PublicaçõesEnsinos e História das Testemunhas de Jeová

A Fome – Está Pior Hoje?

Introdução

Muitos escritos que tratam do tempo do fim apresentam um quadro bem sombrio da situação alimentar do mundo. Alguns escritores entendem as palavras de Jesus “haverá fomes”, e os símbolos em Revelação capítulo seis, como predizendo fome global de proporções enormes e sem paralelo.

Em 1982, o autor de best-sellers Hal Lindsey escreveu em A Promessa (página 198 em inglês):

Jesus predisse um grande surto de fome mundial numa escala que o homem nunca antes conheceu. Hoje os títulos da Time, da Newsweek e dos jornais anunciam de forma dramática os fatos devastadores de que milhões estão morrendo de fome neste exato momento. E a previsão é que outros milhões morrerão de fome nos próximos anos…

Em O Tropel Que Se Aproxima, páginas 151 e 153 em inglês, o Dr. Billy Graham declara:

Depois dos cavalos branco e vermelho, a fome prevalecerá sobre a terra. Milhões morrerão de fome. Outros milhões sofrerão de má nutrição… O cavalo e o cavaleiro preto são o aviso de Deus quanto ao sofrimento humano que jaz à frente se o homem se recusar a obedecer aos Seus mandamentos.

O cavalo preto e seu cavaleiro trovejam em nossa direção. O tropel de aviso são os gritos das crianças morrendo de fome e de doença.

O autor Robert Pierson, Adventista do Sétimo Dia, avisa:

… em pelo menos trinta e dois países da terra atualmente, … segundo algumas estimativas, setecentos milhões (mais de três vezes a população dos Estados Unidos da América) estão enfrentando a morte devido à fome neste exato momento…

Ao falar dos sinais de Sua segunda vinda, Jesus disse: ‘Haverá fomes… em todo lugar.’…

Outro sinal inconfundível dos tempos em que vivemos. Jesus vem em breve! – Adeus, Planeta Terra, páginas 22, 24 em inglês.

Uma publicação da Igreja Mundial de Deus, O Cavalo Preto: a Fome (em inglês  1976) faz estas afirmações notáveis na página 48:

Sempre houve fomes, mas nunca foram semelhantes às que o mundo está experimentando hoje. Em geral, as fomes do passado ocorriam associadas às secas, guerras e outras perturbações naturais ou provocadas pelo homem… Hoje a fome mundial está embutida na estrutura da sociedade mundial. A fome é agora um modo de vida para milhões de pessoas…

As fomes de hoje também diferem das do passado tanto em sua natureza como em sua extensão. Nunca antes várias centenas de milhões de pessoas sofreram de fome e má nutrição num dado período da história como acontece hoje.

É inegável que, no caso de algumas áreas da terra, a situação é realmente grave, e que milhões estão morrendo anualmente de subnutrição. A pergunta é: Será que esta situação é uma singularidade da época atual? Será que é incomum  suficientemente distintiva para ser apontada como constituindo um sinal divino de desastre iminente?

Os autores já citados apresentam aquilo que acham ser evidência de mau presságio de uma fome mundial predita, já presente ou muito próxima. A liderança das Testemunhas de Jeová é tão explícita como a Igreja Mundial de Deus, anunciando repetidamente em suas publicações que uma época de fome sem paralelo na história humana chegou definitivamente. De fato, eles alegam que essa época de fome sem paralelo para a humanidade tem visto um cumprimento dramático desde a segunda década do século 20.

Qual é a verdade sobre este assunto?

Quantos estão realmente morrendo de fome hoje?

Parece haver uma confusão considerável quanto ao número exato de pessoas que estão de fato morrendo de fome atualmente no mundo. Na publicação Felicidade  Como Encontrá-la? (1981) cita-se uma notícia dizendo que “Pelo menos uma dentre cada oito pessoas na terra ainda sofre de alguma forma de subnutrição.” (Página 149) Contudo, na mesma página cita-se outra notícia dizendo que “mais de um bilhão de pessoas não terão o suficiente para comer este ano.”1 Isto seria uma dentre cada quatro pessoas na terra, naquela época. A revista Despertai! de 8 de julho de 1994 alega na página 28 que “a fome, segundo as mais recentes estatísticas do Banco Mundial, afetou tremendamente a vida de cerca de 1,13 bilhão de pessoas em 1990, mais do que jamais ocorrera.” Fornecendo os números para as regiões mais atingidas no mundo, a revista acrescenta: “Esses dados não incluem quase outro bilhão de pessoas que sofrem de desnutrição.” Isto aumentaria o número de pessoas famintas e desnutridas no mundo para cerca de dois bilhões, ou aproximadamente 38 por cento da humanidade.2 Uma publicação anterior, Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), citou Josué de Castro, um perito em alimentação da ONU, que diz que dois terços da raça humana sofrem de subnutrição ou, como a liderança das Testemunhas de Jeová “explica” o termo, estão “morrendo aos poucos de fome”. Segundo Castro, outro perito, W. P. Forrest, calculou o número como sendo 85 por cento da população do globo. Com base nesta declaração, a liderança das Testemunhas de Jeová concluiu que “Desde 1914, a escassez de víveres ou as fomes têm afetado duas vezes tantas pessoas como nos 900 anos anteriores”, e “Nunca antes do ano 1914 faltava alimento ao mundo inteiro.”3 

Existe alguma verdade por detrás destas declarações? Quantos estão realmente morrendo de fome ou passam por “escassez de víveres” hoje: “uma dentre cada oito” pessoas (12,5 por cento), “mais de um bilhão de pessoas” (20 por cento), cerca de dois bilhões (38 por cento), “dois terços da raça humana” (67 por cento), “85 por cento” ou o “mundo inteiro” (100 por cento)? 

A fome e a má nutrição — uma distinção

Ao abordar a ampla variedade de opiniões entre os peritos acerca do alcance da fome, o Dr. Pandurang V. Sukhatme observa: “A primeira dificuldade básica surge devido à inexistência de uma definição precisa de fome.”4 Até os tempos modernos, fome significava simplesmente [estar em vias de] morrer de fome devido à falta de comida. Assim, em 1931 a Enciclopédia das Ciências Sociais (em inglês) ainda definia fome como “um estado de fome extrema sofrido pela população de uma região em resultado do colapso do suprimento normal de alimentos.”5 

Contudo, a ciência moderna ampliou o conceito de “fome” para incluir também a chamada “fome oculta” ou má nutrição, que se refere a uma falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta, como vários tipos de aminoácidos, sais minerais e vitaminas. Esta “fome oculta” era, naturalmente, pouco conhecida em séculos anteriores devido à falta de conhecimento acerca destes nutrientes essenciais, embora essa “fome oculta” fosse mais generalizada no passado do que atualmente, conforme este capítulo demonstrará fortemente.

Portanto, quando modernos peritos em alimentos falam sobre a fome hoje, em geral é neste sentido mais abrangente. Josué de Castro, citado pela liderança das Testemunhas de Jeová como dizendo que dois terços da raça humana sofrem de má nutrição, usa “fome” neste sentido, conforme Lord Boyd Orr, o primeiro Diretor da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura da ONU), explica no prefácio do livro de Castro, A Geografia da Fome (em inglês):

O termo ‘fome’, usado pelo autor, precisa ser definido. No passado este termo foi usado para significar falta de alimentos para satisfazer o apetite e o número de mortes devidas à fome foi limitado aos casos de pessoas num estado de enfraquecimento extremo, que morreram devido à fome pura e simples. Contudo, o autor usa o termo na acepção moderna de falta de qualquer dos cerca de quarenta constituintes da alimentação necessários para manter a saúde. A falta de qualquer destes constituintes causa morte prematura embora não necessariamente de enfraquecimento extremo devido à falta de qualquer tipo de alimento que se possa comer.

Mostrando o efeito que esta definição ajustada de fome tem nas estimativas da fome no mundo, ele acrescenta:

Se o termo fome for usado nesta acepção, então, segundo as melhores estimativas anteriores à guerra, dois terços da população do mundo estão famintos. Uma recente Comissão Americana colocou este número nos 85 por cento.6

Assim, é necessário distinguir claramente entre a fome no sentido antigo (que ainda é comum) e este conceito moderno de má nutrição.7 Então, quantas pessoas estão hoje realmente morrendo de fome e quantas estão mal nutridas? 

A extensão da fome e da má nutrição hoje

Pesquisas mais recentes e mais cuidadosas sobre a extensão da fome na atualidade mostraram que estava errada a estimativa anterior à guerra, segundo a qual dois terços da humanidade sofrem de má nutrição. O Dr. P. V. Sukhatme, por exemplo, depois de uma pesquisa muito extensa acerca da extensão da fome na Índia, concluiu que cerca de 50 por cento da população da Índia sofre de subnutrição ou de má nutrição ou de ambas as coisas.8 

Se isto for verdade no caso da Índia, que até recentemente era um dos países mais afetados pela fome no mundo, então é claro que a proporção de pessoas mal nutridas no mundo todo tem de ser inferior, ou seja, tem de ser consideravelmente inferior a 50 por cento.

Provavelmente a pesquisa mais autoritativa sobre o alcance da fome na década de 1970 foi aquela publicada antes da Conferência Alimentar Mundial em Roma, em 1974. A pesquisa mostrou que entre 460 e 900 milhões de pessoas no mundo sofriam de má nutrição ou de subnutrição em graus variados, isto é, entre 12,5 e 25 por cento da população mundial naquele momento. Metade destes eram crianças, das quais cerca de 10 milhões sofriam de subnutrição grave, ou fome.9

As mesmas estimativas que indicam que cerca de um bilhão de pessoas sofrem de má nutrição e subnutrição mostram também que, destes, não são mais de aproximadamente 40 milhões no máximo, e muito provavelmente um número bem menor estava realmente morrendo de fome em meados da década de 1970. Isto representava menos de um por cento da humanidade na época! Esse número é sem dúvida muito menor hoje.10

Portanto, a pergunta é: Quando Jesus, em suas palavras introdutórias de aviso, disse que, além de guerras e terremotos, “haverá escassez de víveres [fomes]… num lugar após outro” (Mateus 24:7), será que ele pensava em fome no sentido antigo e comum  catástrofes de fome recorrentes e agudas em vários lugares? Ou pensava em fome no sentido moderno, ou seja, subnutrição ou má nutrição crônicas devido à insuficiente assimilação de calorias e/ou falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta?

A resposta é óbvia. A palavra grega traduzida por “fome”, limós, refere-se à fome no sentido antigo: fome devido à falta de alimento. É também digno de nota que a palavra é usada no plural, limoí (“fomes”). Isto não indica uma condição crônica de subnutrição, indica catástrofes agudas de fome “num lugar após outro”.

Aplicar o termo bíblico ao estado de subnutrição e má nutrição crônico prevalecente em algumas partes do mundo hoje, como faz a liderança das Testemunhas de Jeová, e limitar esta aplicação ao período posterior a 1914, não só entra em conflito com o entendimento natural da declaração de Jesus, como também está em conflito com o fato de a maior parte da humanidade ter evidentemente sofrido de má nutrição e subnutrição desde tempos imemoriais, incluindo a própria época em que Jesus proferiu sua profecia.

Então, será que hoje vemos mais e piores fomes verdadeiras do que a humanidade já tenha visto no passado? Será que a verdadeira fome  ou até mesmo a “fome oculta”  corrói agora as partes vitais da humanidade como nunca antes? Estas perguntas serão respondidas na abordagem que se segue, primeiro através de um exame da história das fomes em várias partes do mundo. Depois examinaremos mais de perto a má nutrição, e especialmente a mortalidade infantil causada pela má nutrição e subnutrição, comparada com este problema no passado. 

“A maior fome de toda a história” — antes ou depois de 1914?

Durante décadas a liderança das Testemunhas de Jeová afirmou que a maior fome e a pior escassez de víveres na história humana ocorreu pouco depois da Primeira Guerra Mundial:

A pior escassez de víveres na história humana seguiu-se à Primeira Guerra Mundial.  A Sentinela de 15 de abril de 1976, página 242.

… na esteira da Primeira Guerra Mundial veio a maior fome de toda a história. – “Venha o Teu Reino”, 1981, página 122; veja também Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, 1989, página 150.

Que fomes ou escassez de víveres ocorreram na esteira da Primeira Guerra Mundial? A Sentinela de 15 de outubro de 1983, explica:

Em 1921, a fome causou a morte a cerca de 5 milhões de pessoas na URSS. Em 1929, a fome causou calculadamente 3 milhões de mortes na China. Na década de 30, 5 milhões morreram de fome na URSS. (Página 5)

Mas será que estas foram as piores fomes de toda a história? Não, não foram. Nesse mesmo número de A Sentinela, o autor, que evidentemente tinha feito alguma pesquisa sobre o assunto, sentiu-se compelido a contradizer todas as declarações anteriores nesse sentido e a admitir:

… é verdade que a História está cheia de relatos de fome, desde os dias de Abraão e José até a maior fome de que se tem registro, a que atingiu a China entre 1878 e 1879. (Gênesis 12:10; 41:54) As estimativas do número de chineses que morreram nessa fome variam de 9 a 13 milhões.  A Sentinela, 15 de outubro de 1983, página 3.

Esta admissão é das mais interessantes porque as publicações da organização das Testemunhas de Jeová tinham afirmado durante anos que a maior fome na China ocorrera depois da Primeira Guerra Mundial! Referindo-se à seca no norte da China em 1920-1921, o livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959) declarou: “Pouco depois da Primeira Guerra Mundial, a China sofreu a maior fome que já teve  15.000 pessoas morriam cada dia e 30.000.000 de pessoas ficaram afetadas por ela.”11 Os 15.000 mortos cada dia podem parecer impressionantes à primeira vista  até sabermos que a situação logo foi aliviada pelo governo e por esforços filantrópicos particulares. Segundo a melhor informação que é possível obter, meio milhão (500.000) morreram nessa fome.12 Embora este seja um número assustador, o tributo da morte em muitas outras fomes na China anteriores a 1914 foi muito maior, como se mostrará a seguir.

Consequentemente, “a maior fome” e “a pior escassez de víveres” na história humana não se deram “na esteira da Primeira Guerra Mundial”, como a liderança das Testemunhas de Jeová havia dito aos leitores de suas publicações durante décadas. E a China não teve a sua “maior fome” “pouco depois da Primeira Guerra Mundial”. As maiores e piores fomes ou escassez de víveres ocorreram todas nos séculos passados – com exceção da fome de 1958-61 (veja abaixo), este é ainda o caso.

Todavia, ainda que o tamanho de cada fome, considerada isoladamente não tenha aumentado desde 1914, talvez alguns afirmem que o número total de fomes aumentou desde aquela data. Isto é indicado pelo autor do mesmo artigo de A Sentinela, citado acima:

Temos presenciado mais escassez de víveres do que gerações anteriores? Não podemos afirmar com certeza, porque as estatísticas são incompletas. Mas este século tem colhido seu tributo em matéria de calamidades naturais e tem sofrido mais de guerras do que todas as demais gerações da história. Portanto, é possível que em sentido global tenha havido mais escassez de alimentos do que em qualquer outra época.13 

Nesta declaração o escritor das Testemunhas de Jeová faz outra admissão surpreendente que não se pode encontrar em publicações anteriores da organização. Ele admite que não se pode afirmar com certeza que as fomes aumentaram em número, só se pode dizer que talvez isto tenha ocorrido! Se não existe uma prova definitiva de que as fomes aumentaram em tamanho ou em número desde 1914, então, como é que se pode afirmar que constituem um “sinal” de alguma coisa?14 

Mas o autor, apesar destas palavras de cautela, não apresentou toda a verdade sobre as fomes no passado. Mesmo sendo verdade que as estatísticas são incompletas, existe informação preservada suficiente para demonstrar que o número de fomes diminuiu no século 20, em comparação com os séculos anteriores! Isto se tornará evidente na pesquisa que se segue, sobre fomes no passado na China, Índia, Europa e outras partes do mundo.

O estudo das fomes

Das três calamidades, guerra, fome e pestilência, a fome tem sido a menos estudada. Conforme Castro observou, muito pouco havia sido escrito sobre a fome até o fim da Segunda Guerra Mundial: “Para cada estudo sobre os problemas da fome, havia mil publicações sobre o problema da guerra.”15 

A razão pela qual os estudiosos pareciam evitar o assunto não era porque a fome fosse um problema menor no passado. Muito pelo contrário! A “destruição humana que resultou da fome é consideravelmente maior do que a ocasionada pelas guerras e epidemias em conjunto.”16 Foi dito acertadamente que a história “nunca será compreendida até que seja escrito um livro terrível – a História da Fome.” Se esse livro fosse escrito, observou E. P. Prentice, “seria lançada uma nova luz sobre a história… de todo o mundo – visto que em todas as épocas e em todas as partes do mundo os homens sofreram devido à fome.”17 

A primeira pesquisa rigorosa sobre as fomes foi feita por Cornelius Walford da Sociedade Histórica Real em Londres, que publicou dois extensos artigos sobre o assunto no Jornal da Associação de Estatística em 1878 e 1879.18 No primeiro artigo, Walford incluiu uma lista de mais de 350 grandes fomes em várias partes do mundo, desde 6 D.C. até 1878 D.C.19 

Desde então apareceram outros estudos, normalmente limitados a certas áreas ou países e abrangendo diferentes períodos de tempo. Em 1892 o Dr. Alwin Schultz publicou uma tabela de fomes na Alemanha durante os anos 1300-1499.20 Um extenso estudo sobre as fomes na Europa, de 700 a 1317 D.C. foi publicado por Fritz Curschmann em 1900.21 E Léopold Delisle publicou uma lista de fomes na França em 1903, abrangendo o período 1053-1414 D.C.22 Mais recentemente, apareceram trabalhos sobre fomes na China, Índia e outras partes do mundo, que foram consultados para a informação apresentada nas partes que seguem. Em um deste estudos, A Geografia da Fome, o autor, William A. Dando, declara que temos agora informação sobre mais de 8.000 fomes diferentes ao longo dos seis mil anos de história humana!23 

China, a “terra da fome”

A China, lar de mais de um quinto dos habitantes da terra, é a parte mais populosa do mundo.

Este país tem sido atingido tão freqüentemente por fomes destrutivas que chegou a ser conhecido em todo o mundo como “a terra da fome”.24 Conforme foi demonstrado por um estudo completado na década de 1920, o país tinha sofrido quase uma fome por ano nos últimos 2.000 anos:

O problema da fome é antigo na China; desde os tempos mais remotos as fomes têm sido uma praga recorrente. Um estudo recentemente completado pela Sociedade Agrícola dos Alunos, da Universidade de Nanking revelou o fato surpreendente e significativo de entre os anos 108 A.C. e 1911 D.C. ter havido 1828 fomes, ou quase uma por ano em algumas províncias. Incontáveis milhões morreram de fome.”25 

A mais terrível fome dentre estas resultou das grandes secas cíclicas: “Dos mil anos entre 620 e 1620, 610 foram anos de seca numa província ou noutra e 203 destes foram anos de graves fomes.”26 Pelo menos quinze destas fomes foram tão graves que os chineses recorreram ao canibalismo.27 Em muitas destas fomes, devem ter morrido milhões de pessoas. Contudo, em geral faltam os números, parcial ou totalmente. Durante os quatro anos entre 1333 e 1337, por exemplo, os registros chineses relatam que “4.000.000 de pessoas morreram de fome só na vizinhança de Kiang.” Milhões adicionais morreram em outras áreas.28 

No caso dos séculos mais recentes, está disponível informação melhor. Várias fomes bem destrutivas afligiram a China durante o século 19. “Diz-se que as quatro fomes de 1810, 1811, 1846 e 1849 custaram pelo menos 45.000.000 de vidas.”29 Dentre estas, “diz-se que a de 1849 custou perto de 14 milhões de vidas”.30 Pensa-se que entre 1854 e 1864 “outros 20 milhões morreram”.31 Depois, em 1876-1879, veio a grande fome, mencionada pela já citada A Sentinela como tendo sido “a maior fome de que se tem registro”, na qual morreram entre nove e treze milhões de seres humanos.32 

A afirmação de que esta foi “a maior” de todas as fomes não é, porém, muito exata. Mallory, escrevendo em 1926, descreve-a mais corretamente como sendo a “pior fome que ocorreu na China gravada na memória dos atuais habitantes.33 Sabe-se que algumas fomes anteriores foram ainda mais mortíferas, como por exemplo aquela na China em 1849 (cerca de 14 milhões de mortos), ou a que atingiu a Índia em 1769-1770 (que pode ter custado dezenas de milhões de vidas).

Perto do fim do século 19, já muito atingido pela fome, ainda ocorreu outra fome severa na China, nos anos 1892-1894, que custou aproximadamente um milhão de vítimas adicionais.34

Assim, o século 19 foi marcado por fomes desastrosas para a China, visto que durante aquele século, segundo a estimativa de Castro, “aproximadamente cem milhões de pessoas morreram de fome”!35 

CANIBALISMO – UMA OCORRÊNCIA COMUMDURANTE A GRANDE FOME CHINESA DE 1876-1879

Ilustração publicada em A Fome na China (em inglês – Comissão do Fundo de Assistência Para a Fome na China, Londres: C. Kegan Paul e Cia., 1978). (Publicada novamente em A Fome na China e os Missionários, P. R. Bohr, Cambridge, Inglaterra, 1972, depois da página 20 em inglês.)

Tradução do texto: “CORPOS JAZEM MORTOS NA RUA, E OS VIVOS SE ESFORÇAM MUTUAMENTE PARA CONSEGUIR A CARNE DELES.” 

Quantos daqueles que hoje leem livros com títulos sensacionalistas e declarações fantásticas sobre sinais do tempo do fim conhecem estes duros fatos da história? Quanto aos milhões de Testemunhas de Jeová ao redor do mundo, é duvidoso que mesmo um punhado delas esteja familiarizado com a evidência factual sobre este assunto.

Que se pode dizer então sobre a China no século 20? Será que experimentou um aumento das fomes, quer em intensidade quer em número (frequência)? Será que a fome ali é maior desde 1914 do que antes dessa data? O registro mostra um desenvolvimento muito interessante.

A primeira fome severa na China depois de 1914 ocorreu em 1920-21, conforme já mencionado. Como o número de mortos foi cerca de meio milhão, obviamente não foi de modo algum a maior fome da China. Depois ocorreu a grande fome de 1928-29, causando mais de três milhões de mortos.36 Nenhuma destas duas fomes se aproximou do tamanho de algumas das grandes fomes do século 19 que já consideramos.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a China, sob a liderança de Chiang Kai-shek, tentou elevar o nível de vida do povo chinês, ajudada por empréstimos das potências ocidentais. Apesar destes esforços, a situação não melhorou muito a não ser depois da vitória da revolução comunista sob Mao Tsé-tung, em 1949.37 Depois disso, o novo governo tomou medidas drásticas para aumentar a produção agrícola com o objetivo de eliminar a fome. A luta revelou-se notavelmente bem sucedida:

No período de sete anos, a China quase duplicou sua produção de cereais, com um aumento médio anual de cerca de 8 por cento, o que impressionou todo o mundo… Este tremendo aumento da produção e os custos mais baixos que resultaram das taxas de produtividade crescentes melhoraram os padrões das dietas e libertaram o povo chinês das garras da fome… Através de ação política organizada e efetiva, a nova China resolveu seu maior problema dentro de dez anos: a alimentação de seus 700 milhões de habitantes.38 

Todavia, a vitória ainda não era completa. Principalmente em resultado da malograda experiência econômica chamada de “o grande passo para frente” – de 1958 a 1961 (a coletivização final e completa dos camponeses) a China foi obrigada a importar grandes quantidades de cereais dos países ocidentais. Já se sabia há muito tempo que este experimento causou um enorme sofrimento e uma fome severa. Mas foi só em 1984, quando os chineses publicaram os resultados do censo de 1964, que a verdadeira dimensão do desastre pôde ser estimada pelos peritos em demografia. As estimativas do número de mortes devidas à fome, má nutrição e mortalidade infantil durante os quatro anos de 1958-61 variam entre 7 e 40 milhões.39 

Assim, esta fome foi perfeitamente comparável a algumas das piores fomes do passado. No entanto, constitui uma mancha negra num quadro brilhante que tende a melhorar. E, note-se, não torna de modo algum a situação da fome na China tão crítica como no desastroso século 19.

Descontados os recuos temporários mencionados, a situação alimentar na China tem melhorado constantemente. Não só a fome, como também a subnutrição foi erradicada. A taxa de mortalidade infantil caiu de 80 por mil nascidos vivos no final da década de 1960 para 38 por mil durante a última metade da década de 1990, isto é, bem abaixo dos 50 por mil, o limite que, segundo a UNICEF, WHO e outras autoridades indica que a subnutrição e a má nutrição deixaram de ser um problema básico dentro de um país. A China provavelmente já estava abaixo deste limite por volta de 1975.40

Assim, a China, antiga “terra da fome”, já não merece essa classificação. Tendo sido atingida por fomes quase anualmente durante milhares de anos, este país conseguiu no século 20 – pela primeira vez em sua longa história – atingir gradualmente uma considerável liberdade do flagelo da fome. A população aumentou para mais de 1,2 bilhões de pessoas, mas foram tomadas medidas enérgicas para limitar este crescimento. Em 1998 a taxa de crescimento populacional estava em 0,9 por cento, em comparação com 1,4 por cento do mundo. A afirmação de que as fomes têm aumentado desde 1914 não é verdadeira no caso desta quinta parte de toda a humanidade. Pelo contrário, a fome nesse país tem diminuído, praticamente desapareceu, nesta que era até recentemente a parte do mundo mais afetada pela fome! 

As fomes na Índia

Depois da China, a Índia era e ainda é o país mais populoso do mundo. Se o Paquistão e o Bangladesh, que até 1947 eram partes da Índia, fossem incluídos em sua atual população, esta seria de 1,3 bilhões, ou mais de um sexto da população da terra. Depois da China, a Índia também tem experimentado mais fomes severas do que qualquer outro país.

A Índia tem sofrido de fomes desde tempos imemoriais. Embora não tenhamos um registro seqüencial e completo de todas as fomes que ocorreram no período da história indiana anterior à presença britânica, a evidência disponível sugere que nos tempos antigos ocorreu uma grande fome a cada 50 anos.41 

Os registros antigos mencionam fomes devastadoras, por vezes acompanhadas de canibalismo entre as vítimas esfomeadas. Diz-se que províncias inteiras ficaram despovoadas em 1022 e em 1052 D.C. “Segundo cronistas contemporâneos, em 1555, e de novo em 1596, a fome severa por todo o noroeste da Índia resultou em cenas de canibalismo.”42 Em 1629-30, uma seca devastadora “atingiu a província de Gujarate e centros inteiros ficaram despovoados.”43 

Talvez a maior fome de que há registro tenha sido a catástrofe de 1769-1770, durante a qual, segundo algumas estimativas, morreu um terço da população de Bengala. Morreram dez milhões, e possivelmente várias dezenas de milhões morreram em toda a Índia.44 

A frequência das fomes na Índia parece ter aumentado depois do início da colonização britânica, em 1756. De 1765 a 1858, o país passou por doze fomes e quatro períodos de escassez grave. Outras seis grandes fomes ocorreram durante os vinte anos de 1860 a 1880. Dos quarenta e nove anos entre 1860 e 1908, vinte foram anos de fome ou escassez.45 Várias destas fomes causaram milhões de mortes cada uma. “As fomes do começo do século 19, segundo Andre Philip, mataram metade dos habitantes de Madras, Mysore e Hyderabad.”46 A fome de 1865-66 custou cerca de três milhões de vidas, e a de 1876-78 custou mais de cinco milhões.47 O século dezenove terminou com duas das fomes mais desastrosas do século: mais de cinco milhões morreram na fome de 1896-98 e outros 3,25 milhões durante os anos 1899-1900.48 

O que estamos interessados em saber é se o século vinte, particularmente depois de 1914, presenciou algum aumento no número de fomes na Índia. A resposta será certamente uma surpresa para alguns: “Não houve qualquer grande fome no país depois de 1908 até a fatídica tragédia de Bengali em 1943,” indica o Dr. Bhatia, o principal perito em fomes na Índia.49 

Assim, por aproximadamente três décadas logo após a Primeira Guerra Mundial – período em que, de acordo com o “sinal composto” da liderança das Testemunhas de Jeová, haveria mais fomes do que nunca – a vasta península da Índia, tão frequentemente afetada pela fome, não contribuiu com uma fome sequer para este “sinal”! Por quê? Bhatia explica:

A fome de 1907-08… revelou-se um ponto decisivo na longa história do problema dos alimentos e da fome na Índia. A partir de então, a seca deixou de ser um problema de séria preocupação. A atenção voltou-se, por outro lado, para o preço dos alimentos, a disponibilidade de emprego e a taxa dos salários.

Explicando o que isto significou para a fome na Índia, ele diz:

A fome já não significava mortes de fome em massa devido à falta de comida; passou a significar, como em algumas outras economias modernas, preços altos dos cereais sem um correspondente aumento proporcional dos salários, resultando em consumo reduzido de cereais por parte dos mais pobres e, por isso, uma fome parcial. A fome transformou-se em Problema Alimentar, que desde então nos tem acompanhado.50 

Consequentemente, durante um período de trinta e cinco anos, de 1908 a 1942, a Índia passou por alguns períodos de escassez, mas não teve grandes fomes envolvendo qualquer perda considerável de vidas.”51 Assim, a fome de Bengali em 1943 foi um choque, e a Índia não estava preparada para ela. Antes de a situação ficar sob controle, um milhão e meio de pessoas pobres e sem recursos morreram de fome.52 Em 1974, Bengali (então já separada da Índia com o nome de Bangladesh) passou de novo por uma fome na qual várias centenas de milhares morreram, uma fome que, segundo observadores, teve causas políticas e poderia ter sido evitada.53 

Em 1965 Bhatia escreveu sobre a Índia em seus atuais contornos: “Ao longo das últimas duas décadas fomos bem sucedidos em evitar mortes provocadas pela fome em todo o país.”54 Isto foi possível através de grandes importações de cereais e da ajuda internacional.

Desde 1966, os líderes indianos lutaram arduamente para libertar seu país da dependência da caridade internacional, e a situação melhorou gradualmente. Castro escreveu em 1973:

Graças a medidas técnicas e organizacionais, a situação nutricional da Índia, que até 1966 estava entre as piores do mundo, começou a mostrar sinais de que tinha alcançado um ponto decisivo. Durante os últimos dois anos a produção agrícola aumentou a uma taxa de 8 por cento, o que é um verdadeiro milagre.55 

Que dizer da situação hoje? A Índia ainda é um país muito pobre; apesar disso o desenvolvimento econômico tem continuado. Em 1985, a revista Time podia relatar:

Os avanços mais importantes deram-se na produção alimentar. Há quinze anos, a Índia dependia muito dos cereais importados para alimentar seus milhões de famintos e a seca era frequentemente um caso de vida ou de morte. Agora o país é auto-suficiente em alimentos. Desde 1971, a produção de cereais aumentou 40%, amplamente em resultado da ‘revolução verde’, o programa científico que usa sementes de elevado rendimento e irrigação intensiva, que começou em meados da década de 1960.56 

Portanto, assim como na China, o quadro da fome na Índia revela um desenvolvimento notável. Tendo sido flagelada por fomes recorrentes durante a maior parte de sua história, esta grande e populosa península deu grandes passos em direção a libertar-se da fome severa ao longo do século 20. Estão sendo feitos grandes esforços para controlar a expansão da população e para eliminar o eterno problema da pobreza na Índia.

Resumindo, é certo que a má nutrição ainda existe na Índia. Isto não é novidade nem é incomum em sua história. O que é novo e incomum é o fato de, em vez de estar piorando, a situação estar definitivamente melhorando em nossa época.

Até este ponto, nossa pesquisa demonstrou que os dois países mais populosos e flagelados pela fome em todo o mundo, a China e a Índia, ambos revelam uma considerável diminuição no tamanho e número de fomes desde 1914, e isto é exatamente o contrário da tendência que deveríamos encontrar se as afirmações peculiares de várias fontes religiosas estivessem corretas! Em ambos os países o século 19 foi muito pior do que o século 20 no que se refere às fomes. Voltemos agora nossa atenção para outro grande centro populacional da terra atualmente – o terceiro em ordem de grandeza: a Europa. 

A história da fome na Europa

Atualmente a Europa tem uma fronteira a leste que chega à Rússia e abrange uma área superior à península indiana, mas tem apenas cerca de dois terços do número de habitantes da Índia: 650 milhões. Por mais de um século, as fomes têm sido praticamente inexistentes no continente europeu. As pessoas de hoje estão geralmente bem alimentadas, com frequência até superalimentadas, e mesmo a má nutrição é um problema muito pequeno na maior parte dos países da Europa, em comparação com outras partes do mundo. A maioria das pessoas felizmente desconhece a pavorosa história passada do continente no que se refere às fomes. Talvez estas pessoas se considerassem ainda mais felizardas se soubessem alguma coisa sobre essa história.

Em nítido contraste com as condições atuais, desde os tempos mais remotos a fome atingiu constantemente o continente europeu, muitas vezes matando multidões e devastando parcial ou totalmente amplas áreas. Parece que se atingiu um auge durante a Idade Média. Durante os 600 anos do século 10 ao 16, “cerca de 400 grandes fomes assolaram os países do Continente e das Ilhas Britânicas.”57 Muitas destas foram tão temíveis e tiveram efeitos tão desmoralizadores, que mesmo nestes países cristianizados o povo recorreu ao canibalismo. Ao longo destes séculos, diz Bhatia, “a Grã-Bretanha e os países da Europa Ocidental… foram ameaçados por fomes mais frequentemente do que qualquer outra parte do globo.”58 

A situação melhorou um pouco do século 17 em diante, mas fomes locais ou mais extensas continuaram a causar destruições tremendas de tempos a tempos até bem dentro do século 19.59 

A impressão de que durante estes séculos a Europa foi mantida numa situação de fome quase permanente é fortalecida se olharmos mais de perto para a situação das coisas em cada um dos países. O historiador Fernand Braudel escreve:

Qualquer cálculo por país revela uma triste história. A França, um país privilegiado seja qual for o padrão considerado, passou por 10 fomes gerais durante o século 10; 26 fomes no século 11; 2 fomes no século 12; 4 fomes no século 14; 7 fomes no século 15; 13 fomes no século 16; 11 fomes no século 17 e 16 fomes no século 18. Embora não possamos garantir a exatidão deste cálculo feito no século 18, o único risco que se corre é de este cálculo ser otimista, porque omite as centenas e centenas de fomes locais… O mesmo se poderia dizer de qualquer outro país da Europa.60 

As fontes antigas geralmente não mencionam o número de mortos, os autores se limitam a fazer comentários gerais, tais como “grande mortandade”, “morreram multidões infindáveis”, “aldeias inteiras ficaram vazias”, “o chão cobriu-se de cadáveres”, e assim por diante. Em vários casos diz-se que morreu “um terço da população” do país.61 Para transmitir ao leitor uma ideia da miséria quase indescritível que prevaleceu na Europa durante estas catástrofes alimentares, a lista seguinte apresenta alguns exemplos das centenas de fomes devastadoras que atingiram o continente durante os séculos passados.62 A lista é acompanhada de comentários retirados de fontes antigas:

D.C. Comentários
192Irlanda: Escassez geral, “de tal maneira que terras e casas, territórios e tribos, ficaram vazios.”
310Inglaterra: 40.000 morreram.
450Itália: “Pais comeram seus filhos.”
695-700Inglaterra, Irlanda: Fomes e pestilências, “de tal maneira que os homens comeram-se uns aos outros.”
836Gales: “O chão ficou coberto de cadáveres de homens e animais.”
879Prevaleceu uma fome universal.
936Escócia: Depois da passagem de um cometa, fome durante quatro anos, “até que as pessoas começaram a se devorar umas às outras.”
963-964Irlanda: Uma fome intolerável, “a ponto de pais terem vendido os seus filhos em troca de comida.”
1004-1005Inglaterra: “Prevaleceu uma fome como não havia lembrança de outra igual.” “Este foi o ano da maior fome na Inglaterra.”63 
1012Inglaterra, Alemanha: Multidões sem fim morreram de fome.
1016Europa: Fome aflitiva por toda a Europa.
1069Inglaterra: Ampla fome, “de tal maneira que o homem, assolado pela fome, comeu carne humana, de cão e de cavalo.”
1073Inglaterra: Fome, seguida de mortandade tão severa que os vivos não conseguiam tomar conta dos doentes, nem enterrar os mortos.
1116Irlanda: Grande fome, “durante a qual as pessoas até se comeram umas às outras.”
1239Inglaterra: Grande fome, “pessoas comeram seus filhos.”
1316Europa: Morte universal, e seguiu-se uma mortandade tal, especialmente entre os pobres, que os vivos quase não conseguiam enterrar os mortos.
1347Itália: Uma fome assustadora varreu um vasto número de habitantes. Seguiu-se a pestilência.
1437França e outros países: Uma grande fome varreu a França e muitos outros países, durando dois anos. “Multidões nas grandes cidades morrendo em pilhas em montes de estrume.”
1586-1589Irlanda: Grande período de fome, “quando se comeram uns aos outros devido à fome.”
1693França e países vizinhos: “Uma fome apocalíptica do tipo medieval que matou milhões de pessoas na França e nos países vizinhos.”
1696-1697Finlândia: Uma das fomes mais assustadoras na história da Europa. De um quarto a um terço da população do país morreu.
1709França: Cerca de um milhão morreu de fome.
1846Irlanda: Toda a colheita de batatas apodreceu. Um milhão de pessoas morreu de fome e mais de um milhão fugiu do país para escapar do mesmo destino. Esta foi a última grande fome na Europa.

Depois de lermos estas descrições, temos de nos considerar felizardos por estarmos vivendo no século 21. Onde é que, em qualquer parte da Europa na atualidade, lemos sobre milhões – ou milhares, ou mesmo centenas – de pessoas morrendo por causa da fome? Onde é que atualmente, mesmo em áreas atingidas pela fome, lemos sobre pessoas “comendo-se umas às outras”, “comendo seus filhos”, ou “vendendo seus filhos em troca de comida”? É verdade que algumas partes da terra ainda são assoladas por fomes severas, mas as condições evidentemente melhoraram. Os progressos feitos em métodos de armazenagem e nas comunicações contribuíram muito para esta melhoria, e a ajuda internacional através das Nações Unidas, Cruz Vermelha, e muitas outras organizações caritativas pode chegar rapidamente – desde que haja dinheiro suficiente – a áreas carentes, numa escala que era completamente inimaginável há apenas cem anos.

Conforme Bhatia indica, a fome “foi quase banida da Europa depois de 1850.”64 A última grande fome nessa parte do mundo foi a calamidade irlandesa de 1846-47.65

É verdade que situações de fome ameaçaram partes da Europa durante e depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente na Polônia e na Holanda, onde dezenas de milhares enfrentaram a fome, e muitos morreram mesmo de fome ou de subnutrição.66 Contudo, medidas de auxílio iniciadas pelos EUA mudaram rapidamente a situação. Auxiliada pelo Plano Marshall americano em 1947, “a economia européia se recuperou rapidamente e as marcas da fome diminuíram rapidamente em toda a área. Logo, a Europa tinha alcançado novamente seu nível alimentar anterior à guerra.”67 Desde aquela época o continente tem experimentado um firme aumento de prosperidade durante uma geração.

A ÚLTIMA GRANDE FOME NA EUROPA:

IRLANDA, 1846-47

A fome irlandesa de 1846-47 reduziu os camponeses à fome e forçou-os a mendigar junto aos asilos de pobres. Mais de um milhão morreu de fome e muitos mais emigraram para o exterior. Esta, que foi a última grande fome na Europa, ocorreu uns 180 anos. (Ilustração da Enciclopédia de Coolier, edição de 1974 em inglês, Vol. 9, pág. 553.)

A GRANDE FOME IRLANDESA NO SÉCULO 19

CONFORME REPRESENTADA EM PUBLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Nosso exame das fomes nos três maiores centros populacionais da terra, que têm uma população total de mais de metade da humanidade, mostra assim um desenvolvimento notável: tendo sido as áreas da terra mais flageladas pela fome, o século 20 viu estes centros libertarem-se gradualmente da praga da fome!

A diminuição fenomenal das fomes nestes países é mais do que suficiente para mostrar que qualquer alegado aumento das fomes no século 20, ou particularmente desde 1914, simplesmente não tem fundamentação nos fatos. Mas para resolver a questão por completo, será também apresentado um breve resumo sobre a situação alimentar passada e presente no resto do mundo. Será que a Rússia, o Japão, a África, a América e outras áreas têm contribuído para o alegado “sinal da fome”? 

As fomes em outras partes do mundo

Até este ponto, nossa busca de um suposto aumento das fomes no século 20 não revelou qualquer aumento, apesar do fato de ter sido considerada cerca de metade da humanidade. Em vez de aumentos da fome, o que encontramos foram tremendas diminuições. Voltando agora nossa atenção para a outra metade da humanidade, seremos confrontados com a mesma tendência concreta numa área após outra: diminuições em vez de aumentos. Muitas áreas vastas e populosas estão hoje completamente libertas das fomes. Estas áreas incluem a América do Norte, a União Soviética, o Japão, a Indonésia, as Filipinas, e a maioria dos países do Sudoeste Asiático a oeste do Afeganistão.

Estas áreas, que têm hoje uma população total de cerca de um bilhão e duzentos milhões de pessoas, foram assoladas por numerosas fomes nos séculos passados.

Na Rússia, por exemplo, a fome sempre desempenhou um papel decisivo. “A Rússia Imperial … sofreu fomes praticamente todos os anos.”68 É verdade que o país foi atingido por algumas grandes fomes nas duas décadas que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, uma em 1921 na qual morreram entre 1 e 3 milhões de pessoas, outra em 1932-33, que matou cinco milhões.69 Contudo, estas foram apenas as últimas numa longa série de outras grandes fomes. “A Rússia foi flagelada por grandes fomes onze vezes entre 1845 e 1922.”70 Entre as fomes mais severas na história do país estiveram as três que ocorreram em 1891, 1906 e 1911, todas antes de 1914.71 Desde a década de 1940, avanços na agricultura melhoraram constantemente a situação alimentar, e a fome deixou de ameaçar o país.

Quanto à América do Norte, com exceção de certas comunidades de índios americanos, como a de Pueblo Indians, parece que grandes fomes têm sido inexistentes nesta vasta área desde os dias de Colombo!72 Nos EUA, mesmo os problemas de má nutrição estão grandemente limitados a algumas áreas muito pequenas, principalmente no sul. A comida é notavelmente abundante em todo o continente.

O Japão é outro país que foi atingido por fomes periódicas no passado. A vitória sobre a fome começou com a abolição do feudalismo na década de 1860, seguida de reformas agrárias e da introdução de métodos científicos na agricultura. Muito antes da Segunda Guerra Mundial, estes avanços tinham “posto fim a fomes que dizimavam periodicamente a população e deixavam os sobreviventes com sinais de degeneração física por toda a vida”.73 Não só a fome desapareceu como também a melhoria do padrão de vida e da dieta, especialmente desde a década de 1950, libertou o Japão da má nutrição e da subnutrição.74 

O Sudoeste Asiático é ainda outra área com um passado marcado pela fome. “No fim da década de 1860 e início da década de 1870 ocorreu uma fome epidêmica em toda a faixa de países desde a Índia, no leste, até a Espanha, no ocidente.”75 A Pérsia “perdeu entre 1,5 e 2 milhões na grande fome de 1871-3.”76 A má nutrição e a subnutrição ainda prevalecem em muitos países da região mas, com exceção de uma grave fome no Afeganistão na década de 1970, acabaram-se as grandes fomes que no passado afligiam esta vasta área.77 

Isto não quer dizer que as fomes severas pertencem inteiramente ao passado. Por vezes desenvolvem-se condições de fome aguda em certas partes da terra, especialmente na África e na América do Sul, que são as regiões onde a má nutrição e a subnutrição estão mais difundidas. Das duas áreas, a África é a mais afetada. No início da década de 1980, três ou quatro anos de secas em vastas áreas atingiram o continente, afetando milhões de pessoas em 24 países, sendo evidentemente a Etiópia o país que sofreu de maneira mais dramática. Dos cerca de 40 milhões de pessoas no país, a seca afetou entre 6 e 7 milhões, e os peritos estimam que no fim de 1985 cerca de um milhão de pessoas tinha morrido de fome. Milhares de outros morreram no Sudão, em Moçambique e em outros países. Contudo, os esforços internacionais dos órgãos da ONU (UNDP e UNICEF), da Cruz Vermelha e de muitas outras organizações de caridade foram bem sucedidos em evitar uma catástrofe muito maior. Assim, estima-se que a ajuda alimentar à Etiópia em 1985 tenha salvado cerca de cinco milhões de pessoas da morte pela fome. Para a maioria dos países da África, a crise já acabou, mas ainda é necessária muita ajuda nos anos à frente para evitar uma catástrofe recorrente.

As fomes hoje normalmente geram muita publicidade. Na realidade boa parte disto se deve ao fato de a fome ter se tornado cada vez mais rara entre a humanidade. Hoje o interesse público é despertado para as necessidades que existem em partes distantes do mundo e muitos são motivados a contribuir para organizações de caridade e a tomar parte em atividades que se destinam a aliviar o sofrimento. No passado, os jornais não podiam igualar o impacto visual dos relatos da televisão e da internet sobre as condições em áreas remotas; os meios de comunicação inadequados impediam nitidamente uma grande ajuda. A publicidade que foi dada às fomes da década de 1980 na África tornou-as “oficiais”, conhecidas do público em geral, em contraste com as fomes de épocas anteriores. A conseqüência disso é que alguns acreditam que essas fomes foram as piores na África em todos os tempos.

Por exemplo, uma série de secas atingiu a África no início da década de 1970, assolando a Etiópia e os países em torno do Deserto do Saara; a fome que daí resultou causou aproximadamente 100.000 mortes.78 A revista Despertai! de 22 de janeiro de 1975 chamou-a de “o maior desastre ‘natural’ na história da África.” (Página 6) Essas declarações, que muitas vezes aparecem em diferentes artigos de jornais durante catástrofes de vários tipos, revelam mais sobre a ignorância dos autores desses artigos – e dos que os citam – do que sobre a história do país.

Muitas fomes que devastaram a África no passado foram muito maiores do que aquelas que assolaram esse continente no século 20.

Devido à proeminência da fome na Etiópia em meados da década de 1980, talvez seja instrutivo examinar mais de perto algumas fomes que ocorreram no passado naquele país.

Em fevereiro de 1984, representantes de muitos países africanos reuniram-se em Adis-Abeba, Etiópia, para discutir a situação climática e a seca naquele continente. Na conferência, a delegação etíope distribuiu um documento sobre estes assuntos, que incluía uma tabela de ocorrências de fomes em seu país, abrangendo o período de 253 A.C a 1982 D.C.79 Embora o documento indique que falta muita informação para os séculos anteriores a 1800 D.C., a tabela apresenta uma imagem atemorizante do passado da Etiópia.

Muitas das fomes enumeradas afetaram não só a Etiópia, mas também “o Sudão, o Egito e [evidentemente] também o resto da África e da região saeliana.” (Página 14) Muitas destas fomes sem dúvida custaram milhões de vidas, mas “relatos sobre mortandade humana são praticamente inexistentes no caso das secas do período anterior à primeira metade do século atual.” (Página 25) Para o século 19, a tabela revela 9 grandes fomes, cinco das quais afetaram toda a Etiópia. Sobre uma destas, a fome de 1888-92, a tabela declara: “Aproximadamente 1/3 da população morreu.” (Página 16) Em contraste, a fome na Etiópia da década de 1980 afetou cerca de 15 por cento das pessoas e cerca de 2,5 por cento da população morreu – isto é muito menos do que os 33 por cento de vítimas da fome do século 19. É claro que se deve lembrar que a população atual é consideravelmente maior do que no passado. A seriedade da situação da década de 1980, conforme o documento etíope mostrou, deve-se ao fato de os intervalos entre as secas recorrentes tenderem a ser cada vez menores, e ao fato de a erosão do solo causada pelo mau tratamento humano (desflorestamento e pastos excessivos) agravar ainda mais a situação.

Portanto, a fome é admitidamente um problema atual e grave na África. Isto é uma verdade. O que não é verdade é a afirmação de que ela é uma singularidade da nossa época. A África tem sofrido devido a fomes “desde a antiguidade remota.”80 Mais bem conhecidas são as fomes no Egito. Uma série de fomes severas assolou o Egito do século 10 ao século 12, quando os muçulmanos governavam o país. A fome de 968 D.C. “varreu 600.000 pessoas na vizinhança de Fustat.”81 Outra fome mais generalizada e mais desastrosa ocorreu em 1025. Uma fome ainda mais terrível começou em 1064 e durou sete anos. O povo desesperado por fim recorreu ao canibalismo e carne humana foi vendida no mercado aberto. O mesmo sofrimento e degradação foram provocados pela fome pavorosa dos anos 1201 e 1202, quando “as próprias sepulturas do Egito foram rebuscadas para se encontrar alimento.”82 Fomes severas também atingiram outros países da África. Nas fomes que ocorreram entre 1861 e 1872, a população muçulmana da Argélia “diminuiu em mais de 20 por cento.” Marrocos perdeu três milhões de pessoas – quase um terço de sua população – na fome de 1878-79. Muitas outras fomes assolaram a Argélia, Tunísia, Marrocos e países do norte da África ao longo dos séculos, conforme mostrado por estudos feitos pelo Dr. Charles Bois.83 

No século 20 as condições alimentares melhoraram nos países do extremo norte da África e na África do Sul. Estes países não estão sendo assolados pela fome, embora o problema nutricional ainda seja grave em algumas regiões.84

Analogamente, na América Latina, uma alta porcentagem da população sofre de subnutrição e de má nutrição, e vários países têm alta taxa de mortalidade infantil. No entanto, mais uma vez, esta situação não é algo novo nessa parte do mundo. “Vem do passado”, diz Castro, “do tempo da descoberta mais primitiva destas terras.” E, tratando da América Central, ele explica: “A dieta de toda a América Central, com várias deficiências, e a resultante fome crônica são de certa forma uma herança da cultura indígena pré-colombiana, embora a situação tenha se agravado desde então em muitos aspectos pelos pouco previdentes métodos de exploração colonial,” que começou no século 16.85 

A fome e a escassez de alimentos têm assolado a América Latina “ao longo de toda a história” e as condições de fome ainda se desenvolvem em várias regiões.86 Portanto, basicamente nada parece ter mudado nestes aspectos no nosso tempo.

Nossa análise das fomes no mundo, passadas e presentes, termina aqui. A evidência revelada durante nossa pesquisa só permite tirar uma conclusão, a saber, que em nível mundial as fomes têm diminuído, e têm diminuído bem acentuadamente, no último século, incluindo o período desde 1914.

Esta evolução não nos deveria surpreender. As fomes no passado eram principalmente uma consequência dos métodos agrícolas primitivos (que frequentemente provocavam perda de colheitas devido a serem afetados mais facilmente por mudanças de tempo) e uma consequência dos meios de comunicação primitivos, que muitas vezes tornavam inatingível a ajuda de áreas adjacentes. A Revolução Industrial trouxe melhores implementos agrícolas, variedades de sementes mais resistentes, e melhores comunicações, e a situação alimentar começou a mudar:

Por volta de 1800 D.C. começou na Europa Ocidental e na América do Norte um desenvolvimento que quase aboliu as fomes e as epidemias e também baixou o nível normal de mortalidade, de tal modo que a duração média da vida aumentou de 30 anos naquela época para 75 anos atualmente.87 

Todavia, a má nutrição crônica ainda continua a ser o maior problema relacionado com a fome, conforme indica o grande demógrafo (perito em assuntos de população) europeu Alfred Sauvy:

Ao passo que a fome aguda e desastrosa quase desapareceu, a má nutrição crônica ainda é um problema em muitas partes do mundo.88 

Somos assim confrontados com a questão de saber se a má nutrição e a subnutrição estão de fato mais difundidas hoje do que no passado. 

A má nutrição e a mortalidade infantil no passado e hoje

Conforme já se mostrou, aproximadamente um por cento da humanidade está passando fome hoje, o que é provavelmente a proporção mais baixa de toda a história conhecida. Porém, um número muito maior de pessoas, que talvez chegue aos 25 por cento, estão mal nutridos ou subnutridos ou ambos.89 

Cerca de metade destes são crianças. A maior parte dos que morrem de má nutrição ou doenças indiretamente causadas pela má nutrição ou subnutrição são crianças com menos de seis anos de idade.

Ao tratar da cavalgada do cavalo preto de Revelação, que simboliza a fome, o Dr. Graham chama a atenção para a condição das crianças, dizendo que “o tropel de aviso são os gritos de crianças morrendo de fome e de doença”, e cita um relatório da Comissão Central Menonita que estima que “doze milhões de crianças morrem dos efeitos da má nutrição a cada ano nos países em vias de desenvolvimento.” (O Tropel Que se Aproxima, páginas 153 e 154 em inglês) É certo que esta situação é impressionante, profundamente perturbadora. Não há dúvida sobre isso. Contudo, a pergunta que se deve fazer é: será que esta situação é uma singularidade do nosso tempo?

A liderança das Testemunhas de Jeová tenta claramente apoiar o seu “sinal da fome” recorrendo aos dados sobre a mortalidade infantil, usando-os para contrariar a evidência de que a fome era ainda maior no passado:

Certo informe do Fundo das Nações Unidas Para a Infância calcula que 17 milhões das crianças do mundo morreram de fome e de doença em 1981. Isso constitui mais do que as mortes calculadas durante a terrível fome na China, nos anos 1878 e 1879.90

Mas, comparar a mortalidade infantil em todo o mundo em 1981 com a grande fome na China em 1878-79 – se o objetivo da comparação for distinguir o nosso tempo como sendo o mais afetado pela fome – é, na melhor das hipóteses, um sinal de ignorância, e na pior das hipóteses é sinal de desonestidade. Por quê? Porque, embora certamente não estivesse identificada de modo tão claro como hoje, a má nutrição, com a resultante mortalidade infantil, definitivamente coexistiu lado a lado com a fome no passado.91 E, assim como a fome, a má nutrição evidentemente não era um problema menor em séculos passados. A evidência diz que era maior.

Isto é indicado pelo fato inegável de que a mortalidade em todas as faixas etárias, e especialmente a mortalidade infantil, diminuiu continuamente durante todo o século vinte em quase todos os países!92

O professor Erland Hofsten, demógrafo sueco, estima que a mortalidade infantil antes do século 20 chegava aos 40-50 por cento em muitos países, sendo possivelmente ainda maior em algumas áreas!93 

Na Suécia, onde têm sido mantidas estatísticas ininterruptas sobre a mortalidade infantil desde 1749, a taxa de mortalidade infantil era 20-25 por cento entre 1749 e 1814, mas depois começou a decrescer. Em 1985 tinha sido reduzida para 0,7 por cento!94 Ocorreu um desenvolvimento similar em outros países, especialmente na Europa e na América do Norte.

O progresso tem sido mais lento nos países em vias de desenvolvimento, mas neles também tem ocorrido uma melhoria visível, especialmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial:

A mortalidade diminuiu acentuadamente depois da guerra em praticamente todos os lugares nos países pobres… a mortalidade diminuiu em todas as faixas etárias. A diminuição da mortalidade infantil foi particularmente significativa.95 

É verdade que ainda morre um grande número de crianças devido à má nutrição em muitas regiões pobres da terra. Mas a mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento diminuiu durante o século 20, de 40-50 por  cento  para  apenas  9 por  cento  em média em 1983, embora em alguns (poucos) países ainda continue por volta dos 20 por cento.96

Em 1900, todas as nações da terra tinham uma taxa de mortalidade infantil superior a 50 em cada 1.000 nascidos vivos.

Em 1983, 84 nações tinham reduzido sua taxa de mortalidade infantil para menos de 50 em cada 1.000 nascidos vivos. As autoridades no assunto consideram que a taxa de mortalidade infantil é o melhor indicador do bem-estar social e econômico geral. Quando a taxa atinge os 5 por cento (50 mortes por 1.000 nascidos vivos) ou menos, isto indica que esse país “está satisfazendo as necessidades humanas básicas, incluindo alimento, abrigo, roupa, água apropriada para consumo e condições sanitárias.” O fato de em 1900 todas as nações terem um taxa de mortalidade infantil superior a 5 por cento é um forte indicador da falta de nutrição apropriada que prevalecia então. O fato de 84 nações, em 1983, terem conseguido reduzir esta taxa para menos de 5 por cento é um indicador igualmente forte de que dentro de suas fronteiras a fome deixou de ser um problema básico e prevalecente na sociedade. (A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome, Roy L. Prosterman, 1984, págs. 1 e 4 em inglês; O Fim da Fome: Uma Idéia Cujo Tempo Chegou, publicado em inglês pelo Projeto Fome em 1985, pág. 384 em inglês; 1985 World Population Data Sheet, publicado em 1985 pelo Departamento de Referência da População, Inc., Washington, D.C., EUA)

Medicamentos modernos, uma melhor dieta e melhor higiene evitaram mortes e mais que duplicaram a duração da vida em todo o mundo ocidental, e um desenvolvimento similar está agora em progresso também nos países em vias de desenvolvimento, embora seja mais lento.97 

Consequentemente, aqueles que usam dados sobre a mortalidade infantil numa tentativa de “provar” que nossa geração está presenciando mais fome e má nutrição do que séculos anteriores, só podem fazê-lo ignorando toda a evidência que aponta em sentido contrário. Ninguém pode dizer com certeza quantos milhões de crianças morreram anualmente em séculos passados devido a má nutrição e doenças relacionadas com a fome, pois nunca se fizeram estimativas globais da taxa de mortes anuais. Mas, tendo em vista que em muitos dos países em vias de desenvolvimento do mundo ocidental ocorreu uma redução da taxa de mortalidade para valores que são um quarto ou até um quinto do que eram antes, é fácil perceber que em séculos passados muitos milhões de crianças morreram a cada ano de fome e de doenças relacionadas com a fome – apesar do fato de a população do mundo ser muito menor naquela época!

É incontestável que esta diminuição excepcional da mortalidade de bebês e crianças tem salvado centenas de milhões de vidas nos países em vias de desenvolvimento. O Professor D. Gale Johnson declara:

Aqueles dentre nós que reclamam das elevadas taxas de crescimento populacional nos países em vias de desenvolvimento não deveriam esquecer que os aumentos destas taxas se devem inteiramente a reduções na taxa de mortalidade e de modo algum a um aumento nas taxas de natalidade. Tem havido uma enorme redução do sofrimento humano, que tem passado amplamente despercebida – a dor e a angústia de centenas de milhões de pais têm sido evitadas pela redução das taxas de mortalidade de bebês e crianças.98 

Num mundo em que 99 por cento da humanidade não passa fome e 75 por cento nem sequer está mal nutrida, muitas vezes as pessoas não se apercebem de que esta situação é algo novo e único na história humana, e que no passado a pobreza e as carências eram tão universais que muitas pessoas as encaravam como fatalidades, condições que eram inevitáveis, e por isso raramente se questionavam sobre elas ou sequer falavam a respeito disso. O livro A Fome e a História (em inglês) declara:

As festas podiam muito bem ser ocasiões que deixavam recordações felizes, mas se falava tão pouco sobre as carências do dia a dia, que um mundo que encara a fome como um mal do qual nenhuma pessoa em países civilizados deveria sofrer, acha um tanto difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas… É difícil para pessoas que vivem sob condições modernas perceber, ainda que inadequadamente, como era a vida quando a população lutava pelos suprimentos de alimentos durante aquelas épocas em que as carências eram universais.99

Será que uma catástrofe futura de fome é inevitável?

Quando confrontados com a evidência sólida de que a fome e a escassez eram inquestionavelmente maiores antes do século 20, os que escrevem matéria que tem como objetivo criar um sensação de catástrofe iminente muitas vezes recorrem à discussão, não do que aconteceu nem do que está acontecendo no momento, e sim do que poderia acontecer no futuro.

Não é difícil encontrar declarações de pessoas proeminentes apontando para alguma tragédia futura como sendo provável. O livro O Extinto Grande Planeta Terra (páginas 101 e 102 em inglês), cita J. Bruce Giffing, Presidente do Departamento de Genética na Universidade Estadual de Ohio, como tendo dito em 1969 que “A menos que a humanidade aja imediatamente, haverá uma fome mundial em 1985, e a extinção do homem dentro de 75 anos.” Evidentemente, a humanidade ‘agiu’ a tempo, pois em 1985 não aconteceu nada que se parecesse com uma fome mundial, nem sequer remotamente.

Similarmente, a Sentinela de 15 de outubro de 1983 aponta para a população do mundo hoje, que está crescendo rapidamente e “que sobrecarrega a capacidade do mundo, a longo prazo, de alimentar a si mesmo”, e cita o perito E. R. Duncan, o qual diz que “esta situação é ímpar na história humana.” Todavia, será que Duncan conclui que a população inevitavelmente crescerá mais rápido do que a produção de alimentos nas próximas décadas? Não. Embora reconheça a possibilidade, ele não encontra razões para crer que isso necessariamente ocorrerá. “De fato, isto pode eventualmente ocorrer, mas a história recente mostra que embora a situação seja precária, não é desastrosa, com exceção de uns poucos casos.”100 Em longo prazo, ele crê que a população “será estabilizada num nível controlável.”101

Muitas outras autoridades concordam, apontando para o fato de os rápidos aumentos populacionais que começaram na década de 1940 terem atingido o auge na década de 1960, com uma taxa de crescimento anual de cerca de 2,0 por cento. Atualmente [na época em que se escreveu este livro] a taxa de crescimento global é de 1,7 por cento, e estão sendo feitos esforços enérgicos em muitos países para limitar ainda mais o crescimento.102 Se estes esforços forem bem sucedidos, a “bomba populacional” poderá ser desativada antes de explodir numa catástrofe mundial.

Igualmente importante é o fato de a produção alimentar até agora ter acompanhado o aumento populacional. “Em nível mundial, o período entre 1950 e 1971 presenciou uma duplicação da produção de cereais, enquanto a população só aumentou metade dessa quantidade,” observa Duncan.103 E segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), ainda não existe falta de alimento no mundo. Pelo contrário, no mundo como um todo tem havido um crescente excedente de alimento em anos recentes.104 O Relatório Anual do UNICEF de 1983 declara que “a produção alimentar excedeu o crescimento populacional em 1982, e, com exceção da África ao sul do Saara, foram registradas colheitas maiores em todas as regiões desenvolvidas.” (Página 6 em inglês) Se é assim, por que ainda vemos dezenas de milhões de pessoas morrendo de fome hoje, e centenas de milhões, possivelmente mais de um bilhão de pessoas, mal nutridas ou subnutridas?

Conforme explicou Edouard Saouma, diretor da FAO, na Conferência Mundial Sobre Alimentos, realizada em Roma em outubro de 1983, estas centenas de milhões de pessoas estão mal nutridas ou passando fome simplesmente porque são pobres. Não podem comprar o alimento que de fato existe. E, o que é ainda pior: esta pobreza nos países subdesenvolvidos é perpetuada por fortes interesses econômicos e políticos dos países desenvolvidos, que não estão dispostos a partilhar sua abundância.105

Portanto, nem o aumento populacional nem a produção alimentar são os verdadeiros problemas. É um fato bem conhecido que os recursos da terra poderiam muito bem alimentar uma população mundial muitas vezes maior do que aquela que vive atualmente na terra. E tem mais: Pela primeira vez na História, a humanidade tem à sua disposição os meios que lhe permitem explorar estes recursos até esse ponto. Conforme Castro observa:

Se o conhecimento que o homem possui agora fosse aplicado de maneira inteligente, forneceria à humanidade alimento suficiente e da qualidade necessária para assegurar seu equilíbrio nutricional durante muitos anos à frente, mesmo que a população duplicasse, ou aumentasse dez vezes.106

O que destacadas autoridades dizem sobre a fome hoje, em comparação com o passado

“Pela primeira vez, é possível haver uma sociedade na qual a pobreza pode ser abolida e, com ela, também a miséria e a fome. A erradicação da fome já não é um desígnio utópico; é um objetivo perfeitamente alcançável.” – Josué de Castro em A Geopolítica da Fome (Nova Iorque, 1977), págs. 447, 448 em inglês. 

Em todas as épocas e em todas as terras as pessoas passaram fome,… no entanto, a realidade parece ser que o homem, em média, está constantemente alcançando uma melhor dieta… certamente as pessoas hoje estão, em média, de algum modo melhor alimentadas do que estavam há 100 anos.” – A Biologia da Fome Humana por A. Keys, J. Bozek, A. Henschel, O. Michelsen e H. Longstreet Taylor (St. Paul, 1950), págs. 3, 12 em inglês. 

“um mundo que encara a fome como um mal… acha um tanto difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas… É difícil para pessoas vivendo sob condições modernas perceber, mesmo que seja inadequadamente, como era a vida… durante essas longas eras em que as carências eram universais.” – E. Parmalee Prentice, A Fome e a História. A Influência da Fome na História Humana (Caldwell, Idaho, 1951), págs. 10 e 137 em inglês. 

“Ao longo dos séculos a fome tem sido um fenômeno freqüente e costumava ser encarado como uma calamidade mais ou menos normal… Mas existem muitas indicações de como a incidência [em épocas passadas] foi consideravelmente maior do que é hoje em praticamente todas as regiões habitadas do mundo.” – Bruce F. Johnston em seu artigo sobre “Fome”, na Enciclopédia de Coolier, Diretor Editorial William D. Halsey, Vol. 9 em inglês (Nova Iorque, EUA, 1979), págs. 552, 553 em inglês. 

“Poderíamos estar inclinados a deduzir a partir da evidência visual da fome que temos visto recentemente na televisão, nos jornais, e em revistas, que o mundo é mais propenso a fomes agora do que antes. Mas a evidência aponta claramente em sentido contrário… Tem havido uma redução substancial na incidência da fome durante o último século.” – Professor D. Gale Johnson, perito em alimentação, Os Problemas e as Perspectivas da Alimentação no Mundo (Washington, D.C., 1975), pág. 17 em inglês. 

“O consumo de alimentos por pessoa tem aumentado nos últimos 30 anos… As mortes provocadas pela fome diminuíram no último século, mesmo em termos absolutos, e diminuíram mais ainda em termos relativos. Os preços dos alimentos no mundo têm decrescido já por décadas e séculos… e existe forte razão para crer que esta tendência continuará.” – Julian L. Simon e Herman Kahn em A Terra Repleta de Recursos (Londres, Inglaterra, 1984), pág. 16 em inglês. 

É claro que não podemos prever se a humanidade fará ou não uso destas possibilidades para pôr fim à fome e à má nutrição. Tudo pode acontecer nas próximas décadas e não estamos fazendo qualquer tentativa de especular ou profetizar. Basicamente, o problema envolve o amor ao próximo. Como é que nós, como cristãos, reagimos ao ouvir e ler sobre os milhões de pessoas pobres e esfomeadas que existem? Se nosso interesse por elas se limitar à questão: Será que são suficientemente numerosas para constituir um dos aspectos de um suposto “sinal composto” do fim? – não indicaria isso que há algo de fundamentalmente errado com nosso “cristianismo”? Se nosso interesse nessas pessoas esfomeadas não for além disso, não estaríamos correndo o risco de ser colocados entre aqueles a quem nosso Senhor Jesus Cristo dirá no “dia de julgamento”: “Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer…”? – Mateus capítulo vinte e cinco, versículo 42, NVI.

NOTAS

1 – Conforme se mostrou em A Sentinela de 15 de outubro de 1983, página 7, esta afirmação foi citada com base no Vancouver Sun, que por sua vez alega que essa é uma estimativa do FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Veja também o livro da Torre de Vigia, Raciocínios à Base das Escrituras (1985), página 420, onde se repete a mesma alegação. Contudo, a FAO nunca afirmou que um bilhão de pessoas estava morrendo de fome, o que pode ser a impressão com que o leitor comum ficaria depois de ler esta notícia formulada de forma descuidada.

2 – A população mundial em 1990 era de 5,3 bilhões de pessoas. O número fornecido pelo Banco Mundial, 1,13 bilhão, refere-se realmente ao número de pessoas subnutridas, e não ao número de pessoas afligidas pela fome, como alega a revista Despertai! Por acrescentar a este número “quase outro bilhão de pessoas que sofrem de desnutrição” eles conseguiram quase dobrar o número fornecido pelo Banco Mundial!

Uma afirmação errônea similar, feita por um Sr. J. Hamish Richards é citada sem qualquer contestação na página 6 da revista A Sentinela de 1º de outubro de 1988, segundo a qual ‘havia cerca de 2.250.000.000 pessoas malnutridas em 1983’. Isso seria quase a metade da população mundial em 1983! A declaração encontra-se na página 41 (em inglês) de um documento intitulado O Desafio do Internacionalismo — Quarenta Anos de Nações Unidas (1945-1985), editado por W. R. Davies e G. J. Jones e publicado pelo Centro Welsh de Assuntos Internacionais (Cardiff, Inglaterra, 1985).

3 – Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), págs. 181, 182.

4 – Alimentando os Crescentes Milhões da Índia, Pandurang V. Sukhatme (em inglês – Londres, 1965), pág. 1. Outras dificuldades, diz Sukhatme, são a falta de uma dieta padrão e as limitações das estatísticas disponíveis sobre o consumo de alimentos. (Pág. 2)

5 – Frank A. Southard, Jr., no seu artigo sobre “Fome”, na Enciclopédia das Ciências Sociais, Vol. 6 em inglês (Nova Iorque, 1931), pág. 85.

6 – Lord Boyd Orr, no prefácio de A Geografia da Fome (em inglês), de Josué de Castro (Londres, 1952), págs. 5, 6. Em 1973 publicou-se uma edição revista e ampliada deste livro e em 1977 esta foi traduzida para o inglês com o título A Geopolítica da Fome. Esta edição será usada nas referências seguintes.

7 – M. K. Bennett, na Enciclopédia Internacional das Ciências Sociais (em inglês – editada por David L. Sills, 1968), enfatiza: “Escassez de uma vitamina ou mineral específico numa população, talvez evidenciada pela incidência anormalmente alta de escorbuto, beribéri, pelagra, raquitismo ou visão debilitada, não é fome, embora em décadas recentes a palavra tenha sido aplicada a esses tipos de escassez.” (Vol. 5, pág. 322) Estritamente, má nutrição também deve ser distinguida de subnutrição, definida como “insuficiência na assimilação de calorias” (Sukhatme, pág. 2). Fome, por sua vez, “deve ser distinguida da subnutrição mais ou menos constante em regiões atingidas pela pobreza.” (Southard, pág. 85 em inglês)

8 – Sukhatme, pág. 75 em inglês. Desde a pesquisa de Sukhatme, no início da década de 1960, a situação alimentar na Índia melhorou acentuadamente.

9 – Documento da ONU, Avaliação da Situação Alimentar do Mundo (em inglês), Item 8 da Agenda provisória (da Conferência Alimentar Mundial, 1974), E/Conf, 65/3. Mais recentemente, a FAO estimou, com base na Quarta Pesquisa Alimentar Mundial (em inglês – 1977), que 455 milhões de pessoas nos países em vias de desenvolvimento (excluindo a China) sofrem de má nutrição e/ou de subnutrição. Já desde 1946 a FAO tem feito diversas avaliações globais da extensão da má nutrição / subnutrição no mundo. Baseando-se parcialmente nos novos critérios, o Relatório Sobre a Nutrição Mundial e o Segundo Relatório Sobre a Nutrição Mundial mostram que o número de mal nutridos era de 941 milhões em 1969-71 e 781 milhões em 1988-90. Isto significa que cerca de 15 por cento da população mundial padecia de má nutrição em 1988-90. No relatório Agricultura: Rumo a 2010 (publicado pela FAO em 1993) estima-se que o número de mal nutridos cairá novamente para 637 milhões por volta de 2010.

10 – Peritos suecos em alimentos, Lasse e Lisa Berg, em Mat och makt [Alimentos e Poder], (Avesta, Suécia, 1978), págs. 20-25. A revista Despertai! de 8 de abril de 1985, concordou indiretamente com estes números ao citar O Correio da Unesco que disse: “A fome crônica permanece sendo um problema para dezenas de milhões” enquanto “Cerca de 500 milhões de seres humanos, estagnados na pobreza, sofrem a ameaça diária da fome.” (Pág. 6) Assim, centenas de milhões estão ameaçados pela fome (isto é, sofrem de má nutrição), mas dezenas de milhões estão de fato padecendo fome. Mais ainda, as estimativas que apontam para entre 500 milhões e um bilhão de pessoas mal nutridas/subnutridas, provavelmente são grandes exageros. Estas estimativas foram criticadas recentemente por vários destacados peritos em alimentos, que gostariam de baixar o número para 240 milhões ou menos. Veja o bem conhecido perito em alimentos D. Gale Johnson em A Terra Repleta de Recursos, editado por Julian L. Simon e Herman Kahn (Londres, Inglaterra, 1984), págs. 76, 77, em inglês.

11 – Pág. 181. Esta afirmação foi repetida muitas vezes depois disso. Veja, por exemplo, “Venha o Teu Reino” (1981), página 122, e Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1989), página 150.

12 – Estudos Sobre a População da China, 1368-1953, Ping-ti Ho (em inglês – Cambridge, Massachusetts, EUA, 1959), pág. 233; China: A Terra da Fome, Walter H. Mallory (Nova Iorque, 1926), pág. 2, em inglês.

13 – A Sentinela de 15 de outubro de 1983, pág. 6.

14 – Porém, isso não durou muito, porque os escritores das publicações das Testemunhas de Jeová voltaram ao velho padrão familiar. Assim, a Despertai! de 22 de março de 1993, página 7, alegou novamente: “A maior fome de toda a História ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial.”

15 – A Geopolítica da Fome, Josué de Castro (Nova Iorque e Londres, 1977), pág. 50 em inglês.

16 – Ibid., pág. 50.

17 – Ibid., pág. 401 (citação de A Fome e a História [em inglês], E. Parmelee Prentice, Nova Iorque, 1939). B. M. Bhatia também enfatiza o alcance mundial da fome no passado: “Antes de ocorrerem na Europa as revoluções industrial e comercial, a fome era uma calamidade natural em relação à qual nenhuma parte do mundo estava completamente imune.” – As Fomes na Índia, 2ª edição em inglês (Londres, 1967), pág. 1.

18 – “As Fomes do Mundo: no Passado e no Presente” (em inglês), Cornelius Walford, Jornal da Associação de Estatística, Vol. XLI em inglês, 1878, págs. 433-534, e Vol. XLII em inglês, 1879, págs. 79-275.

19 – Walford (1878), págs. 434-449. A lista inclui também algumas fomes do período pré-cristão.

20 – Deutsches Leben im XIV. und XV. Jahrundert, Dr. Alwin Schultz (Viena, 1892), págs. 639-651 em alemão.

21 – “Hungersnöte im Mittelalter”, Fritz Curschmann, Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte, editado por Buchholz, Lamprecht, Marcks e Seeliger (Leipzig, 1900), págs. 1-217 em alemão.

22 – Études sur la Condition de la Classe Agricole [Estudos sobre a Condição da Classe Agrícola], Léopold Delisle (Paris, França, 1903), págs. 627-648.

23 – A Geografia da Fome, William A. Dando (Londres, 1980), página vii em inglês.

24 – Ping-ti Ho, pág. 227. “Até a revolução de 1949,” diz Castro, “este grande país era o exemplo superlativo de uma região de fome.” (Pág. 258 em inglês)

25 – China: A Terra da Fome, Walter H. Mallory (Nova Iorque, EUA, 1926), pág. 1 em inglês.

26 – Castro, págs. 271, 272 em inglês.

27 – Ibid., pág. 272 em inglês.

28 – “As Fomes Pavorosas do Passado”, Ralph A. Graves, Revista National Geographic de julho de 1917 em inglês, Washington D.C., EUA, pág. 89 em inglês.

29 – Graves, pág. 89 em inglês.

30 – A Era do Capital 1848-1875, E. J. Hobsbawn, pág. 133 em inglês. Veja também A Formação do Mundo Moderno 1870-1939, Maurice Bruce (Londres, Inglaterra, 1958), pág. 801 em inglês.

31 – Hobsbawn, página 133 em inglês.

32 – A Sentinela de 15 de outubro de 1983, pág. 3. A situação em algumas áreas foi tão desesperada que se relatou a ocorrência de canibalismo “vez após vez”. (Ping-ti Ho, pág. 231)

33 – Mallory, pág. 29 em inglês.

34 – Ping-ti Ho, pág. 233.

35 – Castro, pág. 53 em inglês. Deve-se enfatizar que este número refere-se apenas às vítimas de fomes propriamente ditas. Isso não inclui, naturalmente, o número não relatado de mortes devidas à “fome oculta”, a má nutrição crônica, a qual, mesmo em períodos normais em que não ocorreram fomes, tirou milhões de vidas anualmente, principalmente entre as crianças.

36 – Ping-ti Ho, pág. 233 em inglês; A Sentinela de 15 de outubro de 1983, pág. 5.

37 – Durante os anos de 1942 a 1944, desenvolveram-se condições de fome em certas províncias, agravadas parcialmente pelo regime nacionalista de Chiang Kai-shek. É possível que cerca de 3 a 4 milhões morreram de fome ou morreram de doenças relacionadas à fome durante aqueles anos. — A Morte Devido ao Governo, R. J. Rummel (New Brunswick, EUA, E Londres, 1994), págs. 133-134 em inglês.

38 – Castro, págs. 298, 306 em inglês.

39 – Ibid., págs. 306-308; A Situação do Mundo, Lester Brown (Nova Iorque, EUA, 1984), pág. 188 em inglês; Revista de População e Desenvolvimento, Vol. 7, nº 1 (março de 1981 em inglês), págs. 85-97; Vol. 8, n.º 2 (junho de 1982 em inglês), págs. 277, 278; Vol. 10, n.º 4 (dezembro de 1984 em inglês), págs. 613-645; Americana Científica, dezembro de 1985, pág. 194 em inglês. Deve-se notar que as estimativas sobre o número de mortes (7-40 milhões) nesta fome, não são baseadas em relatórios de testemunhas oculares contemporâneas, mas são estimativas demográficas feitas mais de 20 anos depois do desastre. Estas estimativas são baseadas nos censos chineses de 1953, 1964 e 1982, sendo que os primeiros dois (1953 e 1964) são considerados de qualidade duvidosa ou deficiente e, portanto, “de utilidade limitada para a análise demográfica.” (“Estimativas Históricas da População Mundial”, J. D. Durand, Revista de População e Desenvolvimento, Vol. 3, n.º 3, setembro de 1977, págs. 254, 255, 260-264 em inglês; J. S. Aird, “Estudos e Políticas sobre a População na China”, Ibid., Vol. 8, n.º 2, págs. 272-278 em inglês; “Tendências, Políticas e Estudos sobre a População na China”, Ibid., Vol. 7, n.º 1, pág. 91 em inglês.)

É importante notar que as maiores estimativas de “mortes em excesso” (número de mortes acima do normal) devidas à fome, não incluem apenas o número de pessoas que morreram de fome, mas também o grande número de bebês que não nasceram por causa da fome. É um fato bem conhecido que durante situações de fome, muitas mulheres para de menstruar completamente. Estimativas de “número de mortes” baseadas em censos antes e depois de uma fome, portanto, podem estar muito enganadores. Assim, ao passo que sob condições normais, “no final da década de 1950 e início da década de 1960 a China poderia ter tido cerca de 25 milhões de nascimentos por ano”, o número de nascimentos durante a fome pode “ter sido de 14 milhões por ano”, isto é cerca de dezenas de milhões abaixo do normal durante os quatro anos. (Fantasmas da Fome. A Fome Secreta da China, Jasper Becker. Londres: John Murray, 1996, pág. 269 em inglês.) Um “número de mortos” de 40 milhões é usado “por vários autores dentro da China que juntam indiscriminadamente  mortes e a redução de nascimentos.” (Becker, ibid., pág. 271 em inglês; ênfase acrescentada.) Se esta maneira de computar o número de mortes em uma fome fosse aplicado às fomes no passado, o “número de mortes” naquelas fomes seria sem dúvida multiplicado!

Outro fator que pode ter majorado grandemente as maiores estimativas de perdas populacionais na fome de 1958-61 é o fato de que milhões de chineses fugiram de seus lares, nunca mais retornando: “Durante a fome, incontáveis números fugiram das regiões mais atingidas, com mais de 10 milhões instalando-se só na Manchúria e na Mongólia Interior.” — Jasper Becker, op. cit., pág. 269 em inglês.

40 – Revista da População e Desenvolvimento, Vol. 10:2 (1984), págs. 252-254; Relatório da Saúde Mundial 1997 (Genebra: Organização Mundial de Saúde, 1997), estatísticas atualizadas de abril de 1997, acrescentadas às págs. 144-147.

41 – As Fomes na Índia, B. M. Bhatia, segunda edição em inglês (Londres, 1967), pág. 7.

42 – A Civilização e o Capitalismo nos Séculos 15 a 18: As Estruturas da Vida Diária, Fernand Braudel (Londres, 1981), pág. 76 em inglês. Falando da história passada da China e da Índia, Braudel observa que “as fomes ali pareciam ser o fim do mundo.” (Pág. 76 em inglês)

43 – Graves, pág. 87 em inglês. Para uma descrição desta terrível fome, veja A Fome na Índia, publicado pelo Departamento de Publicidade de Bengala, Calcutá, 1933.

44 – Walford (1878), pág. 442 em inglês; Graves, pág. 88 em inglês. O Livro dos Recordes Mundiais de Guiness, de 1983, numa nota de rodapé anexa à tabela (na página 465 em inglês) das maiores catástrofes do mundo, menciona que a grande fome indiana de 1770 ceifou várias dezenas de milhões de vidas. Todavia, não conseguimos confirmar esta afirmação.

45 – Bhatia, págs. 7, 8, 58 em inglês. Compare com Walford (1878), págs. 442-449 em inglês.

46 – Castro, pág. 320 em inglês.

47 – Bhatia, págs. 68, 70, 74, 108 em inglês.

48 – Ibid., págs. 242, 261 em inglês.

49 – Ibid., pág. vi em inglês.

50 – Ibid., pág. 270 em inglês. A Sentinela de 15 de outubro de 1983 cita na página 6 George Borgström, uma autoridade em nutrição no mundo, que diz que as condições alimentares na Índia se tornaram “insuportáveis” nos séculos 19 e 20. Mas conforme mostra o Dr. Bhatia, a maior autoridade sobre as fomes na Índia, isso só é verdade no caso do século 19, não no caso do século 20, quando a situação mudou radicalmente. Mais ainda, a declaração de Borgström segundo a qual apenas dez milhões na Índia estavam “adequadamente alimentados” também está muito errada, como mostra a cuidadosa pesquisa do Dr. Sukhatme, que concluiu que 50 por cento da população indiana está adequadamente alimentada! (Veja a informação que se segue ao subtítulo “A extensão da fome e má nutrição hoje.”) Borgström foi um dos “profetas da calamidade” da década de 1960 que avisavam que viria uma fome catastrófica. Alguns destes até predisseram que muitos países, a começar pela Índia, sofreriam fomes em vastas áreas na década de 1970 – uma predição que falhou totalmente. (Veja, por exemplo, Fome-1975!, W. & P. Paddock, Londres, 1967, págs. 60, 61 em inglês. Este livro foi repetidamente citado nas publicações das Testemunhas de Jeová antes de 1975; depois de 1975 ele não foi mais citado.)

51 – Bhatia, pág. 309 em inglês. Numa nota de rodapé Bhatia acrescenta: “De 1910 a 1940 houve 18 ocorrências de escassez, mas não houve perda de vidas por causa da fome em todo este período.”

52 – Ibid., pág. 310 em inglês. Um perito diz que o número de mortes chegou a 3,5 milhões. (Bhatia, pág. 324 em inglês)

53 – Berg e Berg, pág. 112 em inglês.

54 – Bhatia, pág. 342 em inglês.

55 – Castro, págs. 341, 342 em inglês.

56 – Revista Time de 14 de janeiro de 1985 em inglês, pág. 25. (Compare com a revista Ciência de 3 de agosto de 1984 em inglês.)

57 – Castro, pág. 398 em inglês.

58 – Bhatia, pág. 2 em inglês.

59 – Southard, na Enciclopédia das Ciências Sociais, Vol. VI em inglês, diz que se sabe terem ocorrido 450 fomes na Europa entre 1000 D.C. e 1855. (Pág. 85 em inglês).

60 – Fernand Braudel, o grande historiador, em A Civilização e o Capitalismo nos Séculos XV a XVIII: As Estruturas da Vida Quotidiana] (Londres, 1981), pág. 74 em inglês.

61 – Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte (Leipzig, 1900), Fritz Curschmann, págs. 60-62 em alemão.

62 – Fontes: Walford, págs. 434-449; Graves, pág. 84; Braudel, pág. 74; Os Alimentos, a Guerra e o Futuro, E. P. Prentice (Nova Iorque, Londres, 1944), pág. 14; Tempos de Festa, Tempos de Fome, Le Roy Ladurie (Londres, 1972), págs. 68, 70; “A Grande Fome Finlandesa de 1696-1697”, Prof. Eino Jutikkala, Revista Escandinava de Economia, III, 1955, págs. 48-63. As fomes romanas até a época de Trajano (98-117 D.C.) foram examinadas por Kenneth Sperber Gapp na sua tese de doutorado Uma História das Fomes Romanas até a Época de Trajano, Universidade de Princeton, EUA, 1934. Infelizmente, não foi possível adquirir uma cópia desta tese. Todas as obras citadas estão em inglês.

63 – Alguns dos antigos cronistas dizem que durante o longo período de fome entre 1005 e 1016, morreu metade da população da ilha maior! (Graves, pág. 81 em inglês.)

64 – Bhatia, pág. 2 em inglês.

65 – Castro, págs. 400, 401 em inglês.

66 – Ibid., págs. 421-424 em inglês.

67 – Ibid., págs. 438-440 em inglês.

68 – Southard, pág. 86 em inglês.

69 – A Fome na Rússia 1891-1892, Richard G. Robbins, Jr. (Nova Iorque e Londres, 1975), pág. 172 em inglês. A afirmação na página 5 de A Sentinela de 15 de outubro de 1983, segundo a qual a fome em 1921 matou “cerca de 5 milhões de pessoas” parece não estar correta. “Fontes fidedignas estimam que houve entre 1 e 3 milhões de vítimas do desastre.” (Robbins, Jr., pág. 172 em inglês.)

70 – Southard, pág. 86 em inglês.

71 – Graves, pág. 89 em inglês.

72 – Graves, pág. 90. Southard, pág. 87. Ambas as publicações em inglês.

73 – Castro, págs. 348-351 em inglês.

74 – Ibid., págs. 365, 366 em inglês.

75 – Hobsbawn (1975), pág. 133 em inglês.

76 – Ibid., pág. 133 em inglês.

77 – Despertai! de 22 de dezembro de 1973, pág. 4. O número de mortos não está disponível.

78 – A Sentinela de 15 de outubro de 1983, pág. 5. As estimativas variam; alguns dizem que o número de mortos foi de 200.000 ou mais. John C. Caldwell, em seu estudo da seca na região do Sael, concluiu que o número de mortos havia sido exagerado. Ele declarou que “os números dos títulos dos jornais eram invenções da imaginação e muitos relatos aparentemente sérios não eram muito melhores.” Veja A seca na região saeliana e suas implicações demográficas (Washington, D.C.: Conselho Americano de Educação, Documento da Comissão de Ligação Ultramarina Nº. 8, 1975), pág. 26 em inglês.

79 – Foi-nos gentilmente enviada uma cópia desse documento por Anders Johansson, que esteve presente na conferência como correspondente na África do Dagens Nyheter, o maior jornal matutino da Suécia. Johansson é atualmente o Editor de Notícias deste jornal.

80 – Castro, pág. 367 em inglês.

81 – Graves, pág. 75 em inglês.

82 – Ibid., págs. 75, 77, 79 em inglês.

83 – Hobsbawn (1975), pág. 133 em inglês; Revue pour l’Étude des Calamités [Revista para o Estudo das Calamidades], n.º 21 (Jan.-Dez. 1944 em francês), págs. 3-26; n.º 26-27 (Jan. 1948-Dez. 1949 em francês), págs. 33-71; n.º 28-29 (Jan. 1950-Dez. 1951 em francês), págs. 47-62. (Este periódico era publicado em Genebra, Suíça.)

84 – Castro, págs. 374-376, 388, 389 em inglês.

85 – Ibid., págs. 142, 199 em inglês.

86 – Ibid., pág. 139 em inglês.

87 – Demógrafo dinamarquês P. C. Matthissen em Befolkningsutvecklingen – orsak och vernan, segunda edição (Lund, Suécia, 1972), pág. 35. (Traduzido da edição em sueco).

88 – Explosão Populacional, Abundância ou Fome, Jan Lenica e Alfred Sauvy (em inglês – Nova Iorque, EUA, 1962). A citação é tirada da edição em sueco (Befolkningsproblem, Estocolmo, Suécia, 1965, pág. 44.)

89 – Conforme já se explicou neste capítulo (na nota 6), a subnutrição refere-se à quantidade de alimentos ingeridos, ao passo que a má nutrição está relacionada com a qualidade da dieta. Cerca de metade dos que estão mal nutridos, talvez de 10 a 15 por cento da humanidade, estão também subnutridos. A palavra inglesa starvation significa uma forma extrema de subnutrição, e a palavra famine é essa subnutrição extrema difundida numa grande área.

90 – A Sentinela de 15 de outubro de 1983, pág. 7. A mortalidade infantil parece ter diminuído um pouco em 1982. O Relatório Anual do UNICEF de 1983 mostra que 15 milhões de crianças (40.000 por dia) morreram ou ficaram incapacitadas nesse ano devido à má nutrição e às doenças relacionadas com a fome, como a diarréia. (págs. 3, 28 em inglês)

91 – Mesmo hoje a má nutrição é, na maioria dos casos, “invisível”, mesmo para mães de crianças mal nutridas. Daí o termo “fome oculta”.

92 – Isto também é admitido indiretamente na Despertai! de 8 de fevereiro de 1984, onde a “explosão” populacional é explicada, em parte, do seguinte modo: “Em parte o declínio mundial do índice de mortalidade, decorrente de melhoradas assistência médica e condições econômicas e sociais. Conseqüentemente, menos bebês morrem e mais pessoas vivem mais tempo.” (Página 4)

93 – Världens befolkning (“A População do Mundo”), Erland Hofsten, Upsala, Suécia, 1970, págs. 94 a 96 em sueco.

94 – Segundo a informação publicada regularmente pelo Statistiska Centralbyrån (Escritório Central de Estatística) da Suécia.

95 – Demografins grunder (“Elementos Básicos de Demografia”), Erland Hofsten, Lund, Suécia, 1982, pág.139 em sueco.

96 – População do Mundo, Hofsten, pág. 96 em sueco; 1985 World Population Data Sheet, publicado pelo Departamento de Referência da População, Inc., Washington, D.C., EUA.

97 – Na China, por exemplo, a mortalidade infantil diminuiu de cerca de 15 por cento em 1950 para 3,8 por cento em 1983. (A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome, Roy Prosterman, 1984, pág. 16 em inglês; 1985 World Population Data Sheet.)

O Relatório Anual do UNICEF de 1983 diz que “Entre meados da década de 1940 e o início da década de 1970 houve uma redução de 50 por cento nas taxas de mortalidade em muitos países de baixa renda”, embora a taxa de progresso tenha abrandado desde então. (Pág. 7)

98 – Os Problemas e as Perspectivas da Alimentação no Mundo, D. Gale Johnson (Washington, D.C., 1975), pág. 19 em inglês.

99 – A Fome e a História, E. P. Prentice, págs. 10 e 137 em inglês. O historiador francês Fernand Braudel resume a situação alimentar do mundo no passado da seguinte forma: “A fome repetiu-se tão insistentemente ao longo dos séculos, que se incorporou no regime biológico do homem e passou a fazer parte da sua vida diária. A escassez e a penúria eram contínuas, e foram comuns mesmo na Europa, apesar de sua posição privilegiada.” (A Civilização e o Capitalismo nos Séculos XV a XVIII, pág. 73 em inglês) Assim como Prentice, Braudel enfatiza que no passado a “subnutrição crônica” prevalecia em todo o mundo. (Pág. 91) N. W. Pirie, um dos cientistas mais conhecidos da Inglaterra, concorda: “É provável que a má nutrição, permanentemente ou apenas durante certas épocas do ano, tenha sido a condição usual da humanidade e que era considerada normal.” – Recursos Alimentares Convencionais e Novos, 1969. (Citado a partir da edição em sueco, publicada em Estocolmo, 1970, pág. 32)

100 Os Problemas da Fome no Mundo, E. R. Duncan (editor) (Ames, Iowa, 1977), pág. 3 em inglês.

101 – Ibid, pág. xi em inglês.

102 – Na realidade, peritos destacados acreditam agora que, essencialmente, a crise populacional global acabou. “A bomba populacional está sendo desativada,” disse a revista O Novo Cientista em 9 de agosto de 1984 (em inglês). “Quase sem ser notado, nos últimos dez anos o crescimento anual da população mundial diminuiu de 2 por cento para 1,7 por cento… A ONU agora prediz que a população mundial, que atualmente é cerca de 4,7 bilhões, atingirá apenas 6,1 bilhões no ano 2000 (20 por cento a menos do que indicavam algumas estimativas anteriores) e estabilizará em cerca de 10 bilhões em algum momento por volta do fim do próximo século.” (Pág. 12) Veja também a revista O Novo Cientista de 16 de agosto de 1984 em inglês, pág. 8, e a revista Despertai! de 8 de fevereiro de 1984, pág. 6.

103 – Duncan, pág. 23 em inglês.

104 – Anuário de Produção da FAO de 1982 (Roma, 1983), págs. 5, 9, 75, 97-101, 261, 262 em inglês.

105 – Conforme James P. Grant, Diretor Executivo do UNICEF, explica na página 2 do Relatório Anual do UNICEF de 1982, com apenas 6,5 bilhões de dólares, nos próximos 15 anos “seria possível fazer recuar a fome e a má nutrição em larga escala.” Além disso, novas técnicas desenvolvidas durante os últimos anos “poderiam reduzir as incapacidades e mortes entre as crianças na maioria dos países em vias de desenvolvimento… em pelo menos a metade, antes do fim deste século.” Estas técnicas, diz Grant, “são ainda menos dispendiosas do que pensávamos.” (Relatório Anual do UNICEF de 1983, págs. 3 e 4 em inglês)

106 – Castro, pág. 466 em inglês. “Não é por acaso,” disse a revista O Novo Cientista de 9 de agosto de 1984 (em inglês), “que é na África, onde os métodos agrícolas estão menos desenvolvidos, que a fome persiste.” (Pág. 15) No entanto, seria possível muitos países africanos aumentarem consideravelmente sua produção alimentar com o uso dos atuais métodos primitivos. A FAO (Organização das Nações Unidas Para a Alimentação e Agricultura) diz que “apenas metade do solo em potencial do mundo está sendo cultivado atualmente.” Isto inclui muitas partes da África, onde em 11 países, “incluindo Zaire, Zâmbia, Angola e Costa do Marfim, as pessoas poderiam, usando os métodos atuais, alimentar cinco vezes suas atuais populações. Congo poderia alimentar 20 vezes sua população e o Gabão, 100 vezes. No total, a África poderia, com métodos primitivos, alimentar 2,7 vezes sua atual população, diz a FAO.” (Ibid., pág. 15 em inglês).


Imagem em destaque: Fala! Universidades (artigo: OpiniãoFome no Brasil: a realidade de milhares de pessoas)

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