“Chame os anciãos” – O que diz a Bíblia sobre a confissão de pecados?

Embora condene a Igreja Católica por praticar a confissão, as Testemunhas de Jeová também fazem uso dela na sua prática religiosa. De fato, quando uma Testemunha de Jeová viola qualquer tipo de norma, bíblica ou organizacional, é obrigada a confessar o seu pecado aos anciãos congregacionais e aguardar o veredicto deles, quanto a se seus pecados serão perdoados ou não, e quanto a que tipo de punição será necessária no seu caso.

O manual dos anciãos, “Pastoreiem o Rebanho de Deus” (edição de 2019), no capítulo 16, mostra que a confissão voluntária do pecador é um dos critérios para a avaliação de seu arrependimento. Sendo assim, o contrário, negar-se a confessar, deve ser visto como sinal de que não está arrependido.

As audiências judicativas geralmente são abertas com a leitura de algum texto bíblico, tal como Provérbios 28:13 que diz: “Quem encobre as suas transgressões não será bem-sucedido, mas aquele que as confessa e abandona será tratado com misericórdia.” O objetivo é incitar o réu a abrir seu coração e confessar todos os seus pecados aos anciãos, sem esconder nada.

Há muita matéria publicada pela JW.org para lembrar as Testemunhas de Jeová que devem sempre confessar seus pecados aos anciãos, caso contrário, não terão seus pecados perdoados por Jeová Deus. Por exemplo, a revista Despertai! de 22 de janeiro de 1997, na página 12, num artigo direcionado aos jovens diz:

“Se você é cristão, o assunto não acaba quando você conta aos pais. André diz: “Eu sabia que tinha de contar meu problema aos anciãos da congregação”. Que alívio foi saber que eles estavam dispostos a me ajudar!” De fato, os jovens entre as Testemunhas de Jeová podem e devem procurar os anciãos congregacionais em busca de ajuda e encorajamento. Mas por que não se pode simplesmente orar a Jeová e pronto? Porque Jeová encarregou os anciãos da responsabilidade de ‘vigiar sobre as nossas almas’. (Hebreus 13:17) Eles podem ajudá-lo a não pecar de novo. — Note Tiago 5:14-16.” (O sublinhado é meu).

Note que o jovem André, mencionado no artigo, diz que sabia que tinha que contar seu problema aos anciãos. O mesmo ocorre com a vasta maioria das Testemunhas de Jeová. Elas foram ensinadas que só resolverão o problema quando procurarem os anciãos, e enquanto não confessarem seus pecados a eles, sua situação estará pendente diante de Jeová Deus. A revista A Sentinela de 1º de janeiro de 1995, na página 27 também reforça isso dizendo:

“Assim, quando um cristão dedicado comete um pecado grave, não basta apenas que ele confesse isso a Jeová. Os anciãos têm de tomar certos passos, visto que a pureza ou a paz da congregação está ameaçada.“

Esta exigência da parte do Corpo Governante faz com que as Testemunhas de Jeová se sintam pressionadas a abrir a sua intimidade aos anciãos, confessando a eles os seus erros. Na maioria dos casos, a pessoa que procura os anciãos para confessar sente muita vergonha e constrangimento, e muitas o fazem com lágrimas nos olhos, com grande agitação emocional. E o fator mais crítico nessas experiências é que o confessando, na maioria das vezes, já buscou o perdão de Jeová Deus através da oração, e geralmente já decidiu não repetir o erro. Mesmo assim, sente (pois foi ensinado assim) que o assunto ainda não está resolvido, e que só será perdoado por Deus quando confessá-lo também aos anciãos. A confissão aos anciãos, portanto, foi lhe inculcado como sendo um requisito divino para que os seus pecados sejam perdoados.

O Corpo Governante, logicamente, quer que seja assim para manter um rígido controle sobre a suposta pureza da congregação. Esta prática, enquanto convenção, nada tem de errado, visto que qualquer organização, secular ou religiosa, tem o direito de convencionar certos procedimentos de caráter obrigatório para os seus membros; e quando uma pessoa decide entrar para um grupo, está ciente que terá que se sujeitar às convenções que foram decididas por aqueles que dirigem o grupo, por mais absurdas que elas sejam para os que estão de fora.

O problema é que o Corpo Governante, ao mesmo tempo que condena esta prática em outras religiões como sendo antibíblicas, afirma que tem base bíblica para exigi-la de seus membros. Esta afirmação não pode ser provada com a Palavra de Deus.

Segundo a Bíblia, quando um cristão comete um pecado claramente condenado na Palavra de Deus, deve dar os seguintes passos para se beneficiar do sacrifício resgatador de Jesus Cristo e ter os seus pecados perdoados:

1-) Arrepender-se de seus pecados. (2 Pedro 3:9; Lucas 24:47; Lucas 15:7) Arrepender-se significa mudar de atitude com respeito a uma ação ou conduta passada ou tencionada, sentir lástima pelo que fez ou deixou de fazer em violação de uma norma bíblica. O arrependimento genuíno envolve uma mudança de ideia ou de sentimento com respeito ao pecado cometido. (Estudo Perspicaz das Escrituras, vol. 1, p. 213).

2-) Confessar a Jeová Deus, mediante Cristo Jesus. O Salmo 32:5 diz: “Finalmente te confessei o meu pecado; não encobri o meu erro. Eu disse: “Confessarei minhas transgressões a Jeová.” E tu perdoaste meu erro e meus pecados.” (O sublinhado é meu). É a Deus que devemos confessar para termos o perdão de nossos pecados mediante Cristo Jesus. (Efésios 1:7) A única pessoa entre o pecador e Jeová Deus é o Senhor Jesus Cristo, conforme Efésios 3:11-12 e Romanos 5:1-2. Todos os textos bíblicos que mencionam a confissão de pecados contra Deus sempre se referem à confissão feita diretamente a Deus, através de uma oração em nome de nosso Senhor Jesus, o único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5; 1 João 2:1).

3-) Conversão Retornar a Deus e ao proceder correto. O arrependimento interrompe o proceder errado da pessoa, e assinala a determinação de seguir o proceder correto. Isto significa que quando o arrependimento é de coração, seguir-se-á a conversão, ou seja, uma meia volta quanto ao proceder errado. (Atos 15:3) Os verbos hebraico e grego relacionados com a conversão (hebr.: shuv; gr.: stré·fo; e·pi·stré·fo) significam simplesmente “retornar, dar meia-volta”. Um pecador arrependido precisa retornar a Deus, recuando do proceder errado. (1 Reis 8:33). (Estudo Perspicaz das Escrituras, vol. 1, página 213).

Estes três passos deverão ser suficientes para que o cristão endireite seu modo de agir e seja perdoado por Jeová Deus. O arrependimento genuíno causa um verdadeiro impacto, gera forças, motiva a pessoa a ‘dar meia-volta’. (Atos 3:19).

Mas que dizer se o cristão estiver lidando com uma fraqueza que o deixa tão abatido e deprimido, ao ponto de nem mesmo conseguir orar a Jeová? Existe uma provisão para esses casos.

Quando alguém fica envolvido em erro grave e necessita de ajuda espiritual para vencer o seu erro, a Bíblia aconselha: “Há alguém doente entre vocês? Que ele chame os anciãos da congregação, e que eles orem por ele, colocando óleo nele em nome de Jeová. E a oração de fé fará que o doente fique bom, e Jeová o levantará. Também, se ele tiver cometido pecados, será perdoado.  Portanto, confessem abertamente os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que sejam curados. A súplica do justo tem um efeito poderoso.” (Tiago 5:14-16).

Portanto, se a pessoa não consegue sozinha, seguindo os três passos delineados anteriormente, abandonar um proceder errado, ela pode contar com a ajuda de outros cristãos maduros (não necessariamente anciãos “designados”), que poderão aconselhá-la, auxiliá-la e até mesmo orar por ela. A declaração do versículo 16 “confessem abertamente os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que sejam curados”, não pode ser entendida como uma exortação a se confessar os pecados aos anciãos (ou outros sacerdotes), pois a declaração incentiva um intercâmbio de confissões. Comentando este versículo específico, o livro “Comentário à Carta de Tiago”, na página 206 diz:

“Esta confissão não é igual ao arranjo do “confessionário”, em que a pessoa é considerada como tendo a obrigação de comparecer e de confessar todos os pecados, para obter a absolvição da culpa aos olhos de Deus. Embora Tiago tivesse feito anteriormente menção específica dos anciãos congregacionais com respeito aos doentes necessitados de ajuda, ele manda aqui ‘confessarem os seus pecados uns aos outros’, não limitando o assunto a certos dentro da congregação. Embora seja assim, é razoável que aquele que confessa seus pecados procure alguém que lhe pode ser de verdadeira ajuda em sentido espiritual. Junto com o desejo de se aliviar, sem dúvida, quer o conselho e a oração do outro. Gálatas 6:1,2, fala do reajuste daquele que dá um passo em falso e mostra que os habilitados para fazer o ajuste são os ‘que têm qualificações espirituais’. Os anciãos devem ter tais qualificações, e é também possível que outros na congregação as tenham. […] De modo que a fonte de ajuda não se limita a poucos; o importante é que a pessoa tenha “qualificações espirituais”. Tiago mostra que o objetivo e o resultado de se procurar assim humildemente a ajuda deve ser o interesse de irmão (ou irmã) na oração a Jeová a favor da pessoa que confessa a falta.”

O Corpo Governante sabe que este é o sentido correto do texto, embora muitas vezes o use para apoiar o ensino de que se deve procurar os anciãos para confessar pecados. Recentemente, a Sentinela explanou com muita clareza o que nós devemos fazer quando cometemos um pecado:

“Se tivermos cometido um pecado, podemos implorar o perdão à base do sacrifício de resgate de Jesus, da misericórdia de Jeová e de nossos antecedentes de serviço fiel. Conhecendo a benignidade imerecida de Jeová, podemos buscar o perdão, confiantes de que esse nos será concedido. – Efésios 1:7.” (A Sentinela, de 15 de julho de 2007, páginas 19 e 20, parágrafo 16).

Note que o escritor registrou exatamente o que é esperado de um cristão quando comete um pecado contra Deus e quer ser perdoado. Não mencionou a confissão aos anciãos como requisito para se obter o perdão, embora em outras publicações isso seja mencionado.

Agora note na continuação do artigo a aplicação que ele faz do único texto que o Corpo Governante usa como base para se exigir a confissão em outras publicações:

“Mas que se dizer se cometermos um pecado e nos sentirmos incapazes de orar porque esse nos deixou espiritualmente doentes? Sobre isso, o discípulo Tiago escreveu: ‘[Que essa pessoa] chame a si os anciãos da congregação, e orem sobre ele, untando-o com óleo em nome de Jeová’. E a oração de fé fará que o indisposto fique bom, e Jeová o levantará. Também, se ele tiver cometido pecados, ser-lhe-á isso perdoado.” (idem, página 20 parágrafo 17).

Observe que no parágrafo 16 o errante é incentivado a resolver o assunto diretamente com Jeová Deus, invocando a mediação de Jesus Cristo qual seu resgatador com a certeza do perdão divino. Se não repetir o erro, este seu pecado estará perdoado e jamais será lembrado novamente contra ele. (Hebreus 10:17) É isso, e apenas isso que é necessário para se corrigir a situação. Apenas se” o cristão não conseguir orar a Jeová Deus para confessar os seus pecados e pedir perdão é que ele deveria recorrer aos anciãos para que esses possam ajudá-lo, até mesmo orando com ele e por ele.

Portanto, se o cristão que errou arrepender-se genuinamente do seu pecado, rogar a Jeová Deus, fazendo confissão e implorando o seu perdão em nome do Senhor Jesus, e não praticar mais o pecado, poderá ter a certeza de que Jeová Deus, com base no sacrifício de Jesus Cristo, apagou aquele seu pecado e jamais se lembrará dele novamente. (Salmo 32:3-5). Depois disso, o cristão deve aceitar o perdão de Deus e não se mortificar infindavelmente por aquele erro. Deverá sentir a sua consciência limpa. (Filipenses 4:7) A questão entre ele e Jeová Deus foi resolvida, e seu pecado foi lavado com o valor do sangue derramado do Cristo. (Isaías 1:18).

Caso seja necessário seguir o conselho de Tiago 5:14-16, tenha muita cautela, pois os anciãos designados simplesmente seguem instruções dos manuais organizacionais quando são procurados por um irmão que precisa de ajuda espiritual. Note o que diz o manual: “Depois de confirmarem que o pecado aconteceu, os anciãos precisam verificar se ele foi sério o bastante para se formar uma comissão judicativa.” (Pastoreiem o Rebanho de Deus, capítulo 12) Confirmada a formação dessa comissão, você terá toda a sua intimidade investigada por três ou mais homens que, conforme diz presunçosamente o próprio manual, “estão julgando para Jeová” (capítulo 15). Caberá a eles avaliar se você está arrependido ou não e determinar a pena: Desassociação (expulsão) ou repreensão (restrição de permissões nas atividades da congregação).

Você pode evitar tudo isso por escolher homens espirituais, que são leais à Palavra de Deus para lhe ouvir e aconselhar. Embora raros, há homens assim nas congregações das Testemunhas de Jeová, que estarão dispostos a te ouvir e a guardar em segredo a sua confissão, apesar do que o Corpo Governante lhes manda fazer. Um bom critério para reconhecê-los é escolher, não os anciãos designados, mas os resignados. Muitos anciãos nos últimos anos têm resignado de suas designações por não concordarem com algumas práticas da organização. Homens assim, se não tiverem perdido suas qualificações espirituais (1 Timóteo 3:1-7), são verdadeiros “abrigos contra o vento e esconderijos contra o temporal.” (Isaias 32:2).

“Vocês foram comprados e seu preço foi pago por Cristo; portanto, vocês pertencem a Ele – libertem-se agora de todas estas vaidades e temores terrenos.” – 1 Coríntios 7:23. (Bíblia Viva).

Referências:

Todas as publicações citadas são editadas pela Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, Tatuí-SP, Brasil.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, edição de 2015, Associação Torre de Vigia, salvo indicações em contrário.

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