O momento exato da primeira vinda de Cristo – quando?

Sobre as datas supostamente ‘corretas’ da Torre de Vigia dá-se a entender que o Messias chegaria ou seria revelado no ano de seu batismo. No evangelho de João 1:19,20,29, fala-se dos enviados dos fariseus procurando saber se João Batista era o Messias. Será que eles estudaram as profecias do livro Daniel ou foi porque o povo tinha João por profeta?

No evangelho de Lucas 3:15, fala-se que o povo estava na expectação pensando se João seria o Messias. Eles (o povo e os fariseus) estudavam muito as Escrituras ou esperavam pelo que era lido e comentado nas sinagogas. Eu não entendo muito de datas, mas dá-se a entender que a Torre de Vigia talvez esteja correta sobre esta data. Gostaria, se possível, que vocês comentassem para eu entender melhor.

RESPOSTA

Bem, embora ambos os textos que você citou sugiram que havia mesmo uma expectativa da vinda de Cristo naquele período do primeiro século, nenhum desses dois textos dá qualquer indicação que nos permita estabelecer um momento específico. Se o estudo da cronologia permitisse aos judeus da época saberem exatamente em que momento o Messias apareceria, não haveria motivo para essas incertezas quanto a datas.

É verdade que a profecia de Daniel indica quantos anos se passariam “desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe”, mas isso é o máximo de informação que a profecia dá. Nada se fala sobre dia e mês específico, nem se explica que o aparecimento verdadeiro dele como Messias seria no momento do batismo. Esse entendimento veio posteriormente. Não está claro também se era de conhecimento geral entre o povo judeu do primeiro século em que ano havia sido emitido esse decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém.

Se já havia certas dificuldades na época, o problema com a fixação de datas específicas é ainda maior hoje em dia. Vale lembrar que as Testemunhas de Jeová não são as únicas que apresentam uma data específica para o aparecimento do Messias no primeiro século. Outros grupos religiosos fazem isso e já o faziam antes do surgimento desta organização, e apresentando outras datas. Certos adventistas, por exemplo, entendem que essa “ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém” ocorreu no ano de 457 AC. O período de 483 anos (isto é, as 69 semanas de anos de Daniel) terminariam no ano 27 DC. Este foi, segundo eles, o ano do batismo de Cristo. A data da organização das Testemunhas de Jeová é ligeiramente diferente. Ensina-se às Testemunhas de Jeová que o ano correto da “ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém” é 455 AC, sendo o ano de 29 DC o fim do período de 483 anos e o ano em que Jesus teria sido batizado. O problema é que nenhuma destas duas datas de partida – 457 ou 455 AC – está correta, segundo a mais moderna informação histórica disponível (veja o artigo O Vigésimo Ano de Artaxerxes e as Setenta Semanas de Daniel).

Enfatizamos que, embora os do primeiro século tivessem a profecia de Daniel à disposição e ainda que fosse possível eles determinarem precisamente o momento da vinda do Messias só com base nela, não seria o estudo dessa cronologia o elemento mais importante. Se fosse assim, as pessoas que mais conheciam e estudavam as Escrituras na época, tais como os escribas e fariseus teriam sido os primeiros a identificar o Messias e depositar fé nele, e não foi isso o que aconteceu. Pelo contrário, foi o povo comum, que tinha provavelmente o menor entendimento sobre esses assuntos de cronologia que veio a depositar fé em Jesus. Além do mais, a profecia de Daniel seria do interesse primário apenas dos judeus, já que o ponto de partida dela foi um fato da história deles. Dificilmente a pesquisa sobre isso interessaria muita gente de outros povos ou funcionaria como uma “prova definitiva” de alguma coisa.

Assim, embora existam diferenças hoje nas datas propostas, e provavelmente nenhum erudito possa garantir que as datas que ele apresente para o início e fim do período das “setenta semanas” de Daniel estejam corretas, podemos estar seguros de que ela se provou exata. Mas, em se tratando dos judeus, essa cronologia funcionou apenas como um testemunho adicional em favor das credenciais de Cristo. O que contou mesmo para eles e o que mais conta para os cristãos hoje, é o amplo testemunho dos profetas (incluindo João Batista) a respeito dele e das ações dele. Os profetas deram muitas informações detalhadas a respeito do que o Messias faria, do que ocorreria com ele e qual seria o decisivo papel dele para a nossa salvação. E todo esse testemunho antigo dos profetas hebraicos, complementado pelas informações posteriores dos apóstolos é que permite a identificação mais segura do verdadeiro Messias e constitui a base mais sólida para a fé nele.

Imagem: Jesus – Minissérie Ben Hur (CBC Television), 2010.

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