Sites “Apologistas” das Testemunhas de Jeová?

Qual é o posicionamento da liderança das Testemunhas de Jeová (JW) quanto a membros criarem e manterem páginas na internet ou perfis em redes sociais para, supostamente, “apoiar” o trabalho da organização ou “defender” as Testemunhas de Jeová?

Via de regra, os líderes evitam fazer comentários sobre esta questão dos sites e perfis “apologistas” em escritos destinados ao público em geral. Geralmente a posição deles só é expressa em publicações e escritos destinados apenas às Testemunhas de Jeová, ou seja, instruções internas da organização. Vejamos primeiramente alguns trechos dessas instruções (os grifos são acrescentados):

Nosso Ministério do Reino – Novembro de 1997, página 7:

Não há necessidade de ninguém preparar páginas na Internet sobre as Testemunhas de Jeová, sobre nossas atividades ou crenças. Nossa página oficial apresenta informações exatas para quem as desejar.”

Nosso Ministério do Reino – Novembro de 1999, página 4:

“Vale notar que diversas pessoas criaram sites na Internet aparentemente para pregar as boas novas. Muitos desses sites são de autoria de irmãos imprudentes. Outros sites podem ter sido desenvolvidos por apóstatas que desejam enganar os incautos. (2 João 9-11) Falando sobre a necessidade ou não de nossos irmãos criarem esses sites, o Nosso Ministério do Reino de novembro de 1997 declarou, na página 3: “Não há necessidade de ninguém preparar páginas na Internet sobre as Testemunhas de Jeová, sobre nossas atividades ou crenças.

Nosso Ministério do Reino – Setembro de 2002, página 8:

Não existe necessidade de que alguma pessoa, comissão ou congregação prepare outro site a respeito das Testemunhas de Jeová. Alguns têm disponibilizado o conteúdo completo de nossas publicações, com todos os textos bíblicos e referências por extenso, e até têm oferecido cópias de matéria de congresso em troca de donativos. Reproduzir e distribuir publicações das Testemunhas de Jeová em formato eletrônico é uma violação das leis de direitos autorais, independentemente de se lucrar ou não com essa prática. Mesmo que alguns encarem isso como um favor prestado aos irmãos, tal proceder não é correto e deve ser descontinuado.”

Nosso Ministério do Reino – Março de 2005, página 7:

“Muitos têm telefonado ao Escritório para informar-se a respeito de certas gravações de cânticos do Reino cantados em estilo popular que atualmente estão circulando entre as Testemunhas de Jeová. Desejam saber se essas gravações têm autorização da organização. Estamos cientes de tais gravações e desejamos informar que não são autorizadas. Solicitamos que não divulguem nem baixem tais gravações da internet. Esperamos que esta informação esclareça o assunto.”

Carta da ATCJ (Associação das Testemunhas Cristãs de Jeová) de 15 de maio de 2006, N° 16 (lida em todas as congregações das Testemunhas de Jeová no Brasil):

Estamos lhes escrevendo sobre um assunto que se tornou motivo de grande preocupação para a organização de Jeová. Trata-se do uso indiscriminado de certos sites e de outros recursos da internet por um grupo considerável de irmãos, …

Sob o tema “Cuidado com os perigos da Internet!”, o suplemento de Nosso Ministério do Reino de novembro de 1999, páginas 3 a 6, traz à nossa atenção os laços e as armadilhas associados ao uso indiscriminado da internet. Tais alertas devem nos induzir a ser cautelosos no uso desse meio rápido de comunicação, quer com irmãos, quer com desconhecidos. Um desses alertas diz: “Considere, por exemplo, alguns sites da Internet instalados por pessoas que se dizem Testemunhas de Jeová. Elas o convidam a visitar esses sites para ler experiências enviadas por supostos irmãos. Pedem que dê sua opinião sobre publicações da [Associação]. Alguns sugerem apresentações para serem usadas no ministério de pregação. Esses sites oferecem chat rooms para que você se comunique com elas ao vivo, como se estivesse falando por telefone. Elas muitas vezes lhe indicam outros sites nos quais você pode se comunicar com Testemunhas de Jeová em todo o mundo. Mas dá para ter certeza de que esses contatos não são tramas de apóstatas?”

Ninguém está autorizado a pôr na internet outra página ou site em nome das Testemunhas de Jeová. Os que insistem em fazer isso estão agindo contrário à orientação teocrática. Não desejamos nos tornar “co-participantes” das suas obras. — Efé. 5:6-12

Nosso Ministério do Reino – Setembro de 2007, página 3:

Será que o “escravo fiel e discreto” aprova que grupos de Testemunhas de Jeová se reúnam à parte da congregação para realizar pesquisas ou debates sobre a Bíblia? — Mat. 24:45, 47.

Não. Mesmo assim, em várias partes do mundo, alguns dos que se associam com a nossa organização formaram grupos para realizar pesquisas independentes sobre assuntos bíblicos. Alguns fazem parte de grupos que pesquisam o hebraico e o grego usados na Bíblia a fim de analisar a exatidão da Tradução do Novo Mundo. Outros pesquisam assuntos científicos relacionados à Bíblia. Esses grupos criam páginas na internet e salas de bate-papo que têm por objetivo trocar idéias e debater seus pontos de vista. Também organizam palestras e produzem publicações para divulgar suas conclusões e complementar o que é transmitido em nossas reuniões cristãs e publicações.

… ‘o escravo fiel e discreto’ não apóia quaisquer publicações, reuniões ou páginas na internet que não sejam produzidas ou organizadas sob a supervisão dele.”

Nosso Ministério do Reino – Setembro de 2008, página 4:

“Alguns irmãos contataram o Escritório para obter informações sobre certas gravações de áudio de discurso público de congregação e sobre trechos de discursos que teriam sido proferidos em assembléias, tanto a respeito de depressão como de outros assuntos, que atualmente estão circulando entre as Testemunhas de Jeová por meio da internet e de CDs pessoais. Estamos cientes de tais gravações e matérias, e desejamos informar que não são autorizadas pela organização. Solicitamos que não copiem nem distribuam esse material, em harmonia com as orientações do Nosso Ministério do Reino de março de 1990, página 3, e o de setembro de 2002, página 8. Esperamos que esta informação esclareça o assunto.”

A Sentinela (edição de estudo) – Abril de 2018, página 31:

…Por isso, alguns acham que não há nada de errado em copiar esse material e compartilhá-lo em outros sites ou redes sociais. Mas fazer isso viola os Termos de Uso de nossos sites, e está causando sérios problemas para a organização.

…Só o “escravo fiel e prudente” recebeu de Jeová a função de fornecer alimento espiritual. (Mat. 24:45) Para fornecer esse alimento, o “escravo” usa apenas os seguintes sites oficiais: www.jw.org, tv.jw.org e wol.jw.org. E temos apenas três aplicativos oficiais para celulares e tablets: JW Language®, JW Library® e JW Library Sign Language®.

…postar nossas publicações em sites que permitem comentários facilita que apóstatas e críticos falem mal da organização de Jeová. Alguns irmãos estão participando de debates on-line e dando um mau testemunho. Um fórum de discussão não é o lugar certo para “instruir com brandura os que não tiverem uma atitude favorável”. (2 Tim. 2:23-25; 1 Tim. 6:3-5)

A liderança JW proíbe sites e perfis "apologistas" das Testemunhas de Jeová.
Imagem extraída de A Sentinela (edição de estudo), de Abril de 2018

Proíbe o Corpo Governante os sites e perfis “apologistas” JW?

Estes pronunciamentos não deixam margem para dúvida de que a liderança JW é totalmente desfavorável à ação das Testemunhas de Jeová que fazem essas coisas, por mais bem intencionadas que estas sejam. Eles desencorajam isso vez após vez. Mas será que, com base no acima, pode-se tirar a conclusão de que o Corpo Governante proíbe terminantemente a criação de sites ou perfis “apologistas”?

Tecnicamente não, e é nisso que algumas Testemunhas costumam se concentrar. O máximo que se diz acima, enfatizam elas, é ‘não apoiamos’, ‘não autorizamos’, ‘não é necessário’, etc. Em parte alguma destas comunicações aparece a frase “nós proibimos”.

E, de fato, se for feita uma comparação dos pronunciamentos acima com o que a organização JW diz sobre Testemunhas de Jeová acessarem sites de dissidentes da organização delas, o tom é mesmo bem diferente. Neste caso, o “escravo” não usa quaisquer rodeios ou expressões dúbias, tais como ‘não apoiamos isso’ ou ‘não há necessidade daquilo’. Não se poupam palavras para proibir explicitamente, sem falar que esses dissidentes são sempre apresentados como indivíduos da pior espécie, totalmente indignos de associação cristã, pelo fato de terem questionado ensinos do “escravo fiel e prudente”.

Mas, mesmo não existindo uma proibição explícita, ainda permanece a questão: Por que os líderes das JW são tão desfavoráveis a uma Testemunha de Jeová criar e manter um site ou perfil “apologista”?

A resposta é óbvia. Eles estão bem cientes de que toda a motivação por trás de qualquer iniciativa desse tipo é questionar ou se contrapor aos conteúdos dos sites dissidentes. Nenhuma Testemunha tem realmente motivo ou necessidade de criar um site ou perfil em rede social que simplesmente repita o que já é apresentado no site oficial (JW.org). Até porque isso seria plágio puro e simples, algo repreensível e contra a lei, conforme indicado no artigo da Sentinela, mencionado acima. Invariavelmente, o objetivo dos responsáveis por sites “apologistas” é apresentar (de maneira clara ou velada) matérias que lidam com questionamentos levantados pelos dissidentes. Com isso, eles mostram que desrespeitaram a proibição da organização quanto a examinarem estas matérias ou interagirem com essas pessoas.

Assim, qualquer tentativa por parte duma Testemunha de Jeová de justificar seu desacatamento do que dizem as publicações citadas acima, com base na alegação de que o Corpo Governante “não proíbe”, é inútil. Embora isso nunca seja dito ou admitido claramente, uma proibição está embutida em todas essas publicações. Em sua ânsia de tentar rebater os questionamentos de ensinos falsos da organização, essa Testemunha de Jeová estará tomando a si uma tarefa que é absolutamente proibida por seus líderes religiosos, e que, na realidade, eles próprios jamais se dispuseram a realizar.

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