Desenterrando a Bíblia

Depois de escavar a Cidade de Davi nas décadas de 1970 e 1980 e por fim desenterrar a joia arqueológica de 3.000 anos que é o palácio do rei Davi em 2005, a proeminente arqueóloga da Universidade Hebraica de Jerusalém, Dra. Eilat Mazar, descobriu outro tesouro histórico na Cidade Antiga de incrível significado bíblico e histórico: uma estrutura real que data do décimo século A.E.C.

Selos com nomes hebraicos

De acordo com Mazar, autora de The Complete Guide to the Temple Mount Excavations [O Guia Completo para as Escavações do Monte do Templo] (2002), esta última escavação, que é a primeira com um achado que data desse período na área, fornece evidências convincentes para a descrição bíblica do reinado de Salomão. Seguindo os passos de seu avô, o renomado arqueólogo Dr. Benjamin Mazar, a Dra. Mazar revelou os vestígios da história bíblica judaica.

P1: Conte-me mais detalhes sobre sua última descoberta. O que exatamente você encontrou?

Encontramos duas seções de uma muralha, uma de 70 metros de comprimento e seis de altura e outra de 35 metros de comprimento e cinco de altura, entre a Cidade de Davi e a parede sul do Monte do Templo. Dentro das paredes encontramos os restos de uma guarita de 6 metros de altura, uma estrutura real adjacente à guarita, e uma torre de vigia de esquina de 8 metros de comprimento e 6 metros de altura, construída em pedras esculpidas de rara beleza, com vista para o Vale do Cédron.

Provamos com alto grau de certeza que toda a estrutura foi erguida no décimo século AEC e que esteve em uso por todos os séculos até a destruição do Primeiro Templo em 586 AEC.

No chão encontramos uma abundância de material que prova que as estruturas eram usadas para fins reais, públicos ou administrativos: pontas de flechas, contas, joias, estatuetas e um arquivo de dezenas de selos com decorações, nomes hebraicos e a inscrição “o rei ”, atestando seu uso dentro duma monarquia.

Na década de 1980 já havíamos descoberto no local o maior depósito de vasos – 1,15 m de altura – já encontrado em Jerusalém. Em um deles havia uma inscrição parcial em hebraico antigo indicando que pertencera a um alto funcionário do governo, a pessoa responsável por supervisionar o fornecimento de produtos de panificação para a corte real.

P2: Qual é a relevância dessas descobertas?

A muralha que foi revelada atesta a presença de um governo. A sua solidez e forma de construção indicam um alto nível de engenharia. Uma comparação dessa última descoberta com paredes e portões do período do Primeiro Templo, bem como a cerâmica encontrada no local, permite-nos presumir com um alto grau de certeza que o muro descoberto agora foi construído pelo Rei Salomão em Jerusalém na última parte do décimo século A.E.C.

O muro provavelmente foi construído pelo Rei Salomão em Jerusalém na última parte do décimo século AEC.

Esta é a primeira vez que foi encontrada uma estrutura daquele período que se correlaciona com as descrições registradas dos edifícios do rei Salomão em Jerusalém. A Bíblia nos informa que ele, com a ajuda dos fenícios, construiu um templo, depois seu próprio palácio, e que os cercou com um muro para proteger ambos. O terceiro capítulo do primeiro livro dos Reis diz: “… até [Salomão] terminar a construção do seu palácio e do templo do Senhor, e do muro em torno de Jerusalém.”

P3: Como você decidiu onde escavar?

Na verdade, esta é outra fase de uma série de escavações que começaram no século 19. O primeiro pesquisador a escavar aqui foi Charles Warren, que fez um levantamento subterrâneo das colunas e galerias da área e descreveu pela primeira vez o contorno da grande torre em 1867. Ele foi o primeiro a descobrir a linha de fortificação entre a Cidade de Davi e o Monte do Templo.

Daí, na década de 1960, uma pequena seção da linha de fortificação foi revelada. Depois, na década de 1970, meu avô, Benjamin Mazar, que realizou as escavações do muro sul perto do muro ocidental, escavou o local e revelou muitas construções que fazem parte dessa linha. Minha equipe escavou lá nos anos 80 e essa última escavação destinava-se a ser a última, para abrir a área ao público. Mas, ela acabou sendo muito mais do que eu esperava.

P4: Como você pode ter certeza de que eles realmente encontraram o que você crê que encontrou?

Antes desta escavação, tínhamos dúvidas sobre o que havíamos encontrado, não tínhamos material suficiente em mãos para tirar conclusões com segurança. Agora não há mais qualquer questão. Podemos determinar a data da linha de fortificação com muito mais certeza. Pedaços de cerâmica descobertos no estuque do andar mais baixo do edifício real, perto da guarita, atestam que o complexo data do décimo século 10 A.E.C. E o governante de Jerusalém naquela época era o Rei Salomão.

Local das escavações

Em algumas semanas teremos os resultados da datação por carbono. Estou segura de que esses resultados estarão de acordo com o que vemos na cerâmica. Estou também confiante de que nosso trabalho de laboratório produzirá as mesmas conclusões. Temos muito material para estudar: as impressões e estatuetas em selos, a cerâmica, os achados botânicos e os achados teológicos. Este é um estudo de caso enorme, e vamos reunir todas as informações para montar o quadro mais completo possível.

P5: Como você reage aos que negam esta e outras descobertas bíblicas importantes?

Eu não preciso reagir. É muito importante ater-se aos fatos e deixar que eles falem por si. Estes fatos delineiam um poder central no décimo século A.E.C. Você pode até ignorar o que a Bíblia nos diz sobre o Rei Salomão, mas não pode negar o fato de que naquela época Jerusalém era muito forte e liderada por um monarca, e os que negam a descrição bíblica ainda têm de lidar com essa realidade. Cada um é livre para sugerir suas próprias interpretações, mas os dados não mentem. A história do povo judeu em Jerusalém é um fato científico. A história está no passado e ninguém pode mudar a história.

Sempre há pessoas que tentam distorcer as evidências de uma forma ou de outra e sempre haverá tentativas de reescrever a história. O Moslem Waqf [a autoridade religiosa muçulmana que administra o Monte do Templo] vem afirmando há anos que nunca houve um templo lá. Como membro do Committee Against the Desecration of Antiquities on the Temple Mount [Comissão Pública Contra a Profanação de Antiguidades no Monte do Templo], fiz o possível para alertar o mundo sobre as intenções do Waqf de destruir todas as evidências da soberania judaica em Jerusalém.

Eles estão destruindo a evidência mais importante da história judaica.

Fico aborrecida em pensar nas ruínas que foram destruídas na área de 40 acres ao redor do Monte do Templo que estão sob a jurisdição do Waqf. Eles estão destruindo a evidência mais importante da história judaica. Isso é uma barbaridade completa.

P6: Como esta descoberta se compara com suas outras descobertas?

Ninguém jamais encontrou tal tesouro de artefatos do décimo século A.E.C. em Jerusalém e, certamente, não tão bem disposto em camadas ou conectado com uma construção monumental como uma muralha desse tipo. Temos muita sorte de que este muro foi construído diretamente sobre a fundação.

Houve outros achados do período do Rei Salomão em Megido, Hazor e Gezer, mas jamais em Jerusalém, e isso torna esta descoberta única e muito emocionante para mim.

P7: Como judia, como você se sente com essa descoberta?

Nunca achei que os judeus em Israel precisassem de outra prova de sua história em Jerusalém. Isso tem sido provado geração após geração à medida que avançamos no tempo. Mas esta descoberta deverá tornar essa história mais tangível. E eu acredito fortemente que você precisa valorizar o seu passado para compreender o seu futuro. Tenho um grande senso de continuidade.

Sinto também a continuidade da própria escavação. É o mesmo local. É uma continuação do que eu fiz na década de 1980, uma continuação do trabalho do meu avô e uma continuação da história do antigo núcleo judaico de Jerusalém. É tudo uma continuidade.

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(Entrevista com a arqueóloga Eilat Mazar em 2011 – por Jenny Hazan.)

Original em inglês: Seven Questions: Unearthing the Bible

Em espanhol: Siete Preguntas: Desenterrando la Biblia

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