Correspondências com Sismólogos
Questões levantadas
Será que existe pelo menos um sismólogo versado na história dos terremotos que concorde com os atuais proclamadores do fim dos tempos, e particularmente com a liderança das Testemunhas de Jeová, quando esta afirma que nossa época tem visto um número anormalmente grande dos terremotos destrutivos?
Os autores deste livro escreveram para vários renomados sismólogos de todo o mundo para descobrir isso. As respostas obtidas foram notavelmente unânimes. De fato, não encontramos um único sismólogo que pense que os terremotos aumentaram dramaticamente em número ao longo do século 20.
A passagem de mais de cem anos de pesquisa em sismicidade histórica parece ter estabelecido um consenso geral entre as autoridades no assunto apontando para o fato de a sismicidade da terra hoje não ser consideravelmente diferente do que sempre foi por milhares de anos.
Por questão de espaço só podemos publicar aqui uma seleção das cartas recebidas, mas as não publicadas contêm a mesma mensagem. No geral, explicamos a natureza de nossa pesquisa e colocamos algumas questões. As mais típicas foram as seguintes:
1 – Sente que houve um tremendo aumento dos grandes terremotos durante o século 20 em comparação com os séculos anteriores?
2 – Sente que a atividade sísmica no século 20 foi única, de alguma maneira?
3 – Conhece algum sismólogo que defenda que nossa época viu um número consideravelmente grande de terremotos?
Carta de Markus Båth
A primeira carta publicada, do Professor Båth, faz referência a um artigo de Howard D. Burbank intitulado “Haverá terremotos.” Esse artigo foi publicado no periódico adventista Revisão de dezembro de 1977 em inglês. O artigo continha um gráfico elaborado para mostrar que o número de terremotos aumentou de forma explosiva, especialmente no século vinte. Pedimos ao Professor Båth que comentasse as declarações de Burbank, o que ele fez em sua resposta:
TRADUÇÃO:
Uppsala, 17 de junho de 1983
Sr. Carl Olof Jonsson
Caixa Postal 281
433 25 Partille
Meus sinceros agradecimentos por sua carta de 6 de junho e pelo artigo anexo “Haverá terremotos” de Howard D. Burbank. – É evidente que o senhor está completamente certo em suas objeções a este artigo. O autor comete o erro catastrófico de contar apenas o número de tremores de terra. Em vez disso ele deveria ter tentado ir pelas magnitudes de Richter e, portanto, pela energia liberada. O resultado teria sido então bastante diferente.
Como o senhor aponta corretamente, só em épocas recentes é que temos uma melhor rede de estações sismológicas e consequentemente uma melhor observação. De fato, dados instrumentais confiáveis remontam apenas a por volta de 1900. Mas podemos fazer um exame estatístico do período desde então.
Para isto anexo um periódico – Física Tectônica, 54 (1979) T1-T8 – em cuja Fig. 2 se mostra a liberação de energia e o número de terremotos com magnitudes de 7,0 ou mais. Os primeiros 20 anos (até por volta de 1920) tiveram cerca de duas vezes tanta energia liberada por ano como todo o período desde então. O número de tremores de terra com magnitudes de 7,0 ou mais, também não mostra nenhum aumento apreciável em anos posteriores.
Para séculos anteriores não temos as mesmas estatísticas confiáveis, mas não há indicação alguma de qualquer aumento na atividade ao longo do tempo. – Sem a menor hesitação o artigo (de Burbank) deve ser rejeitado.
Com calorosos cumprimentos,
Markus Båth
Carta de Wilbur A. Rinehart
A próxima carta, bem detalhada, foi recebida de Wilbur A. Rinehart, da Central Mundial de Dados A, em Boulder, Colorado:
TRADUÇÃO:
8 de agosto de 1985
Drs. Wolfgang Herbst & Carl O. Jonsson
Caixa Postal 14037
S-14037
S-400 20 Gotemburgo, Suécia
Prezados Drs. Herbst e Jonsson:
O Dr. Ganse deixou a Central de Dados há aproximadamente três anos e pediram-me para responder às perguntas que os senhores colocaram em vossa carta de 7 de julho de 1985.
A sismologia instrumental começou por volta do início do século 20. Antes disso, o relato tanto dos grandes terremotos como dos pequenos recaía sobre a população em geral, uma pequena comunidade científica e os veículos noticiosos. Grandes terremotos ocorrendo em áreas escassamente povoadas passaram despercebidos e raramente foram catalogados.
A localização sistemática de terremotos começou com a Pesquisa Sismológica Internacional na Inglaterra, em 1913, por Herbert Hall Turner, seguindo a orientação estabelecida por John Milne que foi encarado como o pai da sismologia inglesa. O trabalho deles foi continuado por muitos outros, incluindo a Sra. Ethel Bellamy e Sir Harold Jefferys, que continuaram a publicar relatórios anuais e qüinqüenais de terremotos localizados pela PSI desde 1918. Eles usaram dados instrumentais para determinar as localizações destes terremotos. Naquele tempo, havia menos de duzentos observatórios sismológicos no mundo e os instrumentos eram todos de alcance reduzido, na ordem de 100 a 200. Mesmo com esta grande contribuição para as observações sismológicas, os instrumentos eram demasiadamente insensíveis para determinar até mesmo alguns grandes terremotos em áreas remotas do mundo.
A sismologia não recebeu realmente um grande incremento instrumental até o início da década de 1960, quando a pesquisa costeira e geodésica dos Estados Unidos instalou uma rede de 111 conjuntos duplos de instrumentos exatos, por todo o mundo ‘livre’, principalmente com o objetivo de detectar a detonação de bombas nucleares subterrâneas. A resposta de todos estes instrumentos foi a mesma; sua precisão variava de acordo com o nível de ruído do solo no local. Naquele tempo atingiu-se a possibilidade de detectar todos os terremotos grandes e significativos e provavelmente nenhum desses no mundo passou sem ser detectado.
O uso incorreto das estatísticas que os senhores citam em vossa carta é comum da parte de muitos que desejam provar alguma coisa. Sabe-se que a ocorrência de terremotos não é uniforme no tempo, mas ninguém sabe ao certo qual é a distribuição temporal. Nosso período de tempo estatístico para grandes terremotos é simplesmente muito pequeno para permitir determinar taxas de repetição ou para sugerir que em qualquer período há mais tremores do que em outro período de tempo. Olhando para áreas específicas, parece haver aglomerados de grandes terremotos no tempo e depois não aparece mais nenhum nos registros da área. Um exemplo perfeito disso é o grupo de terremotos com uma magnitude provável de 8+ em 1811-1812 na área de Nova Madri, nos Estados Unidos centrais. Mesmo nossa famosa falha de Santo André tem estado fechada desde 1916, e, no entanto, houve grandes choques em 1838, 1857 e 1866.
Em resposta às vossas perguntas, eu não concordaria com o uso dos números de terremotos da maneira que foram apresentados no “Catálogo de Terremotos Significativos 2000 AC – 1979” para provar qualquer taxa de ocorrência ou de repetição de terremotos. Os autores certamente concordariam que a completude do catálogo varia com o tempo, sendo mais pobre nos anos anteriores à sismologia instrumental. Não conheço qualquer sismólogo ou estatístico competente que usasse os números citados da maneira que a Sociedade Torre de Vigia os usou. Eu certamente concordaria com os Professores Båth e Richter, quando afirmam que não houve qualquer aumento significativo no número de terremotos durante o século 20 ou qualquer outro século. E concluiria com a famosa citação de Mark Twain:
“Existem três tipos de mentiras – mentiras, mentiras deslavadas, e estatísticas.”
Atenciosamente,
Wilbur A. Rinehart
Sismólogo
Cartas de Keiiti Aki
Uma vez que a liderança das Testemunhas de Jeová em sua publicação A Sentinela de 15 de novembro de 1983, página 6, apelou expressamente para a opinião do professor Keiiti Aki do Departamento de Ciências Geológicas da Universidade do Sul da Califórnia, a correspondência seguinte é duplamente significativa. Depois de receber uma carta do professor Aki, enviamos uma carta respeitosa, datada de 22 de setembro de 1985, para a sede das Testemunhas de Jeová, pedindo-lhes uma cópia da declaração completa de Aki para eles. Como era de se esperar, eles não se dispuseram a fornecer essa cópia. Assim, somos obrigados a concluir que eles não desejam que outros tomem conhecimento do conteúdo exato da declaração a que fizeram referência em sua revista.
De qualquer maneira, apresentamos aqui uma cópia da carta do professor Aki para eles, que nos foi gentilmente enviada pelo próprio professor Aki, e isto é seguido por outra correspondência entre o professor Aki e os autores deste livro. (Para detalhes sobre a maneira como o ponto de vista do professor Aki foi deturpado nas publicações das Testemunhas de Jeová, veja o Capítulo 3 deste livro, páginas 79 a 81.)
TRADUÇÃO:
30 de setembro de 1982
Sociedade Torre de Vigia
25 Columbia Heights
Brooklyn, NI 11201
Prezado Senhor:
Esta é em resposta à sua inquirição sobre terremotos [EC: ESH 24 de setembro de 1982]. O aparente aumento em intensidade e freqüência de terremotos maiores nos últimos cem anos é, com toda a probabilidade, devido ao melhor registro de terremotos e à crescente vulnerabilidade da sociedade humana aos danos provocados por terremotos. A principal razão é a bem estabelecida placa tectônica que indica um movimento muito estável ao longo dos últimos milhões de anos.
Uma medida da força dos terremotos mais objetiva do que as baixas é a escala de Richter. Em geral é difícil atribuir magnitudes na escala Richter a terremotos que ocorreram há mais de cem anos. Uma tentativa, contudo, foi feita na China, onde registros históricos são mantidos em melhor estado do que em outras regiões. A figura anexa mostra a escala de Richter (M) para os terremotos na China durante o período de aproximadamente 2000 anos. Os últimos cem anos são certamente ativos, mas houve períodos tão ativos como este, por exemplo, de 1500 a 1700.
Atenciosamente,
Keiiti Aki
O uso que a liderança das Testemunhas de Jeová fez de uma parte selecionada da carta acima em sua revista A Sentinela resultou numa troca de correspondência entre os autores deste livro e o professor Aki. Apresentamos aqui o resultado desta correspondência:
TRADUÇÃO:
5 de setembro de 1985
Srs. W. Herbst & C. O. Jonsson
Caixa Postal 14037
S-400 20 Gotemburgo – SUÉCIA
Prezados Srs. Herbst e Jonsson:
Agradeço por suas perguntas referentes à minha declaração para as Testemunhas de Jeová. Penso firmemente que a sismicidade tem estado estacionária por milhares de anos. Eu estava tentando convencer as Testemunhas de Jeová sobre a estacionaridade da sismicidade, usando os dados obtidos na China para o período de 1500 a 1700, mas eles só deram fraca ênfase à declaração publicada. A evidência geológica excelente para a estacionaridade foi obtida pelo Prof. Kerry Sieh do Caltech, para a falha de Santo André.
Atenciosamente,
Keiiti Aki
TRADUÇÃO:
Wolfgang Herbst e
Carl Olof Jonsson
Caixa Postal 14037
S-400 20 Gotemburgo
Suécia
Professor Keiiti Aki
Departamento de Ciências Geológicas
Universidade do Sul da Califórnia
Parque Universitário
LOS ANGELES
Califórnia 90089-0741
EUA
19 de abril de 1986
Prezado Senhor,
Muitos agradecimentos pela sua valiosa carta de 5 de setembro, em resposta à nossa pergunta sobre a declaração acerca da freqüência dos grandes terremotos como foi citada pela Sociedade Torre de Vigia.
Queríamos descobrir até que ponto a Sociedade Torre de Vigia tinha deturpado sua opinião profissional, assim eu, Wolfgang Herbst, escrevi à sede da Torre de Vigia em Brookyn, pedindo-lhes uma fotocópia da sua declaração completa para eles.
Estranhamente, em vez de nos mandarem a informação desejada eles a mandaram para o escritório da filial deles na Suécia, que por sua vez o encaminhou a um ancião local das Testemunhas em Gotemburgo, chamado Börje Silfverberg. Este representante local escreveu-me e queria se encontrar comigo num dos seus Salões do Reino, onde me mostrariam a informação que eu tinha pedido. Como isto não era possível no momento, sugeri que ele simplesmente mandasse uma cópia da correspondência entre eles e o senhor, enfatizando que “quando escrevi ao professor Aki ele não propôs uma reunião inconveniente” mas “prontamente mandou a informação que eu lhe tinha pedido.”
Todavia, o Sr. Silfverberg, agindo de acordo com o escritório da Torre de Vigia, mesmo assim não enviou a informação. Distorcendo as coisas, ele escreveu que já que eu tinha a informação do senhor, não havia mais qualquer necessidade “de mostrar a correspondência em questão” e que, por conseguinte ele iria mandar a informação de volta para o escritório da filial.
Naturalmente nós tomamos este estranho modo de proceder da parte deles como uma indicação de que se aperceberam que deturparam sua declaração e que agora estão tentando abafar todo o assunto. A Sociedade Torre de Vigia afirma, mesmo nas suas publicações mais recentes, que a freqüência dos grandes terremotos aumentou vinte vezes desde 1914!
Uma vez que estamos tentando apresentar os fatos sobre o assunto em nosso próximo livro sobre calamidades na história humana, gostaríamos de saber se o senhor ainda possui cópias da correspondência que teve com a Sociedade Torre de Vigia e se seria possível obtermos fotocópias do senhor. Como compreenderá, a Sociedade Torre de Vigia não nos quer dar qualquer ajuda. Entre outras coisas gostaríamos de determinar o que o senhor quer dizer quando lhes escreve sobre o “aparente aumento repentino na intensidade e na freqüência dos grandes terremotos durante os últimos cem anos” – se o senhor escreveu algo parecido com isso de qualquer modo. Se o fez, se usou a palavra “aparente” no sentido de “ilusório” (não real), ou no sentido de “evidente, concreto”, como a Sociedade Torre de Vigia indica e ainda o traduz de modo menos ambíguo em outras línguas. A Sentinela sueca, por exemplo, usa uma palavra que significa “visível”.
Já temos declarações de seus colegas, os doutores Båth, Ambraseys, Person, Kanamori e outros que concordam com o que o senhor já nos escreveu. Mas a deturpação que a Sociedade Torre de Vigia faz de suas declarações a eles torna a sua opinião significativa num sentido especial. Se o senhor puder nos ajudar mais uma vez, ficaremos contentes em lhe enviar uma cópia de nosso livro quando for publicado em Atlanta, Geórgia, mais tarde neste ano,
Atenciosamente,
Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
TRADUÇÃO:
16 de junho de 1986
Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Caixa Postal 14037
S-40020 Gotemburgo
SUÉCIA
Prezados Senhores:
Encontrarão em anexo uma cópia de minha carta para a Sociedade Torre de Vigia. Apesar de o primeiro parágrafo estar de alguma maneira incompleto (a principal razão por que eu penso que a atividade sísmica é constante está abreviado para “A principal razão”), é claro que eles citaram a parte que quiseram, eliminando minha mensagem principal.
Atenciosamente,
Keiiti Aki
Carta de N. N. Ambraseys
Uma vez que a área do Mediterrâneo é uma daquelas onde ocorrem mais terremotos no mundo, a carta seguinte do professor N. N. Ambraseys, da Faculdade Imperial de Ciência e Tecnologia de Londres, Inglaterra, abordando a sismicidade naquela área, é de especial interesse:
TRADUÇÃO:
9 de agosto de 1985
Prezados Srs. Herbst e Jonsson,
Obrigado por vossa carta de 5 de agosto. Minha resposta geral à vossa inquirição é que muitas das respostas podem ser encontradas com algum detalhe no livro que escrevi com C. Melville, intitulado “Uma história dos terremotos persas”, Editora da Universidade de Cambridge, 1982.
Com toda a certeza, não houve qualquer aumento na atividade sísmica do Mediterrâneo durante este século. Muito pelo contrário, no Mediterrâneo Oriental a atividade deste século foi anormalmente baixa em comparação com a dos séculos 10 a 12 e 18. Não acho que tenhamos perdido algum acontecimento importante naquela região durante os últimos 24 séculos.
Estou anexando algumas publicações que os senhores poderão achar de certa ajuda na preparação do vosso livro,
Atenciosamente,
N. N. Ambraseys
Carta de Waverly Person
Em seu número de 22 de setembro de 1984, página 29, sob o cabeçalho “Aumento de Terremotos ‘Significativos’”, a revista Despertai!, das Testemunhas de Jeová fez referência ao geofísico Waverly Person da Pesquisa Geológica dos Estados Unidos. Esta é a resposta dada à nossa inquirição pelo Dr. Person, que é coordenador do Serviço Nacional de Informação Sísmica, no Colorado:
TRADUÇÃO:
8 de outubro de 1985
Dr. Carl Olof Jonsson
Caixa Postal 14037
S-400 20
Gotemburgo, Suécia
Caro Dr. Jonsson:
Sua carta para o Dr. Frank Press, sobre um aumento significativo dos grandes terremotos ao longo deste século foi-me submetida para uma resposta.
Não tenho certeza sobre qual é sua classificação de grandes terremotos, mas para nós grandes terremotos são aqueles que têm magnitudes de 8,0 ou superiores.
Nossos registros não mostram qualquer aumento significativo nos grandes terremotos. Em anexo está uma lista de todos os grandes terremotos de magnitude 8,0 ou superior que temos nos arquivos.
Se pudermos ajudar em mais alguma coisa, por favor contate-nos novamente.
Atenciosamente,
Waverly J. Person
Diretor, Serviço Nacional de Informações Sobre Terremotos
Anexos
Juntamente com esta carta, o Dr. Person enviou uma lista completa dos “grandes terremotos”, ou seja, “todos os terremotos com magnitude 8,0 ou superior,” que eles tinham nos arquivos. Esta lista engloba todos os “grandes terremotos” de 1897 em diante, mais sete terremotos dispersos anteriores àquela data.1 Na realidade a lista mostra um número gradualmente decrescente de grandes terremotos durante o século 20, com o número proporcionalmente maior durante o período anterior a 1914. Isto está de acordo com as conclusões de outros sismólogos proeminentes, conforme é mostrado em nosso capítulo sobre terremotos.2
A lista fornecida pelo Dr. Person está resumida abaixo em intervalos de 17 anos:
Período de 17 anos | N.º de terremotos grandes | Média anual |
1897-1913 1914-1930 1931-1947 1948-1964 1965-1981 | 49 28 28 14 10 | 2,9 1,6 1,6 0,8 0,6 |
De 1982 a 1985, inclusive, só ocorreu um “grande” terremoto, aquele no México em 19 de setembro de 1985. É claro que esta diminuição gradual do número de terremotos grandes no século 20, representa simplesmente uma variação normal quando vista numa perspectiva de longo prazo. A tendência pode, portanto, mudar rapidamente para uma tendência oposta a qualquer momento, de acordo com o ciclo natural dos tremores de terra.
Carta de Seweryn J. Duda
Uma vez que a publicação da Igreja Mundial de Deus intitulada, As Boas Novas do Mundo de Amanhã (em inglês) fez uma afirmação espantosa segundo a qual de 1901 a 1944 “apenas três terremotos tiveram magnitude 7 ou superior,” escreveu-se uma carta ao Dr. Seweryn J. Duda, professor de Geofísica na Universidade de Hamburgo, pedindo seus comentários. A resposta do Professor Duda é apresentada aqui:
TRADUÇÃO:
Sr. Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Caixa Postal 14037
S-400 20 Gotemburgo
Suécia
7 de julho de 1986
Prezado Sr. Wolfgang Herbst,
prezado Sr. Carl Olof Jonsson,
Esta é com referência à carta do Sr. Wolfgang Herbst, datada de 7 de junho de 1986. Vossas perguntas podem ser respondidas como segue:
ad 1) No período de 1901-1944 ocorreram por todo o mundo cerca de 1000 (mil) terremotos com magnitude 7 ou superior.
ad 2) Não se justifica a afirmação segundo a qual os grandes terremotos aumentaram dramaticamente dos anos cinqüenta até o presente. Há indicações que apontam para um decréscimo constante da atividade sísmica ao redor do mundo – se expressa em termos de terremotos com magnitude 7 ou superior – no período que vai do início do século 20 até agora. Seria, contudo, especulativo projetar o padrão para o futuro, seja em que direção for.
ad 3) Não há indicações de que o século vinte tenha sido radicalmente diferente dos séculos anteriores, no que diz respeito à atividade sísmica global.
O que é diferente, porém, é a maior densidade populacional (em áreas propensas à ocorrência de terremotos, e conseqüentemente de maior potencial de perda de vidas humanas em caso de um terremoto, compensado de modo geral, todavia, por um melhor padrão de construção de residências.) Também, a melhor comunicação aumenta o conhecimento das calamidades envolvidas em caso de desastre natural.
Agradecendo-lhe por ter pedido minha opinião sobre o problema acima, subscrevo-me,
Cordialmente,
Seweryn J. Duda
Professor de Geofísica
Conclusão
Todas estas cartas escritas por renomadas autoridades em terremotos estão, portanto, em forte contraste com as afirmações extremas, muitas vezes irresponsáveis, que são feitas por vários proclamadores do fim dos tempos em nossos dias.
Notas
1 – A escolha de 1897 como o ponto de partida não é acidental. Foi na década de 1890 que sismógrafos capazes de registrar terremotos longínquos começaram a ser usados. Portanto um registro razoavelmente completo dos grandes terremotos de todas as partes do mundo só está disponível de 1897 em diante.
2 – O sismólogo Seweryn J. Duda, em seu estudo aprofundado do período 1897-1964, conclui: “Portanto, a libertação anual de energia sísmica no mundo mostra uma clara tendência de decréscimo no intervalo 1897-1964 … A libertação anual de energia sísmica tem diminuído de forma significativa nos 68 anos desde 1897 tanto à volta do Pacífico como nas outras regiões.” (Física Tectônica, Vol. 2, 1965, p. 424 em inglês) Destes 68 anos, os de 1905-1907 tiveram o maior número de terremotos. O geólogo Haroun Tazieff explica: “O período 1905-1907 foi o mais conturbado nos tempos modernos, um período marcado por onze abalos de magnitude 8 ou mais; e só durante o ano 1906 o mundo suportou estes terremotos sucessivos: Honshu, Japão, magnitude 8 …; fronteira da Colômbia com o Equador, magnitude 8.6; São Francisco, 8.2; Aleutas, 8; Valparaíso no Chile, 8.4; Nova Guiné, 8.1; Sinkiang, China, magnitude 8. Segundo Gutenberg e Richter a energia libertada por terremotos em 1906 foi cinco vezes maior do que a média do século vinte, baseada nos anos 1904-1952.” (Quando a Terra Treme, Londres 1964, p. 134 em inglês)