O Testamento de Charles Taze Russell

(Tradução do testamento, conforme o texto constante em um número da revista A Torre de Vigia de Sião do final do ano de 1916, com breves comentários).

Vontade e Testamento de Charles Taze Russell

Considerando que em várias ocasiões durante os anos passados doei à SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS todos os meus bens pessoais, com exceção de uma pequena conta bancária de cerca de duzentos dólares, no Exchange National Bank de Pittsburgh, a ser paga à minha esposa caso ela sobreviva a mim, resta-me apenas o amor e meus melhores sentimentos cristãos para deixar a todos os queridos membros da família da Casa da Bíblia – e a todos os demais queridos colaboradores na obra da Colheita – sim, a todos os da família da fé em todos os lugares, que invocam o nome do Senhor Jesus como seu Redentor.

Todavia, ao fazer a doação da revista TORRE DE VIGIA DE SIÃO, do TRIMESTRAL DA VELHA TEOLOGIA e dos direitos autorais dos livros AURORA DO MILÊNIO – ESTUDOS DAS ESCRITURAS e de vários outros folhetos, hinários, etc. à SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, eu o fiz com o entendimento explícito de que manteria completo controle de todos os interesses destas publicações durante meu período de vida, e que depois de minha morte estes serão conduzidos de acordo com meus desejos. Passo agora a especificar esses desejos – minha vontade com relação aos mesmos – conforme segue:

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Comentário: Conforme se verá a seguir, a maior parte das determinações de Russell neste Testamento foi descumprida por seus sucessores.

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Uma comissão editora de cinco

Determino que todo o encargo editorial de A TORRE DE VIGIA DE SIÃO ficará nas mãos duma comissão de cinco irmãos, os quais exorto a grande cuidado e fidelidade à verdade. Todos os artigos publicados nas colunas de A TORRE DE VIGIA DE SIÃO terão a aprovação irrestrita de pelo menos três membros da comissão de cinco, e exorto a que, se algum assunto aprovado pelos três é conhecido ou tido como sendo contrário aos conceitos de um ou de ambos os outros membros da comissão, tais artigos sejam retidos para reflexão, oração e discussão por três meses antes de serem publicados — a fim de que, tanto quanto possível, se mantenha a unidade da fé e os vínculos da paz na administração editorial da revista.

Os nomes da Comissão Editora (com essas mudanças que possam ocorrer de tempos a tempos) serão publicados em cada número da revista – mas não se deve indicar de modo algum por quem os vários artigos que aparecem na revista foram escritos. Bastará ser reconhecido o fato de que os artigos são aprovados pela maioria da comissão.

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Comentário: O primeiro parágrafo deste trecho foi citado na revista A Sentinela de 1° de março de 1987, pág. 14. O que não se admite lá é que isto foi logo desacatado. Durante a maior parte da presidência do sucessor de Russell (Joseph. F. Rutherford), quem determinava o que iria ou não ser impresso na revista era o presidente da Sociedade e ele fazia isso sem consultar ninguém. Não havia qualquer Comissão Editora que tivesse voz ativa, e de cuja aprovação da maioria dependesse a publicação de algum artigo. Nem havia qualquer especificação de nomes dessa Comissão Editora na revista.

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Uma vez que a Sociedade já me garantiu que não publicará qualquer outro periódico, será também requerido que a Comissão Editora não escreva ou não se associe com quaisquer outras publicações, qualquer que seja a maneira ou o grau. Meu objetivo nestas exigências é livrar a comissão e a revista de qualquer espírito de ambição ou orgulho ou liderança e que a verdade seja reconhecida e apreciada por seu próprio valor, e que o Senhor possa ser mais particularmente reconhecido como o Cabeça da Igreja e a Fonte da Verdade.

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Comentário: Logo no início da presidência da Rutherford, ele deu início a um novo periódico, chamado A Idade de Ouro. Este periódico começou a ser publicado pela Torre de Vigia em 1920 e é a atual revista Despertai!. E novamente, quem determinava o que iria ou não ser impresso neste periódico era o presidente da corporação, não uma comissão editora.

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Cópias de meus discursos dominicais, publicados nos jornais diários, abrangendo um período de vários anos, foram preservadas e podem ser utilizadas como matéria editorial para A TORRE DE VIGIA ou não, conforme a comissão achar melhor, mas meu nome não será mencionado, nem se dará qualquer indicação referente à autoria.

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Comentário: De fato o nome de Russell como autor nunca mais apareceu na revista. Porém, todas as matérias dos discursos dele foram descartadas com o tempo, até porque não havia qualquer Comissão Editora para decidir se iria usá-las ou não. E o nome que apareceu muitas vezes como autor, principalmente dos livros publicados pela organização, foi o de Rutherford, deixando bem claro para todos que o “líder” da organização era ele, exclusivamente. Isto, naturalmente, era o contrário do que Russell tinha determinado no Testamento.

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Os nomeados abaixo como membros da Comissão Editora (dependendo de aceitarem) são considerados por mim como completamente fiéis às doutrinas das Escrituras – especialmente a doutrina do Resgate – que não há qualquer comunhão com Deus nem qualquer salvação para a vida eterna, a não ser por meio da fé em Cristo e obediência à Sua Palavra e seu espírito. Se qualquer um dos designados, a qualquer momento se encontrar em desarmonia com esta disposição, estará violando sua consciência e, portanto, cometendo pecado se continuar a ser membro desta Comissão Editora – sabendo que isso seria contrário ao espírito e à intenção desta provisão.

A Comissão Editora se auto-perpetua, de modo que se um de seus membros morrer ou renunciar será dever dos restantes eleger seu sucessor, para que a revista jamais tenha um número publicado sem uma Comissão Editora completa de cinco. Encarrego a comissão designada de ter grande critério na eleição dos outros que venham a completar seu número – que a pureza de vida, a clareza da verdade, o zelo por Deus, o amor pelos irmãos e a fidelidade ao Redentor sejam características proeminentes dos escolhidos. Em acréscimo aos cinco designados para a comissão, designei outros cinco, dentre os quais prefiro que se faça a seleção, para preencher quaisquer vagas na Comissão Editora, antes que se parta para uma seleção geral – a menos que, no ínterim, entre a data da elaboração deste testamento e a data de minha morte, ocorra algo que indique a estes como menos desejáveis ou a outros como mais desejáveis para preencher as vagas mencionadas. Os nomes da Comissão Editora são, conforme segue:

WILLIAM E. PAGE,

WILLIAM E. VAN AMBURGH,

HENRY CLAY ROCKWELL,

E. W. BRENNEISON,

F.H. ROBISON

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Comentário: Que o desejo de Russell era deixar o trabalho dele aos cuidados dessa Comissão Editora, e não a cargo dum único homem se torna claro por ele ter disposto, inclusive, sobre a continuidade da existência dessa Comissão. No segundo parágrafo acima ele enfatizou que ‘nenhum artigo deveria ser publicado sem haver uma comissão editora completa’. Como já mostrado, isso foi descumprido.

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Os nomes dos cinco a quem sugiro como possíveis candidatos desejáveis a preencher as vagas da Comissão Editora são, conforme segue: A. E. Burgess, Robert Hirsh, Isaac Hoskins, Geo. H. Fisher (Scranton), J.F.Rutherford, Dr. John Edgar.

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Comentário: Note-se que o nome de Rutherford não constava na primeira lista dos mais indicados por Russell e sim na segunda lista, dos substitutos. Além de a determinação da existência duma Comissão Editora ter sido logo desconsiderada, a história mostra que em pouco tempo Rutherford assumiu o controle completo dos destinos da organização.

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O anúncio a seguir deve aparecer em cada edição de A TORRE DE VIGIA, seguido pelos nomes da Comissão Editora:

COMISSÃO EDITORA DA TORRE DE VIGIA

Esta revista é publicada sob a supervisão de uma Comissão Editora, pelo menos três dos quais leram e aprovaram como VERDADE cada um dos artigos que aparecem nestas colunas. Os nomes da Comissão que está servindo agora são: (nomes a seguir).

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Comentário: Ao longo de toda a presidência de Rutherford, a prerrogativa de determinar o conteúdo das publicações, ou seja, o que era considerado pela organização como “verdade”, era dele próprio.

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Quanto à compensação, acho sábio manter a prática passada da Sociedade referente aos salários – que nenhum seja pago; que simplesmente seja provida uma ajuda de custo para aqueles que servem a Sociedade ou à obra dela de alguma maneira. Em harmonia com a prática da Sociedade, sugiro que a provisão para a Comissão Editora, ou para os três que estarão ativamente envolvidos, consista de não mais do que uma provisão para sua alimentação e abrigo e dez dólares por mês, com um subsídio moderado para esposa, filhos ou outros dependentes deles, conforme a Diretoria da Sociedade considerar apropriado, justo e razoável – que nenhuma provisão seja feita para juntar dinheiro.

Desejo que o TRIMESTRAL DA VELHA TEOLOGIA continue a ser publicado como no presente, tanto quanto as oportunidades de distribuição e as leis do país permitam, e que os números consistam de reimpressões de edições antigas de A TORRE DE VIGIA ou trechos de meus discursos, mas que nenhum nome apareça em conexão com a matéria, a menos que isso seja exigido pela lei.

É meu desejo que as mesmas regras se apliquem às edições em alemão, francês, italiano, dinamarquês, sueco ou qualquer outra publicação estrangeira controlada ou apoiada pela SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS.

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Comentário: O periódico TRIMESTRAL DA VELHA TEOLOGIA deixou de ser publicado logo após a morte de Russell. Em vez disso, a organização passou a publicar livros, a maioria dos quais com o nome de J. F. Rutherford como autor, tanto na edição original, em inglês, como nas traduções para outros idiomas. O procedimento foi este até a morte dele (em 1942).

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Desejo que uma cópia deste documento seja enviada a cada um, cujo nome aparece acima como membro da Comissão Editora ou da lista dos outros que forem escolhidos pela comissão para preencher as vagas, e também a cada membro da Diretoria da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS. Isto deve ser feito imediatamente após a minha morte, para que dentro de uma semana, se possível, as pessoas designadas como membros da Comissão Editora fiquem cientes, sendo as comunicações deles dirigidas ao Vice-Presidente da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS – independentemente de quem esteja nesse cargo na ocasião. As respostas dos designados devem ser referentes ao assunto tratado, indicando sua aceitação ou rejeição das disposições e condições especificadas. Deve-se conceder um período razoável a qualquer um dos mencionados que possa estar fora da cidade ou do país. Entrementes, o restante da comissão de pelo menos três deve continuar a atuar em suas funções como editores. Será dever dos agentes da Sociedade fazer os necessários arranjos para estes membros da Comissão Editora e auxiliá-los em seus deveres de todas as maneiras possíveis, em conformidade com os compromissos que assumiram comigo referentes a este assunto.

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Comentário: O conteúdo deste parágrafo enfatiza mais uma vez a importância que Russell dava a estas determinações. Embora as cópias provavelmente tenham sido enviadas às pessoas mencionadas após a morte dele, nenhuma destas disposições foi acatada.

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Eu já doei à SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS todas as minhas ações com direito a voto, pondo as mesmas nas mãos de cinco fideicomissárias, como segue: Sra. E. Louise Hamilton, Sra. Almeta M. Nation Robison, Sra. J.G. Herr, Sra. C. Tomlins, Sra. Alice G. James.

Estas fideicomissárias servirão em caráter vitalício. Em casos de morte ou renúncia, as substitutas serão designadas pelos diretores e pela Comissão Editora da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA, e pelas fideicomissárias restantes, depois de oração em busca da orientação divina.

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Comentário: Essa disposição, tratando de cinco mulheres como fideicomissárias vitalícias e com substituição por outras em caso de morte, foi totalmente desconsiderada.

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Disponho agora sobre a destituição ou demissão de qualquer um dos membros da Comissão Editora que tenha sido considerado indigno da posição, seja por razão doutrinal ou falha moral, conforme segue:

Pelo menos três da Diretoria devem apresentar conjuntamente as acusações que motivem a destituição, e a Comissão Julgadora do assunto será composta de fideicomissários da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, das cinco fideicomissárias portadoras de minhas ações votivas, e da Comissão Editora, com exceção do acusado. Destes dezesseis membros, pelo menos treze devem ser favoráveis à destituição e demissão, para que isso se efetive.

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Comentário: Conforme já visto, a Comissão Editora foi descartada. E depois da morte de Russell, quem passou a determinar, na prática, quem permaneceria ou não na própria Diretoria foi o presidente Rutherford. Segundo a história da organização, em 1917 Rutherford demitiu sumariamente a maioria desta Diretoria. Dos sete membros, restaram apenas três, os que eram leais a ele.

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INSTRUÇÕES PARA O FUNERAL

Desejo ser enterrado no lote de terra de propriedade da nossa Sociedade, no Cemitério Rosemont United, e todos os detalhes dos arranjos referentes ao serviço fúnebre deixo aos cuidados de minha irmã, a Sra. M. M. Land, e suas filhas, Alice e May, ou qualquer dentre elas que sobreviva a mim, com o apoio, assessoria e cooperação dos irmãos, conforme elas solicitem. Em vez de um discurso fúnebre normal, peço que elas façam arranjos para que vários irmãos acostumados a falar em público façam breves comentários, de modo que o serviço seja bem simples e austero e que isso seja realizado na Capela da Casa da Bíblia ou em qualquer outro lugar que seja considerado tão apropriado como este, ou até mais.

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Comentário: Este desejo foi acatado. É próximo a este cemitério que se encontra atualmente um grande centro maçônico. E também a pirâmide que serve de monumento tumular. Russell tinha forte simpatia pela franco-maçonaria e durante a maior parte de sua vida foi piramidólogo, permanecendo como tal até sua morte. Houve uma reunião formal de representantes da sede da Torre de Vigia neste cemitério, em memória de Russell, exatamente cinco anos depois da morte dele (em outubro de 1921), incluindo uma visita oficial à pirâmide.

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MEU LEGADO DE AMOR

Para a querida família de “Betel” coletiva e individualmente deixo os meus melhores votos, na esperança da bênção do Senhor para eles, a qual enriquece e não acrescenta dor alguma. O mesmo estendo num alcance ainda mais amplo para toda a família do Senhor em todos os lugares – especialmente para aqueles que se regozijam na Colheita. Rogo a todos que continuem a progredir e a crescer na graça, no conhecimento e, sobretudo, no amor, o grande fruto do Espírito em suas várias formas diversificadas. Exorto à mansidão, não só com o mundo, mas uns com os outros; à paciência um com o outro e com todos os homens, à gentileza com todos, à fraternidade, à piedade, à pureza. Lembro-vos que todas essas coisas são necessárias para nós, para que possamos alcançar o Reino prometido, o qual o apóstolo nos assegurou que, se fizermos essas coisas nunca falharemos, mas que “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”

É meu desejo que esta minha última Vontade e Testamento seja publicada na edição de A TORRE DE VIGIA que se seguir à minha morte.

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Comentário: Este desejo de Russell foi acatado. A presente tradução do Testamento baseia-se no conteúdo desta revista.

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É minha esperança que tanto no meu caso, como no caso do querido Israel de Deus, logo nos encontremos para jamais nos separarmos, na primeira ressurreição, na presença do Amo, com quem está a plenitude do gozo para sempre. Estaremos satisfeitos quando despertarmos na semelhança dele.

“Transformado de glória em glória”

(Assinado) CHARLES TAZE RUSSELL

PUBLICADO E DECLARADO NA PRESENÇA DAS TESTEMUNHAS CUJOS NOMES ESTÃO ANEXOS:

MAE LAND

M. ALMETA NATION

LAURA M. WHITEHOUSE

ELABORADO EM ALLEGHENY, PA, VINTE E NOVE DE JUNHO DE MIL NOVECENTOS E SETE.

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