As Pestilências – No Passado e no Presente
Introdução
As imagens com frequência causam um impacto mais profundo em nossas mentes do que as palavras. Declarações não confirmadas ou errôneas podem parecer mais convincentes e verdadeiras se forem acompanhadas por ilustrações dramáticas e impressionantes.
A capa da revista Despertai! de 22 de maio de 1984, por exemplo, apresenta uma imagem de pessoas tentando escapar de uma terrível onda do mar que cobre quase a página inteira. As palavras grifadas na página proclamam que atualmente a humanidade é assolada por “UM DILÚVIO DE EPIDEMIAS”. A ilustração é uma hábil apresentação da alegação da liderança das Testemunhas de Jeová de que desde 1914 a humanidade presenciou um tremendo aumento das pestilências ou epidemias. É verdade isso? Será que esta imagem apresenta corretamente os fatos?
De maneira similar, outro expositor do fim dos tempos, Hal Lindsey, afirmou:
Jesus disse que as pestilências varreriam o mundo antes do retorno dele. Por algum tempo os cientistas achavam que as grandes pestilências que ameaçavam a humanidade estavam virtualmente sob controle. Mas, só nos últimos anos, grandes epidemias mataram milhões e embora as vacinas estejam disponíveis contra algumas delas, não há nenhum modo de imunizar as massas do mundo.1
Assim, embora reconheça que houve uma mudança com respeito às “grandes pestilências que ameaçavam a humanidade”, o autor Lindsey, o qual sustenta que desde 1948 a humanidade entrou num período marcado por Deus, no mínimo insinua que há evidência de as pragas estarem ‘varrendo o mundo’ hoje.
Podemos nos perguntar, então: Quais foram as “grandes epidemias” do século 20? Até que ponto elas ‘inundaram’ a humanidade ou ‘varreram o mundo’ desde 1914, ou 1948 ou qualquer outra suposta ‘data profeticamente marcada’ de nossa época?
A maior pestilência do século 20 foi a chamada gripe espanhola, que se difundiu rapidamente pelo mundo nos anos 1918-1919, matando entre 15 e 25 milhões de pessoas.
Porém, a liderança das Testemunhas de Jeová vai muito além e alega que esta foi a maior pestilência, não só do século 20, mas de toda a história da humanidade. O livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1989), por exemplo, diz na página 151:
Logo após a Primeira Guerra Mundial mais pessoas morreram da gripe espanhola do que de qualquer outra epidemia de doenças na história da humanidade.2
Como prova desta alegação eles citaram às vezes uma revista americana, o Informe de Sábado à Noite (em inglês) de 26 de setembro de 1959, no qual um escritor afirmou que “Nenhuma pestilência registrada antes ou depois tem-se igualado em número ao tributo mortífero de 1918-1919”3
Todavia, uma afirmação desse tipo só mostra que o jornalista tinha feito muito pouca pesquisa sobre as grandes e devastadoras pestilências do passado.
Basta lembrarmos aqui da Peste Negra, a grande pestilência que visitou a humanidade vez após vez a partir do século 14, ceifando entre 25 e 40 milhões de vidas na Europa só em seu primeiro ataque durante três anos, de dezembro de 1347 a dezembro de 1350. Por outro lado, a influenza espanhola de 1918-1919 ceifou apenas entre 2 e 3 milhões de vidas na Europa, e isto apesar de a população da Europa naquele momento ter quadruplicado desde 1347!4
Além da Peste Negra, várias pestilências tiveram impacto mais profundo na história passada da humanidade do que a influenza espanhola, como ficará evidente na consideração que segue.
Então, que outras pestilências ‘inundaram’ a humanidade desde 1914? Ao mencionar a influenza espanhola, o já mencionado livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra prossegue dizendo:
No entanto, a pestilência e a doença continuam a grassar. Milhões morrem cada ano de doenças do coração e de câncer. As doenças venéreas alastram-se rapidamente. Outras doenças terríveis, tais como a malária, a esquistossomose e a oncocercose, ocorrem em muitos países, especialmente na Ásia, na África e na América Latina.5
É verdade que essas doenças estão difundidas em algumas regiões. Porém, o que estamos interessados em saber é: Há alguma novidade ou diferença com relação a esta situação? Será que estas doenças aumentaram durante o século 20? Experimentou a humanidade mais e maiores pestilências naquele século do que em qualquer outro período da história?
O que dizer de outras pestilências que mataram milhões de pessoas no passado, como a varíola, peste bubônica e cólera?
E o que dizer das doenças do coração e do câncer? Será que estas doenças são realmente “pestilências” no sentido que o escritor bíblico Lucas usou esta palavra em Lucas 21:11?
Evidentemente, antes de verificarmos com atenção a terrível história das pestilências, há outra pergunta que precisa ser respondida antes: O que é uma pestilência?
O significado da palavra “pestilência”
Em seu relato evangélico, Marcos não faz menção de pestilências entre as calamidades alistadas por Jesus, mas Lucas (e possivelmente também Mateus, segundo alguns manuscritos) faz:
… Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares … – Lucas 21:11, NVI.
A palavra grega traduzida por “pestes” neste versículo é loimoi, o plural de loimos. Segundo W E. Vine esta palavra significa “pestilência, qualquer enfermidade mortalmente infecciosa”.6 Esta palavra só é usada em outro lugar no Novo Testamento, em Atos capítulo 24, versículo 5, onde os líderes judaicos acusaram o apóstolo Paulo perante o governador Félix, dizendo:
“Temos achado que este homem é uma peste [grego: loimos], e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e chefe da seita dos nazarenos…” (ARC)
Embora a palavra loimos seja usada figurativamente neste texto, é evidente que a referência não é simplesmente a certa doença de qualquer tipo, mas a uma doença infecciosa, uma pestilência. Aos olhos daqueles líderes judaicos, Paulo era uma praga perigosa, um subversivo contaminante, cujos ensinos estavam se espalhando pelo mundo romano como uma doença epidêmica, causando sedições entre os judeus em toda parte.
O bem conhecido comentarista bíblico Albert Barnes, que foi citado em A Sentinela de 1º de novembro de 1983, página 3, enfatiza também que a palavra loimoi em Lucas 21:11 refere-se a “violentas doenças epidêmicas”7
De modo que a palavra loimos foi restrita a doenças epidêmicas fatais ou pestilências. É interessante que a liderança das Testemunhas de Jeová em seu dicionário bíblico Estudo Perspicaz das Escrituras, define “pestilência” como “qualquer doença infecciosa de rápido alastramento, capaz de atingir proporções epidêmicas e provocar a morte.” (Volume 2, página 653) Esta definição dá o significado de loimos de uma maneira excelente. Quando se refere a doenças em sentido geral, o idioma grego tem outras palavras, tais como nósos. Este termo é usado, por exemplo, em Mateus 4:23, onde se declara que Jesus estava curando “toda sorte de moléstias” (nósos). O mesmo versículo também menciona “toda sorte de enfermidades” que traduz a palavra grega malakía. Um terceiro termo para doença era asthéneia, que significa “fraqueza.” Esta palavra é usada no caso da doença de Lázaro, mencionada em João capítulo onze, versículos 1 a 6.
A razão para esta digressão lingüística é a seguinte: A liderança das Testemunhas de Jeová, em suas tentativas de provar que as pestilências aumentaram desde 1914, inclui as doenças do coração e o câncer entre as pestilências que supostamente cumprem as palavras de Jesus em Lucas capítulo 21, versículo 11. Conforme o livro já citado diz sobre este assunto: “Milhões morrem cada ano de doenças do coração e de câncer”. Na realidade, eles tendem a incluir todo tipo de doenças entre as pestilências de Lucas 21:11, sejam elas infecciosas ou não, fatais ou não. Um artigo no número de 1º de novembro de 1983 de A Sentinela, por exemplo, foi intitulado “As Doenças — Sinal dos Últimos Dias?” Uma tabela de doenças na página 7 da mesma revista começa com o câncer e termina com a esclerose múltipla. Com exceção destas e da gripe e malária, muitas das outras doenças mencionados na tabela causam pouca ou nenhuma mortandade atualmente.8
Todavia, por mais fatais que possam ser, o câncer e as doenças do coração não são pestilências no sentido bíblico. Elas não são “violentas doenças epidêmicas”, ou doenças infecciosas, ainda que o Almanaque Enciclopédico do Times de Nova Iorque de 1970 tenha chamado a catástrofe coronariana de “pandemia.” Embora isto obviamente tenha sido dito em sentido figurado (já que pandemia se refere na verdade a uma doença infecciosa difundida), a Sentinela logo se fixou na declaração e citou isto em defesa do alegado aumento das pestilências.9
Porém, quando Lucas, ele próprio um médico, escolheu a palavra grega loimós, podemos certamente acreditar que o fez com um propósito definido. Ele sabia que Jesus não estava falando de doenças do tipo comum (nosos), e sim de doenças infecciosas, epidêmicas ou pestilentas. O fato de a liderança das Testemunhas de Jeová incluir o câncer, as doenças do coração e outros tipos de moléstias não-infecciosas entre as pestilências preditas não entra apenas em conflito com a definição fornecida em seu próprio dicionário bíblico. Indica também que seus escritores sabem que as verdadeiras pestilências, no pleno (e bíblico) sentido da palavra, não aumentaram a partir de 1914.
Em seu livro O Tropel Que Se Aproxima, Billy Graham define corretamente “pestilência” como uma palavra que significa “qualquer moléstia infecciosa que é fatal.” (Página 186 em inglês) Depois, ao mencionar a declaração de Jesus sobre pestilências em Lucas capítulo vinte e um, o Dr. Graham usa a palavra “praga” como um sinônimo de pestilência e daí, estranhamente, amplia sua aplicação para incluir coisas tais como pragas de insetos, fazendo até referência a uma ocasião em que “milhões de sapos infestaram municípios inteiros” na Flórida. Ele inclui “padrões climáticos inconstantes” entre as “pestilências” dos dias de hoje. (Páginas 192, 193 em inglês) Nenhuma dessas coisas se ajusta à definição de “pestilência” que ele havia dado. Nem sapos nem padrões climáticos variáveis se ajustam ao sentido das palavras usadas por Lucas e no relato do Apocalipse de João.
Os historiadores e as pestilências
O fato é que vivemos numa época em que as doenças epidêmicas desempenham um papel relativamente sem importância, em comparação com as devastações delas em séculos anteriores. Devido a isto, as pessoas de hoje acham difícil imaginar a extensão horripilante das catástrofes que vez após vez flagelaram a humanidade nas gerações passadas. Conforme enfatiza o professor William H. McNeill, um dos mais eminentes historiadores americanos, os números da mortalidade em muitas grandes pestilências no passado foram tão elevados que muitos historiadores modernos, os quais só julgam à base de sua própria experiência com infecções epidêmicas, tendem a encarar como exagero os relatos antigos sobre a maciça mortandade de muitas das grandes pestilências no passado. Ele declara:
As doenças epidêmicas, quando se tornaram decisivas na paz ou na guerra, dificultaram o esforço de fazer o passado inteligível. Por isso, os historiadores menosprezaram esses episódios.10
Porém, médicos e outros pesquisadores que, como McNeill, estudaram a história das pestilências, não concordam com a tentativa que alguns historiadores fazem de minimizar a enormidade do efeito dessas pragas em séculos anteriores. Por exemplo, o professor Folke Henschen, patologista de renome internacional, fez a seguinte observação em seu levantamento histórico das doenças infecciosas:
As doenças infecciosas… provavelmente foram os mais perigosos inimigos da humanidade, muito mais do que a guerra e o assassinato em massa. Quando se estudam as epidemias constantes do passado e as doenças debilitantes em terra e no mar, percebe-se que a inteira civilização poderia ter sucumbido, e é uma constante surpresa que a humanidade tenha sobrevivido.11
Portanto, para que possamos estar em melhor posição de avaliar a situação e as circunstâncias atuais, conforme estas se relacionam com nosso assunto, verifiquemos os vários períodos e épocas da humanidade depois da época de Cristo. Seguem-se apenas alguns exemplos tirados da história das pestilências. Para os que gostariam de se aprofundar no assunto, recomendamos o livro de McNeill, As Pragas e os Povos (em inglês), que é provavelmente o levantamento mais bem pesquisado e documentado sobre as pestilências que visitaram a humanidade nos últimos 2.000 anos.12
As pestilências no período romano
Um grande número de pestilências difundidas e bem mortíferas surgiu no mundo durante o período romano. As que seguem foram algumas das mais severas:
1. Em 165 D.C. uma epidemia (provavelmente de varíola) foi trazida da Mesopotâmia para a região mediterrânea por soldados romanos. A história diz que ela se espalhou por todo o Império Romano e assolou por aproximadamente quinze anos. A mortandade foi tremenda. Em alguns locais afetados, de um quarto a um terço da população morreu. A pestilência “deu início a um processo de diminuição contínua da população das terras mediterrâneas que, apesar de algumas recuperações locais, durou mais de meio milênio.”13
2. De 251 a 266 D.C. outra grande pestilência devastou o mundo romano. Desta vez a mortandade foi até maior. No auge da epidemia morriam 5.000 por dia só na cidade de Roma. Outras calamidades também tiveram início durante aquele século: guerras civis, invasões bárbaras e repetidas épocas de fome. A devastação geral foi tão grande que o perito em população, J. C. Russell, estima que a população do Império Romano foi reduzida em 50 por cento entre a época de Augusto e 543 D.C.14
3. Nos anos 310-312 a China foi atingida por uma pestilência que virtualmente eliminou a população nas províncias do noroeste, matando 98-99 por cento das pessoas ali. Dez anos depois, em 322, ela foi seguida por outra epidemia que matou 20-30 por cento da população numa área mais ampla do país.15
4. Nos anos 542-543, durante o reinado do imperador bizantino Justiniano (527-565), a chamada “Peste de Justiniano” chegou à Europa. Ela se originou no nordeste da Índia ou na África Central. Temos boas informações sobre esta pestilência, porque uma testemunha ocular contemporânea, o médico, historiador e prefeito Procópio, deixou uma descrição rigorosa e detalhada da miséria nos dias dele. Graças à descrição dele foi possível identificar a pestilência como a pneumonia e/ou peste bubônica, a mesma pestilência que varreu o mundo no século 14 e que posteriormente foi chamada de Peste Negra.16 Antes que chegasse à Europa em 542, Constantinopla, a cidade natal de Procópio, foi severamente assolada:
Em Constantinopla ela matava 5.000 – 10.000 pessoas por dia. Através da Grécia alastrou-se para a Itália, e depois de quinze anos chegou ao Reno. Lá ela retrocedeu e no caminho de volta passou por Constantinopla novamente, sem ter perdido absolutamente nada de sua virulência. Calcula-se que o Império Oriental tenha perdido metade de sua população. Muitas cidades foram eliminadas.17
Acredita-se que a “Peste de Justiniano” ceifou ao todo 100 milhões de vidas.18 Tanto McNeill como Henschen enfatizam que as pestilências do terceiro e do sexto séculos desempenharam um papel significativo no declínio do Império Romano.19 A peste bubônica retornou e assolou periodicamente até 750 D.C. McNeill a compara com a Peste Negra em extensão e mortandade:
A evidência histórica realmente sugere que as pestilências do sexto e sétimo séculos tiveram para os povos mediterrâneos uma importância totalmente análoga à da mais famosa, a Peste Negra do século quatorze. A doença certamente provocou uma mortandade inicial de uma grande proporção dos habitantes das cidades nas áreas afetadas, e a redução total da população levou séculos para ser recuperada.20
A peste bubônica visitou também a Ásia em várias ondas mortíferas. A mais antiga descrição chinesa a respeito dela data de 610 D.C. Em 642 ela devastou a província de Kwantung. Em 762 irrompeu nas províncias litorâneas, e “morreu mais da metade da população da província de Shantung.”21 Em 806 ela exterminou mais da metade da população na província de Chekiang.22
Durante a mesma época, o Japão passou por várias epidemias muito severas. Como resultado de uma pestilência que irrompeu em 808 D.C. “pereceu mais da metade da população”, e relata-se que houve uma devastação similar devido a outra doença que golpeou em 994-995.23
A pestilência continuou devastando numerosos países em intervalos breves. Fontes anglo-saxônicas mencionam nada menos de quarenta e nove surgimentos de epidemias entre 526 D.C. e 1087. Fontes árabes alistam mais de cinquenta visitas diferentes de pestilências no Egito, Síria e Iraque entre 632 e 1301. Os registros chineses mencionam tantas quantas 288 pestilências de 37 D.C. a 1911! Conforme McNeill enfatiza, as fontes estão, é claro, longe de serem completas.24
A Baixa Idade Média, o tempo da Peste Negra
Perto do fim do ano de 1347 a pavorosa peste pneumo/bubônica visitou a Europa outra vez. Antes de chegar ali, ela já tinha varrido toda a Ásia. Já em 1331 a epidemia irrompeu na província chinesa de Hopei, onde se relata que matou nove de cada dez pessoas. Em 1353 e 1354 ela assolou em oito partes diferentes e amplamente dispersas da China. As crônicas contemporâneas relatam que “dois terços da população” dessas regiões morreram.25
Os rumores que chegaram à Europa em 1346 falavam sobre a terrível expansão da peste da China “através do Tártaro (Ásia Central) para a Índia, Pérsia, Mesopotâmia, Síria, Egito e toda a Ásia Menor.” Conforme relata a historiadora Tuchman, eles falavam de “um número de mortos tão devastador que se afirmou que toda a Índia foi despovoada, com territórios inteiros cobertos por cadáveres, e outras áreas sem restar ninguém vivo.”26
A pestilência foi levada para o oeste por meio das rotas de caravanas e chegou à Criméia em 1346. De lá se espalhou por navio ao longo da área do Mediterrâneo. A quantidade de fatalidades (ou “mortandade”) foi devastadora. “Cerca de um terço da população do Egito parece ter morrido no primeiro ataque, de 1347-1349.”27 Através da Sicília, onde meio milhão de pessoas morreu, a pestilência chegou à Itália, matando mais da metade da sua população.28
Da Itália a infecção catastrófica avançou para o oeste e para o norte do continente europeu. Na França, pelo menos um terço (três quartos, segundo algumas estimativas) da população foi aniquilado. (Registros de “Hearth tax” estão disponíveis para aquele período e evidenciam claramente a rápida e notável aniquilação de milhares e milhares de famílias inteiras pela pestilência. Monastérios e locais do gênero, onde considerável número de pessoas tinha contato próximo sofreram dano peculiar, às vezes o número de residentes caía de uns cem para apenas dois ou três.) O erudito do século dezenove J. F. K. Hecker calculou que a Polônia perdeu três quartos de seus habitantes, e as descobertas dele indicaram que na Alemanha “200.000 pequenas cidades rurais… foram despojadas de todos os seus habitantes.”29
O AVANÇO DA PESTE NEGRA NA EUROPA
(1347 a 1351)
Em agosto de 1348 a pestilência cruzou o canal e chegou à Inglaterra. Dentro de nove meses ela tinha eliminado metade da população. No mesmo outono um navio inglês trouxe a peste para a Islândia, e metade da população pereceu ali também. Na Noruega, onde a peste irrompeu por volta do verão de 1349, morreram dois terços da população. No mesmo ano ela varreu a Dinamarca, despovoando completamente até 40 por cento das aldeias em algumas áreas, e chegou à Suécia por volta da primavera de 1350. Antes que terminasse o ano tinha morrido um terço da população na Suécia.30
A Europa jamais esqueceu esta incrivelmente marcante visita da morte. Os contemporâneos a chamaram de Magna mortalitas – a Grande Mortandade.31 Estimativas da mortalidade total na Europa variam de um quarto à metade da população total o que significaria que entre 25 e 40 milhões de pessoas foram aniquiladas no primeiro ataque da pestilência entre 1347 e 1350.32 Alguns estimam que o total atingiu três quartos da população européia, ou seja, 60-75 milhões, mas isto provavelmente é um número exagerado.
O número total para o mundo inteiro é, naturalmente, difícil de calcular, principalmente porque faltam os números referentes aos países asiáticos. A Sentinela de 15 de setembro de 1977, página 551 cita a revista Science Digest como tendo dito que a pestilência “ceifou 62 milhões de vidas em todo o mundo”. O Livro dos Recordes Mundiais de Guiness de 1983 (página 465 em inglês), por outro lado, situa o número em 75 milhões. Devido à informação que está disponível, por exemplo, para a China, certamente este número não é muito alto. Na realidade, ele pode ser até uma subestimação. Froissart, cronista do século 14, calculou que um terço da população do mundo morreu, e conforme indicado pelo historiador George Deaux, “há amplo acordo com a estimativa de Froissart.”33 Esta estimativa situaria o número de mortes em uns 100 milhões.
O QUE EMINENTES AUTORIDADES DIZEM SOBRE A PESTE NEGRA “Foi quase que certamente a visita mais terrível à qual a humanidade já esteve exposta.” – A História de Doenças, Professor Folke Henschen (Londres, Inglaterra, 1966), página 79 em inglês. “A Peste Negra foi uma catástrofe sem precedentes cujo único paralelo é a história bíblica do Dilúvio e as predições do século 20 quanto aos efeitos de uma guerra nuclear total.” – A Peste Negra de 1347, George Deaux (Londres, Inglaterra, 1969), páginas 143, 144 em inglês. “Sem dúvida o pior desastre que já atingiu a humanidade.” – A Peste Negra no Oriente Médio, Michael W. Dols (Princeton, Nova Jersey, EUA, 1977), página vii em inglês. “O desastre mais letal da história registrada.” – Um Espelho Distante. O Calamitoso Século 14, Barbara Tuchman (Londres, Inglaterra, 1979), página xiii em inglês. “[A] maior de todas as crises já enfrentadas pela espécie humana.” – Uma Seleção de Catástrofes, Isaac Asimov (Londres, Inglaterra, 1980), página 242 em inglês. “A única possível comparação seria com os resultados hipotéticos de uma guerra nuclear ou bacteriológica moderna.” – A Mente e o Método do Historiador, do renomado historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie (Brighton, Sussex, Inglaterra, 1981), página 71 em inglês. “O impacto da Peste Negra, o maior motim ecológico, foi comparado com o das duas guerras mundiais do século vinte. Isto é uma grande verdade. Mas a Peste Negra… trouxe uma mudança até mais essencial… Os efeitos deste desastre natural e humano mudaram profundamente a Europa, talvez mais do que qualquer outra série de acontecimentos. Por isso, somente, a Peste Negra deveria ser alistada como o maior evento biológico-ambiental da história, e um dos momentos decisivos principais da Civilização Ocidental.” – A Peste Negra, Robert S. Gottfried (Londres, Inglaterra, 1983), página 163 em inglês. “O maior desastre já sofrido pelo mundo foi o alastramento pandêmico da peste bubônica que matou até um terço da população do mundo antes de seguir seu caminho pela Europa e Ásia no século quatorze” – O Grande Livro Internacional do Desastre, James Cornell (Nova Iorque, EUA, 1979), página 70 em inglês. |
E isto ainda não foi o fim da história.
As pestes pneumônica e bubônica retornaram vez após vez depois do primeiro ataque violento entre os anos de 1347 e 1350. As pessoas viveram apavoradas com isso por quase quatro séculos. De 1346 a 1720, quando o último irrompimento violento da pestilência ocorreu na Europa, sabe-se que houve entre 60 e 70 epidemias europeias. Isto quer dizer que em média a pestilência apareceu na Europa a cada seis anos durante esse período.34
Só durante o século quatorze, depois do ataque inicial, outros seis ataques ocorreram na Europa. Com frequência 30-50 por cento da população das cidades afetadas morriam nestas novas devastações.35 A população europeia continuou diminuindo. A partir de 1380 ela tinha sido reduzida em aproximadamente 40 por cento, e perto do fim do século em quase 50 por cento.36 O mais baixo nível foi atingido entre 1440 e 1480.37
A mesma tendência pode ser notada em outras partes do mundo. Por volta de 1200 D.C. a China tinha uma população de 123 milhões. Em 1393 esse número tinha diminuído para meros 65 milhões. Embora os historiadores normalmente atribuam esta diminuição à guerra civil que irrompeu no mesmo momento da pestilência (sendo a guerra causada pela reação chinesa contra o domínio mongol e tendo terminado com a expulsão dos mongóis), McNeill é certamente mais realístico quando atribui à pestilência a responsabilidade mais pesada pela diminuição drástica.38 Afirma-se que no século 16 a China foi quase despovoada pela peste bubônica novamente. Embora este flagelo tenha praticamente desaparecido da Europa depois de 1720, ele continuou irrompendo em outras partes do mundo. Tão tardiamente quanto entre 1906 e 1911, 7,5 milhões foram mortos pela pestilência na Índia.39
Devido a tudo isso, não é difícil entender por que as autoridades fazem declarações como as apresentadas na caixa acompanhante, com referência ao primeiro ataque no século quatorze.
Ademais esta peste pneumônico-bubônica que visitou repetidamente a humanidade por centenas de anos depois de 1350 não foi a única epidemia a assolar o mundo durante aqueles séculos. Ela foi acompanhada por uma série de outras pestilências devastadoras, conforme veremos.
1500 a 1800 D.C.: a era da sífilis e da varíola
As expedições transoceânicas que começaram no ano de 1492 conduziram a uma nova era de pandemias que tiveram consequências fatais para todo o globo.
Ao término do século quinze, a sífilis chegou à Europa, talvez importada da América pelos marujos de Colombo. “Nos anos que se seguiram, a doença espalhou-se por toda a Europa, África e Ásia, e em todos os lugares levou a uma crise muito maligna.”40 Apesar de toda a conversa sobre a sífilis em nossos dias, é o século 16, não o século 20, que pode ser chamado de “século da sífilis.” A doença estava em toda parte, em todas as classes sociais, nos lares, nos banhos públicos, em logradouros públicos, entre crianças e adultos. A frequência da doença era atemorizante e as lesões orgânicas eram muito sérias. Milhões morreram disso. A doença era também herdada pela descendência, e nasciam crianças cegas, surdas e com outras deformidades.
Desde o século 16 a sífilis tem se tornado mais fraca e menos desastrosa. Ela era considerada incurável até o início do século 20, mas dali em diante desenvolveram-se diferentes antibióticos contra ela. Hoje a mortalidade diminuiu a uma fração do que era antes da Primeira Guerra Mundial. Embora ainda esteja entre nós, a sífilis já não mata aos milhões como fazia no século 16.41
Ainda que a sífilis tenha sido trazida da América para o Velho Mundo pelos marujos de Colombo, como crêem alguns pesquisadores, esta doença não foi de modo algum tão desastrosa para os europeus como as pestilências que os americanos nativos, por sua vez, contraíram dos europeus.
Quando os europeus vieram para a América, trouxeram com eles doenças epidêmicas que tinham estado assolando o Velho Mundo durante séculos, e contra as quais as populações da Eurásia tinham desenvolvido certo grau de imunidade.
Por outro lado, as populações ameríndias eram completamente indefesas contra estas novas doenças infecciosas. O resultado foi uma catástrofe completa, e só recentemente se tornou clara a verdadeira magnitude dela. Conforme McNeill explica, a razão é que antes da Segunda Guerra Mundial os historiadores subestimaram sistematicamente o total das populações pré-colombianas de América, fixando-o entre 8 e 14 milhões.
Todavia, recentes estimativas baseadas em cópias de listas de tributos, relatórios de missionários e sumários estatísticos minuciosos, multiplicaram essas antigas estatísticas por dez ou mais, fixando a população de ameríndios às vésperas da conquista em aproximadamente cem milhões, com vinte e cinco a trinta milhões deste total atribuído às civilizações mexicanas e um número aproximadamente igual às civilizações andinas.42
Não foram os soldados de Cortez e sim a varíola que conquistou o reino dos astecas, no México, em 1520. Os soldados de Cortez trouxeram a doença com eles de Hispaniola (a ilha agora ocupada pela República Dominicana e Haiti), onde haviam chegado da Europa dois anos antes. A epidemia de varíola que irrompeu no México logo se espalhou para a Guatemala e para o sul. Por volta de 1525 ou 1526 ela atingiu o domínio inca na América do Sul, onde pavimentou o caminho para a conquista de Pizarro, da mesma maneira que tinha conquistado o México para Cortez alguns anos antes. A mortandade foi pavorosa. Depois das devastações iniciais, aproximadamente um terço da população total tinha morrido!43
A varíola foi seguida por outras pestilências. Em 1530-1531 uma epidemia de sarampo espalhou-se pelo México e Peru, matando grandes números. Ela foi seguida quinze anos depois por outra epidemia, provavelmente tifo. Daí, em 1558-1559, uma epidemia de gripe mortífera devastou a América. Esta epidemia parece ter sido mundial. Começara na Europa em 1556 e durou quatro anos, com consequências desastrosas. Calcula-se que a Inglaterra perdeu 20 por cento de sua população total, e perdas similares ocorreram em outros países. Fontes japonesas contemporâneas também mencionam esta gripe terrível, dizendo que “muitíssimos morreram” por causa dela.44
As consequências destes e de outros irrompimentos de pestilência foram devastadoras para as populações ameríndias. Em 1568, cinquenta anos depois da conquista de Cortez, as epidemias tinham reduzido a população do México de 25-30 milhões para menos de três milhões. Antes de 1605 ela tinha diminuído para um milhão. Decréscimos similares ocorreram em outras partes da América.45
Por volta de meados do século 17, duas outras doenças muito letais foram levadas da África para a América: a malária e a febre amarela. Ambas eram novas para os ameríndios, e por isso os resultados foram extremamente graves. A malária “parece ter completado a destruição dos ameríndios nas planícies tropicais, esvaziando quase completamente regiões antigamente bem povoadas”46 E a febre amarela que tinha chegado ao Caribe em 1648, proveniente da África Ocidental, teve um efeito devastador similar nas populações ameríndias. Uma vez que estas não tinham desenvolvido qualquer imunidade (como muitos na África tinham desenvolvido até certo ponto), ela matou implacavelmente quase todos os adultos que a contraíram.47
Depois de todas estas devastações, qual foi o resultado final para as populações nativas das Américas? McNeill resume:
Em termos globais, o desastre para a população ameríndia atingiu uma extensão que é difícil de imaginar, já que vivemos numa época em que a doença dificilmente tem importância. Razões de 20:1 ou até mesmo de 25:1 entre as populações pré-colombianas e os níveis mais baixos nos gráficos da população ameríndia parecem mais ou menos corretos, apesar das amplas variações regionais. Por trás dessas estatísticas frias espreita a enorme e repetida angústia humana, já que sociedades inteiras caíram aos pedaços, valores foram pulverizados, e antigos modos de vida perderam todo o vestígio de significado.48
Em termos simples, isto significa que a diminuição total das populações ameríndias nas Américas do Norte, Central, e do Sul foi de 95 ou 96 por cento, ou seja, de aproximadamente 100 milhões decresceu para apenas 5 ou 4 milhões!
As pestilências que devastaram a América também visitaram a Europa, embora as consequências não tenham sido tão severas. A varíola apareceu na Europa após o declínio do Império Romano, mas só se tornou generalizada no século 16. Em 1614 uma pandemia difundiu-se da Ásia para grandes extensões da Europa e da África. No século 18 a varíola matou 60 milhões só na Europa. A mortandade foi alta especialmente entre as crianças. De 25 a 35 por cento dos infectados morreram – e praticamente todas as crianças contraíram a infecção!49
Milhões de lares por toda a Europa foram despojados dos membros mais jovens devido à investida da varíola.
O século 19: época do cólera, sarampo e escarlatina – e a época da mudança
O cólera foi a grande pestilência do século 19. Difundiu-se principalmente através de água ou comida contaminadas por excremento de pessoas infectadas. Nenhuma pestilência matou tão rápido quanto o cólera e até épocas recentes a taxa de mortalidade era muito alta: de 50 a 80 por cento.
Até 1817 esta pestilência só era conhecida na Índia. Naquele ano ela começou a se mover para o noroeste, atingindo a cidade russa de Astrachan, próxima do Mar Cáspio, em 1823. Outra investida em 1826 trouxe-a novamente para a Rússia em 1829, e de lá ela repentinamente se difundiu para a Europa, América, e o resto do mundo, espalhando horror e morte em todos os lugares durante sete anos. Quatro outras pandemias varreram o mundo inteiro durante os sessenta anos seguintes, a última entre 1883 e 1896. Estima-se que os cinco ataques mataram cerca de 100 milhões de pessoas mundialmente.50
Sarampo e escarlatina também caracterizaram o século 19, mais do que qualquer outro século. Até 1840 o sarampo era a causa mais comum de mortalidade infantil. De 1840 a 1880 esse papel foi assumido pela escarlatina, que foi responsável por quatro a seis por cento de todas as mortes no período, não só de crianças, mas de pessoas de todas as faixas etárias. De 1880 a 1915 o sarampo assumiu novamente a posição de maior matador de crianças.51 Outras grandes pestilências do século 19 foram o tifo e a tuberculose, sendo que esta última ainda mata uns três milhões de pessoas anualmente.
Apesar de suas pestilências calamitosas, o século 19 marcou o ponto de virada para a maioria das grandes pestilências. Já no início do século começou a inoculação em larga escala e a vacinação contra varíola num país após outro. Depois da descoberta dos microorganismos por Louis Pasteur, as verdadeiras causas das doenças epidêmicas começaram a ser entendidas, e isto por sua vez gerou uma série de descobertas médicas dramáticas, especialmente de 1880 em diante.
Desde então foram desenvolvidas vacinas, antibióticos, e outras profilaxias, controles e curas para a maior parte das grandes pestilências, tais como a peste bubônica, cólera, febre amarela, sífilis, tifo, tuberculose e malária. No século 20 a varíola foi virtualmente erradicada. O último caso conhecido foi relatado na Somália em outubro de 1977.
Na realidade, só uma das grandes pestilências ainda resta ser controlada pela moderna ciência médica: a gripe. É verdade que o cólera ainda surge em algumas áreas, particularmente na Ásia, mas a melhoria nos serviços de saúde pública e nos sistemas de eliminação de esgoto reduziu sua incidência; aplica-se a agora o tratamento efetivo (notadamente de administração de líquido) e a mortalidade é baixa hoje em dia. A gripe, em contraste, ainda produz pandemias ocasionais, que são mundiais.
Como esta pestilência causou uns vinte milhões de mortes na grande pandemia de 1918-1919, a liderança das Testemunhas de Jeová menciona constantemente este fato como sua melhor evidência em defesa da alegação de que as pestilências aumentaram a partir de 1914. De modo que parece apropriado concluir esta pesquisa sobre os últimos séculos e suas pestilências com algumas observações sobre a influenza espanhola de 1918-1919. Será que esta doença pandêmica foi realmente sem igual na história das pestilências? Foi ela até mesmo sem igual na história das epidemias de gripe?
Gripe – “a última grande pestilência”
Em quase todas as eras a maioria das pessoas parece ter imaginado que os problemas e catástrofes de seu próprio tempo foram tão grandes que não tiveram paralelo na história da humanidade.52 O motivo disto é que a maioria das pessoas está bem apercebida das calamidades de seus próprios dias, tais como guerras, fomes, crimes, terremotos e epidemias, e geralmente sabem muito pouco sobre a extensão e frequência dessas desgraças no passado.
De modo que não é surpresa alguma que os problemas de hoje possam parecer sem igual para muitos. Até eruditos que podem saber muito sobre a fome, doenças, e calamidades semelhantes no mundo atual raramente pesquisaram profundamente a extensão destes problemas em séculos anteriores. Assim, eles podem às vezes fazer declarações sensacionalistas sobre a “singularidade” desta ou daquela catástrofe de nossa época – declarações que simplesmente não são verdadeiras, mesmo sendo amplamente difundidas e aceitas. Algumas afirmações sobre a gripe espanhola de 1918-1919, citadas nas publicações das Testemunhas de Jeová, pertencem evidentemente a esta categoria. Quais são, então, os fatos sobre a “influenza espanhola”?
Segundo o Dr. Edwin Oakes Jordan, um famoso bacteriologista, a influenza espanhola de 1918-1919 matou 21.642.283 pessoas. Mais da metade destas, ou doze milhões e meio, morreu na Índia. Outros dois milhões morreram na Europa e aproximadamente sete milhões em outras partes do mundo.53 Conforme se mencionou no início deste capítulo, a liderança das Testemunhas de Jeová, citando uma revista americana, sustenta que esta gripe foi a maior pestilência na história mundial, e que mais pessoas morreram dela “do que de qualquer outra epidemia de doenças na história da humanidade.” À base da consideração já apresentada sobre as pestilências do passado, deveria agora estar claro para qualquer leitor atento que esta alegação está em conflito direto com a evidência histórica. A alegação é totalmente falsa. Várias grandes pestilências no passado tiraram mais vidas do que a influenza espanhola. Conforme já foi mostrado, calcula-se que a “Peste de Justiniano”, no sexto século, ceifou 100 milhões de vidas. A Peste Negra, do século 14, provavelmente matou tantos quantos 75 milhões. A epidemia de varíola, na década de 1520, pode ter matado mais de 30 milhões – um terço da população ameríndia total – só na América. E no século 19, o cólera ceifou aproximadamente 100 milhões de vidas em cinco grandes pandemias. Algumas destas pandemias de cólera mataram bem mais de 20 milhões cada uma, sendo, desta forma, totalmente comparáveis à influenza espanhola. É óbvio que a influenza espanhola não foi a “maior” ou “mais destrutiva epidemia” na história da humanidade.
Talvez seja por isto que, às vezes, as alegações das publicações das Testemunhas de Jeová sobre a influenza espanhola colocam ênfase em sua taxa de mortalidade, ou seja, alega-se que ela matou uma porcentagem mais alta dos infectados do que qualquer outra pestilência conhecida. Assim, um artigo sobre a influenza espanhola na revista Despertai! de 8 de setembro de 1971, foi intitulado “O Mais Mortífero Assassino de Todos os Tempos” Daí, na página três o artigo citou uma autoridade anônima como dizendo:
‘Se a epidemia continuasse em seu ritmo matemático de aceleração’ a civilização poderia facilmente desaparecer da terra em questão de algumas semanas mais.’54
Todavia, esta declaração é completamente absurda. Geralmente se calcula que aproximadamente 525 milhões de pessoas – mais de um quarto da humanidade na época – adoeceram com a gripe. Destes, entre 15 e 25 milhões morreram e aproximadamente 500 milhões se restabeleceram.
A mortalidade média, portanto, foi de aproximadamente quatro por cento.55 O que isso significa? Quer dizer que mesmo se toda pessoa na terra tivesse contraído a gripe, a grande maioria da humanidade – cerca de 96 por cento – teria sobrevivido. É óbvio que a civilização nunca esteve em perigo!
Epidemias de gripe geralmente se desenvolvem depressa e se difundem rapidamente entre uma alta porcentagem da população. Com frequência entre 25 e 40 por cento são afetados.
Mas a mortalidade geralmente é baixa. Estas coisas também caracterizaram a epidemia de 1918-1919, embora o nível de aproximadamente quatro por cento de mortalidade tenha sido mais alto do que o habitual.56 Todavia, o fato é que a maioria das grandes pestilências ao longo da história teve mortalidade bem mais alta do que a influenza espanhola.
A febre tifóide e a disenteria ambas as quais costumavam acompanhar as constantes guerras no passado, às vezes matavam respectivamente tantos quantos 20 e 50 por cento dos infectados. A febre amarela tinha uma taxa de mortalidade de 60 por cento ou mais.57 O cólera matava de 50 a 80 por cento dos acometidos por ele. A mortalidade devido à peste bubônica variava entre 30 e 90 por cento, ao passo que a pneumonia – o outro tipo de infecção durante a pandemia da Peste Negra de 1347-1350 – tinha uma taxa de mortalidade de 100 por cento, sem sobreviventes conhecidos!58
Com certeza estaria longe da verdade descrever a influenza espanhola, com uma taxa de mortalidade média de 4 por cento, como “o mais mortífero assassino de todos os tempos”, como faz a liderança das Testemunhas de Jeová. Em comparação com as outras grandes pestilências da história ela foi, em vez disso, um dos menos mortíferos desses assassinos!
O assassino mais rápido?
Uma terceira alegação é que a influenza espanhola colheu seu tributo de morte mais rápido do que qualquer pestilência anterior. “Em toda a história, nunca houve uma visita mais severa e mais rápida da morte”, disse A Sentinela de 15 de setembro de 1977, página 551, citando a revista Sumário Científico (em inglês). Daí mencionou-se que enquanto a Peste Negra ceifou mundialmente 62 milhões de vidas em três anos, a influenza espanhola ceifou 21 milhões de vidas em apenas quatro meses.
O que o artigo não menciona ao leitor é que a influenza espanhola não durou apenas quatro meses. Durou por aproximadamente doze meses, do começo da primavera de 1918 à primavera de 1919.59 Atingiu um auge nos meses do outono de 1918, quando a mortalidade foi a mais alta. Mas comparar o período do auge de mortalidade da influenza espanhola com a duração total da Peste Negra e outras pestilências anteriores, tais como a Peste de Justiniano, resulta certamente num quadro distorcido das taxas de mortalidade, pois estas pestilências anteriores também tiveram seus períodos de auge! Para obtermos um resultado correto, devemos ‘comparar maçãs com maçãs’ e não maçãs com peras. Temos de comparar a taxa de mortalidade durante os auges da influenza espanhola e da Peste Negra, ou a média da taxa de mortalidade de ambas durante o período completo em que perduraram.
Assim, a influenza espanhola matou 21 milhões de pessoas em aproximadamente um ano, ao passo que a Peste Negra ceifou pelo menos 62 milhões de vidas em três anos, o que é o mesmo que aproximadamente 21 milhões por ano!60
Isto é notável, por duas razões. Em primeiro lugar, o meio mais rápido de transporte na época da Peste Negra era o barco ou navio a vela. Em contraste, na época da influenza espanhola os automóveis, trens e navios a vapor proviam maneiras mais rápidas de viajar. Assim, vírus e bactérias que antes levavam várias semanas ou meses para se difundir de um continente para outro, agora poderiam cobrir a mesma distância em relativamente poucos dias.
Em segundo lugar, é notável porque a população mundial na época da Peste Negra correspondia a apenas um quarto do total de 1918. Em três anos a Peste Negra matou pelo menos 14 por cento da população da terra (a estimativa mais conservadora é de 62 milhões de mortos numa população mundial de 450 milhões), ou aproximadamente 5 por cento em cada ano, ao passo que a influenza espanhola matou pouco mais de um por cento da humanidade (21 milhões numa população mundial de 1,8 bilhão).61
Assim, a Peste Negra, muito mais do que a influenza espanhola, é que merece ser chamada de visita mais severa e rápida da morte na história.
O assassino que mais se difundiu?
Finalmente, a influenza espanhola é proclamada “digna de nota porque assolou o mundo inteiro.”62 Porém, muitas pestilências anteriores também tinham se difundido por todo o mundo, tais como algumas epidemias de gripe. Incluem-se entre estas as epidemias de gripe de 1556-1559, 1580, 1732-1733, 1781-1782, 1830-1833, 1857-1858 e 1889-1890. Todas se espalharam rapidamente por todo o mundo e afetaram uma grande porcentagem da população.63
Uma das epidemias de gripe mais fatais foi a pandemia global de 1556-1559 que, conforme já foi observado, exterminou cerca de uma em cada cinco pessoas da inteira população da Inglaterra e de outros países europeus. De novo em 1580, uma epidemia começou na Ásia e se espalhou para a África, Europa e América. Relatórios contemporâneos dizem que “no período de seis semanas ela assolou quase todas as nações da Europa, nas quais dificilmente uma pessoa em vinte não tenha adoecido, e qualquer pessoa sã tornou-se motivo de espanto para outros no lugar.”64 Em algumas regiões a mortandade foi muito alta. Na cidade de Roma morreram 9.000; afirmou-se que algumas cidades espanholas “foram quase completamente despovoadas pela doença.”65
A gripe pandêmica de 1781-1782 que “foi registrada em todos os países europeus, China, Índia e América do Norte” atingiu entre dois terços e três quartos da população em alguns lugares.66 Algumas destas pandemias alcançaram uma mortalidade considerável. Na Inglaterra, a “grande gripe de 1847” foi comparada às devastações do cólera, “pois houve mais mortes por causa da gripe do que tinha havido por causa do cólera durante a grande epidemia dessa doença em 1832.”67
Em resumo, sob qualquer aspecto a gripe espanhola de 1918-1919 está longe de ter sido a “maior” pestilência na história da humanidade. No que se refere à perda total de vidas, diversas outras pestilências no passado mataram mais gente do que a epidemia de 1918-1919.
Nem foi sua taxa de mortalidade a mais alta de todas as grandes pestilências do passado. Em vez disso, a taxa de mortalidade foi menor em comparação com muitas pestilências anteriores. Neste aspecto, ela figuraria, não como “a mais mortífera”, e sim como parte do grupo das menos mortíferas dentre as grandes pestilências da história.
A alegação de que a influenza espanhola foi o assassino mais “rápido” de todos os tempos provou-se falsa também, pois esta alegação baseia-se num uso deficiente das estatísticas.
Finalmente, o alcance mundial da gripe de 1918-1919 não foi de modo algum “digno de nota”, como muitas epidemias anteriores, incluindo várias epidemias de gripe, que também irromperam mundialmente.
De que modo, então, a influenza espanhola foi excepcional? Foi ela sem igual em algum aspecto? Ela pode ter sido sem igual num aspecto, embora até mesmo isto seja impossível provar. A influenza espanhola pode ter matado mais pessoas do que qualquer epidemia de gripe anterior. Esta parece ser a opinião de muitos peritos. Segundo a Enciclopédia Britânica, “a epidemia de 1918 foi a mais destrutiva [epidemia de gripe] da história.”68 O Dr. Beveridge, em sua revisão das epidemias de gripe, tende a concordar, descrevendo-a no princípio como “a maior visita [da gripe] já experimentada pela raça humana.”69 E ele ainda está bem convencido disto. A humanidade foi visitada periodicamente pelas epidemias de gripe desde épocas primitivas, das quais várias tiveram alcance mundial e alta mortalidade. Porém, os registros históricos estão longe de serem completos e geralmente faltam os números referentes à mortalidade.
Beveridge, que descreve brevemente as 16 principais epidemias de gripe durante os 200 anos que antecederam imediatamente a influenza espanhola, conclui sua discussão desta última doença dizendo o seguinte:
A pandemia de 1918-19 foi sem dúvida a mais grave em épocas recentes e viemos a pensar nela como muito excepcional. Todavia, talvez ela não tenha sido sem igual. Com base nos relatos históricos, algumas epidemias de épocas anteriores que podem ter sido gripes foram tão devastadoras quanto ela.70
De modo que até mesmo neste aspecto particular a influenza espanhola pode não ter sido única.
Aumentaram as pestilências no século 20?
Para o quadro moderno se ajustar à alegação de que vivemos agora num período único e marcado profeticamente, deveria haver evidência de um aumento das pestilências em nossa época. Apesar de não dizer especificamente que isto ocorre, o Dr. Graham, em seu tratado sobre os quatro cavaleiros do Apocalipse, escreveu sobre “as formas inanimadas das 40.000 crianças que morreram de fome e infectadas no curto período em que você dormia”, e acrescenta, “Ajunte-se a isso as vítimas de pestes e pragas no Terceiro Mundo que agora varrem cidades e aldeias da terra assoladas pela escassez e pela seca.” (O Tropel Que Se Aproxima, página 184 em inglês) Depois, ao declarar que o Senhor “nos advertiu de que haveria pestilências”, ele prossegue dizendo: “Hoje estamos sendo advertidos pelos cientistas sobre bactérias, vírus e insetos que são altamente resistentes à radiação, antibióticos ou inseticidas. Alguns creem que o equilíbrio da natureza já foi afetado por causa de substâncias químicas modernas.” (Página 192 em inglês)
O que realmente descobriremos se acrescentarmos as vítimas das pestes e pragas do Terceiro Mundo – ou mesmo as do resto do planeta – em nossa época? Encontraremos o aumento sobre o qual muitos expositores do fim dos tempos avisam? Há realmente indicações significativas de perspectivas sombrias para o futuro próximo?
A resposta que todos os pesquisadores qualificados – historiadores, médicos e outros peritos que estudaram o assunto – dão a esta pergunta é unânime: As pestilências não aumentaram durante o século vinte. Elas diminuíram. Considere estas observações:
Professor Folke Henschen, patologista:
As doenças infecciosas que uma ou duas gerações atrás constituíam o maior grupo em nossas estatísticas de morbidez e de mortalidade declinaram devido ao avanço de medicina.71
Matts Bergmark, historiador médico:
… são precisamente as doenças infecciosas que diminuíram.72
Herbert L. Schrader, historiador médico:
... os subjugadores das pestilências conquistaram a maior vitória já conseguida durante seis mil anos de história mundial: a vitória sobre a morte prematura.73
Professor William H. McNeill, historiador:
Na maioria dos lugares as doenças epidêmicas se tornaram de pouca importância, e muitos tipos de infecção se tornaram raros onde antigamente eram comuns e graves. O ganho real para a saúde e alegria humana é difícil de exagerar; exige-se agora realmente um esforço de imaginação para compreender o que a doença infecciosa significava antes para a humanidade, ou até mesmo para nossos próprios avós.74
Esta enorme diminuição nos surtos de pestilências, uma diminuição que continua desde o fim do século dezenove, é um fato firmemente estabelecido por meio da história médica, um fato que nenhuma pessoa informada sonharia em negar. Embora situe o início da geração do fim em 1948, o autor Hal Lindsey reconhece isso “Nesta época da moderna ciência médica, as pestilências parecem ser coisas do passado.” Por isso, a única coisa que ele pode fazer é expressar antecipação do possível reavivamento delas no futuro próximo, dizendo: “Mas há novos fatores que fazem das pestilências uma real possibilidade para o futuro”75
A liderança das Testemunhas de Jeová, porém, recusa-se categoricamente a aceitar o fato de que as doenças epidêmicas diminuíram no século 20. Eles são obrigados a negar isto porque suas interpretações e alegações proféticas amplamente difundidas insinuam que as pestilências não diminuíram, mas aumentaram. Assim eles se agarram desesperadamente à sua lista de doenças infecciosas que ainda são proeminentes em diversas partes do mundo e fazem constante referência a elas em defesa da ideia de que o “sinal” apareceu na terra desde 1914.
Um exemplo ao qual se faz constante referência é a malária. A Sentinela de 1º de novembro de 1983, por exemplo, enfatiza que esta doença mata anualmente um milhão de crianças abaixo da idade de cinco anos na África, e que “mais de 150 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem atualmente de calafrios, febre e outros sintomas da malária.” (Página 7)
Todavia, não se diz aos leitores que a extensão desta doença foi acentuadamente reduzida no século 20. Conforme foi enfatizado numa nota de rodapé anterior, mais de um terço da humanidade sofreu desta doença em séculos anteriores e a mortalidade por causa da malária no passado era muito mais alta do que hoje, quando ela pode ser curada clinicamente pelo uso de fármacos.76 Em séculos anteriores a malária influenciou profundamente as sociedades humanas ao longo do mundo:
Na Índia muitos séculos antes da era atual, ela foi chamada de ‘Rei das Doenças’, e era também conhecida na China antiga. Se, conforme afirmam alguns historiadores, ela foi decisiva na queda da Grécia e de Roma e causou os misteriosos despovoamentos que deixaram portentosas ruínas em Polonnaruwa, Sri Lanka, e em Anker-Wat, no Camboja Democrático, não se pode determinar; mas é certo que a malária foi um dos grandes flagelos da humanidade.”77
Quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial, 800 milhões de pessoas ainda sofriam de malária. Desde então, medicamentos modernos reduziram grandemente o grau de mortalidade da doença, e, principalmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o DDT e outros inseticidas livraram amplas regiões geográficas desse mal. Conforme escreveu uma autoridade:
Em termos geográficos, a malária foi eliminada de toda a Europa, de quase toda a URSS, de vários países do Oriente Próximo, dos EUA e da maior parte do Caribe, de grandes áreas das partes norte e sul da América do Sul, da Austrália, e de grandes porções da China.78
Assim os casos de malária foram reduzidos de 800 milhões para aproximadamente 250 milhões em 1955, e para uns 150 milhões na década de 1970. Infelizmente, houve um aumento no número de casos na década de 1980, devido ao aumento da resistência dos mosquitos aos inseticidas em algumas regiões. Segundo a contagem feita pela Organização Mundial de Saúde, o número de casos em 1985 era de 365 milhões. (Veja a Despertai! de 8 de março de 1985, página 29.) Isto ainda é menos do que o número afetado na época da Primeira Guerra Mundial. Perspectivas futuras parecem indicar que novos inseticidas e medicamentos antimaláricos serão desenvolvidos; a pesquisa recente sugere que uma vacina malárica poderá estar disponível dentro dos próximos anos.79
É possível que o progresso na redução da tuberculose tenha sido mais notável. Segundo o mesmo número de A Sentinela já citado (1º de novembro de 1983, página 4) ela mata anualmente cerca de 3 milhões de pessoas. De novo, a revista não diz ao leitor que esta doença teve seu maior impacto em meados do século 19, quando matava implacavelmente um décimo da população. Durante o século 19 a tuberculose ainda era “a mais mortífera de todas as doenças na Europa.”80 Desde a descoberta do bacilo da tuberculose em 1882, desenvolveram-se diferentes vacinas e medicamentos contra esta doença, resultando numa diminuição constante da mortalidade, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial.81 (Veja a figura acompanhante.)
O DECLÍNIO DA MORTALIDADE DEVIDA À TUBERCULOSE, 1870-1950
Como evidência de que “o quarto cavaleiro [do Apocalipse] cavalga” em nossa época, o Dr. Graham alista o herpes simples II e a AIDS entre as “pestilências nocivas” e “doenças destruidoras”.82
Regularmente a liderança das Testemunhas de Jeová inclui também as doenças venéreas, sobretudo a sífilis, a gonorréia, a clamídia, o herpes e a AIDS como parte de seu “sinal dos últimos dias”.83
Embora doloroso, o herpes simples não é certamente uma doença letal e de modo algum se classifica sob a definição bíblica de pestilência.
A sífilis, como já foi observado, foi muito desastrosa no século 16, quando milhões das pessoas morreram disto. Embora ela tenha continuado a assolar desde então, sua mortalidade decresceu. Desde 1909 estão disponíveis medicamentos que a controlam parcialmente (salvarsan em 1909; penicilina desde 1943). O número de casos diminuiu durante duas décadas depois da Segunda Guerra Mundial, mas a partir da década de 1960 foi aumentando novamente em diversos países, embora a taxa de mortalidade continue a declinar.84
A gonorréia também era difundida no passado. “Ela figura entre as doenças mais antigas”, diz a Enciclopédia Britânica, e era familiar aos antigos chineses, árabes, gregos, hindus e romanos.85 É impossível dizer se a gonorréia é mais difundida hoje do que no passado, embora ela tenha apresentado um aumento mundial desde meados da década de 1950, seguindo-se daí um período de declínio. Como a sífilis, ela é tratada com penicilina. É verdade que os gonococos desenvolveram uma resistência crescente à penicilina, mas ao mesmo tempo eles mudaram suas características, resultando em sintomas mais moderados.86 Embora as complicações às vezes possam ser severas, a mortalidade por causa da gonorréia é desprezível.
O mesmo é verdade no caso da clamídia (a qual em alguns aspectos se assemelha à gonorréia) e, conforme mencionado, do herpes. Como a palavra grega para pestilência, loimos, define-se como “qualquer enfermidade mortalmente infecciosa”, parece forçoso classificar quaisquer destas três doenças entre as pestilências mencionadas em Lucas 21:11.
Por outro lado, a AIDS apresenta uma alta taxa de mortalidade, conforme mostrado pelo fato de que cerca de 80 por cento dos pacientes morreram dois anos depois do diagnóstico. Mas será que a AIDS é uma doença epidêmica? Uma doença é epidêmica quando “prevalece e se alastra rapidamente entre muitas pessoas numa comunidade, como uma doença contagiosa.”87 Pode isto ser dito da AIDS hoje?
Certamente o número de pessoas infectadas pelo vírus da AIDS (HTLV-III) é alto em alguns países.88 Porém, até onde se sabe, só uma minoria – entre 5 e 20 por cento dos que estão no grupo de alto risco de infecção – desenvolverá realmente a doença.89 Ademais, como o vírus não é transmitido pelo ar ou através de contatos comuns, mas em vez disso por via sexual, especialmente contatos homossexuais, por transfusões de sangue e derivados sanguíneos infectados, e por injeções intravenosas de drogas, o risco de ser infectado é pequeno fora dos “grupos de risco” direto (homossexuais ativos, hemofílicos e usuários de drogas intravenosas).
A proporção de casos de AIDS nos Estados Unidos fora dos grupos de risco não está aumentando, mas permaneceu constante – cerca de um por cento – nos últimos anos, e calcula-se que nos Estados Unidos a probabilidade de as pessoas fora dos grupos de risco contraírem AIDS “é de menos de uma em um milhão.” (Revista Discover de dezembro de 1985, págs. 31, 49) Por volta de junho de 1986, havia aproximadamente 30.000 casos conhecidos de AIDS mundialmente, dos quais mais de 21.000 tinham ocorrido nos Estados Unidos. Cerca de metade destes ocasionou a morte. Há alguns anos o período necessário para dobrar o número de casos informados nos Estados Unidos era de seis meses, mas desde então foi aumentando, chegando a aproximadamente 12-14 meses no momento (isto é, em 1986). Isto indica que a taxa de difusão está desacelerando. Tudo isso mostra também que a doença não se alastra rapidamente, como no caso de uma epidemia generalizada.
Incontestavelmente, a AIDS é uma infecção muito perigosa, que eventualmente poderia matar centenas de milhares de pessoas se não for controlada.90 Mas parece muito improvável que ela algum dia alcance proporções comparáveis às grandes pestilências do passado. O professor Sten Iwarson, chefe da clínica de infecções em Gotemburgo, Suécia, e eminente autoridade em AIDS naquele país, explicou numa entrevista ao jornal sueco Göteborgs-Posten de 2 de junho de 1985:
Atualmente a AIDS é a doença mais perigosa, mas como pestilência ela é limitada a certos grupos de risco. Não se pode comparar a AIDS com a Peste Negra ou a Gripe Espanhola nas quais morreram pessoas aos milhões. O modo de transmissão é diferente, e a sociedade é diferente… A AIDS é transmitida por relações sexuais e por transfusões de sangue e limita-se a certos grupos de risco. Embora um número menor de pessoas fora dos grupos de risco também possa ser atingido, não há realmente qualquer indicação de que ela se desenvolverá numa pestilência geral.
Só o futuro, é claro, poderá dizer o que resultará desta nova infecção. De qualquer maneira, não se pode usar a mera possibilidade de uma epidemia futura para provar que as pestilências aumentaram desde 1914, e uma recapitulação das doenças venéreas durante os quase cem anos desde aquela data também não dá qualquer apoio a essa alegação.
Tendo em vista estes fatos não surpreende que os expositores do fim dos tempos, e particularmente a liderança das Testemunhas de Jeová, tentem melhorar o “sinal da pestilência” extrapolando os limites da verdadeira pestilência e citando outras doenças não infecciosas como “evidência” adicional. Assim, abordando o “sinal dos últimos dias”, A Sentinela de 1º de novembro de 1983 disse na página 5:
A ciência está longe da vitória sobre as moléstias e as doenças. Por exemplo, as doenças cardíacas continuam sendo a causa principal de morte prematura nos países industrializados.
Embora a declaração, em si mesma, seja precisa, na realidade ela prova bem distintamente que as pestilências, no verdadeiro sentido do termo, diminuíram no século 20. Como assim?
Pois a causa principal de morte prematura em séculos anteriores não eram as doenças cardíacas, mencionadas pela Torre de Vigia, e sim precisamente as pestilências ou doenças infecciosas. Mostrando a mudança que ocorreu, o professor Hofsten declara:
Em todas as partes do mundo a mortalidade é agora consideravelmente mais baixa do que no passado. Um desenvolvimento mais marcante em direção à redução da mortalidade começou na Europa Setentrional e Ocidental por volta de 1800.
Sobre a situação nos países desenvolvidos, Hofsten prossegue dizendo:
Se forem consideradas as causas de morte, poder-se-ia dizer que agora as doenças infecciosas quase desapareceram como causa da morte. Antigamente, estas doenças afetavam pessoas de todas as idades sendo a razão mais importante pela qual a mortalidade entre as crianças e jovens naquela época era tão alta.91
Antes do século 19 o período médio de vida estava entre 20 e 30 anos.92 Atualmente, é mais que o dobro dessa idade em nível mundial. A expectativa de vida nos países industrializados e de até 75 anos ou mais, enquanto que nos países em desenvolvimento ela aumentou para entre 30 e 60 anos.93
É óbvio que todas as pessoas morrem, mais cedo ou mais tarde. Diversas são as razões. Se a morte vem mais tarde na vida, as causas são geralmente as doenças degenerativas ou em decorrência da velhice. E o câncer e as doenças cardíacas são – primariamente – doenças da velhice.94 Escrevendo a respeito do câncer, Bergmark diz que “esta temível doença é comparativamente rara em idades abaixo dos 50 anos.”95 E a respeito de ambas, Schrader diz:
As duas causas comuns de morte [em países desenvolvidos] na virada do século 19 ainda eram a tuberculose e o cólera. Hoje são as doenças do coração e circulatórias e o câncer, dois flagelos aos quais um corpo envelhecido ou prematuramente debilitado está exposto.96
Assim, precisamos distinguir entre “mortes devidas ao envelhecimento do organismo (basicamente, as doenças do coração e do sistema circulatório, e o câncer), e mortes por causa de infecções ou acidentes.”97 As pestilências são infecções. As doenças do coração e o câncer não. Se, conforme se mostrou, estas últimas constituem a principal causa de morte nas nações desenvolvidas, isto prova que as mortes em decorrência de pestilência foram notavelmente reduzidas nestes países.
O QUE EMINENTES AUTORIDADES DIZEM SOBRE AS PESTILÊNCIAS HOJE E NO PASSADO “A criação… de um ‘mercado comum’ de micróbios, passou por uma particularmente intensa, rápida, dramática, e poder-se-ia até dizer apocalíptica fase, durante o período entre 1300 e 1600. O sacrifício de vidas humanas resultante da difusão mundial de agentes patogênicos durante aqueles três séculos não teve qualquer paralelo antes ou desde então.” – Emmanuel Le Roy Ladurie, historiador francês, A Mente e o Método do Historiador (Brighton, Sussex, Inglaterra, 1981), página 30 em inglês. “Nós que vivemos em países civilizados onde a medicina fez tremendos progressos, e a higiene é pregada e praticada, não sabemos nada sobre tais pragas que varreram continentes inteiros na Idade Média.” – Os Bens Materiais da Humanidade. A História da Riqueza das Nações, Leo Huberman (Nova Iorque e Londres, 1968), página 50 em inglês. “As doenças infecciosas, que uma ou duas gerações atrás constituíam o maior grupo em nossas estatísticas de morbidade e mortalidade, foram deixadas para trás pelo avanço da medicina.” – A História das Doenças, Professor Folke Henschen (Londres, 1966), página 1 em inglês. “De muitas maneiras, pode-se pensar a respeito dos meados do século vinte como o fim de uma das revoluções sociais mais importantes da história, a virtual eliminação da doença infecciosa como um fator significativo na vida social.” – Sir MacFarlane Burnet, História Natural da Doença Infecciosa (Cambridge, Inglaterra, 1962), página 3 em inglês. “Na maioria dos lugares as doenças epidêmicas se tornaram de pouca importância, e muitos tipos de infecções se tornaram raros onde antes eram comuns e graves. O lucro líquido para a saúde e alegria humana é difícil de ser exagerado; realmente exige-se agora um ato de imaginação entender o que a doença infecciosa significava para a humanidade antigamente, ou até mesmo para nossos próprios avôs.” – As Pragas e os Povos, professor William H. McNeill, (Nova Iorque, 1976), página 287 em inglês. “Os subjugadores de pestilências ganharam a maior vitória que já foi ganha durante seis mil anos de história mundial: a vitória sobre a morte prematura.” – Und dennoch siegte das Leben, Herbert L. Schrader (Stuttgart, 1954), página 278 em alemão. “A realização mais notável do século vinte pode ser a erradicação das grandes pandemias que já varreram nações e continentes inteiros, incapacitando, mutilando, apavorando e matando milhões.” – O Grande Livro Internacional do Desastre, James Cornell (Nova Iorque, 1979), página 182 em inglês. |
Embora as doenças do coração e o câncer sejam agora as principais causas de morte nas nações desenvolvidas significa isso automaticamente que tais males estão aumentando nesses países? A liderança das Testemunhas de Jeová sustenta que sim, ao dizer na Sentinela de 15 de janeiro de 1985, página 11:
Nos países mais desenvolvidos, os casos de câncer, de doenças cardíacas, de diabetes, de cirrose hepática e de distúrbios emocionais estão aumentando.
No que se refere ao câncer, isto simplesmente não é verdade. Numa entrevista para o jornal sueco Göteborgs-Posten (20 de outubro de 1984), o mundialmente famoso pesquisador do câncer, o professor Richard Peto, disse que “é um conceito errôneo comum entre o público em geral que o número de casos de câncer está aumentando. Mas isto está errado. Quando se compara a frequência da doença dentro da mesma faixa etária de ano para ano, encontramos em vez disso uma diminuição – com exceção do câncer do pulmão.”
No geral, o mesmo vale para as doenças cardíacas. Embora os ataques cardíacos estejam aumentando em alguns países, como é o caso da Suécia, é bem conhecido entre os pesquisadores que esses ataques estão agora diminuindo em muitas outras nações industrializadas, incluindo os EUA.98 O que ocorre, então, é que o câncer e os males cardíacos tendem a acometer cada vez mais tarde na vida. A razão? Mui simplesmente porque, no geral, as pessoas em nossa época estão usufruindo de melhor saúde e vivendo mais.
Atualmente, neste século 21, as pessoas ainda ficam doentes e morrem. Mas só uma diminuta fração delas morre devido à pestilência, menos do que em qualquer período da história conhecida. Apesar dos terríveis pressentimentos e dos apavorantes cenários apresentados dramaticamente por alguns autores e fontes religiosas, os fatos mostram que o quadro da saúde em nossa época não é sombrio, e sim consideravelmente mais luminoso para a humanidade como um todo.
Notas
1 – A Promessa (1982), página 198 em inglês
2 – Veja também declarações similares na Despertai! de 8 de setembro de 1971, página 3, e em A Sentinela de 15 de outubro de 1982, página 9.
3 – Veja A Sentinela de 15 de abril de 1962, página 250, e A Sentinela de 15 de abril de 1976, página 242.
4 – Despertai! de 22 de julho de 1956 (em inglês), págs. 22-24; Despertai! de 8 de setembro de 1971, pág. 6.
5 – Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1989), pág. 151.
6 – Dicionário Vine, O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, W. E. Vine, Merril F. Unger e William White Jr., CPAD (2003), Rio de Janeiro, RJ, Brasil, pág. 875. Assim, a palavra loimos é normalmente vertida como “pestilências” (“pestes”, conforme a tradução mais usual para o português – BEP, CBC, BMD, TEB, NVI e BDJ) ou “epidemias” (FIG, ALF, ALA, VMC, BLH e ARC).
7 – A palavra grega thánatos, “morte”, era também usada para pestilência ou praga, como por exemplo a mencionada em Revelação 6:8. O nome do cavaleiro no cavalo descorado era Thánatos (geralmente traduzido como “Morte”). Ele era seguido por Hades, o deus do mundo inferior na mitologia grega, aqui usado evidentemente como um símbolo da morte ou sepultura. “Foi-lhes dado poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome, por pragas (grego: thanatos) e por meio dos animais selvagens da terra. (NVI) Estes flagelos são uma alusão a Ezequiel 14:21, onde a palavra hebraica para pestilência, deber, é traduzida como thánatos na versão Septuaginta Grega.
8 – Embora a oncocercose (cegueira do rio) possa causar cegueira, ela não é fatal. Depois de uma campanha de dez anos a OMS (Organização Mundial de Saúde) foi bem-sucedida em controlar a oncocercose na África Ocidental, onde esta doença era muito difundida. (Veja a revista Saúde Mundial de outubro de 1985, págs. 6, 8, 19, 24 em inglês.)
Quando tratadas, o lúpus e a esquistossomose raramente causam a morte. Não só a mortalidade devida à esquistossomose é desprezível hoje, em comparação com séculos anteriores, como também a área geográfica afetada foi acentuadamente reduzida em muitos países que antes eram severamente atingidos pela doença, tais como a China, Japão, Filipinas, Brasil, Venezuela, Porto Rico, Egito, Marrocos, Sudão, Congo, Malaui, Zimbábue e Mali. (Veja a revista Saúde Mundial de dezembro de 1984 em inglês.)
A Doença de Chagas pode eventualmente levar à morte, mas evidentemente ela não prevalece hoje mais do que no passado. E embora talvez tantos quantos 350 milhões de pessoas padecessem de malária em 1987, isto representa na verdade um acentuado declínio desta doença desde 1914. Em séculos anteriores mais de um terço da humanidade padecia desse mal e muitos milhões morriam todo ano por causa dele. Na época do irrompimento da Primeira Guerra Mundial, 800 milhões de pessoas – 45 por cento da população mundial na época – ainda eram acometidas por esta doença. (Schrader, pág. 184 em inglês) Em 1986, apesar do rápido aumento que houve nos anos imediatamente anteriores àquele, apenas 7,5 por cento sofriam disso.
9 – Veja, por exemplo, A Sentinela de 15 de abril de 1976, página 242.
10 – As Pragas e os Povos, William H. McNeill (em inglês – Anchor Press/Doubleday, Garden City, Nova Iorque, 1976), edição completa, pág. 4. Veja também as páginas 120, 135.
11 – A História das Doenças, Folke Henschen (Londres: Longman, Green e Cia. Ltda., 1966), pág. 21 em inglês.
12 – A obra está também disponível numa edição abreviada, de bolso, na série Anchor Books.
13 – McNeill, pág. 116 em inglês. Por volta da mesma época, em 161-162 D.C., uma pestilência semelhante começou na China, matando 30-40 por cento do exército que servia na fronteira noroeste. (McNeill, pág. 132 em inglês) Todas as citações que seguem são da edição completa.
14 – McNeill, págs. 116-118, 321. Autores contemporâneos dizem que a pestilência de 251 D.C. espalhou-se “por todo o mundo conhecido.” – As Pragas e as Pestilências na Literatura e na Arte, Raymond Crawford (Oxford, 1914), pág. 74 em inglês.
15 – McNeill, págs. 132, 135 em inglês.
16 – As Guerras Persas, Procópio, TI, 22.6-39; McNeill, pág. 322 em inglês.
17 – Fran pest till polio (“Da Pestilência à Pólio”), do historiador e médico sueco Matts Bergmark, terceira edição em sueco (Estocolmo, 1983), página 11.
18 – Veja A Sentinela de 15 de setembro de 1977, página 551.
19 – McNeill, pág. 120 em inglês; Henschen, pág. 78 em inglês. Em A Civilização e a Doença (Ithaca, Nova Iorque, 1945) o professor Henry E. Sigerist argumenta que a Peste de Justiniano trouxe o fim do Império Romano tanto no leste como no oeste e conclui: “Assim o 6º século marca um momento decisivo na história do mundo mediterrâneo, e a grande Peste de Justiniano parece ser a linha demarcatória entre os dois períodos… O velho mundo caiu, e de suas ruínas uma nova civilização começou a erguer-se lentamente.” (Págs. 113-115 em inglês)
20 – McNeill, pág. 127 em inglês.
21 – Ibid., pág. 134 em inglês.
22 – Ibid., págs. 134, 135 em inglês.
23 – Ibid., págs. 140, 141 em inglês.
24 – Ibid., págs. 128, 334, 293-302 em inglês. O Egito sofreu pestilências constantes de 541 D.C. até o século 19. Em certo momento no período da fome de 1053-1060, morriam 10.000 por dia no Cairo, e em 1201 dois terços da inteira população do Egito morreram em questão de poucos meses! “A Síria também, parece ter perdido metade de sua população entre o segundo e o oitavo séculos D.C.” – A Demografia Histórica, T. H. Hollingsworth (Londres e Southampton, 1969), págs. 308, 309 em inglês.
25 – McNeill, pág. 162 em inglês.
26 – Um Espelho Distante. O Calamitoso Século 14, Barbara W. Tuchman, Londres: MacMillan Londres Limited, 1979, página 93 em inglês. Veja também McNeill, página 190 em inglês.
27 – McNeill, pág. 187 em inglês. No Cairo, tantos quantos 20.000 morriam por dia em 1348. (Hollingsworth, pág. 309) Calcula-se que o inteiro mundo muçulmano (Oriente Médio e África do Norte) sofreu perdas proporcionais semelhantes: “Por volta de 1349, todo o mundo muçulmano foi engolfado pela Peste Negra. Cerca de um terço da população total e talvez de 40% a 50% dos que viviam nas cidades morreram.” (A Peste Negra, Robert S. Gottfried, Londres, 1983, pág. 41 em inglês.)
28 – Esta é a estimativa do erudito do século 19 J. F. K. Hecker, cujos números são os mais conservadores de todos. Veja A Peste Negra de 1347, George Deaux (da série Momentos Decisivos da História, editado por Sir Denis Brogan, Londres, 1969), pág. 75 em inglês.
29 – George Deaux, págs. 111-114 em inglês; Bergmark, pág. 52 em inglês; Tuchman (1978), pág. 92 e seguintes em inglês.
30 – Bergmark, págs. 28-30 em inglês; Bra Böckers Världshistoria (“História Mundial dos Bons Livros”), K. Lunden, Vol. 6 (Höganäs, Suécia, 1984), pág. 26.
31 – “Peste Negra” é um nome que se deu às visitas posteriores da pestilência, embora ele agora seja geralmente usado para se referir ao primeiro ataque em 1347-1350.
32 – McNeill, pág. 168 em inglês. A Enciclopédia de Collier (Vol. 4, 1974, pág. 234 em inglês) diz que o total de 25 milhões de mortes na Europa “é a estatística de J. F. K. Hecker, a qual é a mais baixa de todas as apresentadas pelas autoridades.” Os estudos mais recentes tendem a mostrar que a estimativa de Hecker foi muito baixa. (K. Lunden, págs. 17-22 em inglês) Em 1931, o professor A. M. Campbell concluiu que “os números pareceriam… apoiar as estimativas de que a perda de população suportada pela Europa devido à Peste Negra foi mais próxima da metade do que de um quarto” (A Peste Negra e os Homens do Saber, Nova Iorque, 1931, pág. 145 em inglês)
33 – George Deaux, págs. 111, 144 em inglês. Calcula-se que a população da terra era de aproximadamente 450 milhões antes do ataque da Peste Negra. (E. Hofsten, Befolkningslära, Lund, Suécia, 1982, pág. 16)
34 – Bergmark, pág. 37 em inglês.
35 – O historiador sueco Michael Nordberg diz que o resultado das epidemias foi “pelo menos tão terrível quanto em 1348-50.” Ele dá os seguintes exemplos: “Londres perdeu em cada pestilência as seguintes partes de sua população: 1563: 25-30 por cento; 1593: cerca de 18 por cento; 1603: 22-26 por cento; 1625: cerca de 25 por cento; 1636: quase 10 por cento; 1665 (a Grande Pestilência): cerca de 28 por cento. Ainda piores foram as perdas em muitas cidades do norte da Itália na severa epidemia de 1630: Milão, 35-40 por cento; Veneza, 35 por cento; Pádua, 44 por cento; Parma, 50 por cento; Verona, 59 por cento; Bréscia, 45 por cento; Cremona, cerca de 60 por cento e Mântua, 69 por cento!” (Den dynamiska medeltiden, Estocolmo, 1984, pág. 32 em sueco)
36 – Tuchman (1979), pág. 119 em inglês. Devastações semelhantes ocorreram na África e na Ásia. Em 1380, por exemplo, a pestilência matou outros 13 milhões de pessoas na China. (Enciclopédia de Collier, Vol. 4, 1974, pág. 234 em inglês)
37 – McNeill, pág. 169.
38 – Ibid., págs. 163, 190.
39 – Despertai! de 22 de julho de 1956 (em inglês), págs. 22-24.
40 – Bergmark, pág. 59 em inglês.
41 – Bergmark, págs. 83, 87, 91 em inglês. Veja também Miragem de Saúde, René Dubos (Nova Iorque, 1959), capítulo seis em inglês, e a Despertai! de 8 de fevereiro de 1985, página 3.
42 – McNeill, págs. 203, 204 em inglês. Compare também com a abordagem do eminente historiador europeu Fernand Braudel em sua obra A Civilização e o Capitalismo nos Séculos 15 a 18: As Estruturas da Vida Cotidiana (Londres, 1981), págs. 35-38 em inglês. Também, A Mente e o Método do Historiador, Emmanuel Le Roy Ladurie (Brighton, Sussex, Inglaterra, 1981), págs. 72, 76 e 77 em inglês.
43 – McNeill, pág. 209 em inglês.
44 – McNeill, pág. 209 em inglês. Embora faltem os números de mortos, é bem possível que esta epidemia de gripe seja comparável à influenza espanhola de 1918-1919 no que se refere ao alcance e mortandade.
45 – Braudel, pág. 36 em inglês; McNeill, págs 204, 205 em inglês.
46 – McNeill, pág. 213 em inglês.
47 – Ibid, pág. 214 em inglês.
48 – Ibid., pág. 215 em inglês.
49 – Bergmark, págs. 114, 115 em inglês.
50 – Bergmark, págs. 191, 207-209 em inglês; Herbert L. Schrader, Und dennoch siegte das Leben (Stuttgart, 1954), págs. 64-67, 70, 71. O cólera ainda surge em algumas partes do mundo, especialmente na Ásia, onde é pandêmico. Porém, aplicam-se medidas efetivas de tratamento (administração de líquidos) e a taxa de mortalidade é baixa hoje em dia.
51 – Dubos, capítulo 6 em inglês.
52 – Veja as observações pertinentes do Dr. N. W. Pirie na “Introdução” ao seu livro Recursos Alimentares Convencionais e Modernos (em inglês – Londres, 1969).
53 – A Gripe Epidêmica, Dr. Edwin Oakes Jordan (1927); Encyclopaedia Britannica, Vol. 12 (1969), pág. 242 em inglês; Despertai! de 8 de setembro de 1971, pág. 6. Um perito, citado na página 30 da Despertai! de 22 de junho de 1977, acha que o total de 21 milhões de mortos “se trata ‘provavelmente de grosseira subestimativa’ pois esse total poderia ser dos que morreram apenas no subcontinente indiano.” Se fosse possível confirmar isso, o número total de mortos se elevaria para aproximadamente 30 milhões.
54 – Essa afirmação é repetida no livro das Testemunhas de Jeová intitulado A Vida — Qual a Sua Origem? A Evolução ou a Criação? (1985), página 225, onde a referência mostra que sua fonte foi Joseph E. Persico, em Sumário Científico, março de 1977, página 79 em inglês.
55 – Bergmark, pág. 260 em inglês. Segundo Jordan e Henschen, aproximadamente 50 por cento da humanidade (um bilhão na época) adoeceu, o que reduziria a mortalidade média para dois por cento. Henschen situa a taxa em 0,25 por cento, que é muito baixa. (Enciclopédia Britânica. Vol. 12, 1969, pág. 242 em inglês; Henschen, pág. 52 em inglês) Na maior parte dos lugares a mortalidade foi bem mais baixa do que a mortalidade global de dois por cento, sugerida por Jordan e Henschen. Nos EUA, por exemplo, ela foi de 0,5 por cento. Em uns poucos lugares foi consideravelmente mais alta. Na Índia morreram quatro por cento da população, e em Samoa Ocidental 20 a 25 por cento da população; morreram 7.500 entre uma população de 38.000 (Gripe: A Última Grande Pestilência, W. I. Beveridge, Londres, 1977, pág. 31 em inglês; A Sentinela de 15 de dezembro de 1978, pág. 15)
56 – Enciclopédia Britânica. Vol. 12 (1969), página 242 em inglês. Porém a mortandade não foi sem igual entre as epidemias de gripe. Algumas epidemias de gripe anteriores tiveram uma mortandade muito maior!
57 – Bergmark, págs. 141, 154, 232 em inglês.
58 – McNeill, pág. 168 em inglês.
59 – Beveridge, págs. 21, 42, 43 em inglês.
60 – Se for argumentado que a influenza espanhola pode ter matado mais de 21 milhões, talvez 25 milhões ou mais, deve-se lembrar que a Peste Negra também matou mundialmente mais de 62 milhões, provavelmente 75 milhões ou mais.
61 – Isaac Asimov, mostrando que a Peste Negra pode “ter matado um terço de toda a população humana do planeta”, compara-a com a influenza espanhola e conclui: “Todavia, a epidemia de gripe matou menos de 2 por cento da população mundial, de modo que a Peste Negra permanece sem paralelo.” (Uma Seleção de Catástrofes, Londres, 1980, págs. 241, 243 em inglês.)
62 – A Sentinela de 15 de dezembro de 1978, pág. 15.
63 – Beveridge, págs. 26-30 em inglês; McNeill, pág. 209 em inglês.
64 – Beveridge, pág. 26 em inglês.
65 – Ibid., pág. 26 em inglês.
66 – Ibid., pág. 28 em inglês.
67 – Ibid., pág. 29 em inglês; McNeill, pág. 209 em inglês.
68 – Enciclopédia Britânica. Vol. 12 (1969), pág. 242 em inglês.
69 – Beveridge, pág. 32 em inglês.
70 – Beveridge, págs. 32, 33 em inglês.
71 – Henschen, pág. 1 em inglês.
72 – Bergmark, pág. 326 em inglês.
73 – Schrader, pág. 278 em inglês.
74 – McNeill, pág. 287 em inglês.
75 – A Década de 1980 – Contagem Regressiva para o Armagedom, Hal Lindsey (Nova Iorque, 1981), págs. 30, 32 em inglês. Os “novos fatores” – o número de pessoas famintas ou subnutridas associado à superpopulação das regiões mais pobres do mundo, e os resultantes problemas sanitários, escassez de remédios e de médicos – estão “transformando estas regiões pobres em solo fértil para a doença”, diz Lindsey. (Página 32) Todavia, com exceção da superpopulação, nenhum dos “novos fatores” é realmente novo nestas regiões. Eles são problemas antigos.
76 – Veja a nota de rodapé 8 deste capítulo.
77 – J. H. – G. Hempel em A Saúde Mundial, a revista da Organização Mundial de Saúde, abril de 1982, pág. 6 em inglês. “Não foram os Vândalos e Góticos, e sim a malária que foi a conquistadora final de Roma” (Bergmark, pág. 223 em inglês)
78 – Hempel, pág. 9 em inglês. Em muitos lugares o progresso foi bem dramático: “Na Índia, em 1935, o número de casos de malária foi calculado em 100 milhões anualmente, com um milhão de mortes. Uma vez que teve início o uso do DDT, as notificações de casos de malária caíram acentuadamente, até que por volta de 1965 havia apenas 100.000 casos, sem relatos de mortes.” (Ibid.)
79 – Saúde Mundial, setembro de 1983, pág. 30 em inglês; Ciência, 10 de agosto de 1984, págs 607, 608 em inglês; Natureza, 16 de agosto de 1984 em inglês.
80 – Schrader, pág. 213 em inglês.
81 – Schrader, pág. 241-246 em inglês.
82 – Passos Que Se Aproximam, págs. 193, 194 em inglês.
83 – Despertai! de 8 de fevereiro de 1985, págs. 3-10.
84 – Enciclopédia Britânica, Vol. 22 (1969), pág. 946 em inglês; Demografia, P. R. Cox, 5ª edição (Cambridge, Inglaterra, 1976), págs. 126, 127 em inglês. Em alguns países o número de casos continuou diminuindo. A Suécia, por exemplo, teve apenas 176 casos de sífilis em 1984. (Statens Bakt. Lab., Suécia)
85 – Enciclopédia Britânica, Vol. 22 (1969), pág. 949 em inglês.
86 – Bergmark, págs. 97, 98 em inglês. Em alguns países ela continuou declinando. A Suécia teve 34.624 casos em 1969, mas apenas cerca de 7.000 em 1984. (Stat. Bakt. Lab.)
87 – Novo Dicionário Mundial de Webster, Edição Compacta (1963), pág. 160 em inglês.
88 – Estimativas do número de infectados nos Estados Unidos variam de 500.000 a um milhão. Na África Central, onde se supõe que a doença teve origem, acredita-se que tantos quantos 6-10 por cento da população das grandes cidades estão infectados [na época em que se escreveu isso].
89 – Läkartidningen (“Revista Médica”) Sueca de 15 de maio de 1985, págs. 1849, 1868. Devido ao longo período necessário para a incubação – de até cinco anos ou talvez mais – não se conhece o número exato. Dos 0,5 – 1 milhão de infectados nos Estados Unidos ‘é provável que mais 10 por cento… contrairão a doença nos próximos cinco anos.” (Natureza, 25 de abril de 1985, pág. 659 em inglês)
90 – Em abril de 1984, os pesquisadores anunciaram que tinham isolado o vírus que causa a AIDS, mas uma vacina ‘só surgirá daqui a vários anos’. (Natureza, 25 de abril de 1984, pág. 659 em inglês) Na época em que este livro foi escrito, alguns estimavam que aproximadamente 300.000 contrairiam AIDS antes de 1991.
91 – Ydrldens befolkning, Erland Hofsten, 2ª edição em sueco (Uppsala, 1970) págs. 90, 91.
92 – Befolkningsutvecklingen – orsak och verkan, Poul Chr. Matiiessen (Lund, Suécia, 1972), pág. 34.
93 – Mathiessen, págs. 36, 42 em sueco. Veja também Análise Demográfica, Roland Pressat (Chicago, EUA, 1972), págs. 71-75 em inglês.
94 – Isto é, naturalmente, com exceção do câncer do pulmão, causado pelo fumo. Na Suécia, aproximadamente 15 por cento de todos os casos de câncer são causados pelo fumo; na Inglaterra esta porcentagem é duas vezes maior.
95 – Bergmark, pág. 327 em inglês.
96 – Schrader, págs. 278, 279 em inglês. Veja também A Demografia Histórica, T. H. Hollingsworth (Londres e Southampton, 1969), pág. 23 em inglês.
97 – Pressat, pág. 84 em inglês.
98 – Isto foi enfatizado, por exemplo, pelo Dr. Lars Wilhelmsson, pesquisador sueco sobre o coração, no jornal sueco Göteborgs-Tidningen de 10 de fevereiro de 1985, pág. 5. Veja também “Nutrição e Saúde no Ambiente em Mudança”, Dr. A. E. Harper, em A Terra Engenhosa, editado por J. L. Simon e H. Kahn (Oxford e Nova Iorque, 1984), págs. 490, 507-511 em inglês.