“Amor à Verdade” e “Frases Bem Formuladas”

A revista A Sentinela de 15 de janeiro de 2006 é mais uma das muitas publicações onde a liderança das Testemunhas de Jeová ataca impiedosamente os dissidentes que publicam matéria crítica de ensinos da organização. O parágrafo 13 do “estudo” intitulado “Não dê margem ao Diabo” (página 23), diz:

O que dizem as duas primeiras frases deste parágrafo não acrescenta qualquer novidade ao que as Testemunhas de Jeová já estão acostumadas a ler e ouvir. Chamar os dissidentes de “apóstatas”, colocá-los em pé de igualdade com Satanás, o Diabo, e insinuar que tudo o que eles dizem e escrevem não passa de “mentiras” é algo que a liderança das Testemunhas de Jeová já vem fazendo há décadas.

Todavia, como eles sabem muito bem, essa constante difamação não tem conseguido impedir que um número crescente de Testemunhas examine a informação veiculada por esses dissidentes. E, infelizmente para a JW.org, a maioria, senão todas as Testemunhas que examinaram estas informações, puderam perceber que as coisas não são bem assim como a liderança da organização diz.

É provavelmente por causa disso que o parágrafo não se limita a atacar os que deixaram a organização. A Sentinela procura até mesmo colocar em dúvida a qualidade do cristianismo das Testemunhas que estejam cogitando examinar tais informações. Quando se coloca a questão de ler livros escritos por dissidentes ou examinar seus sites da internet, a resposta que se dá é:

“Se amamos a Deus e à verdade, não fazemos isso.”

O problema é que esse tipo de argumentação faz a JW.org cair em flagrante contradição. Recordemos o que dizia a página 13 do livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna (uma publicação que foi divulgada em dezenas de milhões de exemplares em muitas línguas):

Ou seja, quando os escritores das Testemunhas de Jeová questionam ensinos de outras religiões, os membros destas são incentivados a examinar a informação e o “amor à verdade” é a razão que se invoca para motivá-los isso. Porém, quando os dissidentes questionam ensinos da JW.org, as Testemunhas não devem de modo algum examinar a informação em nome desse mesmo “amor à verdade”! É pena que muitas Testemunhas despercebam até que ponto sua liderança acredita em seus próprios padrões. E é mais lamentável ainda esta liderança instilar na comunidade das Testemunhas essa mentalidade tão preconceituosa. Neste ponto, aplica-se o que diz Provérbios 18:13:

Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação.

Mas os líderes não param por aí. O parágrafo também transmite um recado àquelas Testemunhas que porventura se disponham a ‘ouvir’. Uma vez que os líderes sabem que questionar o “amor à verdade” das Testemunhas não é suficiente para impedir que muitas delas examinem a argumentação dos dissidentes, o parágrafo introduz outra ideia: Acusa tais dissidentes de explorarem as Testemunhas com “frases bem formuladas” (aplicando a eles a expressão que aparece em 2 Pedro 2:3, conforme a versão de Byington).

O que eles conseguem com isso é ainda pior: mostram uma atitude farisaica perante toda a comunidade das Testemunhas. Como assim?

Ora, não é verdade que para uma pessoa saber se um texto está ‘bem formulado’ ou não, ela deve primeiro lê-lo? Como é que a liderança das Testemunhas de Jeová sabe que os escritos dos dissidentes são ‘bem formulados’? Será que os leram? E, se é assim, como podem proibir as Testemunhas de fazer o mesmo?

Além disso, os líderes parecem pensar que as Testemunhas não compreendem o que leem nas publicações. Uma boa ‘formulação’, não diz nada quanto à veracidade da informação. O fato de um texto estar ‘bem formulado’ não quer dizer necessariamente que a informação contida nele seja verdadeira. A redação pode ser muito boa,  mas ainda assim a argumentação pode ser falsa (e as publicações da organização estão repletas de exemplos de textos assim). Por outro lado, o fato de um texto argumentativo estar ‘bem formulado’ não o torna automaticamente falso. De novo, é a consistência da argumentação e o peso da evidência apresentada que determinam isso.

No entanto, é isso o que os líderes querem que as Testemunhas pensem ao lerem este parágrafo da A Sentinela. O que se faz aqui é fornecer uma “razão” adicional para que mesmo as Testemunhas de Jeová pesquisadoras rejeitem qualquer matéria proveniente dos dissidentes, por mais verdadeira e coerente que esta seja. Se acontecer de, mesmo contra todas as advertências da organização, uma Testemunha se atrever a examinar um texto expositivo escrito por um dissidente e não conseguir encontrar qualquer falha na argumentação, a Testemunha ainda tem a opção de considerar a exposição falsa. Com que base? Pelo mero fato de o texto estar ‘bem formulado’!

Temos aqui, portanto, mais uma desastrosa tentativa da liderança das Testemunhas de Jeová de esconder informação dos seguidores da organização. Com esse objetivo, recorre-se a vários métodos lamentáveis, desde lançar as já tradicionais invectivas contra os dissidentes até o ponto de ofender a inteligência das Testemunhas.

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