‘Vocês acreditam na comunicação com os mortos?’

Gostaria de saber como vocês encaram a comunicação com mortos, tão discutida pela religião espírita, por exemplo. O motivo da pergunta é que estou escrevendo uma matéria sobre o assunto e gostaria de saber a visão de cada religião.

RESPOSTA

A Bíblia, como livro sagrado do Cristianismo, provê informações sobre este importante assunto. Existem várias passagens no texto bíblico que abordam diretamente a comunicação depois da morte. E a conotação que a Bíblia dá a esse fenômeno é sempre negativa. Veja, por exemplo, o caso envolvendo o Rei Saul (primeiro rei da nação escolhida por Deus, Israel) após a morte do profeta Samuel. (1 Samuel capítulo 28) Ali, Saul recorre a uma médium (da cidade de En-Dor) para interceder uma comunicação com o então falecido profeta. O relato descreve uma sessão espírita.

Que Deus é contra a comunicação com os mortos, como fez Saul, pode-se ver nas palavras registradas em Deuteronômio 18:10-12, que foram transcritas na resposta acima. Para confirmar adicionalmente o pensamento de Deus, o resultado adverso que esta ação trouxe para o Rei Saul é declarado adiante, em termos nada incertos, em 1 Crônicas 10:13,14:

“Assim morreu Saul por causa do delito que havia cometido contra Jeová, cuja palavra não observou: e também por causa da consulta que fez para indagar a um espírito familiar, deixando de o fazer a Jeová, que por isso o matou e transferiu o reino para Davi, filho de Jessé. (Sociedade Bíblica Britânica; “porque… chegou a consultar uma médiun”, segundo a Nova Versão Internacional; porque buscou a adivinhadora para a consultar, segundo a Almeida Revisada)

Podemos, então, indagar sobre os motivos pelos quais Deus não autoriza de forma alguma esse tipo de comunicação. Estaria Ele querendo esconder algo da humanidade, que só se sabe após a morte? Se alguma mensagem proveniente dos mortos poderia beneficiar os vivos, por que Ele não apresenta isso como uma possibilidade, pelo menos? Qual seria o motivo dessa proibição tão explícita e irrestrita, e que foi punida com a morte no caso do Rei Saul?

Pelo relato bíblico, se o homem não tivesse se revoltado contra Deus a vida eterna seria uma realidade e nenhum de nós envelheceria e morreria. Porém, o homem, ao pecar, perdeu esse privilégio magnífico. Por isso, foi a ele dada a sentença:

“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra, pois dela foste tomado: porquanto tu és pó, e em pó te hás de tornar… Disse Deus Jeová: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Agora para que ele não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente, Deus Jeová o enviou para fora do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra de que havia sido tomado. Assim expulsou ao homem; e ao oriente do jardim do Éden pôs os querubins e o chamejar de uma espada que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida.” (Gênesis 3:19-23, Sociedade Bíblica Britânica).

A punição do homem foi a morte, e a esperança apresentada na Bíblia é a da ressurreição (voltar a viver). Observemos os seguintes textos bíblicos:

“O destino do homem é o mesmo do animal; o mesmo destino os aguarda. Assim como morre um, também morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego de vida; o homem não tem vantagem alguma sobre o animal.” – Eclesiastes 3:19. (Nova Versão Internacional)

“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol… O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.” – Eclesiastes 9:5, 6,10 (Nova Versão Internacional)

Quando o homem morre, o espírito “volta” para Deus (Eclesiastes 12:7). A alma, conforme o sentido exato da língua original, é simplesmente o ser dotado de vida, seja o homem, sejam os animais. E não existe um só texto bíblico que afirme inequivocamente que a alma é imortal, podendo continuar viva à parte do corpo.

Do ponto de vista bíblico, portanto, não há como pessoas falecidas estarem envolvidas nestas comunicações com o “mundo dos mortos”. Como essas entidades podem afirmar o que quiserem, jamais alguma pessoa que se empenha nisso poderá ter certeza de que elas são realmente quem dizem ser. É digno de nota que muitos séculos atrás as Escrituras disseram:

“Se alguém se dirigir aos espíritas ou aos adivinhos para fornicar com eles, voltarei meu rosto contra esse homem e o cortarei do meio de seu povo.” – Levítico 20:6 (Centro Bíblico Católico; “Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros…”, Almeida Revisada Imprensa Bíblica)

“Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti.” – Deuteronômio 18:10-12. (Almeida Revista e Atualizada)

“Não recorram aos médiuns, nem busquem os espíritas, pois vocês serão contaminados por eles. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês. – Levítico 19:31. (Nova Versão Internacional; “Não vos voltareis para os que consultam os mortos, nem para os feiticeiros…”, Sociedade Bíblica Britânica)

“Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os feiticeiros, os quais chilram e murmuram: acaso não consultará o povo ao seu Deus? Acaso a favor dos vivos consultará aos mortos? À lei e ao testemunho! se o povo não falar segundo esta palavra, não lhes raiará a alva.” – Isaías 8:19, 20 (Sociedade Bíblica Britânica; “Se vos disserem: Consultai os espíritos dos mortos, os adivinhos…”, Centro Bíblico Católico)

Muitos seguidores e simpatizantes da doutrina espírita contestam esses textos e outros, porque:

1) Alegam que o “espiritismo” não existia nos tempos antigos. Alguns chegam a contestar veementemente até mesmo a maneira de traduzir esses textos, dizendo que está errada essa prática adotada por certos tradutores modernos de usarem as palavras “médium”, “espírita” e “espiritismo” em suas versões bíblicas.

2) Afirmam que frequentemente tais espíritos se identificam como “seres do bem” ou “da luz”, ou seja, são aprovados por Deus e realizam “milagres” ou alguma coisa desse gênero em benefício dos vivos.

Com relação ao primeiro ponto, embora seja verdade que as palavras “médium”, “espírita”, “espiritismo” e outras não eram conhecidas no passado, sendo neologismos criados no século 19, é óbvio que o conceito básico do espiritismo tem permanecido o mesmo ao longo da história. Ou seja, que alguma parte do ser humano continua viva após a morte do corpo e pode transmitir mensagens inteligíveis aos vivos. De modo que a validade dos textos citados acima não se altera. A proibição explícita expressa neles é a da consulta aos mortos, independentemente de quem faça isso, seja essa pessoa praticante do espiritismo moderno ou não.

Com relação ao segundo ponto, é bom ter em mente os seguintes textos:

“O inexperiente acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa. – Provérbios 14:15 (Nova Versão Internacional)

Se até mesmo em se tratando de líderes religiosos humanos – pessoas vivas que estão diante de nossos olhos – é imperativo termos cuidado e não irmos acreditando em qualquer coisa que eles afirmam, quanto mais validade tem o conselho expresso neste texto no caso de afirmações provenientes de pessoas a quem nem podemos ver! Tendo em vista esse provérbio e também que existe uma proibição muito clara nas Escrituras (conforme expressa nos textos já citados), seria prudente o cristão buscar estabelecer contatos com pessoas mortas, dando ouvidos a mensagens que se alega virem delas?

O que diz este texto reforça esta ideia:

“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” (1 João 4:1, Nova Versão Internacional)

E qual seria o padrão que devemos usar para ‘examinar se tais espíritos procedem de Deus’? Esse mesmo trecho escrito pelo apóstolo prossegue:

“Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus.” (1 João 4:2, 3, Nova Versão Internacional)

Devemos nos perguntar: Em se tratando de uma pessoa viva, será que o simples fato de tal pessoa confessar Jesus com frequência e afirmar segui-lo prova que ela é cristã realmente? Se nós reconhecemos prontamente a ideia de que a mera confissão verbal de ser seguidor de Cristo não prova nada no caso de pessoas que estão vivas, por que deveríamos imaginar que isso é necessariamente verdade quando alguém diz que esta mesma afirmação está vindo duma terceira pessoa falecida, a quem não podemos sequer ver?

Mas o assunto não termina nisso. Note-se também que o texto acima não diz que o espírito deve apenas “confessar Jesus” e sim ‘confessar que Jesus veio em carne‘. Isto envolve aceitar a verdade de que Jesus nasceu, viveu e morreu como humano, tendo realmente entregado sua alma em nosso benefício. Nenhuma parte de Jesus permaneceu viva após a morte do corpo dele. Isto não ocorreu com ele, e não ocorre com nenhum humano que falece. Se fosse mesmo verdade que alguma parte do homem continua viva após a morte, não haveria qualquer necessidade de Jesus ter dado a vida dele para conceder vida eterna aos crentes, já que de qualquer maneira a vida consciente prosseguiria após a nossa morte. Em outras palavras, essa ideia bíblica do “resgate” (ou “redenção”) não teria sentido algum. Será que qualquer ensino que induza pessoas desavisadas a acreditarem no contrário, a saber, que a vida prossegue após a morte e que é até mesmo possível manter contato saudável com pessoas mortas, está de acordo com a ideia de ‘confessar Jesus vindo em carne’?

Para finalizar, ressaltamos que os fatos apresentados acima não autorizam os cristãos a dizer que todos os espíritas são inimigos de Deus e estão automaticamente condenados a perderem a vida eterna prometida por Ele. Pessoas que não sabem o que a Bíblia diz claramente sobre o assunto e, por qualquer razão que seja, ainda não creem nela como Palavra de Deus, tendo sido doutrinadas para crer na chamada “comunicação com os espíritos desencarnados” e outras ideias derivadas desta, muitas vezes são sinceras e amorosas e fazem o seu melhor para ajudar o próximo. E isso não deve ser desconsiderado. Além do mais, o amor e a misericórdia de Deus são grandes e só o Filho dele, Jesus Cristo, tem competência para determinar o julgamento final de cada pessoa. Até lá, se qualquer pessoa dá evidência de ser sincera em suas crenças, precisamos respeitá-las, mesmo que discordemos totalmente dessas ideias. Ninguém está certo em todas as opiniões religiosas que possui. Cristo corrigirá a todos nós, em maior ou menor grau, e ele fará isso no tempo devido.

Imagem: Cena do filme “Os Outros” (Dimension Films), 2001.

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