A Criação de uma Teocracia

Em 6 de janeiro de 1917, o Juiz Joseph Franklin Rutherford1, durante alguns anos o advogado pessoal de Russell, foi eleito presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e suas organizações associadas para substituir o falecido pastor. Com a eleição dele, começou uma nova era na história dos Estudantes da Bíblia – Testemunhas de Jeová.

Joseph Franklin Rutherford

Nascido em 8 de novembro de 1869 no Missouri e criado na pequena fazenda dos seus pais batistas, Rutherford era um homem muito diferente de Russell. Em vez de crescer numa atmosfera de cidade grande sob a orientação amorosa de um pai próspero e benevolente, Rutherford teve de trabalhar bem duramente, quase na pobreza. Graças a um grande esforço pessoal, ele estudou Direito sob o antigo sistema de aprendizado então muito comum nos Estados Unidos e passou nos seus exames de advocacia em 1892. Em quatro ocasiões serviu como juiz substituto.2 Provavelmente em resultado destas experiências iniciais, e de um compromisso com os ideais populistas de William Jennings Bryan,3 ele desenvolveu uma forte personalidade, uma simpatia sincera embora raramente exteriorizada pelos oprimidos, e um desprezo completo pelo alto comércio, pelos políticos e, posteriormente, pelo clero.

Assim como Russell, Rutherford era um homem alto que, só pela sua presença, impunha respeito. Ele tinha uma voz alta, estrondosa, e parecia mesmo um senador americano sulista ou da fronteira. Ao lidar com amigos ele podia ser despótico; ao lidar com inimigos, implacável. Na primeira história oficial da organização, Jehovah’s Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino], ele é descrito como “um tipo de pessoa brusca e direta” com uma “franqueza na abordagem de problemas ao lidar com os seus irmãos que fazia com que alguns se ofendessem”4 De fato, ele era mal-humorado e por vezes brusco até o ponto da grosseria, tendo um temperamento explosivo que  ocasionalmente podia exaltá-lo até chegar à violência física. Ele tinha também um senso de auto-justificação que o levava a encarar qualquer pessoa que se opusesse a ele como sendo do Diabo. Mais curioso, porém, é o fato de que apesar de em alguns aspectos ele ser um puritano dos puritanos, em outros era bem dissoluto. Usava linguagem vulgar, sofria de alcoolismo, e foi certa vez acusado publicamente por um dos seus associados mais íntimos de ter assistido a um espetáculo burlesco de nudismo, em companhia de dois anciãos e uma jovem mulher Estudante da Bíblia numa noite de quarta-feira antes da celebração do Memorial da Ceia do Senhor.5

Porém, houve muito mais sobre ele do que esta descrição concisa, pouco lisonjeira, indicaria. Rutherford entrou em contato com os Estudantes da Bíblia pela primeira vez em 1894. Em 1906 ele foi batizado e pouco depois tornou-se um peregrino. Depois de algum tempo, ele tornou-se bem popular entre os seus associados de crença porque, como advogado, travou batalhas legais para limpar o nome de Russell, debateu publicamente em defesa das doutrinas dos Estudantes da Bíblia e, em 1915, escreveu uma apologia em favor de Russell, intitulada A Great Battle in the Ecclesiastical Heavens [Uma Grande Batalha nos Céus Eclesiásticos].

Foi, portanto, a habilidade de Rutherford, sua retórica dinâmica, e  sua disposição de lidar com os adversários dos Estudantes da Bíblia como um Jeremias do século 20 que fez dele um sucessor lógico de Russell. Consequentemente, apenas dois meses depois da morte de Russell, Rutherford foi eleito unanimemente como presidente da Sociedade Torre de Vigia e seus órgãos associados, embora Russell certamente não o tivesse designado como seu herdeiro espiritual.

De fato, Russell esperava que a sua posição como principal porta-voz dos Estudantes da Bíblia fosse assumida por uma liderança coletiva. Segundo o testamento dele, The Watch Tower [A Sentinela] deveria estar sob a superintendência de uma comissão editorial de cinco pessoas, e nenhum artigo devia ser publicado sem o acordo de pelo menos três membros dessa comissão.6 Curiosamente, Rutherford não foi nomeado para a comissão e foi nomeado apenas como um de cinco possíveis membros alternativos.7 Portanto, embora Russell não tivesse tido qualquer intenção de passar a sua autoridade ou papel intacto para qualquer sucessor individual, Rutherford tinha outras ideias.

Rutherford era um autocrata que obviamente acreditava que para o bem da Sociedade – e de todos os Estudantes da Bíblia – ele devia governá-la com mão de ferro em vez de simplesmente administrar as decisões do seu corpo de diretores. Embora ele se recusasse a assumir o título de ‘Pastor’ em respeito à memória de Russell,8 ele usou a reverência dos Estudantes da Bíblia por Russell como um trampolim para a sua própria autoridade. Além disso, é óbvio que desde antes da sua primeira eleição, ele pretendia ter tanto, senão mais poder do que seu predecessor.9

O Cisma da Torre de Vigia de 1917

A história oficial das Testemunhas sugere que durante o curto período entre a morte de Russell e a eleição de Rutherford como presidente da Torre de Vigia, outros estavam conspirando para também alcançar essa posição. Várias personalidades são mencionadas entre os “conspiradores”, mas o arquivilão, segundo este relato, era Paul S. L. Johnson. Concordemente, Johnson é descrito como o principal instigador daquilo que logo se tornaria um grande cisma na comunidade dos Estudantes da Bíblia durante o verão de 1917. Resumidamente, o relato da Torre de Vigia diz o seguinte:

Antes da sua morte, Russell tinha instruído Alexander H. Macmillan,  seu assistente presidencial pessoal, para enviar Johnson à Grã-Bretanha para supervisionar as atividades da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia (IBSA, em inglês) ali. Consequentemente, como parte do triunvirato que administrou os assuntos da Sociedade de novembro de 1916 até a primeira semana de 1917, Rutherford o enviou a Londres. Quando ele chegou, descobriu a organização britânica em tumulto e demitiu dois dos administradores locais da Sociedade, H. J. Shearn e William Crawford. Segundo Johnson, estes homens estavam conspirando para criar uma organização separada independente da Sociedade Torre de Vigia dos Estados Unidos. Mas o próprio Johnson então tentou assumir um papel independente e alegou que ele, pessoalmente, era o sucessor de Russell e o encarregado do denário, mencionado na parábola de Jesus em Mateus 20:1-16. Depois de receber informação sobre o que se passava, Rutherford enviou um cabograma a Johnson exigindo que ele readmitisse Shearn e Crawford.10

Nesse ponto Johnson começou a enviar cabogramas a Rutherford, com a certeza de que se ele fosse ‘iluminado’, iria apoiá-lo. Ele acreditava que Rutherford era “sem dúvida a vítima duma campanha de cabogramas engendrada por Shearn e Crawford”.11 Por isso ele enviou cabogramas de 85 a 115 palavras, nos quais identificou a si próprio e a outros com Esdras, Neemias e Mordecai. Evidentemente ele pediu a Rutherford para servir como seu ‘braço direito’.12

Rutherford se convenceu de que Johnson estava louco e enviou-lhe um cabograma, ordenando-lhe regressar aos Estados Unidos. Depois disso Johnson enviou um cabograma ao Vice-Presidente da Torre de Vigia, Alfred I. Ritchie e ao Secretário-Tesoureiro William E. Van Amburgh, os outros dois membros do triunvirato, repudiando a autoridade de Rutherford. Usando a declaração de poderes que lhe fora concedida quando tinha sido enviado para a Grã-Bretanha, ele bloqueou a conta bancária dos Estudantes Internacionais da Bíblia e tomou o controle dos escritórios de Londres da Associação. Ele e outro Estudante da Bíblia chamado Housden apoderaram-se de toda a correspondência, abriram o cofre da associação, e pegaram todo o dinheiro em caixa. Em resultado disso, Rutherford, já então presidente, enviou por escrito um cancelamento da designação de Johnson e o advogado deste foi obrigado a desistir de um processo judicial para proibir os partidários de Rutherford de usarem as 800 libras que tinham sido temporariamente bloqueadas no banco.13

Liderados por Jesse Hemery, partidário de Rutherford, um grupo de Estudantes da Bíblia nos escritórios e residência da AIEB de Londres por fim encurralaram Johnson no seu quarto. Para escapar, ele foi obrigado a sair pela janela e descer agarrando-se à calha de escoamento de água da chuva. Depois, ele retornou a Nova Iorque, onde “Rutherford concluiu que Johnson estava perfeitamente são em cada ponto, exceto um, a saber, sobre si mesmo.”14 Rutherford então reorganizou o trabalho da organização na Grã-Bretanha sob Hemery e trouxe a paz. Johnson continuou a pedir para ser enviado de volta para aquele país, mas Rutherford recusou-se a enviá-lo.15

Seguiu-se uma luta áspera entre Joseph F. Rutherford e quatro membros da diretoria da Sociedade Torre de Vigia: Alfred I. Ritchie (que em janeiro tinha sido substituído na vice-presidência por Andrew N. Pierson), Robert H. Hirsh, Isaac F. Hoskins, e Dennis Wright. Segundo a versão da Torre de Vigia sobre estes acontecimentos, estes homens estavam descontentes com Rutherford no início de 1917 e “ambiciosamente procuraram obter controle administrativo da Sociedade.” Em resultado disso, quando Johnson regressou a Brooklyn, ele influenciou a diretoria para trabalhar contra Rutherford.16

O relato da Torre de Vigia em seguida diz que a diretoria decidiu emendar os estatutos da Sociedade com o objetivo de despojar Rutherford da sua autoridade legítima e transformá-lo numa fachada. Em resultado disso, Rutherford foi obrigado a removê-los dos cargos. Ele obteve a opinião por escrito de um advogado de Filadélfia, que não era Estudante da Bíblia, dizendo que como os quatro diretores não tinham sido eleitos legalmente em janeiro de 1917, e sim meramente designados por Russell, não tinham direito legal de continuar no controle da Sociedade. O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976 diz:

C. T. Russell designara tais homens quais diretores, mas os estatutos da Sociedade exigiam que os diretores fossem eleitos pelo voto dos acionistas. Rutherford tinha dito a Russell que os recomendados tinham de ser confirmados por meio de voto na seguinte reunião anual, mas Russell jamais dera tal passo. Assim, apenas os diretores principais que tinham sido eleitos na reunião anual de Pittsburgo eram membros da diretoria devidamente constituídos. Os quatro recomendados não eram membros legais da diretoria. Rutherford sabia disso durante todo o período de dificuldades, mas não mencionara isso, esperando que tais diretores cessassem sua oposição. No entanto, a atitude deles mostrava que não estavam aptos a ser diretores. Corretamente, Rutherford os demitiu, e designou quatro novos membros da diretoria, cuja designação poderia ser confirmada na  reunião geral seguinte da Sociedade, no início de 1918.17

Assim, em 12 de julho de 1917 Rutherford declarou secretamente que os quatro tinham sido removidos e os substituiu por A. H. Macmillan, W. E. Spill, J. A. Bohnet, e G. H. Fisher, todos apoiadores de Rutherford que seriam confirmados na próxima reunião geral da Sociedade.18

Em 17 de julho, Rutherford lançou The Finished Mystery [O Mistério Consumado] como um sétimo volume dos Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] de Russell.19 Russell tinha falado muitas vezes em escrever o sétimo volume20 mas nunca tinha encontrado a “chave” ou, mais provavelmente, tempo e energia para isso. Agora, porém, Rutherford lançava um livro composto por vários comentários retirados das obras de Russell, junto com numerosos acréscimos dos co-autores, Clayton J. Woodworth e George H. Fisher, num comentário sobre Revelação, Ezequiel e o Cântico de Salomão. Apresentado como sendo o trabalho póstumo do Pastor Russell, O Mistério Consumado era uma interpretação alegórica dos três livros das Escrituras e uma apologia a Russell.

O lançamento de The Finished Mystery [O Mistério Consumado] para a família do Betel da Torre de Vigia reunida – o pessoal – no café da manhã veio como uma “granada” e, segundo a história da Torre de Vigia, serviu para causar um cisma aberto. Johnson, os diretores depostos e seus apoiadores censuraram Rutherford num debate longo, amargo, à mesa do refeitório.21 Em 27 de julho, para manter a paz, Rutherford pediu a Johnson para sair de Betel e, pouco depois, ele fez o mesmo com os ex-diretores.22

Em tudo isto, os apoiadores de Rutherford o retrataram como sendo paciente e plenamente justificado nas suas ações. Alexander H. Macmillan, escrevendo muitos anos depois, observou falsamente: “Ele fez tudo o que podia para ajudar os seus opositores a verem o seu erro, fazendo várias reuniões com eles, tentando raciocinar com eles e tentando mostrar-lhes como o proceder deles era contrário à escritura da Sociedade e a todo o programa que Russell tinha seguido desde que a organização fora formada.”23 Mas, na realidade, o relato oficial da Torre de Vigia e a caracterização que Macmillan fez de Rutherford não passam de completas distorções da verdade.

Até a descrição básica dada nos relatos da Torre de Vigia não é exata. É bem verdade que vários indivíduos encaravam-se como prospectivos sucessores de Russell em novembro e dezembro de 1916. Também é verdade que Paul Johnson era uma pessoa estranha, errática, que tinha influenciado Russell a retornar à sua doutrina anterior do Mistério e que tinha visões de glória, para dizer o mínimo.24 Fora isso, a versão oficial da organização sobre os eventos de 1917 é história falsificada.

Em primeiro lugar, Rutherford e os seus apoiadores estavam praticando friamente políticas de igreja e não eram anjos. Embora Rutherford certamente tivesse sido o candidato mais proeminente para a presidência, a sua eleição tinha sido amplamente engendrada por dois homens – Alexander H. Macmillan e William E. Van Amburgh.25 Em segundo lugar, na época da sua eleição, ele tinha insistido que os diretores aprovassem uma série de regulamentos que davam aos representantes da organização uma autoridade muito maior.26 Em terceiro lugar, a designação que Rutherford fez para a escrita e publicação de O Mistério Consumado foi um exercício de autoridade totalmente unilateral, que certamente ignorou os direitos e prerrogativas da diretoria e de vários membros da comissão editorial da organização.27 Embora Rutherford tenha alegado que estava exercendo direitos conferidos a ele sob o estatuto da People’s Pulpit Association [Associação do Púlpito do Povo] que dava ao presidente “a supervisão geral, controle e administração dos negócios e assuntos da dita corporação”, isto não lhe dava poderes plenipotenciários para elaborar políticas.28 Além disso, assim como é o caso hoje com a Sociedade Torre de Vigia de Nova Iorque, a Associação do Púlpito do Povo era, para todos os efeitos práticos, tratada como subsidiária da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e recebia dessa corporação todos os seus fundos operacionais. Em quarto lugar, ele e seu “gabinete de cozinha” praticamente ignoraram os direitos de supervisão, não só dos quatro diretores, como também do Vice-Presidente Pierson.29 Em quinto lugar, Rutherford, ao tentar agir como Russell, de fato estava ignorando os desejos expressos de Russell conforme delineados no testamento dele. E, finalmente, se Rutherford tivesse alguma vez sido levado ao tribunal por ter demitido os quatro diretores, ele provavelmente teria perdido. Seu argumento de que eles não tinham sido legalmente eleitos não procede se for examinado com atenção, particularmente no caso de Robert Hirsh, que nunca tinha sido designado por Russell e tinha, durante algum tempo, sido apoiador de Rutherford. Além disso, como os advogados dos diretores demitidos e Paul Johnson apontaram, se os diretores demitidos não tinham sido legalmente eleitos, o mesmo era verdade no caso dos três que restaram: Rutherford, Pierson e Van Amburgh. Para serem escolhidos como representantes em janeiro de 1917, eles precisariam ter sido legalmente eleitos como diretores. Mas eles não tinham sido, e por isso, segundo a própria lógica de Rutherford, não detinham legalmente os cargos.31

Ademais, a sugestão de que Rutherford e os seus apoiadores eram razoáveis, enquanto seus adversários não eram, dificilmente se ajusta aos fatos. Está claro agora que Rutherford perguntou a Paul Johnson se Russell teria um sucessor em 2 e 3 de novembro de 1916 no Betel de Brooklyn, menos de uma semana depois da morte de Russell. Isso está documentado nos livros de Johnson Merarism [Merarismo], págs. 614-616; The Epiphany Messenger [O Mensageiro da Epifania], págs. 345-9, e também em The Present Truth [A Verdade Presente], maio de 1934, pág. 68. Isso não é mencionado por Rutherford, mas explica o cabograma de Johnson de 24 de fevereiro de 1917 enviado da Inglaterra.32 Por essa razão, é claramente confirmado. Depois de uma noite de sono, enquanto usava sua propensão para a tipologia, Johnson lhe disse que Russell teria um sucessor espiritual, pois não havia dado o “denário” da “parábola do denário” encontrada em Mateus 20:1-16. Assim, ele, Russell, não poderia ter sido o “mordomo”. Por isso, deveria se esperar um “mordomo”. Rutherford perguntou quem seria, e Johnson disse que não sabia, mas no devido tempo isso se tornaria óbvio. Significativamente, tanto Johnson quanto Rutherford mais tarde concluíram que eles, individualmente, eram esse “mordomo”.

O conceito de que Rutherford era o “mordomo” e que O Mistério Consumado era o “denário” originou-se do próprio Rutherford. Isso pode ser visto examinando-se Harvest Siftings [Peneiramentos da Colheita], páginas 19 e 20, onde Rutherford escreveu “que haveria murmuradores, queixosos” e assim por diante, e que “imediatamente” depois de anunciar o chamado “Sétimo Volume” em 17 de julho de 1917, “os ataques começaram contra mim por parte dos irmãos Hirsh e Hoskins”. É claro que os “murmuradores” mencionados, eram pretensamente os críticos do presidente da Torre de Vigia, usando-se as palavras de Jesus em Mateus 20:10-12 na Versão Rei Jaime. Além disso, na página 24 de Harvest Siftings, Rutherford disse: “Tive um pequena parte do privilégio abençoado de colocar diante da Igreja o último trabalho do irmão Russell, o Sétimo Volume de ESTUDOS DAS ESCRITURAS. Tentei ser fiel.” Portanto, por essas declarações, Rutherford revelou que ele acreditava ser o “mordomo” que havia dado o “denário”. Que O Mistério Consumado foi considerado como o “denário” ficou claro pela gravura de um denário em sua página de dedicatória junto com uma referência a Mateus 20:9, que diz de acordo com a Versão Rei Jaime: “E quando chegaram os que foram contratados por volta da undécima hora, cada um recebeu um denário”.

Peneiramentos da Colheita tem a data de 1° de agosto de 1917, embora tenha sido preparado antes disso. Clayton Woodworth proferiu um discurso baseado nas alegações de Peneiramentos da Colheita em Boston, Massachusetts, na convenção dos Estudantes da Bíblia em 4 de agosto de 1917, que depois se tornou um panfleto de cinco páginas chamado “Parable of the Penny.” [A Parábola do Denário]. No panfleto, ele afirmou que o denário realmente representava O Mistério Consumado, Cristo era o “Senhor da vinha”, e o mordomo de que Cristo falou na ilustração não era outro senão o Juiz Rutherford. Não há dúvida de que Woodworth tirou suas ideias de Rutherford.

Com relação a essa interpretação alegórica, Woodworth até superou Johnson, fato que levou um historiador a observar que “com toda a probabilidade, Johnson era tão mentalmente são quanto seus acusadores”.33 Na verdade, alguém poderia se perguntar se, no que diz respeito ao uso das Escrituras, Johnson, Rutherford e Woodworth eram todos igualmente loucos.34 A não ser, é claro, que Rutherford estivesse simplesmente fazendo política. 

Macmillan, que continuou como assistente do presidente sob Rutherford, era um homem inteligente com uma personalidade aberta, agradável. Mas ele também era bem malvisto pelos diretores que o encaravam como um conspirador e um político religioso de primeira ordem.35 Van Amburgh, um homem alto, magro, elegante, de cabelos brancos, óculos sem aro e cavanhaque, detestava procedimentos democráticos e controlava as contas da Torre de Vigia de modo que ninguém além do presidente da Sociedade pudesse ver.36 Durante o julgamento do caso do Trigo Milagroso, Russell v. Brooklyn Eagle, cuja audiência foi em maio de 1915, Van Amburgh tinha prejudicado o Pastor Russell tanto quanto o ajudara, por não estar disposto a dar um testemunho franco.37 Mas o menos racional de todos era Clayton J. Woodworth, um dos co-autores de O Mistério Consumado. Em anos posteriores ele haveria de se provar um completo maníaco em assuntos de saúde e um odiador da profissão médica, ao passo que em 1917 era dado ao tipo de interpretações alegóricas absurdas, nas quais Paul Johnson também se meteu.38

Sem dúvida foi o comportamento pessoal de Rutherford, porém, em vez do comportamento de seus partidários, o que causou a maior parte dos problemas. Ele era extremamente secretivo e recusou-se a mostrar qualquer senso de responsabilidade para com o corpo de diretores. Ele não só manteve a impressão de O Mistério Consumado em segredo da comissão editorial da Sociedade, como também usou para a sua impressão dinheiro doado que nunca foi colocado nas contas da Sociedade.39 Igualmente sério, ele e Van Amburgh recusaram terminantemente que outras pessoas inspecionassem os livros da Sociedade ou fizessem uma auditoria. Quando o Vice-Presidente Andrew N. Pierson, o homem que tinha originalmente nomeado Rutherford para o cargo de presidente, pediu para vê-los, foi-lhe dito que só poderia fazer isso se concordasse em renunciar ao seu cargo.40 Pierson declarou publicamente por escrito: “Nunca tivemos um relatório satisfatório do tesoureiro desde que sou um diretor. Não sabemos qual é a situação do fundo monetário, nem qual é a situação financeira da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Quais é a relação financeira entre a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e a Associação do Púlpito do Povo? Como é investido o fundo? Quais são os títulos? Quanto eles rendem?”41 Ademais, poucos viam em Rutherford a bondade que Macmillan via. Johnson alegou que durante as audiências que o Juiz manteve com ele depois de seu retorno da Grã-Bretanha, Rutherford foi tanto cruel como odioso.42

Logo antes de Johnson ter sido obrigado a sair de Betel em 27 de julho de 1917, os diretores depostos e o Vice-Presidente Pierson afirmaram que Rutherford voltou-se contra ele num acesso de raiva e atacou-o fisicamente. O relato completo deles diz:

Na refeição do meio-dia, o Irmão Rutherford relatou à família de Betel que nós seríamos obrigados a deixar o lar de Betel ao meio-dia de segunda-feira. Os irmãos então consideraram seu dever fazer uma declaração à Família. O irmão Rutherford desejava que a Família só ouvisse a declaração dele; mas nós insistimos, e um de nós disse que desejava ler uma carta do Irmão Pierson declarando que ele tomaria posição a favor da antiga diretoria. O Irmão Rutherford recusou-se a deixar que a carta fosse lida e gritou que o irmão Johnson tinha ido ver o irmão Pierson e tinha deturpado o assunto para ele. Depois de o irmão Johnson ter negado isso firmemente, o irmão Rutherford correu para ele e, usando força física, que quase levantou o irmão Johnson no ar, disse num acesso de fúria: “Você vai deixar esta casa antes do anoitecer; se você não sair, será posto para fora.” Antes de anoitecer esta ameaça foi cumprida. Os pertences pessoais do irmão Johnson foram literalmente postos para fora do Lar de Betel e foram colocados irmãos como vigias em várias portas para impedi-lo de entrar novamente na casa.43

Ao assumir o controle completo da Sociedade Torre de Vigia em 1917, Rutherford agiu exatamente como se estivesse fazendo uma purga do partido comunista em vez de proteger a Sociedade de “opositores”. Ele não tinha visto nada errado em mandar Macmillan chamar um policial para que Wright, Hoskins, Ritchie e Hirsh – naquele momento ainda plenamente reconhecidos como diretores da Sociedade – fossem expulsos dos escritórios da Hicks Street,44 apesar de ele ainda estar sob obrigação de encará-los como irmãos em Cristo. E quando os quatro foram obrigados a abandonar o Betel de Brooklyn, foram tratados com a maior rudeza que Rutherford e seus apoiadores puderam manifestar. Posteriormente, Hirsh e Hoskins foram removidos como diretores da Associação do Púlpito do Povo, provavelmente de forma bastante ilegal, quando em 31 de julho Rutherford e Macmillan usaram procurações de detentores das ações dessa organização, que lhes tinham sido confiadas para a eleição de janeiro anterior, para votar pela remoção deles dos cargos.45

Não se deve inferir disto que os diretores demitidos eram isentos de erros; eles não eram. A Eclésia de Nova Iorque dos Estudantes da Bíblia viu falhas em ambos os lados das querelas dentro da Sociedade.46 O Vice-Presidente Pierson vacilou entre Rutherford e seus adversários. Embora inicialmente ele tenha apoiado os diretores destituídos, mais tarde ele se alinhou com Rutherford. No final, porém, ele se tornou um Estudante da Bíblia independente e morreu como tal.47 No entanto, em retrospecto, o que Ritchie, Hirsh, Hoskins e Wright exigiam de Rutherford parece muito mais razoável do que a liderança das Testemunhas de Jeová gostaria de admitir hoje. Talvez até os representantes da Sociedade saibam disso. Tão recentemente como no final da década de 1950, quando William Cumberland, então trabalhando numa dissertação de doutoramento na Universidade de Iowa, procurou examinar os documentos da Sociedade referentes ao cisma de 1917, eles se recusaram a deixá-lo ver. Ele foi obrigado a obtê-los dos Dawn Bible Students [Estudantes da Bíblia da Aurora], que são indiretamente os herdeiros dos adversários de Rutherford.48

A expulsão de Johnson e dos ex-diretores de Betel foi seguida por uma guerra de panfletos, com as várias partes apresentando suas versões da questão. Os oponentes de Rutherford esperavam desalojá-lo na próxima reunião anual dos acionistas da Sociedade, agendada para janeiro de 1918. Eles sugeriram que Menta Sturgeon, o secretário particular de Russell e o homem que estava com ele quando morreu, daria um bom presidente.49 Mas Rutherford passou-lhes a perna totalmente.

O juiz convocou uma sondagem democrática fingida entre os Estudantes da Bíblia em novembro de 1917. Embora a votação não fosse obrigatória, lançou as bases para a reeleição dele e de seus associados. Sem dúvida, a comunidade dos Estudantes da Bíblia considerava a Sociedade Torre de Vigia uma instituição sagrada porque tinha estado intimamente associada a Russell. Assim, visto que Rutherford a controlava durante o outono e o inverno, ele obteve o apoio da maioria dos Estudantes da Bíblia, embora poucos soubessem o que estava acontecendo.50

Quando os acionistas se reuniram, Rutherford foi reeleito enquanto seus oponentes só receberam uma pequena porcentagem dos votos. Até o Vice-Presidente Pierson, que tinha vacilado no seu apoio ao juiz, não conseguiu manter uma posição no quadro de diretores.51 Assim, os quatro diretores depostos e Johnson teriam de se submeter a Rutherford e seus associados ou separar-se permanentemente. Eles escolheram esta última opção.

Na primavera de 1918 os dissidentes resolveram reunir-se separadamente para a celebração anual do Memorial da Ceia do Senhor, com aqueles grupos de Estudantes da Bíblia que os apoiavam. Desenvolveram-se dois novos movimentos: um em torno de três dos quatro anteriores diretores da Torre de Vigia, e outro em torno de Paul Johnson. Estes foram o Pastoral Bible Institute [Instituto Bíblico Pastoral] e o Laymen’s Home Missionary Movement [Movimento Missionário da Casa do Leigo].52 Na costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá um terceiro grupo, chamando a si mesmos de “Standfasters” [Intransigentes], também se separou da Sociedade. Embora sem dúvida esses tivessem sido afetados pelos acontecimentos de Nova Iorque, a preocupação primária deles era que a Sociedade não tinha se oposto com firmeza ao envolvimento em ações patrióticas durante a Primeira Guerra Mundial.53 

Os Estudantes da Bíblia e a Primeira Guerra Mundial

Conforme indicado anteriormente, Russell e os Estudantes da Bíblia opunham-se fortemente à participação na guerra. Embora a vissem como um cumprimento da profecia, eles encaravam as nações envolvidas como estando controladas por demônios e fora do favor de Deus. Em resultado disso, Estudantes da Bíblia homens que se recusavam a servir como combatentes quando  convocados para o serviço militar frequentemente enfrentaram aprisionamento e tratamento brutal, e em alguns casos foram executados.54

Quando a Sociedade Torre de Vigia lançou uma campanha contundente contra o apoio do clero à guerra nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha durante o verão de 1917, a reação não demorou. Durante o outono daquele ano os Estudantes da Bíblia canadenses distribuíram grandes números do livro O Mistério Consumado e tratados intitulados The Bible Students Monthly [O Mensário dos Estudantes da Bíblia], e ambos continham ataques ao militarismo e ao clero.55 Em janeiro de 1918, o governo canadense baniu essas publicações e começou uma campanha de perseguição total contra os Estudantes da Bíblia.56

O clero e outros levantaram um clamor contra eles nos Estados Unidos. Estudantes da Bíblia começaram a ser presos, atacados por multidões, cobertos de piche e penas, e molestados por todo o país.57 Emitiram-se ordens de prisão de sete líderes da Sociedade Torre de Vigia e de um trabalhador de Betel, Giovanni De Cecca. Os líderes eram J. F. Rutherford, W. E. Van Amburgh, A. H. Macmillan, R. J. Martin, C. J. Woodworth, G. H. Fisher e F. H. Robinson. Todos os oito foram acusados de sedição sob os termos da Lei Americana de Espionagem. Em 21 de junho, sete deles foram sentenciados a vinte anos de prisão cada um na penitenciária federal de Atlanta, Georgia, E.U.A.; De Cecca foi sentenciado a dez anos. Treze dias depois, tendo-lhes sido recusada fiança enquanto esperavam pela apelação, os oito foram levados para Atlanta, onde ficariam detidos durante nove meses. Enquanto isso, o resto do pessoal da sede da Sociedade Torre de Vigia mudou-se de Brooklyn de volta para Pittsburgh. Embora eles continuassem a publicar A Torre de Vigia e Arauto da Presença de Cristo, em praticamente todo o resto os Estudantes da Bíblia pareciam estar quase destruídos como movimento.58

Ao longo do inverno, Rutherford e seus diretores associados foram encorajados pela sua reeleição aos cargos pelos membros da Sociedade Torre de Vigia reunida em Pittsburgo em janeiro de 1919. Macmillan encarou essa eleição como um sinal do favor de Jeová. Admitindo involuntariamente que todas as eleições anteriores dos representantes da Sociedade tinham sido predeterminadas – inclusive a de 1917 – ele disse ao Juiz Rutherford: “Esta é a primeira vez desde que a Sociedade foi incorporada que se tornou claramente evidente quem Jeová gostaria que servisse como presidente.”59 É claro que o grupo anti-Rutherford já tinha sido purgado das fileiras da Sociedade e já não era uma ameaça. Em segundo lugar, os diretores na prisão eram agora encarados como mártires pelos Estudantes da Bíblia que estavam eles próprios passando por perseguição. Considerando todas essas coisas, teria sido surpreendente  Macmillan não receber seu sinal de favor divino.

Em março de 1919, o Juiz Louis Brandeis do Supremo Tribunal dos Estados Unidos ordenou que Rutherford e os seus diretores associados fossem libertados sob fiança. Em abril, o Juiz Ward do Segundo Tribunal Federal de Apelação de Nova Iorque declarou: “Os réus neste caso não tiveram o julgamento moderado e imparcial ao qual tinham direito, e por esta razão o julgamento é anulado.” Um ano depois o governo dos Estados Unidos renunciou a todas as acusações contra eles.60

A Reorganização no Pós-Guerra

Depois da libertação da prisão em Atlanta, o Juiz Rutherford começou uma grande reorganização das atividades dos Estudantes da Bíblia. Em 4 de maio de 1919, ele discursou num congresso em Los Angeles, e quando os seus comentários foram bem recebidos, ele decidiu convocar um congresso geral dos Estudantes da Bíblia americanos e canadenses em Cedar Point, Ohio, EUA.61 Em Cedar Point ele declarou que os Estudantes da Bíblia devem “levar ao mundo a mensagem divina de reconciliação”; e para ajudá-los ele anunciou a publicação de uma nova revista, The Golden Age [A Idade de Ouro], em violação de uma provisão específica no testamento de Russell.63

No outono de 1919, os Estudantes da Bíblia começaram a distribuição regular de casa em casa de A Idade de Ouro.64 Mais importante, em 1920 “trabalhadores de classe”, isto é, Estudantes da Bíblia individuais envolvidos em evangelização pública, começaram a relatar as suas atividades à Sociedade Torre de Vigia. O livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino indica de forma um tanto incorreta o que estava então ocorrendo sob o novo presidente da Sociedade: “A maior ênfase da responsabilidade de pregação começou em 1920 quando se requereu que todos na congregação que participavam no trabalho de pregação entregassem um relatório semanal. Antes de 1918 só os colportores ou pioneiros [evangelistas por tempo integral] tinham relatado a sua atividade de serviço. Designações específicas de território estavam sendo feitas às congregações para o seu próprio trabalho de campo. No primeiro ano de relatórios, 1920, houve 8.052 ‘trabalhadores de classe’ e 350 pioneiros.”65 Assim começou uma das maiores campanhas de proselitismo na história – uma que continua até hoje.

Rutherford estava ansioso para expandir as atividades de pregação em terras fora dos Estados Unidos. Assim, em 1920, ao mesmo tempo em que o trabalho de pregação pública estava sendo reorganizado em nível congregacional, ele fez várias mudanças importantes na organização dos Estudantes da Bíblia no exterior. O escritório da filial canadense dos Estudantes Internacionais da Bíblia foi mudado de Winnipeg, Manitoba, para Toronto, Ontário.66 Numa viagem à Grã-Bretanha, à Europa continental, Palestina e Egito, o juiz providenciou o estabelecimento de um escritório e complexo de impressão numa filial Centro-Européia da Torre de Vigia em Zurique, Suíça.67 Adicionalmente, ele criou outra filial em Ramallah, Palestina, à vista de Jerusalém.68 Em 1921 houve mais expansão, e a Torre de Vigia contava com dezoito filiais estrangeiras e doze escritórios de filial nos Estados Unidos, formados para servir grupos de línguas estrangeiras no país.69

Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão

Um fator importante no crescimento em números e atividade dos Estudantes da Bíblia durante o início da década de 1920 foi algo mais do que organização melhorada; foi a campanha “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”. Pouco antes de sua prisão em 1918, o Juiz Rutherford tinha proferido um discurso com esse título na Califórnia, mas foi só em setembro de 1920 que um livro com o mesmo nome foi publicado e anunciado por um grande programa de discursos e anúncios em jornais. O livro foi traduzido para onze línguas estrangeiras – incluindo iídiche, malaio e burmês – e tornou-se um best-seller. O que evidentemente geral tanto interesse, além do título da nova publicação, foi a sugestão de que o milênio começaria em 1925. Essa projeção, baseada nos cálculos do Ano do Jubileu encontrados originalmente no livro Os Três Mundos e a Colheita Deste Mundo, levou Rutherford a especular que haveria uma “plena restauração” da humanidade naquele tempo. Adicionalmente, ele declarou: “Podemos esperar em 1925 a volta daqueles homens fiéis de Israel [Abraão, Isaque e Jacó] da morte e completamente restituídos à perfeição humana, os quais serão visíveis e reais representantes da nova ordem das coisas na terra.”70

É verdade que o juiz, assim como C. T. Russell antes dele, não alegava inspiração para as suas ideias e no ano seguinte ele adotou uma posição mais cuidadosa no livro A Harpa de Deus. Lá ele observou: “A cronologia, pelo menos até certo ponto, depende de cálculos exatos e há sempre alguma possibilidade de erros. Profecia cumprida é o registro de fatos físicos que realmente existem e estão definitivamente fixados.”71 Mas, nem Rutherford nem seus colegas prestaram realmente muita atenção a essa cautela e continuaram a proclamar as predições publicadas em Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão. Por exemplo, no livro The Way to Paradise [O Caminho Para o Paraíso], publicado em 1924, William E. Van Amburgh profetizou com até mais detalhes tudo o que ocorreria no ano seguinte e logo depois.72 Em consequência, conforme 1925 se aproximava, gerou-se grande excitação entre os Estudantes da Bíblia. De acordo com relatos ainda circulados por pessoas que eram membros da comunidade dos Estudantes da Bíblia naquela época, muitos desistiram dos seus negócios, empregos e até venderam suas casas na expectativa de que em breve seriam levados para o céu e muitos humanos – incluindo os judeus – estariam vivendo num paraíso terrestre, no pós-Armagedom. Assim, quando Rutherford admitiu em A Torre de Vigia de 15 de fevereiro de 1925 que talvez se tivesse esperado demasiado para aquele ano,73 já era tarde demais. Muitos fazendeiros Estudantes da Bíblia tanto no Canadá como nos Estados Unidos recusaram-se a semear os seus campos na primavera e ridicularizaram os seus correligionários fizeram isso. Assim, quando 1926 chegou sem o aparecimento de Abraão e dos outros “notáveis da antigüidade”, e sem qualquer sinal do arrebatamento da igreja ou de um paraíso terrestre, foi grande o desapontamento.

Embora Rutherford não tenha admitido qualquer culpa real sobre o assunto nas publicações da Sociedade, ele fez apologias descaracterizadas em congressos da AIEB. Evidentemente, ele estava desgostoso, pois anos depois, o membro do Corpo Governante Karl Klein declarou que o juiz havia admitido que ele “se fez de asno quanto a 1925”. Todavia, isto não o impediu de continuar a proclamar que o fim do mundo era “iminente” e que poderia ser esperado dentro de poucos anos ou até poucos meses. O fato de ele ter profetizado falsamente também não lhe parece ter feito mudar de ideia sobre a campanha de pregação dos Estudantes da Bíblia, sobre o seu ministério ou o seu desejo de manter e ampliar seus poderes pessoais. Mas como os eventos viriam a mostrar, muitos Estudantes da Bíblia pensaram bem diferente disso: o fracasso de 1925, junto com o crescente ressentimento contra o presidente da Torre de Vigia, levou muitos milhares a sair do movimento nos anos seguintes. Isso é demonstrado pelo aumento dramático na assistência à Comemoração dos Estudantes da Bíblia nos anos que antecederam 1925 e a queda igualmente dramática dessa assistência em 1928, conforme ilustrado no gráfico a seguir:

O Ministério de Rutherford

Durante os anos posteriores a 1925, Rutherford lançou um dilúvio de novos livros e folhetos, incluindo Libertação em 1926, Criação em 1927, ReconciliaçãoGoverno e Vida em 1929, e vários outros até a publicação de seu último livro, Filhos,  em 1941. De fato, ele produziu uma média de um livro por ano, e suas publicações alcançaram um total de 36 milhões de cópias.75 Mas ele não foi apenas um escritor. Ele mostrou ser em todos os aspectos um dínamo humano, tanto quanto C. T. Russell tinha sido. Vez após vez ele discursou nos congressos da Torre de Vigia, na rádio nacional e internacional entre meados da década de 1920 e 1937, e em muitas gravações de fonógrafos. 

Congressos

Também muito importante foi o fato de Rutherford transformar os congressos dos Estudantes da Bíblia/Testemunhas de Jeová em grandes eventos publicitários. Embora os congressos tenham sido importantes durante o tempo de Russell, eles eram pouco mais  do que reuniões espirituais para os próprios Estudantes da Bíblia. Sob Rutherford isso mudou dramaticamente.

Entre 1922 e 1928 a Sociedade Torre de Vigia realizou uma série de congressos que as Testemunhas de Jeová hoje acreditam que foram os sete toques  de trombeta angélicos mencionados em Revelação 8:1-9 e 11:15-19.76 Assim, cada congresso condenou uma parte da “organização de Satanás” ou o próprio Satanás. Em 1922, em Cedar Point, Ohio, EUA, o apoio do clero à Liga das Nações foi condenado como deslealdade ao reino de Cristo. Logo depois, umas 45 milhões de cópias de uma resolução nesse sentido foram distribuídas em todo o mundo. No ano seguinte, em Los Angeles, os Estudantes da Bíblia presentes aprovaram uma resolução intitulada “Um Aviso”, que mais uma vez atacava o clero e também circulou por todo o mundo. Em Columbus, Ohio, em 1924, eles adotaram a “Acusação” contra homens do clero e distribuíram ainda mais cópias de um panfleto intitulado Ecclesiastics Indicted [Denunciados os Eclesiásticos] do que tinham distribuído nas resoluções anteriores. Daí, em 1925, em Indianápolis, Indiana, EUA, eles proclamaram uma “Mensagem de Esperança” para a humanidade mas continuaram a condenar a cristandade e seus líderes religiosos. Em Londres, Inglaterra, em 1926, eles bradaram em aprovação de “Um Testemunho aos Regentes do Mundo”, que censurava a Grã-Bretanha e o mundo. No ano seguinte, em Toronto, Ontário, Canadá, Rutherford leu uma resolução para 15.000 Estudantes da Bíblia reunidos, intitulada “Aos Povos da Cristandade”. Um discurso de apoio, “A Liberdade dos Povos”, foi transmitido por uma cadeia internacional de cinqüenta e três estações de rádio, um número espantoso para aquele tempo. Por fim, em 1928, em Detroit, Michigan, EUA, os Estudantes da Bíblia aceitaram uma “Declaração Contra Satanás e a Favor de Jeová”.77

Em anos posteriores outros congressos também foram de grande importância, especialmente um realizado em Washington, DC, EUA, em 1935, e outro realizado em St. Louis, Missouri, EUA, em 1941. Nesta assembleia, a última do Juiz Rutherford, estiveram presentes umas 115.000 pessoas,78 e as Testemunhas de Jeová puderam desafiar abertamente a terrível perseguição que então as atingia como uma onda gigante em resultado da acusação de que elas eram inimigas não patrióticas das nações em que viviam.

O Aumento do Poder de Rutherford

Ao mesmo tempo em que realizava suas atividades de escrita e pregação, Rutherford gradualmente começou a ganhar mais controle sobre a comunidade dos Estudantes da Bíblia. Ele tinha-se tornado absoluto no que se referia aos negócios da Sociedade em 1917. Em 1925 ele tornou-se igualmente absoluto na determinação de quais doutrinas deveriam ser ensinadas nas publicações da organização. Desconsiderando as objeções da comissão editora da Sociedade, ele publicou um artigo importante e doutrinariamente revolucionário, intitulado “O Nascimento da Nação”.79 Em resultado disso, ele destruiu a comissão.80 Mas as eclésias ainda eram relativamente independentes sob seus próprios anciãos eletivos. Mas, isso não duraria muito. Assim como Paul Johnson tinha suspeitado antes,81 Rutherford estava determinado a colocá-los sob o controle centralizado da Torre de Vigia em nome do que ele mais tarde decidiu chamar de “Governo Teocrático”.

Segundo Rutherford, o propósito primário da comunidade dos Estudantes da Bíblia era pregar. Para cumprir esse requisito, tudo tinha de ser feito para promover o evangelismo – especialmente o evangelismo de porta em porta com as publicações da organização. Assim, todos os congressos de 1919 em diante passaram a enfatizar a importância de anunciar a mensagem da Torre de Vigia.

Por fim, a barragem constante de propaganda convenceu muitos Estudantes da Bíblia de que, num estranho sentido, eles tinham de “pregar ou morrer”. Ao longo da década de 1920 Rutherford passou a afirmar que todos os cristãos têm de pregar publicamente em cumprimento de Mateus 24:14. Porém, apesar dessa pressão constante, outros – talvez a maioria – resistiram a ser compelidos ao trabalho de pregação. Muitos ainda mantinham a crença da época de Russell, de que o desenvolvimento do caráter ou santificação cristã era mais importante do que o proselitismo. Muitos também não podiam aceitar o argumento de que se exigia que todos testemunhassem de porta em porta. E, mais importante, muitos anciãos eletivos ressentiram-se da crescente autoridade e manipulação da Sociedade sobre as congregações locais. Assim, para atingir seu objetivo de um domínio completo sobre a comunidade dos Estudantes da Bíblia, Rutherford teve de seguir alguns passos. Entre estes, ele teve de destruir o conceito de santificação ou desenvolvimento do caráter, e também a ideia de que Russell tinha sido o servo fiel e sábio.

Para cumprir o primeiro passo, ele publicou um artigo na A Torre de Vigia de 1° de maio de 1926, no qual ele desacreditou completamente o termo ‘desenvolvimento do caráter’. Curiosamente, se alguém verificar esse artigo e compará-lo com as declarações de Russell sobre o assunto, verá que Rutherford recorreu à falácia do espantalho. Porém, ao desacreditar o velho conceito dos Estudantes da Bíblia da santificação como “obra de retidão”, ele pode, paradoxalmente, colocar maior ênfase na obra do evangelismo.

Era óbvio, porém, que enquanto a Sociedade distribuísse as obras de Russell e continuasse a encará-lo como o servo fiel e sábio, os Estudantes da Bíblia relutarilam em adotar sem questionar as ideias de Rutherford. Assim, no número de A Torre de Vigia de 1° de janeiro de 1927 Rutherford publicou um artigo que foi obviamente produzido para desacreditar a reputação de Russell. Entre outras coisas esse artigo disse: “O esquema do inimigo é afastar o homem de Deus, por induzir o homem a reverenciar algum outro homem; e dessa forma muitos caem no laço do Diabo.”82

Pouco depois, em fevereiro do mesmo ano, a Sociedade abandonou a ideia de que Russell tinha sido o servo fiel e sábio; dali em diante “aquele servo” devia ser encarado como sendo o remanescente dos eleitos de Deus na terra – aqueles dos 144.000 santos de Revelação 14:1 que ainda não se tinham juntado a Cristo na glória celestial.83

Enquanto Rutherford desacreditava a memória de Russell e seus ensinos, ele estava ampliando sua própria autoridade. Conforme Timothy White aponta bem convincentemente por meio da citação de trechos da revista A Torre de Vigia, o que Rutherford fez foi mudar a definição do termo “Sociedade” para passar a significar a inteira comunidade dos Estudantes da Bíblia – na verdade, a igreja. Segundo White, em 1919 e 1920 Paul Johnson pôs em circulação um artigo intitulado “The Church Organized in Relation to the Society” [A Igreja Organizada em Relação com a Sociedade]. Nesse artigo Johnson argumentou que a Sociedade deveria ser o servo da igreja (os Estudantes da Bíblia) em vez de ser seu mestre. Em resposta, Rutherford sustentou que: “Embora a Sociedade seja uma pessoa jurídica que tem necessariamente representantes e servos, em si mesmos estes não constituem a Sociedade. Num sentido mais amplo, a Sociedade é composta do corpo de cristãos organizados de maneira ordeira sob a direção do Senhor para efetuar seu trabalho.” Por esta definição, conforme White afirma, Rutherford estava alegando que por ser o presidente da Sociedade, ele era também realmente o “presidente da igreja.”84 Embora o juiz não tenha se atrevido a fazer essa alegação explicitamente, por volta de 1940 a Sociedade Torre de Vigia tinha vindo a reconhecer esse fato abertamente. A revista Consolation [Consolação, o novo nome de A Idade de Ouro] disse: “A Teocracia é atualmente administrada pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, da qual o Juiz Rutherford é o presidente e administrador geral.”85 

O Novo Nome

Durante os anos que se seguiram a 1919, Rutherford e seus associados rotularam os seus companheiros Estudantes da Bíblia que já não aceitavam as direções da Sociedade como “servos iníquos”, a “classe de Judas” e a “classe de Dalila”. Ainda assim, muitos Estudantes da Bíblia associados com a Torre de Vigia ainda continuavam a encarar essas pessoas como irmãos em Cristo. Consequentemente, para diferenciar mais claramente os seus seguidores dos muitos Estudantes da Bíblia independentes, em 26 de julho de 1931, às 16 horas, Rutherford leu uma resolução perante um congresso da Torre de Vigia reunido em Columbus, Ohio, EUA, que os convidou a aceitarem o novo nome: ‘Testemunhas de Jeová’.86

Os argumentos que o Juiz usou eram uma obra prima de lógica falaciosa e má exegese. Por exemplo, ele usou Isaías 62:1, 2 segundo a tradução de Rotherham para mostrar que o povo de Deus haveria de receber “um novo nome”. Mas, conforme Timothy White aponta, se ele tivesse se dado ao trabalho de ler mais dois versículos teria descoberto que o novo nome seria “Hefizibá” [“meu prazer está nela”], e não “Testemunhas de Jeová”.87 Todavia, a escolha do novo nome foi um audacioso golpe de gênio por parte de Rutherford. Pois, provavelmente mais do que qualquer outra coisa, deu uma proeminência e singularidade aos apoiadores da Torre de Vigia que nada mais poderia ter dado. Também serviu como um importante rompimento psicológico com Russell e com o passado dos Estudantes da Bíblia, e foi um passo importante na criação de um arranjo “teocrático” altamente centralizado sob Rutherford e seus sucessores selecionados. É claro que isso ofendeu alguns Estudantes da Bíblia que antes tinham permanecido leais à Sociedade; de fato, isso representava a adoção de um nome sectário em violação de um dos ensinos mais prezados de Russell. Mas Rutherford sem dúvida queria que tais pessoas se submetessem ou deixassem o movimento de qualquer maneira. Para o juiz, qualquer um que não estivesse totalmente a favor dele estava contra ele – e contra Jeová também.

O Desenvolvimento do Governo Teocrático

As mudanças nas doutrinas dos Estudantes da Bíblia referentes a escatologia, desenvolvimento do caráter e o servo fiel e sábio levaram muitos a sair do movimento.88 O artigo da revista A Torre de Vigia intitulado “O Nascimento da Nação” em 1925 por si só evidentemente fez com que muitos saíssem.89 Contudo, enquanto as congregações ou eclésias locais fossem lideradas pelos seus próprios anciãos e cuidassem de seus próprios assuntos, podiam, se assim quisessem, ignorar a maior parte dos pronunciamentos de Rutherford e continuar em associação com outros Estudantes da Bíblia. Por causa disso, Rutherford decidiu dominar os anciãos ou, se isso não funcionasse, aboli-los como classe.

Conforme já observado, ele usou o argumento de que a Sociedade (a inteira comunidade dos Estudantes da Bíblia) era consagrada para efetuar um grande testemunho ou trabalho de pregação nos últimos dias. Consequentemente, qualquer pessoa que se opusesse ao trabalho da Sociedade (a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados) conforme  instruído por seu presidente, estava em oposição à vontade de Deus. Assim, ele sustentou que os anciãos que se recusassem a obedecer às instruções da sede em Brooklyn, Nova Iorque, eram “orgulhosos”, “arrogantes” e uma hoste de outras alcunhas que Rutherford gostava de usar para se referir a eles.90

O juiz era bem esperto para simplesmente atacar os anciãos sem ter outros para colocar no lugar deles. Durante os anos de 1919 a 1932, ele aumentou gradualmente o seu controle sobre as congregações locais de Estudantes da Bíblia por desenvolver novas atividades de pregação dirigidas pela Sociedade, que foram colocadas sob a superintendência dos diretores de serviço que tinham originalmente sido nomeados para distribuir a revista A Idade de Ouro em 1919. Estas novas atividades incluíam a circulação de várias resoluções de congressos e, a partir de 1926, a distribuição da literatura da Torre de Vigia de casa em casa. Consequentemente, o que Rutherford estava fazendo era formar em cada congregação um grupo de diretores pregadores partidários da Sociedade. Embora eles fossem nomeados localmente pelas eclésias, eram designados pela Sociedade, e tendiam a ser leais a Rutherford e à Sociedade de todas as formas.91

Ao mesmo tempo, Rutherford decidiu enfraquecer a autonomia congregacional mudando a natureza das reuniões locais. Ele sugeriu que as reuniões tradicionais de oração e testemunho dos Estudantes da Bíblia fossem divididas em duas partes, uma delas tornando-se uma “reunião de serviço” – dedicada quase exclusivamente a promover o trabalho de pregação pública. Discursos públicos ou sermões, proferidos sobre vários temas escolhidos pelos anciãos, foram desencorajados enquanto se incentivaram estudos da revista A Torre de Vigia, no estilo pergunta-e-resposta. Assim, gradual e sutilmente, o juiz passou a controlar mais e mais o alimento espiritual administrado às congregações dos Estudantes da Bíblia.92

Tão tardiamente quanto 1932, Rutherford e seus apoiadores ainda estavam irritados com a independência de alguns anciãos e a má vontade deles em aceitar inquestionavelmente as ordens da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Depois de muita discussão, o juiz decidiu resolver o problema eliminando os anciãos. Assim, apareceu na revista A Torre de Vigia de 1° de fevereiro de 1932 uma carta – obviamente inserida ali antecipando acontecimentos futuros – de Charles Morrell, um Estudante da Bíblia de longa data e secretário particular do Presidente do Supremo Tribunal Canadense, Sir Lyman Duff. A carta, que apareceu na página 47, dizia:

A seguinte pergunta é submetida tanto para consideração como para resposta, pois suponho que se o ponto envolvido é sólido, será abordado em A Torre de Vigia no devido tempo.

Essencialmente, o apóstolo diz que o espírito santo fez dos anciãos superintendentes do rebanho de Deus. Tendo o próprio Senhor agora assumido a superintendência de Sião, ainda há justificativa para o serviço de anciãos?

Expresso de maneira diferente, não era o propósito do Senhor limitar a jurisdição dos anciãos ao tempo da ausência  do Senhor Jesus na terra, em seguida à sua ascensão, e dando o espírito santo como guia ou instrutor, e a vinda de Cristo Jesus ao templo?

Uma evidência externa para isto pode residir no fato de ter havido lugar para considerável criticismo dos anciãos em anos recentes, principalmente desde 1922. Chamados a servir, muitos deles provaram ser um “espinho na carne” da Sociedade, dos diretores, da organização de serviço e dos trabalhadores fiéis. A eleição deles, supostamente expressando a “Vontade do Senhor” pelo espírito santo, freqüentemente resultou em oposição à “mente do Senhor” conforme manifesta por meio da Sociedade.

Será que a remoção do espírito santo não significa o fim do governo da igreja das “fileiras para cima”, e a vinda do Rei ao seu templo não significa o governo da igreja do “trono para baixo”? E se é assim, não temos nós uma organização dual, governada do “trono para baixo” e das “fileiras para cima”?

Sendo a resposta afirmativa, não seria nos interesses do reino, e biblicamente correto, dispensar completamente os anciãos e diáconos, e substituir instrutores da mesma maneira como são designados os diretores?

Com caloroso amor cristão, por Sua graça, sou,

Vosso irmão,

Charles Morrell, Ontário.

Em resposta direta às perguntas de Morrell, os números de 15 de agosto e 1° de setembro de 1932 de A Torre de Vigia apelaram à abolição dos anciãos congregacionais eleitos, indo ao ponto de afirmar que o cargo de ancião era claramente antibíblico. Em resultado disso, o sistema de anciãos e diáconos democraticamente eleitos que tinha existido durante mais de cinqüenta anos foi encerrado. Dali em diante, as publicações da Sociedade continuaram a lançar desprezo sobre os anciãos eleitos. Eles foram descritos como “arrogantes” e “preguiçosos”, não estando dispostos, pelo menos na maioria dos casos, a envolverem-se no trabalho de pregação das boas novas do reino de Cristo.93 Na verdade, o pecado primário deles tinha sido a recusa em ceder voluntariamente às ideias do Juiz Joseph Franklin Rutherford.

Durante algum tempo, as comissões de serviço que substituíram os anciãos e diáconos eram eleitas pelas congregações locais. Mas em 1938 todos os seus representantes ou “servos”, como eram então chamados, passaram a ser designados pela Sociedade Torre de Vigia. A democracia congregacional foi suplantada pelo governo teocrático. Os Estudantes da Bíblia, agora Testemunhas de Jeová, tinham se tornado um exército de evangelizadores. Até os nomes que usavam eram de natureza militar. Eles não deviam mais se referir às suas congregações como “classes”, “eclésias” ou “igrejas” como tinham feito durante muito tempo; agora elas eram “companhias” sob “servos de companhia”, os sucessores dos diretores de serviço. Os colportores eram agora evangelizadores por tempo integral conhecidos como “pioneiros”, muitos dos quais tinham servido como “atiradores de elite” numa guerra espiritual contra o Diabo e seu sistema.

Alienação Social Crescente

Outras mudanças significativas sob a presidência de Rutherford tenderam a tornar os Estudantes da Bíblia – Testemunhas de Jeová sociologicamente mais sectários ou, como Werner Cohn os descreveu, mais “proletários” no sentido marxista original desse termo.94 Com efeito, eles tornaram-se bem mais isolados e alienados do resto da sociedade em sentido psicológico, uma comunidade que vive e trabalha dentro, mas não faz parte de sociedades mais amplas.

Rutherford passou a achar, por exemplo, que seriam ressuscitadas menos pessoas do que Russell achava. O pastor Russell, um ser humano geralmente caloroso e bondoso quando sua autoridade não estava sendo questionada, não acreditava na salvação universal, mas tinha chegado perto disso. Todavia, para espanto de muitos Estudantes da Bíblia, em 1923 a revista A Torre de Vigia afirmou diretamente que não havia qualquer esperança para o clero da cristandade.95 Mais tarde, os Estudantes da Bíblia dissidentes foram classificados como “escravos iníquos” e como “o homem da perdição” e por isso foram condenados à destruição eterna.96 Perto do fim da década de 1930, a literatura da Sociedade estava ensinando, em forte contraste com as opiniões de Russell, que Adão e Eva, Caim e os habitantes de Sodoma e Gomorra, Salomão, os escribas e fariseus e muitos outros tinham perecido eternamente. Além disso, passou a ser defendido que qualquer pessoa que rejeitasse a mensagem das Testemunhas de Jeová depois de 1918, junto com todas as crianças pequenas incluindo bebês de colo que morressem no Armagedom não teriam esperança de ressurreição.97 E embora Estudantes da Bíblia da velha guarda que continuavam em associação com a Sociedade muitas vezes se recusassem discretamente a aceitar tais ensinos, os novos convertidos, que substituíram gradualmente e logo superaram em número o punhado de leais à Torre de Vigia dos dias de Russell, aceitavam essas coisas.

Nas edições de A Torre de Vigia de 1° de junho e 15 de junho de 1929, Rutherford também introduziu uma nova exegese de Romanos 13:1-7, que fez com que as Testemunhas encarassem o Estado secular como demoníaco e virtualmente sem aspectos positivos. Em 1932, ele e a Sociedade abandonaram uma longa tradição que tinha ensinado que judeus naturais e o Sionismo tinham um papel especial no plano divino de Jeová; agora as próprias Testemunhas deveriam ser encaradas como o único Israel de Deus.98 E em 1935 as Testemunhas, encorajadas pelas ações dos seus irmãos na Alemanha e por um discurso do Juiz Rutherford, tomaram uma posição mais forte contra a saudação de bandeiras nacionais e levantar-se quando eram entoados hinos nacionais.99

Rutherford e os homens próximos a ele também passaram a ter uma influência cada vez maior sobre as Testemunhas de outras maneiras. O Juiz era um homem bem tendencioso e profundamente preconceituoso. Assim, como um populista à moda antiga, ele tinha uma bem alardeada simpatia pelos pobres e, seguindo as pisadas de Russell, geralmente manifestava um senso de tolerância racial. Porém, curiosamente, sua alardeada simpatia para com os judeus e negros era muitas vezes misturada com uma intolerância branca típica do sul dos Estados Unidos, em relação a esses grupos. Por exemplo, enquanto proferiu um discurso sobre o regresso dos judeus à Palestina na profecia, num congresso dos Estudantes da Bíblia em Winnipeg, Manitoba, no início da década de 1920, ele disse: “Estou me referindo ao judeu da Palestina, não ao indivíduo de nariz adunco e ombros caídos que fica nas esquinas tentando extorquir cada centavo que você tem.”100 No que se refere às mulheres, ele era completamente misógino. Ele viveu afastado de sua esposa durante anos e odiava feministas. Assim, ele até chegou ao ponto de sugerir que era moralmente errado para homens cristãos tirar o chapéu às senhoras, levantar-se quando elas entravam numa sala, ou mostrar qualquer deferência específica a mulheres. O Dia das Mães era considerado uma conspiração feminista. Mas talvez mais espantoso ainda, ele citou abertamente a descrição de Rudyard Kipling de uma mulher como “uma mecha de cabelo e um saco de ossos.”101 Não admira que muitas Testemunhas, principalmente trabalhadores das classes baixas, de colarinho azul, adotaram os valores do juiz, explícita ou implicitamente. Todavia, apesar de seu machismo, há evidências de que Rutherford dependia de duas mulheres que evidentemente o adoravam. Uma delas era sua secretária, Bonnie Boyd Heath, que o chamava de “Pappy”,102 e a outra era Berta Peal, sua enfermeira pessoal, nutricionista e talvez também sua amante.103

Embora gostasse muito de bebidas alcoólicas e levasse um estilo de vida bem luxuoso, o juiz às vezes era uma pessoa austera, e a austeridade tornou-se uma regra na vida das Testemunhas. Natal, festas de aniversário e outros costumes populares foram descritos como de origem pagã, não-cristãos e, portanto, não deveriam ser celebrados ou praticados.104 Por algum tempo, até mesmo o canto de hinos congregacionais foi proibido.105 Barbas, freqüentemente usadas por muitos Estudantes da Bíblia em imitação de C. T. Russell, foram proibidas nos escritórios e gráficas da Torre de Vigia em todo o mundo.106 A barba era encarada como um sinal de vaidade, embora muitas Testemunhas mais antigas ignoraram Rutherford neste assunto e continuaram a usá-la.

Rutherford não foi a única influência da comunidade dos Estudantes da Bíblia – Testemunhas de Jeová nas décadas de 1920 e 1930, embora certamente tenha sido a mais importante. Clayton Woodworth foi uma segunda influência, e por isso também merece alguma descrição. Conforme observado anteriormente, Woodworth foi mais do que só um tanto excêntrico. Como consequência disso, ele haveria de impor às Testemunhas algumas ideias bem pouco ortodoxas por meio das páginas da revista A Idade de Ouro, da qual era editor. Entre outras coisas, ele odiava a Associação Médica Americana, negava a teoria das doenças provocadas por germes, atacava constantemente a vacinação contra a varíola como sendo um costume nojento de injetar pus animal no organismo humano, e fez uma cruzada contra a indústria do alumínio. Os utensílios de alumínio, segundo Woodworth, eram venenosos.107 Assim, as Testemunhas aprenderam com ele mais algumas atitudes e práticas estranhas. Muitas vezes, quando ficavam indispostas depois de comerem num restaurante ou bar, as famílias de Testemunhas atribuíam a sua indisposição aos utensílios de alumínio em vez de a uma intoxicação alimentar, embora esta última hipótese fosse mais provavelmente a causa.

O Ano de Resgate de Jeová (de A Idade de Ouro de 13 de março de 1935, pág. 381)

Talvez a atitude mais extrema de Woodworth tenha sido a criação de um novo calendário para as Testemunhas de Jeová. Nas edições de A Idade de Ouro de 13 de março, 27 de março e 10 de abril de 1935, ele publicou um artigo em três partes intitulado “The Second Hand in the Timepiece of God” [O Segundo Ponteiro no Relógio de Deus]. Com seu zelo típico, ele despejou crítica verbal sobre o clero da Igreja de Roma e passou a descrever praticamente todos os calendários em uso na época como sendo do Diabo. Depois de uma longa discussão sobre vários textos bíblicos e cálculos astronômicos, ele apresentou o seu novo calendário “teocrático” na página 381 da A Idade de Ouro de 13 de março. Todos os nomes dos meses e dos dias da semana eram diferentes dos usados popularmente. Além disso, o novo calendário começava com a crucificação em vez de começar com o nascimento de Cristo, e os novos anos deveriam começar na primavera. Por fim, o número de dias nos novos meses foi um pouco modificado. Felizmente, o Juiz Rutherford teve o bom senso de nunca permitir que o calendário teocrático de Woodworth fosse usado.108

O Crescimento da Comunidade dos Estudantes da Bíblia  Testemunhas de Jeová

 Durante a maior parte da administração de Rutherford, o crescimento do número de Estudantes da Bíblia – Testemunhas foi surpreendentemente lento, principalmente em vista da grande quantidade de literatura da Torre de Vigia distribuída, o número de sermões de Rutherford pregados pelo rádio, e o número de horas gastas na realização de visitas às casas por zelosos “publicadores do reino”. Praticamente não houve crescimento algum antes de 1928, e durante a década seguinte o número de publicadores ou pregadores ativos aumentou apenas 2,97% por ano para um total de 59.047.109 Em 1938 só 69.345 assistiram ao Memorial anual da Ceia do Senhor.110 Portanto, em termos numéricos, dificilmente se poderia dizer que as Testemunhas de Jeová tinham se tornado um grande sucesso, e a grande campanha de proselitismo de Rutherford provavelmente tinha afastado muito mais membros do público do que atraído.

Um dos principais fatores que inibiam um crescimento mais rápido foi que, ao mesmo tempo que estavam sendo feitos numerosos novos convertidos, quase tantos Estudantes da Bíblia de longa data estavam cortando a sua associação com a Sociedade.111 Contínuas mudanças doutrinais e a luta entre o Juiz Rutherford e os anciãos levou muitos mais a afastarem-se; e quando em 1929 e 1930 um movimento mais ativo, tradicionalmente “Russellita”, o Dawn Bible Students Association [Associação dos Estudantes da Bíblia da Aurora], começou a surgir, muitos se juntaram a ele.112 Depois disso, quando as Testemunhas de Jeová procuravam a associação mais liberal e tradicional dos Estudantes da Bíblia, ela tendiam a migrar para esse grupo.

Lentamente, porém, as Testemunhas de Jeová começaram a expandir-se e nos últimos anos da vida do juiz milhares de novos convertidos se juntaram a elas. Vários fatores, todos merecendo alguma análise, foram responsáveis por esse crescimento. Estes incluíram a organização melhorada sob o governo teocrático, a doutrina da vindicação do nome de Jeová, a nova doutrina da “grande multidão” e graves condições mundiais, provocadas pela Depressão, a ascensão do Fascismo e o irrompimento da Segunda Guerra Mundial. Por fim, a firme fidelidade das Testemunhas durante a terrível perseguição nas décadas de 1930 e 1940 deu-lhes uma proeminência e simpatia que atraiu muitos a elas.

O governo teocrático mudou a natureza da comunidade das Testemunhas. Não só os servos de companhia e seus assistentes eram nomeados diretamente pela Sociedade, como as companhias locais eram organizadas em “zonas” sob “servos de zona” que as visitavam regularmente para encorajar o trabalho de pregação e “manter a unidade de ação”. Cerca de vinte congregações eram formadas juntas numa área particular para compor uma zona e de tempos a tempos realizavam-se congressos de zona. As zonas eram por sua vez organizadas em regiões sob servos regionais que visitavam as zonas na época dos congressos. Em 1° de outubro de 1938, os Estados Unidos estavam divididos em onze regiões que estavam subdivididas em 148 zonas.113 Assim, o governo teocrático ocasionava a criação de um sistema plenamente desenvolvido de administração hierárquica com “servos” que detinham exatamente tanta autoridade entre as Testemunhas de Jeová como os arcebispos e bispos tinham entre os católicos romanos. E estes servos enfatizavam, como nunca antes tinha sido feito, que se uma pessoa quisesse ser aprovada pela Sociedade, e consequentemente por Jeová, ela deveria pregar.

Por volta de 1938 eram poucos os Estudantes da Bíblia de mentalidade mais independente que ainda permaneciam em associação com a Sociedade Torre de Vigia. Opor-se à teocracia de qualquer modo significava ser classificado como “perturbador” e banido. Com poucas exceções, isto significava que a maioria das Testemunhas de Jeová apoiava completamente a pregação de casa em casa e tudo o mais que fosse publicado na revista A Sentinela. Conforme uma Testemunha idosa da Califórnia disse: “Se A Sentinela dissesse que a lua era feita de queijo verde, eu acreditaria.” Felizmente A Sentinela não foi tão longe assim; mas, quando a Sociedade instruía as Testemunhas a realizar uma campanha de evangelização sob todas e quaisquer circunstâncias, elas estavam dispostas a obedecer até a própria morte. Não admira que os nazistas as tenham considerado um movimento político rival perigoso.114

A Vindicação do Nome de Jeová

Um fator importante por trás desse zelo era a doutrina da vindicação do nome de Jeová, uma doutrina que foi mantida pelas Testemunhas de Jeová até a década de 1980. Sob Russell, a doutrina central dos Estudantes da Bíblia tinha sido o resgate expiatório de Cristo que era encarado como a expressão do amor de Deus pela humanidade. Consequentemente, para Russell e os Estudantes da Bíblia dos seus dias, o Novo Testamento era encarado como sendo mais importante do que o Antigo. Embora às vezes enfatizassem a importância da ira de Deus, isto não era uma doutrina primária para eles. Sob Rutherford, tudo isso mudou. Escrevendo na página 320 do livro Jeová, publicado em 1934, ele disse taxativamente: “Deus providenciou que a morte de Cristo Jesus, o seu amado filho, fornecesse o resgate ou preço redentor para o homem; mas essa bondade e amor para com a humanidade são secundários em relação à vindicação do nome de Jeová.” O juiz enfatizou como, por serem fiéis à sua comissão, as testemunhas de Deus ao longo da história tinham tido uma parte na vindicação do nome divino. Mas a vindicação definitiva do Todo-Poderoso viria no Armagedom quando os iníquos seriam destruídos. Usando interpretação alegórica, Rutherford argumentou que ao trazer vingança sobre os iníquos nos dias do antigo Israel, Jeová estava simplesmente prefigurando o que faria nos últimos dias deste mundo iníquo. Por isso tornou-se da máxima importância que os homens escolhessem: juntar-se a Jeová, a Cristo e à Teocracia, ou desaparecer junto com o Diabo e o seu sistema na batalha do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso.

Significativamente, a doutrina da vindicação do nome de Jeová era de muitas maneiras como a doutrina de João Calvino sobre a majestade de Deus; ela foi, sem dúvida, um dos principais fatores no desenvolvimento de um zelo ardente, quase fanático, nas Testemunhas do século vinte exatamente como o ensino de Calvino tinha feito entre os seus seguidores no século dezesseis. Isso significava que, assim como os calvinistas daquele tempo, as Testemunhas se tornaram cada vez mais intolerantes para com tudo e todos que não estivessem em harmonia com a nova nação de Deus, “a Teocracia”, como elas entendiam isso. 

O Ataque à Religião

Ligada à doutrina da vindicação do nome de Jeová estava uma campanha amarga de invectivas contra aqueles que as Testemunhas encaravam como inimigos de Deus. O juiz Rutherford e seus associados íntimos nunca esqueceram o trauma de 1918 e 1919. Assim, até a sua morte em 1942, ele lançou uma série de ataques amargos contra o comércio, a política e a religião – “os três principais instrumentos do Diabo”. No que se refere ao capitalismo, o juiz o odiava. É, é de certa maneira compreensível que os Estudantes da Bíblia e as Testemunhas da década de 1930 tenham sido ocasionalmente acusadas de marxistas, ou no mínimo socialistas.116 O juiz, porém, não tinha os políticos de esquerda em mais alta conta do que quaisquer outros; ele afirmava que seriam todos destruídos no Armagedom. Porém, nem o comércio nem a política foram vítimas do abuso verbal que Rutherford, Woodworth e as Testemunhas lançaram sobre as igrejas e, em particular, sobre o clero.

Rutherford culpou membros do clero pela sua detenção em 1918 e, embora ele certamente fosse antagônico ao protestantismo e ao judaísmo, ele reservou os apelidos da sua escolha para os padres e a hierarquia da Igreja de Roma. Por exemplo, num estilo típico, no livro Inimigos, o juiz disse: “Todas as organizações da terra em oposição a Deus e seu reino tomam, porisso, o nome de “Babilônia” e “meretriz”, e êsses nomes aplicam-se especialmente à principal organização religiosa, igreja católica romana, que se diz mãe da chamada “religião cristã”. Essa poderosa organização religiosa, prevista nas Escrituras, usa os artifícios das meretrizes para iludir os políticos, magnatas comerciais e muitos outros com o fim de caírem em seus braços e cederem a seus encantos supostos.”117

Os ataques de Rutherford tornaram-se cada vez mais cáusticos, particularmente à medida que as Testemunhas passaram a ficar sob terrível perseguição na Alemanha Nazista, Itália, Grã-Bretanha, Canadá e Estados Unidos. Por fim ele até passou a usar o termo “religião” com exclusivo significado de religião falsa, que ele condenou publicamente como “um laço e extorsão”.118 E, à medida que as jeremíadas de Rutherford foram ficando mais severas, as Testemunhas tinham mais prazer em pregá-las.

Quando em meados da década de 1930 o juiz foi obrigado a sair das rádios em resultado da pressão tanto da comunidade comercial como das igrejas no Canadá e nos Estados Unidos,119 a Sociedade Torre de Vigia produziu discos de fonógrafo com suas denúncias estrondosas, que eram tocadas em fonógrafos portáteis levados de casa em casa por Testemunhas de Jeová voluntárias. Em outros casos, essas mesmas Testemunhas tocavam os discursos de Rutherford através de alto-falantes para comunidades inteiras, muitas vezes para irritar os católicos. Num caso, na província do Quebeque, elas chegaram ao extremo de construir um carro sonoro protegido por chapas – do qual ainda existem várias imagens – a partir do qual podiam transmitir condenações à Igreja de Roma para turbas hostis em duas línguas.

Em outros casos, centenas de publicadores das Testemunhas invadiam vilas e cidades hostis, muitas vezes violando leis locais contra vendedores ambulantes e em face de ameaças de prisões em massa.120 Por fim, em demonstrações tanto de coragem como do seu desprezo pelo “mundo de Satanás”, grandes números delas, jovens e idosos, homens e mulheres, marchavam através de cidades e vilas do mundo de língua inglesa no que chamavam de “marchas informativas”. Espalhados em longas filas, eles caminhavam através de ruas movimentados, carregando placas com slogans cunhados pelo Juiz Rutherford, tais como “A Religião É Laço e Extorsão” e “Sirva Deus e a Cristo o Rei”.121

Naturalmente, muitos achavam o comportamento das Testemunhas ofensivo e bizarro. No entanto, os seus ataques constantes contra o comércio, política e religião atraíram muitos. Durante a década de 1920 e ao longo da Depressão, líderes sindicais muitas vezes elogiavam o Juiz Rutherford devido aos ataques dele contra o alto comércio.122 Trabalhistas, políticos liberais e socialistas admiravam suas denúncias igualmente severas de Mussolini, Hitler, Franco e movimentos de extrema direita em todo o mundo. Milhares de protestantes e opositores do clero concordavam com tudo o que as Testemunhas tinham a dizer sobre a hierarquia Católica Romana e admiravam a coragem delas em dizer isso. Finalmente, como as Testemunhas de Jeová muitas vezes cortejavam abertamente o martírio e o enfrentavam com bravura, até seus inimigos começaram a desenvolver um grau de respeito por elas.

A Grande Multidão

É provavel que o que contribuiu mais signficativamente para o crescimento mais rápido da comunidade das Testemunhas durante os últimos anos da vida de Rutherford foi a nova doutrina da “grande multidão”. Quase desde o princípio de seu ministério, C. T. Russell tinha ensinado que os Estudantes da Bíblia eram membros da classe eleita dos 144.000 mencionados em Revelação 7 e 14, que reinariam como reis-sacerdotes com Cristo durante o milênio. Além disso, ele enfatizou que a vasta maioria da humanidade herdaria vida perfeita através da ressurreição num paraíso terestre restaurado. Mas além dos eleitos e da maioria dos humanos salvos, a revista A Torre de Vigia tinha ensinado que havia um terceiro grupo, a “grande multidão” de Revelação 7:9, que receberia vida celestial num plano secundário. A Torre de Vigia também explicou em 1923 que haveria uma “classe das ovelhas” mencionada em Mateus 25:31-46, que seria separada dos cabritos no tempo do fim. Em 1932 Rutherford declarou que essas ovelhas foram prefiguradas por Jonadabe, líder recabita da antigüidade que se juntara ao Rei Jeú de Israel quando este destruiu os sacerdotes de Baal da Rainha Jezabel.123

Esses conceitos eram complexos e, mais importante, significavam que as Testemunhas encaravam seu trabalho de pregação como dirigido apenas ao ajuntamento dos 144.000 eleitos de Deus. O próprio Jeová lidaria com as outras classes da humanidade em seu próprio tempo devido. Tudo isso mudou dramaticamente quando, em 1935, o presidente da Sociedade Torre de Vigia proferiu um discurso em Washington, DC, no qual ele argumentou que a “grande multidão”, “as ovelhas” de Mateus 25 e os “Jonadabes” eram todos uma classe que receberia vida eterna na terra como recompensa pela sua fé e obediência ao reino de Cristo.124 Em resultado disso, as Testemunhas acharam que deveriam ajuntar um grande número de pessoas para a organização de Deus para que pudessem ser salvas da iminente batalha do Armagedom, para a vida numa nova terra. Em vez de simplesmente pregar para juntar os eleitos e anunciar o vindouro fim do mundo, elas começaram um esforço muito mais concentrado para ganhar conversos.

A Vida Pessoal e os Últimos Dias de Rutherford

Algum tempo depois de se tornar presidente da Sociedade Torre de Vigia, o Juiz Rutherford e a sua esposa, Mary, estavam discretamente separados. Embora ela seja geralmente descrita por Testemunhas mais antigas como uma semi-inválida que não podia render ao juiz as suas obrigações maritais, a separação deles não se deveu apenas à falta de saúde dela ou ao trabalho dele. Eles estavam afastados e obviamente tinham muita amargura entre si, embora o motivo exato não seja claro. Os fatores que podem ter causado conflitos entre eles incluíram o que resultou em Rutherford abandoná-la quando se tornou presidente da Torre de Vigia, seu temperamento colérico e auto-justo, e o que bem evidentemente evoluiu para um sério caso de alcoolismo.

Embora as Testemunhas de Jeová tenham feito todo o possível para esconder relatos dos hábitos de bebida do juiz, estes são simplesmente demasiado notórios para ser negados. Ex-trabalhadores da sede da Torre de Vigia em Nova Iorque contam histórias sobre os seus estados de embriaguez. O falecido Carl Prosser, que estava presente na época, contou como foi difícil levá-lo à tribuna para dar uma palestra na Convenção dos Estudantes da Bíblia de Toronto, em 1927, de tão bêbado que ele estava. Em San Diego, Califórnia, onde ele passou os invernos de 1930 até sua morte, uma senhora idosa falou por muito tempo sobre como ela lhe vendia grandes quantidades de bebida quando ele vinha comprar remédios na farmácia do marido dela. Mas talvez o relato mais revelador dos hábitos de bebida de Rutherford seja o que apareceu numa carta aberta que lhe foi dirigida pelo ex-superintendente da filial da Torre de Vigia no Canadá, Walter Salter.

Durante anos, Salter foi um amigo e confidente próximo do juiz, mas em 1936 ele afastou-se do juiz devido a divergências doutrinais e foi desassociado. Em 1° de abril de 1937 Salter publicou a carta já mencionada, que era uma violenta acusação pessoal contra Rutherford e que, nos seus contornos gerais, é bem exata. Assim, Salter afirmou que tinha comprado “uísque a 60 dólares a caixa” para o presidente da Torre de Vigia “e caixas de conhaque e outros licores, sem falar de incontáveis caixas de cerveja”, tudo com o dinheiro da Sociedade. Para  ninguém pensar que isso era comprado para outros, o ex-superintendente da filial no Canadá disse: “Uma ou duas garrafas de licor não serviriam; era para o PRESIDENTE e nada era bom demais para o PRESIDENTE.” Depois de descrever o estilo de vida ostentoso de Rutherford, Salter disse com amarga ironia: “E ó Senhor, ele [Rutherford] é tão corajoso e sua fé em Ti tão grande que ele fica atrás de quatro paredes, ou se cerca liberalmente com um guarda-costas armado e grita seus sonhos… e nos envia de porta em porta para enfrentar o inimigo enquanto ele vai de ‘bebida em bebida’ e nos diz que se não fizermos isso, seremos destruídos”.

No que se refere a acomodações e confortos pessoais, Salter relata que Rutherford vivia como um príncipe ou barão da indústria. Em Nova Iorque ele alugou um apartamento com mobílias luxuosas, que Salter estimou valer pelo menos 10.000 dólares por ano, durante a Depressão. Além disso, o presidente da Torre de Vigia tinha uma “residência palacial” em Staten Island, “disfarçada” como se fosse essencial para a estação de rádio da Sociedade, a WBBR. Também em Staten Island, ele mantinha uma residência pequena, numa zona remota dos bosques, onde podia se isolar do mundo. Alojamentos dispendiosos eram mantidos para ele em vários outros lugares incluindo Londres e, antes da subida dos nazistas ao poder, em Magdeburgo, Alemanha. E como se tudo isso não bastasse, devido à sua saúde ele começou a construir Bete-Sarim em 1929, uma mansão em San Diego, Califórnia, que se tornaria a sua residência de inverno.

Estranhamente, Rutherford encontrou uma desculpa doutrinal para construir Bete-Sarim na qual, pelo menos em parte, ele pode ter realmente acreditado. De acordo com a exegese de Sociedade sobre o Salmo 45:16 (Versão Rei Jaime) – ‘Em lugar de teus pais haverá teus filhos, a quem farás príncipes por toda a terra.’ – Cristo ressuscitaria Abraão, Isaque, Jacó, Davi e muitos outros servos pré-cristãos de Jeová para governar a humanidade durante o milênio. Além disso, tinha sido dito a Daniel, também um destes “notáveis da antigüidade”, que ele estaria na sua herança “ao fim dos dias”, e a Sociedade Torre de Vigia ensinava que isto seria antes do Armagedom. O Juiz Rutherford e a Sociedade concluíram assim que esses homens fiéis pré-cristãos podiam voltar a qualquer momento dentro dos poucos anos ou meses seguintes. De fato, muitas Testemunhas de Jeová comuns frequentemente esperavam que os “príncipes” ressuscitados estariam presentes no próximo grande congresso da Torre de Vigia. Assim, quando foi evidentemente doado ao juiz o dinheiro para construir Bete-Sarim numa propriedade de cem acres em San Diego, ele “humildemente” registrou a escritura para si próprio em nome de Davi e dos outros “príncipes” que logo precisariam de um lugar agradável para morar.125 Isso, porém, não o impediu de viver ali com um séquito bem numeroso de seguidores e com um dos seus dois Cadillacs de dezesseis cilindros que, segundo o folclore popular das Testemunhas,  tinha sido dado a ele “como o maior homem na terra” por um crente abastado de Iowa.126

O que dizer da sugestão de que Rutherford tinha uma amante? Embora certamente pareça provável, isto não pode ser provado sem sombra de dúvida. No entanto, o que dá certo grau de credibilidade a isso são alguns dos comentários do juiz encontrados nas páginas de A Torre de Vigia. Em uma palestra de rádio de cinco minutos intitulada “Who Are God’s Worst Enemies?” [Quem são os piores inimigos de Deus?] reimpresso na revista oficial da sociedade, ele começou suas observações citando o apóstolo Paulo na Versão Rei Jaime da Bíblia:

Em 1 Coríntios 6: 9, 10 encontram-se estas palavras: “Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.” Muitas outras escrituras condenam essas práticas iníquas, juntamente com assassinato, suborno mentiroso e profanação.

Daí, depois de afirmar como o clero tomou uma posição firme contra esses vícios em seus esforços missionários, ele prosseguiu dizendo:

As pessoas que cometem essas ofensas são pecadoras, mas não são as pessoas mais iníquas da terra; nem são os piores inimigos de Deus. Em muitos casos, eles não são inimigos de Deus, e sim vítimas de circunstâncias, ambiente ou educação e treinamento impróprios. Muitas vezes eles são tolhidos por fraquezas carnais diante das quais são impotentes para resistir. Muito raramente eles têm qualquer concepção adequada das leis de Deus e, portanto, não percebem quão flagrante é seu pecado aos olhos de Deus. A Bíblia chama essas pessoas de pecadoras, mas não as chama de iníquas.127

Alguns meses depois, Rutherford foi ainda mais longe ao desculpar os pecados da carne. Ele afirmou:

Ceder às fraquezas herdadas ou adquiridas da carne não é o pecado que conduz à morte, e, no entanto, o Diabo levou todos a acreditar que mentir, roubar, praguejar, cometer adultério, embriagar-se ou perder a calma, ou qualquer outra das longas lista de fraquezas carnais, constitui o pecado que leva à morte. Mas, pelo contrário, todas estas coisas são perdoáveis. Isso explica por que Davi pôde ser chamado de homem achegado ao próprio coração de Deus. Seu coração era leal, mas sua carne era fraca.128

As tentativas do juiz de absolver os pecados carnais foram feitas dois anos depois de Carl Prosser ter testemunhado sua embriaguez. Assim, sem dúvida, Rutherford estava falando e escrevendo sobre suas próprias fraquezas tanto quanto as dos outros. No entanto, de alguma estranha maneira, ele continuou a levar a sério a si mesmo e às doutrinas que proclamava. Quando veio a Segunda Guerra Mundial, pareceu-lhe, portanto, que ela era o cumprimento da profecia apocalíptica, e ele se convenceu de que a guerra levaria diretamente à destruição tanto dos demônios como da humanidade ímpia no Armagedom. No último ano de sua vida, ao dar sinais inequívocos de ser um homem muito doente e morrendo de câncer, de Bete-Sarim ele começou a desmontar parte da estrutura da organização teocrática que havia montado recentemente. Em dezembro de 1941, ele descontinuou os cargos de servos regionais e de zona e encerrou o costume de realizar congressos de zona. Na época, ele escreveu: “’A obra estranha’ do Senhor [a obra de pregação pública] está chegando ao fim e requer pressa, com vigilância, sobriedade e oração.”129 Todavia, ele insistiu que toda Testemunha deveria continuar com esse trabalho até que Deus dissesse para parar. “Com plena determinação de ser obediente ao Senhor”, disse ele, “que estas palavras do apóstolo sejam um slogan orientador: ‘Uma coisa eu faço’ que é anunciar A TEOCRACIA.”130

A Morte e o Legado de Rutherford

Rutherford morreu em Bete-Sarim em 8 de janeiro de 1942, depois de uma prolongada doença. No entanto, ele morreu ainda ativo ou, como seus associados Testemunhas relataram, “lutando com suas botas calçadas”.131 Ele queria ser enterrado em um desfiladeiro a cerca de cem metros abaixo da Casa dos Príncipes, que ele tinha usado e desfrutado por muito tempo enquanto aguardava o retorno dos “dignos” pré-cristãos da antiguidade,132 mas isso não aconteceria. A área não estava projetada para a criação de cemitérios particulares e os vizinhos reclamaram dizendo que enterrar o juiz onde ele tinha pedido diminuiria o valor das suas propriedades. Por isso, funcionários locais recusaram-se a conceder uma autorização de sepultamento.133 Publicações da Torre de Vigia afirmaram amargamente que este era simplesmente um último ato de despeito por parte da organização de Satanás contra o porta-voz fiel de Jeová que partira,134 e Testemunhas locais efetuaram uma prolongada batalha de três meses para honrar o último desejo de Rutherford.

Os registros do caso mostram que havia pouca substância para as acusações da Torre de Vigia de preconceito religioso,135 e evidência física em Bete-Sarim sugere que os vizinhos tinham alguma razão para preocupação. Em vez de querer enterrar o corpo de Rutherford em um  simples túmulo no desfiladeiro, como  afirmaram depois, seus seguidores pessoais mais próximos – a “família” de Bete-Sarim – queriam colocá-lo numa grande cripta de cimento, um tanto imponente, que tinham começado a construir quando ele estava perto de morrer. Consequentemente, os vizinhos sem dúvida receavam que o prospectivo túmulo de Rutherford poderia muito bem tornar um monumento que seria visitado por Testemunhas de Jeová de todo lugar.

Naturalmente isso não aconteceu. Quando funcionários do Condado de San Diego por fim recusaram autorização para que o Juiz Rutherford fosse enterrado em Bete-Sarim, seus restos mortais foram levados para Rossville, Nova Iorque, e colocados ali,136 e foram logo esquecidos por todos exceto uns poucos amigos próximos. Os registros da tentativa de enterrá-lo em Bete-Sarim mostram que nem os funcionários da Torre de Vigia nem a sua viúva e filho, Malcolm, pareceram muito preocupados com sua última morada, pois nas audiências sobre o assunto eles foram notórios pela sua ausência. Além disso, já que o próprio juiz tinha ensinado as Testemunhas a serem leais à organização de Jeová, a teocracia, em vez de a qualquer homem, elas foram rápidas em dar a sua completa lealdade aos seus sucessores no Betel de Nova Iorque. Assim, hoje só um punhado de Testemunhas, que têm oitenta anos ou mais, sabem muita coisa sobre o homem que reformulou sua religião, e  menos ainda são as que sabem que Bete-Sarim e a cripta de cimento inacabada de Rutherford ainda existem como monumentos a ele – embora a Casa dos Príncipes já não seja mantida para todos os homens justos desde Abel até João Batista.

O verdadeiro monumento de J. F. Rutherford não é um túmulo; é o movimento que, depois da morte do Pastor Russell, ele pastoreou através dos dias negros da Primeira Guerra Mundial e reformulou depois. Num sentido real, foi ele, em vez de Charles Russell, quem desenvolveu as Testemunhas de Jeová no que elas são hoje – um fato continuamente enfatizado pelos grupos de Estudantes da Bíblia anti-Torre de Vigia. Embora sem dúvida Rutherford fosse uma pessoa dura, implacável e frequentemente desagradável cujo raciocínio era dominado muito mais por casuística do que seus associados Testemunhas gostariam de admitir, é provável que só alguém como ele poderia ter criado a base para fazer das Testemunhas de Jeová o importante movimento sectário mundial que elas são hoje.

Pois sob o seu exterior severo ele parece ter acreditado, assim como Russell antes dele, que tinha uma missão divinamente designada. Apesar dos cismas dos Estudantes da Bíblia, perseguição externa, prisão pessoal, e do fracasso das profecias do fim do mundo em 1918 ou 1925, ele conseguiu manter o controle sobre um grupo de homens e mulheres zelosos que continuaram a aguardar o vindouro apocalipse de Cristo e a batalha do Armagedom. E foi a dureza e capacidades organizacionais dele, muitas vezes impopulares, que deram às Testemunhas de Jeová a personalidade férrea que elas precisavam para atravessar a perseguição das décadas de 1930 e 1940.

Conforme William Whalen observou, o Juiz Joseph F. Rutherford foi para o Pastor Charles T. Russell o que Brigham Young foi para o profeta Mórmon Joseph Smith.137 Embora tanto Smith como Russell tenham sido líderes religiosos capazes, em grande medida ambos eram visionários muito ingênuos que podiam – pelo uso de imaginação fértil – iludir tanto a si mesmos como a outros. Tanto Young como Rutherford foram pragmáticos duros que deram um grau de permanência aos movimentos que dominaram. Embora o juiz possa ter secretamente mantido uma amante, diferente de Young ele não exibiu sua sexualidade com um harém inteiro de esposas. Ainda assim, ele se parecia com o severo Leão do Senhor Mórmon em muitos aspectos – embora provavelmente nem as Testemunhas de Jeová nem os Mórmons gostarão dessa comparação.

Notas

1 – Existe um volume crescente de informações sobre Rutherford, muitas das quais aparecem em Jehovah’s Witnesses: A Comprehensive and Selectively Annotated Bibliography  [Testemunhas de Jeová: Uma Bibliografia Compreensiva e Anotada Seletivamente], compilada por Jerry Bergman com uma introdução de Joseph Zygmunt (Westport, CT e Londres: Greenwood Press, 1999). Além disso, pode-se encontrar muito sobre ele em vários documentos públicos, tais como transcrições de tribunal, documentos do Departamento de Estado e relatórios da imprensa.

2 – Veja Judge – “for four days” – Rutherford [Juiz – “por quatro dias” – Rutherford], Edward Lodge Curran,  (Brooklyn, Nova Iorque: Catholic Truth Society, 1942).

3 – Rutherford de fato fez campanha eleitoral a favor de Bryan em 1896.

4 – Página 68. Veja também a história mais recente da organização, Testemunhas de Jeová: Proclamadores do Reino de Deus (Brooklyn, Nova Iorque: Sociedade Torre de Vigia de Nova Iorque e AIEB, 1993), págs. 66-68.

5 – Em 27 de abril de 1926, George H. Fisher escreveu uma carta para W. Nieman, de Magdeburgo, Alemanha, acusando Rutherford de ter comparecido ao Al Jolson’s Winter Garden Theater para ver a Edição de Paris do então notório show ‘Artistas e Modelos’. Fisher queria trazer Rutherford, como ancião ex-officio de todas as eclésias de Estudantes da Bíblia, perante as igrejas individuais para disciplina. Fisher alegou que tinha as testemunhas necessárias para fazer isso. Mas em julho do mesmo ano Fisher morreu e o assunto nunca passou disso. Nieman, porém, publicou a carta de Fisher e uma análise das suas acusações num panfleto alemão intitulado “Bruder George H. Fisher.” [Irmão George H. Fisher]. A  resposta vaga de Rutherford à acusação de Fisher foi que estava muito ocupado no trabalho do Senhor para se incomodar em responder a essa crítica e, em todo caso, ele nunca tinha visto o teatro Al Jolson em sua vida e não sabia como ele era. Veja The Golden Age [A Idade de Ouro] (4 de maio de 1927), págs. 505, 506.

6 – The Watch Tower, 1916, reimpressões, págs. 5999, 6000.

7 – Ibid.

8 – Ibid, 1917, reimpressões, pág. 6035.

9 – Para mais detalhes, veja adiante.

10 – A. H. Macmillan, Faith on the March [A Fé em Marcha] (Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1957), págs. 75, 76. Anuário das Testemunhas de Jeová de 1974, págs. 101-106.

11 – Anuário de 1974, pág. 101.

12 – Ibid, págs. 101, 102.

13 – Ibid., págs. 102, 103.

14 – Ibid., págs. 103-105.

15 – Ibid., p. 106; Anuário de 1976, p. 89.

16 – Macmillan, págs. 76, 77; As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 70; Anuário de 1976, p. 87.

17 – Páginas 91, 92.

18 – J. F. Rutherford, Harvest Siftings — Part I [Peneiramentos da Colheita — Parte I] (Brooklyn, NY: International Bible Students Association, 1917), pág. 17.

19 – Anuário de 1976, págs. 90, 91.

20 – WT, 1906, pág. 3825.

21 – Divine Purpose [Propósito Divino], págs. 70, 71.

22 – Rutherford, Harvest Siftings  Part II [Peneiramentos da Colheita – Parte II]. Para outros relatos deste evento, veja A. N. Pierson, J. D. Wright, A. I. Ritchie, I. F. Hoskins, e R. H. Hirsh, Light after Darkness [Luz Após as Trevas] (Brooklyn, NY: impressão particular, 1917), pág. 9; Paul S. L. Johnson, Merarism [Merarismo] (Filadélfia: Paul S. L. Johnson, 1938), págs. 73-84.

23 – Macmillan, pág. 81.

24 – Veja os próprios comentários de Johnson em Harvest Siftings Reviewed [Análise de Peneiramentos da Colheita] (Brooklyn, NY: impressão particular, 1917), pág. 8, onde ele diz: “Pareceu-me que minhas experiências na Grã-Bretanha foram retratadas pelas de Neemias, Esdras e Mordecai (o Irmão Hemery acreditava que ele anti-tipificava Eliasibe e Hanani em Neemias): que minhas credenciais estavam em Esdras 7:11-26 e simbolizadas em Ester 8:2, 15. Concluí que eu era privilegiado para me tornar o mordomo e o sucessor do Irmão Russell.” Rutherford achou que Johnson estava mentalmente doente, e ele não foi o único a achar isso. Francis H. McGee, um Estudante da Bíblia advogado assistente pelo Estado de New Jersey que apoiou os quatro diretores demitidos, certamente pensava isso. Numa carta aberta escrita aos quatro em 15 de agosto de 1917, que foi publicada em Luz Após as Trevas, ele deixou isso muito claro. Veja a página 18.

25 – Johnson, Análise de Peneiramentos da Colheita, págs. 83, 84; Luz Após as Trevas, págs. 5, 6; Rutherford, Peneiramentos da Colheita  Parte I, pág. 10; Alan Rogerson, Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão: Um Estudo Sobre as Testemunhas de Jeová (Londres, Inglaterra: Constable and Co., Ltd. 1969), págs. 33, 34.

26 – Johnson, Análise de Peneiramentos da Colheita, págs. 82, 83. Pierson et al., págs. 3, 4.

27 – Rutherford, Peneiramentos da Colheita  Parte I], pág. 20.

28 – Ibid., pág. 16.

29 – Veja “Vice-President’s Statement against the Management in August” [As Declarações do Vice-Presidente contra a Administração em Agosto] em A. I. Ritchie, J. D. Wright, I. F. Hoskins, e R. H. Hirsh, Facts for Shareholders of the Watch Tower Bible and Tract Society [Fatos para os Acionistas da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados] (Brooklyn, NY: impressão particular, 1917), pág. 5.

30 – O Testamento de Russell, conforme foi publicado pouco depois da sua morte, pode ser visto na The Watch Tower, 1916, reimpressões, págs. 5999, 6000.

31 – Este fato é completamente ignorado no livro Testemunhas de Jeová  Proclamadores do Reino de Deus. Consulte as páginas 66-68.

32 – Veja Rutherford, Peneiramentos da Colheira – Parte I, págs. 4–7 sobre o ataque básico do juiz contra Johnson e também uma cópia do cabograma de Johnson de 24 de fevereiro no qual ele declarava: “Since January Twenty-am Steward…” [Desde 20 de janeiro sou mordormo…].

33 – William H. Cumberland, A History of Jehovah’s Witnesses [Uma História das Testemunhas de Jeová] (dissertação de doutorado, Universidade de Iowa, 1958), pág. 131.

34 – É evidente que Woodworth estava se baseando em ideias que haviam sido originalmente desenvolvidas por P. S. L. Johnson, mas foram aproveitadas por Rutherford.

35 – A vileza de Macmillan é recontada em duas fontes. A primeira encontra-se numa carta do Estudante da Bíblia William Abbot, editor da St. Paul Enterprise, para sua filha enquanto ele assistia ao funeral de C. T. Russel. Isto foi reimpresso na edição de 7 de novembro da Enterprise. Sua declaração sobre Macmillan diz: “O irmão. MacMillan é tão petulante, desprovido de tato e egoísta que fui tentado bem dolorosamente por ele. Eu amo o irmão MacMillan, mas não posso fazer nada além de resistir a várias pequenas trivialidades que ele possui. Eu poderia contar uma história comovente de suas tentativas persistentes de me humilhar, mas me esforcei com toda a coragem para não permitir que nada disso perturbe a serenidade e até mesmo o teor de meu caminho, mas me parece deplorável que, mesmo na morte de nosso grande líder e os dias solenes próximos, o espírito de inimizade por mim não poderia ser enterrado”. O segundo é um relato de Isaac Hoskins. Aparece na página 9 de Luz Após as Trevas e diz: “Como exemplo da mudança de opinião do irmão MacMillan, o irmão se aproximou do irmão Hoskins na época do funeral do irmão Russell em Pittsburgo, 6 de novembro, e apenas alguns pés afastados do cadáver de nosso pastor, o irmão MacMillan disse: ‘Irmão Hoskins, tenho algo a dizer a você que sei que vai machucá-lo muito, e eu não tenho nenhum conhecimento de que você tenha força de caráter suficiente para seguir meu conselho; mas eu vou te dizer, de qualquer maneira. Acho que cada um de vocês diretores, exceto os irmãos Rutherford e Van Amburgh, deveriam renunciar e dar uma chance a alguns homens decentes que sabem de tudo para serem colocados em seus lugares. Não há nenhum de vocês apto a administrar nada, e vocês deveriam se demitir; e se você não renunciar, cada um de vocês será expulso. Notas às páginas 76–7 419.” Veja também William H. Cumberland, Uma História das Testemunhas de Jeová (diss. de doutorado, Universidade de Iowa, 1958), pág. 131.

36 – Wright et al., pág. 4.

37 – Para uma descrição apta de Van Amburgh, com base na transcrição do registro da ação judicial de Russell contra o Brooklyn Eagle, veja Barbara Grizutti Harrison, Visions of Glory: A History and a Memory of Jehovah’s Witnesses [Visões de Glória: Uma História e uma Memória Sobre as Testemunhas de Jeová] (Nova Iorque: Simon and Schuster, 1978), págs. 119-120.

38 – Isso fica claro à base da parte dele no livro The Finished Mystery [O Mistério Consumado] e depois em muitos artigos que ele escreveu na revista A Idade de Ouro. Como Johnson, ele aparentemente tinha problemas mentais. No Congresso dos Estudantes da Bíblia em Asheville, Carolina do Norte, em 1913, ele declarou abertamente em relação à sua rejeição inicial do “voto” de Russell de que tinha estado por algum tempo sob influência demoníaca. Veja Notas de Lembrança – Congressos dos Estudantes da Bíblia – 1913.

39 – Rutherford, Peneiramentos da Colheita  Parte I, págs. 19, 20.

40 – Ritchie et al., pág. 5.

41 – Ibid.

42 – Rutherford, Peneiramentos da Colheita  Parte I, pág. 20; Johnson, Análise de Peneiramentos da Colheita, pág. 19.

43 – Wright et al., p. 8.

44 – Ibid., pág. 6; Macmillan, págs. 78-80. Os relatos dados pelos diretores demitidos e por A. H. Macmillan sobre o que aconteceu nesta ocasião estão de acordo exceto que os diretores demitidos afirmam que o policial não os obrigou a sair, enquanto Macmillan diz que obrigou. O relato de Luz Após as Trevas é como segue: “‘Guarda, ponha estes homens para fora!’ disse o representante do Presidente. ‘Vamos, cavalheiros!’ disse o policial aos diretores. ‘Guarda, você não tem o direito de nos pôr para fora,’ respondeu um dos diretores; ‘somos empregados por esta Sociedade e não estamos perturbando nada nem ninguém.’ ‘É claro que não tenho direito de pô-los para fora!’ respondeu o policial. ‘Em vez disso, sou eu quem deveria sair’; e lá foi ele.” O relato de Macmillan diz: “Eu disse ‘Guarda, estes homens não têm nada a fazer aqui. O lugar deles é em Columbia Heights, 124, e eles estão perturbando o nosso trabalho aqui. Eles recusaram sair quando os mandamos sair. Agora apenas pensamos em chamar a lei.’ Eles se ergueram e começaram a discutir. O policial rodopiou seu cassetete e disse: ‘Cavalheiros, agora agora está ficando sério para vocês. Faith e eu conhecemos estes dois, Macmillan e Martin, mas vocês eu não conheço. Agora é melhor que vocês vão indo, para não haver problemas.’ Eles pegaram seus chapéus e desceram os degraus dois a dois e apressaram-se para Borough Hall para contatarem um advogado.” Sejam quais forem os fatos do caso, Macmillan admite que não queria que os diretores obtivessem um quórum para realizarem transações e estava decidido a impedi-los de realizar uma reunião de negócios enquanto Rutherford estivesse ausente. Assm, Macmillan estava mentindo quando disse que os diretores estavam a perturbando o trabalho dos que estavam nos escritórios da rua Hicks. Além disso, ele não menciona que os quatro estavam em Hicks Street Chapel quando ele chamou a polícia para pô-los para fora.

45 – Wright et al., pág. 10.

46 – ”An Open Letter to People of the Lord Throughout the World” [Uma Carta Aberta ao Povo do Senhor em Todo o Mundo] e “A Petition to Brother Rutherford and the Four Deposed Directors of the W.T.B. and Tract Society” [Uma Petição ao Irmão Rutherford e aos Quatro Diretores Demitidos da Sociedade T. V. B. e Tratados], ambos sem data, 1917.

47 – Uma carta de Pierson em A Torre de Vigia de 1° de janeiro de 1918, reimpressões págs. 6197, 6198, explica sua tentativa de se tornar “neutro” na luta entre Rutherford e os diretores demitidos. Todavia, o Arauto do Reino de 1° de dezembro, uma publicação do Instituto Pastoral dos Estudantes da Bíblia, contém o obituário de Pierson que mostra claramente que ele morreu em comunhão com os detratores de Rutherford, e não com o juiz.

48 – Cumberland, pág. 118.

49 – Ritchie et al., p. 3.

50 – A Torre de Vigia, 1917, reimpressões, págs. 6184, 6185.

51 – Rogerson, pág. 39.

52 – Para considerações sobre estes movimentos desde 1918, veja Alan Rogerson, “Qui est schismatique?” [Quem é Cismático?], em Social Compass 24:1 (1977), págs. 33-43; e J. Gordon Melton, The Encyclopedia of American Religion [Enciclopédia de Religião Americana] (Wilmington, NC: McGrath Publishing Co., 1978), págs. 487-491.

53 – Os Standfasters [Intransigentes] acreditavam também que o trabalho de pregação estava terminado e que a porta para a “chamada do alto” (para a santidade entre os 144.000) se fechara. O “Preamble and Resolutions of the Stand Fast Bible Students Association” [Preâmbulo e Resoluções da Associação dos Estudantes da Bíblia Intransigentes] de 1° de dezembro de 1918 começava com as palavras: “CONSIDERANDO, Agora que a Páscoa de 1918 já passou, e consequentemente que a ‘Colheita’ terminou, a ‘Era do Evangelho’ findou, o ‘Trigo’ foi ajuntado, os ‘Santos’ selados e a ‘Porta’ fechada…” Para mais detalhes sobre o movimento Standfast e os grupos que se originaram dele, veja Johnson, Merarismo, págs. 731-749.

54 – A Idade de Ouro (edição inglesa e canadense), 29 de setembro de 1920, passim; J. F. Rutherford, Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (Brooklyn, Nova Iorque: International Bible Students Association, 1920), pág. 83; M. James Penton, Jehovah’s Witnesses in Canada [As Testemunhas de Jeová no Canadá] (Toronto: Macmillan of Canada, 1976), págs. 56-62.

55 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 74-78.

56 – Penton, págs. 69-80.

57 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 81-83; A Idade de Ouro (29 de setembro de 1920), passim.

58 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 83.

59 – Macmillan, págs. 105, 106.

60 – Ibid., págs. 107-109.

61 – Ibid., págs. 112, 113.

62 – A Torre de Vigia, 1919, pág. 280; As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 89, 90.

63 – Russell tinha dito especificamente: “Assim como a Sociedade já me jurou que não publicará quaisquer outros periódicos, será também requerido que a Comissão Editorial não escreva nem se associe a quaisquer outras publicações de nenhum modo ou grau. Meu objetivo nestes requerimentos é salvaguardar a comissão e a revista de qualquer espírito de ambição ou orgulho ou liderança, e que a verdade possa ser reconhecida e apreciada pelo seu próprio valor, e que o Senhor possa ser mais particularmente  reconhecido como a Cabeça da igreja e a Fonte da verdade.” A Torre de Vigia, 1916, reimpressões, pág. 5999.

64 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 95.

65 – Ibid., pág. 96.

66 – Penton, pág. 84.

67 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 96, 97.

68 – Ibid.

69 – Ibid.

70 – Rutherford, Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, págs. 110, 111.

71 – J. F. Rutherford, A Harpa de Deus (Brooklyn, Nova Iorque: Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia, 1921), págs. 230, 231.

72 – Páginas 214-236.

73 – Página 57. 

74 – Klein contou isso numa nota de rodapé de sua biografia que apareceu em A Sentinela de 1° de outubro de 1984, na página 24.

75 – William J. Whalen, Armageddon Around the Corner [Armagedom  Virando a Esquina] (Nova Iorque: The John Day Company, 1962), pág. 66.

76 – “Cumprir-se-á, Então, o Mistério de Deus (Brooklyn, Nova Iorque: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1971), págs. 209-247, 283-296.

77 – Ibid. Veja também As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 101-111; e o Anuário de 1976, págs. 135-139.

78 – Anuário de 1976, pág. 192.

79 – A Torre de Vigia, 1925, págs. 67-74.

80 – A Torre de Vigia, 1938, pág. 185. Veja também White, págs. 186-188. Os demais membros da comissão editorial – W. E. Van Amburgh, J. Hemery, R. H. Barber e C. E. Stewart – eram todos partidários de Rutherford. Mas quando eles se opuseram às ideias de Rutherford, este achou que eles estavam agindo de forma contrária à vontade do Senhor. Escrevendo em 1938 na edição de A Torre de Vigia, citada acima, ele declarou: “A Torre de Vigia de 1° de março de 1925 publicou o artigo “O Nascimento da Nação”, significando que o reino tinha começado a funcionar. Supunha-se que uma comissão editorial, providenciada humanamente, controlava nessa ocasião a publicação de A Torre de Vigia, e a maioria da comissão objetou energicamente à publicação do artigo “O Nascimento da Nação”, mas, pela graça do Senhor, o artigo foi publicado e isto realmente marcou o começo do fim da comissão editorial, indicando que o Senhor mesmo está dirigindo a organização.”

81 – White, págs. 181, 182.

82 – Página 7.

83 – A Torre de Vigia, 1927, págs. 51-57.

84 – A Torre de Vigia, 1921, pág. 329; White, págs. 181, 182.

85 – Consolation [Consolação], 4 de setembro de 1940, pág. 25.

86 – A Torre de Vigia, 1931, págs. 278, 279.

87 – White, pág. 260.

88 – Veja o gráfico na página 83 (da edição em inglês).

89 – Sem dúvida grande parte do descontentamento causado tinha ligação com o fracasso da profecia da Torre de Vigia sobre 1925 e à gradual rejeição dos ensinos de Russell.

90 – Para entender quão completamente Rutherford e os representantes da Sociedade detestavam os anciãos eletivos, repare na lista de artigos que os atacam sob cabeçalhos tais como “expostos e impuros” e “rebeldes” no Índice de Publicações da Torre de Vigia: 1930-1960, pág. 91.

91 – Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, pág. 165. Veja também William J. Schnell, Trinta Anos Escravo da Torre de Vigia (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1956), págs. 56, 57, 59.

92 – Isto começou logo em 1923. As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 104.

93 – Veja por exemplo A Torre de Vigia de 1938, págs. 87, 233.

94 – Werner Cohn, ‘Jehovah’s Witnesses as a Proletarian Movement’ [As Testemunhas de Jeová Como Movimento Proletário], em The American Scholar 24 (1955), págs. 281, 282.

95 – A Torre de Vigia, 1923, págs. 310-313.

96 – A Torre de Vigia, 1930, págs. 275-281.

97 – Consolação, 6 de maio de 1936, p. 508; A Torre de Vigia de 1938, págs. 133, 313, 314, 326, 376, 377; 1939, pág. 170; J. F. Rutherford, Salvação (Brooklyn, Nova Iorque: Watch Tower Bible and Tract Society, 1939), pág. 43.

98 – J. F. Rutherford, Vindication  Book II [Vindicação – Livro II] (Brooklyn, Nova Iorque: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1932), págs. 257, 258.

99 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 143, 144.

100 – Baseado no relato de meu pai, Levis B. Penton, que estava presente naquela ocasião.

101 – Rutherford, Vindication  Book I [Vindicação  Livro I], págs. 155-157, 188, 189; A Idade de Ouro (20 de junho de 1934), pág. 594. A citação que Rutherford fez de Kipling foi no congresso da Torre de Vigia em St. Louis, Missouri, em 1941, perante milhares de Testemunhas de Jeová. Isso causou alguma ofensa entre os presentes.

102 – Veja a página 1404 da transcrição dos autos de Moyle v. Franz et al., 47 N.Y.S. 484.

103 – Berta Peal, uma “testemunha de Jeová consagrada” e membro do “restante ungido”, abandonou o homem que tinha sido seu marido por quinze anos para vir para o Betel de Brooklyn em 1938. Ele se divorciou dela por abandono em 1940. Embora ela não tivesse formação como nutricionista ou enfermeira, ela serviu Rutherford nessas funções oficiais até sua morte. Ela também viajou com ele extensivamente e parece ter permanecido com ele onde quer que fosse. Ela confidenciou a um membro de sua família que “ele [Rutherford] era como um marido para ela em todos os sentidos”. As informações sobre estes fatos, apoiadas por pesquisas adicionais, foram fornecidas pelo falecido Dr. Carl Thornton e pela Sra. Thornton, sobrinho-neto e sobrinha-neta de Berta Peal.

104 – Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, págs. 147-149.

105 – Os cânticos só foram reintroduzidos mais de dois anos depois da morte de Rutherford. As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 215.

106 – Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, págs. 97, 98.

107 – White, pág. 173. Uma imagem clara das ideias de Woodworth só pode ser obtida examinando a própria revista A Idade de Ouro. Embora White descreva Woodworth como “inteligente”, dá para se questionar a estabilidade emocional dele ao publicar as muitas coisas que publicou.

108 – Segundo Olin Moyle, Rutherford chamou Woodworth de “idiota” diante de toda a família ou força de trabalho de Betel depois de receber uma carta dele dizendo que todos os calendários atuais eram do Diabo. Woodworth evidentemente respondeu que era um idiota por ter escrito a carta. Veja a carta de Moyle a Rutherford e o testemunho de Woodworth sobre o assunto na transcrição dos autos de Moyle v. Franz et al., 1103, págs. 1732, 1733.

109 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 312.

110 – Ibid, pág. 313.

111 – É impossível dizer exatamente quantos Estudantes da Bíblia dos dias de C. T. Russell finalmente cortaram sua associação com a Sociedade, mas o próprio Rutherford admitiu que muitos fizeram isso. A Torre de Vigia de 1930, pág. 342. Veja também White, págs. 251-258.

112 – When Pastor Russell Died [Quando o Pastor Russell Morreu], págs. 24-30. Melton, pág. 491.

113 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 190.

114 – John S. Conway, The Nazi Persecution of the Churches,  1933-1945 [A Perseguição Nazista às Igrejas, 1933-1945] (Toronto: Ryerson Press, 1968), págs. 195-200.

115 – A terminologia e, portanto, a doutrina foram abandonadas sem qualquer declaração formal nas publicações da Torre de Vigia. Como tantos ensinamentos passados, isto foi simplesmente esquecido pela comunidade das Testemunhas de Jeová.

116 – Penton, pág. 128.

117 – Inimigos, páginas 172, 173.

118 – Este foi o título de um dos discos de fonógrafo de Rutherford.

119 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 134-140; Penton, págs. 94-110.

120 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 133.

121 – Ibid., pág. 145.

122 – Penton, págs. 98, 106.

123 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 140.

124 – Ibid.

125 – A Idade de Ouro (19 de março de 1930), págs. 404-407; Herbert H. Stroup, The Jehovah’s Witnesses [As Testemunhas de Jeová] (Nova Iorque: Columbia University Press, 1945), pág. 42.

126 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 191, 192.

127 – A Torre de Vigia de 15 de março de 1929, pág. 93.

128 – A Torre de Vigia de 1° de setembro de 1929, pág. 271.

129 – As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 191.

130 – Ibid.

131 – Ibid, pág. 194.

132 – The San Diego Union (12 de janeiro de 1942), pág. 2A.

133 – The Tribune-Sun (San Diego), 21 de janeiro de 1942, pág. 12; The San Diego Union, 21 de janeiro de 1942, pág. 3A.

134 – A Torre de Vigia de 1945, pág. 45; Consolação de 4 de fevereiro, 17 e 27 de maio de 1945, págs. 3-16.

135 – Minutes of Regular Meeting of the County Planning Commission [Minutas da Reunião Regular da Comissão de Planejamento do Condado] (San Diego, Califórnia), 24 de janeiro de 1942, págs. 229-235. Meeting of the Board of Supervisors [Reunião da Diretoria de Supervisores] (San Diego, Califórnia), 26 de janeiro de 1942, n° 63. Minutes of Regular Meeting of the County Planning Commission [Minutas da Reunião Regular da Comissão de Planejamento do Condado], 28 de fevereiro de 1942, págs. 240-243. Minutes of the Meeting of the County Planning Commission [Minutas da Reunião da Comissão de Planejamento do Condado], 14 de março de 1942, pág. 247.

136 – Whalen, pág. 67.

137 – Ibid.

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