É Jesus a Mesma Pessoa Que o Arcanjo Miguel?

A doutrina de que Jesus é o arcanjo Miguel é considerada por muitos como uma heresia peculiar das Testemunhas de Jeová. De fato as Testemunhas ensinam com freqüência que Jesus é idêntico a Miguel, tanto em sua existência pré-humana, como depois de ter voltado ao céu após sua ressurreição. O que dizem as páginas 828 e 829 do manual da Torre de Vigia intitulado ESTUDO PERSPICAZ DAS ESCRITURAS (Volume 2 – 1991) é um exemplo disso.

O que muitos não sabem é que as Testemunhas nem sempre entenderam o assunto desta maneira. Não se dão conta de que esta doutrina, apreciada por muitos, originou-se de comentaristas bíblicos protestantes. O grande reformador João Calvino (1509-1564) disse em seu comentário sobre o livro de Daniel:

“Alguns acreditam que a palavra Miguel representa Cristo, e eu não me oponho a esta ideia… eu incluo o sentido que eles relacionaram este à pessoa de Cristo.” (UM COMENTÁRIO SOBRE DANIEL, João Calvino, Edimburgo, reimpressão de 1995, Vol. II, págs. 253, 369)

O eminente clérigo britânico Matthew Henry (1662-1714) expressou a mesma opinião. Em sua obra, que é um dos mais respeitados e mais amplamente utilizados comentários da Bíblia no mundo de língua inglesa, esse conceito é expresso claramente, em especial nos seus comentários ao trecho de Daniel 12:1 a 12:7.

Devemos salientar aqui que Calvino, Matthew Henry e outros teólogos que identificaram Jesus com Miguel, afirmaram ao mesmo tempo, de maneira enfática, que Jesus é Deus em sentido pleno, algo que as Testemunhas de Jeová rejeitam. Os críticos das Testemunhas são implacáveis ​​quando contestam a crença da Torre de Vigia de que Jesus é a mesma pessoa que Miguel. O pastor sueco Folke Thorell escreveu:

“… Se esta doutrina de que antes de sua encarnação Jesus era um anjo fosse verdadeira, isto equivaleria a uma profanação. Tal afirmação contraria Hebreus capítulo 1, que faz uma clara distinção entre os “anjos” de um lado e o “Filho” do outro. Em 1 João 4:1-3 diz: “Jesus é o Cristo (não um anjo!) na carne”. Não é verdade que Miguel era o Filho do Homem, como as Testemunhas de Jeová entendem. Qualquer um que disser isso está divulgando uma doutrina que João atribuiu ao Anticristo! As Testemunhas de Jeová constituem uma seita claramente anticristã.” (Tio Religionssurrogat (Örebro 1973, pág. 10). O crítico americano Walter R. Martin fez um comentário semelhante em seu livreto Jehovah’s Witnesses [Testemunhas de Jeová], Mineápolis, EUA, 1974, pág. 40.

Uma Crítica Desequilibrada

Esta posição é bastante injusta. Se a noção de que Jesus é idêntico a Miguel origina-se de pessoas irreverentes e anticristãs, então Calvino e vários outros teólogos posteriores teriam de ser enquadrados nessa mesma categoria. Matthew Henry deveria ser banido das bibliotecas de inúmeros pregadores, onde muitas vezes ele ocupa um lugar de honra! A afirmação de que Jesus não deveria sequer ser chamado de “anjo” também é explicitamente refutada pelas Escrituras, que o chamam de “anjo da aliança”, em Mal. 3:1 (Sociedade Bíblica Britânica; Centro Bíblico Católico e outras). O mesmo fazem comentaristas bíblicos de muitas procedências. Basta citar aqui obras tais como o Svensk Studiebibel [Estudo Bíblico Sueco] de Thoralf Gilbrandt, publicado pela Livets Ords Förlag [Editora Palavra da Vida], 1999 (pág. 1067) e Kristen Dogmatik [Dogmática Cristã], de D. Franz Pieper, publicado pela Pro Veritate, Uppsala, Suécia, 1985 (pág. 219).

É também consenso geral que Jesus é o “anjo do Senhor” ou o “anjo de Jeová” em textos tais como Gênesis 16:7-13 e Êxodo 3:2-7. Veja, por exemplo, o Svensk Studiebibel, págs. 76 e 1597 e Kristen Dogmatik, pág. 219. Existem até alguns teólogos protestantes que concluíram que Jesus é o próprio Miguel, o “arcanjo” em Judas versículo 9.

A razão por que se chegou a essa crença de Jesus e Miguel serem a mesma pessoa é a posição que Miguel ocupa segundo a Bíblia. O teólogo batista J. E. Nystrom escreveu em meados do século 19:

“A posição e a missão do papel atribuído a Miguel, são de uma importância tal, que muitos acreditam que ele seja o Messias.” (Biblisk Ordbok [Dicionário Bíblico], Estocolmo, Suécia, 1868, pág. 481).

Miguel é mencionado cinco vezes na Bíblia. (Daniel 10:13, 21; 12:1; Judas 9 e Revelação 12:7). Ser ele chamado de “príncipe de vocês” e “o grande príncipe que protege o seu povo” em Dan. 10:21 e 12:1 (Nova Versão Internacional) poderia lembrar as profecias sobre o Messias. O Apocalipse 12:7 menciona “Miguel e seus anjos” o que também pode relacioná-lo com o “Filho do homem”, que viria “com os seus anjos”, segundo Mateus 16:27.

Mas, são válidas essas comparações?

As Interpretações Mutantes da Torre de Vigia Acerca de Miguel

Antes de respondermos a esta pergunta, pode ser instrutivo verificar como foi que as Testemunhas entenderam esse personagem bíblico ao longo da história de sua organização. Conforme já mencionado, não foi ensinado desde o início que Miguel é Jesus.

Na edição de novembro de 1879 de A Torre de Vigia de Sião foi dito a respeito de Cristo:

His position is contrasted with that of men and angels, as He is Lord of both, having “all power in heaven and earth.” Hence it is said, “Let all the angels of God worship him;” [that must include Michael, the chief angel, hence Michael is not the Son of God] and the reason is, because He has “by inheritance obtained a more excellent Name than they.” Michael or Gabriel are perhaps grander names than Jesus, though Jesus is grand in its very simplicity, but the official character of the Son of God as Savior and King is the inheritance from His Father, which is far superior to theirs, for it pleased the Father that in Him all fullness should dwell.

Tradução:

Sua posição é contrastada com o homem e os anjos, porque ele é Senhor de ambos, já que ele tem “toda a autoridade no céu e na terra”. Portanto, é dito: “Que todos os anjos de Deus o adorem” [o que deve incluir Miguel, o principal anjo, portanto, Miguel não é o Filho de Deus] e a razão é que ele “por herança obteve um nome mais ilustre do que os deles”. Miguel ou Gabriel talvez sejam nomes maiores do que Jesus, embora Jesus seja grande em sua simplicidade, mas a natureza oficial do Filho do Deus como Salvador e Rei é o legado de seu Pai, e é muito superior ao deles, pois aprouve a Deus que nele habite toda a plenitude. (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, 1919, pág. 48)

Este entendimento de que Miguel não é Jesus, foi logo abandonado. EmA Torre de Vigia de Sião de junho de 1883 publicou-se o seguinte:

Can it be that he who was called Michael – Jehovah’s chief-messenger – was none other than our Lord in his pre-human condition?…We call to mind that Jesus was called “the messenger of the covenant” (Mal. 3:1)… Surely chief-messenger would be a fitting title for this being. And we inquire, if he was not the chief-messenger, who was his superior?… One expression in Scripture may at first sight seem to conflict with this thought that Jesus and the arch-angel are identical. It is Heb. 1:13: “But to which of the angels said he at any time, Sit on my right hand until I make thine enemies thy footstool?” Unto none of the angels, we answer, but to Him who was superior, a chief over angels – he only begotten of the Father. In Daniel 12:1, the prophecy touches the Day of the Lord and its events – the very time in which we are living – the time of resurrection, etc., and instead of saying, Then shall Messiah set up his kingdom, etc., it says, “At that time shall Michael stand up [begin to exercise his power and dominion] – the GREAT PRINCE, etc.” We reason that this Great Prince –  Michael – Jehovah’s chief-messenger, is none other than the Lord of glory, whose presence we are now proclaiming.

Tradução:

“Poderia ser que o chamado de Miguel – o mensageiro principal de Jeová não era outro senão nosso Senhor em sua existência pré-humana? … Lembramos que Jesus foi chamado de “mensageiro do pacto” (Malaquias 3:1). … Certamente mensageiro-chefe seria um título adequado para ele. E perguntamos: se ele não era o mensageiro principal, quem seria seu superior? … Uma declaração das Escrituras pode à primeira vista parecer contrária a essa ideia de que Jesus e o Arcanjo são idênticos Está em Hebreus 1:13: “Mas a qual dos anjos ele alguma vez disse: ‘Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para o seu pé?”A nenhum dos anjos, respondemos, e sim àquele que está acima, um líder dos anjos – o único filho gerado pelo Pai … Em Daniel 12:1 a profecia fala sobre o Dia do Senhor e seus eventos – o próprio tempo em que estamos vivendo – o tempo da ressurreição, etc., e em vez de dizer ‘então o Messias estabelecerá o seu reino’, etc., ele diz “Durante aquele tempo Miguel por-se-á de pé [começará a exercer seu poder e domínio] – o GRANDE PRÍNCIPE, etc.”. Concluímos que este Grande Príncipe – Miguel – o mensageiro principal de Jeová, não é outro senão o Senhor da glória, cuja presença estamos proclamando agora (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, pág. 490. Esta interpretação foi introduzida depois em Estudos das Escrituras, Vol. I, págs. 148-152.)

Em paralelo com essa nova ideia – de que Jesus era o mesmo que Miguel – surgiu uma interpretação completamente original, aplicada apenas ao Miguel mencionado no Apocalipse 12:7. Em A Torre de Vigia de Sião de dezembro de 1881 fez-se a alegação completamente bizarra de que Miguel neste texto era o … PAPA! É claro que eles sabiam ser perfeitamente compreensível a necessidade de explicar como o nome de Miguel poderia “ser dado ao Anticristo”. A razão apresentada foi que o nome “Miguel” não é usado literalmente em Apocalipse 12:7, como o é em Daniel 12:1! (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, pág. 306)

A interpretação de que Miguel em Apocalipse 12:7 é o “Papa” foi também expressa no amplamente distribuído livro da Torre de Vigia intitulado O Mistério Consumado (1917), pág. 188:

Tradução:

12:7. E houve uma guerra no céu. – Entre os dois poderes eclesiásticos, a Roma pagã e a Roma papal.
Miguel. – “Quem é como Deus,” o Papa. – B275; C62
E seus anjos. – Os Bispos. A seguinte é a resposta dada no Catecismo Católico à pergunta, “Quem são os sucessores dos apóstolos?” Resposta: “Os bispos que são corretamente consagrados, e estão em comunhão com o cabeça da Igreja, o Papa.”

Esta interpretação foi abandonada no livro Luz, o comentário sobre o Apocalipse que a Torre de Vigia publicou em 1930, escrito por J. F. Rutherford. Neste, há o seguinte comentário para Revelação 12:7:

It is the great Prince Christ that began the war against Satan and he is identified in the seventh verse by the name Michael, the manifest purpose of which is to call attention to the corroborative prophecy of Daniel, thus furnishing two witnesses to this important fact.

Tradução:

É o grande Príncipe, Cristo, que começou a guerra contra Satanás, e ele é identificado no sétimo versículo pelo nome de Miguel, o propósito manifesto do qual é chamar a atenção para a profecia corroborativa de Daniel, fornecendo desta maneira duas testemunhas para este importante fato.” (Luz – Livro I, pág. 239)

Seria um exagero dizer que a liderança das Testemunhas de Jeová teve dificuldades para entender quem é Miguel. Não há razão para desconsiderar todas as circunstâncias às quais nunca se deu atenção quando a Torre de Vigia elaborou suas próprias conclusões interpretativas. Renomados eruditos bíblicos têm destacado certos fatos dentro da Bíblia que mudam completamente o quadro.

Circunstâncias Que Não se Encaixam

O bem conhecido comentarista bíblico americano Albert Barnes escreveu sobre Revelação 12:7:

Miguel. Existiram conceitos muito diferentes sobre quem é Miguel. Muitos intérpretes protestantes da Bíblia pensaram que é Cristo. Razões para este ponto de vista, muitas das quais são muito imaginativas, encontram-se em Hengstenberg (Die Offenbarung des Heiliges John), 1. 611-622. A referência a Miguel deriva provavelmente de Dan. 10:13 e 12:1. Nesses locais, ele surgiu como o anjo protetor do povo de Deus, e é nesse sentido que eu acredito que o texto deve ser entendido aqui. Não há nada no próprio nome, ou nas circunstâncias descritas, mostrando que a referência é a Cristo. E se a referência tivesse apontado para ele, é incompreensível por que ele não está descrito em seu próprio nome, ou com qualquer um os nomes habituais que João lhe dá. O arcanjo Miguel é descrito aqui como superintendente da igreja e como lutando contra Satanás, a fim de protegê-la. Compare com as notas para Dan. 10:13. Esta declaração reflete as declarações comuns na Bíblia em matéria de intervenção angélica em favor da Igreja. (Barne’s Notes on the New Testament [Notas sobre o Novo Testamento de Barnes], Grand Rapids, Reimpressão de 1980, pág. 1661)

Outras obras destacadas fazem declarações que apontam nessa mesma direção, tais como A Commentary on Daniel [Comentário Sobre Daniel], de Edward Young, Edimburgo, 1978 e Commentary on the Old Testament [Comentário Sobre o Antigo Testamento] de C. F. Keil e E. Delitzsch, Grand Rapids, 1982. A compreensão dos textos mais importantes do livro de Daniel expressos aqui são apoiados por estes proeminentes comentaristas bíblicos protestantes.

O “Homem Vestido de Linho” – A Chave Para Uma Compreensão Adequada

A peça de evidência crucial nessa discussão encontra-se em Daniel 10:5, 6. Este texto diz:

“Olhei para cima, e diante de mim estava um homem vestido de linho, com um cinto de ouro puríssimo na cintura. Seu corpo era como o berilo, o rosto como o relâmpago, os olhos como tochas acesas, os braços e pernas como o reflexo do bronze polido, e a sua voz era como o som de uma multidão.” (NVI)

É este homem “vestido de linho”, com “um cinto de ouro” em torno de sua cintura, que é o personagem principal do livro de Daniel capítulo 10. Ele é também mencionado especificamente em Dan. 10:16, 18 e 12:6, 7 e aparentemente também em Dan. 8:16. Todas as profecias mencionadas de Dan. 10:11 e ainda em Dan. 12:13 fazem deste “homem vestido de linho” um mensageiro celestial. E aqui está o fator decisivo sobre a identidade de Miguel!

Este “homem vestido de linho” é o próprio Filho de Deus na manifestação humana!

Edward Young observou:

A descrição, porém, parece provar que a pessoa majestosa apresentada aqui não é outro senão o próprio Senhor. O Apocalipse é uma teofania, uma revelação sobre-humana do Filho Eterno. Isto é evidenciado pela descrição muito semelhante (Rev. 1:13-15) daquele que João vê andando entre os sete castiçais de ouro. (A Commentary on Daniel [Comentário Sobre Daniel], pág. 225)

C. F. Keil e E. Delitzsch fizeram a mesma observação. Eles escreveram que o que Daniel viu “não era um anjo principesco comum, e sim uma manifestação do Logos de Jeová. Isso se compara, além de qualquer dúvida, com Apocalipse 1:13-15, onde a figura do Filho do homem visto por João parece ir no meio dos sete castiçais de ouro descritos na revelação gloriosa que foi vista por Ezequiel e Daniel.” (Commentary on the Old Testament [Comentário Sobre o Antigo Testamento], Vol. 9:3, pág. 410)

Miguel Não Pode Ser Jesus!

Isso tem conseqüências. Pois o homem “vestido de linho”, trata Miguel na terceira pessoa em Dan 10:13, 21 e 12:1. Ele fala sobre Miguel como outra pessoa! Assim, se o homem “vestido de linho” é Jesus em forma humana, este não poderia ser Miguel!

Miguel é descrito em Dan. 10:13 de uma maneira que não se aplica necessariamente só ao Filho de Deus. Lá, Miguel é chamado de “um dos primeiros príncipes” (NVI). Ou seja, descreve-se corretamente um príncipe angélico entre outros, mas certamente não a pessoa por quem todos esses principados foram criados. (Col. 1:16) Edward Young também rejeitou a identificação que Calvino havia feito de Miguel com Cristo, apontando que, em vez disso, Miguel é “o representante de Cristo.” (pág. 255)

Há mais evidências em apoio desta ideia. Em Judas versículo 9 afirma-se que Miguel “não ousou pronunciar juízo de maldição” contra o Diabo quando este disputava com ele o corpo de Moisés. (Almeida) Dizer que este era o Cristo seria rebaixar o Filho de Deus. Quando estava na terra, Jesus falou enfaticamente contra o Diabo. Em Mateus 4:10, ele ordenou: “Vai-te, Satanás”. Se Miguel “não ousou” expressar qualquer condenação contra o Diabo, isso mostra que ele é uma pessoa com autoridade muito menor do que o Filho de Deus.

A “Voz do Arcanjo” de 1 Tessalonicenses 4:16

Um dos argumentos para a ideia de Miguel ser Jesus é tirado de 1 Tessalonicenses 4:16:

Em 1 Tessalonicenses 4:16 descreve-se a voz do ressuscitado Senhor Jesus Cristo como a dum arcanjo, sugerindo que ele mesmo, efetivamente, é o arcanjo. Este texto descreve-o como descendo do céu com “chamada dominante”. Portanto, é apenas lógico que a voz que faz esta chamada dominante seja descrita por uma palavra que não diminuiria ou rebaixaria a grande autoridade que Cristo Jesus tem agora como Rei dos reis e Senhor dos senhores. (Mt 28:18; Re 17:14) Se a designação “arcanjo” não se aplicasse a Jesus Cristo, mas a outros anjos, então não seria apropriada a referência à “voz de arcanjo”. Neste caso, descreveria a voz de uma autoridade inferior à do Filho de Deus.” (Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume II, 1991, pág. 829)

Mas esta é uma conclusão precipitada. A palavra “anjo” não tem nenhum artigo em grego. A Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas da Torre de Vigia (1969), diz:

  

Tradução:

16 pois o Senhor mesmo em comando, em voz de arcanjo e em trombeta de Deus, ele descerá do céu, e os mortos em Cristo se levantarão primeiro,

Não é obrigatório o entendimento de que essa “voz de arcanjo” seja a do próprio Jesus, da mesma forma que o som da “trombeta de Deus” não é emitido por ele. O texto é entendido com clareza conforme aparece, por exemplo, na Nova Versão Internacional:

“Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.” (grifo acrescentado) 1

Cristo não é identificado aqui com o arcanjo. Conforme o próprio Jesus disse, em sua vinda ele terá a companhia dos anjos que “enviará” (Mat. 13:41; 24:31, NVI), por isso não surpreende que ele faça um “arcanjo” proclamar este grande evento. 1 Tessalonicenses 4:16, portanto, não prova que Jesus seja Miguel.

Concluímos este estudo com mais citações de trechos da obra The Apocaypse [O Apocalipse], edição de 1901, escrita pelo pastor luterano J. A. Seiss (Vol. 2, págs. 347-350). Seiss fez os seguintes comentários sobre Revelação 12:7:

Quem, então, é Miguel? Muitos respondem que é o Senhor Jesus Cristo, afirmando que atentaria contra a dignidade e os privilégios de Cristo atribuir tudo o que está implicado aqui a um simples anjo, ainda que exaltado.

Embora o Senhor Jesus tenha seus anjos, isso não prova de modo algum que um arcanjo não possa também ter anjos. Satanás tem seus anjos, então por que Miguel também não poderia tê-los?

O anjo que se comunicou com Daniel chama Miguel de “um dos príncipes supremos“, o que implica a existência de outros com status similar. (Dan 10:13). Ele faz referência a Miguel como ‘ajudando-o’ e não ele ajudando Miguel, o que seria o caso se Miguel fosse a mesma pessoa que o Filho de Deus.

Tudo o que é feito por um agente é feito pelo principal; e que Cristo designou anjos para ministrar aqueles que hão de herdar a salvação e para ter uma parte na grande administração que pode apropriadamente ser atribuída a eles, é parte do ensino claro das Escrituras.

Miguel é distinto do Filho de Deus no livro de Daniel… O general que conquista uma vitória não é o rei a quem pertence o resultado dessa campanha bem-sucedida.

“O arcanjo Miguel” é um dos lados em disputa na questão referente ao “corpo de Moisés” (Judas 9), mas ali se diz sobre ele que ‘não ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: “O Senhor o repreenda!’. Isso mostra uma clara distinção entre Miguel e o Senhor… Jesus podia dizer: “Para trás de mim, Satanás”, mas Miguel não se atreveu a dizer isso… As Escrituras falam muitas vezes sobre o anjo de Jeová, que claramente não é outro senão o Filho unigênito de Deus; mas não há qualquer evidência de que este anjo de Jeová foi alguma vez chamado de Miguel.

1 N.T.: Outras versões bíblicas expressam uma ideia similar. A Versão Almeida Revisada (Imprensa Bíblica) verte o texto da seguinte maneira:

Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.”

A versão do Centro Bíblico Católico diz:

Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro.”

Outras versões em inglês, tais como a Nova Bíblia Padrão Americana (NASB), a Versão Rei Jaime (KJV), a Versão Padrão Americana (ASV), a Versão Inglesa Revisada (ERV), a Tradução de Webster e a Bíblia em Inglês Mundial (WEB) usam esta mesma fraseologia. Nenhuma delas transmite a ideia de que essa “voz do arcanjo” seja emitida pelo próprio Jesus.

3 thoughts on “É Jesus a Mesma Pessoa Que o Arcanjo Miguel?

  • fevereiro 8, 2021 em 2:59 pm
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    Boa tarde!

    Vocês tem algum grupo de estudo?

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    • fevereiro 14, 2021 em 11:12 am
      Permalink

      Não dispomos de grupos de estudo. Obrigado!

      Resposta
  • março 13, 2022 em 6:04 pm
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    Muito rico em informações,tanto das publicações da torre de vigílias, como das refutacoes e exposições comparativas aos originais . Ver-se aqui que Jesus não é Miguel , embora algumas teofanias aqui não citadas jesus aparece chamado o Anjo do senhor , vale também, acrescentar que anjos não tem poder para perdoar pecado se não Deus . E que Jesus declara ser ele mesmo o Alfa e o Ômega , expressões como eu e o pai somos um . Ou a declaração que se faz para que toda a língua confesse que Jesus é o Senhor (Deus )

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