Bíblia e Deus

A Revelação de Jesus Cristo

Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer;… Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.

Assim começa o livro bíblico, que desperta a maior curiosidade e gera a maior ansiedade entre os cristãos. No entanto, o livro se apresenta como uma bênção para aqueles que obedecem. – Apocalipse 1:1-3

Esta profecia tem, talvez, mais comentários escritos sobre ela – com freqüência conflitantes – do que qualquer outra parte da Bíblia. 2 Pedro 1:20, 21 nos diz:

Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo.

Conseqüentemente, o melhor intérprete desta profecia é a própria Bíblia. Uma análise bíblica só do livro de Apocalipse por si só, naturalmente tomaria um volume inteiro, talvez vários. O que vamos fazer aqui é considerar alguns pontos significativos.

Para começar, note-se que segundo os versículos citados acima, os eventos contidos nesta profecia deveriam ocorrer “brevemente”, “porque o tempo está próximo”! Estas palavras foram escritas há mais de 1900 anos, e ainda assim muitos comentaristas modernos afirmam que esses eventos ainda estão no futuro! Devemos supor que o Criador da linguagem humana não entende o que as palavras breve e próximo significam? Mesmo no final desta profecia foram ditas as seguintes palavras ao apóstolo João, que a registrou:

Não sele as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo.

Deve-se dar a devida consideração aos elementos cronológicos na profecia. Números podem ser simbólicos ou literais, mas termos tais como logopróximo, e em breve são inúteis se não forem entendidos literalmente. Portanto, os acontecimentos descritos nesta profecia já devem ter acontecido! – Apocalipse 22:10

Quando existem à disposição trechos paralelos em outras partes da Bíblia, eles devem ser usados para interpretar esta profecia. O Apocalipse 11:8 fala de uma

“grande cidade, que figuradamente é chamada Sodoma e Egito, onde também foi crucificado o seu Senhor.”

Onde Jesus foi crucificado? Em Jerusalém.

Sobre a misteriosa prostituta chamada Babilônia, a Grande, o Apocalipse 18:24 diz:

“Nela foi encontrado sangue de profetas e de santos, e de todos os que foram assassinados na terra.” [1]

Comparemos isso com as palavras de Jesus em Mateus 23:34-37:

“Por isso, eu lhes estou enviando profetas, sábios e mestres. A uns vocês matarão e crucificarão; a outros açoitarão nas sinagogas de vocês e perseguirão de cidade em cidade. E, assim, sobre vocês recairá todo o sangue justo derramado na terra,… Eu lhes asseguro que tudo isso sobrevirá a esta geração. “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados!”

Por meio deste confronto das palavras de Jesus em Mateus com o trecho do Apocalipse, demonstra-se que a “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer” é uma profecia sobre o destino de Jerusalém, a capital da nação pactuada de Israel. Esta cidade foi destruída no ano 70 DC, cerca de 40 anos após a crucificação de Jesus. [2] Este evento também significou a abolição total da Aliança Mosaica com Israel [3] , conforme considerado longamente no livro de Hebreus (abaixo trechos selecionados dos capítulos 8 a 12):

8:1 O mais importante do que estamos tratando é que temos um sumo sacerdote como esse, o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus 2 e serve no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem… 4 Se ele estivesse na terra, nem seria sumo sacerdote, visto que já existem aqueles que apresentam as ofertas prescritas pela lei. 5 Eles servem num santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus,… 8 “Estão chegando os dias, declara o Senhor, quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá… 13 Chamando “nova” esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer… 9:8 Dessa forma, o Espírito Santo estava mostrando que ainda não havia sido manifestado o caminho para o Santo dos Santos enquanto ainda permanecia o primeiro tabernáculo. 9 Isso é uma ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa… 28 assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam… 10:19 Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, 20 por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo… 37 pois em breve, muito em breve “Aquele que vem virá, e não demorará”… 12:28 Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, 29 pois o nosso “Deus é fogo consumidor!”

Pode-se objetar que Jesus não “apareceu” fisicamente no ano 70 DC, já que Hebreus 9:28 diz que Cristo “aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação”? Observe que o versículo realmente diz que ele aparecerá “aos que o aguardam”. Foi com os ‘olhos da fé’ que os crentes viram Jesus por meio dos eventos do julgamento. O aparecimento de Jesus em julgamento contra Jerusalém em 70 DC provou que ele é um profeta verdadeiro, daí seu sacrifício diante de Deus deve ter sido aceitável, confirmando além de qualquer sombra de dúvida que os pecados daqueles que estão na Nova Aliança foram perdoados.

Cita-se freqüentemente Atos 1:9-11 para provar o retorno visível de Cristo. Alguns comentaristas entendem isso de outra maneira. Leiamos este trecho com ênfase apropriada e comentários inseridos para apresentar este conceito:

Tendo dito isso, [Jesus] foi elevado às alturas enquanto eles [os discípulos] olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles. E eles ficaram com os olhos fixos no céu enquanto ele subia [isto é, eles continuaram olhando para cima, mesmo já não podendo mais vê-lo por causa da nuvem]. De repente surgiram diante deles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Galileus, por que vocês estão olhando para o céu [‘se vocês não podem mais vê-lo’]? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir”.

Como foi que eles o viram ir para o céu? Em uma “nuvem” que “o encobriu da vista deles”. A nuvem, por si só, indica invisibilidade. Portanto, este trecho pode muito bem ser usado para apoiar a ideia duma volta invisível de Cristo!

Vejamos agora o significado de nuvens nas Escrituras Hebraicas:

Daniel 7:13: “Na minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de um homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença.”

Isaías 19:1: “Advertência contra o Egito: Vejam! O Senhor cavalga numa nuvem veloz que vai para o Egito. Os ídolos do Egito tremem diante dele, e os corações dos egípcios se derretem no íntimo.”

Jeremias 4:13: “Vejam! Ele avança como as nuvens; os seus carros de guerra são como um furacão e os seus cavalos são mais velozes do que as águias. Ai de nós! Estamos perdidos!

Joel 2:1, 2: “Toquem a trombeta em Sião; dêem o alarme no meu santo monte. Tremam todos os habitantes do país, pois o dia do Senhor está chegando. Está próximo! É dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e negridão…

Sofonias 1:14, 15: “O grande dia do Senhor está próximo; está próximo e logo vem… Aquele dia será um dia de ira, dia de aflição e angústia, dia de sofrimento e ruína, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e negridão.”

Com exceção de Daniel 7:13, esses trechos estabelecem uma associação entre nuvens e julgamentos de Deus contra Israel ou algum outro país. Embora todas estas vindas de Deus em julgamento tenham sido descritas em linguagem apocalíptica e tenham trazido calamidade histórica e/ou uma queda sobre as nações mencionadas, Ele agiu por meio de exércitos humanos ou da natureza para trazer a destruição. Estas ações diretas de Deus foram chamadas de “dia do Senhor” (ou “dia de Jeová”). Um fator muito importante que devemos notar é que em todas essas vindas de Deus nas Escrituras Hebraicas, Deus nunca esteve fisicamente visível! No entanto, em todos os casos, os olhos humanos poderiam facilmente ver, ou estar cientes de Sua presença e intervenção decisiva e pessoal nesses eventos históricos.

Em João 5:22 Jesus disse:

Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho.”

Concordemente, em 70 DC Jesus veio em julgamento contra Israel, conforme relatado em Apocalipse 1:7:

Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra [4] se lamentarão por causa dele.

Pode-se contestar que estamos colocando muita ênfase aqui sobre a destruição de Jerusalém e seu Templo em 70 DC. No entanto, este evento não foi só uma destruição de mais uma cidade qualquer, assim como a crucificação de Jesus não foi só uma execução romana de mais um criminoso qualquer. A queda de Jerusalém foi um ato de julgamento divino por causa da rejeição assassina de Jesus como Filho de Deus e Messias, e da perseguição e assassinato de seus discípulos. Foi assim que terminou o relacionamento de aliança que a nação de Israel tinha usufruído com Iavé Deus por aproximadamente 1.500 anos.

Nesta pesquisa muito breve nós sugerimos que o livro bíblico do Apocalipse trata principalmente do julgamento contra o Israel apóstata, no primeiro século. Os elementos de tempo não devem ser ignorados, nem deixados sem explicação. Considere também que o Apocalipse foi dirigido a sete igrejas cristãs que existiam no primeiro século. Embora essas igrejas estivessem fora da terra de Israel, os cristãos e os judeus em todo o Império Romano foram afetados pelos eventos que transparecem no relato. Mais importante ainda, Jesus advertiu as igrejas contra a permissividade moral e a apostasia, e que a falha em mudar de proceder levaria ao julgamento adverso. (Apocalipse 2:4, 5, 14, 16, 20-23, 3:1-3, 14-19) Por causa de seu declínio espiritual eles estavam em perigo de ‘crucificar novamente o Filho de Deus’ e ‘expô-lo ao desprezo’. Como se harmoniza isso com o restante do conteúdo do Apocalipse? Se Deus não poupou a nação com a qual Ele tinha mantido aliança ao longo de séculos, por que deveriam as igrejas cristãs acometidas por esse mesmo declínio espiritual acharem que escapariam do julgamento adverso? Jesus revelou os horrores do julgamento por meio das imagens apocalípticas, como uma severa advertência às sete igrejas, para induzi-las ao arrependimento e à mudança de proceder. Historicamente, o livro do Apocalipse se aplica ao primeiro século. Mas os princípios espirituais incorporados em sua mensagem se aplicam aos cristãos de todos os séculos. – Hebreus 6:6

As citações bíblicas foram extraídas da NVI.


NOTAS


[1] Isto é comumente traduzido pela expressão sobre a terra, mas a expressão na terra é contextualmente mais precisa.

[2] Acredita-se geralmente que o livro do Apocalipse foi escrito depois de 70 DC. Todavia, esta opinião não é aceita universalmente . Diversos eruditos, antigos e modernos, acreditam que ele foi escrito antes da destruição de Jerusalém. Este ponto pode ser pesquisado na internet, em sites preteristas.

[3] Um dos motivos da destruição do kosmos (mundo, ou ordem) mosaico foi que era necessário que muitos judeus cristãos tiveram dificuldade em compreender que os sacrifícios e outras exigências da lei já não eram essenciais para a salvação. Veja Atos 21:18-22.

[4] “Todas as tribos da terra” refere-se às doze tribos de Israel. Não existem “tribos perdidas”. Após a divisão de Israel em dois reinos durante o reinado de Roboão, e com a queda do reino do norte na apostasia, os israelitas fiéis deixaram o reino do norte, indo para o reino do sul. (2 Crônicas 11:13-16) Isto é evidenciado no Testamento Cristão onde se fala a respeito de Ana “da tribo de Aser”. Aser era uma das dez tribos supostamente perdidas. – Lucas 2:36

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