O Ano de 1919 e Seu Significado “Profético”

Uma forte ênfase é colocada em 1919, o ano em que se afirma que Jesus escolheu a organização das Testemunhas de Jeová e seu Corpo Governante para representá-lo na terra. Todavia, o apoio bíblico mínimo que os líderes da organização usam para apoiar este ano é frágil e ilógico.

1919 é descrito como uma época de libertação espiritual, o ano em que o Corpo Governante da Torre de Vigia foi designado como o escravo fiel.

O “escravo fiel e discreto” foi designado sobre os domésticos de Jesus em 1919. Esse escravo é o pequeno grupo de irmãos ungidos que servem na sede mundial durante a presença de Cristo e que estão diretamente envolvidos na preparação e distribuição do alimento espiritual. Quando os membros desse grupo trabalham em conjunto como Corpo Governante, eles atuam como o “escravo fiel e discreto”.

– Relatório da Reunião Anual de 2012 da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia, Estados Unidos (jw.org)

De maneira similar, a partir de 1919, Jeová constituiu a semente da mulher em nação espiritual. 

– Livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo, pág. 184

Jeová tem demonstrado muita compaixão para com o Seu restante do Israel espiritual e seus companheiros semelhantes a ovelhas. Seu olho se tem fixado constantemente neles desde que foram espiritualmente libertados, em 1919. 

– Revista A Sentinela de 1º de março de 1994, pág. 17

Existe apoio bíblico para a ideia de que o ano de 1919 tem significado profético? A base para chegar a 1919 assenta-se quase inteiramente em Apocalipse capítulo 11. Ali se fala em “duas testemunhas”, um período de 1260 dias, um período de 3 dias e meio e, por fim, um grande terror para as nações.

Apocalipse 11

Verso 3 – Darei poder às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco”.

Verso 7 – Quando eles tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vem do Abismo os atacará. E irá vencê-los e matá-los.

Verso 9 – Durante três dias e meio, homens de todos povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não permitirão que sejam sepultados.

Verso 11 – Mas, depois dos três dias e meio, entrou neles um sopro de vida da parte de Deus, e eles ficaram de pé, e um grande terror tomou conta daqueles que os viram. 

Descreve-se a seguir os passos que a liderança da organização usa para justificar porque Apocalipse 11 se aplica a ela própria e à escolha de Jesus do Corpo Governante em 1919. Os comentários que seguem cada passo identificam os problemas de lógica. (Note-se que uma parte desse raciocínio mudou em 2013, o que será discutido depois.)

1. Supõe-se que as “duas testemunhas” estão em paralelo com o Escravo Fiel e Discreto.

Comentário: Apocalipse 11 é a primeira menção bíblica das duas testemunhas, e a liderança da organização declara como fato que elas estão em paralelo com o escravo fiel mencionado em Mateus. Não há qualquer razão para essa ligação, a não ser o desejo de acreditar que é assim.

2. A liderança usa 1914 como ponto de partida para os 1260 dias, o ano em que se alega que Jesus começou a governar no céu.

Comentário: O ano de 1914 como início do governo de Jesus Cristo não é apoiado pelas Escrituras, como já foi comprovado nas muitas discussões específicas sobre este ponto.

3. Os 1260 dias de Apocalipse 11:2, 3 são iniciados em dezembro de 1914. (Clímax de Revelação, pág.164) e são finalizados em junho de 1918. Durante o período que vai de 1914 a 1918, o templo é pisoteado, sendo isso supostamente prefigurado pelos 3 anos e meio entre o batismo de Jesus e a expulsão dos cambistas do templo por ele. (Clímax de Revelação, pág. 32) Em junho de 1918, Jesus veio inspecionar sua organização terrestre, culminando com a prisão da diretoria da Torre de Vigia. (Clímax de Revelação, págs.164.167)

Comentário: Afirma-se que o governo de Jesus teria começado em outubro de 1914, mas os 42 meses / 1260 dias teriam começado em dezembro. Não se dá qualquer explicação para a diferença de dois meses. Isto é simplesmente esquecido, pois a liderança da organização tenta alinhar um período da história que não se encaixa.

Além disso, 1260 dias, 3 anos e meio ou 42 meses são todos baseados em um calendário lunar de 360 dias, porém estes períodos são aplicados a um calendário solar, de 365 dias.

4. Depois de 9 meses, em março de 1919, a diretoria da Torre de Vigia foi solta da prisão. O período de 9 meses é baseado nos 3 dias e meio de Apocalipse 11:9-11. (Clímax de Revelação, pág.169).

Comentário: Os 1260 dias de Apocalipse 11 são considerados como 42 meses literais, mas os 3 dias e meio citados no mesmo trecho são considerados como 9 meses figurativos. (3 1/2 anos = 3 1/2 anos, mas 3 1/2 dias = 9 meses)

5. Isto gerou um grande terror entre todas as outras religiões. (Apocalipse 11:11)

Ocorreram deveras grandes convulsões no domínio da religião. O chão parecia mover-se debaixo dos líderes das igrejas tradicionais, quando este corpo de cristãos revivificados começou a trabalhar.

Clímax de Revelação, pág.170.

Comentário: A libertação de Rutherford e seus associados da prisão foi irrelevante para a maioria das pessoas, e dificilmente se pode afirmar que “caiu grande temor sobre os que os observavam.” (Apocalipse 11:11)

6. A libertação dos diretores da organização em 1919 deve corresponder a Jesus designando o Corpo Governante da Torre de Vigia como seu escravo.

Os cristãos ungidos que sobreviveram ao período de prova de 1914-19 foram libertados da influência dominadora do mundo e de muitas práticas religiosas, babilônicas. Os do restante avançaram como povo purificado e refinado, que prontamente oferecia sacrifícios de louvor a Deus e tendo a garantia de que, como povo, lhe eram aceitáveis.

– Revista A Sentinela de 15 de maio de 1998, pág.17

Em 1919, a purificada classe do escravo podia esperar atividades sempre maiores.

– Revista A Sentinela de 1º de maio de 1993, pág. 16.

Comentário: Não há qualquer razão para se pensar que a libertação dos diretores da Torre de Vigia deva indicar que Jesus os escolheu como seus escravos fiéis. Quando saíram da prisão, eles continuaram pregando exatamente a mesma doutrina de antes da prisão, incluindo as mesmas falsidades, como a de que o fim do mundo viria em 1925.

7. “Quanto tempo durou esse alívio para a semente da mulher de Deus? Revelação 12:6 diz que foi por 1.260 dias. Revelação 12:14 chama esse período de um tempo, tempos e metade de um tempo; em outras palavras, três tempos e meio. De fato, ambas as expressões representam três anos e meio, estendendo-se, no Hemisfério Norte, da primavera de 1919 ao outono de 1922. Foi um período de recuperação e de reorganização animadoras para os da classe restaurada de João… Depois de 1922, Satanás expeliu uma onda de perseguição contra as Testemunhas.” (Clímax de Revelação, págs.184, 185)

Comentário: Será que alguém realmente acredita que o que aconteceu às Testemunhas de Jeová em 1922, um período que ninguém mais está vivo para lembrar, é o cumprimento da profecia do Apocalipse?

Nem um único passo no processo acima, que se usa para inferir a data de 1919 é convincente; a maior parte do raciocínio é de fato ilógico ou sem base.

A tabela que segue foi retirada das notas da Escola de Treinamento Ministerial conduzida por volta de 2005:

Tradução:

Em 2013, este ensino foi simplificado removendo-se 1918 do cenário.

Para resolver essa questão, Jesus começou a inspeção do templo espiritual em 1914. Essa inspeção e obra de purificação abrangeu um espaço de tempo — de 1914 até a parte inicial de 1919.*

* Parágrafo 6: Esse é um ajuste no entendimento. Antes, pensávamos que a inspeção de Jesus havia ocorrido em 1918.

– Revista A Sentinela de 15 de julho de 2013, págs. 11, 14

O artigo explica que, uma vez que Jesus limpou o templo duas vezes, isso evidencia um trabalho de limpeza em andamento entre 1914 e 1919. No entanto, isto não esclarece porque 1919 tem qualquer relevância bíblica, já que não se apresenta qualquer base para sustentar por quanto tempo duraria a limpeza.

A revista A Sentinela de 15 de novembro de 2014 junta os 1260 dias com os 3 dias e meio para chegar a 1919.

Quanto tempo durou essa inspeção e purificação? De 1914 à parte inicial de 1919. Esse período inclui tanto os 1.260 dias literais (42 meses) como os três dias e meio simbólicos mencionados no capítulo 11 de Revelação.

– Revista A Sentinela de 15 de novembro de 2014, pág. 30.

Isto não faz qualquer sentido, já que os 1260 dias são apresentados como literais, mas os 3 1/2 dias como simbólicos, e são somados para apoiar o período de 1914 a 1919. A linha do tempo destaca graficamente a discrepância aproximada de um múltiplo de 75 entre o intervalo de tempo dos 3 dias e meio figurativos e o dos 1.260 dias literais.

A linha do tempo não fornece uma data específica de início e término para os 1260 dias, porque eles não se alinham com qualquer ocorrência específica, conforme é detalhado nos 1260 dias bíblicos.

A organização simplificou muito suas publicações no século 21, e o esforço que faz para justificar 1919 é um bom exemplo. A publicação de 2018, A Adoração Pura de Jeová É Restaurada! dedica uma seção para fornecer “evidências” de que o “povo de Deus” foi escolhido em 1919.

O livro Adoração Pura afirma que há evidência bíblica e histórica por trás da doutrina de 1919, mas não faz esforço algum para apresentar qualquer raciocínio bíblico em favor do ano de 1919, e a evidência histórica é, no mínimo, bizarra.

O que aconteceu em 1919

A outra linha de raciocínio da liderança da organização para apoiar 1919 é a histórica, com a alegação de que ela provou ter sido escolhida por Jesus como a única organização “limpa” que o representava.

Eles ensinam que o grupo foi para o cativeiro babilônico entre 1914 e 1918. Isto culminou com os diretores da Sociedade Torre de Vigia sendo enviados para a prisão.

A moderna evidência histórica mostra que, durante a guerra mundial de 1914-1918, os do restante dedicado, batizado e ungido das testemunhas cristãs de Jeová foram levados ao cativeiro babilônico.

– Revista A Sentinela de 1° de julho de 1973, pág. 404.

Pouco depois disto, os membros da junta administrativa da Sociedade foram presos, e em 21 de junho de 1918, foram sentenciados a 20 anos de prisão. A pregação das boas novas ficou a bem dizer paralisada.

– Livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 212.

Em 1919, Jeová os libertou.

1919 Os diretores e associados da Sociedade são libertados sob fiança, em 26 de março; em 14 de maio o tribunal de apelação anula a decisão do tribunal de instância inferior, e um novo julgamento é ordenado; no ano seguinte, em 5 de maio, o governo se retira do caso, negando-se a instaurar processo.

– Livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág.720.

Comparativamente, após um cativeiro babilônico, o restante ungido foi libertado em 1919 e, sob a direção do espírito de Deus, o outrora desolado “solo” do Israel espiritual tem sido purificado.

– Revista A Sentinela de 15 de setembro de 1988, pág. 15.

O motivo pelo qual Jeová apoiou os líderes da organização, conforme “provado” pela libertação, é que eles eram limpos, totalmente teocráticos e forneciam alimento espiritual.

Isto se viu especialmente durante o período da Primeira Guerra Mundial. No entanto, Jeová limpou a sua organização e a tornou inteiramente teocrática.

– Revista A Sentinela de 15 de janeiro de 1972, pág. 53

“Ao chegar” para inspecionar o “escravo” em 1918, Cristo encontrou um restante de fiéis discípulos, ungidos pelo espírito, que desde 1879 usava esta revista e outras publicações baseadas na Bíblia para fornecer “alimento [espiritual] no tempo apropriado”. Ele os reconheceu como seu instrumento coletivo, ou “escravo”, e, em 1919, confiou-lhes a administração de todos os seus bens na Terra.

– Revista A Sentinela de 1º de abril de 2007, pág. 22

Não há absolutamente base alguma para essas declarações. Não há evidência de uma seleção por Jesus e alguma purificação da doutrina. Eles ainda usavam a cruz, comemoravam aniversários e Natal e seguiam um conjunto doutrinal muito diferente do de hoje.

Se Jesus tivesse mesmo inspecionado a organização em 1919, ele encontraria, não uma organização limpa ensinando a verdade; em vez disso, sua inspeção teria revelado um grupo promovendo as seguintes ideias:

– Os “últimos dias” começaram em 1799 e o século 19 foi o pior período de toda a história

– A presença de Jesus começou em 1874

– Jesus começou a reinar em 1878

– O Armagedom ocorreu em 1914

– O sangue é aceitável como alimento para os cristãos

– Deve-se orar a Jesus e ele deve ser adorado, assim como Jeová

– A Grande Multidão é uma classe celestial

– Aniversários e Natal são celebrações aceitáveis

– A cruz na capa da revista A Torre de Vigia

– Ensinamentos adaptados de pregadores religiosos do século 19 e do movimento adventista, tais como que as pirâmides e a astrologia apoiavam 1914

– Forte apoio sionista a uma nova nação de Israel em cumprimento à profecia bíblica

– O Escravo Fiel e Discreto não são os ungidos, e sim o Pastor Russell

Pelos padrões atuais, em 1919 a Sociedade Torre de Vigia era uma organização apóstata.

Os líderes da organização apontam para três pontos altos durante este período – o lançamento do livro O Mistério Consumado em 1917, o discurso Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão em 1918, com seu folheto subsequente, e a revista A Idade de Ouro em 1919.

Durante sua vida, [Russell] tinha publicado uma série de volumes de estudo da Bíblia, chamados Estudos das Escrituras. Sua intenção era escrever um sétimo e último volume, ou, como ele mesmo disse: “Se o Senhor der a chave a outrem, ele pode escrevê-lo.” Russell faleceu em 1916, e o sétimo volume, O Mistério Consumado (em inglês), foi então concluído pela equipe da sede de Brooklyn, e lançado em julho de 1917. Em questão de meses, alcançou uma distribuição de 850.000 exemplares.

– Revista Despertai! de 8 de março de 1985, págs. 9, 10.

1918 O discurso “O Mundo Terminou — Milhões Que Agora Vivem Talvez Jamais Morram” é proferido pela primeira vez, em 24 de fevereiro, em Los Angeles, Califórnia. Em 31 de março, em Boston, Massachusetts, o discurso é intitulado “O Mundo Terminou — Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”.

– Livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 719

Deu-se um passo altamente significativo em 1919 para corrigir essa situação quando começou a ser publicada a revista The Golden Age (A Idade de Ouro). Esta se tornaria um poderoso instrumento na divulgação do Reino de Deus como a única solução permanente para os problemas da humanidade.

– Livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 212

O conteúdo de todas essas três publicações seria bem chocante para as Testemunhas de Jeová de hoje.

Só uma pessoa lendo O Mistério Consumado para crer, pois este livro tem o nível mais baixo entre as publicações da Sociedade Torre de Vigia. As doutrinas que este livro promovia foram rejeitadas quase por completo atualmente. Cópias dele ainda podem ser encontradas para venda online, ou versões digitalizadas podem ser baixadas em archive.org/details/TheFinishedMystery. A página de rosto afirma que o livro é a “obra póstuma do Pastor Russell”, embora ele tenha sido escrito por Woodworth e Fisher e autorizado para publicação por Rutherford.

Os ensinos desse livro incluem que os últimos dias começaram em 1799, a segunda vinda de Jesus foi em 1874 e que em 1918 as igrejas seriam destruídas e os ungidos seriam levados para o céu. Disse que Jesus é o Alfa e o Ômega, enquanto o cavaleiro do cavalo branco é o Papa. A glória do anjo de Apocalipse 18:1 refere-se às descobertas modernas, tais como escolas por correspondência, celulóide, O Plano Divino das Eras, telefones, aspiradores de pó, motores de indução, pasteurização, o Canal do Panamá, máquinas de costura para sapatos, metrô, arranha-céus, raios X e que o leviatã é a locomotiva. O tamanho da Grande Pirâmide confirma que a colheita tinha começado, e a distância do local onde O Mistério Consumado foi produzido em Scranton até seu destino em Nova Iorque foi predito em Apocalipse 14:20.

O foco principal do livreto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão foi a apresentação do ensino de que o fim chegaria em 1925, com Abraão e outros da antiguidade sendo ressuscitados na terra naquele ano.

A revista A Idade de Ouro, da qual Woodworth foi editor, estava repleta de uma incrível quantidade de ciência popular errônea e doutrina infantil.

Nenhuma dessas publicações apresentou alimento espiritual purificado, e sim doutrinas fantasiosas e mentiras que são rejeitadas pelo Corpo Governante do século 21.

A prisão de Rutherford

Enquanto a organização considera a prisão de Rutherford e seus associados como “cativeiro babilônico”, a razão pela qual foram presos foi por sedição. O Mistério Consumado vilipendiou outras religiões e encorajou a sedição contra o governo dos Estados Unidos.

“Em Shaffer v. Estados Unidos (9º Cir. 1919), o réu foi considerado culpado de possuir e enviar cópias do livro O Mistério Consumado, que continha o trecho “estando em oposição a esses, Satanás colocou [uma] certa ilusão que é mais bem descrita pela palavra patriotismo, mas que na realidade é assassinato, o espírito do próprio diabo. [Se] você diz que é uma guerra de defesa contra uma agressão desenfreada e intolerável, devo responder que [ainda] deve ser provado que a Alemanha tenha qualquer intenção ou desejo de nos atacar. [A] guerra em si é errada. Seu prosseguimento será um crime. Não há uma questão levantada, um problema envolvido, uma causa em jogo, que valha a vida de um casaco azul no mar ou um casaco cáqui nas trincheiras.” O Tribunal de Apelações do 9º Circuito decidiu que “o serviço pode ser obstruído por se atacar a justiça da causa pela qual a guerra é travada e por minar o espírito de lealdade que inspira os homens a se alistarem ou se registrarem para recrutamento a serviço de seu país” (Stone).” academic.evergreen.edu (a partir de junho de 2007)

Depois de seu período provador de 1917-1919, o povo de Jeová se sujeitou a um escrutínio. Compreendendo que tinha atuado de modo que não obtinha a aprovação de Deus, procuraram o perdão em oração, arrependendo-se de seu proceder anterior. Isto levou ao perdão e à bênção de Jeová. — Pro. 28:13.

Uma transigência foi o corte das páginas de O Mistério Consumado, isto para agradar aqueles que assumiram a posição de censor. Outra ocorreu quando A Torre de Vigia, em inglês, de 1.º de junho de 1918, declarou: “De acordo com a resolução do Congresso, de 2 de abril, e segundo a proclamação do Presidente dos Estados Unidos, de 11 de maio, sugere-se que o povo do Senhor em toda parte torne o dia 30 de maio um dia de oração e súplica.” Comentários subseqüentes exaltaram os Estados Unidos e não se harmonizaram com a posição cristã de neutralidade. 

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, pág. 119.

A citação acima, de O Mistério Consumado, estava na página 251 da edição de 1917. Em vez de permanecer firme em suas crenças e princípios, a liderança da organização obedeceu mansamente à ordem do governo dos Estados Unidos de remover as páginas 247 a 254 de O Mistério Consumado.

Na edição de 1918, a seção debaixo do subtítulo “Fora da boca do dragão” foi reduzida de 5 páginas para 1 parágrafo.

A cúpula da organização não foi presa por pregar a verdade sobre o Reino de Deus; e sim por tomar partido na política. A libertação foi igualmente uma violação dos seus princípios, um resultado do cumprimento da ordem governamental de alterar o que tinham publicado. Nenhuma dessas ações mostrou que eles estavam limpos espiritualmente.

O escravo mau

A liderança da organização tem criticado fortemente os seguidores que saíram durante este período, e passou quase um século descrevendo-os como a “classe do escravo mau”. (Nota: a doutrina de quem constitui a classe do escravo mau mudou em 2013).

A história hodierna das testemunhas de Jeová mostra que alguns, constituindo a classe do “escravo mau”, fizeram tentativas para assumir o controle da obra de Jeová e do seu povo.

– Revista A Sentinela de 15 de janeiro de 1972, pág. 53

Muitos seguidores da organização saíram de lá durante este período após 1914, reconhecendo-a como um falso profeta, por ter ensinado falsamente que o Novo Sistema chegaria em 1914.

Membros proeminentes também se retiraram da organização, ofendendo-se com a liderança de Rutherford.

Após a morte do irmão Russell, alguns associados de destaque da organização se afastaram. 

– Livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 257

Depois da morte de Russell, Rutherford assumiu o controle da organização. Em seu testamento, Russell havia elaborado uma lista de 5 nomes recomendados para a Comissão Editora. (“Vontade e Testamento de Charles Taze Russell” – Revista A Torre de Vigia de 1° de dezembro de 1916, reimpressões, pág. 5999) Apesar de não estar nesta lista preferencial, Rutherford assumiu a liderança, e reforçou isso através de uma batalha legal contra os outros diretores.

Rutherford foi em frente em comissionar a impressão de O Mistério Consumado sem obter a permissão dos diretores, conforme exigido pelo estatuto da Torre de Vigia.

Ao meio-dia de 17 de julho de 1917, este livro foi lançado na mesa da sala de jantar em Betel. Como o irmão Russell estava acostumado a fazer, o irmão Rutherford presenteou este livro a cada membro da família de Betel. Isso veio como uma granada. Completamente surpreendidos pelo lançamento, os membros opositores do conselho de administração imediatamente agarraram-se a esta questão e fizeram dela a ocasião para uma controvérsia de cinco horas sobre a administração dos assuntos da Sociedade. 

– Livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, pág. 70.

A organização usou o termo “escravo mau” para difamar os seguidores que não podiam em sã consciência se alinhar com uma organização que provou ser um falso profeta e para atacar os diretores que não podiam se alinhar com seu novo líder que assumiu o controle agressivamente e introduziu uma nova doutrina que era forçada, infringia a lei e é ainda mais embaraçosa de ler hoje.

O período de 1914 a 1919 é o ponto mais baixo da história dos líderes da organização, mas agora é descrito como o momento em que Jesus os escolheu para esta função. 1914 provou ser uma falsa profecia, sem se concretizar uma única previsão que havia sido feita para aquele ano. Em 1916, o fundador, o Pastor Russell, morreu e Rutherford tomou o controle com oposição, envolvido em batalhas legais. A partir daí, ele lançou uma base para mudar radicalmente a religião nas duas décadas que se seguiram.

Deveria ser motivo de grande preocupação para cada uma das Testemunhas de Jeová que a doutrina subjacente de 1919, o ano tão importante para as alegações autoritárias de sua liderança, assenta-se nessa manipulação histórica e falta de base bíblica.

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Artigo original: How 1919 is derived

Imagem em destaque: O livro The Finished Mystery [O Mistério Consumado], Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia, 1917 (cena do filme Testemunhas de Jeová – Fé em Ação – Parte 1)

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