A luz ‘que clareia mais e mais’
Introdução
As Testemunhas de Jeová afirmam ser o único grupo que ensina a verdade, conforme revelada ao seu Corpo Governante por Jeová. Se este for o caso, por que a doutrina da organização delas passou por tantas mudanças? A liderança apresenta um raciocínio para justificar isso, e este artigo examina a lógica por trás dele.

Para um observador externo, as mudanças constantes nas doutrinas e toda a série de predições fracassadas da organização seriam uma indicação clara de que Deus não dirige a liderança das Testemunhas de Jeová. Para os seguidores dessa religião, porém, isso não levanta a menor questão. Como pode ser isso? A razão é que as mudanças e falhas são imediatamente descartadas pelo seguinte conceito “mágico”:
“A Bíblia nos diz que a luz ficaria cada vez mais clara.”
Isto se baseia na declaração de Provérbios 4:18:
“Mas a vereda dos justos é como a brilhante luz da manhã, que clareia mais e mais até a plena luz do dia.” (Tradução do Novo Mundo)
Este versículo tem sido a principal justificativa da liderança das Testemunhas de Jeová para as constantes mudanças nas doutrinas e procedimentos:
“A luz não para de clarear… o caminho deles “é como a brilhante luz da manhã, que clareia mais e mais”. (Pro. 4:18) A crescente luz espiritual de Jeová continua a iluminar nossa organização, nossos ensinos e nosso modo de agir. Quais são algumas de nossas crenças que foram esclarecidas nos últimos anos?” – Anuário das Testemunhas de Jeová – 2016, pág. 25
“A vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido”, diz Provérbios 4:18. Sim, a liderança de Jesus é progressiva, não estagnada. Outra maneira de cooperar com os “irmãos” de Cristo é ser receptivo aos refinamentos no nosso entendimento das verdades bíblicas publicados pelo “escravo fiel e discreto”. – A Sentinela de 15 de maio de 2011, pág. 27
“Referente ao esclarecimento espiritual progressivo, Provérbios 4:18 mostrou-se veraz. O texto diz: “A vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido.” Como somos gratos por termos recebido esclarecimento espiritual progressivo!” – A Sentinela de 15 de janeiro de 2001, pág. 19
“UMA prova da sabedoria divina, de acordo com Provérbios 4:18, é que a revelação de verdades espirituais tem ocorrido gradualmente, por meio de lampejos de luz. No artigo precedente, vimos como este texto se cumpriu no tempo dos apóstolos. Um grande conjunto de verdades bíblicas revelado de uma só vez tanto ofuscaria como confundiria — semelhante ao efeito de se sair do escuro para a luz brilhante do sol. Além disso, a verdade revelada gradualmente fortalece a fé dos cristãos de forma contínua. Torna mais brilhante sua esperança e mais claro o caminho que devem seguir.” – A Sentinela de 15 de maio de 1995, pág. 15
A liderança das Testemunhas de Jeová interpreta a palavra “luz” em Provérbios 4 como se referindo ao entendimento “doutrinário” da organização, mas isso é feito simplesmente como justificativa para erros anteriores. Os pontos a serem considerados são:
• Qual é o significado pretendido de Provérbios 4:18?
• A doutrina da religião está ficando mais clara ou mudando?
• Será que Jeová conduziria uma religião a promover falsidade?
Provérbios 4:18
Por milhares de anos, os leitores da Bíblia entenderam que o capítulo 4 de Provérbios está discutindo comportamento, como se pode constatar facilmente lendo o capítulo inteiro no contexto. Os versículos em torno do 18 dizem:
“… os perversos não dormem a menos que façam o mal. … O caminho dos perversos é como a escuridão; eles não sabem em que continuam tropeçando … ouça a disciplina de um pai … guarde meus mandamentos … proteja seu coração.”
Eruditos cristãos explicam:
“O que fica claro em Provérbios é que o leitor pode escolher entre buscar a sabedoria ou levar uma vida de tolice. (Provérbios 4:14-19)” (thisischurch.com – 25 de março de 2005).
A intenção da declaração em Provérbios 4:18 não é ser uma indicação profética de que Deus gradualmente revela a verdade à liderança das Testemunhas de Jeová. Em vez de isolar uma frase, quando considerado na íntegra, o contexto do capítulo 4 de Provérbios é uma comparação de comportamento entre pessoas boas e más, não a distribuição de verdade doutrinária por meio de uma organização. Logo de início, pode-se constatar que usar este texto bíblico para discutir erros e mudanças doutrinárias não tem base.
Luz mais clara ou mudança?

Embora seja fato que Provérbios 4 identifica que os justos se saem melhor do que os perversos, e não é uma profecia sobre a liderança das Testemunhas de Jeová, consideremos a ideia de que este versículo esteja dizendo que Deus revela progressivamente a verdade ao seu povo durante o tempo do fim. Este conceito não pode se aplicar à liderança das TJ, pois a doutrina deles não foi refinada, e sim alterada. Considere se a seguinte mudança é realmente uma questão de luz doutrinária ficando mais clara:
Imagine um pai Testemunha de Jeová de um filho que precisasse de um transplante de rim em 1970. Embora a Despertai! de 22 de dezembro de 1949 (em inglês), tivesse descrito os transplantes como “maravilhas da cirurgia moderna”, em 1967 “Deus revelou” que os transplantes eram errados aos seus olhos. A Sentinela (em inglês) de 15 de novembro de 1967, págs. 702-704 (em português: A Sentinela de 1o de junho de 1968, págs. 349-351), declarou que, agora “esclarecidos pela Palavra de Deus”, os cristãos deveriam entender que “aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas da carne de outro humano. Isso é canibalesco” e que “Jeová Deus não deu permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por receberem canibalescamente em seus corpos a carne humana, quer mastigada quer na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados de outros.” Os pais devem ter acreditado sinceramente que estavam colocando Deus em primeiro lugar ao ver seu filho morrer, negando-lhes a oportunidade de possível sobrevivência por meio de um transplante. Como esses pais se sentiriam ao ler depois A Sentinela de 1o de setembro de 1980, pág. 31: “…não há nenhuma ordem bíblica que proíba especificamente receber outros tecidos humanos… É um assunto para decisão pessoal.”? A “luz” de 1967 provou ser obscura, prejudicial, necessitando de correção posterior, uma doutrina retrógrada que resultou na morte desnecessária de membros. Quando uma doutrina muda e então retorna à posição original, isso não é evidência de que a luz está ficando mais clara, e sim evidência de falta de direção do Espírito Santo nessas decisões do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.
O conceito de uma luz se tornando mais clara significaria que a doutrina anterior estava correta, mas incompleta. Russell escreveu eloquentemente a seguinte verdade:

Tradução do trecho destacado:
“Se estivéssemos seguindo um homem, sem dúvida seria diferente conosco; sem dúvida uma ideia humana contradiria outra e o que era luz um ou dois ou seis anos atrás seria considerado escuridão agora: Mas com Deus não há variabilidade, nem mudança da sombra, e assim é com a verdade; qualquer conhecimento ou luz vindo de Deus deve ser como seu autor. Um novo conceito da verdade nunca pode contradizer uma verdade anterior. “Nova luz” nunca extingue velha “luz“, mas acrescenta a ela…” (Revista A Torre de Vigia de Sião [em inglês], fevereiro de 1881, pág. 3)
A liderança das Testemunhas de Jeová já usou no passado a ilustração de que seu crescente entendimento da verdade é como um barco a vela “bordejando”. Eles alegam fazer pequenos ajustes em seus ensinamentos, mas sempre um passo à frente na promoção da verdade:
“Naturalmente, o desenvolvimento do entendimento, envolvendo “bordejar”, por assim dizer, muitas vezes serviu de prova de lealdade para os associados com o “escravo fiel e discreto”. Mas há contínuo progresso em direção a uma avaliação mais plena das “boas novas” e de tudo o que significam. Os que se mantiveram achegados à organização de Deus têm visto que as questões e as coisas difíceis de entender sempre são esclarecidas com o passar do tempo. E ao passo que a luz brilha cada vez mais, quão animador e satisfatório se torna o caminho!” – Revista A Sentinela de 1o de agosto de 1982, pág. 31

O ponto aqui é claro, os ensinos podem ser refinados, mas não podem contradizer ensinos anteriores. Este não foi o caso com a doutrina das Testemunhas de Jeová. Muitos ensinamentos da liderança delas foram posteriormente descartados como incorretos. Outros mudaram várias vezes, alguns revertendo para sua posição original, outros contradizendo uma verdade anterior. Tem sido regularmente o caso que a doutrina da organização não foi iluminada, e sim eclipsada. Não foi a luz crescente que ditou as seguintes coisas:
• Na década de 1950 Jesus não deveria mais ser adorado; era um ensino fundamental que estava (ou está atualmente ) errado
• Muitas profecias fracassadas, envolvendo datas
• As pirâmides eram proféticas de 1914
• As autoridades superiores eram os governos humanos, depois Deus, depois novamente os governos humanos
• Numerosas mudanças no significado da “geração do fim”
Estes não foram esclarecimentos – foram ensinos errados. Quantos ensinos errados Deus permitiu que se tornassem parte do cânon da Bíblia? Agora compare-se isso com a quantidade de ensinos errados na doutrina das Testemunhas de Jeová nos 150 anos de história dessa organização. A reversão contínua da doutrina só pode indicar que Deus não está envolvido nesses novos lampejos de luz que mais tarde se revelam falsidades. No entanto, a liderança da religião afirma que essas mudanças são de Jeová; não devem ser questionadas:
“Como você reage quando Jeová, a Fonte de esclarecimento espiritual, lança luz sobre “as coisas profundas de Deus” contidas na Bíblia? (1 Cor. 2:10-13) Temos um belo exemplo na reação do apóstolo Pedro quando Jesus disse aos seus ouvintes: “A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” Levando essas palavras ao pé da letra, muitos discípulos disseram: “Esta palavra é chocante; quem pode escutar isso?” Eles “foram embora para as coisas deixadas atrás”. Mas Pedro disse: “Senhor, para quem havemos de ir? Tu tens declarações de vida eterna.” … Pedro confiou que Deus proveria o esclarecimento espiritual. Quando a luz espiritual sobre certo assunto se torna mais clara, você procura entender as razões bíblicas por trás do ajuste?” – A Sentinela de 15 de setembro de 2011, pág. 14.
Quando é verdade?
Este conceito é aplicável a qualquer religião cristã semelhante às Testemunhas de Jeová, como os Cristadelfianos e a Igreja de Deus. Ambas têm uma estrutura doutrinária quase idêntica às Testemunhas de Jeová. Aplica-se igualmente aos Adventistas do Sétimo Dia, cuja doutrina, assim como a das Testemunhas de Jeová, proveio dos mesmos ensinamentos básicos de William Miller. Os Adventistas do Sétimo Dia pregam e crescem na mesma proporção. Uma pessoa criada em qualquer uma dessas religiões está igualmente convencida de que a “luz crescente” esclarecerá as coisas erradas em sua religião.
A Igreja de Deus usa o mesmo raciocínio de “nova luz”, como mostrado em uma experiência de um ex-membro no site ex-sda.com (consulta em 2 de maio de 2006):
“O Sr. Herbert W. Armstrong [o fundador da religião] ainda adotou o que me pareceu uma abordagem insincera. Ele chamou nossa mudança de Divórcio e Novo Casamento de “nova luz”, “nova verdade” que Deus (finalmente) nos mostrou. Em outras palavras, ele sutilmente culpou Deus por nosso erro doutrinário.”
O mesmo fazem os Mórmons. Em uma experiência de um mórmon que se converteu às Testemunhas de Jeová, é irônico que uma de suas razões foi:
“Eu me aprofundei nos ensinamentos da minha fé e também consultei líderes responsáveis da Igreja Mórmon. Disseram-me que as respostas para minhas perguntas envolviam mistérios que um dia seriam resolvidos à medida que a luz se tornasse mais clara.” – Revista A Sentinela (em inglês) de 1o de fevereiro de 2013, pág. 9
Esta declaração que segue, falando da Igreja Católica é igualmente aplicável aos ensinos do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová:
“Diga-me”, perguntou, “como posso ter confiança em algo? Como posso crer na Bíblia, ou em Deus, ou ter fé? Apenas há dez anos atrás, nós, católicos, possuíamos a verdade absoluta, tínhamos toda a nossa fé nisso. Agora o papa e nossos sacerdotes nos dizem que esta não é mais a forma de se crer, mas que temos de crer em ‘coisas novas’. Como vou saber se as ‘coisas novas’ serão a verdade daqui a cinco anos?” – Revista Despertai! de 8 de outubro de 1970, pág. 8
Ironicamente, a raiz da “nova luz” é a apostasia. Uma pessoa – seja o Corpo Governante, alguém do Departamento de Redação ou uma “Pergunta dos Leitores” – mostra desacordo com a “verdade” e apresenta um conceito alternativo. Regularmente, o conceito alternativo não é aceito, e o defensor pode até ser rotulado como apóstata. Porém, em outras ocasiões, o que era uma “ideia apóstata” torna-se doutrina oficial e é classificado como “nova luz”. A conclusão resultante só pode ser que o ensino anterior era falso, ou potencialmente o novo ensino é falso, mas de qualquer forma a organização estava, ou está, ensinando apostasia.
Por que tanto tempo?
É também apropriada a seguinte pergunta: Se Deus quer que sua organização terrestre seja limpa em comparação com todas as demais, por que razão Ele espera tanto tempo para revelar verdades importantes? A liderança das Testemunhas de Jeová tem a si mesma e sua luz espiritual em alta estima:
Jeová é também a Fonte de luz espiritual. (Salmo 43:3) Ao passo que o mundo permanece em densas trevas, o Deus verdadeiro continua a lançar luz sobre seu povo. Com que resultado? A Bíblia responde: ‘A vereda dos justos é como a luz que clareia mais e mais até o dia ficar firmemente estabelecido.’ (Provérbios 4:18) A luz crescente da parte de Jeová continua a iluminar a vereda de seu povo. Ela o refina em sentido organizacional, doutrinal e moral. – Revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 2006, pág. 26 (artigo: Continue a andar na vereda de luz crescente).
Este artigo é revelador, mais pelo que ele não contém. Por exemplo, embora afirme que o ensino sobre as Autoridades Superiores foi corretamente revelado em 1962, ele deixa de mencionar que isso foi o retorno a uma doutrina que era originalmente correta e que havia sido incorretamente alterada por Rutherford em 1929.
Embora o artigo atribua a decisão de 1945 contra transfusões de sangue ao uso de sangue na Segunda Guerra Mundial, ele não aborda adequadamente o tempo que levou para se chegar a essa decisão. Já que a técnica moderna de transfusões de sangue foi dominada em 1916, por que esperar até 1945 para proibir as transfusões de sangue? Se qualquer uso de sangue é errado, por que esperar até 1927 para orientar seu povo a não comê-lo, quase 50 anos depois que a revista A Sentinela começou a ser impressa?
Fumar se tornou uma infração passível de desassociação em 1973. No entanto, fumar sempre foi prejudicial à saúde. “Sociedades foram formadas para desencorajar o fumo” desde o começo do século 201 e cientistas provaram a conexão com o câncer de pulmão na década de 1930.2 Além disso, fumar foi apresentado como errado porque estava relacionado com o espiritismo,3 uma prática que era considerada errada pelos Estudantes da Bíblia desde que eles surgiram na década de 1870. Não seria algo sobre o qual Deus deveria esperar 100 anos para fornecer esclarecimento.
Mais importante, se o Escravo Fiel e Prudente é só o Corpo Governante, por que esperar até 2012 para revelar essa verdade? Até aquele ano dizia-se que Jeová havia dispensado a verdade por meio da classe do Escravo desde o tempo de Jesus, e essa classe era composta por todo o grupo de 144.000. Agora, depois de 2012 está sendo ensinado que é só o Corpo Governante que a compõe, e isso só vale a partir do ano de 1919. Certamente Jeová poderia ter revelado corretamente sua fonte de verdade e luz assim que ela se manifestou em 1919.**
O que a Bíblia diz?
A Bíblia explica que o significado de algumas verdades seria entendido mais tarde. Isso não admite que Deus oriente seu povo com falsidade.
João 16:13: “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.”
Em João 16:13, Jesus estava se referindo ao derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Jesus não se referiu à verdade parcial ou incorreta; o Espírito revelaria a verdade, incluindo “o que está por vir”. Conforme é amplamente conhecido, a liderança das Testemunhas de Jeová tem um índice de fracasso de 100% em prever datas do “que está por vir”.
Daniel 12:4, 10: “Mas você, Daniel, feche com um selo as palavras do livro até o tempo do fim. Muitos irão ali e acolá para aumentarem o conhecimento”…. Muitos serão purificados, alvejados e refinados, mas os ímpios continuarão ímpios. Nenhum dos ímpios levará isto em consideração, mas os sábios sim.”
Embora Daniel não entendesse o que escreveu, ele não fez interpretações falsas. A interpretação da liderança das Testemunhas de Jeová sobre Daniel mudou constantemente com explicações que foram aplicadas ao século 19, e agora são aplicadas ao século 20. Apesar disso, a organização insiste que Deus ilumina unicamente a eles para interpretar essas Escrituras com precisão.
Em vez de indicar que a doutrina ficaria mais clara ou mudaria, a Bíblia adverte contra qualquer um que promova doutrina falsa:
1 João 4:1: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.”
Gálatas 1:8, 9: “Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!”
Outras justificativas da liderança das Testemunhas de Jeová para o erro doutrinário
A declaração de Provérbios 4:18 é a justificativa principal para a razão de grande parte da doutrina inicial da organização ter mudado e continuar a mudar. Mas, há linhas adicionais de raciocínio que são invocadas, cada uma delas igualmente sem sentido.
‘Os Apóstolos de Jesus Também Cometeram Erros’
Justificam-se os erros por meio da comparação com os apóstolos e os erros que eles cometeram.
“As Testemunhas de Jeová não professam ser profetas inspirados. Cometeram enganos. Como no caso dos apóstolos de Jesus Cristo, tiveram às vezes expectativas erradas.” – Raciocínios à Base das Escrituras, pág. 162

Este argumento é um espantalho, pois aborda uma questão bem diferente da que está em discussão. Esta não é uma questão de cristãos primitivos individuais, Testemunhas de Jeová ou membros do Corpo Governante serem perfeitos ou manterem um entendimento perfeito da doutrina. A questão é se o Corpo Governante opera sob a orientação do Espírito Santo como um grupo coletivo, após a oração ou não. Jeová dirige o que aparece nas publicações da organização? É óbvio que não, já que muita coisa estava errada.
Em vez de sugerir que os apóstolos cometeram erros, considere “Qual porcentagem dos escritos dos apóstolos na Bíblia está errada?” Zero por cento. “Qual porcentagem das declarações da organização das Testemunhas de Jeová estava errada?” A diferença é que os apóstolos sempre foram dirigidos por Deus, o Corpo Governante não é.
Já que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová é diferente dos apóstolos e não é dirigido por Deus para chegar à doutrina, eles não devem ser seguidos cegamente, sem questionamento.
‘Deus está nos testando’
Outra justificativa foi usada várias vezes depois que as profecias da organização não se cumpriram. A revista A Torre de Vigia de Sião (em inglês) de 1º de fevereiro de 1916 disse sobre o entendimento errado sobre 1914:
“Nós inferimos disso que a ‘mudança’ da Igreja ocorreria naquela data ou antes. Mas Deus não nos disse que seria assim. Ele nos permitiu tirar essa conclusão; e acreditamos que isso provou ser um teste necessário para os queridos santos de Deus em todos os lugares.”
Que tipo de grupo acusaria Deus de permitir que eles promovessem a falsidade como um teste para seus seguidores? Se falsos ensinos são um teste de Deus, então como é que podemos diferenciar uma Igreja de outra?
‘Expectativa ansiosa’
Uma justificativa adicional para interpretações erradas é atribuí-las à ansiedade pelo cumprimento dos propósitos de Deus. Pessoas que criticam essa justa ansiedade estariam tentando desviar negativamente as pessoas da importância dos tempos.
“É fácil para as igrejas reconhecidas da cristandade e outras pessoas criticarem as Testemunhas de Jeová porque, às vezes, suas publicações declararam que certas coisas poderiam ocorrer em determinadas datas. Mas, não está essa linha de ação em harmonia com a injunção de Cristo de ‘manterem-se vigilantes’? (Marcos 13:37) Por outro lado, será que, por ensinarem que o Reino significa “o reinado de Deus no nosso coração”, as igrejas da cristandade têm incentivado a vigilância cristã? Em vez disso, não incentivaram a indolência espiritual por considerarem a expectativa do “fim” “sem sentido” ou “um mito insignificante”? Será que os apóstatas que afirmam que os “últimos dias” tiveram início em Pentecostes e abrangem a inteira Era Cristã promoveram a vigilância cristã? Ao contrário, não induziram à sonolência espiritual?” – A Sentinela de 1o de setembro de 1985, pág. 24
“As Testemunhas de Jeová, devido ao seu anseio pela segunda vinda de Jesus, sugeriram datas que se mostraram incorretas.” – Despertai! de 22 de março de 1993, pág. 4
“Nos tempos modernos, tal avidez, embora elogiável em si mesma, tem levado a tentativas de fixar datas para a desejada libertação do sofrimento e das dificuldades, que são o quinhão das pessoas em toda a terra.” – A Sentinela de 15 de setembro de 1980, pág. 17
Quando fala de si mesma, a liderança das Testemunhas de Jeová insinua que uma atitude alerta é mais importante do que a veracidade. Quando fala de outras religiões, a sinceridade não é suficiente, ensinar falsidades torna seus seguidores inaceitáveis para Deus:
“Para sermos aceitáveis a Deus, nossas crenças sinceras têm de basear-se em conhecimento exato. As Testemunhas de Jeová, na sua comunidade, terão prazer em ajudá-lo a analisar o que está envolvido em adorar a Deus com sinceridade e verdade.” – A Sentinela de 1o de fevereiro de 2003, pág. 32 (artigo A sinceridade é desejável, mas é o suficiente?)
Estar em expectativa ansiosa não justifica estar totalmente errado. Muitas religiões tem expectativas, sem depender de falsas previsões para motivar seus membros. Os Adventistas do Sétimo Dia usam declarações como “Até logo, se Deus quiser” para mostrar que reconhecem que Deus pode intervir em qualquer estágio. Este é um reconhecimento saudável do cronograma de Deus sem encorajar expectativas em conexão com uma data. Cometer erros em nome de Deus não promoveu a expectativa de longo prazo; resultou foi em seguidores perderem sua fé na organização.
A orientação de Jeová inclui falsidades?
A “luz crescente” é usada para explicar por que a doutrina anterior estava errada. Ela nunca é apresentada como uma demonstração de que a doutrina atual provavelmente também esteja errada. No entanto, este é o resultado se a justificativa for aplicada à verdade atual.
“Ademais, os conselhos bíblicos são eternos. Embora sua escrita tenha sido concluída uns 2.000 anos atrás, suas palavras ainda se aplicam.” – Um Livro para Todas as Pessoas , pág. 26
Se a orientação da Bíblia continua aplicável depois de 2.000 anos, por que muitas doutrinas da organização das Testemunhas de Jeová ficam desatualizadas em poucas décadas?
A organização afirma que “na verdade” ela não produz alimento perfeito:
Na verdade, Jesus não disse que o escravo ia dar alimento espiritual perfeito. – A Sentinela de fevereiro de 2017, pág. 26.
“Na verdade, …[“naturalmente”, na publicação em inglês]” – Este termo é incluído na frase para influenciar sutilmente o leitor, mas não vem com uma justificativa lógica. Se Jeová é perfeito, e ele inspirou escritores bíblicos a fornecer a Bíblia para ser perfeita e infalível, por qual possível razão ele direcionaria sua organização em nosso tempo para ensinar falsidades? Se o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová proclama ser parte do escravo fiel, então ele deveria logicamente ter o mesmo padrão que o escravo no primeiro século.
Rutherford fez o comentário de que “só quando o Senhor Deus orienta o “servo” a falar, ele fala…”
“O “servo” não deve dizer sua própria mensagem. Jeová fez de seu “servo fiel” o “vigia”, e somente quando o Senhor Deus ordena que o “servo” fale, ele fala, tendo sempre um “Assim diz o Senhor” para cada parte da mensagem que é entregue.” – Livro Vindicação (em inglês) Vol. 1 (1931) pág. 45
Está Deus orientando o servo, ou escravo como é chamado agora, a falar falsidades e erros? Será que esse conceito não é blasfemo?
Qual é a diferença entre “alimento espiritual imperfeito” e “ensinos religiosos falsos”? A única diferença é se a liderança das Testemunhas de Jeová está aplicando o termo aos seus próprios ensinos falsos ou aos ensinos falsos de outras religiões.
A organização das Testemunhas de Jeová não originou o conceito de desculpar previsões fracassadas com “nova luz”. Nelson Barbour usou esse mesmo conceito para justificar por que o fim não chegou como previsto em 1874. Religiões que afirmam ter todas as respostas consistentemente provam estar erradas. A confiança da liderança das Testemunhas de Jeová na doutrina da “nova luz” nada mais é que uma desculpa para justificar incorreções. “Nova luz” é um conceito doentio que promove uma devoção cega e inquestionável a uma organização terrena.
Deuteronômio 18:20-22 fornece uma maneira infalível de determinar se as palavras faladas vieram de Deus:
“Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto”. Mas vocês perguntem a si mesmos: “Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor?” Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele.”
As mudanças que a liderança das Testemunhas de Jeová tem feito incluem inúmeras datas falsas, doutrinas significativas e a promoção de símbolos e ensinamentos pagãos. Regras sobre ostracismo, aconselhamento médico e educação têm mudado vidas adversamente, até mesmo ameaçado vidas. Isto não se origina de Deus. Oscilações doutrinárias não podem ser justificadas como “nova luz”; ao contrário, são prova de que Ele nada tem que ver com ensinos erráticos.
Referências
** Nota do tradutor: Outro exemplo que vale mencionar é o conjunto de mudanças nas políticas de desassociação, que apareceu na revista A Sentinela de agosto de 2024 (Edição de Estudo). A desassociação é uma prática da organização das Testemunhas de Jeová desde o ano de 1952. Ao longo das décadas que se seguiram, as Testemunhas de Jeová eram obrigadas a cortar todo o contato com pessoas desassociadas da organização (inclusive com os próprios pais). Qualquer desassociado era tratado como se estivesse morto; sendo-lhe negado até um cumprimento na rua. Alegava-se taxativamente que este procedimento era “ordem de Jeová”. A Sentinela de 15 de abril de 2012 (Edição de Estudo) dizia na página 12:
“Que dizer se um parente ou um grande amigo nosso for desassociado? Nesse caso, a nossa lealdade será provada, não a lealdade a essa pessoa, mas a Deus. Jeová nos observará para ver se acatamos, ou não, seu mandamento de não ter contato com nenhum desassociado.”
Na “Nota aos Leitores” de A Sentinela de agosto de 2024 afirma-se:
“Nesta revista, vamos considerar o ponto de vista de Jeová sobre as pessoas que cometeram pecados e o que ele faz para ajudá-las. Também vamos ver como imitar o amor, a compaixão e o perdão de Deus.” (grifos acrescentados)
Daí, entre as mudanças inclui-se que um desassociado agora pode ser cumprimentado, inclusive dentro do Salão do Reino. (Veja as págs. 30, 31 da revista).
Ora, se esta atitude é a que reflete adequadamente o “ponto de vista de Jeová”, e seu ‘amor, compaixão e perdão’, então por que Ele teria emitido um “mandamento” contrário a isso, que vigorou por mais de 70 anos, desde que a política de desassociação existe? Aquilo era mesmo um “mandamento de Jeová”? Ou de homens?
1. Richard Doll (junho de 1998), “Uncovering the effects of smoking: historical perspective”, Statistical Methods in Medical Research [Descobrindo os efeitos do tabagismo: perspectiva histórica”, Métodos Estatísticos em Pesquisa Médica] 7 (2): 87–117,doi:10.1191/096228098668199908,PMID 9654637, consulta em 1° de junho de 2008.
2. Oreskes N. Conway EM (2010). Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming [Mercadores da Dúvida: Como um punhado de cientistas obscureceu a verdade sobre questões que vão da fumaça do tabaco ao aquecimento global]. São Francisco, Califórnia: Bloomsbury Press. ISBN 1-59691-610-9.
3. A Sentinela de 1o de dezembro de 1973, págs. 723, 727: “Então, habilitam-se para o batismo os que não venceram seu vício do fumo? A evidência bíblica indica a conclusão de que não se habilitam. Conforme já se explicou em outros números desta revista, a palavra grega pharmakia usada pelos escritores bíblicos e traduzida “prática de espiritismo” ou “práticas espíritas’’ tem por significado inicial “drogaria”. (Gál. 5:20; Rev. 9:21) O termo veio a referir-se às práticas espíritas por causa da relação íntima entre o uso de drogas e o espiritismo. Também o fumo ou tabaco foi usado assim inicialmente pelos índios norte-americanos. Portanto, ele pode ser colocado corretamente na categoria das drogas viciadoras, tais como as que deram origem ao termo grego pharmakia… Queremos que Jeová Deus seja testemunha veloz contra nós, como viciados em entorpecentes ou em outras ervas prejudiciais, que criam hábito, coisas que nos expõem a cair sob a influência dos demônios espirituais? O julgamento de Jeová contra tais viciados, durante a vindoura “grande tribulação”, significará a destruição deles.”
Nota de rodapé
Termos aplicados a doutrinas erradas da liderança das Testemunhas de Jeová
“erros”
“falhas”
“zelo mal orientado”
“esperanças não realizadas”
“falhas anteriores”
“interpretações errôneas”
“mal-entendidos”
“nossa compreensão”
“otimismo mal orientado”
“expectativas erradas”
“esperanças e expectativas”
“expectativas prematuras”
“expectativas ávidas”
“expectativas frustradas”
“erros em seus ensinamentos”
“conceitos incompletos”
“conceitos imprecisos”
“sérias decepções”
“visões anteriormente acalentadas”
“erros em sua compreensão”
“visões que precisam de refinamento”
“uma opinião expressa”
“erros acalentados”
“crenças erradas”
“verdades antigas”
“verdades passadas”
“expectativas que precisam de algum ajuste”
“questões nas quais correções de ponto de vista foram necessárias”
Termos aplicados a doutrinas erradas de outras religiões
“falsidades”
“falsas histórias”
“falsos mestres”
“falsos ensinos”
“falsas doutrinas”
“falsos profetas”
“falsas profecias”
“falsos conceitos religiosos”
“falsos ensinos religiosos”
“falsas filosofias religiosas”
“doutrinas com raízes religiosas pagãs”
“doutrinas de Babilônia, a Grande, desonrosas a Deus”
“desfiguração de Deus”
“ensinos nauseantes”
“desonra a Deus”
“doutrinas pagãs”
“mitos ímpios”
Fonte: Captives of a Concept [Cativos de um Conceito], Don Cameron, págs. 55, 56
Quem é Lilith mencionada em Isaías 34:14?
Se é um demónio porque foi descrita como uma mulher em várias civilizações antigas?