Parte 4: O “Livro-Razão” NBC 4897

Cronologia Assíria, Babilônica e Egípcia

(Análise Crítica do Volume II do Livro Cronologia Assíria, Babilônica, Egípcia e Persa, Comparada com a Cronologia da Bíblia – Oslo, Noruega: Awatu Publishers, 2007)

Parte 4:  O “livro-razão” babilônico NBC 4897

A tabuinha cuneiforme NBC 4897 é um livro-razão, que especifica o crescimento anual de um rebanho de ovelhas e cabras, pertencentes ao templo de Eana em Uruque, por dez anos consecutivos, desde o trigésimo sétimo ano de Nabucodonosor até o primeiro ano de Neriglissar. Como ele é um registro anual, mostra claramente que Nabucodonosor reinou por 43 anos, seu filho Amel-Marduque por 2 anos, e que este foi sucedido por Neriglissar. A tabuinha torna impossível inserir qualquer ano adicional ou qualquer rei entre os reis Nabucodonosor e Amel-Marduque, ou entre Amel-Marduque e Neriglissar. Esta é uma forte evidência, realmente.

A primeira apresentação e consideração sobre a tabuinha foi incluída num artigo escrito por Ronald H. Sack, “Algumas Observações sobre a Contabilidade em Eana”, publicado em Estudos em Honra de Tom B. Jones, de M. A. Powell Jr. e R. H. Sack (eds.) – 1979. Foi um estudo breve e preliminar de apenas cinco páginas de tamanho normal (págs. 114-118), três das quais contêm um desenho da tabuinha.

Outra consideração sobre a tabuinha apareceu 16 anos depois, num artigo escrito por G. van Driel & K. R. Nemet-Nejat, “Práticas de Contabilidade para um Rebanho Institucional em Eana”, Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 46 (1994), págs. 47-58. Foi um estudo um pouco mais longo, com 12 páginas de tamanho maior, seis das quais contêm um desenho, a transliteração e a tradução da tabuinha. O artigo deles corrige uma série de erros e interpretações erradas de Sack.

A consideração mais extensa e detalhada da tabuinha, no entanto, é o artigo de Stefan Zawadzki, “Práticas de Contabilidade no Templo de Eana em Uruque à Luz do Texto NBC 4897”, Revista de Estudos Cuneiformes, Vol. 55 (2003), págs. 99-123. A consideração de Zawadzki abrange 25 páginas de tamanho grande, quatro das quais contém uma transliteração e tradução da tabuinha. O artigo contém a análise mais detalhada e cuidadosa da tabuinha até o momento. Ele corrige uma série de equívocos e interpretações erradas nos artigos anteriores de Ronald H. Sack e G. van Driel / K. R. Nemet-Nejat.

Os totais registrados na tabuinha contêm erros graves e cálculos malfeitos?

Embora van Driel e Nemet-Nejat tenham corrigido vários erros de interpretação e muitos equívocos de Sack, eles também alegaram que a interpretação da tabuinha “é comprometida por cálculos malfeitos e erros no texto.” (Van Driel / Nemet-Nejat, pág. 47) A conclusão deles no final do artigo (página 57) é citada com aprovação por Rolf Furuli, que afirma que “isso enfatiza a falta de qualidade desta tabuinha”:

“Na maior parte, os erros ocorrem nos totais. Os escribas provavelmente tinham dificuldades semelhantes às nossas na leitura dos números em seus livros. Podemos entender pequenos erros de um único dígito, mas os erros que ocorrem na decisiva seção final da NBC 4897 levantam novamente a questão de como as administrações poderiam trabalhar com este tipo de contabilidade.” – Citado por Rolf Furuli em seu livro Cronologia Assíria, Babilônica e Egípcia, págs. 247, 248 (Edição de 2007; págs. 251, 252 na 2ª edição, de 2008).

No entanto, conforme é demonstrado pelo Zawadzki, estas alegações são muito exageradas. O fato é que elas se baseiam principalmente em leituras equivocadas e mal-entendidos dos autores. Conforme Zawadzki explica, van Driel “resolveu muitos problemas, mas ele não conseguiu explicar alguns aspectos importantes, ou propôs interpretações que requerem reavaliação.” (Zawadzki, pág. 100, o grifo é nosso) Na verdade, quando a tabuinha é lida, copiada, entendida e traduzida corretamente, pode-se mostrar que ela contém bem poucos erros “nos totais”, e estes são pequenos e irrelevantes e não ocorrem “na decisiva seção final da NBC 4897”, como van Driel/Nemet-Nejat dizem.

Quanto à alegação de que os erros na maior parte “ocorrem nos totais”, segundo a tradução de van Driel / Nemet-Nejat os mais graves destes se encontram nas linhas 31 e 35, onde os números de ovinos (carneiros + ovelhas + cordeiros + ovelhas jovens) são resumidos como segue:

Linha 31: 170 + 390 + 66 + 193 = total: 759.

Linha 35: 5 + 198 + 14 + 51 = total: 198.

Conforme van Driel/Nemet-Nejat observaram (págs. 53, 57), os números que eles leram na linha 31 totalizam 819, não 759, e na linha 35 totalizam 268, não 198.

No que se refere à linha 31, no entanto, Zawadzki observa que “Van Driel lê equivocadamente 193 cordeiros, enquanto a cópia da tabuinha diz claramente 133. O total de 759 está correto. Assim, seus cálculos na Revista de Estudos Cuneiformes 46, [página] 57 do ponto (3) até o final do artigo [ou seja, a página final inteira do artigo] estão errados.” (Zawadzki, pág. 104, nota 23)

A linha 35 contém mais duas leituras erradas: O número 198 é uma leitura errada de 138 (Zawadzki, pág. 104, nota 25) e o número 51 é uma leitura errada de 41. Paul-Alain Beaulieu, que conferiu a tabuinha original em Yale, comenta: “A tabuinha tem um número 41 claro, realmente, mas o escriba escreveu 51 e, em seguida, apagou um dos Winkelhaken [caracteres cuneiformes] para escrever 41.” (Zawadzki, pág. 104, nota 26) Portanto, o total de 198 na linha 35, também está correto.

Assim, não existem erros “na decisiva seção final” da tabuinha. Quando os números individuais são lidos, copiados e traduzidos corretamente, bem como o procedimento usado pelo contador para chegar ao “subtotais” e “totais” é entendido corretamente, os cálculos do contador passam a ser surpreendentemente livres de erros graves. O “total geral” contém erros em apenas dois lugares, e estes são bem pequenos. Para o 37º ano (linha 5) o “total geral” mostra 176 animais em vez de 174, e para o 40º ano (linha 14) ele mostra 303 ​​animais em vez de 306. Para todos os outros oito anos os cálculos estão corretos!

Em vista disso, é surpreendente que Rolf Furuli, em sua tentativa de minar o impacto cronológico da NBC 4897, deu tão pouca atenção à análise cuidadosa que Zawadzki fez do livro-razão, que não notou que sua citação de van Driel/Nemet-Nejat sobre os supostos erros numéricos na tabuinha tinha sido refutada por Zawadzki!

A Tabela 1 abaixo, que é baseada no estudo de Zawadzki, resume os cálculos no livro-razão, demonstrando que o contador neobabilônico fez, em geral, um excelente trabalho, e que os poucos erros que cometeu em seus cálculos do aumento anual do rebanho foram de bem pouca conseqüência. Na tabela, “BF” significa “antecipado” e “CF” significa “transportado”. “Nbk” significa Nabucodonosor, “AmM” é Amel-Marduque e “Ngl” significa Neriglissar. Os números do ano de reinado na primeira coluna incluem algumas emendas ou reconstituições de van Driel e Zawadzki. (Zawadzki, página 100, nota 9). Veja a Tabela 2 abaixo.

Tabela 1: Um resumo dos cálculos no livro-razão NBC 4987

Ano de reinado:BF do ano anterior:– Animais disponibilizados para tosquia:– Escondidos (animais mortos):– Salários (= animais) para pastore (s):+ Cordeiros (machos e fêmeas):+ Animais jovens (machos e fêmeas):Total geral (CF) na tabuinha:Total Geral Real:
37º Nbk137– 12– 416 + 360 + 1176174!
38º176– 2– 15– 518 + 401 + 1214214
39º214– 4– 19– 723 + 451 + 2255255
40º255– 2– 22– 827 + 531 + 2303306!
41º303– 7 (6 +1)– 27– 1031 + 602 + 2354354
42º354– 2 (1 +1)– 32– 1140 + 652 + 2418418
43º418– 7– 37– 1341 + 802 + 3487487
1º AmM487– 7– 43– 1548 + 903 + 3566566
0 AmM104104
1º AmM566 + 104– 5665665
665– 0– 61– 2266 + 1334 + 4789789
1º Ngl789– 5– 71– 2680 + 1464 + 5922922
Visto208208
Não visto922-208– 11 (8+3)703703

Nota: As últimas três linhas da tabela resumem as linhas 34-36 da tabuinha. No 1º ano de Neriglissar o rebanho havia aumentado para 922 animais segundo a linha 34. Destes, 208 animais “foram vistos” segundo a linha 35. Conforme Zawadzki explica, isso significa que esta era “a parte do rebanho, que foi realmente trazida para inspeção em Uruque”. Conforme a linha 34 prossegue dizendo, “oito cordeiros foram recebidos em Uruque, 3 cordeiros (foram dados) para tosquia”, o número de animais que “não foram vistos” foi 703 (922 – 208 – 8 – 3), conforme a linha 36 da tabuinha mostra.

Será que a tabuinha indica outro rei entre Nabucodonosor e Amel-Marduque?

As linhas 26, 27 e 28 da tabuinha são datadas no 1º ano, no ano de ascensão e no 1º ano, respectivamente, de Amel-Marduque. À primeira vista, esta ordem parece estranha. Furuli usa isso para argumentar que, “Se o nome [na linha 27] é Evil-Merodaque, o rei na linha 26 provavelmente é outro rei porque o ano de ascensão de um rei é mencionado na linha 27, e o primeiro ano de um rei é mencionado na linha 26. E, naturalmente, o ano de ascensão de um rei será mencionado antes do primeiro ano dele.” (Furuli, pág. 253)

Furuli tende a obscurecer o assunto, por dar exemplos de como um mesmo caracter cuneiforme pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Este é o método a que ele recorre aqui. Ele alega que os caracteres traduzidos como Amel-Marduque (Evil-Merodaque) na linha 26 também podem ser lidos de muitas outras maneiras. Nas páginas 252 e 253, ele apresenta uma lista de “24 nomes diferentes, cada um dos quais pode ser representado pelos caracteres, dependendo de como cada caracter é lido.” Um desses nomes é Nadin-Ninurta, o qual, segundo Furuli pode ter sido um rei desconhecido que “reinou antes de Neriglissar.” (Furuli, pág. 78)

Mas é a combinação de alguns caracteres tão problemática assim? Erica Reiner, que foi uma das principais peritas em escrita cuneiforme e acadiana (ela morreu em 2005), explica:

“Apesar da polivalência do silabário cuneiforme, geralmente só existe uma leitura correta para cada grupo de caracteres, se a unidade for uma palavra ou uma frase; nos casos em que há uma ambigüidade real, ela não pode ser solucionada só a partir de evidência interna, assim como é o caso das frases ambíguas em qualquer idioma moderno. Para dar um exemplo, se o sinal A tem como valores possíveis as sílabas urliKDaŠ, e o sinal B as sílabas kurlaDmaDnaDŠaD (K representa um elemento do conjunto cujos elementos são {g, k, q}, abbr. K Є {g, k, q}, similarmente Š Є {z, s, ş, š}, D Є {d, t, }) a combinação AAB, representando uma palavra, será lida, dentre todas as possíveis 16.16.22 = 2x 11 = 512 x 11 = 5632 combinações, única e inequivocamente como lik-taš-šad, porque dentre essas 5632 combinações, 5631 serão eliminadas por motivos grafêmicos, fonológicos e lexicais”. – Erica Reiner, “Acadiano”, em A Lingüística no Sudoeste Asiático e Norte da África (ed. T. A. Sebeok; Tendências Atuais em Lingüística 6; The Hague: Mouton, 1970), pág. 293.

Os caracteres para o nome real na linha 26 são lidos como LÚ-dŠÚ por Sack, van Driel/Nemet-Nejat e Zawadzki. Furuli (na pág. 252) concorda que esta é “uma interpretação razoável” dos caracteres, embora ele indique que os caracteres são apenas parcialmente legíveis e que, portanto, outras leituras são também possíveis, dando uma série de exemplos disso. O nome “Nadin-Ninurta”, por exemplo, exigiria que os caracteres fossem lidos MU-dMAŠ em vez de LÚ-dŠÚ. Para saber se os caracteres são realmente tão difíceis de ler, enviei uma pergunta sobre o assunto a Elizabeth Payne, uma assirióloga experiente da Universidade de Yale que possui a tabuinha. Payne, que também é especialista no arquivo de Eana (ao qual pertence o livro-razão NBC 4897), respondeu:

“Esta seção do texto não está totalmente danificada. Conforme indicado pela cópia de Nemet-Nejat (Revista de Estudos Cuneiformes 46, 48) os caracteres estão bem preservados e leituras alternativas exigiriam alteração no texto… Creio que Nadin-Ninurta pode ser excluído com certeza.” (E-mail recebido em 14 de novembro de 2008)

Então, como a leitura LÚ-dŠÚ é clara, a única tradução razoável é “Amel-Marduque”. Nenhuma das outras 23 leituras alternativas alistadas por Furuli é possível. Curiosamente, a lista de Furuli não inclui “a única leitura alternativa realmente possível de LÚ-dŠÚ, que é Amil-ili-shú, ‘homem de seu deus (pessoal)’, um nome bem atestado, exceto no tempo da antiga Babilônia. Uma vez que nenhum rei neobabilônico é conhecido pelo nome de Amil-ilishu, e há um rei chamado Amil-Marduque, é extremamente improvável que se deva ler Amil-ilishu aqui.” (E-mail do professor Hermann Hunger, de 11 de novembro de 2008)

À parte essas considerações lingüísticas, uma explicação simples e natural da ordem aparentemente peculiar dos anos de reinado é claramente indicada pelo contexto.

O que Furuli não percebeu é que o acréscimo de 104 animais na linha 27 não se refere ao aumento de outro ano dos animais devido à reprodução dentro do rebanho. Deve-se notar que os números de animais disponibilizados para tosquia, peles de animais mortos, e os salários pagos, que são fornecidos para todos os anos, estão faltando aqui. Em vez disso, a razão para a adição deste número é declarada como sendo que ele representa “rendimento [irbu] do mês de adaru [o mês XII], do ano de ascensão de Amel-Marduque.” Este é o único lugar no texto onde a palavra irbu (“rendimento”) é usada.

Conforme sugerido por Stefan Zawadzki, a explicação mais provável para este aumento extra do rebanho declarado como vindo do final do ano anterior (o ano de ascensão de Amel-Marduque) é que “os administradores do templo decidiram, por razões desconhecidas para nós, aumentar o rebanho por usar animais de outras fontes.” (Zawadzki, Revista de Estudos Cuneiformes 55, 2003, pág. 103) Estes animais tiveram de ser adicionados ao rebanho na contagem anual seguinte, cerca de um ou dois meses depois. Portanto, o “total geral” no 1º ano de Amel-Marduque, 566 animais, foi aumentado por este grupo adicional de 104 animais e reduzido pelos 5 animais disponibilizados para a tosquia do rebanho. Isso aumentou o “total geral” na mesma ocasião da contagem para 665 [566 + 104 – 5] animais, conforme é mostrado na linha seguinte (a linha 28 da tabuinha).

Esta explicação simples e natural elimina as explicações rebuscadas e insustentáveis de Furuli sobre “reis desconhecidos” neste período.

As leituras dos números dos anos de reinado

Conforme é mostrado pelos desenhos de Sack e van Driel/Nemet-Nejat, alguns dos números referentes a ano na tabuinha não são facilmente identificados e foram lidos de maneira diferente por esses eruditos. Isto é verdade no caso dos números de ano nas linhas 11, 14, 17, 20, 23 e 28. Por isso, escrevi para a Universidade de Yale e perguntei se alguém ali poderia reproduzir novamente os números referentes aos anos. Isso foi feito por Elizabeth Payne, que, além de suas observações, anexou também uma foto da metade direita da tabuinha. Os resultados da cópia que ela fez das seis linhas mencionadas acima são mostrados na quinta coluna da tabela abaixo. Ela acha que “Em cada caso, a cópia de van Driel/Nemet-Nejat é mais confiável” do que a de Sack. – Email de Payne a Jonsson, de 29 de outubro de 2008.

As leituras mais confiáveis dos números do ano sobre a tabuinha são mostrados na coluna 6 da Tabela 2. Os números mostrados para os que foram lidos de maneira diferente por Sack, van Driel/Nemet-Nejat, Zawadzki e Furuli (os das linhas 11, 14, 17, 20, 23 e 28) são baseados nas conferências que Elisabeth Payne fez na tabuinha original. As razões para a leituras selecionadas dessas linhas são dadas abaixo. 

Tabela 2: As leituras dos números referentes a ano na NBC 4897

Linha + rei mencionadoR. SackVan Driel/ Nemet-NejatRolf FuruliCorreções de E. PayneMelhores leituras
2 [Nbk]1373730-7 (?)372
5373737372
838383838
112938 ‘sobre apagamento’293838 (?)
1440414040 ou 4140 (?)
173141424141
203242424242
2343Nenhum ano[4]343
26 AmM1111
27 AmM000, Outro rei?0
282121!1
312222
34 Ngl1111
37 Nbk-Ngl:37 – 137 – 137 – 137 – 1

 

Nota 1: A linha 2 não contém o nome de Nabucodonosor. Mas, que os anos de reinado 37-43 se referem ao reinado dele é evidente, porque a linha 37 dá o seguinte resumo da quantidade de pêlo de cabra obtido na tosquia ao longo de todos os 10 anos:

“40 5/6 minas de pêlo de cabra do 37º ano de Nabû-kudurri-usur, rei de Babilônia até o 1º ano de Nergal-šarra-usur, rei de Babilônia.”

Nota 2: As linhas 2 e 5 são ambas datadas no 37º ano. Mas, conforme argumentado por van Driel/Nemet-Nejat, a linha 2 mostra o balanço transportado do ano anterior, ou seja, o número total de ovinos e caprinos (137) que tinha sido confiado ao pastor, “Nabû-ahhē-šullim, descendente de Nabû-šum-iškun”, no 36º ano. Zawadzki (pág. 100) concorda:

“A consideração de Van Driel sobre o método do contador está correta. O ponto de partida de cada contagem subseqüente é o número do estoque do rebanho especificado na contagem do ano anterior, da qual o escriba subtraiu… os animais mortos (chamado KUŠ = mašku, ‘escondidos’), os animais dados como salário (idî) e para a tosquia (referidos como “x animais ina gizzi’ no ‘total geral’).”

Para o número restante foram então adicionados os cordeiros e cabritinhos nascidos durante o ano anterior, resultando no novo “total geral” na linha 5, “176” (total real, conforme mostrado na Tabela 1:174) no início do 37º ano. (Zawadzki, págs. 102, 103) O nascimento e tosquia ocorreu por volta da virada do ano, “nos meses adaru-aiaru”, ou seja, do mês XII ao mês II, que “deu oportunidade para contar o estoque” e pagar os pastores “pela tosquia, depois de seu término.” (Zawadzki, pág. 100, incluindo nota 7)

As verificações de Elisabeth Payne

Linha 11: Elisabeth Payne afirma que “A tabuinha diz MU.38.KAM [ano 38], conforme copiado.” Furuli afirma (na pág. 248) que o desenho de van Driel/Nemet-Nejat “parece ser MU.28.KAM2”, mas ele está errado. Um olhar atento no desenho mostra três Winkelhaken, e não só dois; assim eles dizem claramente “38”, o que está de acordo com a tabuinha conforme Payne salienta. Sack leu “ano 29”, o que foi adotado por Furuli, mas isso está errado segundo Payne.

Na verdade, esperaríamos “ano 39” nesta linha. Em vez disso, a tabuinha parece indicar dois “ano 38” consecutivos, enquanto que o ano 39 é omitido. O número total de anos permanece o mesmo, naturalmente. É interessante que van Driel/Nemet-Nejat (pág. 48) observam à margem do desenho deles que o número referente ao ano “38” está “escrito sobre um apagamento”, o que pode indicar que ele é um erro para “39”. Por outro lado, como a tosquia e contagem anual ocorriam por volta da virada do ano, pode ter acontecido em alguns anos de essa tosquia e contagem serem feitas duas vezes, primeiro no início do ano, como de costume, com a tosquia e contagem anual seguinte ocorrendo no último mês (adaru) do mesmo ano, em vez de no ano seguinte (39º). Este pode muito bem ter sido o caso aqui.

Linha 14: O desenho de Sack mostra claramente “ano 40” neste local, enquanto o de van Driel/Nemet-Nejat mostra “ano 41”. Em seu desenho, no entanto, o sinal referente a “1” não é uma cunha normal, já que a linha vertical abaixo da cabeça é muito curta ou a cunha está ligada diagonalmente para cima em direção à esquerda. Isto se vê também na foto da tabuinha recebida de Yale. Elisabeth Payne diz: “O escriba registrou claramente MU.41.KAM, mas há vestígios de um possível apagamento. Não está claro para mim como essa linha deve ser lida. Ambas as leituras são possíveis…” Como o número do próximo ano na linha 17 é claramente 41, a conclusão mais lógica é que “40” é a leitura correta aqui. Esta é, na verdade, a leitura que Rolf Furuli também faz do número. (Furuli, págs. 248, 249)

Linha 17: Sack diz “ano 31”, van Driel/Nemet-Nejat “ano 41”, e Furuli “ano 42”. Quem está certo? A tabuinha original, segundo Payne, apresenta o número 41: “Ano 41 está correto”. Os números de Sack e de Furuli, portanto, estão ambos errados.

Linha 20: Sack diz “ano 32”, mas Payne não hesita: “Ano 42 está correto”, diz ela. Van Driel/Nemet-Nejat e Furuli estão de acordo.

Linha 23: O número referente ao ano está danificado, mas seria, logicamente, “43”, já que o ano seguinte é datado no “1º ano de Amel-Marduque”, o sucessor de Nabucodonosor. Van Driel/Nemet-Nejat apresentam “43” em sua transliteração e tradução, mas sugerem um possível “42” na página 54 da obra deles. Na verdade, a última parte do número “3”, ainda está legível. Payne explica: “Essa linha está, de fato, bem danificada, mas há traços legíveis. Leia-se: P[AB.M]A.ME {87 MU.43.KAM} (apagamento…) O texto prossegue depois do trecho apagado como vD/NN. O ‘3 UDU’ que eles apresentam nesta linha, no entanto, NÃO está lá – é o +3.KAM da data.” Assim, “43” é, sem dúvida, a reconstituição correta do número original.

Linha 28: O número referente ao ano nesta linha é lido como “ano 1” por van Driel, mas Sack, seguido por Furuli, lê “ano 2”. Elizabeth Payne, que conferiu a linha em 14 de novembro de 2008, explica:

“Eu leria este trecho do texto como ‘mu.1!.kam’, já que existem vestígios de uma segunda ‘cauda’. É, no entanto, marcantemente diferente da linha 31, onde há claramente duas cunhas verticais (mu.2.kam). Em minha opinião, a interpretação de vD [van Driel] e NN [Nemet-Nejat] está correta, mas a cópia omite esses vestígios.”

Em conclusão, a tabuinha, obviamente, fornece uma contagem anual do rebanho, sem faltar nenhum ano. A alegação de Furuli (na pág. 248) de que “não podemos saber se a tabuinha representa as contagens de anos sucessivos” não é nada mais que o desejo dele de acreditar nisso. Que a tabuinha fornece relatórios anuais é também confirmado pelos cálculos, conforme resumidos na Tabela 1 acima. Como o “total geral” do ano anterior é o mesmo que o BF (balanço transportado) do ano seguinte ao longo de todo o período de dez anos é impossível acrescentar quaisquer “reis desconhecidos” ou “anos adicionais” para o período. O total dado pela conta BF – CF liga cada ano diretamente ao próximo ano, sem interrupção. Qualquer inserção de “anos adicionais” ou “reis desconhecidos” destruiria imediatamente essas conexões óbvias e exigiria mais aumentos anuais.

Isso é também confirmado pelo aumento anual do rebanho. Furuli discute isso na página 257, mas o cálculo dele é inválido porque ele inclui os 104 animais da linha 27 no aumento anual do rebanho, quando na verdade ele foi adicionado a partir de uma fonte externa, conforme mostrado acima. Zawadzki, por outro lado, que leva isso em consideração, nota que “o crescimento médio anual do rebanho (excluindo a adição de novos animais no 1º AmM) foi de aproximadamente 18%.” (Zawadzki, págs. 104, 105).

Assim, a tabuinha NBC 4897 mostra claramente que Nabucodonosor reinou por 43 anos, e que seu filho e sucessor Amel-Marduque governou por dois anos e foi sucedido por Neriglissar.

Imagem: Reconstituição de parte do Templo de Eanna, Uruque Vorderasiatisches Museum (Berlim, Alemanha). Foto disponibilizada por F. Tronchin.

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