Em que ano Jesus morreu?

Problemas em Datar a Crucificação

(Observatório da Marinha dos Estados Unidos)

A leitura mais aceita dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) indica que a crucificação de Jesus ocorreu no dia 15 de nisã. Isso é baseado na suposição de que a última ceia foi uma refeição pascoal na noitinha que começou em 15 de nisã. No evangelho de João, entretanto, a crucificação parece ser no 14 de nisã, o Dia da Preparação, quando os cordeiros pascoais eram sacrificados. Isso é consistente com o Talmude, o qual registra a crucificação no dia da Páscoa [judaica]. Todos os quatro Evangelhos concordam que o evento ocorreu um dia antes do Sabbath judaico, i.e., antes do anoitecer na sexta-feira. Nenhuma dessas fontes especifica o ano, mas concordam que Pôncio Pilatos era procurador da Judéia. Isso situa o evento no período de 26-36 A.D. (calendário juliano). A partir dessas fontes de evidência, as pessoas têm especulado por séculos acerca do ano da crucificação.

O problema parece simples: achar o 15 de nisã (ou 14, se preferir) que termine na tarde de sexta-feira durante o período de 26-36 A.D. De fato, somente um elemento do problema é realmente simples. Uma sexta-feira nos tempos do Novo Testamento é exatamente um grande múltiplo de sete de uma sexta-feira de hoje. Dificuldades surgem no começo do nisã. Infelizmente, o calendário hebraico do primeiro século A.D. não está adequadamente documentado e deve ser reconstruído a partir de evidências fragmentárias. No calendário hebraico daquela época, os meses começavam com o primeiro avistamento da lua crescente após a lua nova astronômica, com a noite do avistamento começando no primeiro dia do mês. Avistamentos da lua crescente estão sujeitos às condições climáticas locais e à habilidade do observador.

Devido a esses problemas, uma comissão especial do Sinédrio tomava decisões oficiais sobre quando começar cada mês. Não sabemos os detalhes do trabalho dela. No entanto, a comissão provavelmente julgava a validade dos avistamentos relatados em relação às datas previstas para as luas novas e as estimativas de quando a lua crescente se tornaria visível. Se houvesse um período de mau tempo, eles poderiam determinar que o mês começasse 30 dias depois do início do mês anterior. Um erro ocasional de um dia é bastante provável. Antes que se passassem muitos meses, porém, um avistamento válido evitaria o acúmulo de erros.

A comissão calendar também tinha de decidir quando adicionar (intercalar) um décimo-terceiro mês no ano calendar. Uma vez que meses lunares (de lua nova a lua nova) duram aproximadamente 29,5 dias, um ano de 12 meses lunares tem aproximadamente 354 dias, o que é 11 dias a menos do que o ciclo das estações. Para manter o nisã na primavera, um décimo terceiro mês precisava ser acrescentado aproximadamente a cada três anos. Não sabemos especificamente quantas dessas intercalações foram feitas. O que sabemos é que as decisões não se baseavam exclusivamente numa data observada ou calculada do equinócio de inverno (o momento no qual a longitude aparente do Sol é zero grau). Com base na Bíblia e no Talmude aprendemos que as condições das plantas e dos animais eram consideradas, já que os cordeiros deveriam estar maduros o suficiente para o abate no Dia da Preparação (14 de nisã) e as frutas tinham de estar suficientemente maduras para a apresentação no 16 de nisã. Registros que sobreviveram do segundo século A.D. revelam um período em que as intercalações foram negligenciadas, fazendo o nisã ocorrer mais cedo. Para corrigir isso, anos consecutivos tiveram treze meses. Não sabemos quão acuradamente o calendário foi mantido no primeiro século.

Tudo isso aponta para o fato de que as tabelas de equinócios e as fases da lua não podem sozinhas resolver o problema. Estudos recentes (alistados abaixo) tentaram solucionar o complexo problema da visibilidade lunar. Assim, ambos os estudos mencionam as dificuldades em reconstruir o calendário hebraico daquele período, e ambos concluem por assumir que o calendário foi mantido no que consideraríamos hoje em bom estado.

As datas propostas mais comumente para a crucificação são 7 de abril, do ano 30 A.D., e 3 de abril do ano 33 A.D (calendário juliano). Humphreys e Waddington concluem que a segunda data é a correta. Schaefer decide que a conclusão deles é razoável. Uma solução definitiva irá requerer um registro independente do evento com base num calendário totalmente documentado.

Referências:

C. J. Humphreys and W. G. Waddington, “Dating the Crucifixion,” (Datando a Crucificação) Nature, Vol. 306, págs. 743-746, 1983.

B. E. Schaefer, “Lunar visibility and the crucifixion,” (Visibilidade Lunar e a Crucificação) Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, Vol. 31, págs. 53-67, 1990.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *