O Escravo Fiel e Discreto e as Testemunhas de Jeová

Para compreender as Testemunhas de Jeová, que o visitam regularmente, é necessário saber como elas consideram a organização Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. A devoção e a lealdade que as Testemunhas têm a esta corporação legal baseia-se na crença de que a Torre de Vigia é o canal de comunicação entre Deus e os homens na terra – sua organização visível terrestre. As Testemunhas de Jeová acreditam que ninguém pode ser orientado por Deus, por meio de Jesus Cristo, a menos que se sujeite voluntariamente à Torre de Vigia. Os que não aceitam a autoridade desta organização estão fora do favor de Deus – independentemente de professarem a fé cristã – e não podem ser salvos.

O objetivo deste texto é explicar como a liderança da Torre de Vigia usa a Bíblia para estabelecer esta afirmação e como se pode responder a isso. Uma frase usada comumente pelas Testemunhas de Jeová para identificar a Torre de Vigia é “o escravo fiel e discreto”. Esta frase é tirada de Mateus 24:45-47, conforme verte a tradução bíblica oficial da Torre de Vigia:

“Quem é realmente o escravo fiel e discreto a quem o seu amo designou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens.” – Mateus 24:45-47, Tradução do Novo Mundo, edição de 1986

A Torre de Vigia ensina que este “escravo fiel e discreto” representa a congregação cristã desde o seu princípio, no ano de 33 E.C. até o presente momento:

“As Testemunhas de Jeová crêem que esta parábola se refere à única congregação verdadeira dos seguidores ungidos de Jesus Cristo. A partir de Pentecostes de 33 E.C. e continuando durante os 19 séculos desde então, esta congregação semelhante a um escravo tem alimentado espiritualmente os seus membros, fazendo isso com fidelidade e discrição.” – A Sentinela de 1º de setembro de 1981, pág. 24

Note-se que a revista diz que a “única congregação verdadeira” continuou ininterruptamente “durante os 19 séculos”, desde seu surgimento. Durante esses muitos séculos ela esteve alimentando os seus membros “fazendo isso com fidelidade e discrição.” Quanto à forma como este programa de alimentação tem funcionado ao longo dos séculos, a Torre de Vigia diz:

“Desde Pentecostes do ano 33 E.C., e até o momento presente, tal ação tem sido feita amorosa e cuidadosamente. Sim, e os “domésticos” foram alimentados com sustento espiritual progressivo que os manteve em dia com a ‘luz brilhante que se torna cada vez mais clara até o dia ser firmemente estabelecido.'” (Prov. 4:18, NM) – A Sentinela de 15 de janeiro de 1961, pág. 51

Para resumir o que foi apresentado até o momento, notamos que o “escravo fiel e discreto”, segundo a doutrina da Torre de Vigia, é a congregação cristã que

(1) nasceu em 33 E.C.,

(2) teve uma existência contínua e ininterrupta desde então, e

(3) tem estado ‘se alimentando’ continuamente com “sustento espiritual progressivo.”

Se isto é verdade, significa que a congregação cristã bem nutrida ou “escravo fiel” tinha mais de 1.800 anos de idade no momento em que Charles Taze Russell apareceu no cenário, em meados da década de 1870.

O próximo fator a considerar é o ensino de que Cristo retornou (invisivelmente) em outubro de 1914 e três anos e meio depois, em 1918, dizem eles, Jesus fez um julgamento do templo, que resultou na rejeição de todas as religiões, exceto a deles:

“Assim, quando amanheceu o dia do Senhor em outubro de 1914, ainda havia verdadeiros cristãos na Terra. (Revelação 1:10) Parece que Jeová veio ao seu templo espiritual para julgamento cerca de três anos e meio mais tarde, em 1918, acompanhado por Jesus como seu “mensageiro do pacto”. (Malaquias 3:1; Mateus 13:47-50) Era tempo para o Amo rejeitar finalmente os falsos cristãos e designar o ‘escravo fiel e discreto sobre todos os seus bens’.” — Mateus 7:22, 23; 24:45-47. – Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, pág. 31, parágrafo 17

De acordo com o seu próprio julgamento, eles também estavam espiritualmente impuros naquela época:

“As escrituras os descreviam como tendo vestes impuras por causa de sua longa associação com a apostasia cristã. Ainda tinham muitos costumes, características e crenças similares às das seitas da cristandade, que eram como joio.” – A Sentinela de 15 de janeiro de 1961, págs. 51, 52.

A tradição da Torre de Vigia afirma que sua organização passou com êxito por esse período de julgamento, apesar de sua condição impura, e na primavera de 1919 eles foram designados sobre todos os “bens” de Cristo, isto é, todos os seus interesses terrestres do Reino. E qual foi o padrão utilizado por Jesus para chegar a este julgamento? Segundo a Torre de Vigia, tudo se baseava na maneira como eles haviam sido fiéis em servir o alimento espiritual apropriado:

“A questão era servir alimento, a espécie correta de alimento no tempo apropriado. Tinha de ser sobre isso que o retornado amo precisava fazer uma decisão. Pois bem, que dizer daquele grupo de cristãos odiados e perseguidos internacionalmente? (Mateus 24:9) Até o ano de 1919 E.C., eles se haviam esforçado a dar “alimento no tempo apropriado” aos da “família da fé” ou aos “domésticos” do Amo celestial. Fizeram isso apesar da interferência por parte de perseguidores e de nações em guerra. Não só constituiu a regularidade em servir o alimento espiritual um problema, mas também se devia considerar a qualidade do próprio alimento. Neste respeito, o grupo de cristãos odiados e perseguidos, que sempre procuravam ser escravos fiéis de Jesus Cristo, enfrentou a prova.” – Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos, págs. 350, 351

No que se refere à “qualidade” do alimento espiritual servido por este pequeno grupo sob a direção do Pastor Russell, eles admitem ter se nutrido com alimentos contaminados, manchados com “crenças similares às das seitas da cristandade, que eram como joio.” Mas esta é apenas a “ponta do iceberg”, como o registro mostra. Em adição a isso, eles tinham estado ensinando e pregando que o “tempo do fim” começou em 1799, que Cristo retornou (invisivelmente), em outubro de 1874, e que o mundo seria destruído em 1914. As Testemunhas de Jeová de hoje consideram todos esses erros graves como de somenos importância, apesar do que a Bíblia diz sobre essas coisas (Deuteronômio 18:20-22). Russell havia calculado o “tempo do fim”, como sendo um período de 115 anos (1799-1914):

“O estudante sério observará que o período designado como “O Tempo do Fim” é chamado assim muito apropriadamente, pois, não só a era do Evangelho, mas também todas as profecias relativas à conclusão desta era se encerram nele, atingindo os seus cumprimentos. A mesma espécie de leitores notará também a importância especial dos últimos 40 desses 115 anos (1874-1914), chamados de “O Fim” ou “Colheita”. – Estudos das Escrituras, Vol. 3, pág. 121 (em inglês)

Em 1894, a revista A Torre de Vigia de Sião apresentou a pergunta: “PODE SER ADIADO ATÉ 1914?” Em resposta disseram, em parte:

“Agora, tendo em vista os recentes problemas trabalhistas e a ameaça de anarquia, nossos leitores estão escrevendo para saber se não pode haver algum erro na data de 1914. Eles dizem que não vêem como as condições atuais podem continuar tensas por tanto tempo. Não vemos nenhum motivo para mudarmos os números – nem poderíamos mudá-los se quiséssemos. Eles são, conforme cremos, datas de Deus, não nossas. Mas, tenham em mente que o fim de 1914 não é a data para o início, mas para o fim do tempo de aflição.” – A Torre de Vigia de Sião de 15 de julho de 1894, pág. 228 em inglês (Reimpressões, pág. 1677 em inglês)

Todas as previsões de Russell falharam. Todos esses erros foram pregados em nome de Jesus e foram publicados em milhões de peças de literatura como VERDADE. Este era o “alimento” que estava sendo servido pela Torre de Vigia. Mas isso não é tudo. Durante o período de 1914-1918, eles acrescentaram ainda mais alimentos contaminados à sua dieta espiritual. Em 1917, depois da morte de Russell, foi publicado um novo livro, O Mistério Consumado. Este livro predizia a destruição de todas as igrejas e membros das igrejas em 1918, o arrebatamento dos fiéis seguidores de Cristo em 1918, e a destruição de todos os governos em 1920:

“Além disso, no ano de 1918, quando Deus destruir as igrejas em escala total e os membros das igrejas aos milhões, será nesse dia que, qualquer um que escapar, se voltará para as obras do Pastor Russell para aprender o significado da queda da “cristandade.” – O Mistério Consumado, pág. 485 (em inglês)

“Nossa proposição é que a glorificação do Pequeno Rebanho na primavera de 1918 A.D. ocorra na metade do período (três anos e meio de cada lado) entre o encerramento dos Tempos dos Gentios e o fechamento do caminho celestial, 1921 A.D. – O Mistério Consumado, pág. 64 (em inglês)

“Até as repúblicas desaparecerão no outono de 1920. E não se acharam os montes. – Todos os reinos da terra passarão, serão tragados pela anarquia. – O Mistério Consumado, pág. 258 (em inglês)

Na primavera de 1919, Joseph F. Rutherford, o novo presidente da Torre de Vigia, estava pregando que “milhões que agora vivem jamais morrerão”. No ano seguinte, 1920, esta mensagem foi publicada em forma dum folheto com este mesmo título. Este folheto previu que em 1925 ocorreria a ressurreição dos “fiéis” da antiguidade e o início da reconstrução da terra sob o domínio principesco deles. Eles resumiam esta predição assim:

“Baseado nos argumentos até aqui apresentados, isto é, que a ordem velha das coisas, o velho mundo está se findando e desaparecendo, e que a nova ordem ou organização está se iniciando, e que 1925 será a data marcada para ressurreição dos anciãos dignos e fiéis, e o princípio da reconstrução, chega-se á conclusão razoável de que milhões dos que vivem agora na terra, ainda estarão vivos no ano de 1925. Então, baseados nas promessas encontradas nas palavras divinas, chegamos à positiva e indiscutível conclusão de que, milhões que agora vivem jamais morrerão.” – Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, págs. 110-112, 122.

Por qual padrão de imaginação alguém poderia concluir que esse “alimento” era “a espécie correta de alimento no tempo apropriado”?

Além disso, em 1914, a organização deles tinha menos de 40 anos de idade. Russell tinha rejeitado todos os demais grupos e formado o seu próprio. No entanto, em relação à sua chamada “designação” em 1919, eles dizem:

“Agora que o há muito esperado Reino já se tornara realidade estabelecida no céu, certamente os seus interesses cada vez maiores na terra, depois de 1919, não seriam deixados nas mãos de uma organização neófita de crianças espirituais. E isso mostrou-se correto. Foi ao “escravo fiel e discreto” de 1900 anos de idade, à antiga congregação cristã, que se confiou este precioso serviço do Reino. Abundante na sua lealdade e integridade, perseverante em suportar pacientemente a perseguição, forte na sua antiga fé nas preciosas promessas de Jeová, confiante na liderança de seu Senhor invisível, Jesus Cristo, obediente na sua comissão secular de ser testemunhas na terra, e finalmente purificado pela prova ardente em 1918, o “escravo” maduro, conforme representado por um restante, estava agora pronto para novas designações de serviço.” – A Sentinela de 15 de janeiro de 1961, pág. 52.

Russell tinha dito que “restabeleceu as grandes verdades ensinadas por Jesus e pelos Apóstolos.” (As Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, pág. 707). Isso não teria sido necessário se tivesse havido na terra um “escravo fiel e discreto” de 1900 anos de idade, como eles ensinam. Esta é outra contradição. A organização Torre de Vigia era uma religião neófita, o que também contradiz a premissa deles.

Você poderia formular as seguintes questões para a próxima Testemunha de Jeová que lhe visitar:

(1) Quem constitui o “escravo fiel e discreto” de Mateus 24:45-47?

(2) Quando este “escravo” veio à existência?

(3) Teve este “escravo” uma existência contínua nos últimos 19 séculos?

(4) Onde estava este “escravo” quando Russell iniciou seu ministério?

(5) Como ele conseguiu chegar ao conhecimento da verdade, sem a ajuda deste “escravo”?

(6) Se a qualidade do alimento servido foi a base para a aprovação de Cristo, como eles descreveriam o alimento que foi servido pela organização Torre de Vigia de 1879 a 1919?

(7) Se existia um “escravo” de 1.900 anos de idade, servindo fielmente verdades espirituais progressivas na época de Russell, por que foi necessário Russell “restabelecer” todas estas verdades?

Todas estas são questões muito apropriadas. Confronte as respostas que a Testemunha de Jeová lhe der com as declarações oficiais das publicações da Torre de Vigia encontradas neste texto. É muito comum as Testemunhas de Jeová estarem bem equivocadas neste assunto. Existem sérias contradições nessa doutrina que a Torre de Vigia utiliza para exercer controle sobre as mentes e as vidas das Testemunhas de Jeová. Suas próprias publicações, que são encaradas como “verdade”, estabelecem estas contradições.

Se você apresentar estas evidências às Testemunhas de Jeová de maneira bondosa, pode ser que você possa ajudá-las a raciocinar sobre este assunto. Uma vez que elas o incentivam a questionar a liderança da igreja que você talvez siga, bem como seus ensinos, então elas também devem estar dispostas a fazer o mesmo no caso da organização delas.

Imagem: Revista A Sentinela de 1° de junho de 1972, pág. 333 (Watch Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania, EUA).

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