Os “Sete Tempos” de Daniel 4

Introdução

No capítulo anterior foi mostrado que é possível dar uma aplicação à profecia dos setenta anos que está de pleno acordo com a datação da desolação de Jerusalém em 587 A.E.C. Significa isso, então, que o período de 2.520 anos dos tempos dos gentios começou em 587 A.E.C. e terminou — não em 1914 — e sim em 1934 E.C.? Ou poderia ser o caso de o cálculo de 2.520 anos não ter forte base bíblica, afinal de contas? Se não tem, que significado deve-se atribuir ao irrompimento da guerra em 1914 — um ano que foi marcado com décadas de antecedência?

Estas são as questões discutidas neste capítulo. Primeiramente faremos uma breve consideração das tentativas que se fizeram para finalizar os tempos dos gentios em 1934.

A. A Profecia de 1934

Finalizar os tempos dos gentios em 1934 não é uma nova idéia. Já em 1886 o expositor britânico Dr. Henry Grattan Guinness apontou para 1934 em seu livro Luz Para os Últimos Dias.1 O Dr. Guinness usou três calendários diferentes para seus cálculos, obtendo assim três períodos de durações diferentes para os tempos dos gentios: 2.520, 2.484 e 2.445 anos, respectivamente. Além disso, ele usou também vários pontos de partida, o primeiro em 747 e o último em 587 A.E.C.2 Isto resultou numa série de datas finais, estendendo-se de 1774 E.C. a 1934 E.C., sendo que todas foram consideradas como datas importantes no cronograma profético de Deus.

Com a data 1934, porém, terminariam definitivamente os tempos dos gentios, contando-se segundo o período mais longo do Dr. Guinness e a partir de seu último ponto de partida. As quatro datas mais importantes no esquema dele eram 1915, 1917, 1923 e 1934.

O Dr. Guinness havia predito que o ano de 1917 seria talvez o ano mais importante na terminação do pisoteamento de Jerusalém. Quando o general britânico Edmund Allenby capturou Jerusalém no dia 9 de dezembro daquele ano e livrou a Palestina da dominação turca, isto foi visto por muitos como uma confirmação da cronologia dele. Grande número de pessoas interessadas em profecias começou a esperar 1934 com grande expectativa.3 Entre estes estavam também alguns dos seguidores do Pastor Charles Taze Russell.

A-1: A cronologia do Pastor Russell é revisada

Ao clímax da crise organizacional na Sociedade Torre de Vigia que se seguiu à morte de Russell em 1916, muitos Estudantes da Bíblia deixaram o movimento original e formaram os Estudantes da Bíblia Associados, constituídos em 1918 como Instituto Bíblico Pastoral.4

No mesmo ano, Paulo S. L. Johnson rompeu com este grupo e formou o Movimento Missionário da Casa dos Leigos, hoje um dos mais fortes grupos originários do movimento dos Estudantes da Bíblia à parte da organização original.

No início da década de 1920 o Instituto Bíblico Pastoral mudou a aplicação de Russell dos tempos dos gentios, o que causou um interessante debate entre este movimento, o Movimento Missionário da Casa dos Leigos e a Sociedade Torre de Vigia.

Um artigo intitulado “Vigia, Como Está a Noite?” publicado no periódico do Instituto Bíblico Pastoral O Arauto do Reino de Cristo (em inglês), de 15 de abril de 1921, assinalou um rompimento significativo com o esquema cronológico do Pastor Russell. O principal responsável por esta revisão foi R. E. Streeter, um dos cinco editores do Arauto. Os pontos de vista dele, aceitos pelos outros editores, refletiam uma preocupação crescente por parte de muitos Estudantes da Bíblia (como atestam as cartas recebidas de quase todas as partes do mundo) que tinham experimentado profunda perplexidade “com a aparente falha de muitas das esperanças e de muito do que seria realizado em favor do povo do Senhor nesta época.”5 Algumas das questões que tinham surgido eram:

Por que a Igreja não se deu conta de sua libertação final e recompensa nessa época? . . . Por que o tempo de tribulação não acabou agora — por que a velha ordem de coisas não findou, e por que o Reino não foi estabelecido em poder antes disto? Não é possível que possa haver um erro na cronologia?6

Chamando atenção para o fato de que as predições do Pastor Russell para 1914 não tinham se cumprido, concluiu-se que evidentemente havia um erro na contagem anterior. Explicou-se que este erro se encontrava no cálculo dos tempos dos gentios:

Cuidadosa investigação resultou em localizarmos o ponto de dificuldade ou discrepância no que consideramos nossa grande série de cronologia. Descobriu-se que ele tem relação com o início dos ‘Tempos dos Gentios’.7 

Primeiro, argumentou-se que os setenta anos, anteriormente referidos como um período de desolação, deveriam ser chamados mais apropriadamente de “setenta anos de servidão”. (Jeremias 25:11) Daí, referindo-se a Daniel 2:1, 37-38, mencionou-se que Nabucodonosor já era a “cabeça de ouro” em seu segundo ano de reinado, e de fato dominou as outras nações incluindo Judá, iniciando tal domínio logo no seu primeiro ano, segundo Daniel 1:1. Conseqüentemente, o período dos setenta anos começou de dezoito a dezenove anos antes da destruição de Jerusalém. Assim, esta destruição teve de ser adiantada aproximadamente dezenove anos, de 606 para 587 A.E.C.

Mas a data de 606 A.E.C. poderia ainda ser retida como ponto inicial dos tempos dos gentios, pois se argumentou que a transferência do poder para os gentios começou com a ascensão de Nabucodonosor ao domínio mundial. Assim 1914 marcou o fim da transferência do poder, mas não necessariamente o fim completo do exercício do poder, nem a completa queda dos governos gentios, da mesma forma que o reino de Judá só caiu e só foi derrubado no pleno sentido da palavra quando Zedequias, um rei vassalo sob Nabucodonosor, foi feito cativo dezenove anos depois de o período de servidão ter começado. Os editores do Arauto concluíram:

Concordemente foi em 587 A.C. quando Zedequias foi levado como cativo, e não em 606 A.C., e conseqüentemente, ao passo que os 2520 anos da cessão de poder aos gentios, com início no primeiro ano de Nabucodonosor, 606 A.C., durariam até 1914; da mesma maneira o pleno fim dos Tempos dos Gentios e a queda completa dos governos gentios só é indicado como ocorrendo dezenove anos depois, ou por volta de 1934.8 

Assim o que se poderia esperar que ocorresse em 1934? O Arauto do Reino de Cristo indicou:

A dedução razoável é que as grandes mudanças e eventos que esperávamos que ocorressem em 1914 seriam, devido ao precedente, logicamente esperados para estarem em evidência em algum momento por volta de 1934.9 

Outros artigos apareceram posteriormente nos números de 15 de maio e 1 de junho do Arauto, dando evidência adicional para a necessidade destas mudanças e respondendo a perguntas dos leitores. As mudanças geraram muito interesse entre os Estudantes da Bíblia:

Muitos nos escreveram espontaneamente dizendo que aceitaram de bom grado as conclusões a que se chegou. . . .

Foi de especial interesse para nós receber notificação de irmãos em vários quadrantes diferentes que contam como por alguns meses ou anos antes de receber nossa recente abordagem do assunto, eles tinham sido levados a fazer um exame exaustivo da cronologia e tinham chegado exatamente às mesmas conclusões que as apresentadas no ARAUTO com respeito à diferença de 19 anos no início dos tempos dos gentios, descobrindo que todas as evidências mostravam que o reino universal de Nabucodonosor começou no primeiro ano dele em vez de em seu décimo nono ano.10

A-2: A controvérsia entre os Estudantes da Bíblia acerca da cronologia dos tempos dos gentios

A maioria dos grupos de Estudantes da Bíblia, porém, rejeitou as conclusões do Instituto Bíblico Pastoral. O primeiro contra-ataque veio de P. S. L. Johnson, o fundador do Movimento Missionário da Casa dos Leigos e editor de seu periódico A Verdade Presente.

No número de 1º de junho de 1921, ele publicou um artigo crítico intitulado “’Vigia, como está a noite?’ — Examinado” (páginas 87-93), no qual defendeu o entendimento que o Pastor Russell tinha sobre Daniel 1:1 e 2:1 e sobre os setenta anos de desolação, acrescentando também alguns argumentos de sua própria autoria. Este foi seguido por outros artigos nos números de 1º de julho e 1º de setembro.11 

Em 1922, a Sociedade Torre de Vigia também entrou no debate. Evidentemente as mudanças cronológicas feitas no Arauto chegaram rapidamente ao conhecimento de muitos Estudantes da Bíblia de diferentes quadrantes, e parecem também ter causado não pouca agitação entre os leitores da revista A Torre de Vigia. Isto foi admitido abertamente no primeiro artigo sobre o assunto, “Os Tempos dos Gentios”, publicado no número de 1º de maio de 1922 de A Torre de Vigia:

Há aproximadamente um ano começou alguma agitação referente à cronologia, o ponto crucial do argumento sendo que o irmão Russell estava errado sobre a cronologia e particularmente errado em relação aos tempos dos gentios. . . .

A agitação relacionada ao erro na cronologia continuou a aumentar no decorrer do ano e alguns manifestaram oposição ativa ao que foi escrito. Isto resultou em algumas das queridas ovelhas de Deus ficarem com as mentes perturbadas, fazendo-as indagar, Por que A TORRE DE VIGIA não diz alguma coisa?12

Periódicos publicados pelos três principais grupos de Estudantes da Bíblia envolvidos na controvérsia do início da década de 1920 acerca da aplicação dos tempos dos gentios.

Por conseguinte, começando por este artigo, a Sociedade Torre de Vigia deu início a uma série em defesa da cronologia do Pastor Russell. O segundo artigo, intitulado “Cronologia”, publicado em A Torre de Vigia de 15 de maio de 1922, abriu com uma reafirmação da crença nas datas de Russell e acrescentou a data 1925:

Não temos qualquer dúvida que seja com respeito à cronologia relacionada com as datas de 1874, 1914, 1918 e 1925. Alguns alegam ter encontrado nova luz com relação ao período de “setenta anos de desolação” e do cativeiro de Israel em Babilônia, e estão procurando zelosamente fazer outros acreditar que o irmão Russell estava errado.

Os argumentos apresentados neste e em artigos subseqüentes eram muito parecidos aos publicados anteriormente por Paul S. L. Johnson. Johnson, que involuntariamente teve de se alinhar com a Sociedade Torre de Vigia nesta “batalha”, apoiou A Torre de Vigia com uma série de novos artigos no periódico A Verdade Presente, em paralelo com os artigos de A Torre de Vigia.13

Estas defesas não ficaram sem resposta por muito tempo. O Arauto de 15 de junho de 1922, continha o artigo “A Validade de Nossas Deduções Cronológicas”, que era uma refutação dos argumentos apresentados em defesa da interpretação do Pastor Russell sobre Daniel 1:1 e 2:1. No número de 1º de julho, um segundo artigo “Outro Testemunho Cronológico” considerou a evidência de Zacarias 7:5, e o número de 15 de julho continha um terceiro sobre o período de desolação, assinado novamente por J.A.D. (Veja a nota de rodapé 10.)

Gradualmente o debate diminuiu. Os editores do Instituto Bíblico Pastoral resumiram seus argumentos e os publicaram em um número duplo especial do Arauto, em 1º-15 de agosto de 1925 e novamente, no número de 15 de maio de 1926. Daí eles esperaram para ver o que o ano de 1934 traria.

Com 1934 se aproximado, os editores do Instituto adotaram uma atitude muito cautelosa:

Se a ideia fosse que os dezenove anos indicavam a duração exata da finalização dos Tempos dos Gentios, contando-se a partir de 1915, então isso nos levaria a por volta de 1933-1934; mas não sabemos se isto foi planejado dessa forma, nem temos evidência positiva quanto à duração exata da liquidação dos Tempos dos gentios além do ano de 1915.14 

Esta cautela provou ser sábia e quando 1934 passou, eles puderam afirmar:

Os irmãos que leram com detida atenção as páginas desta revista estão bem apercebidos de que se incentivou muita cautela e conservadorismo em relação a tudo o que tenha relação com estabelecimento de datas e fixação de tempo para várias ocorrências e eventos; e isto continua sendo a política editorial do ‘Arauto’.15 

Sobre a pergunta por que 1934 não viu o fim das nações gentias, explicou-se que 1934 deveria ser visto como uma data aproximada, e que “acreditamos que o progresso de eventos e todos os fatos, conforme os vemos se desenrolando diante de nós neste dia do Senhor, levam-nos a esperar ficar sem a ordem atual mais em graus ou fases do que por um colapso repentino e fim de todas as coisas em determinado momento do tempo, como o apóstolo Paulo sugere — ‘Como as dores de aflição sobre uma mulher’.”16 A piora da situação do mundo que conduziu à Segunda Guerra Mundial parecia dar apoio a este ponto de vista.17 

Os anos de 1914 e 1934 vieram e se foram e as nações gentias ainda estão dominando a terra. Na realidade, o número de nações independentes triplicou desde 1914, de 66 naquele ano para cerca de 200 no momento. Assim, em vez de terminarem em 1914, os tempos para a maioria das nações hoje na terra começaram depois daquele ano!

Com certeza, algumas perguntas apropriadas a se fazer agora são: É o período de 2.520 anos realmente um cálculo bíblico bem fundamentado? Foi a menção de Jesus aos “tempos dos gentios” em Lucas 21:24 uma referência aos “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor? E devem estes “sete tempos” ser convertidos em 2.520 anos?

B. São os Tempos dos Gentios “Sete Tempos” de 2.520 Anos?

Quando Jesus, em Lucas 21:24, fez referência aos “tempos dos gentios”, ou, segundo a Tradução do Novo Mundo, “os tempos designados das nações”, será que ele estava pensando nos “sete tempos” de loucura que atingiram o rei babilônico Nabucodonosor, em cumprimento do sonho dele sobre a árvore derrubada, conforme registrado no livro de Daniel capítulo quatro? E significa isto que estes “sete tempos” de loucura teriam um cumprimento maior além do que tiveram sobre Nabucodonosor, representando um período de 2.520 anos de domínio gentio?

Apesar dos muitos argumentos apresentados em defesa destas conjecturas, falta prova definitiva e algumas objeções sérias podem ser levantadas contra eles. Um exame crítico dos argumentos principais da Sociedade Torre de Vigia, conforme apresentados em seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras, tornará isto claro.18 

B-1: A suposta conexão entre Lucas 21:24 e Daniel 4

É verdade que em sua última grande profecia (Mateus 24-25; Lucas 21 e Marcos 13), Jesus se referiu “pelo menos duas vezes” ao livro de Daniel.19 

Assim, ao mencionar a “coisa repugnante que causa desolação” (TNM) ele diz diretamente que isto foi “falado por intermédio de Daniel, o profeta”. (Mateus 24:15; Daniel 9:27; 11:31 e 12:11) E ao falar sobre a “grande tribulação [thlípsis, em grego] tal como nunca ocorreu desde o princípio do mundo até agora” (Mateus 24:21, TNM), ele evidentemente cita de Daniel 12:1: “E certamente virá a haver um tempo de aflição [as mais antigas traduções gregas — a versão Septuaginta e a versão de Teodocião — usam a palavra thlípsis, da mesma maneira que em Mateus 24:21] tal como nunca se fez ocorrer, desde que veio a haver nação até esse tempo.” (TNM)

Todavia, não se pode encontrar qualquer referência clara deste tipo ao capítulo quatro de Daniel em Lucas 21:24. A palavra “tempos” (do grego kairoí, a forma plural de kairós) neste texto não é uma referência clara aos “sete tempos” de Daniel 4, como defende a Sociedade Torre de Vigia.20

Esta palavra comum ocorre muitas vezes em ambas as formas singular e plural nas Escrituras Gregas, e cerca de 300 vezes na versão Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas. Em Daniel 4 e em Lucas 21 a palavra “tempos” é aplicada explicitamente a dois períodos bem diferentes — os “sete tempos” ao período da loucura de Nabucodonosor, e os “tempos dos gentios” ao período do pisoteamento de Jerusalém — e os dois períodos só podem ser igualados se lhes dermos uma aplicação maior, além daquela que os próprios textos dão. Desse modo, a suposta conexão entre os “tempos dos gentios” em Lucas 21:24 e os “sete tempos” em Daniel 4:16, 23, 25 e 32 parece ser nada mais que uma conjectura.

B-2: A aplicação maior dos “sete tempos”

A Sociedade Torre de Vigia propõe vários argumentos para apoiar a conclusão de que os “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor prefiguraram o período de dominação gentia até o estabelecimento do Reino de Cristo, a saber, a) o elemento destacado do tempo no livro de Daniel; b) a época na qual a visão da árvore derrubada foi dada; c) a pessoa a quem ela foi dada, e d) o tema da visão. Consideremos atentamente estes argumentos.

a) O elemento tempo no livro de Daniel

Para provar que os “sete tempos” de Daniel 4 têm relação com os “tempos dos gentios”, a Sociedade Torre de Vigia argumenta que “um exame do inteiro livro de Daniel revela que, em toda a parte, o elemento tempo tem destaque em suas visões e profecias”, e que “o livro repetidas vezes aponta para a conclusão que constitui o tema de suas profecias: o estabelecimento do Reino universal e eterno de Deus, exercido mediante a regência do “filho de homem.”21

Embora isto seja verdade no caso de algumas das visões no livro de Daniel, não é verdade no caso de todas. E até onde se possa ver, não há qualquer outra visão ou profecia neste livro que tenha mais de um cumprimento.22 Nada indica, seja no livro de Daniel ou em qualquer outra parte da Bíblia, que o sonho de Nabucodonosor sobre a árvore derrubada em Daniel 4 tenha mais de um cumprimento. Daniel diz claramente que a profecia se cumpriu em Nabucodonosor: “Tudo isso sobreveio a Nabucodonosor, o rei” (Daniel 4:28, TNM). E mais adiante, no versículo 33: “Naquele instante cumpriu-se a própria palavra em Nabucodonosor”. (TNM) O Dr. Edward J. Young comenta:

lit., foi terminada, i.e., chegou ao fim no qual foi completada ou cumprida com respeito a Nabucodonosor.”23 

Na realidade, a maioria dos capítulos do livro de Daniel não contém matéria sobre a qual se poderia dizer que aponta para “estabelecimento do Reino universal e eterno de Deus, exercido mediante a regência do “filho de homem.”: O capítulo 1 fala sobre Daniel e seus companheiros na corte babilônica; o capítulo 3 conta a história dos três hebreus na fornalha de fogo ardente; o capítulo 5 trata do banquete de Belsazar que terminou com a queda de Babilônia; o capítulo 6 conta a história de Daniel na cova dos leões e o capítulo 8 contém a visão do carneiro e do bode que culmina com o fim do reinado tirânico de Antíoco IV no segundo século antes da vinda de Cristo.24 

E embora a profecia das “setenta semanas” no capítulo 9 aponte para a vinda do Messias, ela não diz coisa alguma sobre o estabelecimento do reino dele. Nem mesmo a longa profecia nos capítulos finais, Daniel 10-12, a qual termina com a “grande tribulação” e a ressurreição de “muitos dos adormecidos no solo de pó” (Daniel 12:1-3), faz uma conexão explícita disto com o estabelecimento do reino de Cristo.

O fato é que as únicas referências claras e diretas ao estabelecimento do reino de Deus são encontradas nos capítulos 2 e 7 (Daniel 2:44-45 e 7:13-14, 18, 22, 27).25 

Assim qualquer precedente que nos levaria a dar um aplicação maior aos “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor simplesmente não existe.

b) A época da visão

Se, como se alega, a época na qual esta visão foi dada indicaria um cumprimento maior, apontando para uma interrupção de 2.520 anos na dinastia real de Davi, ela deveria ter sido dada próximo a, ou preferivelmente no mesmo ano da deposição de Zedequias. Freqüentemente, quando a época de determinada profecia é importante e tem conexão com seu cumprimento, a profecia é datada. Este é, por exemplo, o caso da profecia dos setenta anos. (Jeremias 25:1)26 As visões e profecias no livro de Daniel são geralmente datadas: o sonho da imagem no segundo ano de Nabucodonosor (Daniel 2:1), a visão dos quatro animais no primeiro ano de Belsazar (Daniel 7:1), a visão do carneiro e do bode no terceiro ano de Belsazar (Daniel 8:1), a profecia das setenta semanas no primeiro ano de Dario, o medo (Daniel 9:1), e a última profecia no terceiro ano de Ciro (Daniel 10:1).27 

Porém, nenhuma data deste tipo é fornecida para a visão da árvore derrubada em Daniel 4, o que logicamente deveria ter sido feito, caso isto fosse importante. A única informação referente a tempo é dada no versículo 29, onde se declara que o cumprimento do sonho ocorreu doze meses depois. Embora não se forneça qualquer ano de reinado, parece provável que os “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor ocorreram em algum momento perto do fim de seu longo reinado. A razão para esta conclusão é a declaração orgulhosa que desencadeou o cumprimento do sonho dele:

Não é esta Babilônia, a Grande, que eu mesmo construí para a casa real com o poderio da minha potência e para a dignidade da minha majestade? — Daniel 4:30, TNM.

Em que momento poderia Nabucodonosor ter proferido estas palavras? Durante a maior parte de seu longo reinado ele se empenhou em numerosos projetos de construção na cidade de Babilônia e muitas outras cidades na terra de Babilônia. As inscrições cuneiformes demonstram que Nabucodonosor foi principalmente um construtor, não um guerreiro. Ele renovou e restabeleceu dezesseis templos em Babilônia inclusive os dois templos de Marduque, completou os dois grandes muros da cidade, construiu uma rede de canais pela cidade, embelezou as ruas de Babilônia, reconstruiu o palácio de Nabopolassar, seu pai, e construiu outro palácio para seu próprio uso, o qual foi terminado por volta de 570 A.E.C., além de muitas outras realizações arquitetônicas.28 

A demência de Nabucodonosor, conforme representada no livro “A Verdade Vos Tornará Livres” (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, publicado em português em 1946), página 237.

Evidentemente foi ao fim desta atividade de construção que a visão da árvore derrubada foi dada, como é indicado pelas palavras orgulhosas de Nabucodonosor em Daniel 4:30. Isto aponta em direção ao fim de seu longo reinado de quarenta e três anos, e conseqüentemente muitos anos depois da destruição de Jerusalém em seu décimo oitavo ano de reinado.

Uma profecia é, por definição, um olhar à frente. Como poderia então a época na qual a visão foi dada indicar qualquer coisa sobre um cumprimento maior, um que tenha começado com o destronamento de Zedequias muitos anos antes? Não deveria o cumprimento de uma profecia começar, não antes, e sim após a época na qual ela foi proferida? De modo que a época deste sonho particular, não só parece ser irrelevante, devido à profecia não ser datada, como também pode de fato ser usado como um argumento contrário à aplicação dela a um período que começa com a destruição de Jerusalém, uma vez que o sonho foi evidentemente dado muitos anos depois desse evento.

c) A pessoa a quem a visão foi dada

Será que a pessoa a quem esta visão foi dada, isto é, Nabucodonosor, indica que tal visão tem de ser aplicada a uma suposta interrupção de 2.520 anos na dinastia real de Davi?

É verdade que Nabucodonosor foi o instrumento que causou a interrupção desta dinastia. Mas é provável que o exercício opressivo da soberania de Nabucodonosor seria um símbolo da soberania de Jeová expressa pela dinastia davídica, ao passo que concomitantemente, durante os “sete tempos” de loucura, a total ausência dele do poder seria um símbolo do exercício do domínio mundial por nações gentias? Ou será que ele assumiu dois papéis durante os “sete tempos” de sua loucura — (1) sua ausência do poder, representando a interrupção na dinastia de Davi durante o período de 2.520 anos; e (2) sua condição animalesca retratando o domínio gentio da terra?

Como se pode ver, os paralelos entre o cumprimento literal e a alegada aplicação maior são forçados, e, desta forma, a aplicação maior é totalmente complicada e confusa. Não seria esta aplicação mais provável se a visão tivesse sido dada a um dos últimos reis de Judá em vez de a Nabucodonosor? Não seria um rei da dinastia de Davi um representante mais natural dessa dinastia, e os “sete tempos” da perda de poder experimentada por tal rei uma representação mais natural da perda da soberania da linhagem davídica?

Assim, é evidente que a pessoa a quem se deu a visão não fornece qualquer indicação clara de outra aplicação além daquela dada diretamente pelo profeta Daniel.

d) O tema da visão

O tema da visão da árvore derrubada é expresso em Daniel 4:17, a saber, “para que os viventes saibam que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde da humanidade.

Será que este propósito declarado da visão indica que ela aponta para o futuro tempo do estabelecimento do Reino de Deus, por seu Cristo?29 

Tirar tal conclusão seria ler mais nesta declaração do que ela de fato diz. Jeová sempre foi o governante supremo no reino da humanidade, embora a supremacia dele nem sempre tenha sido reconhecida por todos. Mas Davi apercebeu-se disto, ao dizer:

Jeová é que estabeleceu firmemente seu trono nos próprios céus; e seu próprio reinado tem mantido domínio sobre tudo. — Salmos 103:19, TNM.

Teu reinado é um reinado por todos os tempos indefinidos, e teu domínio é durante todas as gerações sucessivas. — Salmos 145:13, TNM.

De modo que Jeová sempre exerceu controle sobre a história da humanidade e manobrou os eventos de acordo com sua própria vontade:

E ele muda os tempos e as épocas, removendo reis e estabelecendo reis, dando sabedoria aos sábios e conhecimento aos que têm discernimento. Daniel 2:21, TNM.

Esta foi uma lição que Nabucodonosor — bem como os que reinaram antes e depois dele — tiveram de aprender. O período que se seguiu à desolação de Judá e Jerusalém por Nabucodonosor não representou qualquer exceção ou interrupção no reinado supremo de Jeová, apesar da interrupção na dinastia real de Davi. As nações gentias não regeram soberanamente durante este período. Jeová tomou ação contra o Império Babilônico suscitando Ciro para capturar Babilônia em 539 A.E.C. (Isaías 45:1) e depois Alexandre, o Grande destruiu o Império Persa.

Além do mais, a expressão “mais humilde da humanidade” em Daniel 4:17 não é alguma indicação clara que Jesus Cristo como se alega, uma vez que, em seus procedimentos com a humanidade, Jeová muitas vezes derrubou reis poderosos e arrogantes e enalteceu humildes.30 Isto foi indicado fortemente séculos depois por Maria, a mãe de Jesus:

Ele [Deus] tem agido valorosamente com o seu braço, tem espalhado os que são soberbos na intenção dos seus corações. Tem derrubado de tronos homens de poder e tem enaltecido humildes. — Lucas 1:51-52, TNM.

De modo que, quando o vigilante santo no sonho de Nabucodonosor anunciou que “o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde da humanidade,” ele parece simplesmente ter declarado um princípio universal nos tratos de Jeová com a humanidade. Não há qualquer indicação de que ele está emitindo uma profecia relativa ao estabelecimento do reino messiânico com Jesus Cristo no trono. O tema desta visão — que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade — é demonstrado pela maneira como Jeová lidou como o arrogante Nabucodonosor, o qual, através de sua experiência, veio a aperceber-se deste princípio universal. (Daniel 4:3, 34-37) Ao lerem sobre esta humilhante experiência de Nabucodonosor, as pessoas que vivem em todas as gerações podem vir a aprender esta mesma verdade.

B-3: O colapso da fundação do cálculo dos 2.520 anos

Conforme se mostrou no Capítulo 1, o cálculo segundo o qual os “sete tempos” representaram um período de 2.520 anos baseia-se no chamado “princípio ano-dia”.

Este conceito não é mais aceito como um princípio geral pela Sociedade Torre de Vigia. O Pastor Russell o extraiu dos Segundo Adventistas, mas ele foi abandonado pelo segundo presidente da Sociedade, J. F. Rutherford, na década de 1920 e no início da década de 1930.31 As 2.300 noitinhas e manhãs (Dan. 8:14), e os 1.260, 1.290 e 1.335 dias (Daniel 12:7, 11, 12; Revelação 11:2, 3; 12:6, 14), que antes se dizia serem anos, foram desde então interpretados como significando apenas dias.

Os dois textos na Bíblia que anteriormente eram citados como prova do princípio ano-dia (Números 14:34 e Ezequiel 4:6) não são mais entendidos como declarando um princípio universal de interpretação, embora eles ainda sejam citados em defesa deste cálculo particular de 2.520 anos. Conforme se mostrou no Capítulo 1, nota de rodapé 2, não é nem mesmo provável que a regra de ano-dia deva ser aplicada às “setenta semanas” de Daniel 9:24-27. Essa profecia não fala em dias, e sim em “semanas” ou, literalmente, “grupos de sete”. Assim, em vez de estabelecer uma conversão das “semanas” em dias e aplicar então um “princípio ano-dia”, a conexão contextual com os “setenta anos” no versículo 2 apóia fortemente a conclusão prevalecente de que o anjo estava simplesmente multiplicando esses setenta anos por sete: “Sete vezes [ou: o sétuplo de] setenta [anos] são decretados.”

Até mesmo os próprios partidários da teoria do ano-dia acham impossível serem consistentes em sua aplicação do “princípio” de que em profecias bíblicas cronológicas os dias sempre significam anos. Por exemplo, quando Deus disse a Noé que “daqui a sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites” (Gênesis 7:4, NVI), eles não interpretam isso como significando que “daqui a sete anos, farei chover sobre a terra quarenta anos”. Ou quando Jonas disse aos habitantes de Nínive que “apenas mais quarenta dias e Nínive será subvertida.” (Jonas 3:4), eles não entendem isto como significando que Nínive deveria ser subvertida após quarenta anos. Muitos outros exemplos poderiam ser dados.32 

De forma que a aplicação do princípio ano-dia aos “sete tempos” de Daniel 4 é evidentemente muito arbitrária, e isto é especialmente verdadeiro se considerarmos que aqueles que fazem tal aplicação já não fazem o mesmo no caso de outros períodos de tempo proféticos.

Assim como outros partidários do cálculo de 2.520 anos, a Sociedade Torre de Vigia argumenta que os “sete tempos” (o período de demência de Nabucodonosor) equivalem a 2.520 dias, porque em Revelação 12:6, 14 “um tempo e tempos e metade de um tempo” (3 1/2 tempos) são equiparados a 1.260 dias. (A validade deste raciocínio será discutida na próxima seção.) Porém, ao passo que os 2.520 dias são interpretados como significando um período de 2.520 anos, os 1.260 dias são entendidos como significando apenas 1.260 dias literais. Uma vez que a interpretação dos “sete tempos” é derivada dos três tempos e meio (1.260 dias), por que não se dá uma interpretação consistente a ambos os períodos? Como sabemos que os supostos 2.520 dias significam anos, mas que este não é o caso dos 1.260 dias?33 

Obviamente não há qualquer base real para a conclusão de que os “sete tempos” significam 2.520 anos.

B-4: Foram os “sete tempos” realmente sete anos?

Os “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor são freqüentemente entendidos como um período de sete anos. Porém, qualquer pessoa que esteja familiarizada com o reinado de Nabucodonosor sabe que há grandes problemas com este entendimento. É difícil encontrar um período de sete anos dentro do seu reinado de 43 anos no qual ele tenha estado ausente do trono ou inativo como rei.

Onde, então, durante os 43 anos do reinado de Nabucodonosor, podemos encontrar um período de sete anos em que ele esteve ausente do trono e não envolvido em atividades reais de qualquer tipo? A tabela abaixo alista os anos em que as fontes bíblicas e extrabíblicas mostram Nabucodonosor ainda regendo ativamente em seu trono.

Atividade documentada do reinado de Nabucodonosor
EventosReferênciasNabucodonosor no tronoAnos A.E.C.
Batalha de CarquemisJer. 46:2; Jer. 25:1; Dan. 1:1 em dianteAno de ascensão605
Invasão de Judá e as primeiras deportaçõesBM 21946Ano de ascensão605/604
Campanha de HatuBM 219461º ano604/603
O sonho da imagem por NabucodonosorDan 2:1 em diante2º ano603/602
Campanhas em HatuBM 219462º ao 6º anos603 – 599/598
Atividade de construção de NabucodonosorInscrição real (Berger, AOAT 4:1; pág. 108)*7º ano598/597
Segunda deportação. Jeoiaquim trazido a Babilônia 2 Reis 24:11,12; 2 Crôn. 36:10; Jer. 52:28; BM 219467º ano597
Campanhas em Hatu e TigreBM 219468º e 9º anos597 – 596/595
Rebelião no exército de Nabucodonosor. Planos de revolta entre os exilados espalham-se a Judá. Cartas de Jeremias aos exilados. Nabucodo-nosor marcha para Hatu.BM 21946; Jer. 28:1 em diante; Jer. 29:1-3; 4-3010º ano595/594
Campanha de HatuBM 2194611º ano594/593
Atividade de construção de NabucodonosorInscrição real (Berger, AOAT 4:1; pág. 108)*12º ano593/592
Jerusalém sitiada por 2,5 anos, desolada. Terceira deportação.2 Reis 25:1 em diante; Jer. 32:1-2; 52:4-1615º ao 18º anos589-587
Ezequiel prediz sítio de TiroEze 26: 1, 718º ano587
Nabucodonosor sitia Tiro por 13 anosAntiguidades de Josefo X:xi,1: Ap. I:2119º – 32º anos586 – 573/572
Ezequiel confirma o término do sítioEze. 29:17-1833º ano572/571
Nabucodonosor ataca o Egito, conforme preditoBM 33041 (Jer. 43:10 em diante; Eze 29:1-16,19-20)37º ano568/567
Nabucodonosor morre. Ano de ascensão de Evil-Merodaque.Jer. 52:31-34; 2 Reis 25:27-3043º ano562/561
* AOAT 4:1 – Alter Orient und Altes Testament Vol. 4:1 (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1973.)

Como se pode ver, as atividades documentadas de Nabucodonosor parecem excluir uma ausência do trono durante algum período de sete anos. O período mais longo para o qual não temos qualquer evidência de sua atividade, vai do trigésimo sétimo ao quadragésimo terceiro ano dele (que foi o último), um período de aproximadamente seis anos. Este período terminou com sua morte. Deve-se lembrar, porém, que após seus “sete tempos” de loucura, Nabucodonosor foi restabelecido em seu trono e evidentemente governou durante algum tempo depois disso. — Daniel 4:26, 36.

Assim, o que dizer dos “sete tempos?” Referem-se eles necessariamente a anos, como freqüentemente se alega?

Na verdade, a palavra para “tempos” no texto aramaico original de Daniel (singular: ‘iddan) significa geralmente “tempo, período, época” e pode se referir a qualquer período fixo e definido de tempo.34 Admitidamente, a idéia de que os versículos 16, 23, 25 e 32 de Daniel capítulo quatro se referem a anos, não se restringe à Sociedade Torre de Vigia. Este entendimento pode ser encontrado em fontes antigas.

Assim, a Versão Septuaginta (LXX) de Daniel traduziu a palavra como “anos” e o mesmo faz Josefo em Antigüidades X:x,6. Mas o texto da versão LXX de Daniel foi rejeitado pelos primitivos cristãos em preferência à versão grega de Teodocião (normalmente datada por volta de 180 E.C.) que em Daniel capítulo quatro diz “tempos” (do grego kairoi), não “anos”.35 

Que alguns judeus em uma fase inicial interpretavam os “tempos” de Daniel capítulo quatro como “anos” pode-se ver também à base da chamada “Oração de Nabonido”, um documento fragmentário aramaico encontrado entre os rolos do Mar Morto na Caverna 4 de Qumran, e datando de aproximadamente 75-50 A.E.C. Este documento diz que Nabonido foi acometido por uma “inflamação perniciosa . . . por sete anos” no oásis de Temã.36 

Quais são as alternativas? Percebendo que o sentido literal da palavra aramaica ‘iddan não é “ano” e sim “período” ou “época”, Hipólito, do terceiro século, diz que alguns viam um “tempo” como uma das quatro estações do ano. Desse modo “sete estações” seriam menos de dois anos. Todavia, o bispo Teodoreto do quinto século, indicou que os povos dos tempos antigos, tais como os babilônios e persas, falavam de apenas duas estações num ano, verão e inverno, estações seca e chuvosa.37 Este era também o costume entre os hebreus. Na Bíblia não há qualquer referência à primavera e ao outono, apenas às estações do verão e do inverno. Segundo esta linha de raciocínio, as “sete estações” da loucura de Nabucodonosor equivaleriam a três anos e meio.

Alguns dos mais bem conceituados eruditos bíblicos conservadores de épocas recentes, tais como Carl F. Keil e Edward J. Young, ou rejeitam ou nutrem sérias duvidas sobre a teoria de que os “sete tempos” de Daniel capítulo quatro se referem a sete anos. O assiriologista Donald J. Wiseman sugere até que os “sete tempos” deveriam ser entendidos como “sete meses”.38 Qualquer destes pontos de vista aqui mencionados estaria razoavelmente de acordo com a informação que temos sobre o reinado de Nabucodonosor.

Naturalmente, alguns indicarão Revelação capítulo doze, argumentando que, uma vez que os 3 1/2 “tempos” no versículo 14 correspondem aos 1.260 dias (= 3 1/2 anos) do versículo 6, sete tempos devem então equivaler a 2520 dias, ou sete anos.

Todavia, não há qualquer razão para concluir que o modo como o termo “tempos” é usado em Revelação capítulo doze deva também aplicar-se automaticamente a outros contextos. Permanece o fato de que, uma vez que a palavra aramaica ‘iddan significa simplesmente “tempo, período, época”, ela pode se referir a períodos de duração diferente. Ela não se refere ao mesmo intervalo fixo em todos os lugares em que é usada. O contexto é que deve sempre decidir seu significado. E mesmo que se pudesse provar que a expressão “tempo, e tempos e metade de um tempo” que aparece em Daniel capítulo sete, versículo 25, significa três anos e meio, isto ainda não provaria que os “sete tempos” ou “períodos” (TEB) de Daniel capítulo quatro, versículos 16, 23, 25 e 32, significam “sete anos”. Os dois capítulos tratam de dois eventos e períodos muito diferentes e, dessa maneira, não devem ser confundidos.

Na consideração feita até aqui, mostrou-se que não há prova que os tempos dos gentios de Lucas 21:24 sejam uma alusão aos “sete tempos” de Daniel 4. Nem há qualquer evidência mostrando que os “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor prefiguravam outro período, que se refira a 2.520 anos de dominação gentia. Finalmente, demonstrou-se que nem mesmo se pode provar que os “sete tempos” equivalem a sete anos. Estas identificações são obviamente nada mais que conjeturas sem base sólida na própria Bíblia.

C. O Estabelecimento do Reino de Cristo

Conforme se indicou no Capítulo 1 deste livro, as predições do Pastor Russell para 1914 não se cumpriram. Quando a Primeira Guerra Mundial terminou, as nações gentias ainda dominavam a terra em lugar do Reino de Cristo, e Jerusalém, na Palestina, ainda estava ocupada por uma nação gentia. Evidentemente, a época para os eventos esperados não podia estar certa. Mas chegar a esta conclusão simples não era algo fácil. Além do mais, alguma coisa tinha acontecido: a Guerra Mundial.  Desse modo, achava-se que a época estava certa afinal de contas. Por isso, os seguidores de Russell concluíram que estavam esperando “a coisa errada na época certa”.39  

C-1: Expectativas fracassadas — coisas erradas na época certa?

Gradualmente emergiu um novo padrão apocalíptico. A Guerra mundial, com as muitas crises que se seguiram a ela, veio a ser considerada simplesmente como um princípio da derrubada das nações gentias. Em 1922, J. F. Rutherford, o novo presidente da Sociedade, explicou:

Deus concedeu aos gentios uma permissão de domínio por um intervalo de 2.520 anos, intervalo ou permissão esses que terminaram por volta de agosto de 1914. Então veio o Senhor, o governante legal (Ezequiel 21:27), e começou os procedimentos de expulsão. Não se deve esperar que ele repentinamente removesse tudo da existência, pois este não é o modo de Deus fazer as coisas;  e sim que ele dominaria os elementos contendores, fazendo-os destruir a ordem presente; e que enquanto isto prosseguisse, ele teria seus seguidores fiéis dando um tremendo testemunho mundial.40 

Isto nos faz lembrar as explicações posteriores para o fracasso de 1934 dadas pelos editores do Instituto Bíblico Pastoral, abordadas neste capítulo. O estabelecimento do reino de Cristo tinha sido visto antes como um processo iniciado em 1878 e que culminaria em 1914 com a destruição das nações gentias.41 Mas em 1922 o ponto inicial deste processo foi adiantado para 1914 e a derrubada das nações gentias passou a ser esperada para o futuro próximo. Esta nova idéia foi apresentada por J. F. Rutherford no Congresso de Cedar Point de 5 a 13 de setembro de 1922 em seu discurso, “Está Próximo o Reino do Céu”.

Três anos depois, no artigo “O Nascimento da Nação”, em A Torre de Vigia de 1º de março de 1925, apresentou-se uma nova interpretação de Revelação 12:1-6, de acordo com o novo entendimento acerca do estabelecimento do reino de Cristo, segundo o qual esse reino teria “nascido” no céu em 1914. Naquele ano, Jesus Cristo “assumiu seu grande poder e começou a reinar: as nações ficaram furiosas, e começou o dia da ira de Deus. — Ezequiel 21:27; Revelação 11:17, 18.”42  

C-2: O “pisoteamento” da cidade de Jerusalém é mudado

Mas o que dizer do pisoteamento de Jerusalém pelos gentios? Ao fim de 1914 a cidade de Jerusalém ainda estava ocupada por uma nação gentia, o Império Turco. Numa tentativa de “explicar” este fato embaraçoso, o Pastor Russell argumentou que a perseguição dos judeus parecia ter praticamente parado em todo o mundo naquele momento, e ele viu nisto uma confirmação de sua convicção de que os tempos dos gentios tinham expirado. 

Todavia, em dezembro de 1917, mais de um ano após a morte de Russell, aconteceu uma coisa interessante. No dia 9 de dezembro de 1917, os britânicos comandados pelo General Allenby, em aliança com os árabes, capturaram Jerusalém, pondo fim a quase sete séculos de ocupação turca. Este evento foi encarado por muitos cristãos como um sinal dos tempos muito importante.44

A libertação de Jerusalém dos turcos em 1917, juntamente com a chamada Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917, a qual proclamou que o governo britânico apoiava o estabelecimento de uma nação judaica na Palestina, acelerou drasticamente a imigração judaica para a Palestina. Assim, de outubro de 1922 à primavera setentrional de 1929 a população judaica da Palestina dobrou de 83.794 para cerca de 165.000.

Naquele momento a Palestina ainda era administrada por uma nação não-judaica ou gentia (a Inglaterra) e os judeus ainda constituíam apenas uma minoria (aproximadamente vinte por cento) da população na Palestina. Para todos os efeitos, a Palestina e a cidade de Jerusalém ainda eram controladas pelos gentios. Contudo, o presidente da Sociedade Torre de Vigia, J. F. Rutherford, em seu livro Vida, publicado em 1929, insistiu que os tempos dos gentios mencionados por Jesus em Lucas 21:24 tinham expirado em 1914, argumentando que a acelerada imigração judia para a Palestina era a prova tangível em apoio da conclusão de que esta profecia tinha sido cumprida.

Porém, logo após a publicação do livro Vida, esta ideia foi completamente abandonada; o retorno dos judeus à Terra Prometida não era mais visto como um cumprimento de profecias bíblicas. Desde 1931 tais profecias tem sido aplicadas ao Israel espiritual.45 A conseqüência lógica desta mudança só poderia ser que o fim do pisoteamento de Jerusalém não era mais aplicável à cidade literal de Jerusalém:

A atual cidade de Jerusalém na Palestina não é a cidade do Grande Rei Jeová Deus, muito embora a cristandade chame certos lugares dela de “sagrados”. Aquela cidade está condenada à destruição no fim deste mundo. Mas a verdadeira Jerusalém permanecerá para sempre como capital da organização universal de Jeová. Referimo-nos à Nova Jerusalém, sobre a qual Jesus Cristo deu uma visão simbólica ao apóstolo João na ilha de Patmos. . . .

Jesus Cristo é o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” sobre essa verdadeira Jerusalém. Ao fim dos tempos dos gentios em 1914 ele foi empossado como governante em exercício na “cidade do grande Rei”, Jeová. Assim, depois de uma interrupção de 2.520 anos pelos poderes gentios, o Governo Teocrático sobre a terra subiu novamente ao poder na Nova Jerusalém, para nunca mais ser pisado pelos gentios.46 

O que era, exatamente, esta “Nova Jerusalém”? O livro da Torre de Vigia Seja Feita a Tua Vontade na Terra (publicado em português em 1962) explica na página 84:

Lá em 607 A.C., a Jerusalém que foi derrubada representara o reino de Deus, porque tivera o trono típico de Jeová, no qual se assentava o ungido de Jeová como o seu rei. Do mesmo modo, a Jerusalém que está sendo pisada pelas nações mundanas representa o reino de Deus. … Portanto, o fim do tempo de se pisar Jerusalém, no cumprimento completo dos “tempos designados das nações” significaria o ressurgimento da Jerusalém simbólica, a saber, o reino de Deus.

Assim, o fim do pisoteamento de Jerusalém foi interpretado como significando a instalação de Jesus Cristo no trono de Jeová na Jerusalém celestial em 1914.47 Mas esta mudança do “pisoteamento de Jerusalém” da terra para o céu criou outras questões, discutidas a seguir, que nunca foram respondidas satisfatoriamente.

C-3: Foram estabelecidos dois “reinos de Cristo”?

Enfatiza-se constantemente nas publicações da Sociedade Torre de Vigia que Jesus Cristo foi “entronizado” e seu reino foi “estabelecido” no céu ao fim dos tempos dos gentios em 1914. Afirma-se que naquele momento ele começou a reinar “no meio dos seus inimigos” em cumprimento do Salmo 110:1-2. A idéia é que, depois disso, como ação inicial contra estes inimigos, Jesus Cristo expulsou Satanás e seus demônios do céu para o domínio terrestre, em cumprimento de Revelação 12:1-10.48 

Um problema com este cenário é que vários textos bíblicos mostram claramente que Jesus Cristo foi empossado no céu já no momento de sua ressurreição e exaltação. Por exemplo, em sua revelação ao apóstolo João, Jesus disse:

Àquele que vencer, concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com o meu Pai no seu trono. — Revelação 3:21, TNM.

Que o reino de Cristo já existia lá no primeiro século é também confirmado pelo apóstolo Paulo, que em sua carta aos cristãos em Colossos declarou:

Ele [o Pai] nos livrou da autoridade da escuridão e nos transferiu para o reino do Filho do seu amor, mediante quem temos o nosso livramento por meio de resgate, o perdão dos nossos pecados. — Colossenses 1:13-14, TNM.

Se Jesus Cristo foi entronizado na época de sua ressurreição e exaltação e tem governado em seu reino celestial desde então, como é possível alegar que ele foi entronizado e seu reino foi estabelecido em 1914?

Para solucionar este problema a Sociedade Torre de Vigia foi obrigada a concluir que dois reinos de Cristo foram estabelecidos: 1) o “Reino do Filho do Seu Amor” (Colossenses 1:13), estabelecido na época da ressurreição e exaltação de Cristo e 2) o “Reino de Nosso Deus e do Seu Cristo” (Revelação 11:15) que se afirma ter sido estabelecido em 1914.

Observe como a Sociedade Torre de Vigia, em seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras, tenta mostrar a diferença entre estes dois “reinos de Cristo”. Comentando a declaração de Paulo em Colossenses 1:13-14 citada acima, este dicionário declara:

O reino de Cristo, a partir de Pentecostes de 33 EC, tem sido espiritual, governando sobre o Israel espiritual, cristãos que foram gerados pelo espírito de Deus para tornar-se filhos espirituais de Deus. (Jo 3:3, 5, 6)49 

Desse modo, explica-se que este primeiro reino de Cristo foi um reino limitado, com Jesus Cristo governando apenas sobre sua congregação de seguidores de Pentecostes em diante.

Por outro lado, o segundo reino de Cristo é de alcance muito maior e só foi estabelecido em 1914. Em defesa deste ponto de vista, o dicionário supracitado faz referência a Revelação 11:15, onde se diz que o apóstolo João ouviu vozes altas no céu proclamando que “O reino do mundo tornou-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.” (TNM) Explicando esta visão, o dicionário da Sociedade declara:

Este Reino é de proporções e dimensões maiores do que “o reino do Filho do seu amor”, mencionado em Colossenses 1:13. “O reino do Filho do seu amor” teve início em Pentecostes de 33 EC e tem dominado sobre os discípulos ungidos de Cristo; “o reino de nosso Senhor e do seu Cristo” é estabelecido no fim dos “tempos designados das nações” e domina sobre toda a humanidade na terra.50 

Mas, mesmo supondo-se que o reino de Cristo de Pentecostes em diante limitou-se ao domínio dele sobre seus discípulos ungidos (o “Israel espiritual”), como a Sociedade Torre de Vigia defende, a conseqüência deste ponto de vista é que, desde Pentecostes em diante, Cristo, como herdeiro legal do trono de Davi, tem estado sentado no trono de Jeová (Revelação 3:21) na Jerusalém celestial, reinando sobre o Israel espiritual, assim como se dizia que Davi e seu filho Salomão estavam sentados no “trono de Jeová” na Jerusalém terrestre, reinando sobre o Israel carnal.51 

Devido a esta restauração do “reino de Davi” no primeiro século, como é possível afirmar que “Jerusalém”, que se entende ser o Reino de Deus, continuou a ser pisada pelas nações gentias da terra durante todo o período subseqüente, de Pentecostes até 1914?

É claro que as nações gentias não puderam “ascender ao céu” (João 3:13) para interferir no domínio de Cristo durante este período. Nem pode o pisoteamento de “Jerusalém” referir-se à perseguição do “Israel espiritual” (os seguidores de Cristo), uma vez que essa perseguição não parou em 1914. Assim, o que significou realmente o pisoteamento de “Jerusalém” e de que modo ele parou em 1914? Apesar da teoria dos dois reinos de Cristo, esta pergunta ainda está à espera de resposta.

C-4: O domínio universal do Cristo ressuscitado

Será que a Bíblia apóia realmente a idéia de que há dois reinos de Cristo, confiados a ele em duas ocasiões distintas? Foi o “primeiro” reino de Cristo limitado a um governo sobre seus discípulos ungidos de Pentecostes em diante?

Esta idéia parece ser contradita claramente por diversas passagens bíblicas que enfatizam o alcance universal da autoridade dada a Jesus Cristo no momento de sua ressurreição e exaltação. Até mesmo algum tempo antes de sua ascensão, Jesus declarou aos seus discípulos:

Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. — Mateus 28:18, TNM.

O uso do verbo no pretérito, “foi-me dada”, mostra que Jesus Cristo já naquele momento estava de posse de toda a autoridade ou poder no céu e na terra. Que poder adicional, então, poderia possivelmente restar para ser dado a ele em 1914? A posição suprema de Jesus após sua ressurreição foi também acentuada pelo apóstolo Paulo em Efésios 1:20-23:

… ele [Deus] o levantou dentre os mortos e o assentou à sua direita nos lugares celestiais, muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio, e todo nome dado, não só neste sistema de coisas, mas também no que há de vir. Sujeitou também todas as coisas debaixo dos pés dele, e o fez cabeça sobre todas as coisas para a congregação, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que em tudo preenche todas as coisas. (TNM)

Observe que nesta passagem Paulo declara que o domínio de Cristo naquele momento não estava limitado apenas a um reino sobre sua congregação, mas abrangia “todas as coisas”, “todo governo, e autoridade, e senhorio, e todo nome dado”. Similarmente, em Colossenses 2:10 Paulo declara que Cristo é “a cabeça de todo governo e autoridade.” (TNM). E em Revelação 1:5 o apóstolo João enviou saudações “às sete congregações que estão no [distrito da] Ásia” da parte de Jesus Cristo, “o Governante dos reis da terra” (TNM).

Por incrível que pareça, a Sociedade Torre de Vigia, no verbete “Jesus Cristo” de seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras, parece contradizer sua idéia de um reino limitado de Cristo de Pentecostes em diante, declarando que desde sua ressurreição ele “encabeça um governo de expressão universal”. Observe estas notáveis declarações na página 543 do Volume 2:

Depois da sua ressurreição, Jesus informou a seus discípulos: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra”, mostrando assim que ele encabeça um governo de expressão universal. (Mt 28:18) O apóstolo Paulo tornou claro que o Pai de Jesus ‘não deixou nada que não ficasse sujeito [a Jesus]’, com a evidente exceção ‘daquele que lhe sujeitou todas as coisas’, isto é, Jeová, o Deus Soberano. (1Co 15:27; He 1:1-14; 2:8) O “nome” de Jesus Cristo, portanto, é mais excelente do que o dos anjos de Deus, no sentido de que seu nome abrange ou representa a ampla autoridade executiva que Jeová lhe concedeu. (He 1:3, 4) [Ênfase acrescentada.]

Se já por ocasião de sua ressurreição e exaltação tinha sido dada a Jesus Cristo “toda a autoridade no céu e na terra”, e se ele foi desde então “a cabeça de todo governo e autoridade” e “o Governante dos reis da terra” e a partir dali “encabeça um governo de expressão universal” como até mesmo a Sociedade Torre de Vigia reconhece, então como se pode alegar que o reino de Cristo de Pentecostes em diante limitou-se a um domínio sobre sua congregação de seguidores, e que o “reino do mundo” só se tornou “o reino de nosso Deus e do seu Cristo” no ano de 1914?

C-5: Esperando “à direita de Deus” — para quê?

No último dia de sua vida terrestre, Jesus explicou aos membros do Sinédrio, o supremo tribunal judaico, que seu domínio no reino estava prestes a começar, declarando que, “doravante o Filho do homem estará sentado à destra poderosa de Deus.” — Lucas 22:69, TNM.52

Que após sua ressurreição Cristo foi elevado “à destra de Deus” é enfatizado repetidamente pelos escritores do Novo Testamento. A frase “sentado à destra poderosa de Deus” é uma referência ao Salmo 110:1, um texto citado ou referido no Novo Testamento com mais freqüência do que qualquer outra passagem do Velho Testamento.53 Este salmo é consistentemente interpretado pelos escritores do Novo Testamento como uma descrição da exaltação de Cristo ao trono de Deus depois de sua ressurreição.54 Os dois primeiros versículos dizem:

A pronunciação de Jeová a meu Senhor é: “Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para os teus pés.” Jeová enviará de Sião o bastão da tua força, [dizendo:] “Subjuga no meio dos teus inimigos.” — Salmo 110:1-2, TNM.

Para neutralizar o problema criado pela evidência bíblica de que o domínio universal de Cristo “no meio de seus inimigos” começou no momento da ressurreição e exaltação dele, a Sociedade Torre de Vigia explica que esse sentar-se Cristo “à destra de Deus” não significa que ele tem reinado dali em diante, e sim que ele está sentado lá, esperando que seu reino tenha início. Acredita-se que a maneira como Hebreus 10:12-13 faz referência ao Salmo 110:1-2 dá apoio a esta ideia:

Quando Cristo retornou ao céu após sua ressurreição, não foi então que começou a dominar qual Rei do governo de Deus. Em vez disso, havia de ocorrer um tempo de espera, conforme explica o apóstolo Paulo: “Este homem [Jesus Cristo] ofereceu um só sacrifício pelos pecados, perpetuamente, e se assentou à direita de Deus, daí em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés.” (Hebreus 10:12, 13) Quando chegou o tempo para Cristo começar a dominar, Jeová disse-lhe: “Subjuga [ou, conquista] no meio dos teus inimigos.”55

A imagem de um rei como que se sentando no trono de seu deus era também usada nos tempos bíblicos fora da Bíblia, da mesma forma que a imagem de inimigos subjugados sendo postos como escabelo sob os seus pés. – Denkmäler aus Aegypten und Aetiophlen, R. Lepsius (Berlim 1849-58), Vol. 5, Bl. 62 e 69a; Statuen und Statuetten von Königen und Privatleuten, L. Borchardt (Berlim, 1925), Bl. 93:554; O Simbolismo do Mundo Bíblico, O. Keel (em inglês – Winona Lake: Eisenbrauns, 1997, págs. 255, 263.

Todavia, esta explicação da palavra “esperando” em Hebreus 10:12-13 cria outros problemas. Em seu esboço sobre o reinado de Cristo em 1 Coríntios 15:24-28, o apóstolo Paulo concluiu dizendo que “quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas [isto é, a Cristo], então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos.” Esta declaração faz surgir a seguinte pergunta:

1. Se Cristo teria de esperar até que Deus tivesse posto todos os seus inimigos sob seus pés antes de seu domínio começar, e se então, “quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas”, ele entregaria o reino a Deus, o que seria do reinado dele? Quando viesse o tempo para ele começar a reinar, já estaria na hora de ele entregar o reino a Deus!

Outra pergunta gerada pela explicação da Sociedade Torre de Vigia é esta:

2. Se Cristo só poderia começar a governar quando Deus tivesse colocado todos os seus inimigos como escabelo para os pés dele, e se o reino de Cristo começou em 1914, como é possível afirmar que todos os inimigos —incluindo “o último inimigo, a morte” (1 Coríntios 15:25) — foram colocados sob seus pés naquele momento?

Estranhamente, a Sociedade Torre de Vigia admite que estes inimigos ainda estavam ativos no momento da entronização de Cristo em 1914, de forma que o governo dele começou “no meio de seus inimigos”. De fato, afirma-se que a primeiríssima ação dele como rei foi atacar seus principais inimigos, Satanás e seus anjos, os quais se supõem terem sido expulsos do céu em 1914!56 

De modo que uma terceira pergunta a se fazer é:

3. Se Cristo não podia começar a reinar até que Deus lhe tivesse posto todos os inimigos sob seus pés, como pôde o reino dele ter começado “no meio de seus inimigos”, e por que teve ele de iniciar este governo travando uma guerra contra eles?

É óbvio que uma interpretação que é tão flagrantemente inconsistente assim, não pode estar correta. A “espera” de Cristo à destra de Deus não pode ser uma espera pelo início de seu domínio. Em vez disso, conforme é mostrado por outras passagens paralelas, ela tem sido uma espera pelo fim do reino dele “no meio de seus inimigos”, para atingir sua fase conclusiva.

Estar Cristo sentando à destra de Deus não pode ter sido um período de espera passiva por Deus colocar os inimigos sob seus pés. É verdade que Deus é repetidamente apresentado como aquele que põe os inimigos sob os pés de Cristo. Porém, conforme já se mostrou no Salmo 110:1-2, é o próprio Cristo que toma ação contra estes inimigos, embora no poder dado a ele por Deus. O convite de Jeová para que ele se sente à sua destra é seguido pelas palavras:

Jeová enviará de Sião o bastão da tua força, [dizendo:] “Subjuga no meio dos teus inimigos.”

O texto indica claramente que esta regência ativa no meio dos inimigos começaria assim que Cristo tivesse se sentado à direita de Deus, não depois de um período de espera de cerca de 1900 anos. Desse modo, a “espera” de Cristo é mais bem explicada como sendo aguardar com expectativa ansiosa o resultado final de seu próprio exercício de governo ativo, a vitória final e completa sobre seus inimigos.57 

Esta é evidentemente a maneira como o apóstolo Paulo entendeu Cristo estar sentado à direita de Deus, a saber, como um período de sua regência ativa até que ele pusesse todos os inimigos sob seus pés. Em sua primeira carta aos coríntios, Paulo explica:

A seguir, chegará o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo principado, toda autoridade, todo poder. Pois é preciso que ele reine, até que tenha posto todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. — 1 Coríntios 15:24, 25, BEP.

Observe que Paulo está dizendo que Cristo deve reinar até que — não a partir do momento em que — os inimigos sejam postos debaixo de seus pés. Segundo Paulo, Cristo tem governado como rei desde sua ressurreição e exaltação. É claro que os inimigos de Cristo existiam também naquela época. Desse modo, o reinado dele, daquele momento em diante, tem sido necessariamente um reino “no meio de seus inimigos”.

A declaração de Paulo indica que o propósito básico do reinado de Cristo é conquistar e subjugar estes inimigos. Quando este propósito estiver cumprido, ele entregará o reino a Deus. Conforme observa aptamente o comentarista bíblico T. C. Edwards em seu comentário sobre esta passagem:

Este versículo significa que Cristo reina até que Ele tenha posto todos os inimigos sob Seus pés, depois de prolongada guerra. Dessa forma, o reinado de Cristo não é um milênio de paz, e sim um conflito perpétuo que termina num glorioso final.58 

Assim, investido com “toda a autoridade no céu e na terra”, Cristo tem governado e até “subjugado no meio de seus inimigos”, desde o momento de sua ressurreição e exaltação ao trono de Deus. Quem são estes “inimigos” e de que modo Cristo os tem “subjugado” desde então?

C-6: Reinando “no meio de seus inimigos”

No Salmo 110:5-6 os inimigos a serem subjugados são retratados como reis da terra e nações:

O próprio Jeová, à tua direita, há de despedaçar reis no dia da sua ira. Executará julgamento entre as nações; causará uma plenitude de corpos mortos. Ele há de despedaçar aquele que é cabeça sobre uma terra populosa.59 

Todavia, no Novo Testamento a atenção se volta dos inimigos visíveis para os poderes hostis do mundo espiritual. Sem dúvida, a razão para isto é que a destruição de reis da terra e nações hostis ao reino de Cristo não livrará o universo dos verdadeiros inimigos — os poderes espirituais, que por meio do pecado e de sua conseqüência, a morte, mantêm os homens em escravidão. Conforme Paulo explica, nossa pugna é “não contra sangue e carne, mas contra os governos, contra as autoridades, contra os governantes mundiais desta escuridão, contra as forças espirituais iníquas nos lugares celestiais.” — Efésios 6:12, TNM.

São estes poderes espirituais que os escritores do Novo Testamento, em 1 Coríntios 15:24-26 e em qualquer passagem, identificam como os principais inimigos de Cristo, os quais ele tem combatido e aos quais finalmente reduzirá “a nada”.60  

É claro que, investido com “toda a autoridade no céu e na terra” seria uma tarefa simples para Cristo reduzir imediatamente a nada todos estes poderes hostis. Algumas passagens bíblicas realmente apresentam a guerra como já ganha no momento da ressurreição e exaltação de Cristo, e os poderes como já conquistados e subjugados. (Colossenses 2:15; 1 Pedro 3:22) Porém, essa linguagem é usada evidentemente para descrever o poder de amplo alcance e a elevada posição de Cristo desde sua ressurreição, “muito acima de todo governo, e autoridade, e poder.” (Efésios 1:21-22) Como o autor da carta aos Hebreus esclarece, há mais envolvido, uma vez que “ainda não vemos todas as coisas sujeitas a ele”. — Hebreus 2:8, TNM.

Se os principais inimigos de Cristo são os poderes espirituais hostis, a “subjugação” de Cristo no meio deles dificilmente significaria que ele os está subjugando em uma prolongada guerra física ou literal. Conforme explicado pelo apóstolo Paulo, Satanás, “o governante da autoridade do ar, o espírito que agora opera nos filhos da desobediência”, é capaz de manter os homens em escravidão por causa das falhas e pecados deles. (Efésios 2:1-2, TNM) Através da morte de Cristo, porém, Deus proveu um “livramento por meio de resgate, o perdão dos nossos pecados” por meio do qual se possibilitou que o homem fosse ‘livrado da autoridade da escuridão e … transferido para o reino do Filho do seu amor’. — Colossenses 1:13-14, TNM.

Através dos séculos, milhões e milhões de pessoas, por meio de sua fé em Cristo, têm sido livradas da “autoridade da escuridão”. Por tais conquistas “no meio de seus inimigos” o reino de Cristo tem aumentado e realmente provado ser vitorioso.

Assim, a Bíblia apresenta a morte de Cristo pelos nossos pecados como um momento decisivo para a humanidade e como uma vitória decisiva sobre Satanás, o líder dos poderes hostis do mundo espiritual. (Hebreus 2:14-15) Embora ainda ativos, o poder e a influência deles têm sido restrito e controlado desde então. Eles não conseguiram impedir que as boas novas sobre Jesus Cristo alcançassem um crescente número de pessoas ao redor do mundo, tornando possível que elas fossem libertas da “autoridade da escuridão” e trazidas sob a autoridade de Cristo.

C-7: A “expulsão” de Satanás

Na linguagem figurativa da Bíblia, a elevação de uma pessoa a uma alta posição pode ser comparada com tal pessoa ser “exaltada ao céu” ou “aos céus” onde ela pode ser comparada a uma estrela.61 De maneira correspondente, a humilhação de uma pessoa, sua derrota ou queda de uma alta posição, podem ser comparadas a tal pessoa ser lançada para baixo ou cair “do céu”.62 Em sua predição da queda do orgulhoso e arrogante rei de Babilônia, o profeta Isaías usou esta imagem retórica:

“Como caíste do céu, ó tu brilhante, filho da alva! . . . No que se refere a ti, disseste no teu coração: ‘Subirei aos céus. Enaltecerei o meu trono acima das estrelas de Deus e assentar-me-ei no monte de reunião, nas partes mais remotas do norte. Subirei acima dos altos das nuvens; assemelhar-me-ei ao Altíssimo.’“Todavia, no Seol serás precipitado, nas partes mais remotas do poço. — Isaías 14:12-15, TNM.63  

Jesus também usou uma linguagem similar ao falar sobre a cidade de Cafarnaum, que ele tinha escolhido como sua moradia e onde ele tinha executado muitos de seus milagres. (Mateus 4:13-16) Esta, porém, não haveria de ser uma razão para a cidade se orgulhar:

E tu, Cafarnaum, serás por acaso enaltecida ao céu? Até o Hades descerás! — Lucas 10:15, TNM.

Outro exemplo deste modo de discursar é encontrado nos versículos subseqüentes, que falam dos setenta discípulos enviados por Jesus e que então retornavam com alegria dizendo: “Senhor, até mesmo os demônios nos ficam sujeitos pelo uso do teu nome.” O alegre relatório deles foi evidentemente devido ao seu sucesso em expulsar demônios, graças ao poder que lhes foi conferido por Jesus ao enviá-los. (Lucas 10:1, 19) Em resposta, Jesus disse: “Comecei a observar Satanás já caído como relâmpago do céu.” — Lucas 10:17-18, TNM.

Não parece provável que Jesus quis dizer que viu Satanás caindo literalmente do céu. Em vez disso, sua declaração expressou vividamente a excitação que ele sentiu diante do relatório dos discípulos, pois ele sabia que o ministério bem-sucedido deles (assim como o seu próprio) pressagiava a iminente queda de Satanás de sua posição de poder.

Que a morte, ressurreição e exaltação de Jesus Cristo significariam uma derrota decisiva para Satanás é também indicado pelo que ele disse aos judeus quando chegou a Jerusalém, alguns dias antes de sua morte:

Agora há um julgamento deste mundo; agora será lançado fora o governante deste mundo. — João 12:31, TNM.

Evidentemente é esta vitória sobre Satanás e seus anjos que é descrita num cenário simbólico em Revelação 12:1-12. Em uma visão o apóstolo João viu “no céu” uma mulher grávida, “vestida do sol e tendo a lua debaixo dos seus pés, e na sua cabeça havia uma coroa de doze estrelas”. Um grande dragão com sete cabeças, identificado depois como “a serpente original, o chamado Diabo e Satanás”, foi visto parado diante da mulher, pronto a devorar seu filho. A mulher “deu à luz um filho, um varão, que há de pastorear todas as nações com vara de ferro. E o filho dela foi arrebatado para Deus e para o seu trono.” — Revelação 12:1-5, TNM.

A mulher vestida do sol, o dragão de sete cabeças, e o filho arrebatado para o trono de Deus, conforme representados na revista A Sentinela de 1º de novembro de 1981, página 20. Segundo o ensino atual da Torre de Vigia, este cenário profético se cumpriu em 1914, momento em que se afirma que o reino de Cristo (o filho) foi estabelecido (nasceu) da “organização celestial de Deus” (a mulher), apesar dos esforços de Satanás (o dragão) para impedir a entronização de Cristo.

Não é possível que isso represente o estabelecimento do reino de Cristo no céu em 1914, como defende a Sociedade Torre de Vigia. Como poderia o reino de Cristo estar tão frágil em 1914, a ponto de correr o risco de ser devorado por Satanás, tendo de ser “arrebatado” das mandíbulas dele para o trono de Deus? Esta idéia está no mais gritante contraste com o ensino do Novo Testamento segundo o qual, desde sua ressurreição, Cristo está de posse de “toda a autoridade no céu e na terra” e está exaltado “muito acima de todo governo, e autoridade, e poder”. — Mateus 28:18; Efésios 1:21, TNM.

Houve apenas uma vez em que Jesus Cristo esteve evidentemente em uma situação tão vulnerável que Satanás achou que poderia “devorá-lo”, e isso foi durante a vida terrestre dele. Foi durante este período que Satanás tentou frustrar o “nascimento” de Cristo como rei do mundo. Desde os infanticídios em Belém até a execução final dele sob Pôncio Pilatos, Jesus foi seu alvo principal. Todavia, Satanás não foi bem-sucedido, pois Cristo foi ressuscitado e “arrebatado para Deus e para o seu trono”.

Conforme já se observou freqüentemente, a apresentação da entronização de Cristo como um “nascimento” em Revelação 12:5 é uma alusão ao Salmo 2:6-9:

“Eu é que empossei o meu rei em Sião, meu santo monte.” Cite eu o decreto de Jeová; Ele me disse: “Tu és meu filho; hoje eu me tornei teu pai. Pede-me, para que eu te dê nações por tua herança e os confins da terra por tua propriedade. Tu as quebrantarás com um cetro de ferro, espatifá-las-ás como se fossem um vaso de oleiro.” (TNM)

Os escritores do Novo Testamento aplicam repetidamente este salmo à exaltação de Cristo à destra de Deus. (Atos 13:32-33; Romanos 1:4; Hebreus 1:5; 5:5)64 Da mesma forma que Revelação 12:5, este salmo messiânico também fala de Cristo como tendo recebido o poder para quebrantar as nações “com um cetro de ferro”.65 

Em Revelação 12:7-12, outro cenário “no céu” é apresentado a João, um cenário de guerra: “Miguel e os seus anjos batalhavam com o dragão, e o dragão e os seus anjos batalhavam” com eles. A batalha terminou com uma completa derrota para Satanás e seus anjos:

Assim foi lançado para baixo o grande dragão, a serpente original, o chamado Diabo e Satanás, que está desencaminhando toda a terra habitada; ele foi lançado para baixo, à terra, e os seus anjos foram lançados para baixo junto com ele. E ouvi uma voz alta no céu dizer: “Agora se realizou a salvação, e o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, porque foi lançado para baixo o acusador dos nossos irmãos, o qual os acusa dia e noite perante o nosso Deus!” — Revelação 12:9-10, TNM.

A exclamação que se segue à “expulsão” de Satanás e seus anjos, segundo a qual “agora se realizou a salvação, e o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo” aponta claramente para o tempo da morte, ressurreição e exaltação de Cristo, a quem havia sido dada naquele momento toda a autoridade no céu e na terra.

Que a “guerra no céu” dificilmente poderia ser entendida como uma guerra literal é indicado pelos versículos seguintes. Quando Satanás foi lançado à terra, ele perseguiu a “mulher” celestial e então “foi travar guerra com os remanescentes da sua semente” que “têm a obra de dar testemunho de Jesus” (Revelação 12:13-17). O versículo 11 declara que os seguidores de Cristo que se tornaram os mártires nesta guerra “o venceram [isto é, a Satanás] por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do seu testemunho”.

Isto explica a natureza da “guerra”: Por meio de sua morte como cordeiro sacrificial, Cristo venceu Satanás e provocou sua “queda do céu.” Os mártires cristãos são apresentados como participantes nesta vitória, sendo habilitados a vencer Satanás “por causa do sangue do Cordeiro”. Satanás, o “acusador”, não é mais capaz de acusá-los “dia e noite perante o nosso Deus” porque, através da morte de Cristo, os pecados deles são perdoados. Ou seja, para todos os efeitos, a “guerra no céu” é uma representação figurativa da vitória de Cristo sobre Satanás por meio de sua morte sacrificial como Cordeiro. É óbvio que esta “guerra” não tem nada que ver com o ano de 1914.

Conforme se mostrou até aqui, a predição fracassada de que o pisoteamento de Jerusalém terminaria em 1914 necessitou de uma reinterpretação. Quando o ano de 1914 passou e a cidade de Jerusalém continuava a ser controlada por nações gentias, a Sociedade Torre de Vigia finalmente mudou o local para a Jerusalém celestial, argumentando que o pisoteamento teve fim com o estabelecimento do reino de Cristo no céu em 1914.

Todavia, mostrou-se que esta idéia está em contradição com diversos textos bíblicos, os quais estabelecem incontestavelmente que o reino universal de Cristo foi estabelecido na época da ressurreição e exaltação dele, momento em que ele começou também a reinar “no meio de seus inimigos”.

Finalmente, a alegação de que Satanás foi expulso do céu em 1914 foi examinada e revelada como biblicamente insustentável. A Bíblia mostra claramente que a “queda de Satanás” foi ocasionada pela morte e ressurreição de Cristo.

Assim, diversos eventos que a Sociedade Torre de Vigia alega terem ocorrido em 1914, ocorreram na verdade na época da morte, ressurreição e exaltação de Cristo, segundo a Bíblia.

O que dizer, então, de 1914? Tem este ano qualquer significado profético, afinal de contas?

D. 1914 em Perspectiva

Conforme foi abordado no Capítulo 1 deste livro, as revoluções na Europa e em outras partes do mundo, provocadas pela Revolução Francesa e pelas Guerras Napoleônicas, levaram muitos a acreditar que o “tempo do fim” tinha começado em 1798 ou por volta daquele ano, e que Cristo retornaria antes do fim daquela geração. Numerosas programações para os eventos do fim dos tempos foram apresentadas, as quais tiveram de ser depois abandonadas ou revisadas.

Quando finalmente o século dezenove passou e os eventos caóticos que haviam inaugurado aquele século ficaram cada vez mais distantes no passado, a significação profética que havia sido associada ao período esvaziou-se e foi logo esquecida pela maioria das pessoas.

Os eventos caóticos de 1914-18 também pertencem agora à parte inicial do século passado. É possível que as interpretações associadas à data 1914 também se esvaziem e sejam finalmente abandonadas e esquecidas? Há razões para acreditar que esta data não será abandonada tão facilmente assim.

Não é apenas uma questão de uma cronologia estar errada e precisar ser corrigida. As reivindicações peculiares ao movimento da Torre de Vigia estão firmemente conectadas com o ano de 1914.

Se os líderes da organização Torre de Vigia admitissem que o reino de Cristo não foi estabelecido em 1914 e que Cristo não voltou invisivelmente naquele ano, teriam de admitir também que Cristo não fez qualquer inspeção específica das denominações cristãs naquele momento e não designou os membros do movimento russelita “sobre os seus domésticos” em 1919. Então teriam de admitir que sua alegação de serem o “canal” e “porta-voz” exclusivos de Deus na terra é falsa, e que por quase todo um século mantiveram-se no cenário mundial num falso papel com uma falsa mensagem.

A identidade da organização está tão “investida” na data 1914, que seria um tremendo passo admitir que o sofisticado sistema de explicações proféticas embutido nessa data nada mais é que um produto da imaginação. Confessar isto abertamente requereria uma grande dose de coragem e humildade. Não parece provável que os líderes atuais da organização estejam dispostos a invalidar desta maneira uma data a que se atribui tanto significado profético.

Ademais, a Sociedade Torre de Vigia insiste que não apenas sua cronologia, mas também os acontecimentos desde 1914 provam que esta data marcou o início do “tempo do fim”.66 Referindo-se à profecia de Jesus em Mateus 24, afirma-se que as guerras, fomes, pestilências, terremotos, crimes e outras calamidades desde 1914 constituem o “sinal” da “presença invisível” de Cristo a partir daquele ano. Embora admita que as gerações anteriores também tiveram seu quinhão de tais calamidades, a Sociedade Torre de Vigia alega que elas aumentaram numa escala sem precedentes desde 1914. É isto verdadeiro?

Para conferir se esta afirmação é correta, é necessário verificar a extensão destas calamidades em séculos anteriores, algo que até agora nunca foi feito nas publicações da Torre de Vigia. Como o passado é obscuro para a maioria das pessoas, geralmente é fácil convencê-las de que o período desde 1914 tem sido mais calamitoso do que períodos anteriores. A maioria das pessoas pode achar difícil de acreditar que esta conclusão é refutada pelo cuidadoso exame da amplitude das calamidades no passado.

Um exame da história mostra que a maioria das calamidades mencionadas por Jesus em Mateus 24 não aumentou desde 1914, e que algumas delas, tais como fomes e pestilências, até mesmo diminuíram notavelmente desde aquele ano! A evidência histórica disto é abordada na obra O Sinal dos Últimos Dias — Quando?67

Se 1914 não marcou o fim dos tempos dos gentios, nem o início da presença invisível de Cristo, por que a Primeira Guerra Mundial irrompeu numa data predita com trinta e nove anos de antecedência? Isto pode parecer muito notável. Todavia, deve-se lembrar em primeiro lugar que nenhuma das coisas preditas para ocorrerem naquela data ocorreu de fato. Em segundo lugar, numerosas datas haviam sido marcadas para a segunda vinda de Cristo e também para o fim dos tempos dos gentios. Às vezes ocorre de uma data predita coincidir acidentalmente com algum importante evento histórico, embora o próprio evento não tenha sido predito. Uma coincidência desse tipo pode ser quase inevitável se praticamente todos os anos durante determinado período forem apontados com antecedência por vários expositores!

Das muitas datas marcadas para o final dos tempos dos gentios, algumas estavam muito próximas de 1914: 1915 (Guinness, em 1886), 1917 (J. A. Brown, em 1823), 1918 (Bickersteth, em 1850), 1919 (Habershon, em 1844), 1922 (Os Tempos  Proféticos, dezembro de 1870, em inglês) e 1923 (Guinness, em 1886).68 

A Sociedade Torre de Vigia fez muitas predições referentes a 1914, mas o irrompimento de uma guerra de vulto na Europa não foi uma delas. Esta guerra não conduziu à “anarquia universal” que tinha sido predita. O fato de um evento de vulto ter ocorrido naquele ano não é algo notável. Um tanto mais notável é quando uma data predita ocasiona um evento que tem certa relação aparente com os eventos preditos para a data em questão. Isto ocorreu também. Por exemplo, segundo disse John Aquila Brown em 1823, “a plena glória do reino de Israel … seria completada” em 1917.69 Embora isto não tenha ocorrido em 1917, foi dado um passo importante naquele ano para o estabelecimento do Estado de Israel.70 

Mais notável ainda foi a predição de Robert Fleming de que a monarquia francesa cairia perto do fim do século dezoito, uma predição feita quase cem anos antes desse evento!

O livro de Fleming, A Ascensão e a Queda do Papado, foi publicado originalmente em inglês em 1701. Comentando sobre a quarta tigela, mencionada em Revelação 16:8-9, ele identifica o “sol” com o Papado, sendo a França o instrumento que despejaria a quarta tigela. Depois disso, a própria França seria humilhada:

É justo supormos que a monarquia francesa, após ter abrasado outros, irá consumir-se mais ou menos assim — sua chama, e aquilo que é o combustível que a mantém, esbanjado estupidamente, até que seja exaurido perto do fim deste século.71

Eu só espero que alguma nova humilhação dos principais apoiadores do Anticristo ocorra em seguida; e talvez a monarquia francesa possa começar a ser consideravelmente humilhada por volta dessa época; que enquanto o atual rei francês toma o sol como seu emblema, e “Nec pluribus impar” [“Não inferior a muitos”] como sua divisa, ele, ou melhor, seus sucessores, e a própria monarquia (pelo menos antes do ano de 1794) seja finalmente obrigado a reconhecer que, com respeito aos potentados vizinhos, ele é realmente “Singulis impar” [“Inferior a todos”]. Mas no que se refere à finalização desta tigela, temo que só venha no ano de 1794.72 

Logo após a proclamação da República em 1792, quando os horrores da Revolução Francesa estavam em seu auge e Luís XVI estava prestes a morrer no cadafalso, as notáveis “predições” de Fleming foram relembradas. Assim o livro dele começou a ser reimpresso tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. A sensação produzida por suas predições foi grande e causou muita excitação; sendo o cumprimento (parcial) delas um forte incentivo para o incrementado estudo das profecias bíblicas após a Revolução Francesa.

O cálculo de Fleming dos 1.260 anos-dias (552-1794) foi adotado por muitos outros, embora a data de encerramento destes tenha sido logo mudada por muitos de 1794 para 1798, ano em que o Papa foi deposto como governante dos Estados Papais e banido pelas tropas francesas.

Foi assim que 1798 veio a ser considerado pelos grupos adventistas como a data que marcava o início do “tempo do fim”. O cálculo foi depois adotado também por C. T. Russell e seus seguidores, sendo mudado ligeiramente (na década de 1880) para o ano seguinte, 1799. Os Adventistas do Sétimo Dia ainda crêem que o “tempo do fim” começou em 1798. Não deveriam predições “cumpridas” desta espécie ajudar-nos a ter um ponto de vista mais sóbrio sobre a data 1914?

Nos Capítulos 3 e 4 deste livro apresentou-se mui forte evidência contra a data 607 A.E.C. como o ano da destruição de Jerusalém e ponto inicial do cálculo de 2.520 anos para os tempos dos gentios.

No Capítulo 5 demonstrou-se que a profecia dos setenta anos harmoniza-se bastante com a data 587 A.E.C. para a queda de Jerusalém diante de Nabucodonosor. Portanto, os 2.520 anos não podem ter terminado em 1914.

Daí, neste capítulo, mostrou-se que uma mudança da data de finalização desses tempos de 1914 para 1934 resultou apenas em mais uma profecia fracassada. Em seguida, levantou-se a questão: “É o cálculo dos 2.520 anos realmente um cálculo bíblico bem fundamentado?” O exame que se seguiu demonstrou que não. Por fim, a reavaliação do significado da data 1914 nas publicações da Torre de Vigia desde 1922 foi examinada e revelada como deficiente.

Por todas estas razões, não deveria a data 1914 ser completa e inteiramente descartada como o ponto central na aplicação de profecias bíblicas à nossa época? A resposta deveria ser evidente.

E. Algumas Observações Sobre os “Tempos dos Gentios” de Lucas 21:24

O que dizer, então, do período chamado de “tempos do gentios?” Se não se refere a um intervalo de 2.520 anos, a que período poderia esta expressão se referir?

A frase “tempos dos gentios” (“tempos designados das nações”, TNM) aparece na longa profecia de Jesus conhecida como Discurso do Monte das Oliveiras. Este discurso é registrado por todos os três Evangelhos Sinópticos (Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21). Porém, só Lucas usa a expressão “tempos dos gentios” (kairoí ethnôn). A frase é usada com referência à predição de Jesus sobre o então futuro julgamento de Jerusalém e da nação judaica. Declarando que haveria “grande angústia na terra e furor contra este povo”, Jesus prosseguiu explicando como este “furor” se abateria sobre o povo:

Cairão pela espada, e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Até que os tempos dos gentios (kairoí ethnôn) se completem, Jerusalém será pisada por eles. — Lucas 21:24, ALF 

De acordo com o padrão da língua inglesa, os tradutores normalmente utilizaram o artigo definido ao verterem kairoí ethnôn como “os tempos dos gentios”*. Em grego, o uso do artigo definido indicaria um período definido e bem conhecido. Todavia, uma vez que o artigo definido não se encontra no texto grego, a frase “tempos dos gentios” pode se referir a um período indeterminado, em vez de um período específico já conhecido dos leitores (ou ouvintes).

As palavras kairoí ethnôn têm sido interpretadas de maneira variada através dos séculos. O comentarista bíblico Dr. Alfred Plummer observou:

Não é possível interpretar com certeza a expressão “épocas dos gentios” ou “oportunidades dos gentios”. Ela pode significar (1) Épocas para a execução de julgamentos divinos; ou (2) para dominar sobre Israel; ou (3) para existir como gentios; ou (4) para eles próprios se tornarem alvos dos julgamentos divinos;  ou (5) Oportunidades de voltarem para Deus;  ou (6) de adquirirem os privilégios que os judeus perderam. A primeira e a última destas opções são as melhores, e elas não são mutuamente exclusivas.73 

Alguns comentários podem ser necessários para esclarecer as implicações de cada uma destas alternativas:

(1) Épocas para a execução de julgamentos divinos

Vários expositores entendem que os “tempos dos gentios” são o período atribuído aos exércitos gentios de Roma para executar o julgamento divino na nação judaica e sua capital. Como o período necessário para esmagar a rebelião judaica e recapturar Jerusalém durou aproximadamente três anos e meio — desde a chegada dos exércitos de Vespasiano à Galiléia, na primavera setentrional de 67, até a desolação de Jerusalém pelos exércitos de Tito, no outono setentrional de 70 E.C. — estes expositores geralmente igualam também os “tempos dos gentios” com os “42 meses” de Revelação 11:2, período no qual os gentios “pisariam a cidade santa”.74

(2) Épocas para dominar sobre Israel

Sob este ponto de vista os “tempos dos gentios” são entendidos como uma referência ao período de dominação gentia sobre Jerusalém, datando ou a partir de 70 E.C. ou a partir de um momento anterior.

É certamente verdade que, após a destruição da cidade no ano 70 E.C., Jerusalém foi controlada por um número sucessivo de nações não-judaicas:  Roma (até 614 E.C.), Pérsia (até 628 E.C.), o Império Bizantino (até 638 E.C.), o Império Sarraceno (até 1073 E.C.), os Seljuques (até 1099), o Reino Cruzado Cristão (até 1291 E.C., interrompido por breves intervalos de controle egípcio), Egito (até 1517 E.C.), Turquia (até 1917 E.C.), Grã Bretanha (até 1948 E.C.), e Jordânia (até 1967, quando Israel obteve o controle da antiga cidade murada de Jerusalém).75

Muitos expositores consideram este longo período de dominação gentia como os “tempos dos gentios”, ou pelo menos como uma parte deste período, argumentando que a restauração do estado de Israel assinala o fim dos “tempos dos gentios”. Por isso, muitos destes expositores crêem que os “tempos dos gentios” terminaram em 1948 ou em 1967.76 

(3) Épocas para existir como gentios

Segundo este ponto de vista, Jesus estava dizendo que Jerusalém seria pisoteada por nações gentias enquanto houvesse qualquer nação gentia na terra. Considera-se que os “tempos dos gentios” referem-se simplesmente ao período inteiro da história humana durante o qual houve e haverá nações na terra.

Se podemos afirmar que os judeus retomaram o pleno controle de Jerusalém em 1967, deve-se concluir que as nações gentias continuaram a existir na terra após o fim dos “tempos dos gentios”. Isto naturalmente invalidaria o ponto de vista em discussão.

Todavia, pode-se argumentar também que, embora os judeus estejam controlando Jerusalém desde 1967, a parte mais central da cidade, o local do antigo templo, ainda está nas mãos dos árabes e este local ainda está ocupado pelo edifício muçulmano chamado “Zimbório da Rocha”. Por isso, pode-se afirmar que Jerusalém ainda está sendo “pisoteada” ou profanada pelos “gentios.”

(4) Épocas para os gentios se tornarem alvos dos julgamentos divinos

Os defensores deste ponto de vista argumentam que os “tempos dos gentios” referem-se ao período de julgamento das nações gentias. Dessa forma, este período ainda é futuro. Assim como a guerra romana contra os judeus no período 67-70 E.C. foi uma época de julgamento da nação judaica, haverá também uma época de julgamento das nações gentias. Enquanto estes “tempos dos gentios” não chegarem, eles continuarão pisoteando Jerusalém.77 

(5) Oportunidades de voltar para Deus

Os defensores desta idéia associam os “tempos dos gentios” com a declaração de Paulo em Romanos 11:25, segundo a qual “Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegue a plenitude dos gentios. (NVI). Argumenta-se que os “tempos dos gentios” têm relação com esta “plenitude dos gentios” e referem-se aos tempos da missão gentia. Este entendimento significa evidentemente que os “tempos dos gentios” começaram com a conversão de Cornélio. (Atos 10:1-48) Da mesma forma que os tempos de pisoteamento de Jerusalém por nações gentias, estes tempos da missão gentia continuarão “até que chegue a plenitude dos gentios”.78 

(6) Oportunidades de adquirir os privilégios que os judeus perderam

Esta ideia tem relação com a anterior. Devido à falta de fé, a nação judaica foi julgada e os privilégios foram tirados dos judeus e oferecidos ao gentios. (Mateus 21:43) O período durante o qual estes privilégios estão disponíveis aos gentios é considerado como os “tempos dos gentios.”

Como se pode ver, há várias interpretações possíveis da frase “tempos dos gentios”, mesmo sem a aplicação do “princípio ano-dia” ao período. Deve-se reconhecer que a frase em si mesma aparece na Bíblia sem qualquer qualificação específica acompanhante. Determinar qual(is) ideia(s) dá(ão) maior evidência de validade requereria uma discussão detalhada e extensa de cada uma das várias alternativas. Tal análise está além do escopo deste trabalho, uma vez que o propósito principal aqui foi examinar a interpretação da Sociedade Torre de Vigia acerca dos “tempos dos gentios” e demonstrar por que essa interpretação é tanto histórica como biblicamente insustentável. De modo que qualquer discussão adicional dos fatores envolvidos no significado da frase “tempos dos gentios”, terá de ser reservada para outra ocasião.

Notas

1 – Luz Para os Últimos Dias, H. Grattan Guinness (em inglês – Londres, 1886).

2 – Os outros eram 741, 738, 727, 713, 676, 650-647 e 598.

3 – A maioria destes expositores parecia desperceber o fato de que o próprio Guinness já tinha revisado sua cronologia em 1909, em seu livro Sobre a Rocha (em inglês), e “tinha calculado que o fim ocorreria em 1945 em vez de 1934”. — Armagedom Agora!, Dwight Wilson (em inglês – Tyler, Texas: Instituto de Economia Cristã, 1991), págs. 90-91.

4 – O Instituto Bíblico Pastoral (sigla em inglês: P.B.I.) era liderado por ex-membros da diretoria da Sociedade Torre de Vigia, que tinham sido demitidos ilegalmente por J. F. Rutherford em 1917, juntamente com outros membros proeminentes.

5 – O Arauto do Reino de Cristo, 15 de abril de 1921, pág., 115.

6 – Ibid., págs.  115, 116.

7 – Ibid., pág. 118.

8 – Ibid., pág. 120.

9 – Ibid.

10 – Arauto do Reino de Cristo, 1 de junho de 1921, pág. 163. É interessante que o número de 1 de novembro de 1921 do Arauto publicou um artigo preparado por outro Estudante da Bíblia em 1915 no qual ele apresentou evidência e conclusões praticamente idênticas às de R. E. Streeter, embora ele tenha datado a destruição de Jerusalém em 588 em vez de 587 A.E.C. A data 588 foi adotada pelo I.B.P. em números subseqüentes do Arauto. Como este homem não tinha qualquer conexão com o I.B.P., ele preferiu ficar anônimo, assinando o artigo com as iniciais J.A.D. O Instituto Bíblico Bereano, um grupo de Estudantes da Bíblia com sede em Melbourne, Austrália, também aceitou as conclusões dos editores do I.B.P. como se pode ver à base de seu periódico Jornal do Povo (em inglês) de 1 de julho e 1 de setembro de 1921, págs. 52, 68.

11 – “‘O Ano de Jubileu do Antigo Israel’ Examinado”, no número de 1º de julho de 1921 de A Verdade Presente, págs. 100-104 (em inglês) e “A Cronologia Suplementar do I.B.P. Examinada”, no número de 1º de setembro, págs. 134-136 (em inglês).

12 – A Torre de Vigia, 1º de maio de 1922, págs. 131-132. Outros artigos publicados durante 1922 foram “Cronologia” (15 de maio, págs. 147-150), “Setenta Anos de Desolação (Parte I)” (1º de junho, págs. 163-168), “Setenta Anos de Desolação (Parte II)” (15 de junho, págs. 183-187), “O Cabo Forte da Cronologia” (15 de julho, págs. 217-219), “Cartas interessantes: Erros de Ptolomeu, o Historiador Gentio” (15 de agosto, págs. 253-254; que foi escrito por Morton Edgar), e “Paralelismos Cronológicos Dados por Deus (Parte I)” (15 de novembro, págs. 355-360).

13 – A Verdade Presente, 1º de junho de 1922: “Alguns Ensinos Recentes do I.B.P. Examinados” (págs. 84-87); 1º de julho: “Alguns Ensinos Recentes do I.B.P. Examinados” (págs. 102-108); 1º de agosto: “Exame Adicional da Cronologia do I.B.P.” (págs. 117-122); 1º de novembro: “Alguns Erros no Cânon de Ptolomeu” (págs. 166-168).

14 – O Arauto do Reino de Cristo, 1º de maio de 1930, pág., 137.

15 – O Arauto do Reino de Cristo, maio de 1935, pág. 68.

16 – Ibid., pág. 69.

17 – O ano de 1934 ainda foi mantido como uma data importante, ocupando “um lugar proeminente na profecia cronológica”. Em defesa desta conclusão, os editores do I.B.P. fizeram referência a uma declaração feita por Edwin C. Colina, um repórter de renome internacional, no sentido de que “o ano de 1934 tinha sido o mais notável. Tinha havido muitas ocorrências e desenvolvimentos importantes, disse ele, que afetaram os destinos de todas as nações da terra e que marcaram o ano como um dos mais significativos da história”. — O Arauto do Reino de Cristo, maio de 1935, págs. 71-72. (Ênfase acrescentada)

18 – Veja o verbete “Tempos Designados das Nações”, em Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3 (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992), págs. 687-691.

19 – Ibid., pág. 689.

20 – Ibid.

21 – Ibid., pág. 690.

22 – Quando Jesus, em sua profecia sobre a desolação de Jerusalém, fez duas referências às profecias de Daniel (Mateus 24:15, 21), ele não deu a tais profecias um segundo e “maior” cumprimento. Sua primeira referência foi à “coisa repugnante que causa desolação”, uma frase encontrada em Daniel 9:27; 11:31 e 12:11. O texto original é o de Daniel 9:27, o qual contextualmente (versículo 26) parece apontar para a crise que culminou com a desolação de Jerusalém em 70 E.C. O mesmo vale para a referência dele à “grande tribulação” de Daniel 12:1. Jesus aplicou, e não reaplicou, ambas estas profecias à tribulação sobre a nação judaica em 67-70 E.C. Com freqüência, frases e expressões usadas por profetas antigos, são também usadas ou referidas por profetas posteriores, não porque estes tenham feito uma segunda e maior aplicação a uma profecia anterior, já cumprida, e sim porque eles reutilizaram prontamente a “linguagem profética” de profetas mais antigos, usando frases, expressões, idéias, símbolos, metáforas, etc. similares, em suas profecias de eventos por vir. Assim, por exemplo, indicou-se freqüentemente que o apóstolo Paulo, em sua descrição do “homem que é contra a lei” (2 Tessalonicenses 2:3-5), tomou emprestadas algumas das expressões usadas por Daniel, em suas profecias sobre as atividades de Antíoco IV Epifânio (cf. Daniel 8:10-11; 11:36-37).

23 – A Profecia de Daniel, Edward J. Young (em inglês – Grand Rapids:  Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 1949), pág. 110.

24 – Esta é a maneira como a visão é entendida pela maioria dos comentaristas. As declarações em Daniel 8:17 e 19 de que “a visão é para o tempo do fim” não deve ser entendida automaticamente como uma referência ao final, ao “Fim dos Tempos” escatológico. No Velho Testamento as palavras e frases tais como “o dia do Senhor”, “fim” (qetz, em hebraico) e “tempo do fim” (compare com Amós 5:18-20, Ezequiel 7:1-6; 21:25, 29;  Daniel 11:13, 27, 35, 40) “não se referem ao Fim dos Tempos e sim a uma crise divinamente apontada, um momento decisivo na história, isto é, um ponto dentro do período histórico e não a uma data pós ou supra-histórica”. (Estudos Literários na Bíblia Hebraica, Shemaryahu Talmon, Jerusalém-Leiden: The Magnes Press, 1993, pág. 171, em inglês) A tentativa que Antíoco IV fez de destruir a religião judaica, conforme predito em Daniel 8:9-14, 23-26, foi certamente tal “crise” e foi freqüentemente descrita como um “momento decisivo na história”. Veja, por exemplo, os comentários de Al Walters em Publicação Trimestral Bíblica Católica, Vol. 55:4, 1993, págs. 688-89, em inglês.

25 – Compare com o estudo cuidadoso que o Dr. Reinhard Gregor Kratz fez desta questão, “Reich Gottes und Gesetz im Danielbuch und im werdenden Judendom”, em O Livro de Daniel à Luz das Novas Descobertas, editado por A. S. van der Woude (em inglês – Louvain, Bélgica: Editora da Universidade de Louvain, 1993), págs. 433-479. (Veja especialmente as págs. 441-442, e 448.)

26 – Veja o capítulo 5 deste livro, seção A-3.

27 – Que pelo menos algumas datas fornecidas para as visões de Daniel são intimamente relacionadas com os conteúdos destas visões pode-se ver à base dos capítulos 7 e 8, datados do 1º e do 3º ano de Belsazar, respectivamente. Segundo o “Relato Versificado de Nabonido” (B.M. 38299), Nabonido “confiou o reinado” ao seu filho Belsazar “quando o terceiro ano estava prestes a começar.” (Antigos Textos do Oriente Próximo Relacionados Com o Velho Testamento, J. B. Pritchard, Princeton, Nova Jersey: Editora da Universidade de Princeton, 1950, págs. 312-13, em inglês). Uma vez que o 1º ano de Nabonido foi 555/54 AEC, seu 3º ano foi 553/52 AEC, sendo este o 1º ano de Belsazar. Agora, segundo o Cilindro de Sipar, foi neste mesmíssimo ano, o 3º de Nabonido, que o deus Marduque “despertou” Ciro em uma rebelião contra seu suserano medo, o rei Astíages. Conforme se declara na Crônica de Nabonido, Astíages foi finalmente derrotado três anos depois, no 6º ano de Nabonido, isto é, em 550/49 AEC. Seria muita coincidência que pouco antes disso, no 3º ano de Belsazar (Daniel 8:1), ou seja, em 551/50 AEC, Daniel tenha sido transferido em visão a Susã, futura capital administrativa da Pérsia, para lhe ser mostrado o surgimento do Império Medo-Persa na forma de um carneiro de dois chifres “dando marradas para o oeste, e para o norte, e para o sul”. (Daniel 8:1-4, 20) Desse modo, a visão dele provavelmente começou a se cumprir apenas alguns meses após ter sido recebida!

28 – Nabucodonosor e Babilônia, D. J. Wiseman (em inglês – Oxford: Editora da Universidade de Oxford, 1985), págs. 42-80.

29 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3 (1992), pág. 690.

30 – Comentando a declaração em Daniel 4:17 de que Deus dá o reino “a quem quiser”, a Sociedade Torre de Vigia declara: “Sabemos que este, a “quem” o Altíssimo escolhe dar o “reino” é Cristo Jesus.” — Verdadeira Paz e Segurança — De Que Fonte? (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1973), pág. 74.

31 – Para uma refutação completa do conceito de ano-dia, veja as págs. 111-126 de Observações Sobre as Visões Proféticas no Livro de Daniel, de Samuel P. Tregelles, publicado originalmente em 1852. A referência aqui é à sétima edição (em inglês – Londres: Testemunho da Graça Soberana do Advento, 1965).

32 – Para exemplos adicionais, veja Hermenêutica Bíblica, de Milton S. Terry, (em inglês – Grand Rapids: Academie Books, 1974; reimpressão da edição de 1883), págs. 386-90.

33 – C. T. Russell era pelo menos consistente em ensinar que ambos os períodos se referiam a anos, “pois se três tempos e meio são 1260 dias (anos), sete tempos serão exatamente o dobro, 2520 anos”. — Estudos das Escrituras, Vol. II (publicado originalmente em inglês em 1889), pág. 91.

34 – Compare o uso da mesma palavra em Daniel 2:8 (“estais querendo ganhar tempo”), 2:9 (“até que se mude o próprio tempo”), 2:21 (“ele muda os tempos e as épocas”), 3:5, 15 (“ao tempo em que ouvirdes o som” [tradução livre da TNM em inglês]), 7:12 (“foi-lhes dado prolongamento de vida por um tempo e uma época”) e 7:25 (“serão entregues à sua mão por um tempo, e tempos e metade de um tempo”).

35 – Como várias citações de Daniel no Novo Testamento concordam com o texto grego de Teodocião de Daniel contra o texto da LXX, pensa-se que a tradução de Teodocião baseou-se em uma tradição textual pré-cristã anterior, a qual pode ter sido ou uma revisão da LXX ou uma versão independente dela. — Daniel, de John J. Collins, (em inglês – Mineápolis: Editora Fortress, 1993), págs. 2-11. Veja também “Outra consideração da loucura de Nabucodonosor”, de Peter W. Coxon, em A. S. van der Woude, op. cit. (veja a nota de rodapé 25 deste capítulo), págs.  213-14, em inglês.

36 – Para uma recente reconstituição e tradução do texto, veja O Contexto da Bíblia, Vol. I, de Baruch A. Levine e Anne Robertson, editado por William W. Hallo (em inglês – Leiden: Brill, 1997), págs.  285-86. A maioria dos eruditos supõe que a história sobre os “sete tempos” de loucura relacionados originalmente com Nabonido e a “Oração de Nabonido” refletem uma situação anterior da tradição. Alega-se que o livro de Daniel atribui a experiência a Nabucodonosor porque ele era mais bem conhecido entre os judeus. Não há, porém, qualquer evidência em defesa desta teoria e é muito mais provável que a “Oração de Nabonido” seja uma versão distorcida posterior da narrativa de Daniel, — Compare com os comentários feitos por D. J. Wiseman, op. cit.  (veja a nota de rodapé 28 deste capítulo), págs.  103-105.

37 – E. J. Young, op. cit.  (veja a nota 23 deste capítulo), pág. 105. O Dr. H. Neumann confirma que na Mesopotâmia só há duas estações: “um verão seco e sem nuvens de maio a outubro, e um inverno nublado e chuvoso de novembro a abril”. — Heinz Neumann em Wiener Zeitschrift für die Kunde des Morgenlandes, Vol. 85 (Viena 1995), pág. 242.

38 – Donald J. Wiseman em Novo Dicionário Bíblico, editado por J. D. Douglas, 2ª edição em inglês (Leicester, Inglaterra: Editora Intervarsity, 1982), pág. 821. O Dr. Wiseman explica que este entendimento de ‘iddan em Daniel 4 “surgiu à base de minha idéia de que um ‘mês’ poderia ser um ‘período’ apropriado, dada a natureza da enfermidade de Nabucodonosor … é bem improvável que ela tenha sido recorrente”. — Carta de Wiseman a Jonsson, datada de 28 de maio de 1987. Compare com a discussão de Wiseman sobre a doença de Nabucodonosor em A Medicina e a Bíblia, editado por B. Palmer (em inglês – Exeter: Editora Paternoster, 1986), págs.  26-27.

39 – A Fé em Marcha, A. H. Macmillan (em inglês – Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, Inc., 1957), págs.  48-49.

40 – A Torre de Vigia, 1º de maio de 1922, pág. 139, em inglês; publicado também no folheto O Que Diz a Bíblia Sobre o Retorno de Nosso Senhor (em inglês – Brooklyn, N.I.: Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia, 1922), págs. 93-94. Ênfase acrescentada.

41 – Veja o artigo “O Estabelecimento do Reino de Cristo” em A Torre de Vigia de 1º de junho de 1922 (em inglês), onde ainda aparece a data 1878.

42 – O Que diz a Bíblia Sobre o Retorno de Nosso Senhor (em inglês – 1922), pág. 93.

43 – A Torre de Vigia, 1º de novembro de 1914 (em inglês), págs. 329-30;  Reimpressões, pág., 5568.

44 – Os comentaristas cristãos de várias denominações diferentes consideraram este evento como um sinal dos tempos. Deve-se lembrar que já em 1823, John A. Brown, em sua obra O Anoitecer (em inglês) tinha finalizado os “sete tempos” em 1917. Na opinião dele 1917 veria “a plena glória do reino de Israel … aperfeiçoada”. (Vol. 1, págs. xiii e seguintes.) Depois, no mesmo século, o expositor britânico Dr. Henry Grattan Guinness também apontou para 1917 como uma data muito importante:  “Não pode haver qualquer dúvida de que os que viverem para ver este ano de 1917 terão alcançado um dos mais importantes, talvez o mais momentoso destes anos finais de crise”. — Luz Para os Últimos Dias (em inglês), Londres, 1886, págs. 342-46. Apercebidos destas predições, oito famosos clérigos ingleses, entre os quais o Dr. G. Campbell Morgan e o Dr. G. B. Meyer, lançaram um manifesto que, entre outras coisas, declarou: “PRIMEIRO. Que a crise presente aponta para o fim das tempos dos gentios. . . . QUINTO. Que todos os esquemas humanos de reconstrução devem ser subsidiários à segunda vinda de nosso Senhor, porque todas as nações serão submetidas ao seu reino.” O manifesto foi publicado na revista londrina Opinião Atual, de fevereiro de 1918 e posteriormente republicado em outros documentos através do mundo. Embora este manifesto tenha sido citado várias vezes nas publicações da Torre de Vigia em defesa da  data de 1914, ele havia sido realmente lançado em defesa da data de 1917, em resultado da “libertação” de Jerusalém por Allenby no ano anterior.

45 – A Torre de Vigia, 1931, págs. 253-54; Vindicação – Vol. II, J. F. Rutherford (em inglês – Brooklyn, N.I.: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1932), págs. 258, 267-69.

46 – A Sentinela (em inglês) de 1º de novembro de 1949, págs. 330-31.

47 – Veja “Caiu Babilônia, a Grande!” O Reino de Deus Já Domina! (Brooklyn, N.I.: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1963), págs. 452-453 (da edição em inglês); “As Nações Terão de Saber que Eu Sou Jeová” — Como? (publicado em português em 1973), págs. 214 a 217; Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3 (1992), págs. 687-689.

48 – Apresentações recentes destas idéias podem ser encontradas, por exemplo, nos livros Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), págs. 134-41, e Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna (1995), págs. 90-97. Ambos são publicados pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova Iorque, Inc.

49 – Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3 (1992), pág. 412.

50 – Ibid., pág. 412. Similarmente, na página 136 do livro Poderá Viver Sempre no Paraíso na Terra (1982), a Sociedade Torre de Vigia faz referência ao “reino do Filho do seu amor [de Deus]” mencionado em Colossenses 1:13 e afirma: “Mas este domínio ou “reino” sobre cristãos com esperança de vida celestial não é o governo do Reino pelo qual Jesus ensinou seus seguidores a orar.” (Ênfase acrescentada.)

51 – O anjo Gabriel disse a Maria que o filho que ela daria à luz “será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi”. (Lucas 1:32, NVI) Que “o trono de seu pai Davi” foi dado a Cristo por ocasião de sua ressurreição e exaltação foi depois confirmado por Tiago, meio-irmão de Jesus, quando ele explicou aos seus concrentes em Atos 15:13-18 que “a barraca de Davi, que está caída” tinha sido erguida novamente, em cumprimento da profecia de Amós 9:11 e versículos seguintes. Conforme indicado pelo Dr. F. F. Bruce, “a aplicação que Tiago faz da profecia, associa o cumprimento da primeira parte dela (o reerguimento da barraca de Davi) com a ressurreição e exaltação de Cristo, o Filho de Davi e a reconstituição de seus discípulos como o novo Israel, e o cumprimento da segunda parte dela com a presença dos crentes gentios em igualdade com os crentes judeus na Igreja”. — Comentário ao Livro de Atos, F. F. Bruce (em inglês – Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., reimpressão de 1980), pág. 310.

52 – A passagem paralela de Mateus 26:64 acrescenta outra particularidade à declaração de Jesus:  “Doravante vereis o Filho do homem sentado à destra de poder e vindo nas nuvens do céu.” (Compare com Marcos 14:62) A última parte da declaração é uma alusão a Daniel 7:13-14, onde, segundo a visão de Daniel “chegou com as nuvens dos céus alguém semelhante a um filho de homem; e ele obteve acesso ao Antigo de Dias, e fizeram-no chegar perto perante Este. E foi-lhe dado domínio, e dignidade, e um reino,” Deve-se notar que nesta visão o “filho de homem” não veio do céu para a terra. Em vez disso, a “chegada” dele é na direção oposta, até o “Antigo de Dias” no trono celestial, para receber domínio, dignidade e um reino. De modo que esta passagem não parece estar tratando da segunda vinda de Cristo, e sim de sua entronização por ocasião de sua ressurreição e exaltação.

53 – O Professor Martin Hengel descobriu que o Salmo 110:1 é usado em vinte e uma passagens do Novo Testamento, sete das quais sendo citações diretas. As passagens são: Mat. 22:44; 26:64; Marcos 12:36; 14:62; 16:19; Lucas 20:42 em diante.; 22:69; Atos 2:33; 2:34 em diante.; 5:31; 7:55 em diante; Rom. 8:34; 1 Cor. 15:25; Efé. 1:20; Col.  3:1; Heb. 1:3, 13; 8:1; 10:12 em diante; 12:2; e 1 Ped 3:22. —Estudos de Cristologia Primitiva, M. Hengel (em inglês – Edimburgo: T&T Clark Ltd, 1995), pág. 133.

54 – É óbvio que sentar-se “à destra de Deus” significa sentar-se com Deus em seu trono, tendo em vista a declaração de Jesus em Rev. 3:21. Esta entronização de Cristo não é invalidada pelo fato de a carta aos Hebreus o apresentar duas vezes como sentado “à direita do trono de Deus”. (Heb. 8:1; 12:2) É claro que a linguagem usada aqui é figurativa. Deus não está sentado em um trono literal. Em Mateus 5:34 Jesus diz que o céu . . . “é o “trono de Deus”. Um “trono” é um símbolo de domínio. Independentemente de Cristo ser representado como estando sentado no trono de Deus ou num trono separado à direita dele, o significado é o mesmo, isto é, que ele está reinando. Ademais, conforme argumenta o Professor Hengel, o sentido dos textos de Heb. 8:1 e 12:2 é “à destra de Deus em seu trono”, em vez de “à direita do trono de Deus”. — M. Hengel, op.  cit., págs.  142, 148-49. Compare também com Revelação 22:1, 3 que fala do “trono de Deus e do Cordeiro” como apenas um único trono.

55 – Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), págs. 136-37. De maneira similar, o livro mais recente Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova Iorque, Inc., 1995), explica que estar Cristo sentado à destra de Deus “indica que o governo de Jesus não começaria logo após a sua ascensão ao céu. Em vez disso, ele teria de esperar” pelo começo de seu governo, isto é, até 1914. (Páginas 96, 97. Ênfase acrescentada.)

56 – Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), págs. 136-38, 141.

57 – A palavra grega para “esperando” em Hebreus 10:13, ekdechomai, significa “esperar, esperar por, espera”. — Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. 2, editado por Colin Brown (em inglês – Exeter: Editora Paternoster, 1976), págs.  244-245.

58 – Comentário à Primeira aos Coríntios, T. C. Edwards (em inglês – Mineápolis: Klock e Klock, 1979; reimpressão da edição de 1885), pág. 417.

59 – Ao explicar o sonho da imagem que Nabucodonosor teve, Daniel também representa os inimigos do reino de Deus como reinos terrestres. Explica-se que os quatro metais da imagem significam quatro reinos ou impérios sucessivos, começando com o próprio reino de Nabucodonosor. (Dan. 2:36-43) Daí, no versículo 44 Daniel afirma que o reino de Deus seria estabelecido “nos dias daqueles reis”. Contextualmente, “aqueles reis” só podem ser uma referência aos reis que existissem na época do quarto reino descrito nos versículos precedentes (40-43). Isto apóia a identificação do quarto reino com Roma, que mantinha o poder na época do estabelecimento do reino de Cristo. Conforme Daniel explica mais adiante, o Reino de Deus então ‘esmagaria e poria termo a todos estes reinos’. Uma vez que isto evidentemente é paralelo a Cristo “subjugar no meio de seus inimigos” após sua entronização à direita de Deus, conforme descrito no Salmo 110 e no Novo Testamento, o “esmagamento” dos reinos deve ser entendido como uma guerra prolongada.

60 – Segundo Colossenses 1:15-16, os poderes espirituais foram criados originalmente por meio de Cristo. Depois, vários deles, encabeçados por Satanás, “o governante da autoridade do ar”, “não conservaram a sua posição original” mas se tornaram inimigos de Deus. (Judas, versículo 6). — Compare com a discussão que o Dr. G. Delling faz sobre estes poderes no Dicionário Teológico do Novo Testamento, Vol. 1, editado por G. Kittel (em inglês – Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 1964), págs.  482-84.

61 – Similarmente, no idioma português podemos falar de uma pessoa ser “colocada nas alturas” [correspondente em inglês: “praised to the skies” (“exaltada aos céus”)].

62 – As mesmas metáforas são encontradas em fontes extrabíblicas dos tempos antigos. Por exemplo, tanto Cícero como Horácio (1º século A.E.C.) compararam a queda de uma alta posição política com “cair do céu”. — Veja O Livro de Isaías, Edward J. Young (em inglês – Grand Rapids:  Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 2º ed. 1972), pág. 440, nota 77.

63 – Compare com Daniel 8:9-12, que usa a mesma linguagem figurativa para descrever as ações presunçosas do “chifre pequeno”, que geralmente se entende ser uma referência à tentativa do rei selêucida Antíoco IV Epifânio (175-164 A.E.C.) de eliminar a adoração de Jeová no templo judaico.

64 – Observe também como o “alvoroço” dos “reis da terra” contra “Jeová e contra o seu ungido” mencionado no Salmo 2:1-3 é aplicado diretamente pelo apóstolo Pedro em Atos 4:25-28 às ações que as autoridades judaicas e romanas tomaram contra Jesus. Faz-se também referência à mesma passagem em Revelação 11:15-18, que primeiro fala sobre o início do reinado universal de Cristo no meio dos inimigos furiosos dele e então sobre a ‘fúria’ de Deus contra estes inimigos.

65 – Conforme Cristo explicou à congregação em Tiatira, ele já estava naquele momento de posse desta “vara de ferro” e, desta forma, podia prometer compartilhar sua “autoridade sobre as nações” com “aquele que vencer e observar as minhas ações até o fim”. — Revelação 2:26-27, TNM.

66 – Na pág. 110 do livro Raciocínios à Base das Escrituras (1985), a Sociedade Torre de Vigia resume estas “duas linhas de evidência” como segue: “Por que afirmam as Testemunhas de Jeová que o Reino de Deus foi estabelecido em 1914? Duas linhas de evidência indicam aquele ano: (1) A cronologia bíblica e (2) os acontecimentos desde 1914 que cumprem profecias.”

67 – O Sinal dos Últimos Dias — Quando?, C. O. Jonsson & W. Herbst (em inglês – Atlanta:  Commentary Press, 1987. Primeira edição em português, 2008).

68 – Veja a Tabela 2 do Capítulo 1.

69 – Veja o Capítulo 1, nota de rodapé 24.

70 – Veja a nota de rodapé 44 deste capítulo. Outro exemplo são as predições que apontavam para o ano de 1941 como a culminação do “tempo de tribulação”. Vários expositores de profecias, incluindo John Bacon (em 1799), George Stanley Faber (em 1811), Edward D. Griffin (em 1813), Joseph Emerson (em 1818), George Duffield (em 1842) e E. B. Elliott (em 1862), finalizaram os 1260 anos-dias em 1866 e os 1335 anos-dias em 1941, argumentando que o “tempo do fim” era um período de 75 anos (a diferença entre 1335 e 1260). Este “tempo de tribulação” culminaria em 1941 e seria seguido pelo milênio. 1941 foi certamente um “tempo de tribulação” uma vez que foi neste ano que os Estados Unidos entraram na guerra que tinha começado em 1939 e se tornara uma guerra mundial. O milênio, porém, não ocorreu. — Veja A Fé Profética de Nossos Pais, Vol. III, LeRoy Edwin Froom (em inglês – Washington, D.C.: Review and Herald, 1946), págs.  721-22;  Vol. IV (1954), págs.  73, 105-06, 174, 262, 337.

71 – A Ascensão e a Queda do Papado, Robert Fleming, Jr. (em inglês – Londres, 1849; reimpressão da edição de 1701), pág. 68. Ênfase acrescentada.

72 – Ibid., pág. 64. Ênfase acrescentada.

* NOTA DO TRADUTOR: Este é também o padrão da língua portuguesa.

73 – Um Comentário Crítico e Exegético do Evangelho Segundo S. Lucas, Alfred Plummer, Comentário Crítico Internacional (em inglês – Edimburgo: T. & T. Clark, 1896), pág. 483.

74 – Por exemplo, o Dr. Milton S. Terry, que adotou este ponto de vista, declara: “Estes ‘tempos dos gentios’ são obviamente o período atribuído aos gentios para pisotearem Jerusalém, e esses tempos se cumprem assim que as nações terminarem seu trabalho de pisar a cidade santa”. — Apocalíptica Bíblica, M. S. Terry (em inglês – Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1988. Reimpressão da edição de 1898), pág. 367.

75 – Uma história detalhada do longo período de controle estrangeiro sobre Jerusalém está incluída em Jerusalém. Uma Cidade, Três Fés, Karen Armstrong, (em inglês – Nova Iorque: Alfred A. Knopf, Inc., 1996).

76 – Um excelente apanhado das aplicações de Lucas 21:24 e outras profecias bíblicas, feitas por vários expositores à conquista de Jerusalém por Israel em 1967 e os eventos posteriores, é encontrada em Armagedom Agora!, Dwight Wilson (em inglês – Tyler, Texas: Instituto de Economia Cristã, 1991; reimpressão da edição de 1977), págs. 188-214. Uma atualização desde 1977 foi incluída no Prefácio, nas págs. xxv-xlii. Uma discussão muito abrangente dos vários aspectos do significado de Jerusalém na profecia de Jesus pode ser encontrada no livro Jesus e a Cidade Santa, de P. W. L. Walker (em inglês – Grand Rapids: Eerdmann’s, 1996).

77 – Para uma exposição recente desta idéia, veja Lucas 18:35-24:53. Word Biblical Commentary 35c, Dr. John Nolland (em inglês – Dallas: Word Books, 1993), págs.  1002-1003.

78 – A nota para Lucas 21:24 na Bíblia do Peregrino reflete esta idéia: “Pisada por pagãos (Lm 1, 10). A etapa dos pagãos: a) com valor positivo, a etapa em que vão se convertendo, segundo a teologia de Paulo (Rm 11, 25-26), apoiado no plural grego “estações” (kairoi); b) com valor negativo, até que chegue a hora deles. (Lm 1, 21-22; Sl 75, 3; Jr 51, 33). A nota temporal indica pausa longa, depois da qual chegará o desenlace.” Compare também com Lucas, Vol. 2, Darrell L. Bock (em inglês – Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 1996), págs. 1680-1681.


Imagem em destaque: Livro Aprenda com as histórias da Bíblia (Watchtower Bible and Tract Society of Pennsylvania, Nova Iorque, E.U.A), 2017, pág. 149.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *