e em razão disso, muitos encaram tal questionamento como um pecado dos mais graves.

Nesse assunto da Celebração, por exemplo, vimos que os argumentos chegam ao nível da intimidação. As publicações proíbem de fato a participação para os que não são do “restante ungido”. E muitos, por se julgarem “indignos”, encaram a sua própria participação como algo errado, “impróprio”, até “pecaminoso”. Mesmo que algumas pessoas tenham certas dúvidas ou até estejam plenamente cientes da falta de validade bíblica desses argumentos, ainda assim se refreiam de participar para evitar a confrontação ou devido à atenção que isso atrairia. E não é exagero dizer que há também muitos que jamais se preocuparam em examinar esse assunto, simplesmente aceitando o que quer que a organização Torre de Vigia diga.  

Contudo, em vez de nos determos numa demorada análise do que cada uma dessas pessoas poderia pensar ou sentir, há uma pergunta muito mais importante a se fazer: Como é que o ‘Senhor’, aquele que instituiu a Celebração, encara isso? Terá ele ‘prazer’ em presenciar esta situação?

A seguinte ilustração é aplicável: Imagine que você convide amigos seus para uma refeição em sua casa. Desejaria você que apenas um ou dois destes amigos provassem dos alimentos oferecidos, com base na “dignidade” superior que estes talvez tenham em relação aos demais? Proibiria você a maioria dos seus convidados de comer, determinando que eles se contentassem em apenas observar os outros comerem e ainda ‘tivessem prazer’ nisso? E você, como anfitrião? Acharia ‘prazerosa’ essa maneira de agir?

É verdade que, no caso da celebração da morte de Cristo muito mais está envolvido do que simples alimentação. Mas isso só acentua a seriedade da questão. Não se pode perder de vista o fato de que não são homens ou organizações religiosas que estendem o convite para o evento. Quem faz isso é o próprio Cristo. Assim, é o pensamento dele, conforme expresso na Palavra de Deus, que deve ser nossa preocupação, e não o que é ensinado por pessoas que afirmam ser seus representantes exclusivos na Terra.

Como já foi dito, não é o caso de a simples participação garantir alguma coisa. Os membros de outras organizações religiosas que talvez se apressem em criticar as Testemunhas de Jeová por estas se absterem de participar, fariam muito melhor se examinassem sua própria participação na celebração que fazem, para averiguar se esta não é apenas pró-forma. As palavras de Paulo em 1 Coríntios capítulo 11 (conforme abordadas no Capítulo 5 deste folheto) tornam claro quão vital é que cada pessoa faça esse autoexame. Além do mais, conforme foi comprovado neste folheto, não foram as Testemunhas de Jeová que decidiram deixar de participar por conta própria. Elas agem assim por causa do que sua liderança persiste em ensinar.   

O maior dano causado por este ensino é que se nega à grande maioria das pessoas que comparecem ao evento uma oportunidade de demonstrar pessoalmente sua fé no sacrifício de Cristo. É verdade que todas as pessoas que vão aos Salões do Reino das Testemunhas de Jeová ficam com a mente voltada para o ato de amor realizado por Jesus. No entanto, como a vasta maioria das pessoas comparece lá apenas para ‘observar’, cada uma delas é privada do ingrediente principal para tirar o maior proveito da celebração. Pois é quando participamos ativamente que temos a oportunidade de examinar se estamos realmente “discernindo o corpo”, de examinar “o que nós mesmos somos” e de comer e beber ‘de maneira digna’. Temos também a melhor condição de sentir de modo bem pessoal que o sacrifício de Cristo foi feito para cada um nós, independentemente de nossa posição ou situação na vida. E a participação nos dá a oportunidade de demonstrar que aceitamos pessoalmente esse sacrifício feito por nós.

Instamos, portanto, ao leitor deste folheto, que reflita em tudo o que foi considerado. Se o seu exame das Escrituras e sua consciência tornarem evidente que o anfitrião da refeição lhe estendeu o convite, e deseja que você tome parte ativa nela, tem toda a liberdade para aceitar este convite. E pode ter a plena certeza de que sua participação na refeição dá verdadeiro prazer a ele.

Apêndice 1: A Palestra da Celebração JW

Segue-se o “esboço” que os palestrantes das Testemunhas de Jeová usam como base ao presidirem a Celebração realizada nos “Salões do Reino”:

MOSTRE GRATIDÃO PELO QUE CRISTO FEZ POR VOCÊ

Cântico N.° 147 e oração inicial

UMA OCASIÃO ESPECIAL (6 min)
Estamos aqui para mostrar nossa gratidão pelo maior ato de amor da História.
Nesta data, quase 2 mil anos atrás, Jesus Cristo deu sua vida para nos resgatar da maldição do pecado e da morte.
Jesus ordenou que seus discípulos se lembrassem do amor que ele mostrou por se reunirem para uma cerimônia simples, que é realizada uma vez por ano. [Leia Lucas 22:19, 20.]
Em obediência à ordem de Jesus, milhões de pessoas em 236 países realizarão hoje a Ceia do Senhor.
Eles se reunirão em Salões do Reino, Salões de Assembleias, residências, locais alugados — até mesmo em prisões e campos abertos.
Em países onde nossa obra está proibida, pessoas gratas por essa provisão obedecerão à ordem de Jesus, mesmo arriscando sua liberdade.
[Mencione os ajustes que alguns na assistência talvez tenham feito para comparecer e faça elogios sinceros por seu esforço.]
No último ano, ______________________________ assistiram à Ceia do Senhor no mundo todo.
Hoje responderemos de forma resumida às seguintes perguntas:
(1) Por que os humanos precisam ser resgatados da maldição do pecado e da morte?
(2) Quem se beneficia do sacrifício amoroso de Jesus?
(3) Durante a cerimônia, quem come do pão e bebe do vinho?
(4) Além de assistir a esta reunião, o que mais precisamos fazer para mostrar nossa gratidão pelo que Cristo fez por nós?

POR QUE PRECISAMOS SER LIBERTADOS? (7 min)
O primeiro homem, Adão, foi criado para viver para sempre.
Para ter vida eterna, ele precisava ser obediente a Deus.
Por desobedecer a Deus, Adão perdeu a perspectiva de viver para sempre.
Mais tarde, quando nasceram seus filhos, eles foram sentenciados à morte assim como Adão. [Leia Romanos 5:12.]
Será que os descendentes de Adão poderiam algum dia ser resgatados da condição triste que herdaram?
Sim, por meio da provisão feita por Deus do sacrifício de resgate de seu Filho, Jesus Cristo. (Mt 20:28; Ef 1:7)
Jeová enviou seu Filho unigênito para que todas as pessoas que exercem fé nele possam receber vida eterna. (Jo 3:16)
Jesus é “o último Adão”. (1Co 15:45)
O primeiro Adão pôs seus descendentes no caminho da destruição.
O último Adão, Jesus, possibilitou-nos ter a vida por ter sido obediente até a morte. [Leia Romanos 5:19.]
Mas por que Jesus teve de morrer?
Não foi porque fez algo errado; Jesus não tinha pecado. (1Pe 2:22)
Jesus assumiu nosso lugar, morrendo por nós para que pudéssemos viver para sempre. [Leia Hebreus 2:9.]
Ficamos comovidos só de pensar que Jesus trocou de lugar conosco, sofreu e morreu por nós, para que pudéssemos ter vida eterna!
Mas vida onde? No céu ou na Terra?

QUEM SE BENEFICIA DO SACRIFÍCIO AMOROSO DE JESUS? (10 min)
A Bíblia descreve duas esperanças para os humanos fiéis.
Um número limitado receberá vida eterna no céu; a grande maioria viverá numa Terra paradísica, de acordo com o propósito original de Deus para a humanidade.
Podemos decidir se seremos ou não membros da família de adoradores de Deus, mas não podemos decidir onde o serviremos, no céu ou na Terra.
Não se pode ‘decidir’ “nascer de novo”. (Jo 3:5-8; w09 1/4 5-6)
É Jeová quem decide onde o serviremos melhor.
144 mil se juntarão a Cristo no Reino celestial. [Leia Apocalipse 14:1.]
Todos eles são cristãos, tendo o nome de Jesus figurativamente escrito em suas testas.
Eles também se orgulham de levar “o nome do seu Pai” — Jeová.
O espírito de Deus lhes dá a garantia de que têm a esperança celestial. (Ro 8:15-17)
São esses cristãos que comem do pão e bebem do vinho.
A grande maioria dos que estão assistindo à Ceia do Senhor não tem a esperança celestial.
Eles aguardam ansiosamente as bênçãos que Deus lhes prometeu num paraíso na Terra:
As crianças ficam ansiosas para o cumprimento de Isaías 11:6-9. [Leia.]
Os doentes ou debilitados anseiam ver Isaías 35:5, 6 se cumprir. [Leia.]
Os chefes de família aguardam o dia em que Isaías 65:21-23 se tornará uma realidade. [Leia.]
Enquanto esteve na Terra, Jesus curou os doentes e até mesmo ressuscitou os mortos.
Ele deseja muito reverter os efeitos do pecado de Adão na raça humana.
Você consegue se imaginar no novo mundo? Deus quer que você esteja lá!

QUEM DEVE COMER DO PÃO E BEBER DO VINHO? (4 min)
Tanto os que têm esperança celestial quanto os que têm esperança terrestre se beneficiam do sacrifício de Jesus.
Mas aqueles com esperança terrestre não participam dos emblemas.
Por que não?
Jesus instituiu a Celebração de sua morte com aqueles com quem ele fez um pacto para seu Reino celestial. Os membros desse pacto são 144 mil. (Lu 22:28-30)
Aqueles que comerão do pão e beberão do vinho hoje à noite devem ser apenas os poucos restantes desse número que reinarão com Cristo no céu. (rs 88 §§ 3-4)
A Ceia do Senhor será celebrada enquanto houver cristãos com esperança celestial na Terra. [Leia 1 Coríntios 11:26.]
Assim, quando o Senhor ‘vier’, ele levará os últimos dos 144 mil à ‘casa de seu Pai’ para ficar com ele nos céus. (Jo 14:1-3)
Aqueles com esperança terrestre não realizarão mais a Celebração.
Visto que ninguém participará dos emblemas nessa época, aqueles com esperança terrestre não participam dos emblemas hoje.

A CELEBRAÇÃO DA MORTE DE CRISTO HOJE (10 min)
Esta noite, seguiremos o modelo que Jesus deixou para a celebração da Ceia do Senhor.
[Leia e comente brevemente 1 Coríntios 11:23, 24.]
Jesus fez uma oração e passou o pão a seus 11 apóstolos fiéis.
O pão não fermentado representa o corpo sem pecado de Jesus.
[Um irmão qualificado faz uma breve oração, e então passa-se o pão; o orador poderá optar por fazer ou não comentários enquanto os emblemas são passados.]
[Leia e comente brevemente 1 Coríntios 11:25.]
Jesus fez uma oração e então passou o vinho a seus seguidores.
O vinho tinto representa seu precioso “ ‘sangue do pacto’, que será derramado em benefício de muitos, para o perdão de pecados”. (Mt 26:28)
[Outro irmão qualificado faz uma breve oração, e então passa-se o vinho.]

O QUE PRECISAMOS FAZER PARA MOSTRAR NOSSA GRATIDÃO? (8 min)
Jeová quer que você seja membro da família de adoradores dele.
Graças ao sacrifício de Jesus, você pode ter um precioso relacionamento com seu amoroso Pai celestial.
Você precisa obedecer às regras da “família de Deus”. (1Ti 3:14, 15)
Deus ajudará você a viver de acordo com seus padrões — ele quer que você seja bem-sucedido!
Quando estiver desanimado, ore fervorosamente a ele abrindo seu coração.
Aumente sua fé em Deus por aumentar em conhecimento.
Quanto mais você conhecer a Deus e a Cristo, maior será seu amor por eles.
Assista às reuniões regularmente, não apenas em ocasiões especiais como esta.
Sem dúvida, foi muito animador considerar nesta noite o que Jesus fez por nós.
Nos próximos dias e semanas, continue a refletir com gratidão sobre o sacrifício dele.
[Conclua lendo 1 João 4:9.]
Cântico N.° 149 e oração final

S-31-T — página 2 A SER ABRANGIDO EM 45 MINUTOS

Cenário de uma celebração das Testemunhas de Jeová. A liderança da Torre de Vigia mostra grande interesse no total de pessoas que comparecem a esta reunião anual, devido ao grande potencial de aumento no número de seguidores da organização.

Apendice 2: Assistências Mundiais à Celebração

ANO

PRESENTES

PARTICIPANTES

1899

 

 2.501

1900

 

2.600*

1901

 

4.705*

1902

 

4.725

1903

 

1.201*

1904

 

1.288*

1905

 

2.661*

1906

 

6.267

1907

 

2.994*

1908

 

8.393

1909

 

9.245

1910

 

9.664

1911

 

10.507

1912

 

6.856*

1913

 

7.944*

1914

 

12.975*

1915

 

15.430

1916

 

9.513*

1917

 

21.274

1918

 

Não computado#

1919

 

17.961

1920

 

Indeterminado¥

1921

 

Indeterminado¥

1922

 

32.661

1923

 

42.000

1924

 

62.696

1925

 

90.434

1926

 

89.278

1927

 

88.544

1928

 

17.380

1929

 

Indeterminado¥

1930

 

Indeterminado¥

1931

 

Indeterminado¥

1932

 

Indeterminado¥

1933

 

Indeterminado¥

1934

 

Indeterminado¥

1935

63.146+

52.465+

1936

71.451+

53.835+

1937

36.285*

24.308*

1938

69.345+

36.732+

1939

77.164+

29.385+

1940

96.989+

27.711+

1941

98.076

23.989

1942

140.450

24.035

1943

154.367

23.577

1944

170.458

22.684

1945

186.247

22.328

1946

266.201

27.587

1947

339.125

26.745

1948

376.393

25.395

1949

453.274

24.312

1950

511.203

22.723

1951

623.760

21.619

1952

667.099

20.221

1953

742.565

19.183

1954

829.836

17.884

1955

878.303

16.815

1956

919.994

16.302

1957

1.075.163

15.628

1958

1.171.789

15.037

1959

1.283.603

14.511

1960

1.519.821

13.911

1961

1.553.909

13.284

1962

1.639.681

12.714

1963

1.693.752

12.292

1964

1.809.476

11.953

1965

1.933.089

11.550

1966

1.971.107

11.179

1967

2.195.612

10.981

1968

2.493.519

10.619

1969

2.719.860

10.368

1970

3.226.168

10.526

1971

3.453.542

10.384

1972

3.662.407

10.350

1973

3.994.924

10.523

1974

4.550.457

10.723

1975

4.925.643

10.550

1976

4.972.571

10.187

1977

5.107.518

10.080

1978

5.095.831

9.762

1979

5.323.766

9.727

1980

5.726.656

9.564

1981

5.987.893

9.601

1982

6.252.787

9.529

1983

6.767.707

9.292

1984

7.416.974

9.081

1985

7.792.109

9.051

1986

8.160.597

8.927

1987

8.965.221

8.808

1988

9.201.071

8.685

1989

9.479.064

8.734

1990

9.950.058

8.869

1991

10.650.158

8.850

1992

11.431.171

8.683

1993

11.865.765

8.693

1994

12.288.917

8.617

1995

13.147.201

8.645

1996

12.921.933

8.757

1997

14.322.226

8.795

1998

13.896.312

8.756

1999

14.088.751

8.755

2000

14.872.086

8.661

2001

15.374.986

8.730

2002

15.597.746

8.760

2003

16.097.622

8.565

2004

16.760.607

8.570

2005

16.383.333

8.524

2006

16.765.113

8.758

2007

17.672.443

9.105

2008

17.790.631

9.986

2009

18.168.323

10.857

2010

18.706.895

11.202

2011

19.374.737

11.824

2012

19.013.343

12.604

2013

19.241.252

13.204

2014

19.950.019

14.121

2015

19.862.783

15.177

NOTAS

(*) – Os totais referentes a estes anos são incompletos. O livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 717, fornece a seguinte informação:

“Para o período de antes de 1932, os dados disponíveis da assistência à Comemoração muitas vezes são incompletos. Às vezes, apenas grupos de 15, 20, 30 ou mais eram incluídos nos totais publicados. Vale notar que, na maioria dos anos para os quais existem dados, estes mostram que pelo menos alguns dos presentes não eram participantes. Em 1933, a diferença era em torno de 3.000.”

As duas últimas declarações acima são duvidosas. Mesmo que fosse verdade que ‘alguns’ não participavam nessa época, isso não se devia a se sentirem proibidos. A participação estava aberta a todos. O Pastor Russell incentivava isso regularmente, nas cartas enviadas às congregações dos “Estudantes da Bíblia”, conforme mostra o exame das publicações da época. A distinção entre “presentes” e “participantes” só começou depois do surgimento da doutrina da “Grande Multidão” como sendo uma “classe terrestre”, em 1935. O livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino (1959, em inglês) diz numa nota de rodapé da página 313:

Primeiro registro de participantes no Memorial mantido para a celebração na quarta-feira, 17 de abril de 1935 (Boletim, Edição Extra, de março de 1935, página 2, coluna 3)”

Se o primeiro registro de quantos participavam foi esse, não há maneira de saber a diferença entre “presentes” e “participantes” nos anos anteriores a 1935.

(#) O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, pág. 94, diz: “Devido às dificuldades internas e externas da organização em 1918, o total da assistência não foi compilado naquele ano.”

(¥) Aparentemente não existem quaisquer estatísticas para estes anos (1920, 1921 e o período de 1929-1934).

(+) No período de 1935 a 1940, os dados apresentados nas publicações da Torre de Vigia são conflitantes. Para 1935, A Sentinela de 15 de dezembro de 1988, pág. 12, alista uma assistência de 32.795, com 27.006 participantes (os mesmos totais fornecidos no Anuário das Testemunhas de Jeová de 1936). Outras publicações, tais como o livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, apresentam números maiores. Na tabela acima, foram apresentadas as cifras maiores para aquele ano, em virtude de aparecerem em maior número de publicações da Torre de Vigia. Entre 1938 e 1940, as cifras alternativas que aparecem em outras publicações são:

ANO

PRESENTES

PARTICIPANTES

1938

68.133

38.798

1939

79.558

31.426

1940

97.611

27.858

Somente a partir de 1941 é que os totais de “presentes” e “participantes” apresentados nas publicações são uniformes.

Um Aumento ‘Indesejável’

Geralmente as publicações da Torre de Vigia são omissas quanto às cifras do período anterior a 1935. Os expressivos totais de participantes na época dos “Estudantes da Bíblia” (que atingiram um auge de mais de 90.000 em 1925) colocam em dúvida a ideia de um número literal de 144.000. A quase total ausência de menção das grandes assistências daquele período ajuda também a esconder o fato de que ocorreu uma perda de aproximadamente 75% dos membros pela organização no final daquela década, devido ao fracasso das profecias sobre 1925 e também por causa das muitas mudanças doutrinais que o presidente Rutherford estava impondo. A visualização do gráfico abaixo dá uma ideia da amplitude da evasão dos Estudantes da Bíblia originais:

Número de Participantes na Celebração (1917-1928)

Focalizando-se apenas o período posterior a 1935, é claro que a tabela mostrará um aumento no número de “presentes”, em contraste com uma diminuição no número de “participantes”. Muitas vezes os líderes da organização apresentaram isso como uma “confirmação” do seu ensino sobre os 144.000. Segundo eles, deveria acontecer isso mesmo, devido ao declínio gradual do número de “ungidos” por morte. Exemplos:

– Revista A Sentinela de 15 de outubro de 1995, pág. 26: “Deve-se admitir que o número dos cristãos ungidos que restam na terra está diminuindo.”

– Revista A Sentinela de 15 de agosto de 1996, pág. 31: Há todos os motivos para se acreditar que o número dos ungidos continuará a diminuir ao passo que a idade avançada e imprevistos põem fim à sua vida terrestre.

– A revista A Sentinela de 15 de janeiro de 2000, págs. 12, 13, ao falar de “seis provas de que estamos vivendo nos últimos dias deste mundo ímpio”, declarou: “… Sexta, o número dos genuínos discípulos ungidos de Cristo está ficando bem pequeno, embora alguns deles evidentemente ainda estarão na Terra quando começar a grande tribulação. A maioria dos membros do restante ungido são bem idosos, e o número dos que são genuinamente ungidos tem diminuído com o passar dos anos.”

– Revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 2009, pág. 27: “Embora o número de ungidos que ainda estão na Terra tenha diminuído ao longo das décadas…”

Entretanto, as últimas décadas viram uma decisiva reversão nessa tendência. Salta aos olhos a ocorrência de um número praticamente estacionário de participantes a partir de meados da década de 1980, seguido por um aumento constante que teve início justamente a partir do momento em que o ensino referente a 1935 foi abandonado (em 2007)! O gráfico seguinte permite visualizar isso:

Número de Participantes na Celebração (1986-2015)

Visto que não há como essa contradição ser ignorada, é provável que não poucas Testemunhas de Jeová vêm se questionando. Certos pronunciamentos recentes da liderança da organização procuram acalmar essa inquietação. Uma publicação de 2016 declarou:

QUE DIZER DO NÚMERO DOS QUE COMEM DO PÃO E BEBEM DO VINHO?

Em anos recentes, temos notado um aumento no número dos que comem do pão e bebem do vinho na Celebração da morte de Cristo. Isso é bem diferente do que vimos por muitas décadas, quando o número diminuía. Será que o aumento atual deve nos preocupar? Não. Vejamos alguns pontos importantes que devemos ter em mente.

“Jeová conhece os que lhe pertencem.” (2 Tim. 2:19) Os irmãos que fazem a contagem dos que comem do pão e bebem do vinho não podem julgar quem realmente tem a esperança celestial. Esse número inclui pessoas que por engano acham que são ungidas. Depois de um tempo, alguns que começaram a comer do pão e beber do vinho pararam. Outros, por terem problemas mentais ou emocionais, acreditam que governarão com Cristo no céu. Então, o número de participantes não indica com precisão a quantidade de ungidos na Terra.

(Revista A Sentinela (Edição de Estudo) de janeiro de 2016, págs. 25, 26.)

Algo similar havia sido dito na revista A Sentinela de 15 de agosto de 2011, pág. 22:

Participantes da Comemoração. Trata-se do número de batizados que tomam dos emblemas na Comemoração no mundo inteiro. Será que esse total representa o número de ungidos na Terra? Não necessariamente. Diversos fatores — incluindo anteriores crenças religiosas ou desequilíbrio mental ou emocional — podem levar alguns a pensar erroneamente que receberam a chamada celestial. Dessa forma, não temos como saber o número exato de ungidos na Terra, nem precisamos saber. O Corpo Governante não tem uma lista dos participantes, pois não mantém uma rede global de ungidos.

Colocar em dúvida o “testemunho do espírito” e até a própria sanidade mental desses milhares adicionais que vêm participando do pão e do vinho em anos recentes é algo que teria sido inconcebível em décadas anteriores, quando o ensino oficial parecia estar se “confirmando”! O fato de ideias assim serem expressas em publicações lidas por milhões de pessoas é uma evidência de que esse aumento do número de participantes está sendo mais incômodo do que alguns gostariam de admitir.

No que se refere à “Grande Multidão”, algumas publicações antigas dão alguma indicação do status ao qual os membros desse grupo foram reduzidos na época de Rutherford. O livro da Torre de Vigia intitulado Santificado Seja o Teu Nome (1963) disse na página 333:

34 Pela primeira vez a edição inglesa da Sentinela de 15 de fevereiro de 1938, página 50, ao anunciar a vindoura celebração do Memorial, convidou os companheiros do restante, os jonadabes, para estarem presentes quando este celebrasse a “ceia anual do Senhor”, em 15 de abril de 1938.

Isso mostra que nos primeiros anos após 1935 esses “jonadabes” (o nome antigo que se dava aos componentes da “grande multidão”) nem eram convidados!

Ainda mais espantosa é a informação que aparece na biografia do falecido membro do Corpo Governante, citada no Capítulo 7 deste folheto. Conforme ele declarou:

“… naquele tempo não se entendia claramente se aqueles que tinham esperança terrestre deviam ser batizados ou não.”

Quando ele diz, “não se entendia claramente se… deviam ser batizados ou não”, leia-se “não podiam ser batizados”. Por algum tempo, esses “que tinham esperança terrestre” foram excluídos até mesmo do batismo cristão! Diante disso, não admira que não fossem convidados à celebração.

Depois, Rutherford resolveu “liberar” o batismo para este grupo. E em 1938, conforme mostrado acima, eles foram finalmente admitidos a comparecer à Celebração. Mas não como participantes e sim apenas como ‘felizes observadores’. Esta é a situação que se mantém entre as Testemunhas de Jeová até o momento em que se escreve isso.

Apêndice 3: A Experiência de um Ex-Ancião das Testemunhas de Jeová

O artigo contido neste Apêndice é de autoria de José Martín Pérez, de nacionalidade espanhola e ex-ancião (pastor) das Testemunhas de Jeová. (Sua “experiencia” na organização das Testemunhas foi relatada na revista Despertai! de 8 de novembro de 1988, págs. 13-15)

Através do estudo que fez da Bíblia, ele chegou independentemente às mesmas conclusões apresentadas neste folheto. Ele também abordou diversos pontos adicionais, que enriquecem a discussão. Cremos que estes poderão ser de interesse para os que desejam aprofundar seus conhecimentos, tornando-se dessa maneira mais hábeis em identificar ensinos religiosos que divergem das verdades simples, apresentadas na Palavra de Deus, com respeito a este importante assunto da celebração da morte de Cristo. (Compare com 2 Coríntios 13:5 e Efésios 3:18, 19).

[N.T.: Neste Apêndice 3 e no Apêndice 4, as citações da Tradução do Novo Mundo são da primeira edição (1950).

Comemorando Dignamente a Morte do Senhor

No dia 10 de abril de 1996, assisti pela última vez à celebração da Ceia do Senhor que as Testemunhas de Jeová realizam e, nesta ocasião, analisei com atenção o procedimento, o simbolismo e o significado que acompanham tal cerimônia, com o desejo de ser fiel às minhas convicções, e de encontrar em tal procedimento uma correspondência bíblica, em vista das repetidas afirmações que os líderes deste grupo fazem com respeito ao que denominam como “única celebração que Jesus mandou seus seguidores guardar.” (Citado de A Sentinela de 15 de março de 1994, pág. 4.).

A cerimônia foi realizada numa luxuosa sala do Palácio de Convenções de Granada, e a ela afluíram quatro congregações, ou seja, aproximadamente 500 pessoas, entre os próprios membros e pessoas convidadas por estes.

O estudo que minha esposa e eu vínhamos realizando desde fins de 1995 dos relatos bíblicos, tinham-nos levado a observar de forma distinta e muito mais objetiva todo o procedimento que a Torre de Vigia implantou, e esta foi uma ocasião propícia, onde pudemos observar como uma celebração se reveste de um formalismo quase militar, para criar a impressão de que, com essa cerimônia, está-se fazendo ‘algo’ místico, reverente, e ao mesmo tempo, singelo.

Perguntei a mim mesmo: É isto o que Jesus Cristo tinha em mente quando disse: “Persisti em fazer isso, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.”? (1 Cor 11:25) É esta a maneira adequada de recordar a morte de nosso Senhor Jesus Cristo?

Enquanto estive entre as Testemunhas, aprendi que há apenas uma festividade que os cristãos são obrigados a guardar, e que esta corresponde à Páscoa judaica. A Páscoa era sempre observada em 14 de nisã (abibe), o dia da lua cheia ou por volta desse dia, pois no calendário judaico o primeiro dia de cada mês (lunar) era o dia da lua nova, determinado por meio de observação visual. Por conseguinte, o dia que corresponde a 14 de nisã, é sempre o usado pelas Testemunhas para comemorar a libertação que Cristo trouxe à humanidade.

Aprendi também que essa celebração deve ter uma periodicidade anual, pois as palavras de Jesus citadas por Lucas e Paulo, referentes à sua morte, “persisti em fazer isso em memória de mim.” (Luc. 22:19; 1 Cor 11:24) permitem-lhes concluir que Jesus estabeleceu tal celebração como um memorial, quer dizer, que seus seguidores deveriam celebrar a Ceia do Senhor uma vez ao ano, e não com mais freqüência. Argumentam que, como a Páscoa era observada para comemorar a libertação que Jeová trouxe ao povo de Israel em 1513 A.C., e era desta forma comemorada apenas uma vez por ano, então já que a Comemoração também é um aniversário, seria lógico que se celebrasse unicamente em 14 de nisã.

O autor deste artigo, dirigindo a Celebração
das Testemunhas de Jeová em 1983

Para manter o argumento, eles mesmos passam a citar as palavras, nas quais Paulo citou Jesus quando disse com respeito ao cálice: “Persisti em fazer isso, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.”, e acrescentou: “Pois, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este copo, estais proclamando a morte do Senhor, até que ele chegue.” (1 Cor 11:25, 26) e afirmam que a expressão “todas as vezes”, pode se referir a algo que se faz apenas uma vez ao ano, em especial quando esta ação se repete durante muitos anos. (Heb 9:25, 26)

Nesta última vez que compareci, pude perceber o caráter formalista que se foi imbuindo ano após ano à celebração. A maneira de celebrar foi convertida num verdadeiro ritual, no qual não só se convidam as pessoas a escutar uma conferência que recorda o sacrifício maravilhoso que nosso Senhor Jesus Cristo realizou em nosso favor – a qual por certo, as Testemunhas vêm repetindo ano após ano desde 1985, já que os oradores têm ordens de utilizar o mesmo esboço – como também pelo cerimonial formalista no qual fazem participar os próprios membros e pessoas de fora.

Esta consiste em passar um prato com pedaços de pão sem fermento, que circula de mão em mão entre os presentes. Depois se passam taças de vinho tinto com o mesmo ritual. Os indicadores se asseguram de que estes emblemas passem pelas mãos de todos, e que nenhum dos presentes participe deles exceto quando se sabe de antemão que alguém é participante habitual.

Feito isso, quando o primeiro emblema, – o pão – foi passado pelo auditório, todos os indicadores se sentam na primeira fila, e o próprio discursante o pega e passa por cada indicador. Quando isto é feito, um dos indicadores volta a pegar o emblema e o passa ao discursante. O procedimento é o mesmo no caso do vinho. E assim concluem a cerimônia.

Ou seja, a participação como espectadores significa para as Testemunhas de Jeová que os mencionados emblemas passem de mão em mão entre os presentes, pois “passarem-se o pão e o vinho de um para outro ajuda a aprofundar o apreço pelas coisas sagradas que se acabam de considerar naquela noite. Habilita também a cada um tornar patente qual é a sua esperança de vida: celestial ou terrestre.” (Frases citadas de A Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, pág. 20, onde se considera inapropriado que a pessoa que serve os emblemas pare ao final de cada fileira de assentos e acene aos que estão sentados na fileira para que a pessoa que deseje participar indique isso por gestos).

A passagem desses emblemas deve ocorrer depois do pôr-do-sol. Assim, todas as reuniões em todo o mundo, têm de levar em conta a hora do início da reunião para que os emblemas só comecem a ser distribuídos depois do pôr-do-sol em sua região, pois do contrário se cometeria um grave erro.

Supõe-se que faltar a esta reunião por motivos de trabalho ou pessoais é considerado um pecado, pois demonstraria falta de apreço pelo que tal comemoração representa. É por isso que a assistência sempre superou os 100% do número de testemunhas que relatam atividade mensalmente. Até alguns “desassociados” [excomungados], e muitos “inativos” [Testemunhas que não participam da pregação de porta em porta há mais de 6 meses] afluem ao local de reunião nesse dia, o que demonstra o caráter sagrado do qual as Testemunhas de Jeová revestiram esta cerimônia!

Na Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, pág. 21, expressam com clareza seus sentimentos quando afirmam: “A Refeição Noturna do Senhor, sem dúvida, é a maior celebração do ano para todos os verdadeiros cristãos. Não há outra ocasião que se iguale a ela em importância, objetivo e procedimento.”

E uma peculiaridade singular das Testemunhas de Jeová é que nem todos participam do pão e do vinho. Dos mais de 16 milhões de pessoas que assistiram em 2005, só um pequeno grupo, 8 mil, participou comendo e bebendo dos emblemas. Com sua ação mostraram que têm a esperança de ir para o céu e reinar com Cristo. Acreditam que foram escolhidos pelo próprio Deus para formar parte de um grupo de pessoas que ‘são compradas’ dentre a humanidade para viver nos céus, de onde governarão o restante da humanidade. Para isso, foram ‘ungidos’ pelo espírito de Deus, tendo ‘nascido de novo’, e foram gerados por Deus como ‘filhos’ dele, e desde esse momento, são ‘justos’ à vista de Deus. Afirmam que apenas 144 mil pessoas têm estes privilégios. Embora afirmem que a Ceia do Senhor é uma refeição de comunhão, assim como a que era realizada pelo povo de Israel, só este pequeno grupo têm o direito de participar.

Como é que as pessoas vêm a saber se devem participar ou simplesmente serem observadores respeitosos? Embora em diferentes ocasiões se viram obrigados a advertir a respeito de “evidências externas” como transes, alucinações e coisas desse gênero que ocorreram a alguns de seus membros, a versão oficial é que Deus, por meio de seu espírito santo, fornece provas aos ‘escolhidos’ para este privilégio, e lhes dá segurança de que sua esperança é diferente daquela do resto da humanidade. Este ‘testemunho’ particular é a base de seu direito de participar dos emblemas como “herdeiros de Deus, mas co-herdeiros de Cristo”, o que provoca muita incerteza sobre a veracidade desse testemunho. É comum (e eles mesmos reconhecem isso) que muitos se questionem sobre sua posição e esperança, ou questionem a de outros. (Por exemplo: muitas Testemunhas de Jeová questionaram em sua mente a realidade da “unção” dos cinco membros do Corpo Governante, que nasceram depois de 1.935, pois isto rompe seu esquema doutrinal de que os 144.000 já estavam completos por volta daquele ano). 9N.T.: Embora o ano de 1935 não seja mais considerado como o momento em que o número de 144.000 eleitos foi atingido, permanece o fato de que a doutrina sobre a “grande multidão”, como sendo um grupo terrestre, foi apresentada pela primeira vez naquele ano.

O que há de verdade em tudo isto? É certo que Jesus Cristo, quando instituiu esta Comemoração, pensava apenas em um grupo reduzido de seus discípulos? É verdade que ‘comer e beber’ de seu corpo e seu sangue estão reservados a apenas 144 mil pessoas que são ‘ungidos’ pelo espírito de Deus? Existe apoio bíblico para adotar um procedimento que permite que haja pessoas que apenas observam e pessoas que participam dos emblemas? Há evidências bíblicas que apresentem os cristãos primitivos celebrando essa Ceia apenas uma vez ao ano, e da maneira que é celebrada pelas Testemunhas de Jeová?

Quem Deve Comer e Beber?

Para respaldar a crença de que apenas um grupo reduzido de pessoas deve comer e beber na cerimônia da Ceia do Senhor, as Testemunhas de Jeová afirmam que Cristo validou dois pactos naquela noite: Um, que denominam “novo”, celebrado entre Jeová Deus e o Israel espiritual, e outro, celebrado entre Jesus e seus discípulos, que no final das contas é este mesmo Israel espiritual. (Veja este raciocínio em A Sentinela de 15 de março de 1991, pág. 20).

Um de tais pactos foi “validado pelo sangue derramado de Jesus”, e o segundo “foi inaugurado, no que tange aos discípulos de Jesus, por serem eles ungidos com espírito santo no dia de Pentecostes de 33 EC.”, segundo as palavras literais deles mesmos.

Partindo deste argumento, raciocinam que só os que estão incluídos nesse “novo pacto” e no “pacto para um reino”, estão autorizados a comer e beber de seu corpo e seu sangue. (Esta doutrina é desenvolvida em quase todas as suas publicações. Como exemplo, veja A Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, pág. 12-13).

Selecionar estes argumentos de Jer. 31:31-33 e Luc. 22:28-30, colocando-os lado a lado com passagens de Revelação, capítulos 7 e 14, para no final afirmar que só um grupo de 144 mil pessoas é autorizado a tomar do pão e do vinho, não requer um grande esforço mental e artesanal. Apenas um pouco de astúcia e sutileza premeditada.

Em primeiro lugar, não há relatos bíblicos que indiquem que o ‘novo pacto’ de Jer 31:31-33, tenha como destinatário um grupo composto de apenas 144 mil indivíduos.

Se houve algo que tornou obsoleto e descartável o pacto que Jeová fez com Israel (e com todo o Israel, não apenas com a tribo de sacerdotes) foi o fato de que este pacto limitava o acesso de todas as nações aos privilégios da salvação. Paulo ensinou: “Isto é excelente e aceitável à vista de nosso Salvador, Deus, cuja vontade é que toda sorte de homens sejam salvos e venham a ter um conhecimento exato da verdade”. (1 Tim 2:3, 4.)

Sim, “porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, a fim de que todo aquele que nele exercer fé não seja destruído, mas tenha vida eterna.”. (João 3:16) “Dele é que todos os profetas dão testemunho, de que todo aquele que deposita fé nele recebe perdão de pecados por intermédio de seu nome.” (Atos 10:43.) “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e homens, um homem, Cristo Jesus, o qual se entregou como resgate correspondente por todos”. (1Tim 2:5, 6.)

Sem necessidade de muitas explicações, podemos observar como os textos bíblicos estabelecem uma nova perspectiva para os humanos após a vinda de Cristo. O sangue dele limpa, perdoa, compra e dá acesso ao Pai para toda a humanidade, não apenas para um grupo limitado. Nada há na Bíblia que limite estes privilégios a alguns, nada há nas palavras de Jesus que impeça qualquer pessoa de qualquer lugar, de vir a ser limpa, perdoada e comprada.

O ‘novo pacto’ era a antítese do ‘antigo pacto’. Paulo foi bastante claro ao dar as razões do novo, quando disse: Porque, se aquele primeiro pacto tivesse sido sem defeito, não se teria procurado lugar para um segundo; porque ele acha falta no povo quando diz: “‘Eis que vêm dias’, diz Jeová, ‘e eu concluirei um novo pacto com a casa de Israel e com a casa de Judá; não segundo o pacto que fiz com os seus antepassados no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egito, porque não continuaram no meu pacto, de modo que parei de me importar com eles’, diz Jeová.” ”‘Pois, este é o pacto que celebrarei com a casa de Israel depois daqueles dias’, diz Jeová. ‘Porei as minhas leis na sua mente e as escreverei nos seus corações. E eu me tornarei seu Deus e eles é que se tornarão meu povo. ”‘E de modo algum ensinará cada um ao seu concidadão e cada um ao seu irmão, dizendo: “Conhece a Jeová!” Porque todos me conhecerão, desde [o] menor até [o] maior deles. Porque serei misericordioso para com as suas ações injustas e de modo algum me lembrarei mais dos seus pecados.’” Ao dizer “um novo [pacto]”, tornou obsoleto o anterior. Ora, aquilo que se torna obsoleto e fica velho está prestes a desaparecer.” (Heb 8:7-13.)

Sim, este pacto não tinha o propósito de dividir a humanidade em dois grupos assim como o antigo tinha feito. (Efe 2:14-16.) Este pacto não se baseava numa lei escrita que condenava novamente os seres humanos, e sim na bondade que Deus tem para conosco, dando-nos seu Filho para que “todo aquele” que tem fé, tenha vida eterna e receba o perdão de seus pecados. Cristo faz a mediação entre Deus e os homens para que este perdão seja concedido sem restrições.

Foi exatamente por isso que Cristo disse que o ‘copo significava o ‘sangue do pacto’, que iria ser derramado para o perdão de pecados’, porém, não apenas de um grupo limitado de pessoas, e sim de toda a humanidade.

Nada há nestes relatos que nos induza a pensar que quando Paulo aplicava essas palavras aos cristãos do primeiro século, pensava em 144 mil pessoas apenas. Pelo contrário, todos os relatos nos levam a concluir que Paulo pensava na humanidade em geral pela qual Cristo tinha morrido, e que graças a este novo pacto, todos os humanos tinham acesso ilimitado à misericórdia de Deus e ao perdão de seus pecados.

Em segundo lugar, e no que se refere ao suposto “pacto para um reino” que Cristo fez com seus discípulos, a leitura do relato em questão, leva muitas pessoas a um raciocínio diferente. O relato diz: “Vocês são os que têm permanecido ao meu lado durante as minhas provações. E eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o designou a mim, para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel.”. (Luc 22:28-30 Nova Versão Internacional).

As Testemunhas de Jeová, não contentes com a maneira habitual de traduzir, vertem os versículos em questão do seguinte modo:

“No entanto, vós sois os que ficastes comigo nas minhas provações; e eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.”

Desta maneira sutil, e orientando-se por esta segunda maneira de traduzir, aquilo que seria uma “atribuição” ou “designação” em favor de seus discípulos, eles preferem ver como um “pacto” de caráter legal, e enfatizam essa ‘legalidade’ por logo em seguida relacioná-lo com o “novo pacto” prometido em Jeremias, que segundo ele anunciava, iria ser validado com o seu próprio sangue.

Curiosamente, a palavra grega utilizada aqui é diatithemai que significa: 1 fazer, dispor, arrumar, dar, ordenar. 2 fazer um pacto. Esta palavra é sempre traduzida em português por sua primeira acepção, pois para a segunda, existe outra palavra grega: diathéke que a TNM verte como pacto nos 33 lugares onde essa palavra ocorre.

Se já não é muito apropriado traduzir diathéke como “pacto” em todos os lugares onde essa palavra aparece, (o Dicionário Expositivo das Palavras do Novo Testamento, de Vine, pág. 76, sob o verbete “Concerto”, diz que seu significado primário é “testamento que distribui a propriedade depois da morte de acordo com os desejos do possuidor”), muito menos ainda é fazer isso com uma palavra derivada, o que gera na TNM em espanhol expressões tão estranhas como “pacto que Deus pactuou”, “pacto que pactuarei”, que soam redundantes. (Veja como a TNM em espanhol traduz esta palavra em Atos 3:25; Heb 8:10; 10:16 e compare-os com qualquer outra tradução. As diferenças são evidentes. 10N.T.: Na TNM em português essas redundâncias haviam sido eliminadas.

De qualquer maneira, eles perseguem um objetivo muito específico e com esta maneira de traduzir conseguem isso, embora façam ligação entre duas idéias não confirmadas: 1ª) a existência prévia de um pacto de Deus com seu Filho, como se tal ato tivesse um caráter regulamentado por lei, e 2ª) os que perseveraram com ele em suas provações são os que estão comprometidos com ele em um pacto para reinar sobre a humanidade, os quais, por sua vez, são os mesmos que estão introduzidos no novo pacto. Este pacto é o que dá caráter oficial à sua participação no pão (corpo) e no vinho (sangue) da Ceia do Senhor.

Digo duas idéias não confirmadas, pois sua maneira de traduzir obriga à existência prévia de um “pacto” oficial entre Deus e Jesus Cristo para um Reino, sobre o qual a Bíblia nada diz, e que resulta totalmente ilógico se levarmos em conta de quem estamos falando. E, segundo, limita a territorialidade do “novo pacto” a um grupo pequeno de pessoas, o que contradiz os diversos textos bíblicos que citamos acima, que dizem justamente o contrário.

Era possível que Cristo fizesse um pacto desta natureza com seus discípulos? Era possível que ele fizesse um pacto de um Reino que ainda não tinha recebido? Como pode ser assim se em Mateus 20:20-23 ele mesmo disse que ocupar um posto no Reino era assunto para seu Pai resolver? Como é que em Lucas 12:32 ele havia dito a seus discípulos, que não deveriam estar temerosos, pois o Pai tinha aprovado dar-lhes o Reino?

O problema aumenta para as Testemunhas de Jeová quando se fala de “receber”, “entrar” ou “herdar” o Reino, pois esta é uma promessa que não está limitada a 144 mil pessoas. Até as “ovelhas” rebaixadas pelas Testemunhas, recebem o Reino! (Mateus 25:34) Nada limita esta oferta maravilhosa de “participar” plenamente de seus privilégios!

Não, nem sequer os cristãos do primeiro século tinham consciência de um número, para eles “mágico”, como é o de 144.000, pois foi só no ano 96 D.C. – no qual se supõe que João escreveu o Apocalipse – que se revelou esta cifra. Até aquele ano, não se encontram referências a tal ensino no cristianismo primitivo, algo absolutamente ilógico se levarmos em conta que este ensino é fundamental para o procedimento, a esperança e a pregação, na perspectiva das Testemunhas de Jeová.

Logicamente, se Lucas 22:29 vincula a participação de todas aquelas pessoas que vão receber o reino com sua participação na Ceia do Senhor, comendo e bebendo dos emblemas, isto significaria que TODOS os discípulos de Jesus, incluindo as “ovelhas”, que “herdam” o Reino, devem comer e beber do pão e do vinho como sinal de agradecimento e respeito, e como “lembrança” do que Cristo fez por eles.

Porém há mais envolvido. Observe que as palavras de Lucas 22:28-30, citadas pelas Testemunhas de Jeová para dar apoio a este ensino, foram pronunciadas por Jesus Cristo depois de ter finalizado a Ceia do Senhor, e depois de ter ocorrido uma discussão entre os apóstolos acerca de qual deles era o maior. Se fosse a intenção de Jesus relacionar a participação no pão e no vinho e o “novo pacto”, com o suposto “pacto” que estavam celebrando com ele, o mais lógico é que tivesse feito isso no momento do ato de distribuir o pão e o vinho para, desta maneira, não deixar a menor dúvida sobre a relação de uma coisa com a outra, ou seja, sobre quais deveriam participar e quais não deveriam, principalmente levando em conta que no futuro ‘outro grupo’ (segundo a doutrina das Testemunhas) unir-se-ia a eles sem poder participar.

Esta interpretação dada pelas Testemunhas de Jeová difere substancialmente das palavras que o próprio Jesus havia dito um ano antes. Vejamos o relato do João 6:51-57, que é bem significativo. Diz assim:

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e, de fato, o pão que eu hei de dar é a minha carne a favor da vida do mundo.” Portanto, os judeus começaram a contender entre si, dizendo: “Como pode este homem dar-nos sua carne para comer?” Concordemente, Jesus disse-lhes: “Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia; pois a minha carne é verdadeiro alimento, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue permanece em união comigo e eu em união com ele. Assim como o Pai vivente me enviou e eu vivo por causa do Pai, também aquele que se alimenta de mim, sim, esse viverá por causa de mim.”. (TNM)

Embora o convite que Jesus faz de ‘comer e beber’ seja extensivo a todos os que desejam vida eterna, acreditei por muitos anos que essas palavras ‘comer e beber’ estavam limitadas a apenas um grupo reduzido de discípulos de Jesus. Este era o ensino oficial, e assim eu o refleti nas conferências que dirigi em diversas ocasiões para o resto dos companheiros celebrantes desta Ceia. Eles acreditavam que estas e outras palavras se aplicavam a um grupo reduzido de pessoas que identificam com o “rebanho pequeno” de Lucas 12:32. (Veja esta aplicação em A Sentinela de 1º de novembro de 1974, pág. 671.) Em momento algum me passou pela mente fazer outro tipo de aplicação, pois entre as Testemunhas não se admite dar interpretações particulares sobre passagens bíblicas até que a direção central se pronuncie sobre as mesmas.

Foi só em 1986, depois de fazer um ‘estudo adicional’ do capítulo 6 de João, que eles admitiram que, pelo conteúdo, fraseologia e assistência, Jesus Cristo estava convidando as pessoas em geral, para que ‘comessem’ e ‘bebessem’ de sua carne e de seu sangue, pois de outra maneira morreriam.

Com este importante ‘ajuste’, tiveram de mover os ‘fios’ doutrinais para não cair em sérias contradições. Viram-se obrigados a dar uma interpretação distinta ao “comer e beber”, para que isso não fosse visto como literal. Tiveram também de negar a todo custo que com suas palavras Cristo estava assinalando uma futura celebração de sua morte, pois isto abriria o caminho para confirmar que “todos” tinham de comer o corpo e beber o sangue de Jesus Cristo, e que “a menos” que fizessem isso não teriam vida eterna.

Na Sentinela citada, deixaram vários desses ‘fios’ soltos na meada, para não romper bruscamente com seu passado, e tiveram, por exemplo, de inventar dois tipos de uniões para explicar as palavras de Jesus, ‘quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue permanece em união comigo e eu em união com ele’; deram um novo sentido à frase ‘vida em vós mesmos’, pois essa mesma expressão aparece em João 5:26, e tem conotações muito diferentes das que eles lhe davam (Veja Perguntas dos Leitores de A Sentinela de 15 de fevereiro de 1986, pág. 30) e inventaram uma forma de ‘comer e beber’ diferente da literal.

O caso é que se as palavras de João 6, foram dirigidas à humanidade em geral, e estão se referindo a uma esperança terrestre e não celestial, não percebiam uma nova contradição, a saber: sua ousada  afirmação de que esta esperança terrestre foi agora, de 1935 em diante, estendida à humanidade em geral, e não foi estendida por Jesus Cristo durante seus três anos e meio de pregação. Eles crêem que de 33 D.C. até 1935, Cristo esteve ocupado em completar o grupo seleto dos ‘escolhidos’, ‘predeterminados’ e ‘selecionados’ 144 mil, e que em 1935, uma vez completo o grupo, estendeu-se um convite geral a uma grande multidão de outras ovelhas para que adorem a Jeová na terra. Mas se isto é assim, de nada serviria Jesus ter (em João capítulo 6) convidado as pessoas a ‘comer e beber’ com perspectivas terrestres, pois estas só começariam a surgir depois de 1935. 11N.T.: Conforme já observado, apesar de 1935 ter perdido o significado “bíblico” que tinha antes, foi naquele ano que surgiu a ideia de que a “grande multidão” é uma “classe terrestre”.

Eles interpretam que o momento do cumprimento das palavras de Jesus em João 10:16, não foi em 36 D.C. quando os gentios foram convidados ao seu rebanho, e sim em 1935, quando no discurso do ‘juiz’ Rutherford, deu-se um ‘lampejo’ de quem eram os componentes da grande multidão, as ‘ovelhas’ da parábola, e as ‘outras ovelhas’ aqui citadas, e se incentivou os mesmos a que se batizassem como Testemunhas de Jeová. Durante três anos os “ungidos” celebraram esta comemoração com exclusividade, e foi em 1938, que convidaram a estas ‘outras ovelhas’ pela primeira vez a que assistissem à Comemoração da morte de Cristo como simples observadores.

Entretanto, afirmaram em A Sentinela de 15 de fevereiro de 1986, pág. 18, que tudo o que está relatado no capítulo 6 de João, se aplicava a ‘todo aquele’ que tivesse fé, que “esta provisão não se restringe aos co-herdeiros de Jesus”, embora desviando a aceitação desse convite do tempo atual, ao declarar: “Precisa também incluir os da ‘grande multidão’, que sobreviverão à ‘grande tribulação’”.

Esta declaração é totalmente incongruente! Jesus estava dizendo àqueles judeus o que teriam de fazer, a saber: “Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia”. (João 6:53,54)

Simplesmente isso. De duas uma: ou ele estava oferecendo naquele momento a esperança terrestre àqueles judeus, sendo, portanto, errôneo o ensino de que este convite só começou no ano de 1935; ou ele estava oferecendo uma esperança celestial a ‘todo aquele’ que tivesse fé nele, da maneira que tinha enfatizado nos versículos 35 a 40 deste mesmo relato, sendo errôneo o ensino das duas esperanças ou heranças.

Uma vez que a doutrina das Testemunhas de Jeová, estabelecida pelo segundo presidente da Torre de Vigia, limitou a esperança celestial a um grupo de privilegiados, viram-se obrigados a voltar atrás, e retificar a explicação do capítulo 6 de João que antes aplicavam a este grupo reduzido, em vista da universalidade das promessas contidas no capítulo.

Por outro lado, limitar a compra, o perdão e o testemunho do espírito de Deus a um grupo de pessoas, notificando-as que elas são as escolhidas como ‘filhos de Deus’ contradiz o que o apóstolo vinha explicando, a saber, que “todos os que são conduzidos pelo espírito de Deus, estes são filhos de Deus.” (Rom. 8:14) Sim, os “filhos de Deus” não são apenas 144 mil pessoas, como afirmam as Testemunhas de Jeová; são todos os que são conduzidos pelo espírito de Deus, e ser conduzido pelo espírito santo de Deus só não é possível para os que desejam ser conduzidos pela carne. (Rom. 8:5-9; Gal. 5:16-18.) Ou seja, a todos os humanos que “recebem” a Jesus, ele dá autoridade para se tornarem filhos de Deus. (João 1:12.)

Por fim, uma das maiores inconsistências em sua maneira de raciocinar, tem que ver com a afirmação de que “apenas os ‘ungidos’ devem participar do ‘pão e do vinho’”. Será que não se dão conta de que quando Jesus convidou seus apóstolos a ‘comer’ e ‘beber’, estes ainda não tinham sido ‘ungidos’ com o espírito santo e que essa unção só veio posteriormente?

Comer e Beber Indignamente?

Mas, não é verdade que o apóstolo Paulo limitou a participação geral na Ceia do Senhor, no que se refere ao ‘comer e beber’? – perguntam muitas Testemunhas de Jeová. O trecho bíblico em questão diz:

“Conseqüentemente, quem comer o pão ou beber o copo do Senhor indignamente, será culpado com respeito ao corpo e ao sangue do Senhor. Primeiro, aprove-se o homem depois de escrutínio, e deste modo coma do pão e beba do copo. Pois, quem come e bebe, come e bebe julgamento contra si mesmo, se não discernir o corpo.”. (1 Cor 11:27-29)

Curiosamente, não são apenas as Testemunhas que utilizam esta passagem para limitar a participação das pessoas na celebração, mas também alguns grupos evangélicos e a própria Igreja Católica, adverte seriamente sobre “comer indignamente”, o “escrutínio” a que devem se submeter os cristãos antes de comer e a necessidade de “discernir” o Corpo.

Vozes recentes, por exemplo, advertiram: “Nossa participação na Mesa do Senhor deve ser a “união-comum” única de Seu Corpo único, sem divisão alguma em práticas, em crenças fundamentais, em espírito… Ou seja, não me parece conveniente que, tendo cada irmão um entendimento e interpretação diferentes (por mais respeitáveis que sejam) quanto ao que significa e representa o CORPO DE CRISTO, participe da Mesa/Ceia do Senhor”.

Outros estabelecem uma lista de requisitos extraídos de diferentes passagens bíblicas, dizendo que se alguém não cumprir, ou não crer, ou não contemplá-los em sua vida espiritual, pode ser impróprio que ele coma ou beba. A Igreja Batista, por exemplo, diz que ‘para participar da Ceia do Senhor corretamente, terá de ser salvo, ser membro da igreja local, terá de prestar contas da vida e confessar os pecados’.

Alguns dissertam longamente sobre conceitos doutrinais que, embora válidos, não deveriam ser misturados aqui. Acreditam que o “corpo” que se deve “discernir” não se refere ao corpo e ao sangue literal de Jesus. Afirmam que esse “corpo” é a Igreja ou congregação de Cristo, e que a participação nesta Ceia, é a “comunhão” com tal Corpo.

É verdade que quem assume a vida cristã, passa da morte para a vida, é uma nova criação, nasce de novo. Seu próprio espírito lhe diz que é ‘filho de Deus’. Na prática, é um sentimento agradável e sereno de sentir-se filho de Deus e chamar a Deus de Pai quando ora em particular. Mas entendo que não é nada disso que está em questão quando se celebra a Ceia do Senhor, embora seja algo irrenunciável.

Um católico possivelmente aplicará a expressão “indignamente” ao caso de alguém não ter confessado seus pecados a um sacerdote antes de comungar, (antigamente se condenava a pessoa que não jejuava antes de comungar), ou então não acreditar na transubstanciação.

Uma Testemunha de Jeová aplicará a mesma expressão à questão de o participante ser ou não dos “ungidos”, etc.

A seriedade na participação é evidente, e não podemos desconsiderá-la. Qualquer um pode comer o pão ou beber o copo do Senhor, e fazê-lo indignamente. A Ceia do Senhor não é uma refeição comum, não é uma reunião puramente social. A pessoa deve comparecer a ela em ótimo estado. Terá de ‘discernir’ o que está fazendo, o significado e a repercussão que tem para cada um de nós a participação em tais emblemas.

À base do contexto, na congregação de Corinto alguns não mostravam um comportamento digno dessa celebração e foi por isso que Paulo os repreendeu. Muitos simplesmente se reuniam para comer e beber por ocasião da celebração da Ceia do Senhor, sem distinguir que esse ato é uma coisa muito diferente. Além disso, não tinham consideração uns para com os outros.

Muitas pessoas que lêem com simplicidade este trecho, e sem tentar achar significados que não estão lá, acreditam que não há razão para estar acrescentando e fazendo uma lista de requisitos e doutrinas a se levar em conta na hora de comparecer a essa celebração com o espírito adequado à circunstância, que “discernir o corpo” refere-se exclusivamente ao que representam o pão e o vinho, não entrando o trecho no mérito de que na cerimônia da celebração o fato importante e fundamental é que todos os cristãos formam parte do corpo de Cristo, membros uns dos outros, etc.

É certo que pode existir (e existe mesmo) diferença de entendimento no que se refere às doutrinas de cada pessoa. Infelizmente os cristãos nominais (e todos somos) estão divididos. As doutrinas nos dividiram. Isso será julgado por Deus. Possivelmente sem levar em conta a organização a que pertencemos, e sim individualmente. A esta altura, isso parece óbvio.

Para ilustrar isso: Um católico poderia me dizer que eu não celebro apropriadamente essa Ceia, porque não compareço a uma cerimônia em que há um sacerdote ‘ordenado’ para poder, mediante suas palavras, levar a efeito a conversão do pão na carne literal de Jesus Cristo e do vinho em seu sangue. Pela mesma razão, eu poderia dizer a ele que isso é algo incompreensível, que as palavras de Jesus tinham um sentido simbólico, em representação de uma realidade, sua entrega por nós e, portanto, ele teria de tomar cuidado em como celebra esse ato para não ser réu da morte do Senhor e estar comendo para sua própria condenação.

Deus julgará a cada um segundo seu conhecimento e segundo seu coração. Nisto há coisas que não chego a compreender, devido, como dizia, à divisão absurda entre as confissões cristãs. Mas é assim que as coisas são.

Por isso, a pessoa deve escrutinar-se de maneira equilibrada e, se depois do auto-exame, encontra algo que perturba sua consciência, pode optar por não participar dessa ocasião até outra ocasião mais conveniente, já que ‘quem come e bebe, come e bebe julgamento contra si mesmo se não discernir o corpo’.

Tudo considerado, podemos concluir que nenhum ser humano tem autoridade para limitar o número de participantes do ‘pão e vinho’ sem cair num grave perigo de legislar sobre outros acerca de algo tão crucial como o sacrifício de Cristo. Não podemos imaginar Cristo convidando as pessoas em geral a comer e beber de seu corpo e de seu sangue e, por outro lado, alguns de seus apóstolos estabelecendo requisitos e o número dos que podiam ter acesso a esse privilégio.
Temos também de respeitar a quem, depois de um ‘escrutínio’, opta por não participar em uma ou várias ocasiões. Na realidade, não somos ninguém para ‘canalizar’ a vida que Cristo trouxe à humanidade. Tampouco temos o direito de forçar a vontade de alguém para que participe. É um ato absolutamente livre e pessoal de cada ser humano.

Comer e Beber – Quantas Vezes?

Muitas igrejas sustentam que celebram esta festividade juntamente com todas as demais, de acordo com o que foi ordenado por Cristo. As Testemunhas de Jeová destacam que “talvez a mais notável diferença [entre eles e outros] seja a freqüência da celebração.” (Veja A Sentinela de 15 de março de 1994, pág. 4).

São dois os principais argumentos utilizados pelas Testemunhas para dar base a uma celebração anual: 1º) assemelhar essa celebração a um aniversário, e 2º) assemelhar tal celebração à Páscoa judaica que era celebrada anualmente, numa data e hora específica.

Com relação ao primeiro argumento, as Testemunhas de Jeová sempre se inclinaram a relacionar a celebração da morte do Senhor com um aniversário, deduzindo, portanto, que essa celebração deve ser realizada uma vez ao ano.

Isto é confirmado pela Sentinela já mencionada, na qual, depois de citar 1 Cor 11:24, 25, segundo a Nova Bíblia Inglesa, que diz: ““Fazei isto em comemoração de mim.”, perguntam: “Quantas vezes se celebra uma comemoração ou um aniversário?” Sem hesitar respondem: “Usualmente, apenas uma vez por ano.”

Observe a maneira intencional de conduzir o leitor a conclusões manipuladas. Primeiro, partindo da palavra comemoração, usada na Nova Bíblia Inglesa, associam essa palavra com o termo aniversário. Embora tais palavras possam transmitir idéias diferentes, eles as associam, para que o leitor creia que uma é sinônima da outra, e que Cristo, quando falou em “recordar” sua morte, falava de “comemorar” como se essa recordação fosse um aniversário. Depois, tiram conclusões que, como podemos observar, nem sequer são definitivas, uma vez que respondem com a frase: “Usualmente…”, dando-se conta de que algumas comemorações ou aniversários podem ser celebradas mais de uma vez ao ano. Todavia, desconsideram isso e apóiam toda a sua argumentação em que tal ato deve ser celebrado uma vez por ano.

Independentemente de todo esse malabarismo para que as Escrituras digam o que um grupo deseja que digam, o importante para nós seria procurar e encontrar argumentos bíblicos para justificar que a Ceia do Senhor possa ser classificada como ato ou acontecimento comemorativo de periodicidade anual, ou aniversário.

Como não existe um mandado específico de Jesus quanto a realizar esta Ceia anualmente, e não existem relatos bíblicos que apresentem os cristãos do primeiro século celebrando tal acontecimento de forma anual, temos de nos remeter às próprias palavras utilizadas por Jesus, para ver se nelas se encontra algum indício dessa intenção.

Jesus disse literalmente a seus discípulos: “Persisti em fazer isto em memória de mim”, (Luc 22:19) utilizando a palavra grega anamnesis (ana, ‘para cima ou de novo’, mneme, ‘memória’,) a qual segundo o Dicionário Expositivo das Palavras do Novo Testamento, de Vine, pág. 746, significa, “não ‘em memória de’, mas trazendo afetuosamente Sua Pessoa à mente, […] não é simplesmente um trazer exterior à ‘lembrança’, mas um despertar da mente”.

Efetivamente, a ação de recordar Jesus, o ato de recordar, é diferente do que transmite a expressão grega mnemósumon que se traduz como ‘memorial’, lembrete, o objeto da recordação, pois a expressão de Jesus nos dá a entender que a Ceia do Senhor, como ordenança e meio de graça, não exerce sua virtualidade pelo pão ou vinho em si, e sim pela fé do crente, suscitada pelos símbolos representativos do que Cristo fez por nós

Como se sabe, é costume dos humanos erguer monumentos ou placas ‘em memória de’ alguém, ou dedicar um dia do ano para recordar algum acontecimento. Não parece que Jesus Cristo estivesse se referindo a este costume, pois, como acrescenta Vine na pág. 746, “o termo anamnesis indica uma ‘lembrança’ sem auxílio” o que realça ainda mais a desconexão de tal ‘memória’ com uma data específica, um dia determinado, como no caso duma celebração de aniversário. Conscientes disto, as Testemunhas de Jeová deixaram de utilizar o termo ‘Memorial’, substituindo-o por ‘Comemoração’, pois se aproxima mais da definição bíblica.

Apesar disso, permanece o fato de que a palavra ‘memória’ utilizada pelos evangelistas não tem nada que ver com celebração, aniversário ou comemoração anual de um fato, e sim com lembrança, trazendo à memória um fato concreto, sem necessidade de um objeto externo que induza tal lembrança. Os seguidores de Cristo devem “recordar” a morte de Jesus, fazendo o que ele fez, não uma vez ao ano, conforme determinado por um calendário, e sim todas as vezes que desejarem, conforme determinar seu coração cheio de gratidão. Por isso algumas traduções vertem a frase como: “façam isto em memória de mim” (Nova Versão Internacional; Almeida Revista e Atualizada).

Isto concorda com o tempo verbal da palavra grega que Jesus Cristo utilizou, quando disse: ‘Fazei’, que está no imperativo afirmativo e sugere que a participação freqüente na Ceia do Senhor é um mandado divino (Atos 20:7), ou com a expressão “todas as vezes” (grego hosakis) a qual segundo o Dicionário Expositivo das Palavras do Novo Testamento, de Vine, pág. 806, é um “advérbio relativo”, e dá a entender “sempre, todas as vezes que”, e se traduz por “todas as vezes”.

Esta é diferente da palavra pollakis, utilizada em Hebreus 9:26, que tem o significado de “algumas vezes” e que a TNM verte em inglês da mesma forma que em 1 Cor 11:26, ou seja com o termo “often”. (Em português é traduzida pela frase “muitas vezes”).

Sim, Paulo dá a entender que esta prática deveria ser feita com freqüência, repetidamente porque “quantas vezes” ou “todas as vezes” que esse ato for realizado, proclama-se a morte do Senhor.

Já que a palavra ‘memória’ não tem nada que ver com o número de vezes que se deve recordar a morte do Senhor, por que limitar nossa ‘proclamação’ da morte do Senhor a apenas uma vez ao ano? Por que limitar esse ato a um dia específico do ano? Talvez seja muito apropriado celebrar a Ceia do Senhor na noite da Páscoa, mas não há base para limitá-la a este evento anual. Não há sentido em uma ação tão transcendente estar limitada a uma celebração anual, como se fosse um aniversário.

Quanto a assemelhar a Ceia do Senhor à Páscoa judaica, devemos ser criteriosos nesta afirmação. Não podemos ir de um lado para o outro da questão simplesmente porque em certo momento tal paralelo nos interessa e em outros, não.

Efetivamente, as publicações das Testemunhas de Jeová raciocinam: “A Páscoa era uma celebração anual. Logicamente, pois, o mesmo se dá com a Comemoração.”. (Veja A Sentinela de 15 de março de 1994, pág. 4). Ou, “Deve a morte de Cristo ser celebrada diária ou talvez semanalmente? Ora, Jesus instituiu a Refeição Noturna do Senhor e foi morto na Páscoa, que comemorava a libertação de Israel da servidão egípcia… A Páscoa era celebrada apenas uma vez por ano, em 14 de nisã. (Êxodo 12:6, 14; Levítico 23:5) Isto sugere que a morte de Jesus deve ser celebrada apenas com a mesma freqüência que se celebrava a Páscoa — anualmente, não diária ou semanalmente.” (A Sentinela de 15 de março de 1993, pág. 5).

No entanto, em outro lugar afirmam: “Esta ceia não era uma continuação da Páscoa judaica. Era algo novo que passou a ser chamada de Refeição Noturna do Senhor.” (A Sentinela de 15 de março de 1993, pág. 3).

Já em A Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, pág. 17, tinham criado um precedente quando chegaram a dizer: “Era a Páscoa tipo da Comemoração?” E responderam: “É verdade que certos aspectos da observância da Páscoa no Egito, sem dúvida, se cumpriram em Jesus.” Entretanto, nem todos se cumpriram.

É por isso que dizemos que é preciso seriedade na hora de se fazer afirmações deste tipo. Não podemos utilizar um paralelo bíblico em sentido literal para defender nossa interpretação de certas passagens, e esquecer detalhes desse mesmo paralelo, – ou interpretar em ‘sentido figurado’ – quando não está de acordo com a mesma interpretação. E evidentemente, o que a liderança das Testemunhas de Jeová faz aqui é apoiar-se nas Escrituras para justificar os interesses de poder e controle que os ‘ungidos’ exercem sobre a ‘grande multidão’, procurando os ‘aspectos’ que coincidem com sua interpretação prévia, visando a dar apoio à sua versão.

Se a liderança das Testemunhas de Jeová afirma que a Ceia do Senhor corresponde à Páscoa judaica, deveriam ser consistentes com essa afirmação, pois durante a Páscoa judaica, TODOS os judeus e até os estrangeiros, participavam, não como meros espectadores e sim ativamente.

Na Páscoa não existia a figura do ‘espectador’. Todos comiam do Cordeiro Pascoal como sinal de apreço pelo livramento da matança dos primogênitos e do povo egípcio, que Jeová lhes tinha concedido. Essa celebração era em nível familiar, e realizada nos lares de cada israelita, não em grandes salões como fazem as Testemunhas na atualidade.

Porém, além de tudo isto, a Páscoa judaica mantém um paralelo evidente com a Ceia do Senhor. O apóstolo Paulo chamou Jesus de ‘Cristo, a nossa páscoa’ e disse com clareza: “A vossa [razão para] jactância não é excelente. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Retirai o velho fermento, para que sejais massa nova, conforme estiverdes livres do levedo. Pois, deveras, Cristo, a nossa páscoa, já tem sido sacrificado. Conseqüentemente, guardemos a festividade, não com o velho fermento, nem com o fermento de maldade e iniqüidade, mas com os pães não fermentados da sinceridade e da verdade.” (1 Cor 5:6-8.)

O que quis dizer Paulo com estas palavras? O que era o ‘velho fermento’ com o qual se podia guardar a festividade, mas que Paulo aconselhou a não se fazer?

Basicamente, o enfoque diferente que se deveria dar à ‘festividade’ que o cristão tinha de guardar, em contraste com o da Páscoa judaica, tem que ver com a Lei que regia a primeira, e a benignidade imerecida que rege a segunda.

Paulo desenvolveu este tema na carta que enviou a Colossos e a Éfeso, onde enfatizou como a Lei “que consistia em decretos e que estava em oposição” aos humanos, foi tirada do caminho e pregada na estaca de tortura (Col 2:14.) com o objetivo de libertar o homem.

E raciocinou: “Portanto, nenhum homem vos julgue pelo comer ou pelo beber, ou com respeito a uma festividade ou à observância da lua nova ou dum sábado; pois estas coisas são sombra das coisas vindouras, mas a realidade pertence ao Cristo.” (Col 2:16, 17.)

Assim, ninguém está autorizado a utilizar a Páscoa como ‘força de Lei’ que regulamente um ritual ou um proceder transferido para a Ceia do Senhor. Aquela era uma “sombra” e, como disse Paulo, uma sombra não pode ser utilizada para ‘julgar’ o proceder dos humanos. Não é válido dizer que a Páscoa mantém correspondência com a Ceia em ‘algumas’ coisas (aquelas que coincidem com crenças e práticas das Testemunhas de Jeová,) e em outras não (nas que não coincidem com tais crenças), como dão a entender. Temos de nos ater à realidade, que é Cristo, e analisar com objetividade suas palavras e o proceder que seus discípulos determinaram com base nestas, para delimitar um modo de proceder que se aproxime do previsto pelo próprio Jesus.

‘Partindo’ o Pão

Curiosamente, costuma-se esquecer alguns trechos bíblicos que podem nos ajudar a ter uma perspectiva mais apropriada do tema em questão. É interessante observar como nos Atos dos Apóstolos diversos relatos mencionam as ocasiões em que os discípulos se reuniam para “partir o pão”, (grego, klásis) expressão que ocorre em mais de uma ocasião.

Embora algumas obras de referência alertem contra aplicar a frase automaticamente à celebração da Ceia do Senhor, a tradução bíblica utilizada pelas Testemunhas de Jeová toma novamente certa liberdade com os textos relacionados com esta expressão grega, de maneira tal que sua forma de traduzir (“tomar uma refeição”) dá a entender que sempre que os primitivos cristãos se reuniam para ‘partir o pão’, faziam-no para tomar uma refeição como irmandade.

Não se dão conta e, se este é o caso, desconsideram que se esse fosse o significado exclusivo de tal termo, os relatos evangélicos desta celebração ficariam sem sentido, pois se as ocasiões em que o livro de Atos menciona ‘partir’ o pão, não têm nada que ver com a Ceia do Senhor, e sim com ‘refeições’ que os cristãos primitivos organizavam, então ‘a maior celebração do ano para todos os verdadeiros cristãos’ não é mencionada em parte alguma como um acontecimento que fora celebrado por tais cristãos, algo absolutamente assombroso, considerando-se o que afirmam as Testemunhas.

Esta é a dedução que tiramos se lermos única e exclusivamente a Tradução do Novo Mundo, pois as expressões, ‘partir o pão’ são traduzidas por “tomar uma refeição”, como se os discípulos tivessem o costume de comer juntos com bastante freqüência, ou todo primeiro dia da semana, e esse foi o motivo do registro na Bíblia. Apenas em sua versão com referências os líderes das Testemunhas reconhecem que literalmente os primitivos cristãos se reuniam “para partir o pão” (veja a notas desta versão sobre Atos 20:7 e 11), sem insistir muito no significado dessa expressão.

A realidade é que muitos lexicógrafos da língua grega reconhecem que a expressão era geralmente utilizada para referir-se a refeições normais, onde se partia o pão na refeição doméstica. A obra Quadros Verbais no Novo Testamento cita um erudito (Hackett) como segue: “Não há margem para dúvida de que neste período, a Eucaristia era precedida por uma refeição normal, assim como foi o caso quando se instituiu o regulamento”. Outro erudito do idioma grego (Page) diz: “Explicar tei klasei tou artou [em 1 Cor 11:20] simplesmente como “A Santa Comunhão” constitui uma perversão do significado simples das palavras e desfigurar o quadro de vida familiar, o qual o texto coloca diante de nós como o ideal para os crentes primitivos”. Assim, parece que esta ação tem de ser examinada à luz de seu contexto, para discernir o que estava sendo feito em cada momento específico.

E não há dúvida de que em algumas passagens tais como Luc 24:30 e Atos 27:35, (quando Jesus comeu pão na viagem com os dois discípulos, ou quando Paulo incentivou os marinheiros e outros viajantes a que comessem algo para se alimentar) o objetivo não era celebrar a Ceia do Senhor.

Por outro lado, há certos relatos em que parece evidente que se reuniam para celebrar esse acontecimento. Por exemplo, segundo Atos 2:42, os primeiros discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir (grego klásei) do pão e nas orações.” (Almeida Revista e Atualizada)

A princípio, faziam isto de maneira regular, quase diária. Isto é confirmado pelo versículo 46 que diz: “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo (grego, klôntés) o pão em casa” (Almeida Revista e Atualizada). Provavelmente faziam assim motivados pelas circunstâncias dos primeiros momentos do cristianismo, quando compartilhavam seus lares, seus bens e propriedades. O relato afirma: “Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.” (Atos 2:44, 45)

Observe que o relato menciona quatro coisas nas quais os discípulos perseveravam: 1) a doutrina ou ensino dos apóstolos, 2) a comunhão dos bens, 3) partir o pão e 4) as orações. Que sentido teria assinalar ‘partir’ o pão, como algo destacado se isto significava que cada dia ‘comiam’ juntos as refeições normais? Será que “tomar uma refeição” com outros cristãos está no mesmo nível de orar, ouvir uma doutrina ou compartilhar bens com outros?

Posteriormente, esta prática habitual está refletida em Atos 20:7, onde se afirma: “No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir (grego, klásai) o pão…” (Almeida Revista e Atualizada) Ao que parece o ato de Jesus de “partir” o pão, durante a última Ceia, tinha chegado a ser peculiar nela, de tal modo que era identificado pela maneira de fazê-lo (Luc 24:30-31, 35), e chegou a converter-se num aspecto característico dessa Ceia.

Nota-se, pois, que em algumas ocasiões que se reuniam, eles “partiam” o pão, com o único propósito de celebrar ou recordar a morte de Jesus, assim como Paulo deu a entender aos coríntios, quando repreendeu as divisões que esta igreja tinha. Paulo lhes diz: “Na orientação que agora vou dar a vocês, eu não os elogio. Porque as suas reuniões na igreja fazem mais mal do que bem. Em primeiro lugar me contaram que há grupos de pessoas que estão brigando nas reuniões da igreja. Eu acredito que em parte isso é verdade. Não há dúvida de que é preciso haver divisões entre vocês para que apareçam os que estão certos. Quando vocês se reúnem, não é a ceia do Senhor que vocês comem.” (1 Cor 11:17-20; Bíblia na Linguagem de Hoje.)

O conselho que o apóstolo Paulo deu aos coríntios é bem significativo. Primeiro, mostra que os coríntios se reuniam com certa regularidade, seguindo o precedente de outras cidades nas quais o cristianismo fora estabelecido. O próprio Paulo, na casa do Tício, o Justo, cuja casa era contígua à sinagoga, (Atos 18:7) estava acostumado a ensinar que Jesus era o Cristo, o que levou muitos a tornarem-se crentes.

Paulo estava falando de reuniões habituais, não de uma reunião extraordinária que se celebrava uma vez por ano; reuniões nas quais eles tinham o costume de “partir” o pão, e em que haviam surgido certas divisões. Não parece provável que desde o ano 52 D.C., quando Paulo deixou Corinto, (depois de fundar esta congregação e passar um ano e meio com eles) até perto do 55 D.C., quando ele escreveu a primeira carta, em apenas duas ou três comemorações que celebraram sem a direção de Paulo (isso na hipótese de uma celebração anual), eles tenham corrompido a tal ponto a prática da mesma, a não ser que a Ceia do Senhor fosse celebrada de maneira habitual e repetida.

Quando Paulo introduz a expressão ‘igreja’ pode ser que alguns sejam levados a pensar em algo eclesiástico, solene e em ofícios “de igreja” que só passaram a existir séculos depois, quando alguns líderes religiosos começaram a formalizar o cristianismo, substituindo a simplicidade da irmandade que existia originalmente. (Mateus 23:8) Para Paulo, ‘reunir-se como igreja’, e tomar uma refeição como irmandade era a mesma coisa, pois imperava um quadro de vida familiar que Cristo tinha incentivado seus discípulos a ter.

Nestas primeiras reuniões, o espírito familiar que Cristo incentivara entre seus discípulos sem dúvida era bem expresso em reunir-se para refeições fraternais e, nessas ocasiões, acompanhá-las com a expressão de sua fé em comum por meio da participação no pão e no vinho, como memorial da morte de seu Senhor. A Ceia do Senhor era uma prática precedida por uma refeição normal, assim como foi o caso quando Cristo instituiu esta celebração. Nessa reunião o pão e o vinho eram distribuídos com um novo significado. Estes itens da alimentação eram repartidos para ‘proclamar’ a morte do Senhor. Porém, como disse Paulo, quando os coríntios se ‘congregavam’, ou se ‘reuniam como igreja’, tais reuniões faziam mais mal do que bem.

Eles estavam pervertendo o verdadeiro significado da Ceia do Senhor, pois aproveitavam tal acontecimento ou o usavam como justificativa para grandes banquetes onde imperava o comer e beber (de fato, o apóstolo Paulo disse que “muitos estavam fracos e doentios, e não poucos estavam dormindo na morte”), e isto os levava a não entender bem a Ceia do Senhor e seu significado e não respeitar o caráter sagrado da ocasião. Como sua mente estava sonolenta ou concentrada em outras coisas, não se achavam em condições de participar dos emblemas com discernimento. Despercebiam por completo sua seriedade: que os emblemas representavam o corpo e o sangue do Senhor e a Ceia era uma recordação da morte dele. Por isso Paulo sublinhou o grave perigo que corriam os que participavam sem discernir estes fatos. (1 Cor 11:20-34.)

Aceitar a Ceia do Senhor como uma celebração da morte do Senhor de maneira anual, seria como aceitar a prática católica de estabelecer um ‘dia’ das mães, um ‘dia’ dos pais, um ‘dia’ dos namorados, etc., os quais as Testemunhas criticam e condenam, como se o respeito e o amor devessem ser expressos apenas nesse ‘dia’ e não em outro.

Estabelecer ‘um dia’ por ano para proclamar a morte de Jesus, deixaria essa data carente do verdadeiro significado da morte de Jesus. Limitaria nossa recordação a um dia por ano.

Por outro lado, é duvidoso que a celebração de uma festividade como a morte de Jesus trivialize esse acontecimento pelo fato de fazê-lo mais de uma vez ao ano, assim como é duvidoso que o fato de um namorado enviar flores de vez em quando e de forma inesperada à amada, ou um filho presentear seus pais, ou simplesmente dizer que ‘os ama’, trivialize estas motivações ou atos. Pelo contrário, pois estas ações não dependerão de uma data específica, e sim de um desejo do coração que não está regulamentado pelo calendário.

Realmente, no que se refere às formas e maneiras de celebrar este ato, temos de nos remeter novamente às palavras de Jesus, quando disse: “Persisti em fazer isso em memória de mim” (Luc 22:21) e nos perguntar: O que era “isso”? Uma data? Uma hora? Emblemas específicos? Ou era a ação em si de reunir-se e realizar o mesmo ato que Jesus realizou para trazer à memória a transcendência de sua morte? Qual deve ser nossa preocupação principal em tudo isto? Que o dia em que celebramos esta Ceia coincida exatamente com o do calendário judaico? Que os pedaços de pão sejam feitos com farinha de trigo, ou que o vinho tinto não tenha nenhum tipo de aditivo?

Quando as pessoas sobrepõem as palavras aos atos, costumam cometer o erro de revestir as mesmas com ornamentos tais, que muitas vezes as próprias palavras se apagam, ficando ocultas de seu verdadeiro significado.

Creio que são pertinentes aqui as palavras que Cristo dirigiu aos fariseus quando disse: “Guias cegos, que coais o mosquito, mas engolis o camelo!” (Mat. 23:24) E o fato é que neste tema há muita “cegueira”, e onde há cegueira desta espécie, pode ocorrer que um grupo grande de pessoas simples e sinceras cuja única motivação é servir a Deus, de algum modo acabe engolindo grandes “camelos”, sem perceber.

Resumo

As Testemunhas de Jeová criaram com tudo isto um ritual vazio de conteúdo e carente do verdadeiro significado que tem a morte de Jesus. Seus líderes sabem, e tentam combater isto em quase todas as revistas que consideram este tema, com declarações enfáticas.

Na Sentinela de 1º de março de 1992, pág. 19, raciocinaram: “Na Comemoração do ano passado […]  menos de um décimo de 1 por cento — tomaram dos emblemas. De que benefício é, então, essa celebração para os milhões de observadores? De grande benefício!”

Note sua exclamação. Talvez esta mesma pergunta tenha sido repetida em diversas ocasiões ao longo dos anos e como única resposta tenham utilizado frases vigorosas como estas para convencer as pessoas de que é muito útil assistir a essa Ceia como ‘observador’.

O fato é que os próprios líderes se dão conta desse vazio, e têm de suplantá-lo deste modo. Sabem muito bem que o seguidor de Cristo deve fazer uma proclamação contínua de sua morte e deve mostrar o devido apreço por ela através da participação no ‘corpo’ e no ‘sangue’ de Jesus, como uma evidente manifestação da fé nesse sacrifício. Todo o resto são apenas palavras.

Este ritual estéril que as Testemunhas de Jeová realizam em seus Salões do Reino ou em salas especiais, é uma falsificação do verdadeiro sentido que Cristo quis dar a sua morte.

A maneira peculiar de celebrar, explicar e aplicar as passagens bíblicas relacionadas com a Ceia do Senhor por parte das Testemunhas de Jeová leva a profundas incongruências e a situações absurdas. Por exemplo: a chegada do momento em que NINGUÉM participará do pão e do vinho, ao irem morrendo os que dizem ser “ungidos” e, portanto, com NINGUÉM proclamando a morte do Senhor, pois como eles sabem muito bem, é o que ‘come’ e ‘bebe’ que proclama, e não o que assiste a essa ‘refeição’ como observador.

Isso sem mencionar que as Testemunhas de Jeová caem novamente em contradições ao ter de celebrar essa Ceia “até que ele chegue” e terem adiado essa “chegada” em várias ocasiões, devido à falta de cumprimento de suas expectativas.

Na realidade, os argumentos utilizados carecem de apoio bíblico e duvido que os líderes das Testemunhas de Jeová não se dêem conta disso. Combinam fatos com suposições, evidência bíblica com meras hipóteses. É claro que a crença em uma doutrina que estabelece o que eles denominam como ‘a maior celebração do ano para todos os verdadeiros cristãos’, certamente deve contar com um fundamento mais sólido do que esse.

É muito grave a afirmação feita em A Sentinela de 15 de março de 1993, pág. 7, onde dizem: “Ninguém precisa tomar os emblemas na Comemoração com o fim de ser incluído entre os beneficiados pelo sacrifício resgatador de Jesus e receber a vida eterna na Terra. Por exemplo, a Bíblia não dá nenhuma indicação de que pessoas tementes a Deus, como Abraão, Sara, Isaque, Rebeca, Boaz, Rute e Davi, algum dia tomarão esses emblemas.”

Depois de uma afirmação sentenciosa assim, é incrível que a grande maioria das Testemunhas não perceba a manipulação a que estão sendo submetidas. Esta deplorável forma de raciocinar para minimizar as razões que podem levar uma pessoa a desejar participar do corpo e do sangue de Jesus Cristo é apenas uma pequena amostra do poder mental que pode exercer uma organização sobre as possibilidades que todo humano tem de expressar livremente sua fé.

Tudo considerado, é razoável que muitas pessoas cheguem à conclusão de pensar e dizer que ninguém tem direito de pôr limites às formas e maneiras de recordar o que nosso Senhor Jesus Cristo fez por todos nós.

O ‘comer e beber’ é a manifestação pública e visível da fé que essas pessoas depositam na figura de Cristo, da mesma maneira que o batismo é a manifestação tangível da dedicação delas a Deus. São elementos gráficos e literais, que expressam a fé que um servo de Deus tem. E esta é uma bela oportunidade de expressar essa fé em companhia de outros. Nada tem que ver com a esperança ou o destino de cada um, e sim com nosso apreço. Se apreciarmos o que Cristo fez por nós, devemos ‘comer’ e ‘beber’ dele, depositando fé em seu sacrifício de resgate, independentemente de nosso destino. Manifestamos isso pública e ostensivamente ‘comendo’ e ‘bebendo’ literalmente pão sem fermento e vinho tinto, pois ‘todas as vezes’ que fizermos isso, estaremos proclamando a morte do Senhor. (1 Cor 11:25, 26.)

Não podemos fazer menos do que continuar proclamando essa morte até que ele chegue, e exclamar do mais profundo de nosso ser: “Amém! Vem, Senhor Jesus”. (Rev. 22:20.)

Apêndice 4: Comentários a um “Estudo de A Sentinela”

Nas páginas 21 a 25 da Sentinela de 15 de fevereiro de 2006 a Torre de Vigia tratou mais uma vez da Comemoração da Morte de Cristo. Como em todas as outras ocasiões, a matéria consistiu numa reafirmação de seu ensino sobre os dois grupos de cristãos, com o objetivo de enfatizar quão “impróprio” é que as pessoas que não fazem parte do grupo dos “ungidos” participem no pão e no vinho da celebração.

Embora este folheto já tenha analisado a maioria dos pontos doutrinais reapresentados nesta Sentinela, ainda assim parece apropriado comentar todos os parágrafos dela, uma vez que, como é usual, citam-se dezenas de textos bíblicos ao longo do “estudo”. Para muitos, isso pode parecer impressionante. O problema é que dificilmente alguém analisa detidamente tais referências. Uma consideração destes textos dentro do contexto de cada parágrafo permitirá que o leitor avalie prontamente até que ponto eles realmente confirmam as declarações que a revista faz.

Apresentamos a seguir a matéria na íntegra. Os comentários estão em azul. Recomendamos fortemente que todos os textos citados sejam realmente lidos. Ocasionalmente estaremos remetendo o leitor a certas partes deste folheto, caso os assuntos em questão já tenham sido considerados minuciosamente e se dispensem comentários adicionais.

[ A Sentinela de 15 de fevereiro de 2006 – páginas 21-25 ]

Lightfoot, apresentado aqui como “erudito bíblico”, foi na realidade um destacado teólogo da Igreja Anglicana no século 17. Segundo o conceito da organização ele seria considerado como um membro da “cristandade apóstata”, e qualquer opinião dele teria pouco mérito aos olhos da Torre de Vigia. Sendo assim, parece bem contraditório que uma observação dele seja usada para introduzir este estudo de A Sentinela.

Independentemente disso, note-se que o comentário dele limitou-se ao sentido da expressão “ajuntar novamente”. Ele não se preocupou em definir o que (ou quem) são essas “coisas nos céus” e as “coisas na terra”. Mas a organização usa esse texto como base do estudo e passa a fazer isso na matéria que vem em seguida. Aí é que surgem os problemas.

A justaposição de textos no parágrafo, em rápida seqüência, pode confundir um leitor desatento. Citam-se palavras de Pedro, depois se faz uma breve menção das palavras de Paulo e daí retorna-se a algo mais que Pedro disse, numa tentativa de estabelecer uma relação entre os escritos. Na verdade esse texto de 1 Pedro 1:3, 4 não menciona “as coisas nos céus”. E não diz qualquer palavra sobre um “número limitado de humanos escolhidos para governar com Cristo nos céus”. O texto fala simplesmente sobre uma “herança reservada nos céus”. Uma leitura atenta dos textos mencionados no final do parágrafo mostra que nenhum deles apresenta a ideia completa de que ‘os 144.000 cristãos ungidos são comprados da terra para serem co-herdeiros de Cristo no seu Reino celestial’. Esta sentença final do parágrafo é resultante de uma conexão arbitrária de frases que aparecem separadamente nos textos, como se todos eles estivessem falando necessariamente dos 144.000.

A conclusão apresentada nesta última frase do parágrafo é baseada na velha premissa de que expressões bíblicas tais como “filhos de Deus”, “nascidos de novo”, “irmãos de Jesus”, ‘herança reservada nos céus’, ‘selados com o espírito santo’ e outras, aplicam-se exclusivamente aos “cristãos ungidos”. Em todos os casos, os contextos onde tais expressões se encontram são desconsiderados.

O parágrafo sugere ainda que o ‘ajuntamento’ significa nada mais que ‘ajuntar’ um “número total predeterminado por Jeová” de 144.000.  Absolutamente nenhum dos textos citados comprova que o ‘ajuntamento’ se refere a isso, ou que exista tal ‘predeterminação’ da parte de Jeová, quanto a um número literal.

Efésios 1:10 não fala em ‘começo do ajuntamento’, e sim, sobre o ajuntamento em si. E nem limita esse ‘ajuntamento’ às “coisas nos céus”. Ainda que fosse inteiramente correta a ideia de que as “coisas nos céus” se referem a um grupo literal de 144.000 e que tal ‘ajuntamento’ começou lá no Pentecostes de 33 EC, o texto ainda estaria sendo aplicado parcialmente, pois desconsidera o ajuntamento das “coisas na terra” (que o texto diz que também ocorreria “no pleno limite dos tempos designados”). É verdade que o derramamento do espírito santo no Pentecostes mostrou que o favor de Deus estava com a congregação cristã, mas ser tal espírito derramado sobre aquelas pessoas não dava qualquer indicação quanto ao destino final de cada uma delas. O parágrafo também presume que as expressões “Israel espiritual” e “Israel de Deus” aplicam-se a um grupo limitado de 144.000 (definido como “as coisas nos céus”, no parágrafo anterior). Nenhum dos três últimos textos confirma esta ideia. Pelo contrário, a consideração de cada um deles em seus devidos contextos prova, além de qualquer dúvida, que tais expressões aplicam-se indiscriminadamente a todos os verdadeiros cristãos.
 

O entendimento tradicional da Torre de Vigia acerca da expressão “reino de sacerdotes e nação santa” no caso do antigo Israel é inteiramente acomodado à doutrina da organização. (Para uma consideração sobre este texto, veja o capítulo 3 deste folheto, subtópico “O pacto feito entre Deus e a nação de Israel”.) E, seguindo a tendência, o parágrafo também aplica arbitrariamente o conteúdo de 1 Pedro 2:9, 10 aos 144.000, além de repetir a ideia de que o “Israel espiritual” é composto unicamente por estas pessoas. Ademais, Jesus não predisse que ‘o reino seria tirado dos judeus e dado aos 144.000’ mencionados em Revelação 7:4-8. Em Mateus 21:43 ele falou que o reino seria dado a ‘uma nação que produz frutos’. A ideia de que esta “nação que produz os seus frutos” limita-se a um grupo literal de 144.000 é um ensino da Torre de Vigia. O próprio Jesus não disse isso e a Bíblia não apóia este raciocínio em parte alguma.

O parágrafo reconhece que em Lucas 22:28-30 Jesus estava falando com os “apóstolos fiéis” unicamente, e não com um grupo maior de pessoas. Os dois textos do final do parágrafo também não dizem qualquer palavra sobre os 144.000. Nem nestes dois textos, nem em qualquer outro texto da Bíblia especifica-se um número fixo de cristãos ‘vencedores’ e ‘fiéis até a morte’.

O texto de Revelação 20:4-6 fala realmente de pessoas atuando como reis, sacerdotes e juízes juntamente com Cristo, mas não diz que isso se refere a um grupo de 144.000. Esta ideia é uma dedução da Torre de Vigia. Ademais, a Bíblia não diz qualquer palavra sobre ‘renúncia’ à esperança de vida eterna na terra por parte de alguém. No final do parágrafo cita-se o texto de João 10:16, que é imediatamente aplicado às “outras ovelhas”, as quais, segundo a organização, são um grupo diferente dos “ungidos”, compondo-se de pessoas que “não tomam dos emblemas na Comemoração”. Nenhum texto bíblico apresenta estas idéias.

O fato de o apóstolo Paulo e muitos outros cristãos ao longo da história terem passado por sofrimentos semelhantes aos de Cristo não prova em si mesmo que tais pessoas fazem parte de um grupo que está destinado a ir para o céu. O parágrafo está sugerindo que as palavras de 2 Coríntios 4:10 aplicam-se exclusivamente a esse grupo limitado. Mas a leitura dos versículos precedentes (7 a 9) torna claro que tais palavras se referem às perseguições e maus tratos que os cristãos estão sujeitos a sofrer. Isto tem aplicação a todos os verdadeiros cristãos e não somente a um grupo de 144.000. Confirmando isso, 2 Timóteo 3:12 diz: “De fato, todos os que desejarem viver com devoção piedosa em associação com Cristo Jesus também serão perseguidos.”

De um modo geral, os textos deste parágrafo estão aplicados corretamente. Mas vale a pena apresentarmos o que dizem na íntegra os textos de 1 João 2:2 e João 6:51:

João 6:51: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e, de fato, o pão que eu hei de dar é a minha carne a favor da vida do mundo.”

1 João 2:2: “E ele é um sacrifício propiciatório pelos nossos pecados, contudo, não apenas pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro.”

O primeiro texto fala em “alguém”, sem especificar se tal pessoa faz ou não parte de alguma “classe” de cristão. O segundo texto usa a expressão “mundo inteiro”, novamente sem fazer qualquer discriminação. Uma vez que ambos tratam da vida eterna e do perdão de pecados – algo disponível a todos os crentes – então não há o menor sentido em usá-los no meio de um estudo que defenda alguma distinção entre os cristãos.

Outro detalhe é que o texto de João 6:51 fala apenas da esperança de vida eterna, mas não diz qualquer palavra sobre o local de morada final dos cristãos fiéis (céu ou terra).

Os textos de Romanos 5:8, 9 e Tito 3:4-7 não falam em “vida no céu”. A ideia é simplesmente que todos os que depositam fé no sangue de Cristo são “declarados justos” para a “vida eterna”. Como em todos os outros casos, as palavras dos três textos mencionados em seguida são aplicadas aos 144.000, mas é impossível encontrar esta ideia em qualquer um deles. O mesmo vale para Revelação 5: 9, 10. Este texto não menciona qualquer número específico de pessoas. Temos aqui outro caso de simples dedução da liderança da Torre de Vigia.

O parágrafo desconsidera que Cristo disse que seu sangue seria derramado “em benefício de muitos [ou seja, uma quantidade grande e indeterminada de pessoas] para o perdão de pecados [e não para definir o destino dos cristãos que tomassem dele]”. Desconsidera também que assim como o antigo Israel se compunha de um número grande e indeterminado de pessoas, o mesmo se aplica – e com ainda mais força – ao “Israel espiritual” (Veja Gálatas 4:27-31). Desconsiderar fatos semelhantes a esses permite que a liderança da organização imponha a seus seguidores a ideia antibíblica de que todos os não-ungidos estão automaticamente excluídos do “novo pacto”.  

Para começar, o parágrafo parece estabelecer uma sutil conexão entre o “copo” mencionado em Marcos 10:38, 39 e o copo que foi distribuído por Cristo ao instituir a comemoração, o qual simboliza o “novo pacto”. Pelo menos alguns que lêem essa matéria poderiam concluir isso. Será que os dois relatos estão tratando necessariamente da mesma coisa?

Este trecho de Marcos 10: 38, 39 está dentro do relato no qual a mãe de Tiago e João (os filhos de Zebedeu) dirigiu-se a Jesus e, fez-lhe um pedido especial em nome dos filhos. Ela queria que Jesus permitisse que seus filhos se assentassem nas posições mais próximas a Jesus, quando ele estivesse no seu reino. Segundo o relato mais detalhado de Mateus, a resposta de Jesus a isso foi:

 “Vós não sabeis o que pedis. Podeis beber o copo que eu estou para beber?” Disseram-lhe: “Podemos.” Disse-lhes ele: “Bebereis, de fato, o meu copo, mas, assentar-se à minha direita e à minha esquerda não é meu para dar, mas pertence àqueles para quem tem sido preparado por meu Pai” (Mateus 20:22, 23)

Será que com esta expressão “meu copo”, Jesus se referia ao copo que simboliza o seu sangue, que valida o “novo pacto” e que ele ofereceu aos discípulos na celebração? De modo algum, pelos seguintes motivos:

1 – Tanto no relato de Mateus, como no de Marcos, Jesus disse que ele próprio beberia este copo. Mas, como mostramos neste folheto (veja o capítulo 2, subtópico “Examinando Atentamente o Relato”), a evidência indica que Jesus não tomou daquele copo que distribuiu aos discípulos.

2 – O momento em que Cristo bebeu deste “copo” mencionado em Marcos 10:38, 39 veio, não durante a celebração, e sim depois dela. Na oração que fez a Deus, já no Getsêmani, Jesus disse:

 “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; remove de mim este copo. Contudo, não o que eu quero, mas o que tu queres.” (Marcos 14:36)

Isto sugere que ele estava falando de um “copo” que ainda não havia tomado. Como evidência adicional disso, observe o que ele disse quando Pedro tentou livrá-lo da prisão no Getsêmani. Segundo João 18:11, as palavras foram:

“Jesus, porém, disse a Pedro: “Põe a espada na [sua] bainha. Não devia eu de toda maneira beber o copo que o Pai me tem dado?”

Portanto, o copo da celebração que simboliza o “novo pacto” não deve ser confundido com o “copo” mencionado em Marcos 10:38, 39. Com muito maior probabilidade este último se relaciona a todos os sofrimentos pelos quais Cristo passou e que culminaram em sua morte. Isto explica o porquê de Jesus ter, em certo momento, chegado a pedir a Deus que tal “copo” (ou “cálice”) fosse ‘afastado’ dele, se possível. Porém, ele por fim fez o que a vontade de Deus determinava, e tomou realmente aquele copo, experimentando o sofrimento e a morte. E muitos seguidores dele também provaram deste “copo” depois disso, como ele havia previsto. A própria resposta que Jesus deu àquela mulher indica que o fato de beber tal “copo” nada tinha que ver com assumir posições privilegiadas no reino dele. De modo que este texto pode até ser usado como um argumento contrário ao ensino da Torre de Vigia.

Outras duas idéias errôneas que o parágrafo apresenta são afirmar que a morte física dos ungidos é “sacrificial”, de certa forma igualando-a com a morte sacrificial de Cristo e depois dar a entender que o ‘batismo na morte de Cristo’ aplica-se apenas a eles. Quando o apóstolo Paulo falou em os cristãos serem ‘batizados na morte de Cristo’ (Romanos 6:3) ele não quis dizer isso que a Sentinela afirma. O contexto (Romanos 6:1-7) mostra que Paulo não estava falando ali de morte literal. O versículo 2 diz que essa “morte” é ‘no que se refere ao pecado’. O versículo 4 fala em uma “novidade de vida” (“vida nova”, segundo a Bíblia na Linguagem de Hoje), que começa enquanto os cristãos ainda estão vivos fisicamente. E o versículo 6 diz que a “velha personalidade” do cristão (e não o próprio cristão) é que ‘morre’ junto com Cristo.  De modo que a consideração do versículo 3 dentro deste contexto, mostra que o ‘batismo na morte de Cristo’ – algo que se aplica a todos os cristãos, diga-se de passagem – não tem qualquer relação com pessoas morrerem fisicamente (e de modo “sacrificial”, como diz a Sentinela) e depois serem ‘ressuscitadas como criaturas espirituais para reinarem com Cristo no céu’. Os três textos citados no final do parágrafo não apresentam as idéias desta maneira e também não aplicam suas palavras a um grupo de 144.000.

Foto na página 23:

Na realidade, o que se faz nesta imagem não é uma pergunta, e sim uma afirmação. A liderança da organização deseja que toda Testemunha responda (de maneira verbal ou mental) rigorosamente de acordo com o ensino oficial. Por mais que a Bíblia nem sequer sugira que a participação no pão e no vinho está restrita a um grupo específico, a doutrina da organização impera nas mentes das Testemunhas, deixando-as sem qualquer alternativa a não ser aceitar sem contestação o que este estudo da revista A Sentinela diz.

Quadro na página 23:

O quadro acima repete a doutrina tradicional da Torre de Vigia acerca do “corpo de Cristo”, como se a participação no pão e no vinho fosse alguma ‘confirmação’ de que apenas um grupo limitado de 144.000 está ‘unido’ dentro desse “corpo”. Esta ideia é antibíblica. Como mostramos no final do Capítulo 5 deste folheto, a leitura do contexto de 1 Coríntios capítulo 12 mostra que não existe esta particularização. O texto de Mateus 23:10 não sugere de modo algum que Cristo é o “líder” de apenas 144.000 pessoas. Na verdade, tanto o contexto geral de 1 Coríntios capítulo 12, como esse texto de Mateus 23:10 tornam proibitivo que alguns cristãos assumam uma posição especial de “governo” dentro da família cristã, colocando-se acima dos demais, ditando ensinos e normas divergentes do que o Líder disse ou arrogando-se o direito de mover ações punitivas contra outros membros do “corpo” que não aceitem essas idéias humanas.

________________________

Para facilitar a análise do próximo parágrafo, faremos os comentários de maneira intercalada:

A Bíblia torna muito claro qual é o significado básico da participação no pão e no vinho (Veja o Capítulo 8 deste folheto). E não envolve nada disso que a Torre de Vigia impõe com essa mistura arbitrária de textos bíblicos. Infelizmente é por aceitarem essa complicada explicação doutrinal que milhões de Testemunhas de Jeová acabam sendo vencidas pela ideia de que é “impróprio” participar do pão e do vinho.

Quando o apóstolo Paulo falou em participar com “discernimento”, ele não tinha em mente essas coisas que o parágrafo está dizendo que os que têm “esperança terrestre” devem ‘discernir’. (Veja o Capítulo 5 deste folheto).

Sim, o copo representa o “novo pacto”. Isso é bíblico. O que não é bíblica é a ideia de que esse “novo pacto” está restrito a um grupo específico de pessoas. (Veja o Capítulo 3 deste folheto).

Como mostramos acima, o contexto bíblico revela que o ‘batismo na morte de Cristo’ não tem o significado que a Torre de Vigia lhe atribui nesta Sentinela e em outras publicações. Além disso, Deus é quem determina quem viverá na terra ou no céu e essa questão do destino de cada um nada tem que ver com a participação no pão e no vinho.

Não tomam porque a liderança da Torre de Vigia assim determinou e não porque a Bíblia proíba. O que Jesus disse foi: ‘persisti em fazer isso [ou seja, comer e beber] em memória de mim’. E o apóstolo Paulo disse: ‘todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este copo, estais proclamando a morte do Senhor’. Isso exclui a ideia de o cristão estar lá como “observador respeitoso” e não ser participante ativo da celebração.

Com toda a certeza. E a persistência na participação nesses alimentos simbólicos com dignidade e discernimento é uma das evidências dessa gratidão. Portanto, isso não deveria ser vedado a ninguém que tenha fé nessas provisões de Deus.

A expressão “corpo de Cristo” não tem o significado que a Torre de Vigia lhe dá (Veja o capítulo 5 deste folheto). É verdade que os cristãos devem permanecer ‘fiéis até a morte’ mas, rigorosamente, a participação no pão e no vinho não é para ‘lembrá-los desta responsabilidade’. Tal participação serve para que recordemos outra coisa. E as palavras de 2 Pedro 1:10, 11 não se aplicam apenas a um “pequeno número de cristãos”.

Segundo o parágrafo, o “pleno limite dos tempos designados” para começar o ajuntamento das “coisas na terra” veio em “meados dos anos 30” do século passado. Embora hoje a organização já não ensine que o ano de 1935 marcou o fim da chamada dos “ungidos” (veja A Sentinela de 1º de maio de 2007, seção Perguntas dos Leitores), eles ainda crêem e afirmam que o “pleno limite dos tempos designados” de Deus para ajuntar todas as “coisas no céu” começou quase 20 séculos antes do início do ajuntamento das “coisas na terra”. Como já dissemos, a própria Bíblia coloca o assunto em termos gerais e não faz essa distinção cronológica. Além disso, nenhum dos textos citados no parágrafo diz que as “outras ovelhas” são um grupo diferente dos “ungidos”. E nenhum desses textos diz que a expressão “irmãos de Cristo” se refere unicamente aos 144.000 “ungidos”. Todas estas idéias são doutrinas da Torre de Vigia, igualmente sujeitas a mudanças.

Sim, Revelação 7:1-4 diz realmente que a soltura desses 4 “ventos” ocorre após a “selagem” dos 144.000. Pelo menos a ordem cronológica dos eventos está sendo apresentada corretamente. O grande problema aqui é o entendimento dos 144.000 como um número literal de cristãos, e cujo “restante” está dentro dos domínios da Torre de Vigia. Esta é uma interpretação que gera vários problemas. O próprio versículo 4 diz que estes são selados “de toda tribo dos filhos de Israel” e os versículos seguintes (5 a 9) apresentam uma lista de 12 dessas tribos, sendo 12.000 “selados” de cada uma. A Torre de Vigia entende que cada grupo de 12.000 é simbólico e, no entanto, entende a soma (144.000) como um número literal. Esta óbvia falta de lógica é só o começo dos problemas dessa doutrina. Caso o leitor queira mais informações sobre estes problemas, recomendamos a leitura do folheto Onde a “Grande Multidão” Serve a Deus?

Cita-se o texto de Revelação 20: 12, 13. O parágrafo diz que o “número indeterminado de ressuscitados”, bem como a “grande multidão” está na terra, constituindo-se de um grupo de “súditos terrestres permanentes” do reino de Cristo. Mas Revelação 20:12, 13 fala simplesmente de um julgamento de pessoas ressuscitadas “diante do trono” de Deus. O resto das idéias é acomodação doutrinal e puro raciocínio humano.

Outra ideia não confirmada é que só após essa “prova final” “os que se mostrarem fiéis serão adotados como filhos [terrestres] de Deus”. Esta ideia reflete a crença da Torre de Vigia, segundo a qual só naquele momento tais pessoas serão consideradas como “filhos de Deus” no pleno sentido da palavra. Note-se, inclusive, que a palavra “terrestres” é acrescentada entre colchetes. Nem essa palavra nem essa ideia constam em algum dos três textos citados no fim do parágrafo. Revelação 20: 7, 8 não diz qualquer palavra sobre essa “prova final” à qual serão submetidas as “coisas na terra”. O que se relata lá é uma “guerra”, e mencionam-se vários elementos simbólicos (exemplos: as “nações nos quatro cantos da terra”, “Gogue e Magogue”, o “acampamento dos santos” e a “cidade amada”). Toda essa linguagem simbólica é arbitrariamente adaptada ao ensino da organização.

Além disso, sugere-se uma ordem invertida dos eventos. A Bíblia menciona primeiro esta “guerra” no fim dos “mil anos” (Revelação 20:7-10) e depois a ‘ressurreição geral’ e o ‘julgamento’ (Revelação 20:11-14). Diz ainda que a base desse ‘julgamento’ de todas as pessoas é, não o fato de não terem passado em alguma “prova final” e sim suas “ações”, que estão registradas nos “rolos”. O parágrafo, além de inverter a ordem, dá uma informação muito divergente do que diz esse trecho do Apocalipse.

Se fosse considerada isoladamente, toda a informação deste parágrafo concludente poderia ser considerada correta. O problema é que toda a complicada doutrina da organização estará bem enraizada na mente dos leitores, de modo que eles estarão pensando primariamente no que a Torre de Vigia entende serem as “coisas no céu” e as “coisas na terra”, bem como nas explicações relacionadas a tais, conforme apresentadas neste “estudo de A Sentinela.” Por causa disso, aceitarão facilmente o que diz o último parágrafo:

Note-se a frase: “vão celebrar a Comemoração da morte de Cristo, como Jesus ordenou”. Infelizmente isto não aconteceu naquele ano de 2006. E não tem acontecido já por muitas décadas. Conforme foi mostrado no Capítulo 10 deste folheto, toda a complicada explicação doutrinal repleta de erros, que gera essa proibição não-bíblica imposta pela organização, acaba fazendo com que quase toda Testemunha ou convidado compareça lá apenas como “observador respeitoso”, deixando de derivar o pleno benefício espiritual da reunião.

Foto na página 25:

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