A “Vida Após a Morte” no Conceito Bíblico – Parte 1

INTRODUÇÃO

Cum diebus nostris, quod dolenter referimus, zizaniae seminator, antiquus humani generis hostis, nonnullos perniciosissimos errores, a fidelibus semper explosos, in agro Domini superseminare et augere sit ausus, de natura praesertim animae rationalis, quod videlicet mortalis sit, aut unica in cunctis hominibus, et nonnulli temere philosophantes, secundum saltem philosophiam verum id esse asseverent: contra huiusmodi pestem opportuna remedia adhibere cupientes, hoc sacro approbante Concilio damnamus et reprobamus omnes asserentes animam intellectivam mortalem esse, aut unicam in cunctis hominibus, et haec in dubium vertentes, cum illa non solum vere per se et essentialiter humani corporis forma exsistat, sicut in canone felicis recordationis Clementis papae V praedecessoris Nostri in (generali) Viennensi Concilio edito continetur, verum et immortalis, et pro corporum quibus infunditur multitudine singulariter multiplicabilis, et multiplicata, et multiplicanda sit.
Cumque verum vero minime contradicat, omnem assertionem veritati illuminatae fidei contrariam omnino falsam esse definimus; et, ut aliter dogmatizare non liceat, districtius inhibemus: omnesque huiusmodi erroris assertionibus inhaerentes veluti damnatissimas haereses seminantes per omnia ut detestabiles et abominabiles haereticos et infideles, catholicam fidem labefactantes, vitandos et puniendos fore decernimus.
Visto que em nossos dias – e dolorosamente trazemos isso à baila – o semeador do joio, o antigo inimigo da raça humana, se atreveu a disseminar e espalhar no campo do Senhor uma série de erros perniciosos, sempre rejeitados pelos fiéis, especialmente sobre a natureza da alma racional, a saber, que ela é mortal, ou uma em todos os homens, e alguns, filosofando precipitadamente, afirmaram que isto é verdade, pelo menos de acordo com a filosofia, em nosso desejo de oferecer remédios adequados contra uma praga desse tipo, com a aprovação deste santo Concílio, condenamos e reprovamos todos os que afirmam que a alma inteligente é mortal, ou que ela é uma em todos os homens, e os que lançarem dúvidas sobre estas verdades, visto que ela [a alma] não só é, em si mesma, verdadeira e essencialmente a forma do corpo humano, conforme foi definido no cânon do Papa Clemente V nosso predecessor de feliz memória, publicado no Concílio (geral) de Viena, como também é múltipla de acordo com a multiplicidade de corpos em que ela é infundida, multiplicada, e para ser multiplicada.
E visto que a verdade nunca contradiz a verdade, declaramos toda afirmação contrária à verdade da iluminada fé como completamente falsa; e, que não se permita dogmatizar em contrário, proibimos isso estritamente, e decretamos que todos os que aderirem a erros desse tipo sejam banidos e punidos como hereges e infiéis detestáveis ​​e abomináveis ​​que disseminam as mais condenáveis heresias, que enfraquecem a fé católica.
(Trecho da bula papal Apostolici Regiminis, emitida por Leão X em 19 de dezembro de 1513, condenando a “heresia” dos que rejeitavam o conceito da imortalidade natural da alma humana. Grifos acrescentados.)

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Na longa história do Cristianismo, conceitos tais como “sobrevivência consciente após a morte” e “tormentos no inferno” sempre tiveram seus contestadores, mas já vão longe os tempos em que uma autoridade eclesiástica podia se expressar impunemente da maneira acima. Isso não quer dizer, porém, que as pessoas que rejeitam tais conceitos hoje em dia estejam inteiramente livres de julgamentos adversos. Embora o “Tribunal do Santo Ofício” (Inquisição) tenha fechado as portas há séculos, e ninguém mais possa proibir outros de questionar essas ‘verdades da iluminada fé’, decretando a condenação para eles, ainda há quem direcione ataques contra esses indivíduos, como “último recurso” para depreciar as evidências bíblicas que eles apresentam contra tais ensinos.

Todavia, o apelo a invectivas e até a ameaças como a acima jamais conseguiu silenciar os eruditos cristãos que examinaram de maneira imparcial o que as Escrituras têm a dizer sobre essa questão. Pelo contrário, ao longo dos séculos eles se pronunciaram de maneira nada incerta em favor das evidências que encontraram, ainda que estas estejam em conflito direto com a chamada “ortodoxia”. A sequência de citações de obras eruditas (na ordem do ano de publicação da obra, com grifos acrescentados) que passará a ser apresentada neste artigo e nos seguintes constitui uma amostra disso.

NOTAS PRÉVIAS

1 – O fato de este artigo apresentar pronunciamentos de eruditos dos últimos 5 séculos, não quer dizer que não tenha havido defensores do conceito condicionalista antes do século 15. A imprensa foi inventada pelo alemão Johannes Gutemberg em 1455 e o domínio da Igreja Católica Romana na Europa só foi seriamente abalado depois disso. Não houve como impedir a publicação e a distribuição de livros ou livretos sobre a questão da imortalidade humana, da autoria de expositores cristãos (não alinhados com a doutrina “ortodoxa” da Igreja). Considerável número destas obras está preservado atualmente em formato digitalizado. O advento da imprensa explica porque é mais fácil encontrar pronunciamentos de eruditos cristãos posteriores ao século 15. O grande aumento ocorrido a partir do século 19 deve-se ao surgimento das Sociedades Bíblicas, que prestaram um inestimável serviço em prol da difusão das Escrituras em centenas de idiomas. (Aos leitores que tiverem interesse num exame abrangente dos conceitos defendidos por apologistas cristãos que viveram nos 3 séculos iniciais da Era Cristã (antes do surgimento da Igreja Católica, como instituição), recomendamos a obra A Doutrina da Imortalidade na Igreja Primitiva, disponível na seção de Publicações do site. O autor do livro concedeu permissão para distribuição gratuita da versão em português.).

2 – A razão de muitos eruditos fazerem referência aos gregos como a fonte da crença na “imortalidade da alma” e outros apontarem os egípcios como fonte também é compreensível. A história dos egípcios (incluindo suas crenças) só se tornou conhecida depois da Revolução Francesa (a escrita hieroglífica foi decifrada pelo francês Jean-François Champollion em 1822, o que descortinou o campo da Egiptologia). A crença egípcia na “imortalidade da alma” é bem mais antiga, conforme também foi atestado por Heródoto. (Aos leitores que tiverem interesse em mais detalhes sobre a história deste conceito, indicamos o artigo O Desenvolvimento do Conceito da “Imortalidade da Alma”.).

PRONUNCIAMENTOS DOS ERUDITOS

Christliche Geseng Lateinisch Und Deutsch, Sum Begrebnis [Canções Cristãs em Latim e Alemão, para Uso em Funerais], Wittenberg, 1542, em Works of Luther [Obras de Lutero], Vol. 6, 1932, págs. 287, 288. (A capa acima é de uma edição de 1957):

S. Paulo escreve aos de Tessalônica [1 Tessalonicenses 4:13], para que não se aflijam acerca dos mortos como os outros que não têm esperança, mas que se consolem com a Palavra de Deus, como aqueles que possuem esperança segura da vida eterna e da ressurreição dos mortos. Pois não admira que os que não têm esperança se aflijam; nem podem eles ser culpados por isso. Uma vez que estão além do limite da fé em Cristo, eles devem apreciar esta vida temporal apenas e amá-la e não estar dispostos a perdê-la, e reservar para si mesmos, após esta vida, a morte eterna e a ira de Deus no inferno, e ir para lá contra a vontade. Mas nós, cristãos, que fomos redimidos de tudo isso pelo sangue precioso do Filho de Deus, devemos treinar-nos e acostumar-nos, com fé, a desprezar a morte e a considerá-la como um profundo, intenso e doce sono; a considerar o esquife como nada mais que o seio de nosso Senhor Jesus, ou paraíso, a sepultura como nada mais que um confortável leito de sossego ou descanso. Como realmente ele é, aos olhos de Deus, pois ele testifica, João 11:11: “Lázaro o nosso amigo dorme”; Mateus 9:24: “a menina não está morta, mas dorme.” Do mesmo modo, também S. Paulo em 1 Cor 15, remove da vista todos os aspectos odiosos da morte no que se refere ao nosso corpo mortal, e não apresenta nada mais que aspectos encantadores e jubilosos da vida prometida. Lá ele diz: É semeado em corrupção e será levantado em incorrupção; é semeado em desonra (isto é, numa forma repugnante e vil) e será levantado em glória; é semeado em fraqueza e será levantado em poder; é semeado em corpo natural e será levantado um corpo espiritual.

Concordemente, banimos as abominações pestilentas de nossas igrejas, tais como vigílias, missas para os mortos, procissões, purgatório e todos os outros esforços vãos e hocus pocus em benefício dos mortos. Abolimos tudo isso e limpamos completamente e não queremos mais que nossas igrejas sejam casas de lamentações e lugares de luto, e sim koemiteria, como os antigos pais costumavam chamá-los, isto é dormitórios e lugares de descanso. Nem vamos cantar hinos funerários de canções dolorosas sobre nossos mortos e perto das sepulturas, e sim hinos reconfortantes, do perdão dos pecados, de descanso, de sono, de vida e da ressurreição dos cristãos que morreram, para que nossa fé possa ser fortalecida e as pessoas sejam movidas a uma devoção apropriada.

Dr. Martin Luthers Sämmtliche Schriften – Erster Teil – Auslegung des ersten Buches Mose, Erster Band [Obras Completas do Dr. Martinho Lutero – Parte 1 – Comentário a Gênesis, Volume 1], Johann Georg Walch, Concordia Publishing House, St. Louis, Missouri, EUA, colunas 1759, 1760:

Assim, depois da morte a alma vai para o seu quarto e para sua paz, e enquanto está dormindo ela não percebe seu sono, e Deus preserva realmente a alma a ser despertada. Deus é capaz de despertar Elias, Moisés e outros, e assim controlá-los, de modo que eles viverão. Mas, como pode ser isso? Não sabemos; nós nos satisfazemos com o exemplo do sono físico, e com o que Deus diz: é um sono, um descanso e uma paz. Aquele que dorme, naturalmente não sabe nada do que acontece na casa de seu vizinho; e, porém, ele ainda está vivo, muito embora, ao contrário da natureza da vida, ele esteja inconsciente em seu sono. Exatamente o mesmo vai acontecer também nessa vida, porém de outro modo que é melhor.

(O conjunto das “Obras Completas” foi publicado originalmente na Alemanha, entre 1740 e 1753.).

The Complete Works of Martin Luther: Volume 5, Sermons 92-114 [Obras Completas de Martinho Lutero: Volume 5, Sermões 92-114], Delmarva Publications, EUA, 2014:

Em segundo lugar, você não deve calcular quão distantes a vida e a morte estão, ou quantos anos podem passar enquanto o corpo jaz no túmulo e como um após outro morre, e sim esforçar-se para compreender o pensamento de Cristo com referência às condições além deste tempo e hora. Pois ele não calcula o tempo por dezenas, centenas ou milhares de anos, nem mede os anos consecutivamente, um antes, o outro depois, como fazemos nesta vida; mas ele alcança tudo em um momento, o começo, meio e fim de toda a raça humana e de todos os tempos. E o que consideramos e medimos de acordo com o tempo, como por uma longa régua, tudo isso que ele vê em um olhar, e, portanto, tanto a morte como a vida do último, bem como do primeiro homem, são para ele como apenas um instante de tempo.

Assim, devemos aprender a encarar nossa morte na perspectiva correta, de forma que não precisemos ficar alarmados por causa dela, como o descrente faz; pois em Cristo ela não é realmente morte, e sim um bom, doce e breve sono, que nos traz libertação deste vale de lágrimas, do pecado e do temor e da extremidade da verdadeira morte e de todos os infortúnios desta vida, e deveremos estar seguros e despreocupados, descansando doce e suavemente por um breve momento, como num sofá, até o momento em que ele nos chamará e nos despertará juntamente com todos seus queridos filhos para sua eterna glória e gozo. Pois já que nós a chamamos de sono, sabemos que não permaneceremos nela, mas seremos novamente acordados e vivificados, e que o período durante o qual dormimos não parecerá mais longo do que se tivéssemos apenas acabado de ir dormir. Assim, devemos censurar-nos por estarmos surpresos ou alarmados com esse sono na hora da morte, e de repente sairmos vivos da cova e da decomposição, e inteiramente bem, novos, com uma pura, limpa e glorificada vida, encontrarmos nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nas nuvens…

Em todo lugar, as Escrituras fornecem essa consolação, que fala da morte dos santos, como se eles tivessem ido dormir e se ajuntaram aos seus pais, ou seja, venceram a morte por meio de sua fé e conforto em Cristo, e passaram a aguardar a ressurreição, junto com os santos que os precederam na morte. Desta forma, os primeiros cristãos (sem dúvida, a partir dos apóstolos ou seus discípulos) seguiam o costume de trazer seus mortos para o sepultamento honroso e, sempre que possível, enterravam-nos em lugares separados, que eles chamavam, não de locais de enterro ou sepultura, e sim de cemitérios, câmaras de dormir, dormitórios, casas de dormir, nomes que permaneceram em uso até nosso tempo; e nós, os alemães dos tempos antigos, chamamos esses lugares de enterro de acres de Deus, como São Paulo, em 1 Coríntios 15:44, diz: “É semeado um corpo natural;” pois os que agora chamamos de igrejas não eram a princípio lugares de enterro. Este é o ensinamento e o conforto desta lição evangélica.

– Twenty-Fourth Sunday After Trinity. Second Sermon (Matthew 9:18-26) [Vigésimo-Quarto Domingo Depois da Trindade. Segundo Sermão (Mateus 9:18-26]).

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Luther’s Works, Vol. 48 – Letters I [Obras de Lutero, Vol. 48, Cartas I] – Cartas enviadas de abril de 1507 a março de 1522 (Imagens: Capa da edição de 1963 de Luther’s Works, Fortress Press, EUA e Luther’s Works, CD ROM, Fortress Press e Concordia Publishing House, EUA, 2001), págs. 360, 361:

Sobre suas “almas”, não tenho suficiente [conhecimento do problema] para responder. Estou inclinado a concordar com sua opinião de que as almas dos justos simplesmente dormem e que elas não sabem onde estão até o Dia do JuízoSou levado a esta opinião pela palavra das Escrituras. “Eles dormem com seus pais”. Os mortos que foram levantados por Cristo e pelos apóstolos testificam este fato, já que eles estavam como se tivessem acabado de ser acordados do sono e não sabiam onde estiveram. A isto pode se acrescentar as experiências extáticas de muitos santos. Não tenho nada com o que eu poderia derrubar esta opinião. Mas não me atrevo a afirmar que isto seja verdade no caso de todas as almas em geral, por causa do êxtase de Paulo, e a ascensão de Elias e a de Moisés (que certamente não apareceram como fantasmas no monte Tabor).

Quem sabe como Deus lida com as almas que partiram? Não poderia [Deus] muito bem fazê-las dormir e acordar (ou [fazer com que durmam] pelo tempo que Ele quiser), assim como ele subjuga com o sono os que vivem na carne? E novamente, aquele trecho de Lucas 16 [:23 em diante], referente a Abraão e Lázaro, embora não force a premissa de uma universal [capacidade de sentir da parte dos falecidos], ainda assim atribui uma capacidade de sentir a Abraão e Lázaro, e é difícil fazer com que este trecho se refira ao Dia do Julgamento.

Eu penso o mesmo sobre as almas condenadas; algumas podem sentir as punições logo após a morte, mas outras podem ser poupadas das [punições] até aquele Dia [do Juízo]. Pois o folião [nessa parábola] confessa que está torturado; e o Salmo diz, “O mal alcançará o homem injusto quando ele perecer”. Talvez você também associe isso ao Dia do Juízo ou à agonia passageira da morte física. Então minha opinião seria que isto é incerto. É mais provável, porém, que com poucas exceções, todas [as almas que partiram] dormem sem ter qualquer capacidade de sentir. Considere agora quem eram os “espíritos em prisão” a quem Cristo pregou, conforme Pedro escreve: Não poderiam eles também dormir até o Dia [do Juízo]? E ainda quando Judas diz acerca dos sodomitas que eles sofrem a dor do fogo eterno ele está falando de um [fogo] atual.

Sobre o purgatório, eu tenho a seguinte opinião: não acho, como os sofistas sonham, que ele seja um lugar específico, nem acho que todos os que permanecem fora do céu ou do inferno estejam no purgatório.

(Quem poderia afirmar isso, uma vez que [as almas que partiram] poderiam dormir suspensas entre o céu, a terra, o inferno, o purgatório e tudo mais, assim como poderia acontecer com os vivos, quando eles estão em um sono profundo?) Eu creio que o purgatório é esse castigo que eles chamam de antecipação do inferno e sob o qual Cristo, Moisés, Abraão, Davi, Jacó, Jó, Ezequias e muitos outros padeceram. Este castigo é semelhante ao inferno, mas restrito em termos de tempo; é purgatório para mim, independentemente de essa punição ocorrer emocionalmente ou fisicamente, já que atribuímos tal castigo ao purgatório. No entanto, embora seja declarado que este castigo ocorre fisicamente, e que isso é certo, também não se pode negar que [esse castigo] ocorre emocionalmente, embora isso não possa ser comprovado. Conseqüentemente você não está, de modo algum, errado, no que quer que possa crer aqui. Mesmo que você negue o purgatório, você não é herege, já que não negou que o castigo [do purgatório] pode ser sentido física e emocionalmente, mas você só nega que o purgatório seja um lugar definido e que foi provado que tal punição é sentida emocionalmente. Isso eu também nego. Pois os que sentem esse castigo físico não estão mais no corpo, mas mortos, tanto quanto se refira à própria vida [e aos sentidos]. E assim não é possível que você negue que este castigo pode ser sentido dessa maneira, isto é emocionalmente. É assim que eu encaro isso. Se você tiver algo mais a dizer, informe-me.

(Trecho da carta enviada a Nicholas von Amsdorf em 13 de janeiro de 1522).

Assertio Omnium Articulorum M. Lutheri per Bullam Leonis X. Novissimam Damnatorum (Declaração de todos os artigos de M. Lutero condenados pela mais recente Bula de Leão X), Weimar edition of Luther’s Works [Edição de Weimar das Obras de Lutero], Vol. 7, trecho do Artigo 27, págs. 131, 132:

Permitto tamen, quod Papa condat articulos suae fidei et suis fidelibus, quales sunt, panem et vinum transsubstantiari in sacramento, Essentiam dei nec generare nec generari, Animam esse formam substantialem corporis humani, Se esse Imperatorem mundi et regem coeli et deum terrenum, Animam esse immortalen, Et omnia illa infinita portenta in Romano sterquilinio Decretorum, ut, qualis est eius fides, tale sit Euangelium, tales et fideles, talis et Ecclesia, et habeant similem labra lactucam et dignum patella sit operculum.Admito também que o Papa estabeleça artigos de fé para si mesmo e para seus próprios fiéis, tais como, que o pão e o vinho são transubstanciados no sacramento, que a essência de Deus não gera nem é gerado, que a alma é a forma substancial do corpo humano, que ele [papa] é o imperador do mundo e rei do céu, e deus na terra, que a alma é imortal, e todas estas monstruosidades sem fim no monturo dos decretos romanos, para que, assim como sua fé é, assim seja seu evangelho, bem como os fiéis e a igreja dele, e a boca tenha alimento apropriado e a tampa seja digna da panela.

(Assertio foi uma exposição ponto por ponto da posição dele, escrita em 1º de dezembro de 1520, em resposta a pedidos de uma abordagem mais completa do que a feita em seu Adversus execrabilum Antichristi Bullam, and Wider die Bulle des Endchrists).

A Short Historical View of the Controversy concerning an Intermediate State and the Separate Existence of the Soul, Between Death and the General Resurrection, deduced from the Beginning of the Protestant Reformation, to the Present Time [Um Breve Exame Histórico da Controvérsia referente a um Estado Intermediário e a Existência Separada da Alma entre a Morte e a Ressurreição Geral, inferido do Início da Reforma Protestante até o Momento Atual], Francis Blackburne, Londres, Inglaterra, 1765, págs. 14, 15. (A capa acima é de uma edição de 2010):

O cardeal Du Perron [1556-1618], supõe que Lutero negou a imortalidade da alma, por conta do efeito que a doutrina contrária teria sobre a prática da invocação dos santos. Mas é certo que o próprio Lutero ainda não tinha deixado de lado a prática da invocação na época em que escreveu essa defesa de seus artigos.

Depois disso Lutero realmente adotou a doutrina do sono da alma, numa base bíblica, e daí fez uso dela como uma refutação do purgatório e da adoração de santos, e continuou nessa crença até o último momento da vida dele.

Eu sei que isto tem sido controvertido até mesmo por alguns dos próprios seguidores dele. Por muitas razões a questão é merecedora de debate; e como a discussão disso quebraria a sequência de nossa presente dissertação, vou reservar o que eu tenho a dizer sobre o assunto para um Apêndice; observando que Lutero, em seu comentário sobre o Eclesiastes, que foi publicado no ano de 1532 [citado a seguir], estava clara e indubitavelmente do lado daqueles que defendem o sono da alma.”

O trecho referido por Blackburne encontra-se neste livro:

An Exposition of Solomon’s Book, Called Ecclesiastes or the Preacher [Uma Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes ou O Pregador], 1532 (Traduzido para o inglês em 1573. A capa acima é de uma edição de 2010.)

“Salomão conclui que os mortos estão dormindo, e nada sentem, em absoluto. Pois os mortos ali jazem, sem contar os dias nem os anos, mas quando forem despertados, terão a impressão de ter dormido apenas um minuto”.

– fl. 151v.

Teria Lutero mudado de ideia posteriormente? A esta pergunta Francis Blackburne responde com um incondicional “Não”:

Será que Lutero em algum momento mudou de ideia, para retratar-se e adotar a doutrina contrária? Nem o nosso apologista diz isso, embora ele não estaria indisposto a que compreendêssemos dessa maneira. Ele só quer dizer que ele [Lutero] fez certas ressalvas em suas opiniões, cujo significado teremos ocasião para considerar aqui. Nesse meio tempo, é praticamente certo que ele manteve a ideia do sono da alma por dez longos anos sem essas ressalvas, ou seja, do ano de 1522, a data de sua carta a Amsdorf, até o ano de 1532, quando ele publicou o seu comentário sobre Eclesiastes. E a reflexão sobre a morte de João, eleitor da Saxônia, que morreu de apoplexia logo após seu retorno da perseguição naquele mesmo ano, mostrou que ele ainda não estava nada disposto a se retratar dela.

Daí, segue-se a ponderada conclusão de Blackburne, depois de ter pesquisado meticulosamente toda a evidência. Ao discutir a opinião final de Lutero, expressa no próprio dia da morte dele, Francis Blackburne diz:

Lutero considera aqui os que conhecerão seus amigos nessa vida eterna, como estando na mesma condição em que Adão estava quando Eva lhe foi apresentada pela primeira vez, ou seja, recém despertado de um sono profundo. A renovação por Cristo não pode significar qualquer coisa além da ressurreição dos mortos; e estas duas circunstâncias, consideradas em conjunto, não deixam qualquer margem para um estado intermediário consciente. Uma prova clara de que Lutero jamais se afastou dos sentimentos que havia expressado a Amsdorf em 1522, mas manteve até o momento de sua morte a mesma ideia uniforme de uma suspensão total do pensamento e da consciência durante o intervalo entre a morte e a ressurreição.

– págs. 114, 124, 125.

The Christian Hope [A Esperança Cristã], Taito Almar Kantonen, United Lutheran Church in America, Filadélfia, EUA, 1954, pág. 37:

Lutero, com a maior ênfase na ressurreição, preferiu concentrar-se na metáfora bíblica do sono. ‘Pois, do mesmo modo como aquele que adormece e chega à manhã inesperadamente quando acorda, sem saber o que lhe aconteceu, assim também nós levantaremos no último dia, sem saber como entramos e passamos pela morte.’ ‘Vamos dormir, até que Ele venha e bata no pequeno túmulo e diga, Doutor Martinho, levante-se! Então eu levantarei num momento e serei feliz com Ele para sempre.’

Veja também “Auslegung des ersten Buches Mose” (1544), em Schriften, vol. 1, col. 1756; “Kirchen-Postille” (1528), em Schriften, vol. 11, col. 1143; Schriften, vol. 2, col. 1069; Deutsche Schriften (Erlangen ed.), vol. 11, pág. 142ff.; vol. 41 (1525), pág. 373.

An Answer to Sir Thomas More’s Dialogue [Uma Resposta ao Diálogo de Sir Thomas More]. Publicado originalmente em 1531 e reimpresso por The Parker Society em 1850, Editora da Universidade de Cambridge (A capa acima é de uma edição de 2010):

“E quando ele [Thomas More] prova que os santos já estão em glória com Cristo no céu, dizendo: ‘Se Deus é o seu Deus, eles estão no céu, pois ele não é Deus de mortos’; aí ele rouba o argumento de Cristocom o qual ele prova a ressurreição: que Abraão e todos os santos devem levantar novamente, e não que suas almas estavam no céu; cuja doutrina ainda não estava no mundo. E com essa doutrina ele remove completamente a ressurreição, e torna sem efeito o argumento de Cristo. Pois quando Cristo declara a Escritura, de que Deus é Deus de Abraão, e acrescenta que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, e assim prova que Abraão deve levantar novamente; eu nego o argumento de Cristo, e digo junto com o Sr. More que Abraão ainda está vivo, não por causa da ressurreição, e sim porque a alma dele está no céu. E da mesma maneira, o argumento de Paulo aos Coríntios não tem qualquer valor: pois quando ele diz, ‘Se não há ressurreição, somos os mais miseráveis de todos os homens; aqui não temos prazer algum, mas tristeza, ansiedade e opressão; e, portanto, se não levantarmos novamente, todo o nosso sofrimento é em vão’: Não, Paulo, tu és ignorante; vá ao Mestre More, e aprenda de outro jeito. Não somos tão miseráveis, embora não ressuscitaremos; pois nossas almas vão para o céu assim que estivermos mortos, e estão lá em tão grande gozo como Cristo que ressuscitou.’ E eu fico admirado que Paulo não tenha consolado os tessalonicenses com essa doutrina, se ele soubesse dela, de que as almas dos seus mortos estavam em gozo, como ele fez com a ressurreição, que suas almas se levantariam novamente. Se as almas estão no céu, numa glória tão grande quanto os anjos, segundo sua doutrina, mostrai-me para que propósito serviria a ressurreição?”

– Livro 2, Capítulo 8, pág. 118.

More: “Item, que todas as almas repousam e dormem até o dia do julgamento.”

Tyndale: E vós, ao colocá-las no céu, no inferno, e purgatório, destruís os argumentos por meio dos quais Cristo e Paulo provam a ressurreição. O que Deus faz com elas, isso saberemos quando formos até elas. A verdadeira fé apresenta a ressurreição, para a qual somos incentivados a olhar o tempo todo. Os filósofos pagãos, negando isso, disseram que as almas já vivem. E o papa juntou a doutrina espiritual de Cristo e a doutrina carnal de filósofos; coisas tão contrárias que não podem concordar, não mais do que o espírito e a carne se harmonizam num homem cristão. E visto que o papa de mente carnal consentiu com a doutrina pagã, desta forma ele corrompeu as Escrituras para estabelecê-la. Moisés disse em Deut. “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei.” Portanto, senhor, se amamos as leis de Deus, e vamos nos ocupar em cumpri-las , e vamos, por outro lado, ser mansos, e deixar Deus apenas com seus segredos, e aceitar que ele é mais sábio do que nós, não deveríamos fazer algum artigo da fé disso ou daquilo. Novamente, se as almas estão no céu, dizei-me, por que elas não estão tão bem como os anjos? E qual é, então, a finalidade da ressurreição?

– Livro 4, Capítulo 2, págs. 180, 181.

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William Tyndale, New Testament [Novo Testamento], 1534, (editado por David Daniel, 1989), Prefácio, pág. 15. (A capa acima é de uma edição de 1995). Citado também em Documents of the English Reformation – 1526-1701 [Documentos da Reforma Inglesa – 1526-1701], Gerald Bray, James Clarke & Co., Cambridge, 1994, pág. 19:

E protesto perante Deus e nosso Salvador Cristo, e todos os que creem nele, que eu mantenho sobre as almas que partiram tanto quanto possa ser provado manifesta e abertamente pelas Escrituras, e não creio que as almas que partiram na fé em Cristo e no amor à lei de Deus estejam em pior situação do que a alma de Cristo estava do momento em que ele entregou seu espírito nas mãos de seu Pai, até a ressurreição de seu corpo em glória e imortalidade. Todavia, confesso abertamente que não estou convencido de que elas já estejam na plena glória em que Cristo está, ou os anjos eleitos de Deus estão. Tampouco isso é um artigo de minha fé, pois, se fosse assim, eu entenderia a pregação da ressurreição da carne como nada mais que uma coisa vã. Não obstante, ainda estou disposto a acreditar, se isso puder ser provado claramente pelas Escrituras. E tenho desejado que George Joye pegue textos claros que pareçam servir a esse propósito, como este: Hoje estarás comigo no Paraíso (Luc. 23:43), para que ele possa fazer o que puder com eles, e ir em frente com seus sonhos em torno desta palavra ressurreição. Pois eu não recebo nas Escrituras a interpretação particular da mente de algum homem, sem que o claro testemunho de alguma Escritura confirme isso.

The Bloody Theater or Martyrs Mirror of the Defenseless Christians who baptized only upon confession of faith, and who suffered and died for the testimony of Jesus, their Saviour, from the time of Christ to the year A.D. 1660 [O Teatro Sangrento ou Espelho dos Mártires dos cristãos indefesos que se batizaram apenas pela confissão de fé, e que sofreram e morreram por causa do testemunho de Jesus, seu Salvador, desde o tempo de Cristo até o ano 1660 A.D.]. Thieleman J. van Braght. Republicado por David Miller, Lancaster, Pensilvânia, EUA, 1837:

Em suma, amados irmãos e irmãs, esta carta será um adeus a todos vós que verdadeiramente amam e seguem a Deus (outros que não conheço); e também um testemunho do meu amor que Deus deu no meu coração por vós, para o bem de vossa salvação. Eu realmente desejava, e creio que teria sido proveitoso, se eu tivesse trabalhado um pouco mais na obra do Senhor; mas é melhor para mim, ser libertado, e aguardar com Cristo a esperança dos abençoados.

Um pouco adiante em sua carta, Sattler deixa claro qual era exatamente essa “esperança” que ele tinha em mente:

…Finalmente, amados irmãos e irmãs, santificai-vos para Ele que vos tornou santos, e ouvi o que Esdras diz: “Olhai para o seu Pastor; ele vos dará descanso eterno; pois ele está próximo, que virá no fim do mundo. Estejam prontos para a recompensa do reino… Fugi da sombra deste mundo… Levantem-se e fiquem de pé, contemplem o número dos que são selados no banquete do Senhor; os que se apartaram da sombra do mundo, e receberam as gloriosas vestes do Senhor… e encerrem a lista daqueles que estão vestidos de branco, que cumpriram a lei do Senhor. O número de teus filhos, por quem ansiáveis está completo… Eu, Esdras vi sobre o Monte Sião uma grande multidão; que eu não podia contar, e todos eles louvavam ao Senhor com cânticos. E no meio deles havia um homem jovem de uma alta estatura, mais alto do que todo o resto, e sobre as cabeças de cada um ele pôs coroas, e era mais exaltado; o que me deixou muito maravilhado. Então eu perguntei ao anjo, e disse: Senhor, quem são estes? Ele respondeu, e disse-me: Estes são os que tiraram a roupa mortal, e puseram a imortal, e confessaram o nome de Deus: agora estão coroados, e recebem palmas. Então eu disse ao anjo: Quem é esse jovem que os coroou, e deu-lhes palmas em suas mãos? Então ele respondeu e me disse: É o Filho de Deus, a quem eles têm confessado no mundo. Então, eu comecei a elogiar grandemente a eles que se mantiveram tão firmes pelo nome do Senhor.” 2 Esdras. 2:34-36, 38-47; Rev. 19:12; Mat. 13:43.

– The Bloody Theater foi publicado originalmente na Holanda em 1660, por Thieleman J. van Braght, e registra histórias de mártires cristãos, principalmente anabatistas. A carta que Sattler enviou da prisão “À Igreja de Deus em Horb” antes de ser executado (trechos acima), encontra-se nas págs. 346-349.

The Works of The English Reformers – William Tyndale and John Frith, [As Obras dos Reformadores Ingleses – William Tyndale e John Frith], editado por Thomas Russell, A.M., Vol. 3, Terceiro Livro, Which Answereth Unto My Lord of Rochester, and Declareth The Mind Of The Old Doctors [Que Respondeu ao Meu Senhor de Rochester e Declarou o Pensamento dos Antigos Doutores], Londres, Inglaterra, 1831, págs. 189-192. (A capa acima é de uma edição de 2010):

Ainda que fosse o caso de todos os doutores afirmarem o purgatório, o que eles não fazem, estaria meu Senhor mais perto de seu objetivo? Nenhum jota, realmente; pois a autoridade dos doutores, pela própria confissão de meu Senhor, não vai tão longe, mas só deve ser admitida se eles confirmarem as palavras deles pelas Escrituras, ou mesmo por alguma razão provável. Pois meu Senhor escreveu desta maneira: (Artigo 37) “Assim, o Papa não admitiu toda a doutrina de São Tomás, que os homens devam acreditar que cada ponto que ele escreveu seja verdadeiro. Nem a igreja aprovou, seja S. Agostinho ou S. Jerônimo, nem a doutrina de qualquer outro autor, e sim que em alguns lugares podemos discordar deles, pois eles, em muitos lugares declararam abertamente que eram homens e que tinham errado muitas vezes.”

Estas são as próprias palavras de meu senhor. Ora, uma vez que os doutores às vezes erram, e em certos lugares não devem ser aceitos, (como ele concede a si mesmo), como devemos saber quando aprová-los, e quando rejeitá-los? Se devemos nos fiar na autoridade dos doutores, então aceitaríamos tanto a mentira como a verdade, já que eles afirmaram ambas. De modo que devemos ter um juiz para discernir entre a verdade e a falsidade. E quem seria esse? O Papa? Realmente não, pois sendo ele um homem (assim como os doutores eram), pode errar como eles erraram, e assim estaremos para sempre incertos. Desta forma, nosso juiz não deve ser parcial, flexível, nem ignorante (o que exclui todos os homens naturais); mas deve ser imutável, até mesmo quando investiga a parte inferior e fundamental de todas as coisas.

Quem deve ser? Realmente, as Escrituras e palavra de Deus, que foi transmitida por seu Filho, confirmada e selada pelo Espírito Santo, e testificada pelos milagres e pelo sangue de todos os mártires. Esta palavra é o juiz que deve examinar o assunto, a pedra de toque perfeita que testa todas as coisas, e o dia que desvenda todas as névoas da manipulação. Se os doutores disserem qualquer coisa que não seja dissonante desta palavra, então ela deve ser admitida e defendida como verdade. Mas se alguma coisa da doutrina deles discordar dela, isso deve ser abominado, e considerado como amaldiçoado.

… A primeira razão que meu Senhor deu, que não foi resolvida antes, (pois, como eu disse, as razões já anuladas serão desconsideradas) é esta, que ele baseou em diversos textos. “Sobre as almas que partiram, algumas já estão condenadas no inferno, e algumas já estão no céu.” E para provar esta verdade, ele declarou a parábola do homem rico. (Lucas xvi.). Tenho certeza de que meu Senhor não é tão ignorante ao ponto de dizer que uma parábola prova alguma coisa. Mas o uso correto de uma parábola é este, para expor um texto ou ponto difícil que foi tratado antes, e que nem todos os homens teriam capacidade de entender. Nem são todas as coisas iguais às que são faladas numa parábola, nem tampouco todas as coisas que são mencionadas numa parábola são verdadeiras; mas devemos considerar a coisa no contexto onde são mencionadas, e aplicá-las apenas àquilo de que elas estão falando, e deixar o resto de lado, como William Tyndale bem vos declarou na parábola do iníquo Mamon. Esta parábola é muito difícil de ser exposta. A razão é esta: homem algum pode detectar, pelo texto, para qual finalidade ele foi dita. Mas a causa parece ser que havia lá muitos dos fariseus e outra multidão que não acreditariam na pregação de Cristo, embora ele tenha confirmado sua palavra com a autoridade de Moisés e os profetas; mas eles estavam curiosos, e um tanto fantasiosos, e, portanto, eles não acreditariam em suas palavras, a não ser que algumas aparições se manifestassem a eles, assegurando-os de que estiveram mortas e que as palavras dele eram verdadeiras.

Foi a pessoas assim que ele contou esta parábola, concluindo francamente que eles não veriam aparição alguma, e também que isso não era necessário; mas que eles tinham Moisés e os profetas, e se não davam crédito nem a tais, eles não acreditariam se um dos mortos ressuscitasse e falasse com eles. Não obstante, que eu conceda a ele [o bispo de Rochester] que alguns já estão no inferno, e alguns no céu, (coisa que ele jamais será capaz de provar por meio das Escrituras, sim, e que claramente destrói a ressurreição, e rouba os argumentos por meio dos quais Cristo e Paulo provam que ressuscitaremos), ainda assim eu digo, que ele me conceda ver como concluirá. O que vem a seguir?

“Nem é crível”, (diz ele) “que todos os que são lançados no inferno devam ir logo para o céu, portanto, devemos colocar um purgatório, onde eles podem ser purificados.”

Eu respondo: Todos os que vivem são fiéis ou infiéis. Se a pessoa for infiel, então está condenada. (João iii.) Se ela crer, então não está condenada, mas passou da morte para a vida. (João iii. v.) O homem justo, quando morre, descansará em paz. (Sabedoria iii.) E todo homem fiel é justo perante Deus, conforme prova toda a Epístola aos Romanos. Logo, todo homem fiel deverá descansar em paz e não ser atormentado com dores do purgatório. E, por falar neste ponto, onde eles descansam, ouso dizer enfaticamente que eles estão na mão de Deus, e que Deus quer que ignoremos onde eles estão, e não tomemos a nós a tarefa de definir a questão.

The Acts and Monuments of the Church [Os Atos e Monumentos da Igreja], John Foxe [mais conhecido como “O Livro dos Mártires”], edição de M. Hobart Seymour, Nova Iorque, Robert Carter & Brothers, 1855, págs. 625, 626. (A capa acima é de uma edição de 2009):

[O Artigo 13 da acusação dos inquisidores dizia:]

Tu, herege falso, pregaste claramente, dizendo que não há purgatório; e que é uma coisa fingida que algum homem possa ser punido no purgatório depois dessa vida.”

[A isso, Wishart respondeu:]

“Meus senhores, como eu já disse frequentemente, sem testemunha e o testemunho das Escrituras não me atrevo a dizer nada. Eu li frequentemente ao longo da Bíblia, e ainda assim nunca encontrei tal termo, nem qualquer lugar das Escrituras que seja aplicável a ele. De modo que eu teria vergonha de ensinar o que não posso encontrar nas Escrituras.”

[O Artigo 18 da acusação dizia:]

Tu, herege falso, pregaste dizendo abertamente que a alma do homem dorme até o último dia do julgamento e não obterá a vida imortal até esse dia.”

[A isso, Wishart respondeu:]

“Deus, cheio de misericórdia e bondade, perdoai os que dizem tais coisas de mim: Eu certamente sei, por meio da palavra de Deus, que a pessoa que começou a ter a fé de Jesus Cristo, e crê firmemente nele, eu sei com certeza que a alma desse homem jamais dormirá, mas viverá uma vida imortal. Que a vida de dia em dia é renovada em graça e aumentada; nem jamais perecerá ou terá fim, mas viverá imortal com Cristo. Para essa vida todos os que nele creem chegarão, e descansarão em glória eterna, Amém.”

(Note-se que, mesmo sob ameaça de morte, Wishart não negou que havia ensinado que não existe essa coisa chamada “purgatório” e que a alma está inconsciente entre o momento da morte e o dia da ressurreição. O que ele disse perante o tribunal é que a alma descansa em Deus e “viverá uma vida imortal” [no futuro]).

A Complete Collection of State Trials [Coleção Completa dos Julgamentos do Estado], Vol. II, Londres, 1816, pág. 736. (a capa acima é de uma edição de 2012):

Edward Wightman (1566-1612), que foi ministro anabatista em Burton, Inglaterra, envolveu-se também com os puritanos. Ele foi julgado pelo  Tribunal do Consistório da Catedral de Lichfield em 1611, condenado e queimado na estaca no ano seguinte, por ter publicado matérias questionando os “credos” da igreja oficial e outros ensinos “ortodoxos” tais como a Trindade e o batismo de crianças. Historicamente, foi a última pessoa na Inglaterra a ser executada como “herege”. A “heresia” de Wightman começou com seu entendimento da mortalidade da alma, adotando o conceito do “sono da alma” de Martinho Lutero. Em uma de suas primeiras pregações públicas, ele disse que “a alma do homem morre com o corpo e não participa nem das alegrias do Céu, nem das penas do inferno, até o Dia do Juízo geral, mas descansa com o corpo até lá.” O Artigo 11 das acusações do Consistório dizia que as pregações ‘heréticas’ dele incluíam:

Que a alma dorme no sono da primeira morte, assim como o corpo, e é mortal ao ser tocada pelo sono da primeira morte, assim como o corpo: e que a alma de nosso Salvador Jesus Cristo dormiu nesse sono da morte, assim como o corpo dele.

(Veja também ‘The 1607 Return of Staffordshire Catholics’ [O Retorno dos Católicos de Staffordshire em 1607], Marie Rowlands, Midland Catholic History Society, Nº 4, outono de 1963, págs. 147, 148; Lives of Two and Twenty English Divines [Vidas de Vinte e Dois Clérigos Ingleses], Samuel Clarke, Londres, 1660 e Evangelical Biography [Biografia Evangélica], de Erasmus Middleton, Vol. III, 1816, págs. 28, 29).

George Wither (1588-1667), foi um puritano inglês. Em 1636 ele produziu uma tradução em inglês do tratado The Nature of Man [A Natureza do Homem], escrito originalmente em grego pelo bispo Nemésio, originalmente um platonista, e que depois se tornou bispo da cidade de Emesa (Fenícia), no quarto ou quinto século, sendo classificado como um dos “pais da Igreja”. Os comentários de Wither sobre o tratado indicam que suas próprias crenças estavam em harmonia com as de Nemésio e em conflito com a “ortodoxia” dos dias dele. [Nota: Esta não é a verdadeira capa do livro.]

Os hebreus afirmam que o HOMEM foi criado desde o princípio, nem completamente mortal, nem completamente imortal, mas, por assim dizer, em um estado entre ambas as naturezas, para que se ele seguisse os desejos do corpo, ele seria obrigado a tais alterações que pertencem ao corpo; mas se ele preferisse essas coisas boas que dizem respeito à alma, ele seria, então, honrado com a imortalidade. Pois, se DEUS tivesse feito o HOMEM absolutamente mortal desde o início, ele não o teria condenado a morrer depois que ele pecou; porque teria sido uma coisa sem necessidade tornar mortal por condenação, quem já era mortal antes. E por outro lado, se ele tivesse feito o Homem absolutamente imortal, ele não o teria feito com a necessidade de nutrição; pois, nada que seja imortal necessita de alimentação corporal.

Ademais, não se deve crer que Deus teria se arrependido tão depressa, e tornado imediatamente mortal o que tinha sido criado absolutamente imortal: Pois é evidente que Ele não fez isso no caso dos Anjos que pecaram, mas (de acordo com a natureza que eles haviam obtido desde o princípio), eles permaneceram imortais, passando por seus pecados, não pela pena da morte, mas por algum outro castigo. É melhor, portanto, manter a primeira opinião mencionada em relação a este assunto; ou, então, pensar assim: que o HOMEM foi realmente criado mortal, mas, ainda assim, de um modo que, se ele fosse aperfeiçoado por uma progressão virtuosa e piedosa, ele poderia tornar-se imortal: ou seja, ele foi feito como Um, como se houvese nele um potencial para se tornar imortal…

A Ciência, está, antes funcionando de acordo com essa ciência; e Aristóteles chama a forma de selfe [no alfabeto não latino], ou seja, o primeiro movimento contínuo: Ao funcionamento de acordo com esta forma, ele chama [no alfabeto não latino] de segundo movimento contínuo. Como por exemplo:

O olho consiste de um aspecto material, e de uma certa forma. Este aspecto material está no próprio olho; mesmo o que contém a visão (eu quero dizer a atribuição do olho) e este aspecto é equivocadamente chamado de olho. Mas a forma e o movimento contínuo do olho é a operação por meio da qual ele vê: Um cachorro diante dele pode ver, embora ele não tenha nenhum dos dois movimentos acima mencionados, e sim tendo uma aptidão para receber tal movimento: mesmo assim, devemos concebê-lo na ALMA. Quando a visão chega ao cachorro, ela aperfeiçoa o olho; e quando a ALMA vem ao Corpo, ela aperfeiçoa a criatura viva.

Assim, em uma criatura viva perfeita, nem pode a alma estar em algum momento sem o corpo, nem pode o corpo estar sem a alma, porque a alma não é o próprio corpo; mas é a alma do corpo: e desta forma está no corpo, sim, e nesse tipo de corpo: pois ela não tem uma existência por si só.

– págs. 23-26, 131-133. Veja o texto completo em https://quod.lib.umich.edu/e/eebo/A08062

Brevis disquisitio an et quo mado vulgo dicti Evangelici Pontificios, ac nominatim Val. Magni de Acatholicorum credendi regula judicium solide atque evidenter refutare queant [Uma breve pesquisa em busca de um modo melhor do que se faz costumeiramente para refutar os papistas, e levar os protestantes à certeza e à unidade em religião], Eleutheropoli, 1633. Autor: Joachim Stegmann (1595-1633), pastor luterano em Brandenburg (Alemanha) e posteriormente um teólogo sociniano.

Se os mortos vivem adequadamente – Em geral, temos visto até agora que os que seguem Lutero e Calvino como seus guias em Religião, não conseguem refutar solidamente os papistas. Ora, se nos voltarmos para detalhes, um grande campo se abriria diante de nós, no qual poderíamos discorrer. Mas para que não passemos dos limites da brevidade, abordaremos brevemente um ou dois pontos.

E mostraremos primeiramente que eles tanto proporcionam como retêm os fundamentos dos maiores erros que existem entre os papistas.

Mais uma vez, que eles ensinam essas coisas como são danosamente defendidas, não só contra os papistas, mas também contra o próprio coração da Religião Cristã; quero dizer a verdadeira piedade. Do mesmo tipo é essa opinião em que eles sustentam que os mortos vivem. Isso parecerá absurdo, e na verdade a coisa em si é muito absurda, e ainda assim eles creem nela. Pois eles supõem que as almas dos homens, naquele exato momento em que são separadas de seus corpos pela morte, são levadas quer para o céu, e lá sentem alegria celestial, e possuem todos os tipos de felicidade que Deus prometeu a seu povo; ou para o inferno, e são lá atormentadas e martirizadas com fogo inextinguível. E isto, como foi dito antes, eles atribuem a meras almas separadas dos corpos, antes mesmo da ressurreição dos próprios homens, isto é, enquanto eles ainda estão mortos. Mas essas coisas não podem acontecer a algo que não está vivo; pois o que não está vivo não sente, e, consequentemente, nem desfruta prazer, nem padece dor. Desta forma, eles creem, com efeito, que os mortos vivem: ou seja, da mesma maneira que afirmam que Pedro, Paulo e outros homens mortos vivem no céu. Ora esta é a base não só do Purgatório, mas também da horrível idolatria praticada entre os papistas, ao passo que invocam os santos que estão mortos. Elimine esta ideia e não haverá mais lugar para as outras. A qual finalidade serve o fogo do Purgatório, se almas separadas dos corpos não sentem nada? A qual finalidade servem orações à Virgem Maria, a Pedro, a Paulo e a outros homens mortos, se eles não podem nem ouvir orações, nem interceder por alguém? Pelo contrário, se isso for admitido, não se poderá derrubar facilmente a invocação dos santos. Ora, sendo a coisa de tal forma que mereça parecer absurda em si mesma para todos, vejamos se o contrário da mesma não pode ser estabelecido nas Escrituras. Nem precisamos ir longe em busca de um exemplo, já que temos um que emerge no argumento de Cristo, onde ele prova a futura Ressurreição dos Mortos a partir dele, que Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas não é Deus de mortos, e sim de vivos: daí ele conclui que eles vivem para Deus, isto é, serão chamados de volta à vida por Deus, para que ele possa manifestar-se como seu Deus, ou Benfeitor. Este argumento seria completamente falacioso se antes da Ressurreição eles usufruíam a alegria celestial. Pois aí Deus seria seu Deus, ou Benfeitor, ou seja, para as almas deles, embora seus corpos jamais se levantassem novamente. Do mesmo modo, o raciocínio do Apóstolo seria falacioso, I Cor. 15. 30, 31, 32. onde ele comprovou a Ressurreição por meio deste argumento: Pois de outra forma os que creem em Cristo enfrentariam perigos toda hora em vão; sofreriam em vão tantas calamidades por Cristo; que ele ensinou com o seu próprio exemplo. Novamente, porque caso contrário, seria melhor cantar a canção dos epicuristas, ‘comamos e bebamos, pois amanhã morreremos’. Em suma, os cristãos seriam os mais miseráveis de todos os homens. Certamente isso seria falso, se os piedosos atualmente usufruíssem felicidade celestial em suas almas após a morte e os maus padecessem tormento. Pois aqueles não sofreriam calamidades em vão, nem estes iriam atrás dos prazeres da carne impunemente; e os piedosos seriam muito mais felizes do que os ímpios. Desta forma, é a coisa mais absurda do mundo afirmar que Cristo e o apóstolo Paulo não argumentaram corretamente; não está claro que a doutrina é falsa, que um absurdo tão grande seria atribuído a Cristo e ao apóstolo Paulo? Além disso, por que Pedro adiou a salvação das almas para o último dia? 1 Ped. 1. 5. ‘que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo: e Paulo adiou a Coroa da Justiça para o Dia do Juízo; 2 Tim 4. 8. ‘Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia’, etc. Para que propósito seria marcado o julgamento? Como poderia ter sido dito sobre os piedosos sob a antiga Aliança, que eles não receberam a promessa, ‘por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados’, Heb 11:40, se atualmente a alma de cada um deles após a morte, mesmo sem o corpo, usufrui a felicidade celestial?

Mas a própria natureza da coisa em si mesma refutou isso. Não é viver, morrer, sentir, ouvir, agir, algo próprio do homem inteiro, ou da combinação da alma e do corpo? Não é o corpo o instrumento da alma, sem o qual ela não pode executar suas funções? Como um artista que conhece seu ofício sabe, a menos que ele tenha instrumentos à mão, ele não poderá produzir coisa alguma. Se o olho se fechar, a alma não verá, pois a capacidade de ver lhe foi tirada. Assim que se restaure o instrumento, um homem logo verá. Portanto almas separadas dos corpos não estão nem mortas nem vivas, e consequentemente, não usufruem qualquer prazer, e não sentem qualquer dor; pois essas coisas são próprias da combinação inteira.

Mas as Escrituras dizem que os mortos não existem, que o Espírito retorna àquele que o deu; e sobre os Espíritos dos piedosos, que eles estão nas mãos de Deus, mas na ressurreição serão juntados com os corpos. E daí, tendo recebido os instrumentos, eles levarão adiante suas atividades.”

Este trabalho está incluído em The Polish brethren: Documentation of the history and thought of Unitarianism in the Polish-Lithuanian Commonwealth and in the Diaspora 1601-1685 [Os Irmãos Poloneses: Documentação da história e do pensamento do Unitarismo na Comunidade Polonesa-Lituana e na Diáspora 1601-1685]. Editado, traduzido e interpretado por George Huntston Williams, Harvard Theological Studies Series, Scholars Press, 1980.

Inscrições no túmulo de Peter Chamberlen, medico inglês
Para contar sua experiência e vida aos homens,
Basta dizer que aqui jaz Chamberlen;
A morte meu último sono, para aliviar minha mente atenta,
O túmulo meu mais difícil, porém mais tranquilo leito;
O fim da agonia — trabalho e cuidados,O fim da angústia, doença e aflição.
Aqui não mais pecarei — não mais chorarei,
Aqui deve haver certamente um sono tranquilo;
A morte é só uma noite, minha vida viu muito
Minha vida trouxe morte — a morte me traz vida novamente.
As sementes se tornam árvores — ervas crescem novamente de sementes,
Terão, então, os corpos dos homens pior desempenho?
Nós morremos diariamente, sepultados no sono e na noite,
Mas pela manhã renovamos nossa luz;
Por isso sempre surgem minhas alegrias e confortos,
Só posso sentir o que Cristo já sentiu.
Agora cremos, ouvimos e falamos por palpite,
Então verei, e o que vir possuirei;
E quando despertar envolto na luz eterna,
De Deus e Cristo, não conhecerei mais a noite;
Coroado com glórias eternas sempre benditas,
Oh! feliz descanso que me traz todo o resto.
Corpos engastados com jóias como estrelas cantarão,
Repletos de alegrias e louvores ao meu rei.
Louvado seja Deus, meu Salvador, Louvai seu nome;
Anjos e Santos cantem comigo sua fama.

Estes versos foram descobertos, feitos e elaborados pelo Dr. Peter Chamberlen, enterrado aqui, para seu epitáfio.

A Treatise on Christian Doctrine [Um Tratado Sobre a Doutrina Cristã], capítulo 13, edição de Charles R. Sumner, Cambridge University Press, 1825, págs. 190, 191, 279-286. (A capa acima é de uma edição de 2015.).

Podemos compreender com base em outros trechos da Escritura, que quando Deus infundiu o espírito de vida no homem, o que o homem recebeu desse modo não era uma porção da essência de Deus, ou uma participação na natureza divina, mas essa medida da virtude ou influência divina, que era proporcional às capacidades do receptor. Pois parece, com base no Sal. civ. 29, 30. que ele infundiu o fôlego da vida em outros seres vivos também; — se lhes tiras o fôlego, morrem… envias o teu Espírito, e são criados; onde aprendemos que todos os seres vivos recebem animação de uma e da mesma fonte da vida e de fôlego; na medida em que, quando Deus leva de volta para si mesmo esse espírito ou fôlego de vida, eles deixam de existir. Ecles. III. 19. todos têm o mesmo fôlego. Nem tem a palavra espírito qualquer outro significado nos escritos sagrados, além de fôlego de vida que inspiramos, ou a faculdade vital, ou sensível, ou racional, ou alguma ação ou afeição pertencente a essas faculdades.

Tendo o homem sido criado desta maneira, diz-se, em consequência, que o homem tornou-se alma vivente; donde se pode inferir (a menos que, em vez disso, tomemos os autores pagãos como nossos mestres no que se refere à natureza da alma) que o homem é um ser vivo, intrínseca e adequadamente único e individual, e não composto ou separável, e não, segundo a opinião comum, constituído e moldado de duas naturezas distintas e diferentes, a partir da alma e do corpo,— e sim que o homem inteiro é alma, e a alma é homem, isto é, um corpo, ou substância individual, animada, sensitiva e racional; e que o fôlego de vida não era nem uma parte da essência divina, nem a própria alma, e sim como se fosse uma inspiração de alguma virtude divina adequada para o exercício da vida e da razão, e infundida no corpo orgânico; pois o próprio homem, o homem inteiro, quando foi finalmente criado, é chamado expressamente de uma alma vivente. Assim, a palavra usada em Gênesis para significar alma, é interpretada pelo apóstolo, 1 Cor. xv. 45 como animal. Mais uma vez, todos os atributos do corpo são atribuídos igualmente para a alma: o toque, Lev. v. 2 e seguintes. Se uma alma tocar alguma coisa impura, — o ato de comer, vii. 18. a alma que dela comer levará a sua iniqüidade; v. 20. a alma que comer da carne, e em outros lugares: — fome, Prov. xiii. 25. xxvii. 7. — sede, xxv. 25. como água fresca para a alma cansada. Isai. xxix. 8. — captura, 1 Sam. xxiv. 11. tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Sal. vii. 5. persiga o inimigo a minha alma e alcance-a.

Porém, onde falamos do corpo como um mero estoque sem sentidos, aí a alma deve ser entendida como significando tanto o espírito, ou suas faculdades secundárias, por exemplo a faculdade vital ou sensitiva. Assim, ela é muitas vezes distinguida tanto do espírito, como do próprio corpo. Luc. i. 46, 47. 1 Tes. v. 23. todo o vosso espírito, e alma, e corpo. Heb. iv. 12. a divisão da alma e do espírito. Mas que o espírito do homem deve ser separado do corpo, de modo a ter uma existência perfeita e inteligente, independentemente dele, não se diz em lugar algum nas Escrituras, e a doutrina está, evidentemente, em desacordo tanto com a natureza como com a razão, como será mais amplamente mostrado a seguir. Pois a palavra alma é também aplicada a todo tipo de ser vivente; Gen. i. 30. a todo animal da terra, etc. onde há vida (anima vivens, Tremell.) vii. 22. tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu; contudo jamais se infere, com base nestas expressões, que a alma existe separada do corpo em alguma criação animal.

A morte do corpo é a perda ou extinção da vida. A definição comum, que supõe que ela consiste na separação da alma do corpo, é inadmissível. Pois, que parte do homem é que morre quando esta separação acontece? É a alma? Isto não será admitido pelos defensores da definição acima. É o corpo, então? Mas, como é que se pode dizer que ele morre, se jamais teve qualquer vida em si mesmo? Portanto, a separação entre alma e corpo não pode ser chamada de morte do homem.

Então aqui surge uma questão importante, que, devido ao preconceito de teólogos em nome de suas opiniões preconcebidas, geralmente tem sido posta de lado sem exame, em vez de ser abordada com a atenção que merece. É o homem inteiro, ou é apenas o corpo que é privado de vitalidade? E, como este é um assunto que pode ser discutido sem pôr em perigo a nossa fé ou devoção, qualquer que seja o lado do conflito que defendamos, declararei livremente o que me parece ser a verdadeira doutrina, conforme coletada de inumeráveis trechos ​​das Escrituras; sem levar em conta a opinião das pessoas que pensam que a verdade deve ser procurada nas escolas de filosofia, em vez de nos escritos sagrados.

Visto, pois, que se afirma de maneira uniforme que o homem consiste de corpo, espírito e alma (quaisquer que sejam as áreas distintas atribuídas individualmente a essas divisões), mostrarei que na morte, o homem inteiro, e secundariamente cada componente sofre a privação da vida. Deve-se observar, em primeiro lugar, que Deus decretou a pena de morte contra o homem inteiro que pecou, ​​sem excetuar qualquer parte. Pois, o que poderia ser mais justo do que aquele que pecou em toda a sua pessoa, deva morrer em toda a sua pessoa? Ou, por outro lado, o que poderia ser mais absurdo do que a mente, que é a principal parte infratora, dever escapar da morte que foi ameaçada; e que o corpo apenas, ao qual a imortalidade foi igualmente atribuído antes de a morte vir ao mundo pelo pecado, deva pagar a penalidade do pecado por sofrer a morte, embora ele não estava envolvido na transgressão?

É evidente que os santos e fiéis da antiguidade, os patriarcas, profetas e apóstolos, sem exceção, mantinham esta doutrina…

Após apresentar numerosas referências bíblicas que estabelecem as crenças desses homens mencionados, Milton prossegue:

Até aqui, forneceu-se prova da morte do homem inteiro. Mas para que não se apele à distinção sofística de que, apesar de o homem inteiro morrer, isso não quer dizer que a totalidade do homem morra, continuarei a dar provas semelhantes no que se refere a cada uma das partes; o corpo, o espírito e a alma, de acordo com a divisão indicada acima.

Então, primeiramente, com relação ao corpo, ninguém duvida que ele sofra a privação da vida. Nem é a mesma coisa menos evidente no caso do espírito, admitindo-se que o espírito, segundo a doutrina proposta no capítulo sete [do livro], não tem participação na natureza divina, mas é puramente humano; e que razão alguma possa ser atribuída para que Deus, tendo condenado à morte o homem inteiro que pecou, ​​isente apenas o espírito, que é a principal parte transgressora, da punição decretada; principalmente levando-se em conta que, antes da entrada do pecado no mundo, todas as partes do homem era igualmente imortais; e que desde aquela época, em virtude da condenação de Deus, todas se tornaram igualmente sujeitas à morte. Mas, vamos às provas…

Daí ele considerou os trechos de Eclesiastes 3:18-21, Salmo 146:4 e 1 Coríntios 5:5, e prosseguiu dizendo o seguinte sobre a alma:

Finalmente, existe abundante testemunho para provar que a alma (se entendermos este termo como o conjunto completo do ser humano, ou se ele tiver de ser considerado como sinônimo de espírito) está sujeita à mortetanto a natural, como a violenta…”

E ele apresentou esse “abundante testemunho” a que se referiu, citando e explicando mais uma longa série de referências bíblicas pertinentes.

Man’s Mortallitie [A Mortalidade do Homem], publicado por John Canne, Amsterdã, Países Baixos, 1643:

A Mortalidade do Homem; Ou Um tratado no qual se prova, teológica e filosoficamente o seguinte. Que uma vez que o homem inteiro pecouo homem inteiro morreu; ao contrário da distinção comum entre Alma e Corpo: E que a ida neste momento da alma para o céu ou para o inferno é uma mera Ficção. E que é na Ressurreição que começa nossa imortalidade; e daí a verdadeira Condenação e Salvação, não antes disso.

Com dúvidas e objeções respondidas e solucionadas, tanto pelas Escrituras quanto pela Razão, expondo a multidão de blasfêmias e absurdos que surgem da fantasia da Alma.

Além disso, outros outros mistérios; como do céu, do inferno, da amplitude da ressurreição, da nova criação, etc. aberto e apresentado à verificação do melhor julgamento.

– Frontispício.

2 Cor. 5.1, 2, 3, 4. Ali o ser depois da morte é chamado de um edifício não feito por mãos, eterno nos céus: com isso o apóstolo deseja se revestir; e o que é, ele define, a saber. a mortalidade é absorvida pela vida: donde é muito evidente, que toda a esperança dele de vida futura fundamentava-se na ressurreição; e que a sua esperança era totalmente baseada nisso, ele confirma, 1 Cor. 15, argumentando que, se Cristo não foi ressuscitado, os mortos não devem ser levantados; e (versículo 18) Os que dormiram em Cristo pereceram; e (versículo 14). Então, nossa fé também é vã; cujo fim (1 Ped. 1.9.) é a Salvação de nossas Almas. Como então tudo seria em vão, se nossas almas, tão logo o fôlego sai do corpo, entram na glória e na salvação? Por isso, embora não havia ressurreição da carne, nós deveríamos receber o fim de nossa fé, a salvação de nossas almas. Além disso, ele faria toda a nossa esperança estar nesta vida, se não houvesse ressurreição; pois o vers. 19. tendo demonstrado os males que se seguem à negação da ressurreição, fé; Se nesta vida só nós temos esperança em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens: vers. 32. São Paulo disse: Se, de acordo com a maneira dos homens, eu lutei com feras em Éfeso, o que me adianta, se os mortos não se levantarem? Donde surge claramente, que a negação da Ressurreição limita todas as nossas esperanças e vantagens a esta vida; e assim todos os nossos sofrimentos, perseguições, orações, fé, etc. não teriam qualquer objetivo: o que não poderia ser o caso, de acordo com essa fantasia de a alma ter a recompensa imediata da beatitude depois dessa vida.

– págs. 43-45.

John Canne (1590-1667), pastor batista, publicou o trabalho de Richard Overton (Man’s Mortallitie [A Mortalidade do Homem]) em Amsterdã, o que despertou muita hostilidade pública contra ele e contra o próprio Overton. Por volta dessa época, ele produziu sua maior contribuição – uma Bíblia com notas marginais, a primeiro do gênero a ser publicada, que constituiu a base para todas as Bíblias de referência posteriores, e por conta da qual ele é mais bem conhecido. O lema de Canne era: “A Bíblia é o melhor intérprete da Bíblia.” Ele enfatizava também o princípio batista de que “a Bíblia é tudo na religião”, e que todo ser humano deveria estudar as Sagradas Escrituras por si mesmo. No prefácio de sua “Bíblia com Notas Marginais”, ele disse:

6. Não são as Escrituras que levam os homens a erros e desvios, e sim as interpretações equivocadas e as falsas declarações impostas a elas; como quando os homens, ao perverter as Escrituras para seus próprios princípios e propósitos, as farão declarar seus sentidos e interpretações particulares. Deixar de lado as interpretações dos homens, e seguir apenas as interpretações que as Escrituras fazem de si mesmas, é o caminho melhor e mais livre de erros.

The Holy Bible… With Marginal Notes [Bíblia Sagrada… Com Notas Marginais], 1647. A capa acima é de uma edição de 2011.

Sermons on Several Subjects And Occasions [Sermões Sobre Vários Assuntos e Ocasiões], John Tillotson, Londres, 1743, Princeton Theological Seminary Library, Vol 8, Sermão 153, págs. 3707, 3708. (A capa acima é de uma edição de 2013.)

Pois temos de saber que as Escrituras nos supõem como homens, e participantes das noções comuns da natureza humana e, portanto, não nos ensinam filosofia, nem nos instruem solicitamente nas coisas que nascem conosco; mas supõem o conhecimento destas, e fazem uso destes princípios e noções comuns que estão em nós sobre Deus, a imortalidade das nossas almas e a vida por vir, para nos animar para o nosso dever, e acelerar nossos esforços pela felicidade. Pois eu não constato que a doutrina da imortalidade da alma seja expressamente declarada em algum lugar nas Escrituras, e sim presumida; da mesma maneira que as Escrituras não nos instruem solicitamente sobre as noções naturais que temos de Deus, mas supõem que elas sejam conhecidas por nós; e se ela as menciona, não é tanto para efeito de conhecimento como é para a prática; e, portanto, não precisamos ficar surpresos de que esta expressão, que estabelece para nós a natureza de Deus, mal seja usada uma vez nas Escrituras, e foi introduzida em alguma ocasião, e para algum outro fim, porque isso é uma coisa conhecida naturalmente.

… Assim com essa luz natural informando-nos que “Deus é um espírito”, não haveria a necessidade de as Escrituras nos inculcarem isso: é um excelente meio ou argumento para provar que a adoração a Deus deve ser principalmente espiritual; e, embora não era necessário que ele mencionasse isso por si próprio; ou seja, informar-nos sobre uma coisa que não poderíamos saber de outra maneira; ainda assim a sabedoria de Deus, pela menção expressa disso, parece ter tomado providência contra um erro, ao qual alguns espíritos mais fracos e mais grosseiros poderiam estar sujeitos. Vocês sabem que agrada a Deus, por meio de condescendência e acomodação de si mesmo à nossa capacidade, apresentar-se a nós nas Escrituras por imperfeições humanas; e fornece tais descrições de si mesmo, como se tivesse um corpo, e membros do corpo. Ora, para evitar qualquer erro ou engano que possa ser ocasionado por isso, parece muito adequado à sabedoria de Deus que alguma parte das Escrituras declare expressamente a natureza espiritual de Deus, para que ninguém por fraqueza ou obstinação possa entreter opiniões grosseiras acerca dele.

The Reasonableness of Christianity, as Delivered in the Scriptures [A Razoabilidade do Cristianismo, Conforme Manifesta nas Escrituras], John Locke, 1695, págs. 4-7. (A capa acima é de uma edição de 2012).

É óbvio para qualquer um que lê o Novo Testamento, que a doutrina da redenção, e, consequentemente, do evangelho, está fundada sobre a suposição da queda de Adão. Portanto, para entender ao que somos restaurados por meio de Jesus Cristo, devemos considerar o que as Escrituras mostram que perdemos por meio de Adão.

Isto eu considero digno de uma pesquisa diligente e sem preconceitos: já que encontrei os dois extremos aos quais os homens foram nesse ponto, enquanto um deles, por um lado, abala os alicerces de qualquer religião, o outro, por sua vez, fez do Cristianismo quase nada: pois enquanto alguns homens teriam toda a posteridade de Adão condenada ao castigo eterno e infinito, pela transgressão de Adão, de quem milhões nunca ouviram falar, e ninguém seria autorizado a negociar por ele ou ser seu representante; isto pareceu a outros tão pouco consistente com a justiça ou a bondade do grande e infinito Deus, que eles acharam que não havia necessidade de redenção alguma e, consequentemente, que não houve nenhuma; em vez de admiti-la sobre uma suposição tão depreciativa para a honra e os atributos desse Ser infinito; e assim fazendo de Jesus Cristo nada mais que o restaurador e pregador de pura religião natural; fazendo assim violência a todo o teor do Novo Testamento. E, na verdade, ambos os lados serão suspeitos de ter transgredido dessa maneira, contra a palavra escrita de Deus, por qualquer um que a entende como nenhuma outra coisa a não ser uma coleção de escritos elaborados por Deus, para a instrução da massa iletrada da humanidade, no caminho da salvação; e, portanto, no geral e em pontos necessários, devendo ser entendida no pleno significado direto das palavras e frases: como elas devem ter tido nas bocas dos falantes, que as usaram de acordo com o idioma da época e do país em que viviam; sem esses sentidos elaborados, artificiais e forçados, que são procurados e colocados sobre elas na maioria dos sistemas teológicos, de acordo com os conceitos nos quais cada um foi criado.

Para a pessoa que lê as Escrituras desta maneira imparcial, o que Adão caiu (é visível) foi do estado de perfeita obediência, que é chamado de justiça no Novo Testamento; embora a palavra, que no original significa retidão, seja traduzida como justiça: e devido a esta queda ele perdeu o paraíso, onde havia tranquilidade e a árvore da vida; ou seja, perdeu a bem-aventurança e a imortalidade. A penalidade ligada à violação da lei, com a sentença pronunciada por Deus para ela, mostra isso. A penalidade está expressa em Gên. ii. 17, “No dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Como isto foi aplicado? Ele comeu: mas, no dia em que ele comeu, não morreu efetivamente; e sim foi expulso do paraíso da árvore da vida, e banido para sempre dele, para que não comesse dela e vivesse para sempre. Isto mostra que o estado do paraíso era um estado de imortalidade, de vida sem fim; que ele perdeu nesse mesmo dia em que comeu: sua vida dali em diante começou a encurtar, a ser consumida e a chegar ao fim; e dali até a morte efetiva ela nada mais foi que o período de um prisioneiro condenado, entre a condenação imposta e a execução, que era líquida e certa. Daí a morte entrou, e mostrou sua face, que antes estava oculta e não era conhecida. Conforme S. Paulo em Rom. v. 12 “Por um só homem entrou o pecado no mundo, e a morte pelo pecado”, isto é, um estado de morte e de mortalidade, e em 1 Cor. xv. 22, “em Adão todos morrem”; isto é, em razão da transgressão dele, todos os homens são mortais, e vêm a morrer.

Isto é tão claro nestes locais citados, e tão recorrente no Novo Testamento, que ninguém pode negar que a doutrina do evangelho nada mais é que a morte veio a todos os homens pelo pecado de Adão; as pessoas só divergem quanto ao significado da palavra morte: para alguns ela seria uma condição de culpa, em que não só ele, mas toda a sua posteridade estava tão envolvida que todos os descendentes dele mereciam o tormento sem fim, no fogo do inferno. Não direi nada mais aqui, além do que mencionei acima, sobre até que ponto, nas apreensões de homens, isso está de acordo com a justiça e a bondade de Deus: mas parece uma maneira estranha de compreender uma lei, que exige as palavras mais claras e diretas, que por morte deveríamos entender vida eterna em miséria. Poderia alguém entender que, por uma lei que diz “pelo crime tu certamente morrerás” – não que essa pessoa perderá sua vida, e sim que será mantida viva em tormentos intensos e perpétuos? E alguém se consideraria justo agindo dessa maneira?

Para isso, eles teriam de estar também numa condição de pecado necessário, e provocando Deus em cada ação que os homens fazem: um sentido ainda mais rígido da palavra morte do que o outro. Deus diz, que “no dia em que comeres do fruto proibido, morrerás”; isto é, tu e a tua posteridade estarão, para sempre depois disso, incapazes de fazer qualquer coisa, e estarão pecaminosos e provocando e merecendo minha ira e indignação. Poderia um homem digno colocar essas condições para a obediência de seus subordinados? Muito menos poderia o Deus justo impor, como um castigo pelo pecado que o desagradou, colocar o homem sob a necessidade de pecar continuamente, e assim multiplicar a provocação. A razão desta estranha interpretação, vamos encontrar, talvez, em alguns lugares mal compreendidos do Novo Testamento. Devo confessar que por morte aqui, eu não entendo nada além de deixar de existir, a perda de todas as ações de vida e sentido. Essa morte veio sobre Adão e toda a sua posteridade, por sua primeira desobediência no paraíso; sob cuja morte eles deveriam permanecer para sempre, se não fosse pela redenção por meio de Jesus Cristo. Se por morte, da qual Adão foi ameaçado, tivéssemos de entender a corrupção da natureza humana em sua posteridade, seria estranho não termos qualquer sinal disso no Novo Testamento, e ele nos dizer que a corrupção atingiu a todos por causa da transgressão de Adão, assim como ele nos diz isso sobre a morte. Mas, conforme eu lembro, o pecado de cada pessoa é cobrado dela mesma, apenas.

‘On the Torments of Hell’ [Sobre os Tormentos do Inferno], Publicado originalmente em 1658. Republicado em The Doctrine of Eternal Hell Torments Overthrown. In Three Parts. [A Doutrina dos Tormentos Eternos no Inferno Derrubada. Em Três Partes.], Samuel Richardson, Trumpet Office, 1833, págs.66-68, 75:

2. O homem em seu primeiro ser era corporal e visível aos olhos; as coisas vistas não são eternas. O Sr. Bolton disse que, se Adão tivesse permanecido, ele não poderia ter nos transmitido um corpo imortal, ou não mortal, em seu Treatise of Heaven [Tratado dos Céus], pág. 131. Basílio disse: se Deus tivesse dado a Adão uma natureza imortal e imutável, Ele teria criado um deus, não um homem. Agostinho, em seu Livro de Confissões, disse: pois o Senhor criou o homem do nada, por isso Ele deixou no homem uma possibilidade de retornar ao nada, se ele não obedecesse à vontade de seu Criador

3. O homem em inocência precisava de alimento, etc. O que depende de coisas mutáveis e terrenas é terreno e mutável: nós vemos isso em todas as outras criaturas que vivem à base de coisas perecíveis; todas elas perecem; e aqui o homem, pelo primeiro Adão, não tinha qualquer preeminência sobre um animal. O céu e a terra foram criados, portanto tiveram um princípio; e embora tenham uma duração muito mais longa do que o homem, deverão ter um fim; o céu e a terra serão dissolvidos, 2 Ped. iii. 12.

Se Adão não tivesse morrido, (Rom. v. 12.) ele deveria continuar neste mundo, e não iria ao mundo por vir; portanto, por sua queda, ele não perdeu a felicidade nem a vida eterna neste mundo; pois ele não poderia, por essa queda perder mais do que ele tinha, e deveria ter. A morte está de acordo com a natureza; mas alcançar a imortalidade está acima da natureza. Adão, sendo terra, e da terra, seu prazer, vida, perda e punição devem necessariamente ser terrenos. Como é que viria ele então, por sua queda, a ser capaz de uma punição que nunca termina, a não ser que, por sua queda, ele pudesse obter a vida eterna, o que ninguém afirmará? A vida eterna não pode ser por meio do primeiro homem, muito menos por meio do pecado.

… As Escrituras declaram que haverá uma ressurreição dos mortos, dos justos e dos injustos, Atos xxiv. 15. Os injustos entrariam na vida, mas não entrarão, João v. 29. A quem eu juro pela minha ira, que não entrarão no meu descanso, Salmo xcv. 11. Heb. iv. 5–7. E vós mesmos jogados para fora, Lucas xiii. 28. Quando se levantarem para o julgamento no último dia, serão consumidos com a terra pelo fogo, esse é o fim deles; para que não entrem, para serem lançados fora, a segunda morte, e para perecer, é uma coisa. Se eles vivem para sempre, e têm a vida eterna, como podem perecer? e como é o fim dessas coisas morte? Rom. vi. 21, se não há fim algum? A mentalidade carnal é morte, Rom. viii. 6; como isso pode ser verdade, se eles vivem para sempre e jamais morrem?

… A alma que pecar morrerá, Eze. xviii. 20; isto é, tudo o que o pecado trará. Deus, ao dar sua lei, expressou a punição pela violação dela, dizendo: No dia em que você comer dela, certamente morrerá, Gen. ii. 17.

An Epistolary Discourse, proving, from the Scriptures and the First Fathers, that the Soul is a Principle naturally Mortal; but immortalized actually by the Pleasure of God, to Punishment; or to Reward, by its Union with the Divine Baptismal Spirit. Wherein is proved, that None have the Power of giving this Divine Immortalizing Spirit, since the Apostles, but only the Bishops [Um Discurso Epistolar, provando, pelas Escrituras e pelos Primeiros Pais, que a Alma é um Princípio naturalmente Mortal; mas é realmente imortalizada pela Vontade de Deus, para Punição; ou para Recompensa, por sua União com o Divino Espírito Batismal. Dentro está provado que, Ninguém tem o poder de conceder esse Divino Espírito Imortalizador, desde os Apóstolos, mas só os Bispos], Henry Dodwell, Londres, 1706. (A capa acima é de uma edição de 2012). Neste texto, Henry Dodwell deliberou

… provar com base nas Escrituras e nos Primeiros Pais, que a alma é, em princípio, naturalmente mortal, e sim realmente imortalizada pela Vontade de Deus.

Paradoxical Questions concerning the morals & actions of Athanasius & his followers. [Perguntas paradoxais sobre a moralidade e as ações de Atanásio e seus seguidores]. Obra religiosa não publicada de Isaac Newton, que censura o campeão trinitarista, Atanásio. O texto (escrito por volta de 1690) encontra-se disponível no site do Newton Project. (A imagem apresentada acima foi copiada de lá.):

Os cristãos dos primeiros tempos ensinavam que no dia do julgamento, Cristo sentenciaria alguns imediatamente para o céu, outros para tormentos perpétuos e outros para serem batizados com fogo e lançados na prisão até que pagassem o último centavo. Qual era a condição das almas entre a morte e o dia do julgamento as igrejas gregas daqueles tempos (até onde posso encontrar) não estabeleceram, até que Atanásio na vida de Antão, por relatar como Antão viu a alma de Amon subir ao céu, introduziu uma opinião de que as almas dos benditos iam para o céu imediatamente após a morte e, por consequência, que as dos ímpios iam imediatamente para o inferno e as de grau médio para o purgatório. E por ser absurdo que os homens devam ser recompensados antes de serem julgados, portanto, os atanasianos inventaram, sem qualquer fundamento nas Escrituras que há um julgamento duplo, o primeiro particular de cada um por ocasião de sua morte e o segundo geral. E para provar esta opinião alegam a promessa de Cristo ao ladrão que se corretamente pontuada pode ficar assim: ‘Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso’, as palavras ‘eu te digo hoje’ sendo colocadas a título de resposta ao pedido do ladrão, ‘lembra-te de mim quando entrares no teu reino’. Eles também alegam a parábola do rico e Lázaro, aplicando-a ao tempo atual, ao passo que se tivessem o mesmo conceito de último dia que os primeiros cristãos tinham, entenderiam que ela poderia muito bem pertencer àquela época: e ademais ela é apenas uma Parábola. Eles também enfatizam S. Paulo dizendo ‘eu desejo ser dissolvido e estar com Cristo’: não considerando que o intervalo entre a morte e a ressurreição é para eles um sono que não se percebe, um momento. Eles também argumentam com base na visão de Moisés e Elias com Cristo, embora a visão não fosse das almas deles (pois Elias jamais morreu), e sim de seus corpos vivos. Por outro lado, se os santos vão para o céu antes da ressurreição, então cada homem é recompensado de acordo com suas obras antes de Cristo vir para recompensa-los e os mortos são julgados antes de chegar a hora em que eles seriam julgados Apoc. 11 e ‘muitos virão do leste e oeste e sentar-se com Abraão e Isaque e Jacó no céu’ antes do último dia, Mat. 8 e ‘os que dormem no pó brilharão como as estrelas no firmamento’ antes de despertarem e Daniel ‘recebeu sua sorte’ logo que morreu. Dan. 12 Se os homens não estivessem altamente preconcebidos, eles considerariam tais textos das Escrituras assim como estes: ‘Na morte não há lembrança de ti no sepulcro quem te louvará?’ Sal. 6.5, ‘Será tua amabilidade declarada no túmulo, tuas maravilhas na escuridão e a tua justiça na terra do esquecimento?’ Sal. 88:11, 12. ‘Os mortos não louvam o Senhor nem os que descem ao silêncio.’ Sal. 115.17. Os mortos não sabem coisa alguma… Não há trabalho, nem conhecimento, nem sabedoria na sepultura.’ Ecles: 9.5, 10. ‘A sepultura não pode louvar-te, a morte não pode celebrar-te.’ Isa. 38.18. ‘Deus nos gerou de novo para uma esperança viva, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança… no céu.’ 1 Ped. 1,3, 4, o que é o mesmo que dizer que sem a ressurreição não há qualquer esperança, ou qualquer herança no céu. E para o mesmo propósito S. Paulo fala: ‘Não queremos, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem – Porquanto o Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.’ 1 Tes. 4. Aqui se vê que o apóstolo coloca todas as nossas esperanças e consolo na ressurreição e a partir desse momento inicia-se nossa estada com Cristo no céu. E para o mesmo fim é que o próprio Cristo diz: ‘Pois vou preparar-vos um lugar. E, quando eu for e vos preparar um lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.’ João 14,3. Assim, pois, São Paulo ainda não está com Cristo. Ele diz claramente que, ‘se os mortos não ressuscitam nossa fé é vã, os mortos em Cristo pereceram, somos de todos os mais miseráveis ​​e o que farão os que se batizam por causa dos mortos?’ 1 Cor. 15. E Cristo diz também tão claramente que ‘Deus não é Deus dos mortos’ e dali infere a ressurreição, pois Deus disse a Moisés: ‘Eu sou o Deus de Abraão.’

Ora, de acordo com o conteúdo destes textos das Escrituras, os primeiros cristãos situavam todos os mortos no Hades, isto é, não no inferno como traduzimos de modo corrupto a palavra, mas na terra da escuridão e do silêncio como o Antigo Testamento por vezes expressou isso. De onde veio a opinião de que Cristo, descendo ao Hades, trouxe com ele dali as almas dos Patriarcas. Mas os egípcios, os platonistas e outros pagãos colocaram as almas do melhor tipo de homens mortos nos sepulcros e estátuas e templos e no ar e no céu e assim encheram todos os lugares de fantasmas ou demônios. E Atanásio, ao fazer a alma de Amon subir ao céu, lançou as bases para introduzir nas igrejas gregas esta doutrina pagã de demônios, juntamente com a doutrina papista do purgatório. E isso eu considero ser a verdadeira origem da adoração de santos na igreja grega, pois Atanásio, no final da sua Epístola a Marcelino sobre a interpretação dos Salmos, escrita numa época de tentação ou provação (como ele chama) e, por consequência, antes da morte de Juliano, o apóstata, estabelece essa doutrina. ‘Que ninguém’, diz ele, ‘adorne os Salmos com palavras seculares de eloqüência, nem empreenda mudar as palavras, ou substitua completamente uma coisa por outra: mas que os recite e cante como eles estão escritos, que os santos que compuseran essas palavras, sabendo que elas eram suas próprias, possam louvar conosco. E pouco depois. Quando os demônios veem as palavras mudadas eles escarnecem delas, mas têm medo das palavras dos santos e não podem suportá-las. Nestas palavras Atanásio ensina três coisas, que os santos entendem o que dizemos, que eles intercedem por nós junto a Deus, e que, em certas formas de palavras há virtudes sobrenaturais: e estes princípios inferem prontamente a adoração de santos e encantamentos.”

Site: http://www.newtonproject.sussex.ac.uk – O trecho que define a posição condicionalista de Newton é o referente à questão: Whether Athanasius did not set on foot the invocation of saints. (Se Atanásio não incitou a invocação dos santos).

COMENTÁRIO

Como podemos ver, Newton extrai seu argumento sobre como interpretar a promessa de Jesus ao ladrão na cruz com base na pontuação “apropriada”. Se, conforme consta no manuscrito de Newton, Jesus disse: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso”, então Jesus quis dizer que estava fazendo sua promessa ao ladrão naquele dia, visto que eles estavam sendo crucificados com vistas à imortalidade em algum momento não especificado no futuro. A localização da vírgula depois de “hoje” era, portanto, decisiva para a interpretação de Newton.

O posicionamento do sinal de pontuação na frase de Jesus é opção do tradutor. Não existe qualquer base gramatical para se classificar a inserção da vírgula após a palavra “hoje” como ‘tradução errada’, ‘perversão’ ou ‘releitura’. Aliás, chamar isso de “releitura” é confundir o conceito. Releitura é reinterpretação do sentido de um texto. Em casos assim, o exame erudito do original costuma ser eficaz para decidir questões sobre o que o autor quis dizer. Visto que no caso de Lucas 23:43, a declaração original admite ambas as possibilidades de tradução, sugerir que os que posicionam a vírgula depois da palavra sēmeron (hoje) ‘alteraram o texto’ é uma acusação sem qualquer nexo.

É verdade que o posicionamento após a palavra “hoje” nunca foi o prevalecente, mas é igualmente verdadeiro que ele sempre teve aderentes. Isaac Newton não foi o único teólogo na história a considerar esta tradução como a ‘correta’. O que o levou a afirmar isso foi saber que nas situações em que o idioma grego é ambíguo, o que decide a questão é a informação suprida no restante das Escrituras. E tal informação não dá qualquer base para a ideia de que Jesus e o criminoso foram para o “Paraíso” naquele mesmo dia.

A Survey of the Search After Souls [Um Levantamento da Busca Pelas Almas], Londres, Inglaterra, 1702, pág. 156. (A capa acima é de uma edição de 2011.)

Reconsiderações sobre a alma humana demonstrando o conceito da alma humana, conforme se acredita ser uma substância Espiritual e Imortal unida a um Corpo Humano, como sendo pura Invenção Pagã, e não Condizente com os princípios da Filosofia, Razão ou Religião, e sim só a base de muitas opiniões absurdas e supersticiosas, abomináveis para as igrejas reformadas, e depreciativas em geral para o verdadeiro cristianismo.

(Esta obra foi publicada em 1702. O autor usou o pseudônimo de “Estibius Psycalethes”.)

Sobre a obra “Reconsiderações…”, temos a seguinte informação adicional:

Esta obra foi dedicada pelo médico ao clero da igreja da Inglaterra; e ele afirma ao explicá-la que “a principal ênfase dos argumentos, seja para execrar ou apoiar sua opinião, deve ser extraído dessas únicas credenciais da teologia verdadeira e ortodoxa, os oráculos vivos de Deus, as Sagradas Escrituras”. Em outra parte, em resposta à pergunta: O homem morre como um animal bruto? ele diz: “Sim, em relação ao seu fim nesta vida, ambas as mortes consistem em uma privação da vida”. “Mas, daí”, ele acrescenta, “o homem tem tal prerrogativa ou preeminência acima de um animal, que ele será ressuscitado novamente e será feito participante da eterna felicidade no mundo vindouro”. Apesar destas declarações solenes da autoridade das Escrituras cristãs, o Dr. Coward foi comumente classificado junto com os que foram considerados os adversários mais rancorosos e determinados do cristianismo… Sua negação da imaterialidade e da imortalidade natural da alma, e de uma condição separada de existência entre o momento da morte e a ressurreição geral, era tão contrária à opinião universal, que não surpreende muito que ele tenha sido considerado um inimigo da revelação. Poder-se-ia esperar que ele entraria imediatamente em choque com oponentes; e, consequentemente, ele foi atacado por vários escritores de diferentes naturezas e habilidades;… O Sr. Broughton escreveu um tratado intitulado “Psychologia, or, an Account of the nature of the rational Soul, in two parts” [Psicologia, ou um Relato da natureza da Alma racional, em duas partes]; e o Sr. Turner publicou uma “Vindication of the separate existence of the Soul from a late author’s Second Thoughts.” [Vindicação da existência separada da Alma das ‘Reconsiderações’ de um autor recente]. Ambas os trabalhos apareceram em 1703. A publicação do Sr. Turner foi respondida pelo Dr. Coward, em um panfleto chamado “Farther Thoughts upon Second Thoughts” [Reconsiderações Adicionais sobre as Reconsiderações], no qual ele reconheceu que no Sr. Turner ele teve um adversário racional e sincero. Ele não tinha a mesma opinião do Sr. Broughton, que, portanto, foi tratado por ele com severidade em “An Epistolary Reply to Mr. Broughton’s Psychologia” [Uma Réplica Epistolária à Psicologia do Sr. Broughton], réplica essa que não foi impressa separadamente, e sim anexada a uma obra do médico, publicada no início de 1704 e intitulada “The Grand Essay; or, a Vindication of Reason and Religion against the impostures of Philosophy” [O Grande Ensaio; ou, uma Vindicação da Razão e da Religião contra as imposturas da Filosofia]. Nesta última produção, a ideia de a alma humana ser uma substância imaterial foi de novo atacada vigorosamente.

Tão desagradáveis ​​eram as posições do Dr. Coward, que na sexta-feira, 10 de março de 1704, foi feita uma queixa à Câmara dos Comuns sobre as “Reconsiderações” e o “Grande Ensaio”; esses livros foram trazidos para a mesa, e algumas partes foram lidas. A conseqüência disso foi uma determinação para “que se nomeie um comitê para examinar os referidos livros, e coletar as suas partes ofensivas e averiguar quem é o autor, a impressora e a editora”. Ao mesmo tempo, o assunto foi encaminhado a um comitê, que foi instruído a se reunir naquela tarde, sendo investido de poder para investigar pessoas, documentos e registros. No dia 17 de março, Sir David Cullum, o presidente, informou ao comitê que tinham examinado os livros e coletaram vários trechos que consideraram ofensivos, e descobriram que o Dr. Coward era o autor deles; que o Sr. David Edwards tinha sido o impressor de um, e o Sr. W. Pierson do outro; e que ambos os livros foram publicados pelo Sr. Basset. Sir David Cullum, tendo lido o relatório em seu lugar, e o mesmo sendo lido novamente, depois de ser entregue na mesa dos funcionários, a câmara procedeu ao exame das provas em relação à escrita, impressão e venda dos dois livros. Tendo sido produzida evidência suficiente em relação ao escritor deles, o Dr. Coward foi convocado. Sendo examinado de acordo, ele reconheceu ser o autor dos livros e declarou que nunca pretendeu qualquer coisa contra a religião; que eles [os livros] não continham nada contrário à moralidade ou à religião; e que, se houvesse alguma coisa neles contrário à religião ou à moral, ele lamentaria muito e se prontificaria a recolher os mesmos. A câmara então decidiu “que os referidos livros contem várias doutrinas e posições contrárias à doutrina da igreja da Inglaterra e tendem à subversão da religião cristã”; e ordenou que eles fossem queimados no dia seguinte, pelo carrasco, no New Palace-yard, Westminster; ordem essa que foi executada. Não obstante este procedimento, ao longo do mesmo ano ele [o Dr. Coward] publicou uma nova edição de suas “Reconsiderações”, que foi seguida por um tratado, intitulado “The just Scrutiny; or, a serious inquiry into the modern notions of the Soul” [O Exame Justo; ou, uma pesquisa séria sobre os conceitos modernos de Alma.].

The General Biographical Dictionary [Dicionário Biográfico Geral], Volume 10, Londres, Inglaterra, 1813, págs. 375-377.

A Search After Souls: or, The Immortality of a Humane Soul, Theologically, Philosophically, and Rationally considered, with the Opinions of Ancient and Modern Authors. By a Lover of Truth [Uma Busca pelas Almas: ou, a Imortalidade de uma Alma Humana, Teológica, Filosófica e Racionalmente Considerada, com as Opiniões de Autores Antigos e Modernos. Por um Amante da Verdade], Henry Layton, 2 Volumes, Londres, Inglaterra, 1706, Vol. 1, págs. 184, 185. (A capa acima é de uma edição de 2010.):

Podemos observar que a morte no Novo Testamento é freqüentemente chamada e comparada com um sono, e esse o mais pesado e profundo; e nesse sono, isto é, sono profundo, qualquer que seja o período de tempo que passe sobre a cabeça de quem dorme, ele não tem qualquer percepção disso, sejam duas, dez ou vinte horas; o longo ou curto tempo que passe não será manifesto ao que dorme, mas, ao acordar, ele se levanta, como se tivesse adormecido pouco antes. A morte do homem é esse sono profundo, e sua ressurreição é tal despertar. Se, durante esse sono, passarem-se meses ou anos, até cem ou mil anos, isto não é perceptível pela pessoa morta; mas quando ela se levantar, será como se tivesse acabado de adormecer. — Pareceria uma grande incongruência chamar a morte de sono, se fosse verdade que após a morte a melhor parte do homem, a saber, sua alma, continua desperta e viva; e com uma liberdade de ação maior do que ela usufruíra durante a sua conjunção com o corpo.

The materiality or mortality of the soul of man, and its sameness with the body, asserted and proved from the holy scriptures of the old and new testament, shewing, that upon the death of the body, all sensation and consciousness utterly cease till the resurrection of the dead [A materialidade ou mortalidade da alma do homem, e sua identidade com o corpo, afirmada e comprovada à base das Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo testamento, mostrando que, após a morte do corpo, toda sensação e consciência cessam completamente até a ressurreição dos mortos], autor anônimo, Londres, Inglaterra, 1729 (a capa acima é de uma edição de 2018).

Assim, somente a vida é a causa de todas as nossas operações, sob Deus, que é a fonte da vida. E quando a vida cessa, todas as propriedades, poderes e paixões atribuídas à mente e ao coração do homem cessam junto com ela. Pois, de acordo com as Escrituras Sagradas, a morte é uma extinção total de toda consciência, razão, sabedoria, conhecimento, memória, pensamento, afeições, etc.

[Em seguida a esta declaração, o autor cita textos bíblicos em apoio, tais como Eclesiastes 9:5 e o Salmo 6:5.]

Citado em The Works,Theological And Miscellaneous (Obras, Teológicas e Miscelânea), Francis Blackburne, Vol. 3, Cambridge, Inglaterra, 1804, Capítulo 24, pág. 241.

Institutes of Ecclesiastical History [Institutos de História Eclesiástica], Johann L. von Mosheim, Longman & Co., Londres, Inglaterra, 1841, Vol. III, pág. 578. (A capa acima é de uma edição de 2012.):

Eles [os Batistas Gerais na Inglaterra] creem que a alma, entre a morte e a ressurreição no último dia, não tem nem prazer nem dor, mas está numa condição de insensibilidade.

Considerations on the Theory of Religion [Considerações sobre a Teoria da Religião], Edmund Law, 1765 (A capa acima é de uma edição de 2009):

“Deixe-me acrescentar os sentimentos de uma pessoa muito digna e piedosa, eminentemente bem versada na linguagem das Escrituras; refiro-me ao reverendo Dr. Taylor, que teve o prazer de escrever o seguinte:

‘Folheei seus papéis sobre um assunto importante, que deseja ser esclarecido e que não pode ser alocado dentro dos estreitos limites de uma nota; mas merece muito ser discutido num tratado distinto. — Ele abrange dois pontos, um sobre a natureza da alma humana, ou Espírito; tanto quanto a revelação nos dá alguma luz; o outro, referente ao estado a que a morte nos reduz. Com base na coleção de textos bíblicos sob o primeiro destes pontos, parece-me evidente que nenhum homem pode provar pelas Escrituras que a alma humana é um princípio, que vive, age, ou pensa independentemente do corpo. — Quanto ao outro assunto, a pergunta é: Será que as almas dos homens, ao morrerem, entram imediatamente numa condição de glória no Céu, ou numa condição de miséria no lugar de tormentos; e continuam conscientes, pensando, desfrutando, ou sofrendo, em uma ou outra condição, até a ressurreição? Ou será que elas permanecem mortas, sem pensamento, vida, ou consciência, até a ressurreição? A revelação sozinha pode dar uma resposta a estas perguntas: Pois qualquer que seja a natureza metafísica, essência ou substância da alma; que é totalmente desconhecida para nós: é demonstrativamente certo, que sua existência, tanto na forma como na duração dela; deve ser totalmente dependente da vontade e disposição de Deus. Deus deve estabelecer sua conexão e dependência de qualquer outra substância; tanto em suas operações, capacidades, como na duração. Portanto, todos os argumentos em favor da imortalidade natural da alma, derivados da natureza de sua substância ou essência, como se ela existisse e agisse separada do corpo, por ser substância dele, etc., são manifestamente inúteis. Se realmente vamos encontrar algo nas faculdades e operações da mente, das quais estamos cônscios, que mostram ser a vontade de Deus que devamos existir num estado futuro; esses argumentos permanecerão bons. Mas nunca podemos provar que a alma do homem é de uma natureza assim, que possa e deva existir, viver, pensar, agir, usufruir, etc. de maneira separada e independente do corpo. Toda a nossa experiência atual mostra o contrário. As operações da mente dependem, constante e invariavelmente, do estado do corpo; especialmente do cérebro. Se algumas pessoas que estão morrendo têm um uso consciente de suas faculdades racionais até o final; é porque a morte acometeu alguma outra parte; e o cérebro ainda permanece sólido e vigoroso. Mas qual é o sentido da revelação? Você forneceu uma valiosa coleção de textos que mostram isso bem claramente. —  A matéria produz muitas observações práticas; e os mais ardentes e fortes incentivos à piedade.’ —

Mas pode parecer questão de honra que devamos extrair todos estes em forma; juntamente com as consequências dessa doutrina; em relação ao papista ou deísta; até que a própria doutrina, que tem sido por tanto tempo desacreditada por um, e tão frequentemente desonrada pelo outro, se mostre livre dos vários preconceitos associados a ela; e seja finalmente compreendido que ela tem uma base justa nas Escrituras; pelas quais nós, protestantes professamos estar decididos; e quando tivermos devidamente examinado a tais; seja possível discernir, que para um cristão imortalidade natural da mente humana, nem está necessariamente associada, nem dá qualquer evidência apropriada da condição futura, de recompensas e punições.

Concluirei com um testemunho, que o verdadeiramente sincero e consciencioso escritor mencionado acima dirige ao seu adversário, neste ponto. Comentários anexados ao Scr. Doctr. of OrS. pág. 5. ‘Creio que ele está perfeitamente certo em afirmar, que a morte da qual Adão foi ameaçado era uma perda e extinção total da vida; e que a nossa vida presente, e a ressurreição dentre os mortos, deve-se à graça de Deus, em um Redentor: para isso ele tem boa evidência nas Escrituras; e merece honestamente o reconhecimento público do mundo cristão, por afirmar isso. Pois a remoção do erro, independentemente do que nossos preconceitos possam sugerir, longe de ser dolorosa, presta um grande serviço à religião.’”

– Trecho concludente do Apêndice [págs. 365-424] intitulado Concerning the Use of the Words Soul or Spirit in Holy Scripture and the State of the Dead There Described [Sobre o Uso das Palavras Alma ou Espírito nas Escrituras Sagradas e a Condição dos Mortos Descrita Lá].

A Short Historical View of the Controversy concerning an Intermediate State and the Separate Existence of the Soul, Between Death and the General Resurrection, deduced from the Beginning of the Protestant Reformation, to the Present Time [Um Breve Exame Histórico da Controvérsia referente a um Estado Intermediário e a Existência Separada da Alma entre a Morte e a Ressurreição Geral, acompanhada do Início da Reforma Protestante até o Momento Atual], Francis Blackburne, Londres, Inglaterra, 1765, págs. xxvi-xxviii, xliii, xlv, 68, 69. (A capa acima é de uma edição de 2008):

A questão é, se as Escrituras fornecem quaisquer razões justas e sólidas para a doutrina da imortalidade da alma do homem e, em particular, qualquer evidência da existência dela, quando separada do corpo, num estado de percepção consciente; e se, em consequência desse conceito, existe certo estado intermediário de felicidade e miséria para homens bons e maus, respectivamente, entre a morte e a ressurreição geral.

Os que mantêm a ideia contrária a estes pontos alegam que, segundo as Escrituras, a vida e a imortalidade foram trazidas à luz pelo Evangelho de Cristo, excluindo-se todos os outros mestres, e qualquer outra revelação, pelo menos desde o nascimento de Moisés em diante; excluindo-se da mesma maneira todas as informações obtidas à luz da natureza, ou resultantes de dissertação filosófica sobre a substância ou as qualidades da alma humana. Eles insistem que Cristo é o caminho, a verdade, e a vida, de modo que ninguém vem ao Pai [no que se refere a ser como ele, e vê-lo como ele é num estado futuro], a não ser pelo poder mediador de Cristo. Que o modo de chegar a Deus, no sentido e pelos meios mencionados acima, é a ressurreição dos mortos, da qual a garantia é dada a todos os homens, pela ressurreição de JESUS. Eles defendem, além disso, que a sentença pronunciada sobre nossos primeiros pais, significou uma privação total da vida, sem qualquer reserva ou preservação para a vida da alma; e, por conseguinte, que a vida eterna, ou uma restauração e redenção das consequências desta sentença foi efetivada, revelada, consignada e assegurada para o homem, em e por meio de Cristo, e será cumprida de nenhuma outra maneira além da especificada por Cristo e seus apóstolos, o que não deixou qualquer margem para a conclusão de que há uma vida à parte ou intermediária para a alma, quando ela está separada do corpo.”

… enquanto nossos reformadores estavam podando diligentemente os ramos da superstição e da impostura, eles inadvertidamente deixaram o cepo, com uma raiz vigorosa no solo, o que seus sucessores, com uma surpreendente falta de atenção às consequências perniciosas de seu equívoco, vieram a cultivar para um viçoso crescimento, com grande risco não só para a religião protestante, mas até mesmo para o próprio Cristianismo, que está agora bem próximo de ser sufocado e obscurecido sob a espessa sombra desta árvore venenosa bizarra.

É notável que os protestantes, que na maioria das vezes se recusaram a ser governados pela tradição, parecem ter se submetido a ela neste assunto com a mais absoluta deferência.

A doutrina do Novo Testamento é que os homens deverão se tornar imortais por meio de uma ressurreição dos mortos, uma restauração do homem inteiro à vida; e o N.T. está longe de reconhecer qualquer consciência intermediária no homem entre a morte e a ressurreição, pois ele sempre fala desse intervalo como um sono, o que implica uma suspensão da faculdade do pensamento, um descanso daqueles trabalhos que requerem pensamento, memória, consciência, etc., durante o qual tais faculdades são inúteis.

Mas isto não é tudo. O sistema bíblico da imortalidade supõe que o homem perdeu seu direito original à imortalidade, e nunca o teria recuperado, a não ser pela intervenção de um redentor. A consequência desta doutrina é que, entre o momento da perda, e o aparecimento real do Redentor, os mortos não poderiam ter a vida em sentido algum: e que nem antes nem depois do aparecimento do Redentor os homens mortos foram ou seriam restaurados à vida, a não ser pela maneira revelada pelo Redentor, ou seja, a ressurreição dos mortos.

Assim, supor que as almas de homens mortos estão vivas, conscientes e ativas, e capazes de felicidade e miséria, da morte do primeiro homem até a ressurreição do último, e pretender demonstrar isso por meio da razão e da filosofia é simplesmente anular todo o sistema cristão.

Observations on the Doctrine of an Intermediate State between Death and the Resurrection [Observações Sobre a Doutrina de um Estado Intermediário entre a Morte e a Ressurreição], Peter Peckard, Londres, Inglaterra, 1756, págs. 3-5, 18-21:

A Doutrina de um estado futuro, estabelecida sobre os princípios do Cristianismo, é a fortaleza invencível da Verdade; mas a defesa injusta desta doutrina, por meio de raciocínios metafísicos e distinções muito rebuscadas, enfraqueceu muito o apoio cristão a ela. Ao aderir a esta, descobriremos que nossa vida imortal é adquirida para nós por Jesus Cristo, e por ele apenas. Mas se insistirmos em um princípio natural de imortalidade, deixamos muito pouco para ser realizado por Jesus Cristo; nós abandonamos nossa poderosa fortaleza, e saímos em busca de segurança até aqueles lugares que não são de modo algum sustentáveis; pois os argumentos metafísicos sobre este assunto não terão a força que suportará o teste de um exame imparcial.

Pode ser apropriado observar aqui, de uma vez por todas, que a negação de um princípio natural de imortalidade não afeta de forma alguma a doutrina cristã bíblica de um estado futuro: Pois em parte alguma as Escrituras nos asseguram da veracidade desta doutrina, desse princípio natural, e sim da redenção por Jesus Cristo, e disso somente: E não só isso, as Escrituras declaram expressamente a mortalidade do homem, e a restauração à vida dessa mortalidade, pelo mesmo Jesus Cristo. De modo que a importante doutrina de um estado futuro está firme em sua própria fundação devida, apesar de um princípio natural de imortalidade ser desautorizado. Quem constrói suas esperanças de existência futura sobre esta base [a imortalidade natural], é como o homem tolo que construiu sua casa sobre a areia; mas aquele que escolhe a autoridade de Cristo, e permanece nela, é como o homem sábio, que construiu seu alicerce sobre uma rocha.

Sendo então as Escrituras nossa única autoridade sobre este ponto, tudo o que pode ser produzido à base de qualquer outra fonte, a menos que defensável pela autoridade da Escrituras, não deve ser considerado como sendo de qualquer peso e todos os argumentos derivados da natureza abstrata da alma, das negações arbitrárias com respeito aos poderes da matéria, e das distinções ontológicas entre os diversos tipos de almas e substâncias, são manifestamente inúteis e inconclusivos. Todo o processo de tais argumentos é desmentido, como sendo derivado de premissas que não tem qualquer autoridade, que não são concebíveis, e que não podem ser comprovados. Às Escrituras nós dirigiremos nossos oponentes; por elas seremos decididos, e por elas apenas.

Ora, como a doutrina de um estado intermediário de sensibilidade entre a morte e a ressurreição deriva-se da suposição de um princípio natural inerente de imortalidade, se essa suposição for falsa, esta doutrina não pode ser verdadeira. E visto que nada é admitido como autoridade adequada sobre este assunto, a não ser as Escrituras, a doutrina de um estado intermediário deve permanecer ou cair por meio dessa autoridade; sendo que o peso e a tendência dela foram colocados ultimamente perante o público de uma maneira muito moderada e ingênua.

… A partir deste breve e imperfeito relato do surgimento desta opinião [a imortalidade natural da alma], e da maneira como ela foi introduzida entre os cristãos, podemos ver que a doutrina relativa a um estado intermediário de sensibilidade foi extraída originalmente das sutilezas e da confusão da filosofia grega, primeiro misturada com o cristianismo, talvez sem qualquer mau objetivo; mas continuou depois disso, e foi feita um artigo da doutrina da Igreja, com fins mesquinhos e lucrativos; objetivos estes totalmente destrutivos do sistema estabelecido por Jesus Cristo; como ficará mais claro a partir de um breve esboço de algumas de suas consequências inevitáveis. E, em primeiro lugar, como o próprio conceito de morte foi então banido, por se estabelecer um princípio da vida inerente; e, como é muito simples, e, além de qualquer contestação que Jesus Cristo veio ao mundo com o propósito de resgatar os homens da morte e dar-lhes a vida e a imortalidade é bem certo que ele não poderia redimi-los do estado em que eles não estavam, nem dar-lhes a vida e a imortalidade que eles já possuíam. De modo que, por este esquema [a imortalidade natural da alma] o inteiro conceito de redenção por Jesus Cristo é absoluta e inteiramente destruído. O que, então, estava sendo feito? Um absurdo completo, pois os homens da igreja pregavam a redenção por Jesus Cristo, e ainda afirmavam uma doutrina que contradizia o próprio conceito da Redenção.

… Outra consequência derivada da opinião de um estado intermediário de sensibilidade, é o sobrecarregamento do conceito de morte, que é claro, simples e inteligível em si mesmo, com contradições insuperáveis, ​​e destruindo toda a evidência de sentido e princípios comuns da razão: Pois os que mantêm esta opinião, são também levados a fazer estas asserções, “que os que se diz estarem mortos estão mortos apenas para os homens aqui na Terra, mas não estão mortos para si mesmos”. “Que” a vida deles não está extinta, mas desapareceu “apenas para nós”. “Que eles não estão nem mortos nem adormecidos, mas ainda vivos e despertos”. Ora, que tipo de morte é essa, na qual os homens não estão mortos nem adormecidos, e sim ainda vivos e despertos, em que a vida ou personalidade deles não está extinta, mas um corpo espiritualizado está vitalmente unido com uma alma consciente e ativa, de minha parte não posso conceber. Que todas essas asserções são mantidas pelos propagadores desta opinião, pode ser suficientemente comprovado, sempre que houver oportunidade. Eu tolerarei todas as considerações sobre estes trechos, para que eu não seja considerado culpado de insultar os mortos ou ofender os vivos, mas tomo a liberdade de dizer que não há uma contradição mais forte na doutrina da transubstanciação do que na doutrina duma morte desse tipo, que inclui percepção e consciência.

The Ruin and Recovery of Mankind [A Ruína e o Restabelecimento da Humanidade], Isaac Watts, Londres, Inglaterra, 1740, págs. 198, 228-230 (da edição de 1742):

Uma vez que a vida humana frequentemente inclui não só a existência, mas todas as bênçãos que a acompanham, e todos os possíveis prazeres, mais especificamente aqueles que são visíveis e sensíveis, então a palavra morte em sua noção geral, e no mais óbvio e comum sentido de humanidade, pode razoavelmente incluir uma perda de todas as coisas que o homem possuía, isto é, a própria existência junto com todas as bênçãos dela; e consequentemente, quando a morte foi apresentada como ameaça pelo pecado, isso pareceu mais obviamente significar que por causa do pecado o homem perdeu todas as coisas que ele havia recebido de seu Criador. Isto, eu digo, pode ser o primeiro e mais óbvio significado da palavra morte, quando se considerou que ela só atinge as coisas visíveis, embora depois disso o sentido dela possa ser ampliado ou limitado em ocasiões específicas, à medida que o mundo invisível se aproxima da percepção dos homens.

… Não há um lugar das Escrituras que me ocorra, onde a palavra morte, conforme ela foi originalmente ameaçada na Lei da Inocência, necessariamente signifique alguma imortalidade miserável da alma, seja para Adão, o verdadeiro pecador, seja para a posteridade dele. Eu digo que não lembro de qualquer texto assim, mas não afirmo positivamente que não haja algum.

Mas suponhamos que essa morte signifique a total destruição da alma, assim como do corpo, como uma penalidade devida a todo pecado (pois o salário do pecado é a morte), mesmo o menor pecado ou ofensa contra Deus; ainda assim, onde o pecado do homem tem algum grau de agravante, talvez a justiça divina não destruiria a alma, mas a alma continuaria em sua imortalidade natural e consciência após a morte do corpo, para aguentar novas punições devidas a esses agravantes: Deus pode retomar mais ou menos daquilo que o homem perdeu pelo pecado. E este é um ponto determinado por nosso Salvador, que a continuidade da vida e da miséria é uma punição maior do que a aniquilação; pois ele diz: ‘Seria melhor nunca ter nascido, do que ser punido como Judas, o traidor seria punido’, Mat. 26:24

E uma vez que mal existe algum pecado real, a não ser alguns agravantes maiores ou menores, talvez não haja um pecador real que tenha merecido alguma continuidade de sua alma em existência, consciência e miséria. E, por conta disso, a morte ameaçada pelo Pacto de Obras, especialmente para o transgressor real e pessoal, talvez possa incluir nela a indignação e ira, tribulação e angústia, que seja devida a toda alma imortal que realmente está errada, πᾶσαν ψυχὴν ἀνθρώπου τοῦ κατεργαζομένου τὸ κακόν, toda alma que opera o mal, Rom. 2:8, 9. Pois, como já mostrei antes, o apóstolo parece falar lá de justificação e condenação, por uma Lei ou Pacto de Obras.

Mas se o Grande Deus teria realmente dado continuidade à alma de Adão, o primeiro pecador, numa condição de existência após a morte, e em uma longa imortalidade, para punir sua ofensa real, caso ele não tivesse dado ao homem uma nova aliança, isto é, um Pacto de Graça e Salvação, não é claramente revelado nem determinado nas EscriturasÉ certo que o salário, ou a devida recompensa, pelo pecado é a morte, quer signifique uma destruição total da alma e do corpo, quer a morte corporal com uma condição de miséria para a alma depois de o corpo estar morto. Toda a nossa vida e ser e conforto em alma e corpo, é perdida pelo pecado, e Deus pode recomeçar mais ou menos, como diria sua Sabedoria, a fim de punir os culpados de acordo com os maiores ou menores agravantes ou deméritos de seus crimes.

Em segundo lugar, a outra parte da morte eterna, ou miséria eterna, consiste em ressuscitar o corpo dos mortos e reuni-lo à alma, a fim de ser eternamente miserável junto com a alma, ou melhor, ser um eterno. instrumento da miséria e do tormento da alma. Mas que esta ressurreição do corpo para uma condição de miséria seja ameaçada na Bíblia como punição do pecado original de Adão é o que eu não posso provar, nem sei em que que texto das Escrituras se encontra isso. A Lei da Inocência ameaça de morte; mas como a promessa de vida feita à Inocência foi imortalidade e vida eterna sem necessidade de ressurreição, Rom. ii. 7. assim, a ameaça de morte para o pecado não implica (ao que me conste) uma ressurreiçãoNão foi dito em Gen. 2. ‘Certamente morrerás e ressuscitarás para novos sofrimentos.

Existem vários lugares das Escrituras onde na ressurreição é atribuída a Cristo, e seu compromisso em um Pacto de graça, além daquele notável, 1 Coríntios. 15:21. Como pelo homem veio a morte, assim também pelo homem veio a ressurreição dos mortos: mas eu não conheço nenhuma linha na Palavra de Deus que forneça uma miserável ressurreição como a punição ameaçada pela ofensa de Adão. É muito provável, portanto, que a Ressurreição do Corpo tenha sido introduzida por Cristo, o segundo Adão, em outra base, a saber, a proposta evangélica de misericórdia para toda a humanidade na promessa feita a Adão depois de sua queda, que tem sido geralmente chamado de Primeiro Evangelho ou um Epítome do Evangelho de Cristo: E quem quer que rejeite esta Graça, ou abuse dela pela verdadeira impenitência e indulgência do pecado, deve sofrer a punição na alma e no corpo para sempre. Isto é chamado de segunda morte, Rev. 21:8

Assim, como o Evangelho ou Aliança da Graça forneceu esperança e salvação por Jesus, o Mediador, para todos os que aceitariam, seja sob a Dispensação Patriarcal, Judaica ou Cristã; então aqueles que continuarem impenitentes, e não retornarem a Deus de acordo com este novo Pacto, estão expostos ao duplo castigo sob o Governo do Mediador, que os ressuscitará dos mortos para receber a recompensa de sua obstinação e impenitência, sua violação da Lei de Deus e sua negligência de todos os meios e esperanças da Graça.

Hebrew and English Lexicon Without Points [Léxico Hebraico-Inglês Sem Pontos], John Parkhurst, W. Faden, Londres, 1762 (A capa acima é da edição de 2015):

Como um S[ubstantivo] נֶ֫פֶשׁ [nephesh] Uma criatura viva, uma criatura ou animal que vive por respiração. Gen. 1:20, 21, 24 … Particularmente uma criatura humana, ser ou a própria pessoa humana, sendo o principal de estruturas animais, uma pessoa…

Como um S[ubstantivo] tem sido suposto que נֶ֫פֶשׁ [nephesh] significa a parte espiritual do homem, ou o que comumente chamamos de sua alma: devo confessar por mim mesmo que não consigo encontrar qualquer trecho [bíblico] onde ele tenha indubitavelmente esse significado. Gen. 35:18. 1 Reis 17:21, 22 e Sal. 16:10, pareceriam os mais adequados a esta significação. Mas não poderia נֶ֫פֶשׁ[nephesh] nestes três trechos ser mais adequadamente traduzido por fôlego, e no último como  uma estrutura respiratória ou animal?

– 6ª Edição, 1811, págs. 459, 460. (Sobre o significado da palavra נֶ֫פֶשׁ [nephesh]).

VI. Como um substantivo masc. ou fem. (veja Jó 26:6, Isa 14:9.) שאול [SeolA condição invisível dos mortos, ‘o lugar e a condição daqueles qui in quæstiones sunt (Cocceius) que estão fora do caminho e a serem procurados”. Bate. Veja, entre outros, Gên. 42:38. 44:31. 1 Reis 2:9. Num. 16:30, 33. Jó 17:13, 14. Sal. 49:15. 89:49. 141:7. Isa. 14:9, 11. Neste ponto de vista ele parece se aproximar do conceito de ‘Aδης Hades dos gregos  (pelo qual a LXX quase constantemente o traduz), i.e. ὁ αϊδης τοπος, o lugar invisível, e pela nossa antiga palavra inglesa Hell [Inferno]*, que agora é tão pouco usada, a não ser como o lugar de tormento, sendo ainda um derivado do saxão hillan ou helanesconder ou de holluma caverna, que antigamente significava o lugar escondido ou não visto dos mortos em geral, como se pode notar à base da versão dos Salmos 49:14, 55:16, 138:9 e 139:44 na Grande Bíblia do Rei Henrique VIII, que ainda é utilizada em nossa Liturgia; e é assim que deve ser entendido em outros locais dessa Tradução.

קבר [qabar, enterrar] significa o túmulo ou o sepulcro propriamente dito; שאול [Seol] significa aquilo que é comum a todos, o receptáculo comum dos mortos. Compare com Ecle. 3:20. Ecle. 40:11. 41:10. Assim Leigh em sua Crit. Sacra bem observa que ‘Jacó, Gen. 37:35, desceria pranteando ao Seol (שאול) para seu filho; não para o Inferno (o lugar dos condenados), pois ele jamais pensou que seu filho tivesse ido para esse lugar, e nem para a sepultura propriamente dita, pois ele achou que seu filho tinha sido devorado por um animal selvagem, e sim que ele tinha ido para o receptáculo dos mortos

Não é שאול às vezes usado em referência a uma grande ‘profundidade no subterrâneo, fora da vista, e para se procurar’ (Batesem qualquer referência aos mortos? Veja Deut. 32:22. Jó 11:8. Sal. 139:8. Eze. 31:17. Amos 9:2.

– pág. 673. (Sobre o significado da palavra שאול [Seol])

Encyclopaedia Britannica (Enciclopédia Britânica), 1768-1771:

ALMA – na religião e na filosofia, o aspecto ou essência imaterial de um ser humano, aquilo que confere individualidade e humanidade, muitas vezes considerada como sinônimo da mente ou do eu. Na teologia, a alma é adicionalmente definida como aquela parte do indivíduo que participa da divindade e frequentemente se considera que sobrevive à morte do corpo.

Muitas culturas reconheciam algum princípio incorpóreo da vida ou existência humana correspondente à alma, e muitas atribuíram almas a todos os seres vivos. Há evidências, até mesmo entre povos pré-históricos, de uma crença em um aspecto distinto do corpo e residindo nele. Apesar da crença generalizada e duradoura na existência de uma alma, porém, diferentes religiões e filósofos desenvolveram uma variedade de teorias quanto à sua natureza, sua relação com o corpo, sua origem e mortalidade.

Entre os povos antigos, os egípcios e os chineses tinham a concepção de uma alma dupla. O ka (respiração) egípcio sobrevivia à morte, mas permanecia perto do corpo, enquanto o ba espiritual prosseguia para a região dos mortos. Os chineses faziam distinção entre uma alma inferior, sensitiva, que desaparece com a morte, e um princípio racional, o hun, que sobrevive à sepultura e é o objeto da adoração dos antepassados.

Os hebreus primitivos evidentemente tinham um conceito da alma, mas não a separavam do corpo, embora escritores judaicos posteriores tenham desenvolvido adicionalmente a ideia da alma. As referências do Antigo Testamento à alma estão relacionadas com o conceito de respiração e não estabelecem qualquer distinção entre a alma etérea e o corpo físico. Os conceitos cristãos de uma dicotomia corpo-alma originaram-se com os gregos da antiguidade e foram introduzidos na teologia cristã em uma data precoce por S. Gregório de Nyssa e por S. Agostinho.

Os conceitos dos gregos da antiguidade sobre a alma variaram consideravelmente de acordo com a era específica e a escola filosófica. Os epicuristas consideravam que a alma era constituída de átomos, assim como o restante do corpo. Para os platonistas, a alma era uma substância imaterial e incorpórea, semelhante aos deuses, mas parte do mundo da mudança e do porvir. A concepção de Aristóteles sobre a alma era obscura, embora ele declarasse que era uma forma inseparável do corpo.

Na teologia cristã, S. Agostinho falou da alma como um “cavaleiro” sobre o corpo, deixando clara a divisão entre o material e o imaterial, com a alma representando a “verdadeira” pessoa. No entanto, embora corpo e alma estivessem separados, não era possível conceber uma alma sem seu corpo. Na Idade Média européia, S. Tomás de Aquino voltou ao conceito dos filósofos gregos da alma como um princípio motivador do corpo, independente, mas exigindo a substância do corpo para constituir um indivíduo.

A partir da Idade Média, a existência e a natureza da alma e sua relação com o corpo continuaram a ser disputadas na filosofia ocidental. Para René Descartes, o homem era uma união do corpo e da alma, cada qual uma substância distinta agindo sobre a outra; a alma era equivalente à mente. Para Benedito de Spinoza, corpo e alma compunham dois aspectos de uma única realidade. Immanuel Kant concluiu que a alma não era demonstrável através da razão, embora a mente inevitavelmente deva chegar à conclusão de que a alma existe, pois tal conclusão era necessária para o desenvolvimento da ética e da religião. Para William James no início do século XX, a alma como tal não existia em absoluto, mas era meramente uma coleção de fenômenos psíquicos.

Assim como houve diferentes conceitos da relação entre a alma e o corpo, houve muitas ideias sobre quando a alma entra em existência e quando e se ela morre. As crenças dos gregos da antiguidade eram variadas e evoluíram ao longo do tempo. Pitágoras sustentava que a alma era de origem divina e existia antes e depois da morte. Platão e Sócrates também aceitaram a imortalidade da alma, enquanto Aristóteles considerava que apenas uma parte da alma, os noûs, ou o intelecto, tinham essa qualidade. Epicuro acreditava que tanto o corpo como a alma terminavam com a morte. Os primeiros filósofos cristãos adotaram o conceito grego da imortalidade da alma e o pensamento da alma como sendo criada por Deus e infundida no corpo no momento da concepção.

– Edição digital, 2005, Verbete “Alma”.

MORTE

Judaísmo. Os escritos canônicos do judaísmo bíblico registram as relações entre certos indivíduos proeminentes e seu deus. Os eventos descritos são percebidos como marcos no desenrolar de um destino nacional, projetado e guiado por esse deus. A escatologia judaica é, nesse sentido, única: sua principal preocupação é o destino de uma nação, e não o que acontece a um indivíduo na morte ou depois disso.

No judaísmo clássico, a morte encerra o livro. Como o autor anônimo do Eclesiastes disse francamente: “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem nada, e não têm mais recompensa” (Ecle. 9:5). A morte dos seres humanos era como a dos animais: “Como morre, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego, e o homem não tem vantagem sobre os animais… Todos são do pó, e todos voltam novamente para o pó” (Ecle. 3:19-20). Só a vida importava: “Um cão vivo é melhor do que um leão morto” (Ecle. 9:4). Até mesmo Jó, cujo questionamento às vezes chega a subverter a doutrina Javista, acaba endossando o credo oficial: “O homem, porém, morre e fica prostrado;… Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não acordará, nem será despertado do seu sono.” (Jó 14:10-12).

Tais conceitos, porém, estavam longe de ser universais. O registro arqueológico sugere que cada um dos vários elementos raciais que foram assimilados para formar a nação judaica trouxe para a nova comunidade os seus próprios costumes tribais, frequentemente baseados em crenças em uma vida após a morte. Tanto Moisés (Deut. 14:1) como Jeremias (Jer. 16:6) denunciaram práticas mortuárias adotadas para refletir tais crenças. A necromancia, embora oficialmente proibida, foi amplamente praticada, até mesmo em altos escalões. O pedido de Saul à bruxa de Endor de “fazer subir” o profeta morto Samuel para ele (I Sam. 28:3-20) implicava que os mortos, ou pelo menos alguns deles, ainda existiam em algum outro lugar, provavelmente no Seol, “a terra das trevas e da sombra da morte” (Jó 10:21). No Seol, os bons e os ímpios compartilhavam um destino comum, tanto quanto no mundo inferior babilônico. O lugar não evocava imagens de uma vida após a morte, pois nada acontecia ali. Ele era literalmente inconcebível, e era isso o que o tornava assustadora morte era absolutamente definitiva, ainda que um tanto mal definida.

Muitos ficaram insatisfeitos com a ideia de que as vidas individuais só tinham sentido na medida em que influenciavam o destino da nação para o bem ou para o mal. Havia apenas uma vida, disseram eles, mas sua experiência cotidiana desafiava o conceito de que era na terra que Iavé recompensava os piedosos e punia os ímpios. O Livro de Jó ofereceu pouco consolo: era irrelevante que o bom sofresse e os ímpios prosperassem. Não se orava para melhorar as perspectivas. A adoração de Deus era um fim em si mesmo; Era o que dava sentido à vida. Contra esse pano de fundo de crenças, o anseio pelo significado pessoal era generalizado.

É difícil determinar quando foi que a noção de alma surgiu pela primeira vez nos escritos judaicos. O problema é em parte filológico. A palavra nefesh originalmente significava “pescoço” ou “garganta”, e mais tarde veio a implicar o “espírito vital”, ou anima no sentido latino. A palavra ruach sempre tinha significado “vento”, mas depois veio a se referir a toda a gama de vida emocional, intelectual e volitiva de uma pessoa. Até mesmo designou fantasmas. Ambos os termos foram amplamente utilizados e transmitiam uma grande variedade de significados em momentos diferentes, e ambos foram frequentemente traduzidos como “alma”.

O conceito de uma ressurreição dos mortos teve uma evolução mais concreta. Parece ter se originado durante o período helenístico do Judaísmo (século IV AC – século II DC). Isaías anunciou que os “mortos viverão, os seus corpos se levantarão”, e os “moradores do pó” seriam encorajados a “despertar e cantar” (Isaías 26:19). Tanto o bom quanto o ímpio seriam ressuscitados. De acordo com seus méritos, a alguns seria concedida a “vida eterna”, e outros condenados a uma existência de “vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2). A ideia de que o futuro de uma pessoa seria determinado pela conduta na Terra haveria de ter repercussões profundas. Os primeiros beneficiários parecem ter sido os mortos em batalha em nome de Israel. Judas Macabeus, o patriota judaico do século II AC, que liderou uma luta contra a dominação seleucida e a penetração cultural grega, descobriu que seus próprios partidários haviam infringido a lei. Ele recolheu dinheiro e o enviou para Jerusalém para expiar seus pecados, agindo assim “muito bem e honradamente, tendo em conta a ressurreição. Pois se ele não esperava que os que haviam caído ressuscitassem, teria sido supérfluo e tolo orar pelos mortos” (II Mac. 12: 43-45).

O próprio Seol veio a ser departamentalizado. Segundo o Primeiro Livro de Enoque, uma obra não-canônica que se acredita ter sido escrita entre o século II AC e o século II DC, o Seol era composto de três divisões, às quais os mortos seriam designados de acordo com seus méritos morais. O verdadeiro Ge Hinnom (“Vale de Hinom”), onde se disse que os israelitas primitivos sacrificaram seus filhos a Moloque (e no qual gerações bíblicas posteriores incineravam o lixo municipal de Jerusalém), foi transmutado na noção de Geena, um vasto campo projetado para torturar os ímpios pelo fogo. Isto foi um claro precursor das coisas que viriam – as versões cristã e islâmica do inferno.

As ideias órfica e platônica também vieram a exercer uma profunda influência sobre o conceito judaico de morte. Estas foram ​​talvez expressas mais claramente no texto apócrifo conhecido como a Sabedoria de Salomão, escrito durante o 1º século AC e refletindo os conceitos de um judeu culto da Diáspora. O autor enfatizou que um “corpo corruptível torna pesada a alma” (Sabedoria de Salomão 9:15) e afirmou que “como era bom”, ele tinha vindo “a um corpo intacto” (Sabedoria de Salomão 8:20), um conceito que era quintessencialmente platônico em sua visão de uma alma preexistente ao corpo. Flávio ​​Josefo, historiador judaico do 1º século DC, registrou em Bellum Judaicum (História da Guerra Judaica) como as disputas doutrinais sobre a morte, a existência de uma vida após a morte e o “destino da alma” estavam incorporados nos conceitos de várias facções. Os saduceus (que falavam em nome duma aristocracia conservadora e sacerdotal) ainda falavam em termos das antigas doutrinas javistas, enquanto os fariseus (que refletiam as opiniões de uma classe média mais liberal) falavam de almas imortais, algumas condenadas ao tormento eterno, sendo a outras prometida a passagem para outro corpo. Os essênios mantinham conceitos próximos aos dos primeiros cristãos.

Após a destruição do Templo (70 DC) e, mais particularmente, após o colapso da última resistência aos romanos (por volta de 135), o ensinamento e a exegese rabínicas lentamente se puseram em marcha. Estes floresceram sob Judah ha-Nasi (“Judá, o Príncipe”), que, durante seu reinado como patriarca da comunidade judaica na Palestina (aproximadamente 175-220 DC), compilou a coleção de lei rabínica conhecida como Míxena. Durante os próximos 400 anos mais ou menos, o ensino rabínico floresceu, resultando na produção e repetida reformulação primeiro do Talmude Palestino (Jerusalém) e depois do Talmude Babilônico. Estes códigos da prática civil e religiosa procuraram determinar todos os aspectos da vida, incluindo as atitudes em relação aos mortos. Os conceitos de imortalidade e ressurreição tinham se tornado tão bem estabelecidos que nas Dezoito Bênçãos (recitadas diariamente nas sinagogas e nos lares), dirigia-se repetidamente a Deus como “Aquele que ressuscita os mortos”. Fontes talmúdicas advertiam que “qualquer um que dissesse que não havia ressurreição” não teriam parte alguma no mundo vindouro (tratado Sanhedrin 10:1). Ao longo dos séculos, ocorreu uma mudança radical da doutrina. Seria preciso aguardar as grandes reviravoltas políticas do século 20 para se testemunhar novamente tais giros dramáticos de conceito decretado.

– Edição digital, 2005, Verbete “Morte”

A substância e a natureza humana. A concepção de morte na maioria das religiões está intimamente relacionada com a visão particular sobre a constituição da natureza humana. Duas grandes tradições de interpretação forneceram as suposições básicas das escatologias religiosas e muitas vezes encontraram expressão em rituais mortuários e práticas funerárias. A mais primitiva dessas interpretações baseava-se numa avaliação integralista da natureza humana. Assim, o indivíduo era concebido como um organismo psicofísico, do qual tanto os constituintes materiais como não materiais eram essenciais para manter uma existência pessoal devidamente integrada. A partir dessa avaliação, seguia-se que a morte é o rompimento fatal da existência pessoal. Embora se julgasse que algum elemento constituinte da pessoa viva sobrevivesse a esta desintegração, isso não era considerado como a conservação do eu ou personalidade essencial. As consequências dessa avaliação da natureza humana podem ser vistas nas escatologias de muitas religiões. Os mesopotâmios, hebreus e gregos, por exemplo, pensavam que após a morte só um espectro sombrio descia para o reino dos mortos, onde existia miseravelmente no pó e na escuridão. Essa concepção do homem, por sua vez, significava que, onde a possibilidade de uma vida após a morte efetiva era prevista, como na antiga religião egípcia, judaísmo, zoroastrismo, cristianismo e islamismo, a ideia de uma reconstituição ou ressurreição do corpo também estava envolvida; pois isso era considerado essencial para restaurar o complexo psicofísico da personalidade. Mais notadamente no Egito, fazia-se provisão para a reconstituição final, num ritual mortuário elaborado que incluía a mumificação do cadáver com o fim de preservá-lo da desintegração.

O conceito alternativo da natureza humana pode ser denominado dualista. Ele concebe a pessoa individual como abrangendo um eu essencial interno ou alma, que é imaterial, e um corpo físico. Em muitas religiões baseadas neste conceito da natureza humana, a alma é considerada como sendo essencialmente imortal e como existente antes da formação do corpo. A encarnação dela no corpo é interpretada como uma penalidade incorrida por algum pecado ou erro primordial. Na morte a alma abandona o corpo, e seu destino posterior é determinado pela maneira como ela cumpriu o que a religião particular em questão prescrevia para a realização da salvação. Esse conceito da natureza e do destino humano encontra expressão mais notável no Hinduísmo e, num sentido sutilmente qualificado, no Budismo; isso foi ensinado também nos cultos e filosofias místicas do mundo greco-romano como o Orfismo (um antigo movimento místico grego com uma ênfase significativa na morte), o Gnosticismo (um primitivo sistema de pensamento que encarava o espírito como bom e a matéria como má), o Hermetismo (um movimento esotérico helenístico, ocultista) e o Maniqueísmo (um sistema de pensamento fundado por Mani, no antigo Irã).

As formas de sobrevivência. A concepção da natureza humana mantida em qualquer religião determinava, portanto, a maneira ou o modo como a sobrevivência pós-morte era prevista. Onde o corpo era considerado como um constituinte essencial da existência pessoal, a crença numa vida após a morte significativa inevitavelmente levou à ideia da reconstituição do cadáver decomposto e sua ressurreição para a vida. Por sua vez, uma concepção dualista da natureza humana, que considera a alma como intrinsecamente imaterial e imortal, prevê a vida pós-morte em termos da existência desencarnada da alma. Essa concepção dualista, em muitas religiões, também envolveu a ideia de renascimento ou reencarnação. No Hinduísmo, no Budismo e no Orfismo, essa ideia inspirou uma visão cíclica do processo do tempo e produziu explicações esotéricas de como a alma volta a renascer num corpo físico, humano ou animal.

– Edição digital, 2005, Verbete “Ritual Fúnebre”

RESSURREIÇÃO – a ressurreição dos mortos de um ser divino ou humano que ainda mantém sua própria personalidadeou individualidade, embora o corpo possa ou não ter sido mudado. A crença na ressurreição do corpo é geralmente associada com o cristianismo, por causa da doutrina da ressurreição de Cristo, mas também está associada ao judaísmo posterior, que forneceu ideias básicas que foram expandidas no cristianismo e islamismo.

O antigo pensamento religioso do Oriente Médio forneceu um pano de fundo para a crença na ressurreição de um ser divino (por exemplo, o deus babilônico da vegetação Tamuz), mas a crença na ressurreição pessoal de seres humanos era desconhecida. No pensamento religioso greco-romano havia uma crença na imortalidade da alma, mas não na ressurreição do corpo. A ressurreição simbólica, ou renascimento do espírito, ocorreu nas religiões de mistério helenístico, como a religião da deusa Ísis, mas a ressurreição corpórea pós-morte não era reconhecida.

A expectativa da ressurreição dos mortos é encontrada em várias obras do Antigo Testamento. No Livro de Ezequiel, há uma expectativa de que os israelitas justos ressuscitarão dos mortos. O Livro de Daniel desenvolveu ainda mais a esperança de ressurreição com os israelitas justos e injustos sendo ressuscitados dentre os mortos, após o que ocorrerá um julgamento, com os justos participando de um eterno reino messiânico e os injustos sendo excluídos. Em alguma literatura intertestamental, como O Apocalipse de Baruque Siríaco, há uma expectativa de uma ressurreição universal no advento do Messias.

– Edição digital, 2005, Verbete “Ressurreição”.

A History of the Corruptions of Christianity, Part V – The History of Opinions Concerning the State of the Dead [História das Corrupções do Cristianismo, Parte V – A História das Opiniões sobre a Condição dos Mortos], Joseph Priestley, Londres, Inglaterra, 1782 (A capa acima é de uma edição de 2013):

Creio ter provado suficientemente em minha [obra] Disquisitions Relating to Matter and Spirit [Dissertações Referentes à Matéria e ao Espírito] que, nas Escrituras, a condição de morte é representada como uma condição de insensibilidade absoluta, sendo oposta à vida. A doutrina da distinção entre alma e corpo, como duas substâncias diferentes, uma material e a outra imaterial, e por isso independentes uma da outra, sendo que a última pode até morrer e perecer, e a primeira, em vez de perder alguma coisa, em vez disso sai ganhando com a catástrofe, era originalmente uma doutrina da filosofia oriental, que depois se espalhou pela parte ocidental do mundo. Mas não parece que ela tenha sido adotada em algum momento pela maior parte dos judeus, e talvez nem mesmo pelo mais filosófico e erudito deles, como Josefo, até depois da época de nosso Salvador; embora Filo e alguns outros que residiam no Egito possam ter adotado essa doutrina num período anterior.

Embora se faça uma distinção nas Escrituras entre o princípio, ou lugar do pensamento no homem, e as partes que são destinadas a outras funções; e no Novo Testamento que este princípio possa, às vezes, ser entendido pelo termo alma; ainda assim não há qualquer exemplo, seja no Antigo ou no Novo Testamento, desta alma sendo suposta como estando em um lugar e o corpo em outro. Eles são sempre concebidos como estando juntos, de modo que a faculdade de percepção e pensamento realmente não podia ser considerada pelos escritores sagrados como nada além de uma característica de um homem vivo, e que, portanto, deixava de existir quando o homem estava morto, e não podia ser reavivada, a não ser com a restauração do corpo.

Consequentemente, não temos qualquer promessa de alguma recompensa ou qualquer ameaça de punição após a morte, a não ser as que são representadas como ocorrendo no momento da ressurreição geral. E é notável que, tanto nas Escrituras como entre nós, isso nunca é chamado de ressurreição do corpo (como se a alma, entrementes, estivesse em algum outro lugar), mas sempre de ressurreição dos mortos, ou seja, do homem. Se, portanto, há qualquer estado intermediário, no qual só a alma existe, consciente de alguma coisa, há um silêncio absoluto sobre isso nas Escrituras; sendo a morte sempre referida lá como uma condição de repouso, de silêncio e de escuridão, um lugar onde os maus deixam de importunar, mas onde os justos não podem louvar a Deus.”

– Reimpressão da The British and Foreign Unitarian Association, Londres, Inglaterra, 1871, pág. 132.

The Necessity of Revelation To Teach The Doctrine of a Future Life: A Sermon (A Necessidade da Revelação para Ensinar a Doutrina de uma Vida Futura: Um Sermão), John Kenrick, publicado por J. Belcher and Son, Birmingham, Inglaterra, 1814, págs. 12, 13, 23, 24.

Não cabe aqui investigar se o princípio do pensamento no homem é realmente essa essência imaterial que este argumento supõe que ela seja; nem é necessário para o meu propósito, presumir qualquer coisa referente à sua natureza.

Seja qual for sua essência, não temos qualquer evidência, independentemente da Revelação, de que ela exista separadamente do corpo ao qual foi unida. Enquanto o homem vive, vemos que ele pensa, sente e deseja; e podemos atribuir esses efeitos à união de um princípio espiritual com seu corpo material: a morte interrompe todas estas operações e, portanto, embora não destrua a alma, ela destrói tudo que poderíamos atribuir à sua existência. Não estou sustentando, de forma alguma, que a alma perca seus poderes na morte: estou apenas indagando que evidência temos de que ela os retém; e parece-me que, sem a Revelação, não podemos ter qualquer evidência.

… Quão diferente é a esperança que o Evangelho oferece a todos que nele crêem! Ela não se baseia em especulações refinadas, incompreensíveis para a maioria da humanidade e insatisfatórias até para quem as compreende; variando em suas evidências com o humor hilário ou melancólico da mente e menos convincentes quando são mais necessárias; inspirando uma crença momentânea, quando é reafirmada por algum defensor eloquente e sutil, e deixando a mente cética quando o livro é fechado.

A evidência da esperança do cristão é  tanto compreensível pelo  entendimento mais mediano como satisfatória para o entendimento mais desenvolvido. Ela é simples, óbvia e decisiva. O fato da ressurreição de nosso Mestre é confirmado pelo testemunho histórico mais inquestionável; a graciosa promessa de que “porque ele vive, nós também viveremos” repousa no cumprimento de sua palavra, que nunca disse algo que não tenha ocorrido. Quão profundamente então deve ser deplorado o erro deles, que abandonam a eterna Rocha da verdade revelada, para elaborar esta doutrina, tão essencial à virtude e à felicidade do homem, na base arenosa da inferência e analogia!

The Resurrection of the Dead an essential Doctrine of the Gospel; and the Neglect of it by reputed Orthodox Christians, an Argument against the Truth of their System [A Ressurreição dos Mortos, Uma Doutrina Essencial do Evangelho; e a Negligência dela por parte de Renomados Cristãos Ortodoxos, um Argumento contra a Verdade do Sistema Deles], Richard Wright, Liverpool, Inglaterra, 1820, pág. 6:

A morte e a ressurreição são mutuamente opostas. Na morte, o homem perece e permanece morto até ressuscitar. Na ressurreição, ele é libertado de um estado morto, feito vivo e se levanta novamente entre os vivos. Uma ressurreição real deve ser precedida da morte real do que é levantado. O que não morre não pode ser ressuscitado dos mortos. A ressurreição divulgada nas Escrituras é uma ressurreição dos mortos. O que quer que seja ressuscitado dos mortos deve permanecer morto até que seja levantado.

A ressurreição que os apóstolos pregavam era a de pessoas reais, de seres conscientes e inteligentes. O que quer que Cristo fosse em sua pessoa, eles testemunharam que esta pessoa, o verdadeiro Cristo, realmente morreu, foi enterrado e ressuscitou dentre os mortos. Sobre este assunto, o Novo Testamento é mais claro e positivo. Os apóstolos não pregavam algum Cristo, algum Filho de Deus, e sim a pessoa que realmente morreu e ressuscitou dentre os mortos. Com devotado regozijo, eles alongaram-se no fato de que Cristo ressuscitou dos mortos. Mais uma vez, de acordo com as Escrituras, o que quer que o homem seja em sua pessoa real, o que quer que seja essencial para ele como homem, para sua identidade, como um ser individual, consciente e inteligente, morre e ressuscitará dentre os mortos. Afirma-se claramente que o homem morre, e que esse homem será ressuscitado dentre os mortos. Essa linguagem não pode ser aplicável a ninguém, a não ser pessoas reais.

Em conexão com a ressurreição de Cristo, o Novo Testamento ensina que todas as pessoas que levam o nome de homem e morreram serão ressuscitadas dentre os mortos. É de extrema importância aderir estritamente à linguagem simples das Escrituras, e aos fatos claros declarados lá: e nenhuma linguagem pode ser mais clara do que a que afirma a ressurreição de Cristo e a futura ressurreição da humanidade em geral; nenhum fato pode ser mais claramente indicado do que o primeiro ou anunciado com maior precisão do que o segundo.

Sobre este tratado, The Unitarian Magazine Chronicle (editado por Edwin Chapman, Londres, 1834) disse na página 167:

Neste tratado, a natureza e a importância da doutrina da ressurreição são apresentadas claramente; também a seriedade e a frequência com que as Escrituras insistem nisso; e, por fim, sua negligência pelos autodenominados ortodoxos; ‘em primeiro lugar, com base na consideração de que as principais doutrinas da ortodoxia de renome são independentes, e não têm qualquer conexão obrigatória com a ressurreição dos mortos; em segundo lugar, com base na consideração de que não há como harmonizar as principais doutrinas da ortodoxia de renome com ela:’ e daí segue-se um justo argumento: ‘essa ortodoxia moderna não é o evangelho puro de Jesus Cristo’.

A Hebrew and English Lexicon Without Points: In Which the Hebrew and Chaldee Words of the Old Testament Are Explained in Their Leading and Derived Senses,… to This Work Are Prefixed, a Hebrew and a Chaldee Grammar, Without Points [Léxico Hebraico-Inglês Sem Pontos: No Qual as Palavras Hebraicas e Caldaicas do Antigo Testamento São explicadas em Seus Significados Principais e Derivados, … esta Obra é Introduzida por uma Gramática Hebraica e Caldaica, Sem Pontos], John Parkhurst, W. Faden, Londres, 1762 (A capa acima é da edição de 2015):

Como um S[ubstantivo] נֶ֫פֶשׁ [nephesh] Uma criatura viva, uma criatura ou animal que vive por respiração. Gen. 1:20, 21, 24 … Particularmente uma criatura humana, ser ou a própria pessoa humana, sendo o principal de estruturas animais, uma pessoa…

Como um S[ubstantivo] tem sido suposto que נֶ֫פֶשׁ [nephesh] significa a parte espiritual do homem, ou o que comumente chamamos de sua alma: devo confessar por mim mesmo que não consigo encontrar qualquer trecho [bíblico] onde ele tenha indubitavelmente esse significado. Gen. 35:18. 1 Reis 17:21, 22 e Sal. 16:10, pareceriam os mais adequados a esta significação. Mas não poderia נֶ֫פֶשׁ [nephesh] nestes três trechos ser mais adequadamente traduzido por fôlego, e no último como  uma estrutura respiratória ou animal?

– 6ª Edição, 1811, págs. 459, 460. (Sobre o significado da palavra נֶ֫פֶשׁ [nephesh]).

VI. Como um substantivo masc. ou fem. (veja Jó 26:6, Isa 14:9.) שאול [SeolA condição invisível dos mortos, ‘o lugar e a condição daqueles qui in quæstiones sunt (Cocceius) que estão fora do caminho e a serem procurados”. Bate. Veja, entre outros, Gên. 42:38. 44:31. 1 Reis 2:9. Num. 16:30, 33. Jó 17:13, 14. Sal. 49:15. 89:49. 141:7. Isa. 14:9, 11. Neste ponto de vista ele parece se aproximar do conceito de ‘Aδης Hades dos gregos  (pelo qual a LXX quase constantemente o traduz), i.e. ὁ αϊδης τοπος, o lugar invisível, e pela nossa antiga palavra inglesa Hell [Inferno]*, que agora é tão pouco usada, a não ser como o lugar de tormento, sendo ainda um derivado do saxão hillan ou helanesconder ou de holluma caverna, que antigamente significava o lugar escondido ou não visto dos mortos em geral, como se pode notar à base da versão dos Salmos 49:14, 55:16, 138:9 e 139:44 na Grande Bíblia do Rei Henrique VIII, que ainda é utilizada em nossa Liturgia; e é assim que deve ser entendido em outros locais dessa Tradução.

קבר [qabar, enterrar] significa o túmulo ou o sepulcro propriamente dito; שאול [Seol] significa aquilo que é comum a todos, o receptáculo comum dos mortos. Compare com Ecle. 3:20. Ecle. 40:11. 41:10. Assim Leigh em sua Crit. Sacra bem observa que ‘Jacó, Gen. 37:35, desceria pranteando ao Seol (שאול) para seu filho; não para o Inferno (o lugar dos condenados), pois ele jamais pensou que seu filho tivesse ido para esse lugar, e nem para a sepultura propriamente dita, pois ele achou que seu filho tinha sido devorado por um animal selvagem, e sim que ele tinha ido para o receptáculo dos mortos

Não é שאול às vezes usado em referência a uma grande ‘profundidade no subterrâneo, fora da vista, e para se procurar’ (Batesem qualquer referência aos mortos? Veja Deut. 32:22. Jó 11:8. Sal. 139:8. Eze. 31:17. Amos 9:2.

– 8ª edição, 1823, pág. 673 – sobre o significado de Seol. Notas de rodapé omitidas.

An Analytical Investigation or The Scriptural Claims othe Devil: To Which Is Added, An Explanation othe Terms Sheol, Hades, and Gehenna, As Employed By The Scripture Writers (Uma Investigação Analítica ou As Alegações Bíblicas do Maligno: Às Quais se Acrescenta uma Explicação dos termos Seol, Hades e Geena, Conforme Usados pelos Escritores Bíblicos), Russell Scott, Rowland Hunter, Londres, Inglaterra, 1822.

Os que não creem na missão divina de Jesus adotaram destes filósofos pagãos, o que é chamado de imortalidade natural da alma, que os leva a considerar a religião cristã como, no mínimo desnecessária, que não revela nada de novo; e, portanto, não tendo origem divina. Uma existência real e corporal numa vida futura, porém, não pode ser encontrada, a não ser no evangelho, e é bem satisfatoriamente confirmada pela ressurreição do corpo e da mente de Jesus da região dos mortos.

A existência futura do corpo e da mente, inseparavelmente conectados, é uma pérola de valor inestimável, e nunca foi descoberta até que Jesus transmitisse o conhecimento disso ao mundo e familiarizasse os homens com os meios de obter posse desse tesouro tão fascinante e importante. Os cristãos em geral, porém, adotaram o conceito pagão de que existe um princípio no homem, que é naturalmente imortal. Eles soltaram essa pérola deles por adotarem as opiniões dos filósofos alexandrinos que se converteram ao cristianismo. Entre estas opiniões, estavam três princípios separados na Deidade, que depois foram convertidos em três pessoas distintas, e este princípio no homem, distinto do corpo, originalmente considerado como uma emanação da Deidade e retornável a ele. Esta opinião subverte a influência e destrói o efeito da morte e da ressurreição de Cristo, a pedra angular do cristianismo, uma vez que somos expressamente ensinados a considerar sua ressurreição de um estado de morte, como uma garantia para nós de que também seremos levantados dentre os mortos: “Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder.” 1 Cor. 6:14. Paulo também diz aos filipenses (3:21) que Jesus transformará este nosso corpo humilde na forma de seu próprio corpo glorioso. “O que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus.”, 2 Cor. 4:14. E a ressurreição do homem inteiro é bem comprovada pelo apóstolo em 1 Cor. 15. A continuação da existência, pela imortalidade natural do que é chamado de alma do homem, está, portanto, em conflito direto com as Escrituras do Novo Testamento. Em algumas palestras anteriores, já foi demonstrado que as Escrituras do Antigo Testamento jamais se referem a algum estado de consciência ou existência além do presente. O castigo aplicado a Adão pela desobediência foi a morte do sistema completo — sua estrutura corporal e mental. A sentença (Gên. 2:17) é “Tu certamente morrerás”; veja Gen. 37:33, e Exo. 21:19, onde a mesma construção do original significa inteiramente, totalmente. O que Adão poderia entender com esta declaração tão positiva? Poderia ele pensar que morrer totalmente significava que sua existência continuaria na morte e prolongar-se-ia por uma eternidade? Poderia ele supor que a desobediência da qual fora culpado o dotaria com a imortalidade? Não concluiria ele, em vez disso, que morrer completamente era a extinção de seu ser, um retorno à mesma condição de não identidade da qual tinha sido tirado? Poderia ele imaginar que morrer completamente incluía uma continuação no ser e numa condição de tormentos eternos? “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até voltares à terra da qual foste tomado”, Gen. 3:19. Esta é outra conseqüência da desobediência de Adão e corrobora a elaboração dada à declaração que lhe foi tranmitida: “Você certamente morrerá”, toda a tua estrutura voltará ao pó. Esta morte continuou em vigor até a ressurreição de Cristo, que por meio dela a destruiu e nos libertou de sua influência. Ele recebeu o poder de revogar a sentença por sua ressurreição pessoal ou corporal dos mortos: “Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.” 1 Cor. 15:21. A punição da morte total infligida a Adão foi um retorno ao pó  “Tu és pó e ao pó voltarás: a inversão desta sentença deve ser a ressurreição desse pó  “Assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.”

– págs. 619-625 (notas de rodapé omitidas).

Theological institutes: or, A view of the evidences, doctrines, morals and institutions of Christianity [Institutos Teológicos: ou, Uma consideração das evidências, doutrinas, moralidade e instituições do Cristianismo], Richard WatsonPublicado originalmente em 1823, Nova Iorque: T. Mason e G. Lane, 1836, Vol II, págs. 82, 83. (A capa acima é de uma edição de 2012.):

Uma questão, relacionada à transmissão desta corrupção da natureza dos pais para os filhos, tem sido debatida entre aqueles que, apesar disso, admitem o fato; alguns sustentando que a alma é ex traduce [origina-se da alma dos pais]; outros, que ela é originária de criação direta. É certo que, quanto à parte metafísica desta questão, não podemos chegar a qualquer conclusão satisfatória. As Escrituras, porém, parecem favorecer mais a doutrina da transmissão. “Adão gerou um filho à sua semelhança.” “O que é nascido da carne é carne”, que se refere, certamente, tanto à alma como ao corpo. Ademais, o fato de certas disposições e faculdades mentais eminentes serem frequentemente encontradas em famílias parece favorecer este conceito; embora se possa dizer de forma plausível que, como a mente opera por meio de instrumentos corporais, pode haver uma constituição familiar do corpo, como existe a da semelhança física, que pode ser mais favorável a que se desenvolva e exercite certas faculdades mais do que outras.

O argumento usual contra esta transmissão do espírito humano é que a doutrina que a produz tende ao materialismo. Mas isso decorre de um conceito equivocado acerca de em que se baseia a geração de um ser humano, que não consiste na produção de qualquer das partes constituintes do ser, o homem, a partir do nada, e sim em uni-las substancialmente uma com a outra. Assim, a matéria do corpo não é originada pela primeira vez, e sim arranjada, nem se pode supor que a alma seja, por esse ato, produzida pela primeira vez. Isso pertence a um poder superior; e daí, a única questão é se todas as almas foram criadas em Adão, e são transmitidas por uma lei que lhes é peculiar; que está sempre sob o controle da vontade dessa mesma Providência vigilante, de cuja constante atuação na produção e ordenação dos tipos, sexos, e circunstâncias da criação animal, temos provas abundantes; ou se elas são criadas diretamente. A objeção usual para este último conceito é que Deus não pode criar uma natureza má; mas se nossa corrupção é o resultado de privação, não de infecção positiva, o conceito da criação imediata da alma é livrado de uma grande dificuldade, embora não seja totalmente desembaraçado. Mas o princípio de linhagem da alma parece ter mais expressão com base na linguagem das Escrituras, e não é nada pequena a confirmação disso, que quando Deus designou seu próprio Filho a encarnar, ele deu um passo para fora do curso normal, e formou uma natureza humana sem pecado diretamente pelo poder do Espírito Santo. As dificuldades filosóficas que se levantaram perante esta opinião parecem ter surgido principalmente da suposição de que a consciência é um atributo essencial do espírito; e de que a alma é naturalmente imortal; sendo que a primeira não pode ser provada, enquanto que a última é contradita pelas Escrituras, que fazem da nossa imortalidade uma dádiva dependente da vontade do Dador. Outras dificuldades têm surgido por falta de se considerar a atuação constante de Deus em controlar a produção de todas as coisas, e especialmente das criaturas racionais responsáveis.

Three Essays. On the Intermediate State of the Dead. The Resurrection from the Dead. And On the Greek Terms Rendered Judge, Judgment, Condemned, Condemnation, Damned, Damnation, etc. in the New Testament [Três Ensaios: Sobre o Estado Intermediário dos Mortos. A Ressurreição dos Mortos. E Sobre os Termos Gregos Traduzidos como Juiz, Julgamento, Condenado, Condenação, Danado, Danação, etc. no Novo Testamento], Walter Balfour, publicado por G. Davidson, Massachussets, EUA, 1828 (A capa acima é de uma edição de 2010):

A única coisa que resta ser mostrada é – como essas tradições pagãs vieram a ser incorporadas à religião cristã. É evidente que elas prevaleciam muitas eras antes de Cristo aparecer, e prevaleciam entre judeus e gentios no início da dispensação do evangelho. Veja uma citação do Dr. Campbell em meu Primeiro Questionamento, onde ele mostra que os judeus tinham absorvido muitas das opiniões pagãs, cap. I. Seç. 3. Quando o evangelho começou a ser pregado entre todas as nações, os que foram convertidos estavam impregnados com tais tradições pagãs e, de fato, suscetíveis às provas mais satisfatórias, que os primeiros pais da igreja tinham associado à filosofia platônica, que prevalecia em geral naquele momento. Alguns desses pais falaram de Platão e suas doutrinas nos termos mais nobres, e dizia-se que Platão aperfeiçoou a doutrina da imortalidade da alma. Agostinho confessou que os livros dos filósofos lhe foram muito úteis para facilitar o entendimento de algumas verdades ortodoxas. Eusébio afirmou que Platão penetrou até na doutrina da Trindade. Os primeiros pais, tais como Clemente Alexandrino, Tertuliano, Orígenes, admitiram todos ser platonistas. Que o cristianismo logo veio a ser corrompido pela filosofia da época é universalmente admitido por todas as seitas dos cristãos dos dias de hoje. Eu só dou espaço para um breve excerto da History of Philosophy [História da Filosofia] de Enfield, págs. 13, 14. “Entre os primeiros cristãos, que estavam se empenhando industriosamente na disseminação da doutrina divina de seu mestre, as sutilezas da filosofia dos gentios tiveram pouco crédito. Mas tão logo após a ascensão do cristianismo, muitas pessoas que tinham sido educadas nas escolas dos filósofos foram convertidas à fé cristã, a doutrina das seitas gregas e especialmente do platonismo foram entremisturadas com as verdades simples da religião pura. À medida que a filosofia eclética se espalhava, as doutrinas pagãs e cristãs foram misturadas ainda mais intimamente, até que, finalmente, ambas estavam quase completamente perdidas nas densas nuvens de ignorância e barbarismo que cobriram a Terra; exceto que a filosofia aristotélica tinha uns poucos seguidores entre os gregos, e o cristianismo platônico era apreciado nos claustros dos monges. Pelo início do século 11, surgiu um novo tipo de filosofia, chamada escolástica, que, enquanto professava seguir a doutrina de Aristóteles, corrompeu todos os princípios do raciocínio sadio e impediu, em vez de auxiliar, os homens em suas indagações sobre a verdade”.

Sendo fato que o cristianismo se corrompeu com a filosofia da época, vejamos agora que os apóstolos haviam advertido os cristãos que desta mesma fonte haveriam de surgir erros entre eles. Paulo dissera aos colossenses, cap. 2:8, “Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.” Veja também 1 Tim. 6:20, 21; 1:4, 6 e 4:7; 2 Tim. 2:16-18. Estes erros não foram introduzidos sem oposição, pois exigiu que a autoridade eclesiástica estabelecesse a imortalidade da alma em alguns lugares. Consequentemente, Eusébio testifica que em 249 D.C., a doutrina de que “as almas dos homens perecem com seus corpos”, foi condenada em um concílio árabe. Não é de admirar que os cristãos árabes se opuseram à doutrina da imortalidade da alma até mesmo no terceiro século, pois conforme a própria exposição do Dr. Good, ela não se encontrava nos escritos de Jó, o antepassado deles, nem havia sido ensinada a eles por Cristo, seu mestre. Todavia, esta doutrina, uma vez estabelecida, forneceu a base para uma superestrutura sacerdotal e de superstição na igreja católica, que por muitas eras foi a admiração das nações, mas a maldição do mundo. As próprias ruínas dela despertam nosso assombro. Na Reforma, muitas coisas foram reformadas, mas todos admitirão que muitas não foram. Por exemplo, salvar almas imortais após a morte foi deixado de lado, mas os reformadores continuaram a salvá-las antes da morte. Se os homens tinham almas imortais para salvar de uma miséria infindável nunca foi questionado entre eles; e desde os dias deles até agora, poucos protestantes suspeitaram da natureza não-bíblica desta doutrina.

– págs. 94-96.

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The Encyclopedia Americana [Enciclopédia Americana], 1829-1833:

Ressurreição, um artigo de crença contido em todos as formulações da fé cristã, a saber, que no último dia todas as criaturas humanas que tiverem vivido na terra se levantarão de suas sepulturas nos corpos que tiveram em vida. Trata-se de uma doutrina peculiar à religião cristã, que não era mantida pelas nações pagãs da antiguidade nem pelos hebreus até o último período de sua história como nação. Nas Escrituras Hebraicas há muitos trechos que favorecem mais ou menos a doutrina da ressurreição dos mortos; mas tais trechos não estão em nenhum caso livres de ambigüidade; e mesmo que seja concedido que eles afirmam inequivocamente uma ressurreição, eles não estão de acordo com a doutrina que é ensinada em todos os credos da cristandade, a saber, que quando o período da vida do homem sobre a terra termina, então a inteira raça humana, não só os bons, mas os ímpios, e não só os justos, mas aqueles que estão destinados à punição eterna, se levantarão do túmulo com os corpos que tiveram na vida e aparecerão diante do supremo tribunal. Os trechos das Escrituras Hebraicas que se considerou que transmitem esta doutrina são principalmente Isaías 26:19, Jó 19:23-27, e Daniel 12.

2. O trecho de Isaías, conforme traduzido na Versão Autorizada, é: “Teus homens mortos viverão, junto com meu cadáver eles se levantarão”. As palavras em itálico [“homens” e “junto”] são fornecidas pelos tradutores. Na Septuaginta a segunda metade do trecho é vertida como, “e os que estão nas sepulturas se levantarão”. Se isto é inequivocamente uma declaração da ressurreição dos corpos dos homens, pelo menos ela não afirma que haverá tal ressurreição de toda a raça humana. Jó 19:25-27 diz: “Eu sei que o meu redentor vive e que ele se postará no último dia sobre a terra, e embora depois que os vermes de pele destruirem este corpo, ainda em minha carne verei Deus: a quem verei por mim mesmo, e os meus olhos verão, e não outros.” Novamente, um texto mutilado em hebraico, com leituras variantes e traduzido de diversas maneiras nas versões: mas, se ele fala sobre uma ressurreição no último dia, diz no máximo que Jó aparecerá em seu corpo como quando viveu – um homem, não toda a humanidade. Muito mais claro e forte é o trecho de Daniel 12:2: “Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, alguns para a vida eterna, e outros para a vergonha e o desprezo eterno”: isto é explícito, mas não diz que todos os mortos se levantarão revestidos em seus corpos; e este “acordar” não significa necessariamente reassumir os corpos de qualquer maneira. Por volta da época da queda da nação judaica, a crença na ressurreição do corpo era geralmente entretida entre os judeus: no livro apocalíptico de 2 Macabeus a doutrina da ressurreição é fortemente afirmada, mesmo assim nada se diz sobre uma ressurreição de todos os mortos; e embora a ressurreição de todos os mortos seja agora o 13º artigo do credo judaico, é uma doutrina que não pode ser provada por meio do Talmude ou Midraxe, segundo a qual somente os justos ressuscitarão. Mas nos livros do Novo Testamento a ressurreição de todos no último dia é declarada explicitamente, e em todas as formulações da crença cristã, começando pelo Credo dos Apóstolos, esta doutrina é afirmada de maneira bem distinta. Que não só o justo, mas também o ímpio ressuscitará, é explicitamente ensinado pelo fundador do Cristianismo em Mateus. 5:29, 10:28, e particularmente em João 5:28, 29: “Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.” — A ressurreição de Jesus Cristo, no terceiro dia após a crucificação, foi constituída por São Paulo como a base da fé cristã: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã, e a vossa fé também é vã.” A evidência da verdade da ressurreição de Cristo, para os que deveriam formar o primeiro núcleo de sua igreja foi o fato de que em onze ocasiões diferentes entre a ressurreição e a ascensão ao céu ele se manifestou a seus apóstolos e a outros, companheiros e amigos deles: e estes testemunham a verdade desta ressurreição em afirmações claras, definidas e positivas: os que negam a realidade objetiva da ressurreição de Cristo — e isso foi negado no próprio estágio inicial da Igreja — tentam explicá-la de outras maneiras: mas seus discípulos testificaram distintamente que foi o próprio Jesus, em presença corpórea, que conversou com eles diversas vezes ao longo dos 40 dias que antecederam a ascensão.

– Edição de 1904, verbete “Ressurreição”.

IMORTALIDADE. … A crença em alguma forma de imortalidade é generalizada, embora não universal. Encontra-se em todos os estágios da civilização desde a forma mais baixa de vida aborígene até a mais alta cultura ocidental. A doutrina varia de uma crença num período de sobrevivência indefinido após a morte até a crença na vida pessoal eterna, sendo esta última o uso legítimo do termo imortalidade

Hebreus. — O Seol, ou o reino das sombras, aparece na história primitiva dos judeus como uma amplificação da ideia do túmulo, como a morada escura dos espíritos que partiram, onde as almas vivem sem corpo, inconscientes, sem sentimentos. As referências na primeira parte das Escrituras do Antigo Testamento a uma vida futura são raras e vagas, e a doutrina da imortalidade da alma não é explicitamente ensinada em parte alguma nos livros primitivos. Os ritos de necromancia eram desencorajados pelos profetas e legisladores do antigo Israel como antagônicos à crença no Deus da vida, cujo reino excluía o Seol (ou o reino dos mortos), até os tempos pós-exílicos. A vida eterna pertence unicamente a Deus e aos seres celestiais que comeram da árvore da vida e viverão para sempre. Em conexão com a esperança messiânica e sob a influência de ideias gregas e persas, os judeus mais tarde adotaram uma doutrina da ressurreição do corpo que abriu espaço para a crença na vida contínua da alma. Os cabalistas adotaram a doutrina da transmigração (Gilgul, “rolagem” das almas) segundo a qual a alma de Adão passou para Davi e passará para o Messias, como é misticamente estabelecido nas letras desse nome (Ad[a]m). A doutrina platônica da preexistência também se encontra na filosofia rabínica. A imortalidade conjugada com o dogma da ressurreição é a concepção prevalecente na literatura pós-exílica, tornando-se a última (ressurreição) fixa na Míxena e na liturgia. Desde o tempo de Moisés Mendelssohn, que reabilitou a doutrina de Platão em seu “Fædon”, o judaísmo progressista tende a colocar menos ênfase na ressurreição do corpo, e mais ênfase em uma imortalidade puramente espiritual, sendo o antigo dogma descartado nos rituais da reforma.

Os gregos. A origem da doutrina da imortalidade entre os gregos está perdida na mais remota antiguidade. Encontra-se nas primeiras tradições dos mistérios órfico e dionisíaco, nos poemas de Homero e Hesíodo, e constitui um princípio central na filosofia de Pitágoras, um contemporâneo de Buda-Sidarta e Lao-Tzu. A visão de Pitágoras inclui a doutrina da transmigração, que pode ter sido sugerida pela teologia dos mistérios órficos ou por Pherecydes, e não pelos egípcios (Zeller, ‘Pre-Socratic Philosophy’ [Filosofia Pré-Socrática], Vol. I, págs. 71, 514). O grande problema da vida de um homem é a purificação moral, que ele persegue num Cosmos divinamente governado, onde seu principal objetivo é tornar-se como Deus. A alma é aprisionada no corpo por causa de pecados cometidos em um estado pré-existente, e depois da morte passa para um estado superior ou inferior. Dependendo de ter servido ao Bem ou ao Mal. Nos estágios ascendentes da metempsicose, a alma é preparada para a redenção moral. Embora a crença em alguma forma de imortalidade tenha prevalecido entre os gregos em toda a história deles, e provavelmente entrou em sua filosofia de sua religião, foi só com Platão que uma base filosófica foi fornecida à doutrina. Os argumentos platônicos para a imortalidade da alma podem ser resumidamente afirmados como segue:…

Os conceitos dos gregos e, especialmente, os conceitos de Platão tiveram uma influência profunda e incalculável no pensamento cristãonas primeiras formulações teológicas e na totalidade da filosofia ocidental. Platão não era apenas um estruturador da filosofia, um intérprete intelectual da realidade, era, mais ainda, um homem de religião, um vidente.

– Edição de 1959, Vol. XIV, págs. 716-718.

RESSURREIÇÃO,  I. Traços pagãos. — Nas religiões pagãs, degeneradas da revelação primitiva de Deus para a raça humana, há uma crença comum e definida na sobrevivência da personalidade humana após a morte; mas os vestígios de uma esperança de uma futura ressurreição não são universais nem distintos. Muitas tribos selvagens atestam uma grosseira crença na metempsicose. Tais teorias de reencarnação e transmigração de almas podem ser facilmente distorções de uma revelação primitiva da ressurreição do corpo. A adoração totêmica do urso, do castor, etc., encontrada entre os Sioux, Iroqueses e outros índios americanos, segue a ideia de que as almas dos antepassados ​​tribais se reencarnaram nesses animais. Entre os egípcios, a reencarnação era uma purificação da alma e uma preparação para a existência final e separada …

II. O Ensino do Antigo Testamento. — 1. Gênesis. A raça humana, na sua criação, foi dotada com o dom sobrenatural da imortalidade. No alvorecer da vida humana, a separação da alma do corpo na morte foi impedida pela providência especial de Deus. A árvore da vida estava no meio do Éden (Gênesis 3); e comer do fruto dessa árvore estava de alguma forma associado à imortalidade do corpo animado de Adão. Javé pretendia perpetuar essa união preternatural e imortal da alma do homem com seu corpo, se Adão não tivesse pecado. Mas Adão pecou. Ele e a raça humana perderam o dom sobrenatural da imortalidade. Deus havia ameaçado: “Certamente morrerás, se desobedeceres” (Gênesis 2:17 e 3:3). Depois da desobediência, essa ameaça se cumpriu: “Tu és pó e ao pó voltarás” (Gênesis 3:19). “Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Romanos 5:12). No entanto, o triunfo final sobre a morte está implícito na vitória prometida da semente da mulher sobre a semente da serpente (Gênesis 3:15).

2. Jó. — Não é certo como essa revelação do triunfo sobre a morte evoluiu para uma crença clara na ressurreição do corpo. Encontramos de repente essa crença em sua plena evolução sobre o por volta do século X A.C. Nossa testemunha é o épico dramático chamado de Livro de Jó. Sem qualquer perspectiva de conforto humano, o paciente sofredor contempla à frente a alegria sem fim de uma eterna reunião de sua alma e corpo. As tradições Massorética, Septuaginta e Vulgata do texto variam ligeiramente, embora sejam substancialmente as mesmas. Ao ceticismo de Bildade e do Suíta, Jó responde:

Eu sei que o meu Redentor vive
e por fim se levantará sobre a terra.
Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus.
Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros;
de saudade me desfalece o coração dentro de mim.

(Jó 19:25-27)

3. Oséias. — Durante os tempos terríveis que precederam o exílio assírio, Oséias, um profeta do reino setentrional de Israel, por volta de 750 A.C., predisse o triunfo do povo escolhido em termos que claramente se referem à ressurreição, especialmente à do Messias:

Vinde, e voltemos para Jeová;
porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida.
Depois de dois dias nos revigorará;
ao terceiro dia nos levantará,
e viveremos diante dele.

(Oséias 6:1, 2)

O triunfo de Israel sobre a morte é uma esperança de ressurreição, ligada à promessa de redenção nacional que Javé faz por meio de seu profeta:

Eu os remirei do poder do Seol,
e os resgatarei da morte.
Onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó Seol, a tua destruição?  

(Oséias 13:14)

Esta profecia, diz São Paulo aos Coríntios (1 Cor. 15:54-55), deverá ser cumprida na ressurreição da carne.

4. Isaías. — Pouco antes da queda de Samaria, em 722 A.C., Isaías, um profeta do reino meridional de Judá, entremeou pensamentos da ressurreição com suas profecias messiânicas. Por meio do triunfo messiânico Javé dos exércitos “aniquilará a morte para sempre.” (25:8). Naquele dia de completa redenção,

Os teus mortos viverão;
os meus cadáveres ressuscitarão.
Despertai e cantai,
vós os que habitais no pó;
porque o teu orvalho é como o orvalho das ervas
e a terra lançará de si os mortos.
A terra descobrirá o seu sangue,
e não cobrirá mais os seus mortos.

(Isa. 26:19-21)

Nos profetas tanto do período assírio como do babilônico, a redenção de Israel da servidão à Assíria e de Judá à servidão babilônica é um tipo de ressurreição da escravidão ao pecado para o mundo. A libertação sagrada do escravo ao pecado, por meio da mediação do Messias, é completada na gloriosa ressurreição do corpo. É por isso que Isaías de vez em quando é inspirado a mudar seu pensamento da salvação de Israel ou de Judá para a da alma do homem pela reunião com seu corpo em glória.

5. Ezequiel. — Chegando ao período babilônico da profecia, encontramos Ezequiel (592-586 A.C.) predizendo a salvação de Judá em termos que vividamente representam a ressurreição. O profeta em visão estava no meio de uma vasta planície “cheia de ossos… e eis que estavam muito secos”. Daí, Javé profetizou aos ossos:

Eis que farei entrar o espírito em vós,
e vivereis.
Porei tendões sobre vós,
farei crescer carne sobre vós,
sobre vós estenderei pele
e porei em vós o espírito,
e vivereis.

(Eze. 37:5, 6)

Imediatamente “houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso.” Por fim, “o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso.” (37:10). A crença na ressurreição deve ter sido real e universal em Judá; senão Ezequiel não teria recebido e definido a revelação do triunfo final de seu povo em termos desse cenário.

6. Daniel. — Durante todo o Exílio Babilônico (586-536 A.C.) e depois disso, o profeta Daniel dá um claro testemunho dessa parte da escatologia judaica, que tem que ver com o fato de uma futura ressurreição do corpo. “Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente.” (12:1-3).

7. Os Salmos. — O Livro dos Salmos, em seu estado atual, é provavelmente o resultado de uma série de redações inspiradas, datando do tempo de Davi (1017-977 A.C.) até o tempo do fim do cânon de Esdras (444 A.C.). O anseio da alma pela imortalidade é claro, e a esperança da ressurreição, no mínimo brilha levemente durante este longo período de evolução litúrgica da hinódia israelita. O Salmo Davídico 16(15):9, 10 proclama a imortalidade dos piedosos:

Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória;
também a minha carne repousará segura.
Pois não deixarás a minha alma no inferno [Seol],
nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.

Um salmo posterior 49 (48):14, 15, do Saltério dos Filhos de Coré, consigna os ímpios ao Seol e redime os justos:

Como ovelhas são arrebanhados ao Seol; a morte os pastoreia;
ao romper do dia os retos terão domínio sobre eles;
e a sua formosura se consumirá no Seol, que lhes será por habitação.
Mas Deus remirá a minha alma do poder do Seol,
pois me receberá.

O Salmo 73 (72):24, 25 de Asafe, anseia pela imortalidade. Davi canta que sua alegria será completa na visão beatífica de Deus, depois que ele acordar do sono da morte (Salmo 17:15) …

III. O Ensino do Novo Testamento. —O tempo e os detalhes da Parousia são tratados em outro lugar. (Veja ESCATOLOGIA). Este artigo limita-se ao fato e à maneira da ressurreição. A crença escatológica judaica corrente, no início da era cristã, é manifestada por Marta em relação ao seu irmão Lázaro: “Eu sei que ele se levantará na ressurreição no último dia” (João 11:24).

1. A Doutrina de Jesus. — Nosso Senhor repetiu o ensino do Antigo Testamento neste assunto. Os saduceus “diziam que não há ressurreição”, e negavam até mesmo a imortalidade da alma (Josefo, “Antiquitates Judaicae” [Antiguidades Judaicas], XVIII, i, 4). Eles propuseram a Jesus o caso duma mulher, que pela lei mosaica de go’el tinha se casado com sete irmãos, um após o outro. “Na ressurreição, de qual dos sete ela será esposa?” Em resposta, nosso Salvador os censurou por causa de sua ignorância das Escrituras. “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu.” O corpo glorificado não estará sujeito aos apetites da carne. Os saduceus caricaturam grosseiramente a glória do corpo ressuscitado. A alegria dele é de Deus. “Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos.” (Mt. 22:23-32; Lucas, 20:28-38). Além disso, Jesus afirmou que, como Filho do Homem, Ele seria o Juiz dos homens (João 5:23-27). Ele acrescentou: “Vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão… Vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.” (João 5:28, 29). Esta ressurreição para a vida, promete Jesus, ele mesmo realizará no caso daqueles que crêem nele (João 6:39, 40); seguem os impulsos da graça de Deus (João 6:44); comem a carne e bebem o sangue do Filho do Homem (João 6:45). Ele disse a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.” (João 11:25, 26). A caridade receberá sua “recompensa na ressurreição dos justos” (Luc. 14:14). Os injustos também ressuscitarão dos mortos para serem punidos pelos seus pecados (Mat. 5:29, 30; Marcos, 9:43-49); Eles irão, alma e corpo, para o inferno (Mat. 10:28). Na Parousia, os justos ressuscitados ficarão à direita e os injustos ressuscitados à esquerda do Juiz. Ele pronunciará a sentença de condenação dos últimos ao fogo eterno, e de acolhida dos primeiros à felicidade eterna (Mat. 25:31-46) …

– Edição de 1959, Vol. XXIII, págs. 422-425.

O conceito do Antigo Testamento sobre o homem é o de uma unidade, não uma união de alma e corpo. Embora a palavra hebraica ne’phesh seja freqüentemente traduzida como “alma”, seria impreciso ler nela um significado grego… Ne’phesh jamais é concebida como funcionando à parte do corpo. No Novo Testamento, a palavra grega psy·khe‘ é traduzida frequentemente como “alma”, mas, de novo, não se deve entender prontamente que tenha o significado que a palavra tinha para os filósofos gregos. Geralmente ela significa “vida” ou “vitalidade” ou, às vezes, “o eu”. Enquanto a maioria dos cristãos acredita numa vida após a morte, a Bíblia não fornece uma descrição clara de como uma pessoa sobrevive após a morte. Os teólogos cristãos tiveram de recorrer às discussões de filósofos em busca de um meio adequado de descrever a sobrevivência do indivíduo após a morte, e os filósofos tradicionalmente utilizaram o conceito da alma como o veículo da imortalidade.

– Edição de 1977, Vol. XXV, pág. 236.

Renn Dickson Hampden,The Scholastic Philosophy Considered in its Relation to Christian Theology – In a Course of Lectures Delivered Before the University of Oxford in the Year MDCCCXXXII. Lecture Founded by John Bampton [A Filosofia Escolástica Considerada em sua Relação com a Teologia Cristã – Ciclo de palestras perante a Universidade de Oxford no ano de 1832. Na Palestra Iniciada por John Bampton], Oxford, Inglaterra, 1833. (A capa acima é de uma edição de 2010.)

O conceito da existência separada da alma incorporou-se de tal maneira à teologia cristã, que hoje estamos inclinados a considerar uma crença nisso como essencial à doutrina ortodoxa. Só em sustentar que essa crença não é essencial para o cristianismo, posso incorrer na aparência de contestar uma verdade vital da religião. No entanto, não posso deixar de ver essa crença popular como remanescente do escolasticismo. Tenho certeza de que a verdade da ressurreição não depende dessa suposição; que a vida e a imortalidade do homem, baseando-se em Cristo ressuscitado dentre os mortos, é um fato certo no curso da Providência divina; quaisquer que sejam as teorias da alma e de sua conexão com o corpo.

– pag. 310.

Das Christliche im Plato und in der platonischen Philosophie entwickelt und hervorgehoben [O Cristão em Platão e a Filosofia Platônica Desenvolvida e Enfatizada], Constantin Ackermann, Hamburgo, Alemanha, 1835 (Em inglês: The Christian Element in Plato and the Platonic Philosophy [O Elemento Cristão em Platão e a Filosofia Platônica]. Traduzido do alemão por Samuel Ralph Asbury, 1861. Esta capa da versão em inglês é de uma edição de 2010):

Platão se manteve na alta consideração da antiga Igreja Cristãespecialmente enquanto os Pais da Igreja Grega foram peculiarmente os formadores e líderes da teologia. Isso foi induzido, em parte pelo costume da época de derivar a instrução filosófica principalmente de Platão, e eles se apegaram a ele em preferência a qualquer outro, em parte por convicção, porque encontraram nele mais elementos cristãos do que em Aristóteles. A observação de Patrício é, no essencial, correta, de que a elevação de Aristóteles pelo escolasticismo e pela Universidade de Paris, estava em exata oposição ao conceito reinante sobre ele na antiga Igreja Cristã…

Foi especialmente Clemente de Alexandria, que procurou derivar o verdadeiro e o belo na filosofia grega, particularmente em Platão, da fonte original da mais alta sabedoria. Ele foi um resoluto platonista, embora se chamasse de eclético. Seus escritos estão cheios de citações de Platão, e de comparações entre doutrinas platônicas e cristãs… Seu pensamento platonico-cristão, e o esforço de representar o platonismo e o cristianismo como amigos mútuos, Clemente legou ao seu espiritualizado e fértil discípulo, Orígenes, a quem também o platonismo veio de outra fonte, a saber, de Amônio Sacas, seu instrutor de filosofia. Há, de fato, em Orígenes uns poucos trechos únicos do que nos outros Pais da Igreja, em que ele menciona o cristianismo de Platão com elogio, ele muitas vezes sai mesmo em oposição decidida a ele. Mas, apesar disto, Orígenes deve ser considerado como um dos maiores admiradores de Platão, na Igreja Cristã. Sua platonização é vista menos nos detalhes do que em todo o seu ensinamento, que é visceralmente entremeado com ideias platônicas, e em parte originou-se delas…

Porém, nenhum [Pai da Igreja] instituiu uma comparação tão completa entre os dogmas platônicos e cristãos, e estabeleceu a relação harmoniosa do platonismo com o cristianismo, tão industriosamente como Eusébio de Cesaréia.

Teodoreto também trabalha para mostrar isso em sua interessante obra sobre ‘The healing of the Grecomania.’ [A cura da Grecomania]. Neste trabalho, ele dá à filosofia platônica a preferência acima de qualquer outra, porque ela se aproxima o mais de perto das principais doutrinas do cristianismo.

É bem conhecido, e tão facilmente compreensível, o quanto o grande Agostinho se expressa a respeito de Platão e de sua filosofia, especialmente em sua célebre obra De civitate Dei, [A Cidade de Deus], que um pesquisador moderno chama de o fruto mais maduro da união íntima da sabedoria cristã com a platônica …

Houve, em geral, na antiguidade cristã, uma grande e resoluta disposição de trazer Platão para dentro do círculo do Evangelho, e representar seu ensinamento como semelhante ao evangélico. Daí o jovem Apolinário fazer a notável tentativa de reformular o Novo Testamento em diálogos platônicos. Daí, também, surgiu e tornou-se amplamente difundida a lenda de que Platão entrou em contato imediato com Cristo em sua descida ao inferno, e foi por Ele redimido e ressuscitado para o céu…

– Trechos do Capítulo 1, págs 17-29.

The Hopes of the Church of God – In Connection with the Destiny of the Jews and the Nations. As Revealed in Prophecy – Eleven Lectures Delivered in Geneva, 1840 [As Esperanças da Igreja de Deus – Em Conexão com o Destino dos Judeus e das Nações. Conforme Revelado na Profecia – Onze Palestras Proferidas em Genebra, 1840]. G. Morrish, 20, Pathernoster Square, E. C. Londres, 1840 (Imagem: Álbum de John Nelson Darby. Este livro de recortes contém memórias pessoais relacionadas com a vida e as viagens do evangelista cristão John Nelson Darby (1800-82). Foi disponibilizado on-line pelo Library’s Centre for Heritage Imaging and Collection Care [Universidade de Manchester, Inglaterra]).

http://www.library.manchester.ac.uk/using-the-library/staff/teaching/services/chicc/

Palestra 4
Ler Lucas 20:17.

A Primeira Ressurreição; ou, Ressurreição dos Justos.

…A doutrina da ressurreição é importante sob mais de um ponto de vista. Ela liga nossas esperanças a Cristo e a toda a igreja, em uma palavra, aos conselhos de Deus em Cristo; ela nos faz entender que estamos completamente livres nele, por nossa participação em uma vida na qual, unida pelo Espírito Santo a Ele, Ele também é a fonte de todas as forças para glorificá-lo, mesmo  a partir do presente; ela sustenta nossas esperanças da maneira mais sólida; finalmente, ela expressa toda a nossa salvação, na medida em que nos introduz numa nova criação, através da qual o poder de Deus nos coloca, no segundo Adão, além da esfera do pecado, de Satanás e da morte. A alma que parte vai para Jesus, mas ela não é glorificada. A palavra de Deus fala de homens glorificados, de corpos glorificados; mas nunca de almas glorificadas. Porém, como já foi observado, os preconceitos e os ensinamentos humanos tomaram o lugar da palavra de Deus, e o poder e a expectativa da ressurreição deixaram de ser a condição habitual da igreja 

Atos 4:2. Esta doutrina da ressurreição era reconhecida como a doutrina pregada publicamente pelos apóstolos; não era que a alma na morte ia para o céu, e sim que os mortos viveriam novamente. Como os fariseus eram os maiores inimigos do Senhor, enquanto ele estava na terra – isto é, os falsamente justos, em oposição ao verdadeiramente justo – de modo semelhante, Satanás, após a Sua morte, suscitou os saduceus, que eram inimigos da doutrina da ressurreição (Atos 4:1; 5:17)…

Atos 17:18-30. Ele anuncia, no meio dos sábios gentios, esta doutrina, que foi a pedra de tropeço da sabedoria carnal deles. Sócrates e outros filósofos acreditavam na imortalidade da alma, seguindo a moda*; mas quando esses homens, curiosos em ciência, ouviram falar da ressurreição dos mortos, eles zombaram. Um incrédulo é capaz de falar sobre a imortalidade; mas se ele ouvir sobre a ressurreição dos mortos, ele transforma o assunto em escárnio. E por que? Porque, em virtude da imortalidade da alma, ele pode se exaltar, ele pode elevar sua própria importância. Há algo na ideia que pode aliar-se ao homem tal qual ele é; mas pensar em pó levantado novamente – de um ser vivo e glorioso feito disso – esta é uma glória que pertence apenas a Deus, uma obra da qual apenas Deus é capaz. Pois, se um corpo reduzido ao pó pode ser reconstituído por Deus em um homem vivo e glorificado, nada está oculto do poder dele. Com a imortalidade da alma, o homem ainda pode conectar a idéia de ego – de poder no corpo; mas quando a verdade principal é a ressurreição do corpo, e não a imortalidade da alma, a impotência do homem torna-se flagrante…

Mas antes de passar às provas diretas, eu gostaria de expressar a convicção de que a ideia da imortalidade da alma*, embora reconhecida em Lucas 12:5 e 20:38#, não é, em geral, um tema do evangelho; que isso vem,** ao contrário, dos platonistas; e foi só quando a vinda de Cristo foi negada na igreja ou, pelo menos, quando se começou a perdê-la de vista, foi que a doutrina da imortalidade da alma veio a substituir a da ressurreição. Isto foi por volta do tempo de Orígenes. Dificilmente é preciso dizer que eu não duvido da imortalidade da alma; só afirmo que esse conceito tomou o lugar da doutrina da ressurreição da igreja, como sendo a época de sua alegria e glória

* Na expressão (2 Tim. 1:10): “Trouxe  a vida e a imortalidade à luz,” – “imortalidade” significa a incorruptibilidade do corpo e não a imortalidade da alma.

** isto é, a propagação disso como uma doutrina especial vem deles.

Dois atos de Cristo são apresentados como atributos de sua glória; um, fazer viver; o outro, julgar. Ele dá vida aos que ele quer, e todo o juízo é confiado a ele; para que todos, mesmo os ímpios, honrem o Filho, como honram o Pai. Jesus foi injustamente rogado aqui abaixo; Deus, o Pai, cuida de que a Sua reivindicação de glória será reconhecida: ele (Cristo) dá vida a quem ele quer – primeiro às suas almas e depois aos seus corpos. Estes o glorificam da boa vontade. Quanto aos ímpios, o modo de obrigá-los a reconhecer os direitos de Jesus é julgá-los; e esse julgamento está nas mãos de Jesus. Na obra de vivificação, o Pai e o Filho agem juntos, porque aqueles a quem a vida é dada são colocados em comunhão com o Pai e o Filho. Mas quanto ao julgamento, o Pai não julga ninguém, porque não é o Pai que foi injustiçado, mas o Filho. Os maus reconhecerão Jesus Cristo a despeito de si mesmos quando forem julgados. Em que época se cumprirão essas coisas? Para os ímpios, no momento do julgamento – o julgamento dos vivos e dos mortos diante do grande trono branco; para os justos, os filhos de Deus, quando seus corpos participarem da vida já transmitida às suas almas (a vida do próprio Cristo) na ressurreição dos justos. A ressurreição para estes não é uma ressurreição de julgamento, mas simplesmente, para repetir novamente o exercício para com os corpos dos filhos de Deus, daquele poder ativador de Jesus, o qual ele já exerceu sobre as almas deles e que, no tempo devido de Deus atuará sobre os corpos deles. “Os que fizeram o bem”, diz o nosso texto, “para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição do julgamento”.*

* Realmente, julgamento (ver em grego); que é dito antes de estar comprometido com Cristo.

Porém levanta-se a objeção de que Jesus disse (v. 28): “Vem a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a sua voz”. Os ímpios e os justos evidentemente serão levantados juntos. Mas três versículos antes (v. 25) é dito: “Vem a hora, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que ouvirem viverão”. A hora abrange aqui todo o intervalo do tempo que decorreu desde a vinda do Salvador; e sob esta palavra estão contidos dois estados de coisas muito diferentes, visto que os mortos ouviram a voz do Filho de Deus durante o tempo em que Ele estava vivendo na Terra e eles o tem ouvido por dezoito séculos desde então. Esta é, então, a interpretação. A hora* para dar vida à alma é uma hora que já dura dezoito séculos. E vem a hora também para o julgamento. A palavra hora tem o mesmo sentido nos dois trechos. Ou seja, há um tempo de despertar e um tempo de julgamento; Há um período durante o qual as almas são ativadas e um período em que os corpos devem ser criados. Para nós, a ressurreição é apenas a aplicação do poder ativador de Jesus Cristo aos nossos corpos. Seremos levantados, porque já estamos vivificados em nossas almas. A ressurreição é a coroação de toda a obra, porque somos filhos de Deus, porque o Espírito habita em nós, porque (no que diz respeito às nossas almas) já fomos ressuscitados com Cristo.

* Para o uso desta palavra, veja (em grego) João 5:35; João 16:4, 25, 26; Lucas 22:53; 1 João 2:18; 2 Coríntios 7: 8; Philemon 15.

Haverá uma ressurreição da vida para os que já foram vivificados em suas almas; e uma ressurreição de julgamento para os que rejeitaram Jesus…

Se a primeira ressurreição – a dos justos – não deve ser tomada literalmente, por que a segundo – a dos injustos – deveria ser tomada? Como o objeto de nossa esperança, e fonte da nossa consolação e da nossa alegria, é apenas uma coisa pequena saber que os injustos serão levantados; mas a coisa preciosa – o essencial – é saber que a ressurreição do justo será a consumação de sua felicidade; que nela Deus realizará o Seu amor para conosco; que, depois de ter dado vida às nossas almas, Ele dará vida aos nossos corpos e fará do pó da terra uma forma adequada à vida que nos foi dada por parte de Deus. Nunca lemos na palavra de Deus sobre espíritos glorificados, mas sempre sobre corpos glorificados. Existe a glória de Deus e a glória dos que serão ressuscitados…

Desejo, queridos amigos, que o conhecimento dessa verdade, pelo poder de Cristo, do qual depende toda a sua realização, possa fortalecer os nossos corações para toda a perfeição. Pois esse conhecimento em toda sua extensão é aquele para o qual as Escrituras aplicam a palavra “perfeição”. Cristo foi assim aperfeiçoado quanto ao seu estado e posição perante Deus; nós próprios também, somos aperfeiçoados pela fé, ao reconhecer que somos levantados com Ele, como seremos mais tarde quanto aos nossos corpos. Que vossos corpos, almas e espíritos sejam preservados irrepreensíveis até a chegada do nosso bem-amado! Que esta verdade da ressurreição da igreja fique associada, em nossas mentes, com todas as preciosas verdades de nossa salvação consumadas em Cristo, e que ela seja cumprida na plenitude de nossa salvação em nossos corpos também!

– trechos das págs. 39-54.

Future Punishment, Not Eternal Life in Misery, but Destruction [A Punição Futura, Não é a Vida Eterna em Tormento, e sim a Destruição], Henry Grew, Filadélfia, Pensilvânia, EUA, 1844, pág. 3. (Esta não é a verdadeira capa do tratado):

Mas o que dizem as Escrituras? Em vão procuramos uma única declaração inspirada de que o homem, em geral, é imortal. O contrário é que é revelado. “Pode o homem MORTAL ser justo diante de Deus?” Jó 4:17. Aqui ele é representado como mortal; sem qualquer distinção de corpo, alma ou espírito. É verdade que nas escrituras usa-se o termo “corpo mortal”. Mas deve-se observar que isso é usado somente em referência aos santos a quem a vida eterna é dada por Jesus Cristo por meio da fé em seu nome. Se a alma ou o espírito do homem em geral, ou o homem em geral é, em um único trecho declarado como imortal, então devemos realmente concluir que quando ele é chamado mortal, a referência é a seu corpo apenas. Mas certamente o fato de o corpo ser mortal, não prova que a alma seja imortal. Sobre os santos se diz “o corpo está morto (ou seja, deve morrer) por causa do pecado, mas o espírito é vida (por quê? Porque ele é naturalmente imortal?) por causa da justiça” – isto é, “a justiça de Deus, pela fé em Jesus Cristo.” Rom. 3:22. A vida do homem, sem referência a alguma distinção entre corpo e espírito, estava originalmente associada à sua obediência. “No dia em que dela comeres, certamente MORRERÁS.” Não houve realmente uma execução imediata da penalidade. Todos os que admitem que a morte do corpo, ou a punição de um estado futuro, era o planejado na penalidade, devem admitir que a totalidade da pena não foi executada imediatamente. Mas se Deus de forma consistente com sua palavra, podia adiar a execução de alguma parte da pena, ele poderia, se quisesse, adiar a execução do todo. Um homem judicialmente condenado a morrer, é considerado como morto. Assim, o apóstolo disse aos seus irmãos, “o corpo está morto”, ou seja, condenado a morrer.

A mente perspicaz, não influenciada pela tradição humana, deve perceber que nos oráculos sagrados a imortalidade revela-se, não como um objeto que todos possuem, ou possuirão, e sim como um objeto a ser procurado e obtido pela fé e “perseverança em fazer o bem.” Rom. 2:7. Que profeta ou apóstolo “movido pelo Espírito Santo” disse alguma vez aos homens que eles têm almas imortais ou espíritos imperecíveis?

Veja AQUI a tradução completa da obra.

The Intermediate State [O Estado Intermediário], Henry Grew, Mogridge’s Foundry, Filadélfia, EUA, 1849:

Deus, “soprou em suas narinas o fôlego de vida.” Compare esta expressão com a que está em Isa 2:22, “afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz.” É esta uma expressão apropriada para definir algo como uma alma imortal independente, como se supõe que o homem possui? Leia Gen. 7:21, 22. Se for possível que lancemos fora de nossas mentes o viés do preconceito, não deveríamos reconhecer que isto é uma expressão do simples fato de transmitir vitalidade à estrutura perfeitamente organizada formada do pó da terra? O Todo-Poderoso “soprou em suas narinas o fôlego de vida.” Será que alguém afirmaria que o fôlego, antecedente à sua conexão com o novo homem formado, era em si uma substância consciente, inteligente e imortal? Não foi a consciência e a inteligência o resultado da ligação deste fôlego com todas as funções materiais? Não estava ele destituído dessas qualidades antes dessa conexão? Se ele não possuía essa consciência e inteligência antes de sua ligação com a organização material, como ele poderia possuí-las quando, no momento da morte, ele é separado dessa organização? Se Gên. 2:7 comprova uma alma imortal no homem, não deveria Gên. 7:21, 22 provar o mesmo no caso dos animais?

… Se for verdade que o homem possui uma substância espiritual consciente tão superior e independente da organização material, como podemos explicar a omissão desse fato no registro inspirado da sua criação original? Por que não se faz qualquer menção de uma questão de importância tão transcendente? Não seria razoável esperar, de acordo com a teoria popular, que Moisés teria sido inspirado a registrar, em primeiro lugar, a criação dessa alma imortal como a principal parte da criatura nobre de tal alma imortal que haveria de ter domínio sobre toda a terra? Não teria sido a mera matéria da casa de habitação exterior um assunto secundário? Ou se era apropriado mencioná-la em primeiro lugar, seria apropriado chamá-la de HOMEM antes de sua ocupação por aquilo que é considerado tão essencial para a natureza do homem? É razoável supor que na descrição inspirada da criação do homem, seria adotada uma fraseologia que exclui a ideia de que a vida e a inteligência do homem se deriva dessa substância tão distinta?

Richard Whately, A View of the Scripture Revelations Concerning a Future State (Um Conceito das Revelações Bíblicas Referentes ao Estado Futuro), Londres, Inglaterra, 1842, págs. 67, 68 (Nota A), 230.

Ao trecho (Mat. 10:28.) “não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”, etc., eu não fiz referência, por não supor que ele tenha alguma conexão com o presente assunto; nem agora posso perceber alguma; mas como o erudito Whitby, em sua extrema ansiedade de provar com base nas Escrituras um estado separado de consciência, aplicou este texto dessa maneira em seu Comentário, é devido a essa autoridade que o menciono brevemente. Ele não parece, porém, ter escrito neste lugar com seu julgamento habitual.

O pronunciamento de Jesus aos seus discípulos foi manifestamente destinado a lembrá-los de que seus inimigos só poderiam infligir morte temporária – só  poderiam pôr fim à vida de um homem neste mundo; enquanto que o poder de Deus se estende a toda a nossa existência – para toda a eternidade – no próximo mundo, bem como neste. A questão sobre a condição intermediária entre a morte e a ressurreição, evidentemente não estava na mente dele de modo algum. Mas Whitby imagina que Ele quis dizer que a alma nunca pode estar em um estado inconsciente, porque então ela estaria morta; “pois”, diz ele, “não é fácil perceber como um ser inteligível, pensante e receptivo pode estar mais morto do que por privá-lo de toda sensação, pensamento e percepção”. Ele não se lembrou que é uma ocorrência diária que um homem receba, por exemplo, um golpe contundente, que por alguns minutos o priva de todas as sensações, etc., embora depois se recupere; no entanto, não devemos dizer que a pessoa que infligiu tal golpe havia matado a alma do outro, da mesma forma que deixá-lo no escuro por algum tempo não seria a mesma coisa que destruir seus olhos. Mas Whitby não costuma raciocinar dessa maneira.

… Se, portanto, supormos que os ouvintes de Jesus e de seus apóstolos tenham entendido, o mais próximo possível do sentido comum, as palavras usadas, eles devem naturalmente tê-las concebido como significando (se não foi ensinado nada em contrário) que os condenados deveriam ser real e literalmente “destruídos” e deixariam de existir; não que eles deveriam existir para sempre em um estado de miséria. Pois jamais se fala deles como sendo mantidos vivos, e sim perdendo a vida: como por exemplo: ‘E não quereis vir a mim para terdes vida.:’ – ‘Quem tem o Filho tem vida; e quem não tem o Filho de Deus não tem vida. E novamente, ‘perdição’, ‘morte’, ‘destruição’ são usadas em numerosos trechos para expressar o destino dos condenados. Todas as expressões seriam, como eu já disse, naturalmente tomadas em seu sentido usual e óbvio, se nada fosse ensinado em contrário.

System der Christlichen Lehre [Sistema de Ensino Cristão], Karl Immanuel Nitzsch, Bonn, Alemanha, 1851, Seção 122, págs. 253, 254:

“A alma é dependente do Criador; ela não tem uma imortalidade absoluta. Certamente, ela foi criada e constituída com vistas à obtenção de uma vida eterna; mas ela perde a vida que lhe é pessoal na medida em que se torna uma estranha à verdade, ao amor e à salvação. Segue-se que com o progresso do pecado a alma avança em direção à destruição que a espera no inferno; em outras palavras, em direção à sua morte.”

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