As Boas Novas Imutáveis

As boas novas ou evangelho do reino de Deus começaram a ser pregadas quase dois mil anos atrás, quando João Batista apelou a seus irmãos israelitas para ‘arrependerem-se, porque o Reino dos céus está próximo’. (Mat. 3:2) O ministério de João serviu para preparar os corações e as mentes das pessoas para o prometido reino de Deus e apresentá-las ao seu prometido messias, Jesus Cristo. Mais tarde, quando Jesus soube que João havia sido preso, ele foi para o norte, para o território da Galiléia, e repetiu o apelo de João à nação: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.” (Mat. 4:17) O ministério itinerante de Jesus apresentou o tema do reino: “Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo.” (Mat. 4:23) O reino de Deus era o tema central do ensino de Jesus:

De acordo com todos os três Sinóticos, o reino de Deus era o tema central da pregação e ensino de Jesus. A frase ocorre quatorze vezes em Marcos, trinta e duas vezes em Lucas, mas apenas quatro vezes em Mateus (12:28; 19:24; 21:31, 43). Em seu lugar, Mateus substitui por “o reino do céu”. (Lit. “O reino dos céus”) Embora a teologia dispensacionalista costumeiramente tenha feito uma distinção teológica entre esses dois termos, o simples fato é que eles são bem intercambiáveis ​​(cf. Mat. 19:23 com v. 24; Mar. 10:23). Na literatura rabínica judaica, a frase comum é “o reino dos céus”. No idioma judaico, “céu” ou um termo similar era frequentemente usado no lugar do santo nome. (Veja Luc.15:18; Mar. 14:61) — International Standard Bible Encyclopedia. Vol. 3, pág. 24.

Em relação a esse reino, deve-se notar que a frase correta é “o reino dos céus”, não “o reino nos céus”. Em outras palavras, existe um reino de Deus – um reino que funciona sob seus auspícios e controle, que por fim triunfará sobre todos os inimigos de Deus e restaurará sua soberania sobre a terra. O monarca governante desse reino é o Senhor Jesus Cristo. A respeito de seu governo, nos é dito: “Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.” (1 Cor. 15:25, 26) Todavia, esse efeito final e abrangente do reino de Deus não foi plenamente apreciado por seus ouvintes iniciais.

A pregação sobre esse reino começou na nação pactuada de Deus, Israel, que jazia sob o jugo do domínio romano. A nação não conhecia a liberdade do domínio estrangeiro desde o momento de sua derrubada pela nação de Babilônia em 586 A.C. Potências mundiais sucessivas — Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e naquele momento Roma — já dominavam a nação por mais de seiscentos anos. Embora Deus tenha imposto as consequências para o comportamento rebelde e idólatra de Israel, tirando-os de sua terra e levando-os à escravidão, ele também lhes deu a esperança de uma restauração futura. Assim, quando Jesus incorporou a linguagem da esperança de restauração como parte da mensagem do reino, ela acendeu a chama da expectativa no coração de muitos.

Em sua cidade natal de Nazaré, Jesus entrou na sinagoga em um sábado e leu o seguinte texto do profeta Isaías para os que ali estavam: “”O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.” Depois de dizer estas coisas, ele acrescentou: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”. (Lucas 4:18, 19, 21, NVI).

Naturalmente, aqueles atraídos por Jesus e sua mensagem do reino presumiram que ele restabeleceria a monarquia de Israel naquele tempo. Ele era filho da casa de Davi, a quem Deus havia prometido uma dinastia de reis que nunca terminaria. (2 Samuel 7:11-16) Quando o último monarca da linhagem de Davi, o rei Zedequias, foi removido do trono, Deus, falando por meio do profeta Ezequiel, declarou: “Uma desgraça! Uma desgraça! Eu a farei uma desgraça! Não será restaurada, enquanto não vier aquele a quem ela pertence por direito; a ele eu a darei’.” (Ezequiel 21:27, NVI) Muitos acreditavam que havia chegado a hora dessa restauração e que Jesus se sentaria no trono de Davi em Jerusalém. De fato, sua mãe Maria havia sido informada pelo anjo Gabriel que seu filho seria grande e que “Deus lhe dará o trono de seu pai Davi”. (Lucas 1:32)

Não se entendia que antes que Jesus pudesse ser entronizado como rei seria necessário que ele primeiro morresse como o “Cordeiro de Deus”. (João 1:36) Conforme o apóstolo Paulo explicaria mais tarde em detalhes consideráveis ​​no capítulo cinco de Romanos, era necessário que Jesus desse a sua vida como resgate para redimir a humanidade caída das consequências do pecado causado pela queda de Adão. (Marcos 10:45) A morte de Jesus foi um golpe esmagador nas esperanças do reino de seus discípulos. Mas a esperança deles foi restaurada quando se convenceram de sua ressurreição. Ele fez várias aparições a eles pouco antes de ser levado ao céu para sentar-se à direita de seu Pai. O discípulo Lucas faz menção a essas experiências pós-ressurreição e diz: “Apareceu-lhes por um período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus.” (Atos 1:3) Assim, aprendemos que o tema do reino continuou nos lábios de Jesus depois de sua ressurreição. Em uma dessas ocasiões, perguntaram-lhe: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?” Em resposta Jesus disse: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” (Atos 1:6-8, NVI)

Apesar dessa diretriz clara, muitos se aventuraram nessa área proibida e pregaram presunçosa e confiantemente seus “tempos e datas”, a respeito do reino de Deus. Infelizmente, muitas pessoas inocentes foram enganadas a acreditar nessas coisas, só para no final se desapontarem e se sentirem traídas. Tudo isso poderia ter sido evitado se as pessoas simplesmente ouvissem o que Jesus tinha a dizer sobre o assunto. Apesar do que o Senhor disse, muitos tentaram decifrar certos sinais como indicativos da proximidade de seu retorno e governo do reino. Parte do problema é como o conteúdo de Mateus, capítulo 24, foi mal interpretado, não só pelas Testemunhas de Jeová, como também por evangélicos. Jesus tinha acabado de dizer a seus discípulos que o templo em Jerusalém, que havia sido cuidadosamente reformado pelo rei Herodes, seria completamente destruído. Chocados com essa perspectiva, os discípulos perguntaram quando isso aconteceria. Porém, ao formular sua pergunta, eles fizeram outras perguntas: “’Diga-nos’, (1) ‘quando isso acontecerá, e (2) qual será o sinal de tua vinda e (3) do fim dos tempos?’” (Mat. 24:3) Evidentemente, os discípulos juntaram as três perguntas porque presumiram que tudo ocorreria simultaneamente.

Jesus respondeu às perguntas deles nos versículos restantes de Mateus, capítulo 24. O problema em entender a resposta dele está em separar adequadamente suas palavras e aplicá-las à pergunta certa. Quanto à primeira pergunta relativa à destruição do templo, Jesus deu uma resposta detalhada sobre o que esperar nos anos que antecederiam essa destruição, que ocorreu em 70 D.C. pelas legiões romanas. Quando comparamos Mateus 24 com Lucas 21, encontramos vários detalhes que permitiram aos discípulos discernir o tempo e escapar do perigo. Mas quando chegamos às outras questões sobre seu retorno e o fim dos tempos, vemos algo diferente. Ele disse que os eventos comuns da história (guerras, fomes, terremotos, etc.), continuariam até o fim dos tempos. Essas coisas não eram sinais no que se refere à identificação de seu retorno e o fim da era. Nenhuma dessas coisas forneceria uma pista quanto à proximidade da vinda de Cristo ou o fim dos tempos, porque seriam fenômenos comuns em todos os períodos de tempo. Os discípulos foram alertados​para não se perturbarem com esses não-sinais, ou ficarem excitados por algum falso profeta em relação a essas coisas. Certamente, pelo modo como esses temas são formuladas em Mateus e Lucas, não é fácil determinar o que está sendo aplicado a cada um. A formulação apresenta certos nós que precisam ser desembaraçados, por assim dizer. Mas esses nós são desembaraçados pelo que nos é dito sobre o retorno de Jesus e o fim dos tempos.

A vinda do reino está associada nas Escrituras com a segunda vinda do Filho do Homem. Estes eventos estão sob o manto do sigilo porque eles acontecem simultaneamente. A respeito de seu retorno, o próprio Jesus disse: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai.” (Marcos 13:32, 33-37) O apóstolo Paulo reforçou a natureza repentina e inesperada desse evento quando escreveu: “Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá como ladrão à noite.” (1 Tes. 5:1, 2) Então, quando Jesus disse: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” (Mateus 24:14), ele não estava dizendo que um novo evangelho do reino seria pregado – um que identificasse a própria geração que presenciaria sua vinda. Não, ele só estava dizendo que, além de todos os outros fatores de que falou, seus discípulos continuariam a pregar as boas novas imutáveis ou o evangelho do reino. Este foi o objetivo das observações de Jesus em Atos 1:8, “sereis minhas testemunhas… até os confins da terra”. Os discípulos fiéis de Jesus deveriam ser encontrados pregando fielmente as boas novas do reino. Eles não deveriam ser encontrados tentando descobrir segredos divinos sobre os tempos e datas que Deus reservou para si mesmo.

Depois de receber poder no dia do Pentecostes, a comunhão dos crentes passou por uma profunda mudança no entendimento sobre o vindouro reino de Deus. O arranjo da nova aliança estava agora em vigor e uma nova criação surgiu. A esperança do reino foi dramaticamente enriquecida por tais coisas. O reino tinha tanto um aspecto aqui e agora quanto um aspecto ali e futuro. Os cristãos já deviam se considerar glorificados com o Cristo entronizado à direita de Deus. (Efé. 2:6) Esse novo e enaltecido relacionamento é apresentado cabalmente nos primeiros capítulos da carta de Paulo aos efésios. Ele resume esse maravilhoso evangelho no capítulo 4: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos.” (Efésios 4:4-6)

Nas palavras acima, o apóstolo Paulo delineou o evangelho que deveria ser pregado até o fim da era atual. Sobre esta maravilhosa reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo e a “uma só esperança” que ela oferece, Judas escreveu: “Amados, embora estivesse muito ansioso por lhes escrever acerca da salvação que compartilhamos, senti que era necessário escrever-lhes insistindo que batalhassem pela fé uma vez por todas confiada aos santos.” (Judas 1:3) A Tradução do Novo Mundo diz: “Achei necessário escrever para exortá-los a travar uma luta árdua pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos.” Tudo o que foi entregue aos santos no primeiro século constituía as boas novas que deveriam ser pregadas com alegria e vividas até o fim da era atual.

Esse evangelho não pode ser acrescentado ou subtraído, embora esforços tenham sido feitos desde o início para isso. Desde o princípio, certos judeus aderentes da Lei, que aceitaram Jesus como o messias, queriam que os crentes gentios fossem circuncidados como condição para a salvação em Cristo. Quando o apóstolo Paulo soube disso, ficou furioso. Ele escreveu: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho.” (Gálatas 1:6,7) Esse “outro evangelho” não negou a Cristo, ele só acrescentou a necessidade da circuncisão. No entanto, Paulo disse que isso ‘não era o evangelho’. Abraão havia recebido a circuncisão como sinal da aliança entre ele e Iavé Deus. (Gên. 17:9-14) Além disso, todo descendente masculino de Abraão deveria realizar esse ritual. Isso foi denominado como um “pacto eterno” e foi praticado fielmente por dois mil anos. A circuncisão foi ordenada na Lei de Moisés, mas Paulo diz que acrescentá-la ao evangelho de Jesus Cristo era mortal. (Lev. 12:1-3) Ele chegou a dizer: “Ouçam bem o que eu, Paulo, lhes digo: Caso se deixem circuncidar, Cristo de nada lhes servirá.” (Gálatas 5:2) Palavras fortes estas, mas ressaltam o perigo de acrescentar algo ao evangelho. Nos termos mais fortes possíveis, Paulo declarou: “Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gál. 1:8, 9)

Tendo em vista este testemunho inspirado, o que devemos dizer a alguém que apresenta uma nova esperança empacotada em um novo evangelho? Com base no que lemos nas Escrituras, deve ser rejeitado imediatamente como um falso evangelho – evangelho algum. As boas novas bíblicas são um evangelho imutável; ele não pode ser alterado. Acrescentar ou subtrair é destruí-lo. Quanto aos dois rebanhos de ovelhas a que Jesus faz referência em João, capítulo 10, estes representam claramente o rebanho judaico que foi definido dentro do Pacto da Lei Mosaica e mais tarde agregado por “outras ovelhas” que representavam crentes não-judaicos ou gentios que nunca haviam estado no aprisco judaico. A ação do Espírito Santo levou à derrubada do muro que separava essas duas sociedades étnicas. (Efésios 2:11-18) Deste modo, os judeus crentes e os gentios crentes tornaram-se um só rebanho, um só pastor, exatamente como Jesus havia predito. (João 10:16) Eles vieram para participar de ‘um só corpo, um só Espírito, uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos.’ (Efé. 4:4-6) São estas as boas novas do reino que continuariam a ser pregadas até o fim da era atual. São estas as boas novas que recebi com fé e compartilho com outras pessoas. Simplesmente não existem outras.

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Imagem em destaque: O Trono de Deus (spray de grafite) – Jason Hardin, junho/2012.

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