O tempo do fim — em nossos dias?

Introdução

O SÉCULO 20 e este início do século 21 foram cenários de alguns acontecimentos monumentais.

Se aceitarmos as afirmações feitas por várias fontes religiosas, a época atual é o momento em que decorrem os últimos dias. Circulam por todo o mundo livros que descrevem dramaticamente acontecimentos e circunstâncias do nosso tempo como sendo prova visível da proximidade do “fim”. As afirmações deles são feitas com seriedade e frequentemente são acompanhadas por evidência impressionante como prova de sua validade. Algumas destas fontes religiosas até especificam um momento inicial dos últimos dias. 

1914 – O Início dos Últimos Dias?

Sem dúvida, o movimento religioso conhecido como Testemunhas de Jeová é, de entre estas fontes, a mais visível e ativa. O ano de 1914 desempenha um papel chave em sua pregação pública. A circulação de milhões de cópias de livros de certos autores que falam do tempo do fim é rapidamente eclipsada pelas centenas de milhões de cópias de publicações da organização das Testemunhas de Jeová (JW.org), que são distribuídas todos os anos em centenas de idiomas, proclamando o significado do ano de 1914.

Naquele ano, alega a liderança das Testemunhas, ocorreu a prometida volta de Jesus Cristo à terra, dando início à sua parousia ou “presença”. Somos informados que nesse ano foi estabelecido o reino de Deus e começaram os “últimos dias”. Esta alegação é apresentada, não como uma mera possibilidade ou probabilidade, mas como certeza absoluta!

No entanto, as pessoas perguntam: “Como pode 1914 ter esse significado se ninguém viu realmente Jesus ou o seu reino?”

Porque Jesus veio de maneira invisível e seu reino foi estabelecido nos céus invisíveis de Deus, responde a JW.org.

O ano de 1914 desempenha, e já por mais de um século, um papel proeminente na doutrina que se reflete na pregação das Testemunhas de Jeová.

Se forem verdadeiras, essas afirmações têm obviamente uma importância vital para cada um de nós. Que evidência existe em seu apoio? Ao examinarmos essa alegada evidência, examinaremos ao mesmo tempo as opiniões publicadas por várias outras fontes religiosas do nosso tempo e as expectativas exaltadas daí resultantes. Pois, embora diferindo amplamente em muitas áreas, a evidência que elas oferecem para a proximidade do fim é muitas vezes notavelmente similar.

Em apoio de suas alegações, a JW.org, a agência editorial das Testemunhas de Jeová, usa duas linhas de argumentação: 1) a cronologia bíblica e 2) o que eles descrevem como os “sinais” desde 1914. (Veja Raciocínios à Base das Escrituras, 1985, pág 110.)

Resumidamente, segundo essa interpretação, os “tempos dos gentios”, ou como eles atualmente preferem traduzir a expressão, “os tempos determinados das nações”, mencionados em Lucas capítulo vinte e um, versículo 24, constituem um período de 2.520 anos que começou em 607 A.C. e terminou em 1914 A.D. Eles pensam que durante esse período seria permitido que as nações governassem sem a interferência de Deus.

Mas, novamente, surge a pergunta: “Como é que os tempos das nações gentias podem ter terminado em 1914?” Afinal, as nações ainda estão dominando este planeta assim como o fizeram antes dessa data. O número de nações, de fato, triplicou de 66 em 1914 para 198 atualmente! Então, como é que os tempos das nações podem ter terminado naquele ano? Para dois terços das nações que existem hoje, os tempos, em vez de terminarem, começaram, em 1914.

Outro problema, e bem grande, é que o ponto de partida para este cálculo – o ano 607 A.C., alegadamente a data para a destruição de Jerusalém – está em conflito com uma longa série de fatos históricos e com muitos trechos da Bíblia.1

Por isso, em vez de lutar contra estas dificuldades cronológicas, a organização JW.org prefere concentrar-se nos “sinais” desde 1914. Nisto, eles não estão sozinhos, pois escritores bem conhecidos de várias outras organizações religiosas focalizam sua atenção exatamente nos mesmos sinais como prova da proximidade do fim. Quais são esses “sinais”?

Que sinal Jesus deu realmente?

Poucos dias antes de sua morte, Jesus predisse a vindoura destruição do templo de Jerusalém. (Mateus 24:1, 2) Por causa desta predição, alguns dos seus discípulos fizeram-lhe algumas perguntas:

Declara-nos quando serão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo. – Mateus 24:3, ARC.2 

Antes de responder a estas perguntas, Jesus deu alguns avisos aos seus discípulos:

Jesus respondeu: “Cuidado, que ninguém os engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo!’ e enganarão a muitos. Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fomes e terremotos em vários lugares. Tudo isso será o início das dores.  Mateus 24:4-8, NVI.

Nos versículos seguintes, além de guerras, fomes e terremotos, Jesus, menciona perseguições, falsos profetas e o aumento do que é contra a lei. Será que todas estas ocorrências deveriam ser entendidas como sinais positivos, identificando a volta de Cristo e o fim do mundo? Ou, pelo contrário, Jesus realmente alertou seus discípulos para que não se deixassem desencaminhar por estes acontecimentos?

Comentaristas bíblicos cuidadosos e discretos têm indicado frequentemente que em lugar algum Jesus identifica estas ocorrências como sendo o “sinal” de sua vinda, mas em vez disso parece avisar seus discípulos para que não tirassem essa conclusão quando desastres e catástrofes deste tipo ocorressem. Desde o início de sua resposta, a admoestação dele foi: “Cuidado que ninguém os engane. Não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim.” Eles indicam também que a palavra grega para “sinal” (to semeíon) em Mateus 24, versículo 3, está no singular e portanto dificilmente poderia se referir a vários, ou diferentes acontecimentos.

Além disso, eles observaram ainda que Jesus só descreve realmente sua volta nas palavras que estão nos versículos 27 a 31, depois de sua predição da destruição de Jerusalém. Então, pela primeira vez, ele começa a falar sobre o sinal da sua vinda, “o sinal do Filho do homem” (versículo 30), aqui novamente no singular, precisamente como no versículo 3.

Este “sinal”, segundo as palavras de Jesus, ‘apareceria no céu’, não na terra. A organização JW.org admite isto. Por esse motivo, eles são obrigados a fazer uma distinção entre “o sinal do Filho do homem… no céu”, que aparece quando ele vem para o julgamento final, e o “sinal” de sua vinda (parousia), que segundo eles dizem, pode ser visto nas guerras, fomes, pestilências, terremotos, etc., desde 1914.3 Deste modo, eles não apenas têm dois tipos diferentes de “sinais” da volta de Cristo – têm também duas voltas diferentes, uma em 1914 e outra na “grande tribulação”.

Todavia, as palavras introdutórias de Jesus devem evidentemente ser entendidas como avisos contra falsas conclusões – “Cuidado que ninguém os engane … não tenham medo.” Haveria guerras, fomes, pestilências, terremotos e outros problemas. Os seguidores dele também teriam de enfrentar ódio e perseguição, não só uma vez, mas muitas vezes no futuro. Eles teriam de suportar essas coisas durante todo o período até o fim. Antes disso, o evangelho do reino pregado por Jesus e pelos seus discípulos alcançaria todas as nações da terra. O fim só viria depois disso. (Mateus 24:4-14) Depois de dar esta visão geral da história futura, Jesus começou a responder às perguntas dos quatro discípulos: a pergunta deles sobre a destruição do templo (versículos 15 a 22) e a pergunta sobre sua volta e o fim do mundo (do versículo 27 em diante).

Em geral, aqueles que anunciam o fim do mundo não aceitam esta interpretação natural da resposta de Jesus. Muitos expositores populares das profecias insistem atualmente em interpretar as palavras iniciais de Jesus sobre as tribulações futuras, não como uma introdução preliminar, e sim como a resposta à pergunta sobre o sinal da vinda de Jesus e do fim. A organização JW.org, por exemplo, tenta justificar a forma singular da palavra grega para “sinal” dizendo que o próprio sinal consiste em vários aspectos diferentes. Eles falam dele como “o sinal composto.” Quando todos os acontecimentos – guerras, fomes, pestilências, terremotos e outras tribulações – aparecem no mesmo período, e são vistos pela mesma geração, então estamos aptos a discernir o “sinal”, o qual prova que Cristo veio e está invisivelmente presente.

Contra esta interpretação pode-se objetar: Não tem toda geração visto esse “sinal composto”?

Não tivemos sempre guerras? Alguns historiadores indicam que nos últimos 5.600 anos tivemos um total de 292 anos sem guerras. Outros acham que talvez nem sequer tenha existido algum ano livre de guerras.

Não têm sido todas as gerações afligidas por fomes e pestilências? Conforme   demonstra  a  história,  as  guerras   têm  caracteristicamente levado ‘a reboque’ as fomes e pestilências. Os três flagelos têm sido sempre inseparáveis e geralmente morreram mais pessoas devido às fomes e às pestilências do que as que foram mortas em guerras.

OS ÚLTIMOS DIAS E SEU SINAL 
conforme descritos por uma fonte religiosa

A Sentinela de 15 de julho de 1973, página 441

Despertai! de 22 de abril de 1974, página 19

Despertai! de 22 de outubro de 1975, página 15

As palavras de Jesus sobre guerras, fome, pestilências, terremotos, criminalidade e assim por diante, são interpretadas por muitos expositores como sendo o “sinal” da sua vinda. A JW.org alega que temos visto este “sinal composto” numa escala sem precedentes desde 1914. Isto, dizem eles, significa que a parousia de Cristo e os últimos dias começaram naquele ano. Eles ensinavam que o Armagedom viria dentro do período de vida da ‘geração de 1914’. Durante alguns anos, a partir de 1995, a “última geração” foi desconectada do ano de 1914 (A Sentinela de 1° de novembro de 1995, pág. 19). No começo deste século, porém, ela foi religada com o ano de 1914. A “geração” é agora explicada como sendo composta por dois grupos de “ungidos”, sendo que “a vida dos ungidos que estavam presentes quando o sinal começou a tornar-se evidente, em 1914, coincidiria em parte com a vida de outros ungidos que veriam o início da grande tribulação.” (A Sentinela de 15 de abril de 2010, pág. 10)

Não têm todas as gerações experimentado vários grandes terremotos “num lugar após outro”? Os catálogos de terremotos elaborados por especialistas modernos, que abrangem os últimos dois mil anos, fornecem evidência abundante disto.

A história da humanidade tem sido também marcada por períodos recorrentes em que se verifica um aumento da violência e daquilo que é contra a lei, bem como perseguições contra diferentes grupos de cristãos que têm pregado o evangelho do Reino.

Portanto, perguntamos: Como é que eventos tais como guerras, fomes, pestes, terremotos, etc., podem distinguir a nossa geração, quando a história mostra que todas as gerações desde o tempo de Jesus foram atingidas pelo chamado “sinal composto”?

É o espantoso aumento e intensificação destes acontecimentos que os converte no “sinal” dos nossos dias, responde a maioria dos que anunciam o tempo do fim.

Em O Extinto Grande Planeta Terra, por exemplo, ao abordar a pergunta dos discípulos sobre um sinal, conforme registrada em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, Hal Lindsey explica:

Em resposta, Jesus deu muitos sinais gerais envolvendo condições mundiais às quais chamou ‘dores de parto’. Ele disse que estes sinais, como apostasia religiosa, guerras, revoluções nacionais, terremotos, fome, etc., aumentariam em frequência e intensidade exatamente como as dores de parto antes duma criança nascer. – Página 52 em inglês.

Enquanto a JW.org defende que este aumento e intensificação tem sido evidente desde 1914, Hal Lindsey argumenta que isso tem ocorrido desde 1948, ano que é, na opinião dele, o ponto de partida para a “geração” do tempo do fim.

Em seu livro Adeus Planeta Terra, o autor Adventista do Sétimo Dia, Robert H. Pierson, apesar de não marcar datas específicas, adota uma posição similar quanto ao significado dos nossos tempos. Ao falar das guerras no século 20, ele diz que estas ocorreram “numa escala que este mundo nunca experimentou antes” e menciona “elementos de destruição que desafiam a imaginação humana”; ao falar de catástrofes naturais, ele descreve a natureza como estando agora “descontrolada ao nosso redor”, diz que a terra tem tremido “com frequência e intensidade crescentes”; ao considerar a fome, cita predições de “fome crescente, pestilências, extermínio de grande número de pessoas” – todos estes aspectos sendo apresentados por ele como prova incontestável de que “Jesus virá em breve.” – Páginas 8, 15, 19-21, 23, em inglês.

O Dr. Billy Graham, cautelosamente, diz que estes sinais estão ‘entrando em foco atualmente’ e intensificar-se-ão no futuro próximo. Comentando sobre os quatro cavaleiros do Apocalipse – os símbolos de guerra, fome, peste e morte – ele escreve:

Em algum momento no futuro – um tempo desconhecido para nós – os terríveis cascos dos cavalos dos quatro cavaleiros pisarão finalmente o cenário da história humana com uma intensidade sem precedentes, trazendo em seguida o engano, guerra, fome e morte numa escala que desafia a imaginação….

Quão próximos estão os cavaleiros neste exato momento? Não sei! Tudo o que posso dizer com certeza é que todos os sinais apontam para um fato: o tropel dos cavalos dos quatro cavaleiros está se aproximando, soando cada vez mais alto a cada dia que passa… Que Deus abra nossos ouvidos para ouvirmos e nossos olhos para vermos o aviso deles antes que seja tarde demais!4 

Num estilo bem mais extravagante, a publicação Fome  Podemos Sobreviver? (em inglês) da Igreja Mundial de Deus, nas páginas 89 e 90, diz:

Estes gritos de guerra, pestilências e FOME foram preditos há muito tempo. Foram preditos há séculos atrás pelo maior anunciador de notícias que já viveu – JESUS CRISTO. Cristo disse aos seus discípulos que deveriam observar os sinais dos tempos…

Jesus Cristo, o maior anunciador de notícias do mundo, estava dizendo aos seus discípulos o que ocorreria em NOSSA geração – a geração que veria estas coisas acontecerem (veja [Mateus 24] versículo 3). Esta previsão fantástica está se CUMPRINDO cada vez mais!

Assim, ao se confrontarem com o fato de todas as eras terem tido seu quinhão de guerras, fomes, pestes, etc., estes expositores defendem, exatamente como a JW.org, que é o aumento destas tribulações que constitui o sinal do fim.

Mas será que foi realmente sobre esse aspecto dos eventos enumerados que Jesus colocou ênfase? No que diz respeito às guerras, fomes, pestilências e terremotos, ele não disse a seus discípulos que deviam esperar um aumento destas aflições.5

Apesar disso, os expositores que anunciam o fim dos tempos, seja diretamente, seja de forma implícita, adotam a posição de que Jesus pensava necessariamente num aumento dos flagelos que mencionou. De outra forma, estes “sinais” não seriam sinais, não teriam nada que os tornasse notáveis. Muitos destes escritores religiosos limitam-se a apresentar suas alegações acompanhadas por descrições – geralmente bem dramáticas – das calamidades e problemas atuais, sem tentarem defender sua posição contra qualquer evidência contrária. A JW.org, ao contrário, parece sentir-se obrigada a providenciar essa defesa e tenta regularmente edificar confiança nas suas alegações. Consequentemente, eles são rápidos em argumentar contra qualquer evidência contrária e fazem o máximo para provar que ocorreu mesmo um aumento sem precedentes nos acontecimentos calamitosos desde 1914.6 As publicações da organização estão repletas de afirmações, citações e estatísticas em apoio de suas alegações de que as guerras, fomes, pestilências e terremotos antes de 1914 foram meras ninharias em comparação com o que ocorreu depois daquele ano. A revista A Sentinela de 1º de fevereiro de 1985, página 15, afirmou a posição deles de forma resumida e inequívoca:

É verdade que tem havido guerras, escassez de víveres, terremotos e pestilências no decorrer dos séculos de nossa Era Comum, até 1914. (Lucas 21:11) Não obstante, nunca houve nada comparável ao que tem acontecido desde o fim dos Tempos dos Gentios naquele ano momentoso.

Uma pessoa que procura a verdade, contudo, tem de se perguntar: Quão genuína é a imagem alarmista que as várias fontes religiosas apresentam, quando esta imagem é vista levando-se em consideração a história passada da humanidade? Será que as provas estatísticas que se apresentam são genuinamente dignas de confiança? Será que foi apresentada toda a evidência, ou será que as opiniões e interpretações dos escritores influenciaram a seleção de números e citações de um modo que distorce os fatos?

Um exame cuidadoso das citações e estatísticas que eles apresentam talvez surpreenda milhões de pessoas que, em resultado de lerem tais publicações, acreditam que as condições mundiais assinalam dramaticamente o seu tempo como “especial”, um tempo focalizado de forma sem igual na profecia bíblica. 

Será que é apropriado fazer um exame abrangente do alegado “sinal”?

Muitos talvez se refreiem de fazer essa análise crítica. Particularmente entre os milhões de pessoas afiliadas à organização JW.org, muitos acham que fazer isso seria participar nas descobertas dos “ridicularizadores”, que desafiam as alegações a respeito da “presença” de Cristo feitas pelas Testemunhas de Jeová. A revista A Sentinela de 1º de março de 1980, na página 13, classifica quaisquer indivíduos que refutem essas alegações como ‘pessoas sem lei’ e falsos profetas, citando em seu apoio Segunda a Pedro, capítulo três, versículos 3 e 4. A revista A Sentinela de 1.º de fevereiro de 1981, página 19, declarou que os “ridicularizadores” poderiam ser encontrados “dentro da congregação cristã” e falou deles como “fazendo pouco do cumprimento das profecias a respeito da ‘presença’ de Cristo.”

Numa atitude semelhante, o livro Adeus, Planeta Terra, do autor Adventista Pierson, depois de abordar o que chama de sinais do fim definitivo, tem um subtítulo que diz: Não Acredita Nisso? Então Você é um Sinal! (Página 51, em inglês) Ele também cita as palavras de Pedro sobre os ridicularizadores nos últimos dias.

Isto quer dizer que qualquer pessoa que questione os conceitos que estas fontes têm sobre o fim do mundo é automaticamente classificada entre os ímpios. Será que isto é um uso correto do texto bíblico? Será que os “ridicularizadores” descritos pelo apóstolo Pedro são pessoas que acreditam firmemente que ‘o dia de Jeová virá de fato como ladrão’ e trará a destruição sobre homens ímpios e sobre um sistema iníquo? Certamente que não. Conforme mostra o contexto, o que o apóstolo descreve são pessoas que deixaram de acreditar por completo na eventual – e certa – chegada desse dia de julgamento divino, pessoas que questionaram se esse dia viria no futuro.7 

O fato de fazermos incidir uma luz bíblica e histórica sobre certos ensinos relacionados com a alegada evidência que marca nossa época, não é de modo algum reflexo de qualquer dúvida quanto às profecias da Bíblia acerca da “presença” de Cristo. Muito pelo contrário, consideramos seriamente algumas palavras da grande profecia de Cristo sobre a sua parousia que são muitas vezes negligenciadas, e instamos com nossos leitores que também as contemplem honestamente. Jesus predisse que “muitos” enganariam pessoas utilizando o seu nome, dizendo: “Já chegou o tempo.” Os discípulos não deveriam ficar impressionados, pois Jesus logo a seguir acrescentou: “Não sigam essa gente.” – Lucas 21:8, BLH.

Por essa razão, qualquer cristão que simplesmente feche os olhos e se apegue passivamente a doutrinas de autoridades religiosas poderia estar cometendo um erro grave e fatal. Num artigo intitulado “As Ideias Errôneas Podem Ser Perigosas”, a revista Despertai! de 8 de maio de 1971, abordou algumas falácias presentes em Ideias populares e depois disse:

Mas, muito maior dano pode resultar de se apegar a ideias religiosas descuidadas e inexatas que vão de encontro ao que a Bíblia afirma. Por quê? Porque não é apenas a vida presente que corre perigo. Antes, a vida interminável está envolvida. A verdade e a vida interminável se acham intimamente relacionadas… Por certo, limpar nossa mente de todas as ideias errôneas é seguir o proceder seguro! – Página 6

De fato, o “amor à verdade” é essencial para a salvação e pode por vezes requerer que estejamos dispostos a pesquisar e aprender. (Compare com Segunda aos Tessalonicenses 2:10.) Se o leitor decidir fazer isso, é claro que tem de manter uma mente aberta. “Ter mente aberta,” disse a JW.org na revista Despertai!  de 22 de março de 1985, “significa ser receptivo a novas informações e ideias. Significa dispor-se a examinar e avaliar informações sem atitude preconceituosa.” – Páginas 3 e 4.

Ao apresentar a informação e os dados sobre as calamidades na história, os autores deste livro não puderam, por razões de espaço, apresentar todo o material disponível. Nem abordamos todos os textos bíblicos que achamos que poderiam melhorar as explicações apresentadas. Ainda assim, continuaremos nosso estudo e pesquisa, e críticas construtivas são bem-vindas, bem como outras informações relacionadas com os assuntos tratados nesta publicação.

Consideremos agora a evidência acerca das fomes, terremotos, pestilências, guerras e crimes em nossa época em comparação com o passado. Cremos que o leitor achará os fatos muito diferentes, por vezes radicalmente diferentes, daquilo que muitos dizem hoje.

Notas

1 – Para uma consideração completa destes fatos, veja o livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, capítulos 3, 4 e 5.

2 – Na Tradução do Novo Mundo da JW.org, este texto foi traduzido de modo a apoiar a ideia da presença invisível de Cristo: “Diga-nos: Quando acontecerão essas coisas e qual será o sinal da sua presença e do final do sistema de coisas?” Contudo, embora “presença” seja o significado primário da palavra grega parousia, esta palavra também era usada num sentido técnico, significando “a visita de um governante.” Praticamente todos os peritos em grego do Novo Testamento concordam atualmente que a palavra parousia, quando usada em relação com a segunda vinda de Cristo, é usada no seu sentido técnico em vez de ser usada no seu sentido primário. O contexto e o modo de sua utilização em relação com a vinda de Cristo na própria Bíblia harmonizam-se com este ponto de vista. Este assunto será tratado mais adiante neste livro. (Veja o Apêndice B.)

3 – Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975), págs. 326-328.

4 – O Tropel Que Se Aproxima, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Billy Graham, 1983, págs. 74, 76, em inglês. Nesse livro o autor defende que as guerras, fomes, pestilências, etc., em eras passadas, eram apenas “precursoras dos cavaleiros”, e declara que agora “as sombras de todos os quatro cavaleiros podem … ser vistas galopando por todo o mundo.” – páginas 9, 77, em inglês.

5 – Embora seja verdade que Jesus falou do ‘aumento do que é contra a lei’, isto aparentemente não se referia ao mundo em geral, que sempre foi desregrado. Em vez disso, parece que essa expressão se refere ao que ocorreria na congregação cristã. É claro que levou algum tempo até que a predita apostasia chegasse ao ponto de ser revelada.

6 – Veja Sobrevivência Para uma Nova Terra (1984), págs. 22, 23.

7 – O leitor que é Testemunha de Jeová deveria prestar atenção à citação seguinte, do livro da organização intitulado A Escolha do Melhor Modo de Vida (1979), com a qual nós, escritores, concordamos de coração:

“Em cumprimento das palavras de Pedro, até mesmo hoje ouvimos a voz de ridicularizadores. (2 Pedro 3:3, 4) Eles dizem, na realidade: ‘Que motivo há para crer que o Filho de Deus vai executar os ímpios e recompensar seus discípulos? Ora, nada mudou desde o tempo da criação. Os processos originais da vida estão continuando e não apresentam nenhum indício da vinda dum desastroso fim no futuro próximo. Os homens se casam e a mulheres são dadas em casamento, bebês nascem, e os homens continuam a envelhecer e a morrer.’ Assim dão a entender que o Senhor Jesus Cristo nunca virá para executar o julgamento, ou que este evento está tão longe no futuro, que não precisa haver nenhuma preocupação imediata com ele.” (Pág. 170)

É bem evidente que essas pessoas esperavam ver em seus dias algo fora do normal, espantoso, sem precedentes, como prova de que o acontecimento predito ocorreria mesmo. As palavras de Pedro indicam que eles não veriam tal coisa e por essa razão não exerceriam fé na certeza desse dia de julgamento. Seja qual for a época em que vivamos, como mortais todos teremos de enfrentar um fim crucial – o fim das nossas vidas. A qualidade do nosso relacionamento pessoal com Deus e com o seu Filho até esse momento deveria ser sempre motivo de grande preocupação e importância para nós.


Imagem em destaque: Extraída de “O que é o sinal dos “últimos dias” ou “fim dos tempos”?” (Perguntas Bíblicas Respondidas – JW.org)

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