Alguns Fatos Notáveis Sobre as Guerras
Introdução
Nenhuma pessoa sensível faria pouco caso da ameaça criada pela guerra moderna. A guerra aumentou em poder destrutivo durante os últimos séculos como consequência de uma série de avanços técnicos, que podem ser divididos em três estágios:
1) A introdução da pólvora no campo de batalha no século catorze levou à substituição dos arcos e bestas por armas de fogo no século quinze.
2) O próximo estágio chegou no século dezoito com a Revolução Industrial. Com ela veio a invenção de numerosas armas novas e mais letais durante o século dezenove, como revólveres, metralhadoras, granadas de mão, minas terrestres e minas submarinas (“torpedos”). Todos estes e muitos outros tipos de novos meios tecnológicos de aumentar o poder bélico foram usados, por exemplo, na Guerra Civil Americana (1861-1865). Este desenvolvimento continuou numa escala sempre crescente no século vinte. As novidades em armamento mais importantes antes da Segunda Guerra Mundial relacionavam-se com tanques, submarinos e aviões, todos usados até certo ponto na Primeira Guerra Mundial, embora naquela época ainda estivessem em fase experimental.
3) O terceiro e mais dramático passo no desenvolvimento ocorreu em 1945, quando a primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroxima, e a humanidade entrou subitamente na Era Nuclear. Com este passo a raça humana pela primeira vez na história viu-se confrontada com o espectro da autodestruição global.
Contudo, será que esta situação tem por consequência, como alguns alegam, que o século vinte foi o período mais afetado por guerras na história humana? Permite ela identificar claramente a nossa época como sendo o “tempo do fim” mencionado na profecia bíblica?
Em O Extinto Grande Planeta Terra, o autor citou a condição moderna da guerra como evidência de que as palavras de Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro estão se cumprindo em nossa época. “A guerra aumentou grandemente em frequência e intensidade neste século,” declara ele e refere-se às “lutas constantes em nosso globo” desde a Segunda Guerra Mundial.1
O escritor adventista Robert Pierson, ao enfatizar que “tem havido guerras durante os últimos sessenta e cinco anos numa escala que este mundo nunca presenciou antes,” encarou estas como sinais do fim, com a profecia sendo cumprida de um modo único em nossa época.2
O Dr. Billy Graham, embora não se fixe em datas específicas, expressou de forma similar a crença de que a expressão de Jesus sobre guerras refere-se a alguma intensificação e escalada única da guerra. Falando dos ‘sinais que parecem atualmente estar ficando em foco’, ele diz:
… um dos sinais mais importantes que Ele indicou foi o aumento da guerra.
A humanidade sempre teve guerras, mas nunca na escala que Jesus predisse em Mateus 24 e Revelação 6.3
Todavia, as afirmações mais específicas, detalhadas e notáveis são as feitas pela liderança das Testemunhas de Jeová, com uma importância tremenda atribuída à guerra que irrompeu na Europa em 1914. Eles apresentam isto como forte evidência de que Cristo voltou e a “terminação do sistema de coisas” começou naquele ano. Afirmam que Jesus, em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 7, predisse a primeira guerra mundial como o acontecimento inicial do sinal de uma “presença invisível” desde 1914. Será que 1914 foi realmente o grande “ponto decisivo” na história como a organização das Testemunhas de Jeová alega?
Que dizer de outras alegações impressionantes nas publicações da organização sobre o conflito de 1914-1918? Foi aquela de fato a primeira guerra mundial da história? Irrompeu mesmo de maneira completamente inesperada, pondo fim súbito a uma longa era de paz? É verdadeira a alegação de que esta mesma guerra foi “sete vezes maior do que todas as 901 guerras grandes nos 2.400 anos precedentes”?4 Em outras palavras, será que as estatísticas da liderança das Testemunhas de Jeová correspondem aos fatos, ou será que os números foram “arranjados” num esforço de fazer sobressair 1914 como sendo um ano marcado?
Predisse Jesus a Primeira Guerra Mundial?
Quando Jesus, em Mateus capítulo 24, versículos 6 e 7, predisse que haveria guerras, referiu-se naquela ocasião a guerras mundiais? Contêm as palavras dele alguma afirmação sobre guerras que nenhuma geração anterior a 1914 tenha visto cumprida nas guerras de sua própria época?
A ideia de que Mateus capítulo 24, versículo 7, aponta para a Primeira Guerra Mundial e as guerras que se seguiram baseia-se na expressão “nação levantar-se-á contra nação, e reino contra reino.”5 Acredita-se que a linguagem indica que Jesus tinha em mente uma grande guerra, uma guerra na qual muitas nações e reinos estariam envolvidos: A Primeira Guerra Mundial! Todavia, deve-se notar que no texto grego original as palavras para “nação” (éthnos) e “reino” (basileia) estão no singular. Concordemente, a Bíblia Âncora (em inglês – Mateus, W. F. Albright e C. S. Mann, 1971) diz: “Porque um povo levantar-se-á contra outro, um reino contra outro.” (Veja também a tradução de J. B. Phillips, edição revista em inglês de 1972.) Isto nos leva a pensar em guerras em geral, não especificamente em “guerras mundiais”, nem sequer em grandes guerras, necessariamente.
Isto é também confirmado pelo fato de Jesus ter elaborado sua afirmação com termos tirados de expressões similares encontradas nas Escrituras Hebraicas ou Velho Testamento, por exemplo em Isaías capítulo 19, versículo 2 e Segundo das Crônicas capítulo 15, versículo 6. Nenhum destes textos trata, é claro, de guerras mundiais. O primeiro deles refere-se até mesmo a uma guerra apenas dentro de uma nação, uma guerra civil:
Incitarei egípcio contra egípcio: cada um lutará contra seu irmão, vizinho lutará contra vizinho; cidade contra cidade, reino contra reino.6
Que Jesus não usou a expressão “nação contra nação e reino contra reino” para se referir especificamente a guerras mundiais é também evidente pelo fato de que a descrição dele incluía as guerras e revoltas dentro do Império Romano que antecederam e culminaram na destruição de Jerusalém e de seu templo em 70 D.C. Até os líderes das Testemunhas de Jeová concordam com isto, mas eles sustentam que as guerras e outras dificuldades que conduziram à destruição de Jerusalém em 70 D.C. foram um modelo profético dos problemas na terra a partir de 1914.7 A organização, por essa razão, tenta retratar o período anterior a 70 D.C. como um período particularmente violento e atribulado, repleto de guerras, revoltas, fomes e terremotos.
Mas a verdade é simplesmente que este período não foi pior nestes aspectos do que muitos outros períodos da história. De fato, o primeiro século de nossa era foi comparativamente um dos períodos mais pacíficos e sem perturbações da história! Foi parte do longo e bem conhecido período de paz chamado de Pax Romana, que se estende do ano 29 A.C. até cerca de 162 D.C. “Esta, a era da Pax Romana, foi talvez o período mais desprovido de acontecimentos da história militar”, segundo os dois historiadores militares R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy.8 A interrupção mais importante neste período de paz veio das já mencionadas revoltas dentro do Império Romano, que na Judéia provocaram a destruição de Jerusalém e de seu templo em 70 D.C.9
Consequentemente, nem nas próprias palavras nem nos acontecimentos subsequentes existe algo indicando que a expressão de Jesus sobre guerras futuras em Mateus capítulo 24, versículos 6 e 7 se refere especificamente às guerras mundiais e outras grandes guerras que ocorreram desde 1914. As palavras dele ajustam-se a qualquer dos tipos de guerras entre estados e guerras civis que foram travadas ao longo da história e aquelas palavras foram obviamente proferidas como um aviso, para instruir seus discípulos a não encarar essas calamidades como um “sinal” da sua vinda e do fim dos tempos. O que dizer, então, das alegações impressionantes de uma suposta mudança única e momentosa em 1914 como as que são feitas nas publicações das Testemunhas de Jeová?
Será que a Primeira Guerra Mundial marcou o “ponto de virada” da história?
Quando Jesus voltar, “com poder e grande glória”, sua intervenção na história humana significará o término da era atual. Ele vem para por fim a ela. Seus discípulos sabiam isso, e foi por isso que perguntaram pelo sinal que indicaria tanto a vinda dele como o fim da era.10 A intervenção de Jesus para encerrar esta era não será um caso de prolongamento. De posse de “toda a autoridade… no céu e na terra”, ele fará desmoronar rapidamente todo este sistema de coisas, e por isso ele comparou sua intervenção futura com a vinda do dilúvio dos dias de Noé, que pegou subitamente as pessoas daquela época desprevenidas e rapidamente trouxe um fim à era então existente. “Assim será a vinda [em grego, parousia] do Filho do homem.” (Mateus 24:37-39) De forma análoga, Jesus comparou sua vinda com a destruição repentina da cidade de Sodoma nos dias de Ló, e acrescentou: “Do mesmo modo será naquele dia em que o Filho do homem há de ser revelado.” (Lucas 17:28-30) O verbo “revelar” (apokalúpto) é usado aqui claramente como equivalente a “vinda” (parousía) em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 39. Ambas as palavras se referem ao mesmo acontecimento: a vinda de Cristo para trazer o fim da era atual.
A vinda de Cristo e a terminação da era atual será de fato um grande ponto decisivo na história da humanidade. Quando a liderança das Testemunhas de Jeová data a vinda de Cristo e o início do “fim da era” de 1914 em diante, não é apenas obrigada a estender este “fim” ao longo de toda uma vida (de 1914 até o Armagedom, o qual se supõe que ocorrerá em breve), tornando-o assim um acontecimento muito longo, em contraste com as próprias declarações de Jesus. É também obrigada a fazer do ano 1914 o grande ponto de virada na história. Como prova disto, a organização cita frequentemente o que alguns historiadores, editores de jornais, e políticos disseram sobre a Primeira Guerra Mundial e 1914. “Muitos historiadores salientam corretamente que aquele ano foi o de virada para a humanidade”, afirmou A Sentinela de 15 de abril de 1981, página 14. É verdade isso?
Não, não é. É uma grosseira deturpação do que estes historiadores realmente disseram. Nenhum deles afirmou que 1914 foi o ano de virada para a humanidade. Os historiadores citados nas publicações das Testemunhas de Jeová dizem que 1914 foi “um dos” pontos de virada na história, “o ponto de virada no nosso tempo”, e assim por diante. Nenhum deles afirmou que 1914 foi o ponto de virada na história. Em suas citações a liderança das Testemunhas de Jeová omite sistematicamente o fato de os historiadores apontarem para muitos pontos cruciais diferentes na história, dos quais 1914 é apenas um. Este método de citar só aquelas partes que parecem apoiar o argumento deles pode ser seriamente deturpador, conforme se pode ver nos exemplos que seguem.
A publicação “Venha o Teu Reino”; 1981 cita, entre outros, a historiadora Barbara W. Tuchman como afirmando o seguinte em seu livro As Armas de Agosto (1962, em inglês): “A Primeira Guerra Mundial foi uma das grandes convulsões da história.”11 Todavia, ao examinar a afirmação de Tuchman, descobrimos que a liderança das Testemunhas de Jeová decidiu não incluir uma parte importante. A afirmação completa dela é que, “assim como a Revolução Francesa, a Primeira Guerra Mundial foi uma das grandes convulsões da história.”12 Porque eles passaram por alto as palavras “assim como a Revolução Francesa”? Evidentemente porque as alegações únicas para 1914 teriam sido enfraquecidas por uma citação que colocava a Revolução Francesa em pé de igualdade de circunstâncias com o conflito de 1914-1918. Na verdade, os historiadores sustentam que a Revolução Francesa foi um ponto de virada na história ainda maior do que a Primeira Guerra Mundial!
Na mesma página do livro “Venha o Teu Reino” a liderança das Testemunhas de Jeová cita também a revista O Economista (em inglês) de 4 de agosto de 1979, na qual o editor diz que, “Em 1914, o mundo perdeu a coerência que nunca mais conseguiu recuperar desde então…” Porém, omite-se do leitor que o editor no mesmíssimo artigo compara o período depois de 1914 com o período de 1789 a 1848, que foi tão instável, cheio de guerras, desordem e violência, como nossa própria época, e sugere que a história segue um padrão rítmico – “Duas gerações de convulsões e violência, seguidas por mais duas gerações de consolidação e calma, seguidas por mais duas gerações de convulsões, seguidas por … ?” (Página 10) Então o que o editor realmente disse sobre o período desde 1914? Apenas que ele parece seguir o padrão cíclico geral da história no passado!
Na verdade existiram muitos “pontos de virada” e convulsões na história, e seria fácil encher muitas páginas com citações de historiadores para provar isso. Alguns exemplos devem ser suficientes.
Sobre o declínio de Império Romano no quinto século:
Este período presenciou um dos maiores pontos de virada da história mundial.13
Sobre a Revolução Industrial que começou por volta de 1780:
De qualquer ângulo que se analise, este foi provavelmente o acontecimento mais importante na história mundial, em qualquer escala, desde a invenção da agricultura e das cidades.14
Sobre a Revolução Francesa de 1789-1799:
A Revolução Francesa é o acontecimento mais importante na vida da Europa moderna. Merece ser colocada lado a lado com a Reforma e a ascensão do cristianismo porque, assim como esses acontecimentos, destruiu as referências do mundo no qual gerações de homens tinham passado as suas vidas.15
Mesmo hoje, em meados do século vinte, apesar de tudo o que aconteceu no período de vida de homens que ainda não são velhos, e até mesmo aqui nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte de um mundo no qual os países da Europa não mais gozam de sua anterior posição de liderança, ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o grande momento decisivo da civilização moderna.16
Sobre a guerra Russo-Japonesa de 1904-1905:
Psicológica e politicamente, a vitória do Japão na guerra marcou um ponto de virada na história mundial.17
Sobre o lançamento da primeira bomba atômica em Hiroxima em 1945:
Uma nova era na guerra e uma nova era na história despontou nos dias finais deste período: a era nuclear, anunciada pelo lançamento da primeira bomba atômica, em Hiroxima, em 6 de agosto de 1945.18
Que a guerra mundial de 1914-1918 assinalou um dos muitos pontos de virada na história mundial ninguém tentaria negar. Mas a questão é: Será que foi o ponto de virada supremo que a liderança das Testemunhas de Jeová quer fazer dela? Era um ponto de virada desse tipo que os discípulos tinham em mente quando perguntaram a Jesus sobre o sinal da vinda dele e do fim dos tempos? Não se pode tirar essa conclusão nem à base da resposta que Jesus deu à pergunta de seus discípulos, nem à base das afirmações dos historiadores.
Será que a guerra de 1914-1918 “tirou a paz da terra” repentinamente?
“Paz e segurança foram repentina e inesperadamente tiradas da terra em 1914”, defende a liderança das Testemunhas de Jeová, citando Revelação capítulo 6, versículo 4 sobre o cavaleiro no cavalo cor de fogo a quem “foi concedido tirar da terra a paz, para que se matassem uns aos outros” (TNM). Uma vez que a organização sustenta que este cavaleiro começou sua cavalgada mortífera na terra em 1914, tenta mostrar que a paz prevalecia na terra antes daquele ano, uma paz que repentina e inesperadamente foi “tirada” com o irrompimento da guerra.
Para provar isto os líderes das Testemunhas de Jeová citam, não historiadores, e sim dois estadistas idosos e – duas Testemunhas de Jeová! Os dois estadistas, Konrad Adenauer e Harold Macmillan foram mencionados com frequência nas publicações da organização, já que em sua velhice recordaram a juventude como um tempo de paz, segurança e otimismo, algo que “de repente, inesperadamente” desapareceu em 1914.19 A revista Despertai! cita também Ewart Chitty, que tinha 16 anos quando a guerra irrompeu, e George Hannan, que tinha 15 anos na época. O Sr. Hannan afirma que “ninguém esperava a Primeira Guerra Mundial. Foi um choque tremendo. As pessoas diziam que o mundo se tornara civilizado demais para haver guerra. Mas a guerra mundial veio inesperadamente como um raio.”20
Será que esta imagem do período anterior à guerra corresponde à realidade histórica, ou reflete simplesmente o hábito de muitas pessoas idosas de idealizar os “bons tempos antigos”? De onde podemos conhecer com mais exatidão os fatos sobre o período anterior à guerra: das memórias da infância de pessoas idosas, ou de um historiador que tenha estudado exaustivamente a época? Chitty e Hannan foram ambos Testemunhas de Jeová veteranas, algo que a Despertai! não menciona. Que a imagem que eles apresentam do período anterior a 1914 concorde com a da liderança religiosa deles é, por isso, irrelevante. A declaração de Hannan segundo a qual “ninguém esperava a Primeira Guerra Mundial” deve ser comparada com o que o primeiro presidente da organização, C. T. Russell, disse sobre isso 22 anos antes do irrompimento da guerra. Em 1892, referindo-se ao medo e desassossego que então existia no mundo, Russell explicou:
… Os jornais diários, os semanários e os mensários religiosos e seculares, estão continuamente discutindo as perspectivas da guerra na Europa. Eles notam as queixas e ambições das várias nações e predizem que a guerra é inevitável num dia não muito distante, que ela pode começar a qualquer momento entre as grandes potências, e que as perspectivas são de que ela por fim envolverá a todas.21
A verdade é que a grande guerra de 1914 não veio de modo algum como uma surpresa. Era praticamente esperada por todos! O mundo estivera se preparando para a guerra por décadas, e as nações estavam armadas até os dentes. Todos esperavam pela “faísca detonadora.” Em seu livro Uma História do Mundo Moderno Desde 1815, os historiadores R. R. Palmer e J. Colton dizem:
Jamais os estados europeus haviam mantido exércitos tão grandes em tempo de paz como no início do século vinte… Poucos queriam a guerra; todos exceto uns poucos escritores sensacionalistas preferiam a paz na Europa, mas todos tinham como uma certeza que a guerra viria algum dia. Nos últimos anos antes de 1914 a ideia de que a guerra estava destinada a irromper mais cedo ou mais tarde provavelmente fez alguns estadistas, em alguns países, mais dispostos a iniciá-la.22
Durante alguns anos o Pastor Russell e seus seguidores partilharam até certo ponto estas expectativas. Mas eles nunca esperavam que a guerra viesse tão tarde como 1914. Em 1887, por exemplo, comentando o medo generalizado e a corrida armamentista na Europa, Russell escreveu no número de fevereiro (em inglês) da revista A Torre de Vigia de Sião:
Tudo isto parece indicar que o próximo verão veria uma guerra em andamento que poderia envolver todas as nações da Europa. (Página 2)
Quando isso não aconteceu, Russell expressou-se com mais cautela sobre as perspectivas de guerra. “Nós não as compartilhamos”, escreveu ele em 1892, “ou seja, não pensamos que as perspectivas de uma guerra europeia geral sejam tão acentuadas como em geral se supõe.” Uma guerra desse tipo não se encaixava no plano profético do Pastor Russell, que em vez disso vislumbrava a anarquia mundial como estando destinada a ocorrer. Se uma guerra europeia geral irrompesse, teria de vir muito antes de 1914. Assim, Russell disse:
Mesmo que uma guerra ou revolução irrompa na Europa antes de 1905, não a poderíamos considerar como parte das severas dificuldades preditas. No máximo poderia ser um prenúncio, uma mera ‘escaramuça’ em comparação com o que está por vir.23
Acreditando que a anarquia mundial e a destruição de todos os governos humanos estaria completada antes de 1914 – momento em que o clímax do Armagedom teria chegado e o Reino de Deus seria estabelecido na terra – o Pastor Russell e os seus associados sustentaram por isso que a guerra na Europa que era esperada por todos tinha de vir muito antes daquela data, provavelmente “por volta de 1905”, disse Russell.24
Conforme foi mostrado pelo jornal O Mundo, de Nova Iorque, edição de 30 de agosto de 1914 em inglês, o fundador da Torre de Vigia, C. T. Russell, esperava que o Reino de Cristo acabaria com todos os reinos terrestres em 1914. A predição obviamente falhou. As nações não só sobreviveram, como triplicaram de número desde então. Contudo, uma vez que o jornal O Mundo – no início da guerra – anunciou de forma inexata que “O horrível irrompimento da guerra na Europa cumpriu uma profecia extraordinária”, as publicações das Testemunhas de Jeová têm citado repetidamente o artigo.
Todavia, quando eles finalmente imprimiram uma imagem do artigo na Despertai!, o embaraçoso título, “FIM DE TODOS OS REINOS EM 1914”, foi omitido:
Foi só 10 anos depois que a imagem completa, com o título recolocado no lugar, apareceu na revista A Sentinela de 1º de outubro de 1984:
A organização não havia predito a vinda da Primeira Guerra Mundial, e o que tinha predito, o fim de todos os governos humanos em 1914, provou-se falso. Apesar disso, o artigo ainda foi apresentado como favorável às suas alegações sobre 1914, alegações que hoje são quase totalmente diferentes do que eram antes de 1914.
Será que aquilo que agora se conhece como Primeira Guerra Mundial foi realmente precedido por um longo período de paz e segurança? É certamente verdade que o período de 1848 a 1914 foi de algum modo mais calmo quando comparado com as convulsões que tanto antecederam como se sucederam àquele período, um período que é algumas vezes chamado de belle epoque, a “bela época”. Mas este nome é enganoso. Barbara W. Tuchman, uma historiadora de renome internacional, fez um estudo especial das décadas que antecederam a Primeira Guerra Mundial. No prefácio de seu estudo, que abrange o período 1890-1914, ela diz:
Este não é o livro que eu pretendia escrever quando comecei. ideias preconcebidas caíram uma a uma à medida que eu pesquisava. O período não foi uma Idade de Ouro ou Belle Epoque a não ser para um pequeno segmento da classe privilegiada… Fomos induzidos ao erro pelas próprias pessoas daquela época que, olhando para trás através do abismo da Guerra, tomam aquela metade de suas vidas coberta de névoa por um pôr do sol adorável de paz e segurança. Ela não parecia tão dourada quando eles estavam no meio dela. As memórias e a nostalgia deles condicionaram nossa visão do período que antecedeu à guerra, mas eu posso oferecer ao leitor um padrão baseado em pesquisa adequada: todos os comentários acerca de quão adorável foi aquela época, feitos por pessoas contemporâneas, foram feitos depois de 1914.25
É verdade que a Europa tinha experimentado um de seus períodos de paz mais longos antes de 1914. A organização das Testemunhas de Jeová cita um historiador europeu cujo nome não menciona, como tendo dito sobre agosto de 1914: “Durante os primeiros dias deste mês fatídico, findou um dos períodos mais pacíficos que o nosso continente já conheceu.”26 Mas isto só é verdade no que se refere à Europa, e deve-se notar que o mesmo continente conheceu um período de paz de duração maior depois de 1945!
A verdade é que, para o resto do mundo, guerras frequentes assolaram praticamente todos os lugares antes de 1914. Diz o erudito austríaco Otto Koenig:
Se, contudo, alguém começasse a falar sobre os bons tempos antigos, sobre o longo período de paz de por volta de 1871 até 1914, ele deveria simplesmente abrir as páginas fechadas do livro de história: a Guerra Bôer na África do Sul, a Rebelião Boxer na China, a Guerra Russo-Japonesa, a Rebelião Illinder na Macedônia, as Guerras Balcânicas e a ocupação da Bósnia, a guerra entre a Itália e a Abissínia, a rebelião Mahdi, a rebelião Herero na África do Sudoeste Alemã, as guerras entre os berberes e os franceses na Argélia, guerras na Indochina, revoluções na América do Sul – e isto é só uma amostra dentre as guerras durante este longo ‘período de paz’.27
Milhões de pessoas foram mortas nestas guerras. Certamente aquela não foi uma época pacífica. Mesmo a chamada “paz” na Europa foi apenas uma paz entre as grandes potências. Outras guerras foram travadas na Europa, por exemplo, as duas guerras balcânicas em 1912 e 1913, envolvendo a Bulgária, Sérvia, Grécia, Montenegro, Turquia e Romênia. Além disso, a “paz europeia” não era de modo algum uma paz com segurança. Pelo contrário, era uma paz baseada no medo – medo da guerra que todos sabiam que viria. Os historiadores geralmente chamam este período de paz europeia de “era da paz armada.”28
A situação anterior à guerra, naquela época, foi muito semelhante à situação que tem prevalecido na terra desde 1945: Uma geração de relativa paz na Europa, com numerosas guerras limitadas em muitas outras partes do mundo. Portanto, a alegação de que a Primeira Guerra Mundial pôs fim a uma longa era de paz e segurança mundial é falsa. O período anterior a 1914 estava cheio de medo, insegurança, violência e guerras exatamente como a maioria dos outros períodos da história.
Primeira Guerra Mundial – a primeira “guerra mundial”?
“Nenhuma geração anterior à de 1914 jamais passou por uma guerra mundial, e muito menos por duas”, afirmou A Sentinela de 15 de janeiro de 1984 (página 7). “Os historiadores são amplamente da opinião de que a Primeira Guerra Mundial foi a primeira em escala global”, afirmou a revista Despertai! de 8 de novembro de 1981 (página 8). É verdade isso?
Não, não é. Os historiadores não são ‘amplamente dessa opinião’. Que a Primeira Guerra Mundial seja agora designada assim, não quer dizer que tenha sido, de fato, a primeira guerra mundial da história. Embora muitos hoje não se apercebam disso, as pessoas que passaram pelo conflito de 1914-18 chamaram-no simplesmente de “A Grande Guerra.” Foi só quando outra guerra mundial irrompeu em 1939 que os termos “primeira” e “segunda” vieram a ser usados para distinguir um conflito do outro. Mas outras guerras antes de 1914 também tinham sido “guerras mundiais” exatamente no mesmo sentido que a Primeira Guerra Mundial!
A “era das guerras mundiais” começou de fato no início do século 18.29 Num período de 80 anos, ocorreram três guerras mundiais, e antes do fim daquele século tinha começado a quarta! Estes fatos são enfatizados por muitos historiadores. Considere:
1. A Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1713) na qual a França, a Grã-Bretanha, a Holanda e a Áustria figuraram de forma proeminente, com o conflito estendendo-se para a América do Norte, foi, segundo os historiadores Palmer e Colton, “a primeira que pode ser chamada de ‘guerra mundial’, porque envolveu o mundo do além-mar juntamente com as potências dominantes na Europa.”30
2. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) foi a segunda guerra mundial do século dezoito: “A Guerra dos Sete Anos foi uma guerra mundial num grau maior do que a Guerra da Sucessão Austríaca [1740-1748].”31 A extensão global deste conflito é atestada por todos: “Veio a envolver todos os quatro continentes do mundo e todos os grandes oceanos.”32 Prússia, Áustria, Grã-Bretanha, França, Rússia, Suécia, Espanha e a maioria dos Estados Germânicos do Sacro Império Romano envolveram-se no conflito. Combatia-se pelo controle da América do Norte e da Índia. Foi esta guerra que elevou a Grã-Bretanha à sua posição de liderança como potência imperial do mundo, em boa medida graças ao seu estadista e famoso líder, William Pitt. Pitt, que chegou ao poder em 1756, o mesmo ano em que irrompeu a guerra, ganhou através de sua estratégia brilhante uma série de vitórias por todo o mundo. Montgomery, por isso, chama-o de “estrategista da guerra mundial.”33 Alguns historiadores consideram-no ainda maior que Churchill neste aspecto.
3. A Guerra da Independência dos Estados Unidos (1775-1783) foi a terceira guerra no mesmo século que é classificada como “guerra mundial” pelos historiadores: “A guerra revolucionária foi várias guerras numa só. Foi entre outras coisas uma guerra por independência nacional, uma guerra civil e no final uma guerra mundial.”34 Foi a derrota britânica em Saratoga em 1778 que transformou a luta numa guerra mundial. “A derrota em Saratoga… assinalou o início de uma guerra geral, travada mundialmente”, diz o historiador Piers MacKesy.35 A segunda parte de seu trabalho sobre a guerra, concordemente, tem o subtítulo: A Guerra Mundial 1778.36 O Visconde Montgomery, também, enfatiza esta mudança em 1778: “A guerra era agora outra guerra mundial.”37
Um biógrafo histórico descreve a guerra da seguinte forma:
… o que havia começado como uma revolução americana contra a Inglaterra explodiu numa guerra mundial. Frotas francesas e espanholas lutaram contra as inglesas no Canal da Mancha, nas Índias Ocidentais e em Gibraltar. Os espanhóis capturaram a Florida Ocidental. A Rússia, a Dinamarca, a Suécia e a Prússia uniram-se para quebrar o bloqueio inglês sobre a França e a Espanha. A Holanda também enviou abastecimentos à França por mar, e supriu a América tão abundantemente a partir das Índias Ocidentais que a Inglaterra lhe declarou guerra. As armadas dos dois países lutaram até a exaustão no Mar do Norte. A linha inglesa de navios e homens estava agora muito fina para envolver o globo.38
4. As Guerras Napoleônicas (1792-1815), um conflito multinacional que se seguiu à Revolução Francesa, foi a quarta guerra mundial que começou no século dezoito. Os historiadores Palmer e Colton explicam:
Convém pensar na luta de 1792 a 1814 como uma ‘guerra mundial’, como de fato foi, afetando não só toda a Europa, mas lugares tão remotos como a América Espanhola, onde as guerras da independência começaram, ou o interior da América do Norte, onde os Estados Unidos compraram a Louisiana em 1803 e tentaram uma conquista do Canadá em 1812.39
GUERRAS NAPOLEÔNICAS – Cenários de Batalhas Decisivas
Outros historiadores concordam em descrever as Guerras Napoleônicas como uma guerra mundial. O conhecido historiador e estadista norueguês Halvdan Koht chama este conflito de “uma guerra mundial de mais de vinte anos de duração, travada em todos os continentes.”40 E Cyril Falls, um professor de história da guerra, menciona as guerras principais que se seguiram às Guerras Napoleônicas e comenta:
Nenhuma destas, contudo, foi uma guerra mundial do tipo das dos quinze anos iniciais do século dezenove [as Guerras Napoleônicas de 1801 a 1815] que envolveram não só toda a Europa, mas em menor grau todos os continentes do globo.41
Consequentemente, a afirmação da liderança das Testemunhas de Jeová de que a Primeira Guerra Mundial foi “a primeira em escala global” é demonstravelmente falsa, como o é também a afirmação de que “nenhuma geração anterior à de 1914 jamais passou por uma guerra mundial, e muito menos por duas.” Os historiadores não são ‘amplamente dessa opinião’ diante dessas afirmações erradas, uma vez que eles geralmente estão mais bem informados. Pelo contrário, eles sabem que a “era da guerra mundial” começou no século dezoito, o qual presenciou três grandes guerras mundiais num período de oitenta anos (uma “geração” segundo a definição da liderança das Testemunhas de Jeová), com a quarta guerra mundial começando antes do fim do mesmo século!
Mas talvez a Primeira Guerra Mundial tenha sido mais ampla, mais “global”, do que as guerras mundiais que a antecederam? Afirma-se isto na Sentinela de 1º de novembro de 1984:
A Primeira Guerra Mundial foi em muito o mais amplo e o mais destrutivo conflito humano ocorrido até então. (Página 4)
Infelizmente, esta alegação também não é verdadeira. Em contraste com alguns conflitos mundiais anteriores, a Primeira Guerra Mundial foi em grande parte limitada à Europa. O General Montgomery, que combateu tanto na Primeira como na Segunda Guerra Mundial e desempenhou um importante papel em ambas, explica:
Todavia, no geral, pode-se dizer que a guerra fora da Europa foi de importância estratégica menor. A guerra de 1914-18 foi basicamente uma guerra europeia. Veio a ser chamada mais tarde de ‘guerra mundial’ porque contingentes de muitas partes do Império Britânico serviram na Europa, e porque os Estados Unidos se juntaram às potências da Entente em 1917. Mas na realidade, visto que o papel do poder naval foi principalmente passivo, esta foi menos ‘guerra mundial’ do que alguns conflitos anteriores, como a Guerra nos Sete Anos.42
Comparando a Primeira Guerra Mundial com a Segunda Guerra Mundial, Montgomery acrescenta:
Enquanto a guerra de 1914/18 dificilmente poderia ser chamada de conflito mundial, não podem haver tais dúvidas sobre a guerra trazida por Hitler em 1939.43
Essas ponderações equilibradas e perspicazes, feitas por um experiente e bem informado historiador e general militar de renome mundial deveriam ser pesadas contra as alegações grandiosas e únicas que a liderança das Testemunhas de Jeová associa à guerra de 1914-1918.
A primeira “guerra total”?
Mas não é verdade que a Primeira Guerra Mundial foi a primeira guerra total? Esta é outra afirmação que muitas vezes se apresenta nas publicações das Testemunhas de Jeová. Assim, o livro Raciocínios à Base das Escrituras (1989) diz na página 419 que “Pela primeira vez, todas as principais potências entraram em guerra.” E a revista Despertai! de 8 de novembro de 1981, até citou a Enciclopédia Mundial do Livro como tendo dito:
Na Primeira Guerra Mundial, pela primeira vez na história, a humanidade chegou a conhecer uma guerra total. (Página 6)
O que não se traz ao conhecimento dos leitores, todavia, é que a maior parte dos historiadores não concorda com esta afirmação.
O que é uma “guerra total”? Em geral uma “guerra total” se define como uma guerra na qual não apenas os militares, mas também a economia e a indústria de uma nação estão mobilizadas para a guerra.44
A guerra total definida desta forma não começou com a Primeira Guerra Mundial. Os historiadores militares R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy afirmam que a Guerra Civil Americana (1861-1865) foi a primeira guerra total dentro desta definição:
Com as economias nacionais de ambos os lados completamente integradas nos seus respectivos esforços de guerra, a Guerra Civil Americana foi verdadeiramente a primeira guerra moderna, e a primeira guerra ‘total’ no sentido moderno.45
Apesar disto, parece que os historiadores geralmente identificam as anteriores Guerras Napoleônicas como a primeira guerra total. Montgomery, que concorda que a Guerra Civil Americana foi de fato “um exemplo de guerra total, conduzida implacavelmente”, diz que a guerra total foi introduzida originalmente em 1793, quando os franceses, através de sua Lei de 23 de agosto de 1793, “anunciaram a era da guerra total.”46 E o escritor E. J. Hobsbawm, ao descrever a crise que se seguiu à Revolução Francesa, explica:
No decorrer de suas crises a jovem República Francesa descobriu ou inventou a guerra total; a mobilização total dos recursos de uma nação por meio do recrutamento, racionamento e uma economia de guerra rigidamente controlada, e a virtual abolição, no país ou no estrangeiro, da distinção entre soldados e civis.47
O professor de história Cyril Falls também coloca a origem da guerra total nas Guerras Napoleônicas. Em Cem Anos de Guerra, ao tratar da Segunda Guerra Mundial ele diz:
No aspecto político a guerra presenciou um avanço adicional em direção à “totalização”, um processo que se pode dizer que começou nas Guerras Napoleônicas.48
Portanto, o que se chama de Primeira Guerra Mundial não pode ser caracterizado como marcantemente diferente de uma série de conflitos mundiais anteriores. Foi precedida por várias outras guerras mundiais e guerras totais. Mas a liderança das Testemunhas de Jeová insiste que ela foi muito maior do que todas as guerras anteriores, até mesmo ‘sete vezes maior do que todas as grandes guerras juntas, nos 2.400 anos precedentes’. É isto correto?
Quão “grande” foi realmente “A Grande Guerra”?
A necessidade de enfatizar a data de 1914 tem induzido a liderança das Testemunhas de Jeová a exagerar a Primeira Guerra Mundial até proporções completamente absurdas nas mentes das Testemunhas de Jeová. O que dizer, por exemplo, da alegação de que esta guerra foi “sete vezes maior do que todas as 901 guerras grandes nos 2.400 anos precedentes”?
Não existe a menor ponta de verdade nesta declaração, como logo se tornará evidente.
Afirmações sobre o tamanho da guerra, o número de pessoas envolvidas, o número de baixas, e assim sucessivamente, muitas vezes variam consideravelmente. Não é difícil selecionar os números mais impressionantes fornecidos por certos escritores, colunistas e políticos em vários livros e jornais, e criar assim a imagem de uma guerra que tem apenas uma semelhança remota com a realidade. É exatamente isso o que a organização das Testemunhas de Jeová tem feito com a Primeira Guerra Mundial.
Para obter uma perspectiva tão clara quanto possível sobre a Primeira Guerra Mundial e outras guerras que a antecederam, devemos recorrer a historiadores e outros peritos que fizeram um estudo genuinamente profundo e científico das guerras ao longo da história. Esse tipo de estudo científico das guerras tem sido feito desde 1930, e os dois pioneiros nesse estudo foram Lewis Richardson e Quincy Wright. Em anos mais recentes, o trabalho deles foi continuado por outros, como J. David Singer, Melvin Small e Francis A. Beer. A informação que se segue é tirada principalmente dos trabalhos deles, juntamente com algumas outras fontes históricas dignas de confiança.
Quantas nações participaram no conflito de 1914-1918? A publicação das Testemunhas de Jeová intitulada Felicidade – Como Encontrá-la? (1981), cita um colunista de jornal como tendo dito que “a Primeira Guerra Mundial envolveu países que constituíam mais de 90 por cento da população do mundo.” (Página 146) Não se explica, todavia, quantos destes países estiveram, ou, mais importante, precisamente de que modo estiveram ‘envolvidos’ na guerra. De forma semelhante, a Sentinela de 15 de abril de 1981, página 14, afirma que a Primeira Guerra Mundial “afetou quase cada país da terra” – mas não se dá qualquer explicação sobre como estes países foram ‘afetados’.
Conforme afirmou o General Montgomery, a Primeira Guerra Mundial foi “basicamente uma guerra européia” e por isso “menos ‘guerra mundial’ do que alguns conflitos anteriores.” Embora seja verdade que o número total de nações direta ou indiretamente envolvidas nela em certo momento tenha sido 33 – cerca de metade das nações então existentes – a verdade é que a maioria destas tiveram um papel insignificante na luta.
Assim, verificamos que os Aliados consistiam em 10 nações, as Potências Centrais, 4, o que dá 14 nações no total.49 Francis Beer enumera apenas 12 antagonistas no conflito, explicando numa nota de rodapé que “Esta lista exclui beligerantes não europeus como a China, o Japão, a Tailândia, os países da América Latina e também certos beligerantes europeus menores como a Grécia, o Luxemburgo e Portugal, todos os quais desempenharam um papel relativamente menor na guerra.”50 Singer e Small, que fornecem dados particularmente exatos, mostram que o número de partes beligerantes independentes foi de quinze.51
Em sua extensão, portanto, a Primeira Guerra Mundial certamente não foi maior – e com certeza não “sete vezes maior” – do que todas as grandes guerras juntas em mais de dois mil anos anteriores. Seu alcance não foi sequer maior do que as quatro “guerras mundiais” do século dezoito já descritas. Aquelas guerras internacionais anteriores estenderam-se além de um único continente, como a Europa, num sentido bem real.
O aspecto mais assustador da Primeira Guerra Mundial foi o número de mortos. Se, como se afirma, foi pior do que as guerras anteriores em todos os aspectos, pareceria que também o foi no número de mortos. Quão “grande” foi a Primeira Guerra Mundial neste aspecto, quando comparada com algumas das maiores guerras do passado?
As mortes na Primeira Guerra Mundial em comparação com as guerras anteriores a 1914
De longe, o aspecto mais grave da guerra é, obviamente, a morte. “As baixas dão às guerras a sua importância. É este aspecto da guerra que a torna muito semelhante a uma doença.”52
Quantos foram mortos na Primeira Guerra Mundial? 37.508.686 pessoas, afirma a revista Despertai! de 22 de fevereiro de 1961 (em inglês), páginas 6 e 7. A revista cita o Almanaque Mundial de 1946 (em inglês) como a fonte desta informação.
Todavia, a revista Despertai! deveria ter mencionado que este número não se refere a mortes atribuíveis diretamente ao combate, mas inclui os muitos milhões de pessoas que morreram de outras causas além da guerra, tais como fomes e a Gripe Espanhola!
Tanto é verdade que a revista Despertai! de 8 de abril de 1984, página 12, reduz o número mencionado acima para praticamente a metade, aproximadamente 21 milhões (9 milhões de soldados e 12 milhões de civis.) Mas este número também é muito elevado. Um número anterior da Despertai! (22 de abril de 1972, página 17), deu 14 milhões como sendo o número de mortos (9 milhões de soldados e 5 milhões de civis). Mesmo este número é provavelmente enganoso.
Os quadros mais exatos mostram que entre 8 e 8,5 milhões de soldados foram mortos na guerra.53 O número de civis mortos varia muito. Dupuy & Dupuy dão o número como sendo de 6.642.633, mas eles declaram explicitamente que este número inclui mortes devido a doenças epidêmicas e má nutrição, mortes não diretamente atribuíveis à ação militar.54 A tabela de Francis A. Beer apresenta 1.374.000 mortes civis, embora ele enfatize que faltam números para alguns países.55
De modo que o número total dos que foram mortos como consequência direta da guerra – entre soldados e civis – foi, segundo as estimativas mais confiáveis, de 10 a 12 milhões, talvez um pouco mais. Milhões morreram de outras causas durante o período da guerra, tais como má nutrição e doenças epidêmicas, especialmente a gripe espanhola em 1918.
Que dizer então das guerras que ocorreram antes de 1914? Como se comparam estas com a Primeira Guerra Mundial quanto ao número de baixas? Se, como as publicações das Testemunhas de Jeová afirmam, a Primeira Guerra Mundial foi ‘sete vezes maior do que todas as grandes guerras dos 2.400 anos anteriores’, então pareceria que é com base neste aspecto, as mortes, que a comparação deve ser feita, antes de qualquer coisa. Isto significaria que todas as 901 grandes guerras anteriores a 1914 vitimaram apenas um sétimo dos 10-12 milhões que foram mortos na Primeira Guerra Mundial, ou cerca de 1,5 milhão de vítimas no total! Ou, se incluirmos outras causas relacionadas com a guerra como fome e doença e tomarmos o número muito maior do Almanaque Mundial de 1946, 37.508.686 pessoas mortas na Primeira Guerra Mundial, ainda assim o número total dos mortos nas 901 maiores guerras estaria limitado a apenas cerca de 5 milhões. Será que a evidência disponível fornece algum fundamento para isso?
As mortes nas guerras do passado não são fáceis de estimar, por razões óbvias. Gaston Bodart, que fez um estudo rigoroso das baixas nas guerras travadas nos últimos trezentos anos, observou:
Registros conscienciosamente compilados das perdas de vidas reais nos exércitos, só são encontrados nos arquivos da maioria das potências militares depois da Guerra da Sucessão Espanhola, i.e. depois de 1714. Mesmo depois dessa data, dados confiáveis estão limitados às maiores batalhas, aos combates e localidades mais importantes. As perdas totais para cada guerra só foram compiladas depois de 1848.56
No que se refere às mortes civis, a situação é ainda mais difícil:
Registros oficiais deste tipo só têm sido mantidos pelos diversos governos em épocas mais recentes, nenhum até a segunda metade do século dezenove, e mesmo nos registros posteriores a 1850 existem grandes lacunas. Relatórios ou tabelas estatísticas têm, portanto, de ser praticamente limitados às perdas dos exércitos.57
Não há razão para pensar, porém, que a porcentagem de mortes civis em proporção com as perdas totais foi menor em guerras anteriores do que na Primeira Guerra Mundial. Pelo contrário, frequentemente foi muito maior, como por exemplo nas Guerras dos Huguenotes, nas Guerras dos Camponeses (1524-1525), e na Guerra dos Trinta Anos.58
É realmente possível que apenas 5 milhões de pessoas tenham sido mortas em resultado das 901 maiores guerras nos 2.400 anos que antecederam 1914? Para mostrar como esta ideia é completamente absurda, alguns exemplos de guerras dos séculos que antecederam imediatamente 1914 são fornecidos a seguir, cada uma das quais ceifou mais de um milhão de vidas, e em alguns casos vários milhões.
1. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), um conflito internacional com cerca de 10 nações envolvidas, no qual se estima que tenha morrido 2-3 milhões de soldados. As mortes civis, contudo, foram muito mais assustadoras, principalmente por causa das fomes e doenças causadas pela guerra.59 Hoje a maioria dos especialistas acredita que 30-40 por cento do total da população alemã, ou 7-8 milhões de civis, morreram devido à guerra!60 Este é um número assombroso, ultrapassando de longe a mortalidade civil da Primeira Guerra Mundial nesse país. O historiador R. R. Palmer observa que “até mesmo a Segunda Guerra Mundial, em despovoamento total, não foi tão devastadora para a Alemanha como a Guerra dos Trinta Anos. É bem possível seres humanos morrerem como moscas sem a ajuda da destruição científica. Os horrores da guerra moderna não são completamente diferentes dos horrores que homens e mulheres experimentaram no passado”.61
2. A Guerra Manchu-Chinesa. Em 1644 a China foi invadida pelos manchus (da Manchúria), que começaram a conquistar o país numa longa guerra que se estima que tenha ceifado 25 milhões de vidas – cerca de duas vezes o total dos que foram mortos militarmente na Primeira Guerra Mundial!62 Os manchus governaram depois a China até 1912.
3. A Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714), uma guerra envolvendo 10 nações europeias e ainda colônias europeias em outras partes do mundo, causou “mais de um milhão” de baixas (entre mortos e feridos) nos exércitos, “dos quais pelo menos 400.000 sacrificaram as suas vidas.”63 Mas as perdas civis devem ter sido muito mais pesadas. “Em nenhuma outra guerra existiram tantos sítios como na Guerra da Sucessão Espanhola,” diz Bodart. “As perdas em sítios foram muito mais pesadas para ambos os lados do que nas batalhas,… As mortes entre os habitantes de cidades sitiadas, as causadas por doenças levadas por exércitos, as dos Camisards, e finalmente a da fome que se seguiu a este duelo até a morte, devem ter atingido um número enorme. Todavia, infelizmente as estatísticas sobre estes aspectos são completamente deficientes.”64 Mesmo uma estimativa conservadora colocaria o número total de mortos em mais de um milhão.
4. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada ao redor de todo o mundo, provavelmente custou um milhão de vidas só nos exércitos. A França perdeu cerca de 350.000 soldados e as baixas austríacas foram de cerca de 400.000 (entre mortos e feridos). As perdas prussianas foram “sem dúvida mais pesadas.”65 Centenas de milhares de outros morreram nos exércitos de outras nações e entre os civis.
5. As Guerras Napoleônicas (1792-1815) envolveram aproximadamente o mesmo número de nações que a Primeira Guerra Mundial. Estima-se que a França perdeu aproximadamente 2 milhões de vidas nestas guerras, metade das quais foram perdidas no período do Primeiro Império, 1805-1815.66 Estima-se que durante esses onze anos finais, 2 milhões de soldados morreram no conflito.67 O número total de mortos nos 23 anos de 1792 até 1815 está fixado em 5 ou 6 milhões!68
6. A Rebelião de Taiping (1850-1864), “talvez a guerra mais destrutiva de todo o século dezenove.”69 Esta foi uma guerra civil na China que geralmente se diz ter ceifado de 20 a 30 milhões de vidas.70 Com relação a esta guerra, a revista Despertai! evidentemente não levou em conta sua afirmação anterior de que a Primeira Guerra Mundial excedeu todas as guerras anteriores em poder destrutivo. Um artigo no número de 22 de setembro de 1982, tentando esclarecer o envolvimento da religião na guerra, disse que o número de vítimas foi “provavelmente uns 40 milhões”, isto é, aproximadamente quatro vezes o total dos que foram mortos diretamente pela Primeira Guerra Mundial!71 Esta guerra por si só demonstra que a Primeira Guerra Mundial não foi “a guerra mais sangrenta da história” até aquela época, como se tem afirmado algumas vezes. O motivo de alguns historiadores fazerem uma afirmação infundada deste tipo é, como explica E. J. Hobsbawm, que a Rebelião de Taiping “tem sido ignorada por historiadores eurocêntricos.”72
7. A Guerra do Paraguai (1864-1870), na qual o Paraguai lutou contra a Argentina, o Uruguai e o Brasil, custou mais de 2 milhões de vidas. A guerra “reduziu a população paraguaia de aproximadamente 1.400.000 para 221.000”, ou seja, em 84 por cento! Quanto aos outros três países “estima-se que tenham perdido 1 milhão de homens.”73
GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870) – Cenários de Batalhas Decisivas
Comparem-se as mortes somente nestas sete guerras, conforme vistas neste quadro, com as da Primeira Guerra Mundial:
Conflito | Estimativa do Número de Mortos |
Guerra dos Trinta Anos | 9-11 milhões |
Guerra Manchu-Chinesa | 25 milhões |
Guerra da Sucessão Espanhola | c. 1 milhão |
Guerra dos Sete Anos | 1-2 milhões |
Guerras Napoleônicas | 5-6 milhões |
Rebelião de Taiping | 20-40 milhões |
Guerra do Paraguai | 2 milhões |
Estimativa do total de mortes | 63-87 milhões |
Estimativa do n.ºde mortos na Primeira Guerra Mundial | 37,5 milhões |
Pode-se ver que a mortalidade apenas nestas sete guerras é aproximadamente o dobro do número de 37.500.000 mortes relacionadas com a guerra, já citado. E ultrapassa muitas vezes o número de 10-12 milhões de mortes diretamente causadas pela Primeira Guerra Mundial. Deve-se notar que estas grandes guerras dos três séculos que antecederam imediatamente 1914 são apenas alguns dos exemplos mais importantes; a lista de guerras anteriores que causaram um milhão de mortes ou mais poderia ser consideravelmente ampliada.74 Estes poucos exemplos, contudo, são suficientes para mostrar quão absurda é a ideia de que só 5 milhões (ou, pior ainda, 1,5 milhão) de pessoas morreram nas grandes guerras dos 2.400 anos anteriores a 1914. A verdade é simplesmente esta: centenas de milhões de pessoas morreram nas guerras durante esse período!
Em resumo, o conflito de 1914-1918 (Primeira Guerra Mundial) foi principalmente uma guerra europeia, na qual aproximadamente quinze, ou cerca de um quarto das nações então existentes na terra, participaram ativamente. Não foi mais extensa em alcance do que várias guerras anteriores e de fato foi até menor do que várias destas, como as Guerras Napoleônicas, de 23 anos de duração, nas quais metade das nações então existentes na terra tiveram parte ativa.
Cerca de 90 por cento dos 10-12 milhões de vítimas diretas da guerra de 1914-1918 foram europeus. Outros conflitos anteriores, como a Guerra dos Trinta Anos, tiveram um número de mortes comparável. A Guerra Manchu-Chinesa teve o dobro desse número de mortes e a Rebelião de Taiping aproximadamente três vezes esse número.
A guerra foi travada principalmente com armas convencionais. Tanques, submarinos, e aviões (aparentemente usados pela primeira vez na Primeira Guerra Balcânica, 1912-1913) ainda estavam em fase experimental e desempenharam um papel pouco importante na guerra. A metralhadora – uma arma desenvolvida no século anterior e usada em várias guerras anteriores (por exemplo, na Guerra Civil Americana) – foi responsável por entre 80 e 90 por cento das baixas. O transporte em terra ainda foi feito principalmente por cavalos, como em guerras anteriores.
O conflito de 1914-1918 não foi a primeira guerra total na história, nem foi a primeira guerra mundial. De fato, segundo o Marechal de Campo Montgomery, uma vez que ela foi essencialmente uma guerra europeia, é até questionável se merece ser classificada como um conflito mundial.
Portanto, seja qual for o critério pelo qual a guerra de 1914-1918 é avaliada – alcance, duração, número de nações envolvidas, combatentes, ou baixas – a afirmação de que foi sete vezes maior do que todas as maiores guerras juntas, dos 2.400 anos anteriores; é obviamente pura ficção. Está tão longe da verdade que é incrível que alguém – se fez um exame cuidadoso dos dados históricos – possa ter seria ou honestamente feito semelhante afirmação.
Foi o século 20 o mais afetado por guerras na história?
A Segunda Guerra Mundial foi, incontestavelmente, muito maior que a Primeira Guerra Mundial em todos os aspectos e terminou com o uso de armas nucleares. No entanto, tem sido seguida por um período de mais de oitenta anos no qual o uso de tais armas não foi repetido. Travaram-se outras guerras, mas não foram excepcionais em comparação com muitas das maiores guerras de gerações passadas.
É verdade que a ameaça de uma guerra que poderia exterminar a maior parte da humanidade existe obviamente hoje. Contudo, a mera ameaça ou possibilidade de uma guerra desse tipo não cumpre em si mesma qualquer suposta profecia sobre guerras nos nossos dias ou especificamente na geração posterior a 1914. O que aconteceu realmente?
De 1816 a 1965 o número de nações independentes na terra quintuplicou, de 23 em 1816 para 124 em 1965.75 Este desenvolvimento multiplicou, é claro, as perspectivas de aumento no número de guerras internacionais e civis, especialmente porque a população mundial quadruplicou durante o mesmo período. O que revelam os fatos? Vimos um aumento notável no número de guerras no século 20?
Aqueles que proclamam que um “sinal” marca claramente nossa época transmitem a ideia de que o mundo de hoje é imensamente mais propenso a guerras do que no passado. O Extinto Grande Planeta Terra afirma (na página 147 em inglês) que “a guerra tem aumentado grandemente em frequência e intensidade neste século.” O autor cita o Notícias dos Estados Unidos e Informe Mundial de 25 de dezembro de 1967 (em inglês), como tendo dito:
Desde a Segunda Guerra Mundial houve 12 guerras limitadas no mundo, 39 assassinatos políticos, 48 revoltas pessoais, 74 rebeliões por independência, 162 revoluções sociais, quer políticas, econômicas, raciais ou religiosas.
Como Hal Lindsey, a liderança das Testemunhas de Jeová acha que houve um tremendo aumento na frequência das guerras no século 20. A Sentinela de 1º de outubro de 1983, página 3, cita o colunista de jornal James Reston como tendo dito que o século 20 viu 59 guerras internacionais e 64 guerras civis, ou 123 guerras no total.
Todavia, mais adiante no mesmo número, afirma-se que “houve pelo menos 130 guerras internacionais e civis desde o fim da Segunda Guerra Mundial” (Página 7).
Dois anos antes, na Despertai! de 8 de novembro de 1981, afirmava-se que 150 guerras foram travadas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. (Página 8)
Mas esse recorde foi quase duplicado pela publicação de 1985 Raciocínios à Base das Escrituras, que citou o almirante reformado Gene La Rocque declarando que houve mais 270 guerras desde o fim da Segunda Guerra Mundial! (Página 420)
Certamente não é impróprio perguntar: Qual é a verdade?
Para encontrar uma resposta para essa pergunta, é necessário primeiro responder outra: O que é guerra? Será que qualquer conflito armado entre duas ou mais nações é uma guerra, não importando quão pequenas sejam as forças armadas ou quão poucos sejam mortos? Será que qualquer tumulto armado dentro de um país é uma guerra civil? Obviamente, o número de guerras durante certo período depende de como se define guerra.
Para poderem fazer uma comparação que tenha sentido entre guerras hoje e no passado, os pesquisadores da guerra tiveram de formular algum tipo de definição de guerra. Quincy Wright definiu guerra como um conflito que tenha envolvido pelo menos 50.000 combatentes.76 Ele descobriu que pelo menos 284 guerras deste tipo ocorreram desde 1480 até 1964, ou cerca de 60 guerras por século em média.77 Curiosamente, porém, apenas 30 guerras deste tipo foram travadas no século vinte até 1964. Segundo a definição citada, é claro que não ocorreu um aumento no número de guerras no século 20, em comparação com séculos anteriores; a indicação é de um decréscimo.78
Wright enfatiza também que, apesar de as guerras terem se tornado cada vez mais destrutivas no século 20, não só diminuíram em número como também em duração.79
Outros pesquisadores da guerra confirmam esta tendência. Singer e Small, que limitam sua abordagem a guerras internacionais (isto é, guerras entre nações, em contraste com guerras civis), definem esse tipo de guerra como um conflito no qual pelo menos uma das nações participantes é uma nação independente e que cause pelo menos 1.000 mortes no campo de batalha.80 Durante os 150 anos de 1816 até 1965, Singer e Small contaram 93 dessas guerras internacionais. Destas, 35 ocorreram durante o primeiro período de 50 anos (1816-1864), 33 durante o segundo (1864-1913), e 25 durante o terceiro período de 50 anos (1914-1965). De novo, uma tendência claramente decrescente!81 Esta tendência decrescente na frequência da guerra é ainda discernível, mesmo que se incluam as principais guerras civis durante o período, como Beer observa.82
Esta tendência decrescente na frequência da guerra tem se manifestado particularmente na Europa, que teve nos séculos dezenove e vinte menos de metade do número de guerras que teve em séculos anteriores.83 Depois do fim da Segunda Guerra Mundial a Europa teve toda uma geração de paz, que foi dos mais longos períodos de paz da sua história!
Será que atualmente a guerra desempenha um papel maior e mais destrutivo na vida humana do que em gerações passadas?
Sem dúvida, a maioria das pessoas da atualidade responderia afirmativamente, sem hesitar, a essa pergunta. Mas os pesquisadores da guerra não têm tanta certeza assim. Alguns, como o analista de guerra Wright, declaram que “a guerra tornou-se cada vez mais destrutiva e dilacerante” no século 20, e o colunista James Reston descreveu o século 20 como “o século mais sangrento da história da raça humana”, embora os números que ele apresenta não provem isso.84 Um fato que tem de ser tomado em consideração, contudo, é que declarações deste tipo fazem sempre referências a baixas na guerra em números absolutos, não relativos. Isto é, eles não levaram em consideração o fato de tanto o número de pessoas como o número de nações ter dobrado muitas vezes nos três séculos passados.
Em vista disto, a verdadeira questão é: Será que as guerras e as vítimas das guerras aumentaram no século 20 em proporção ao número crescente de nações e pessoas na terra? Desempenha a guerra um papel mais amplo na vida da humanidade em geral hoje? Será que o número de mortos aumentou em termos de porcentagem da população total?
O papel desempenhado pelas guerras na história passada da humanidade foi muito mais amplo do que muitos imaginam. “Conforme as estimativas da Academia Norueguesa de Ciências, em 1969, o mundo conheceu apenas 292 anos de paz desde o ano 3600 AEC, ao passo que foram travadas 14.531 guerras.”, disse A Sentinela de 1.º de outubro de 1983 (página 3). Por alguma razão, o número mais assustador do cálculo foi deixado de fora. Segundo este mesmíssimo relatório, mais de 3,6 bilhões (3.640.000.000) de pessoas foram mortas nessas 14.531 guerras! Todavia, o cálculo mencionado não foi feito pela Academia Norueguesa de Ciências. Originou-se de Norman Cousins, presidente do conselho editorial da revista Saturday Review, que o publicou no St. Louis Post-Dispatch de 13 de dezembro de 1953. Embora ele tenha declarado explicitamente que seu cálculo era especulativo, ele tem sido muitas vezes citado como um relatório científico.85 Mas esse relatório pode não estar longe da verdade.
Posteriormente, Francis Beer tentou verificar os números de Cousin. No geral, seu estudo confirma as estimativas de Cousin. Beer conclui que “existem mais de 14.000 guerras maiores e menores e 3.500 guerras maiores no mundo desde 3600 A.C.” Quanto às baixas, ele diz: “Consequentemente a evidência indica menos de 1 bilhão de mortes diretas nas maiores guerras mundiais desde 3600 A.C.”86 A este número devem ser acrescentadas as mortes civis, incluindo as mortes devidas indiretamente às guerras, que provavelmente triplicam o número para aproximadamente 3 bilhões.87
Isto atesta a verdade de que a história da raça humana na sua inteireza, em todas as épocas, foi marcada quase que constantemente por guerras num lugar ou em outro e por um fluxo contínuo de sangue humano derramado em tais conflitos.
Ainda assim, A Sentinela de 1.º de outubro de 1983, página 7, alega que “os historiadores registraram anos de paz antes de 1914”, mas “não tem havido nenhum ano de paz desde então.” O objetivo desta afirmação é, evidentemente, “provar” que a paz foi tirada da terra em 1914, em cumprimento de Apocalipse capítulo 6, versículo 4.88
O problema é que esta afirmação não tem apoio da parte dos pesquisadores da guerra.
A pesquisa de Beer mostra que existiram apenas 52 anos de paz de 1480 a 1965, ou pouco mais de 9 para cada cem anos. Oito destes 52 anos de paz caem dentro do período de meio século depois de 1914. Como Beer sublinha, “A tendência geral de difusão da paz e concentração da guerra indica mais paz e menos guerras hoje – menos paz e mais guerras no passado.”89
Num século que viu duas “guerras mundiais” destrutivas, que viu o desenvolvimento tecnológico resultar numa série de novas armas de extermínio, mais mortais, e numa época que testemunhou uma corrida armamentista assustadora, pode ser difícil crer que a guerra e seu efeito real na raça humana permaneceram essencialmente o mesmo que em séculos passados. O número de mortos nas guerras no século 20 foi admitidamente assustador.90 Mas esse foi também o caso no passado. A verdadeira questão é: Pode-se dizer corretamente que uma maior porcentagem da população morreu nas guerras do século 20 do que nos séculos anteriores?
Os pesquisadores da guerra reconhecem que é impossível provar que, quer a guerra quer a mortalidade devida à guerra aumentaram realmente no século 20. Até mesmo peritos que tendem a acreditar nisso são forçados a admitir que uma conclusão assim é uma hipótese não comprovada. Francis Beer, que, apesar de suas afirmações já citadas, acha que houve uma tendência de aumento no século 20, escreveu:
Temos de ser cuidadosos e lembrar que esta hipótese não foi realmente comprovada, e que pode realmente não haver qualquer tendência. Improvável como possa parecer, pode não ter havido qualquer mudança significativa ao longo do tempo na incidência da paz, da guerra e das mortes causadas pela violência. Paz e guerra podem ocorrer quase tão freqüentemente e durar tanto como sempre duraram; as baixas também podem ser bem comparáveis ao que sempre foram.91
Provavelmente a análise mais precisa e minuciosa desta questão é aquela publicada por Singer e Small. Eles resumem suas conclusões da seguinte maneira:
Está a guerra aumentando, como muitos peritos e leigos de nossa geração têm se inclinado a pensar? A resposta parece ser negativa sem qualquer ambigüidade. Quer olhemos para o número de guerras, sua severidade ou magnitude, não existe qualquer tendência significativa para mais ou para menos ao longo dos últimos 150 anos. Mesmo que examinemos suas intensidades, descobrimos que guerras posteriores não são muito diferentes daquelas de períodos anteriores.92
O QUE OS HISTORIADORES DIZEM SOBRE AS GUERRAS HOJE E NO PASSADO “A Guerra Mundial, 1914-1918, é encarada por muitos como tendo atingido um novo auge em trazer desastre e miséria às partes da Europa nas quais o combate foi mais violento. Mas as guerras deste período [tratando aqui dos séculos dezesseis e dezessete] foram até mais devastadoras – provavelmente não se experimentou nada tão terrível como a Guerra dos Trinta Anos na Alemanha (1618-1648).” – Os Bens Seculares do Homem, Leo Huberman (Nova Iorque e Londres, 1968), pág. 100 em inglês. “Nem mesmo a Segunda Guerra Mundial foi tão devastadora para a Alemanha, em termos de despovoamento completo, como a Guerra dos Trinta Anos.” – Uma História do Mundo Moderno, do historiador R. R. Palmer (Nova Iorque, 1952), pág. 133 em inglês. “A guerra de 1914/18 foi basicamente uma guerra européia. Veio a ser chamada mais tarde de ‘guerra mundial’ porque contingentes de muitas partes do Império Britânico serviram na Europa, e porque os Estados Unidos se juntaram às Potências da Entente em 1917. Mas, na realidade, visto que o papel do poder naval foi principalmente passivo, esta foi menos ‘guerra mundial’ do que alguns conflitos anteriores como a Guerra dos Sete Anos.” – Uma História da Guerra; Marechal-de-Campo Visconde Montgomery de Alamein (Londres, 1968), pág. 470 em inglês. Sobre Gêngis Khan: “Quando ele marchava com sua horda, era sobre graus de latitude e longitude em vez de milhas: cidades em seu caminho eram freqüentemente obliteradas, e rios desviados do seu curso; desertos eram povoados com os fugitivos e os mortos, quando ele passava, lobos e abutres eram muitas vezes as únicas coisas vivas em terras antes populosas. Esta destruição da vida humana deixa perplexa a imaginação moderna – apesar de estar enriquecida com os conceitos da última guerra européia.” – Gêngis Khan, o Imperador de Todos os Homens; Harold Lamb (Londres, 1929), págs. 11, 12 em inglês. “Improvável como possa parecer, pode não ter havido qualquer mudança significativa ao longo do tempo na incidência da paz, da guerra e das baixas provocadas pela violência.” – Paz Contra Guerra; Francis Beer (São Francisco, 1981), págs. 46, 47 em inglês. “Está a guerra aumentando, como muitos peritos e leigos de nossa geração têm se inclinado a pensar? A resposta parece ser negativa sem ambigüidade alguma. Quer olhemos para o número de guerras, sua severidade ou magnitude, não existe qualquer tendência significativa para cima ou para baixo ao longo dos últimos 150 anos.” – Os Custos da Guerra 1816-1965. Um Guia Estatístico, J. David Singer e Melvin Small (Nova Iorque, Londres, Sidnei, Toronto, 1972), pág. 201 em inglês. “Mesmo hoje, em meados do século vinte, apesar de tudo o que aconteceu no período de vida de homens que ainda não são velhos,… ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o grande momento decisivo da civilização moderna.” – Historiador R. R. Palmer no Prefácio de O Advento da Revolução Francesa, George Lefebvre (Princeton, 1947), pág. v. |
Sejam quais forem as afirmações ou contra-afirmações feitas, uma coisa deveria ser certamente muito clara para nós: a declaração de Jesus sobre guerras teve cumprimento – mas não só na época atual nem só desde 1914 ou desde 1948. Tem-se cumprido em todas as gerações desde os dias dele até o presente.
Ele nada disse sobre “intensidade”, “escalada”, ou sobre a “ameaça” de algum holocausto de proporções globais. Sua declaração simples foi que haveria guerras e relatos de guerras, com nação levantando-se contra nação e reino contra reino. Isto tem acontecido repetidamente ao longo da história humana. Adicionar algum outro fator ou inserir algum significado diferente nas palavras dele nada mais é que especulações ou invenções humanas.
Assim, todas as tentativas de limitar as palavras de Jesus a respeito de guerras como se aplicando apenas à nossa própria época estão condenadas ao fracasso, pois as alegações que se fazem são contrariadas pela evidência estabelecida e sobrepujante da história, desde o tempo dele até o nosso.
Notas
1 – O Extinto Grande Planeta Terra, Hal Lindsey, pág. 147 em inglês.
2 – Adeus, Planeta Terra, Robert H. Pierson, págs. 8, 11-15 em inglês.
3 – O Tropel Que Se Aproxima, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Billy Graham, págs.127, 128 em inglês.
4 – Esta afirmação, citada (evidentemente sem antes verificar sua exatidão) de uma curta notícia da revista Collier’s de 29 de setembro de 1945, foi repetida com freqüência nas publicações das Testemunhas de Jeová. Veja, por exemplo, o folheto “Eis Que Faço Novas Tôdas as Coisas”, 1959, pág. 25; A Sentinela de 15 de abril de 1962, pág. 249 (parágrafo 6 do estudo intitulado “O Tempo de VIR O REINO DE DEUS”); A Sentinela de 15 de abril de 1976, pág. 241; A Sentinela de 15 de outubro de 1982, pág. 8; o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, edições de 1982 e 1989, pág. 150 e a brochura “Eis Que Faço Novas Todas as Coisas”, 1986, pág. 24.
5 – Em certa época a liderança das Testemunhas de Jeová sustentava que as “guerras e relatos de guerras” mencionados no versículo 6 referiam-se às guerras que ocorreram antes da Primeira Guerra Mundial, enquanto que o versículo 7 descreve a Primeira Guerra Mundial e outras grandes guerras desde 1914. (Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado, 1958, págs. 178, 179.) Mas os dois versículos não podem ser separados um do outro desta maneira, já que a palavra “porque” (em grego gar) no versículo 7 mostra claramente que este versículo é simplesmente uma explicitação do versículo precedente! A ideia é: “Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, mas não fiqueis atemorizados acreditando que o fim está chegando. Porque haverá muitas guerras e outras tribulações”, etc. Depois eles se aperceberam que os dois versículos se referem ao mesmo tipo de guerras. Assim, A Sentinela de 15 de julho de 1970 admite: “Ao passar a dizer que nação se levantaria contra nação e reino contra reino, Jesus explicava por que ouviriam falar de guerras e de relatos de guerras.” (Pág. 13) Este ponto de vista foi mantido em A Sentinela de 1º de outubro de 1983, onde se afirma na página 4 que Jesus, no versículo 7, “passou a explicar” o que tinha acabado de dizer no versículo 6. Isto é de fato correto – mas a conseqüência é que eles são obrigados a aplicar, de modo artificial, ambos os versículos às guerras desde 1914!
6 – Isaías 19:2, NVI. A profecia de Isaías se cumpriu evidentemente nas últimas décadas do oitavo século e primeiras décadas do sétimo século A.C., quando o Egito se dividiu em vários “reinos” ou províncias menores, governados por reis locais, freqüentemente em guerra uns contra os outros, até que os reis etíopes da 25.ª Dinastia tomaram finalmente o controle do país.
7 – Veja-se o livro Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos; 1973, capítulo 16. A Sentinela de 1º de novembro de 1975, admite que “a expressão de Jesus, de ‘nação contra nação e reino contra reino’ teve também uma aplicação no primeiro século, de modo que não se limita a guerras mundiais” (Página 658)
8 – Enciclopédia da História Militar; R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy, Nova Iorque, 1970), página 122 em inglês.
9 – A rebelião judaica contra Roma foi parte de uma rebelião mais geral que se espalhou por todo o Império Romano e que culminou no ano que se seguiu à morte de Nero, 68-69 D.C., “quando Sérvio Galba, cônsul pela segunda vez com Tito Vínio como seu parceiro, começou o ano que trouxe a morte a ambos e quase significou a queda de Roma.” (Da História, de Tácito, I, 11).
10 – Mateus 24:3. A expressão grega synteleía tou aionos neste versículo significa literalmente “terminação da era.” Veja a versão Interlinear do Reino (em inglês) da Torre de Vigia, página 141.
11 – Venha o Teu Reino, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1981, pág. 115.
12 – As Armas de Agosto – Agosto de 1914, Barbara W. Tuchman, Edição de Four Square, 1964 & 1965, em inglês. A citação é encontrada sob “Referências”, no fim do livro.
13 – Dupuy & Dupuy (1970), p. 166 em inglês.
14 – A Era da Revolução; E. J. Hobsbawm, Londres, 1962, p. 29 em inglês.
15 – História Moderna de Cambridge, Editora da Universidade de Cambridge, 1904, Vol. 8 em inglês.
16 – O conhecido historiador R. R. Palmer no prefácio de O Advento da Revolução Francesa (Nova Iorque: Vintage, 1947 em inglês), de George Lefebvre, p. v.
17 – Dupuy & Dupuy, págs. 926, 1014 em inglês.
18 – Ibid.
19 – A Sentinela de 1.º de novembro de 1982, pág. 8.
20 – Despertai! de 8 de novembro de 1981, pág. 6. Chitty e Hannan foram ambos Testemunhas de Jeová de longa data. Veja A Sentinela de 15 de julho de 1963, págs. 437-439 e A Sentinela de 15 de julho de 1970, págs. 440-445.
21 – A Torre de Vigia de Sião de 15 de janeiro de 1892, págs. 19-21. Reimpressões, pág. 1354. (em inglês)
22 – Uma História do Mundo Moderno Desde 1815, R. R. Palmer e Joel Colton, quinta edição em inglês (Nova Iorque, 1978), págs.654, 655.
23 – A Torre de Vigia de Sião de 15 de janeiro de 1892, págs. 19-21. Reimpressões, p. 1354. (em inglês)
24 – Para alegar que as predições de Russell se cumpriram, a liderança das Testemunhas de Jeová tem citado muitas vezes o jornal O Mundo de 30 de agosto de 1914. (Em inglês – citado, por exemplo, em A Sentinela de 1º de outubro de 1984, págs. 5, 6.) Num artigo intitulado “Fim de todos os Reinos em 1914,” afirmou-se naquele jornal que “O horrível irrompimento da guerra na Europa tem cumprido uma profecia extraordinária.” Em seguida as publicações do Pastor Russell são citadas extensivamente, e isto de uma maneira que dá ao leitor a impressão de que Russell tinha previsto a guerra. O amplo conhecimento das muitas publicações do Pastor Russell e a habilidade de selecionar declarações convenientes delas indica, todavia, que o autor do artigo ou era um colaborador próximo de Russell ou obteve os elementos de um colaborador próximo de Russell. Na realidade, as predições de Russell citadas no artigo referiam-se à “grande tribulação”, à “batalha do Armagedom”, ao “fim de todos os reinos” e ao estabelecimento do Reino de Deus na terra. Nenhum destes acontecimentos, que Russell tinha predito para 1914, ocorreu naquele ano. Por outro lado, o que realmente ocorreu, a guerra mundial, não podia ser encontrado entre as profecias de Russell.
25 – A Torre Orgulhosa. Um Perfil do Mundo Antes da Guerra, 1890-1914, Barbara W. Tuchman, Nova Iorque, 1966 (em inglês – primeira impressão 1962), págs. xiii, xiv.
26 – A Sentinela de 15 de outubro de 1984, pág. 5.
27 – Das Paradies vor unserer Tür, Otto Koenig (Viena, Munique, Zurique, 1971), pág. 391. (Traduzido do alemão.)
28 – O Marechal-de-Campo Visconde Montgomery de Alamein declara em A História da Guerra, Collins (em inglês – Londres, 1968), página 443: “Os anos entre 1870 e 1914 foram anos de paz armada na Europa e de guerras pequenas e freqüentes ao redor do resto do mundo.” O historiador sueco Anton Nyström diz que “um estado de guerra parcial” prevaleceu na Europa entre 1870 e 1914. (Före, under och efter 1914, Estocolmo, 1915, pág. 141 em sueco.)
29 – Montgomery, pág. 315 em inglês.
30 – Uma História do Mundo Moderno até 1815, R. R. Palmer & Joel Colton, quinta edição em inglês (Nova Iorque, 1978), pág. 184. Ao abordar a Guerra da Sucessão Espanhola, a Nova História Moderna de Cambridge; Vol. VI (em inglês – Cambridge, 1970) menciona também a Grande Guerra do Norte (1700-1721), travada ao mesmo tempo, e conclui: “Os dois grandes conflitos que introduziram o século dezoito resultaram numa verdadeira guerra mundial.” (Página 410) Veja também a Enciclopédia Americana, 1984, Vol. 23, pág. 86 em inglês.
31 – A altamente considerada obra sueca Världshistoria (História do Mundo), editada por Suen Tunberg e S. E. Bring, Norstedt & Söner, Vol. 10 (Estocolmo 1930), pág. 182. Se, como este trabalho indica, a Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748), também deve ser classificada como “guerra mundial,” a Guerra dos Sete Anos foi, de fato, a terceira guerra mundial! Outro historiador que classifica a Guerra da Sucessão Austríaca como uma “guerra mundial” é Eirik Hornborg, que enfatiza que foi travada “na Europa, na América, na costa da África Ocidental e nos mares do mundo.” (História do Mundo, Estocolmo, 1962, pág. 224 em sueco)
32 – 1700-talets historia (1700 Anos de História), Stid Boberg (Copenhague, Oslo, Estocolmo: Livros da Universidade Escandinava), pág. 31 em sueco. A revista Despertai! de 8 de dezembro de 1970, página 21, admite que a Guerra dos Sete Anos “envolveu quase toda nação da Europa e foi travada em todo o mundo — na Índia, na América do Norte, na Alemanha e nos altos mares.”
33 – Montgomery, págs. 317, 320 em inglês.
34 – Os Estados Unidos. Um Companheiro para os Estudos Americanos; Editado por Dennis Welland (Londres, 1974), pág. 158 em inglês.
35 – A Guerra pela América 1775-1783, Piers Mackesy (Londres, 1964), pág. 147 em inglês.
36 – Mackesy, pág. 121 em inglês. Compare com a pág. xvi em inglês.
37 – Montgomery, pág. 321 em inglês.
38 – Aqueles Que Amam, Irving Stone (Nova Iorque: Doubleday & Company, 1965), págs. 311, 312 em inglês.
39 – História do Mundo Moderno até 1815, Palmer & Colton, quinta edição em inglês (Nova Iorque, 1978), págs. 382, 383. Winston Churchill, tendo classificado tanto a Guerra dos Sete Anos como a Guerra da Independência Americana como “guerras mundiais”, chama as Guerras Napoleônicas de “a mais longa das guerras mundiais.” (História dos Povos de Língua Inglesa, Vol. III em inglês, Londres, 1957, pág. 312 [cf. Vol. II, Londres, 1956, págs. 123, 163]).
40 – Halvdan Koht, Folkets Tidsälder, Estocolmo, 1982, pág. 7 em sueco.
41 – Cem Anos de Guerra, Cyril Falls (Londres, 1953), pág. 161 em inglês.
42 – Montgomery, pág. 470 em inglês.
43 – Ibid., pág. 497 em inglês.
44 – Dupuy & Dupuy, págs. 916, 1016 em inglês. G. Graninger e S. Tägil enfatizam que “nenhuma guerra na história foi total no sentido de todas as principais nações, talvez todas as nações, estarem envolvidas no conflito.” (Historia i centrum och periferi, Parte 3, Lund, Suécia, 1973, pág. 164)
45 – Dupuy & Dupuy, pág. 820 em inglês.
46 – Montgomery, págs. 332, 550 em inglês.
47 – A Era da Revolução. Europa 1789-1848, E. J. Hobsbawm (Londres, 1962), pág. 67 em inglês. Churchill concorda: “Pela primeira vez na história todo o potencial humano e recursos de um Estado estavam sendo dirigidos para a guerra total.” (Churchill, Vol. III, pág. 229 em inglês)
48 – Cyril Falls, pág. 350 em inglês.
49 – Um Estudo da Guerra, Quincy Wright, edição resumida (Chicago, 1969), pág. 58 em inglês; Dupuy & Dupuy, pág. 990 em inglês.
50 – Beer, pág. 37 em inglês.
51 – Os Custos da Guerra 1816-1965. Um Guia Estatístico, J. David Singer e Melvin Small (Nova Iorque, Londres, Sidnei, Toronto, 1972), págs. 116, 117 em inglês.
52 – Beer, pág. 34 em inglês.
53 – Dupuy & Dupuy, pág. 990 em inglês.
54 – Ibid.
55 – Paz Contra Guerra, Francis A. Beer (São Francisco, 1981), pág. 37 em inglês. Beer diz: “Mais de 8 milhões de soldados e 1 milhão de civis foram mortos na Primeira Guerra Mundial.” (Pág. 36) Isto totalizaria pouco mais de 9 milhões de soldados e civis, o que é provavelmente uma subestimação.
56 – Perdas de Vidas nas Guerras Modernas; Gaston Bodart, L.L.D., (Londres, Nova Iorque, 1916), pág. 12 em inglês.
57 – Ibid., p. 12.
58 – A Sentinela de 1º de outubro de 1983, cita o professor Wright como tendo dito que as mortes de civis foram excepcionalmente altas na Segunda Guerra Mundial. (Página 6) O que eles não mencionam é que Wright acrescenta que, “até essa guerra [a Segunda Guerra Mundial], as baixas civis vinham diminuindo desde o século dezessete.” (Wright, pág. 60 em inglês) Este período de diminuição inclui o da Primeira Guerra Mundial!
59 – Estimou-se certa vez que 25 milhões ou três quartos do total da população alemã morreu durante a Guerra dos Trinta Anos, mas este número foi revisado por historiadores modernos. Veja Despertai! de 8 de outubro de 1972, página 13; compare com Beer, pág. 48 em inglês.
60 – O historiador sueco Göran Rystad em Dä arat ditt namn…, Sveriges Radios förlag (Uddevalla, 1966), pág. 63.
61 – Uma História do Mundo Moderno, R. R. Palmer (Nova Iorque, 1952), pág. 133 em inglês.
62 – O Milagre Europeu, E. L. Jones (Cambridge, Londres, Nova Iorque: Editora da Universidade de Cambridge, 1981), pág. 36 em inglês. As conquistas de Gêngis Khan, mais de quatrocentos anos antes, provavelmente também superaram a Primeira Guerra Mundial, em termos de número de mortes. O historiador Harold Lamb diz sobre ele que “quando passava, lobos e abutres eram muitas vezes as únicas coisas vivas em terras antes populosas. Esta destruição da vida humana deixa perplexa a imaginação moderna – embora ela esteja enriquecida com os conceitos da última guerra européia.” (Gêngis Khan – O Imperador de Todos os Homens; Harold Lamb, Londres, 1929), págs. 11, 12 em inglês.) Afirma-se que a conquista da China Setentrional por Gêngis Khan em 1211-1218, por exemplo, custou 18 milhões de vidas chinesas! (Enciclopédia sueca Nordisk Familjebok, Vol. 5, Malmö 1951, pág.795.)
63 – Bodart, págs. 30, 96 em inglês.
64 – Bodart, págs. 96, 97 em inglês.
65 – Ibid., págs. 36, 100 em Bodart, págs. 30, 96 em inglês. inglês.
66 – Ibid., págs. 156 em inglês.
67 – Ibid., pág. 133 em inglês.
68 – Ibid., págs. 181, 182 em inglês.
69 – Dupuy & Dupuy, pág. 864 em inglês.
70 – Uma História do Mundo Moderno Desde 1815; Palmer & Colton, (1978), pág. 632 em inglês.
71 – Despertai! de 22 de setembro de 1982, pág. 7. A Nova Enciclopédia Britânica concorda com isto: “Uma estimativa contemporânea de 20.000.000 a 30.000.000 de vítimas é certamente muito inferior ao número real.” (Macropaedia, Vol. 4, 15.ª edição em inglês 1980, pág. 361) O historiador sueco Gunnar Hägglöf (que passou vários anos como embaixador na China) diz no seu livro A China Que Eu Vi (Kina som jag säg det, Estocolmo, Suécia, 1978) que “a Rebelião de Taiping, que no meio do século dezenove abalou o Estado Chinês até seus alicerces, custou mais de 40 milhões de vidas e marcou de fato o início do fim do Império Chinês.” (Página 62 em sueco)
72 – A Era do Capital 1848-1875, E. J. Hobsbawm (Londres, Inglaterra, 1975), pág.127 em inglês.
73 – Dupuy & Dupuy, pág. 911 em inglês.
74 – Muitas outras guerras travadas durante os mesmos três séculos custaram centenas de milhares de vidas cada uma, por exemplo a Guerra Espanhola entre a França e a Espanha (1635-59), a Grande Guerra Turca (1683-99), a Guerra da Liga de Augsburgo (1688-97), a Guerra da Sucessão Austríaca (1740-48), a Guerra da Independência Americana (1775-83), a Guerra da Criméia (1854-56), a Guerra Civil Americana (1861-65), a Guerra Franco-Prussiana (1870-71), a Guerra Russo-Turca (1877-78), e no início do século 20, a Guerra Russo-Japonesa (1904-05), e as Guerras Balcânicas (1912-13). Apenas como dois exemplos de baixas, segundo Hobsbawm, cerca de 600.000 morreram na Guerra da Criméia e mais de 630.000 foram mortos na Guerra Civil Americana. (Hobsbawm, A Era do Capital 1848-1875, Londres, Inglaterra, 1975, págs. 76,78 em inglês)
75 – Singer & Small, págs. 24-28 em inglês.
76 – Beer, pág.22 em inglês.
77 – Quincy Wright, pág. 11 em inglês.
78 – Wright, pág. 11 em inglês.
79 – Ibid., págs. 55, 89 em inglês.
80 – Singer & Small, págs. 30-37 em inglês.
81 – Ibid., pág. 38 em inglês.
82 – Beer, págs. 42 e 43 em inglês. Singer & Small (pág. 201 em inglês) inclinam-se a pensar que as guerras civis estão aumentando. Mas se ambos os tipos de guerras – civis e internacionais – forem considerados juntos, como Beer faz, o número total de guerras está diminuindo.
83 – Beer, pág. 43 em inglês. Segundo o historiador Michael Nordberg afirma (Den dynamiska medeltiden [A Dinamarca Medieval], Estocolmo, Suécia, 1984, pág. 12 em sueco), “houve guerras quase constantes na Europa do século dezesseis até 1815, muitas delas tão devastadoras como a Guerra dos Cem Anos”, 1337-1453.
84 – A Sentinela de 1.º de outubro de 1983, página 3. Reston menciona 59 guerras internacionais com mais de 29 milhões de combatentes mortos, e 64 guerras civis com quase 6 milhões de baixas. Mas só a Rebelião de Taiping no século 19 pode ter custado quase sete vezes tantas vidas quanto todas estas 64 guerras civis juntas!
85 – A Grande Fraude das Estatísticas das Guerras, Brownlee Haydon (Santa Mônica, 1962. Este é um documento de apenas 8 páginas em inglês.) Veja também Singer & Small, págs. 10 e 11 em inglês, e Beer, pág. 20 em inglês.
86 – A Quantidade de Guerras na História: Definições, Estimativas, Extrapolações e Tendências; Francis Beer (Beverly Hills, 1974), págs. 28, 30 em inglês. Compare com Paz Contra Guerra, Beer (São Francisco, 1981), págs. 37-40, 48, 49 em inglês.
87 – Em A Sentinela de 1.º de outubro de 1983, Quincy Wright é citado como tendo dito: “Pelo menos 10 por cento das mortes na civilização moderna podem ser atribuídos direta ou indiretamente à guerra.” (Página 6) Mas não se diz ao leitor que Wright diz, no mesmo trecho, que três quartos destas mortes podem ser atribuídas a causas indiretas, como fomes e doenças, e que é provável que “a proporção de tais baixas fora da Europa e na Europa em séculos anteriores tenha sido maior.” (Wright, pág. 61 em inglês)
88 – O livro Raciocínios à Base das Escrituras (1989), por exemplo, diz: “Conforme predito em Revelação 6:4, ‘foi tirada da terra a paz’. Assim, o mundo tem continuado a estar num estado de comoção desde 1914.” (Pág. 419)
89 – Beer, págs. 34, 48 em inglês. Visto que Beer define “anos de paz” como anos “sem grandes guerras” – que ele estima em 600 desde 3.600 A.C. – o verdadeiro número de anos de paz em épocas anteriores pode ter sido ainda menor, “talvez até um número próximo de zero.”
90 – É difícil de determinar o número de mortos na Segunda Guerra Mundial. As melhores fontes mostram que aproximadamente 15 milhões de soldados foram mortos. Os números apresentados para as vítimas civis variam de 20 a 35 milhões. (Dupuy & Dupuy, pág. 1198 em inglês; Singer e Small, págs. 48, 52 em inglês).
91 – Beer, págs. 46, 47 em inglês.
92 – Singer & Small, pág. 201 em inglês.