Quem é o Anticristo?

A respeito do anticristo, o apóstolo João escreveu:

“Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos,… Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.” – 1 João 2:18, 19; 4:3.

Como podemos ver com base nesta citação, os anticristos surgiram dezenove séculos atrás. Paulo lança mais luz sobre o assunto:

“Irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e ao nosso reencontro com ele,… Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia [um afastamento da verdade] e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, a ponto de se assentar no santuário de Deus [“templo de Deus”, ARC], proclamando que ele mesmo é Deus… E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém.” – 2 Tessalonicenses 2:1, 3, 4, 6, 7.

Muitos comentaristas dizem que este “homem do pecado” (NVI; “homem da iniqüidade”, SBB; “perverso”, BLH; “homem que é contra a lei”, TNM) se refere a um ditador do fim dos tempos a quem chamam de Anticristo, e que ele está sendo detido pelo Espírito Santo. Essa restrição, dizem eles, será removida com o arrebatamento da igreja. Mas note que Paulo não concorda com isso:

“… quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e ao nosso reencontro com ele,… Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição…”

Claramente Paulo acreditava que a apostasia e o “homem que é contra a lei” seriam revelados antes de Cristo vir para reunir seus seguidores! Não só isso, mas Paulo, de acordo com João, citado anteriormente, mostra que essa iniqüidade já estava “em ação” no primeiro século.  

O prefixo grego anti tem dois significados. O mais familiar é contra. Qualquer um que esteja contra Cristo é um anticristo. Outro conceito que o prefixo grego engloba é em lugar de. Cristo é o cabeça da Igreja, e como tal ele atribui posições de pastoreio. (Veja Efésios 4:11-13) Qualquer pessoa que abuse ou extrapole a autoridade investida por Cristo, na verdade afasta a chefia de Cristo, substituindo-o e tornando-se um anticristo.

Consideremos agora o que Paulo disse aos pastores da igreja em Éfeso

“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho que o Espírito Santo entregou aos seus cuidados, como pastores da Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do seu próprio Filho. Pois eu sei que, depois que eu for, aparecerão lobos ferozes no meio de vocês e eles não terão pena do rebanho. E chegará o tempo em que alguns de vocês contarão mentiras, procurando levar os irmãos para o seu lado. Portanto, fiquem vigiando e lembrem que durante três anos, de dia e de noite, eu, chorando, não parei de ensinar cada um de vocês.” – Atos 20:28-31.

Este perigoso anticristo surgiria entre os que têm posições de pastoreio na igreja. Lembre-se de que Paulo escreveu que o anticristo poderia ‘se assentar no templo de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus’.1 Segundo o Novo Testamento, os cristãos são o “templo de Deus” (1 Coríntios 3:16, 17; Efésios 2:19-22).

João falou de anticristos – no plural. Paulo falou de pastores que se tornariam lobos ferozes – no plural. O ponto aqui é que o Anticristo não é uma única pessoa, e sim compõe-se de todos aqueles que têm “o espírito do anticristo”. Desta forma, o Anticristo poderia existir no primeiro século, e ainda estar vivo hoje, dezenove séculos depois. Quem – ou o que – é este Anticristo? Onde podemos encontrá-lo hoje? Considere o que Jim Petersen escreveu na página 91 de seu livro Church Without Walls [Igreja Sem Paredes]:

“… no primeiro século, cada cristão se mantinha como um sacerdote perante Deus, servindo o povo de Deus e os incrédulos, mas por volta do fim do segundo século o clero havia se estabelecido como uma “ordem” separada que virtualmente assumiu direitos exclusivos ao ministério.  Conforme a hierarquia clerical refinou suas instituições, o crente mediano foi, conseqüentemente, privado do pouco que restava em seu campo de ação.” [Ênfase acrescentada].

Não estamos aqui falando dos clérigos como indivíduos, muitos dos quais são de fato cristãos devotos. Tendo crescido em uma sociedade onde a classe clerical sempre existiu, a maioria não percebe que esta classe é uma conseqüência da apostasia que começou no primeiro século. Em vez disso, nosso foco está na hierarquia institucional que se desenvolveu a partir desta apostasia e que dita regras sobre a fé dos milhões de cristãos.

O cristianismo começou como uma religião ‘popular’. O cristianismo institucional é alheio à mensagem e intenção dos ensinamentos de Cristo e de seus apóstolos. Paulo escreveu:

“Não que tenhamos domínio sobre a sua fé, mas cooperamos com vocês para que tenham alegria, pois é pela fé que vocês permanecem firmes. (2 Coríntios 1:24) 

Certamente, se Paulo não era um senhor sobre a fé dos crentes no primeiro século, então nenhum clérigo, nem sínodo, conselho, convenção, ou corpo governante de clérigos deve ter domínio sobre a fé dos cristãos de hoje.2  Certamente não é errado que aqueles que são espiritualmente maduros aconselhem crentes. No entanto, não é tarefa deles atuarem como policiais espirituais de todos os aspectos da crença e da vida.3 

Jesus falou dos escribas e fariseus como se assentando na cadeira de Moisés. Em parte alguma as Escrituras Hebraicas os autorizavam a fazer isso. Da mesma forma, as instituições hierárquicas da cristandade se assentam no “templo de Deus”, alegando representá-Lo na terra. Isso também é feito sem qualquer autorização das Escrituras, para a Bíblia mostra que todos os cristãos são seus representantes. (2 Coríntios 5:20)  Note que depois de fazer o comentário acima, Jesus instrui seus seguidores a não assumirem títulos religiosos como os escribas e os fariseus tinham feito. No entanto, a hierarquia clerical assumiu vários títulos religiosos, e a maioria usa de maneira repreensível o título “Reverendo” – Mateus 23:1-12

Por que estamos dizendo isso? Reverendo é a forma objetiva da palavra revere, que significa reverenciaradorar ou venerar.  Algo designado dessa maneira, portanto, seria um objeto de reverência, significando que é digno de ser adorado. Assumir este título é uma maneira de um clérigo4 enaltecer-se de maneira imprópria.    É o seu pastor digno de ser adorado?    Se chamá-lo de reverendo, é o que você está efetivamente dizendo. Todos os cristãos são irmãos e irmãs. Usar qualquer título com o objetivo de se diferenciar dos irmãos é contrário às instruções de Jesus.5

Agora o leitor pode ter uma questão em mente. Em 2 Tessalonicenses capítulo 2, Paulo escreveu sobre a apostasia chegando e o homem que é contra a lei, dizendo:

“E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém.” (Versículos 6 e 7)

Se a tese que estamos apresentando aqui está correta, o que foi que deteve o desenvolvimento da hierarquia apóstata da cristandade, e de que modo este fator restritivo foi afastado?

Em seu aviso aos pastores de Éfeso Paulo havia dito:

“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho que o Espírito Santo entregou aos seus cuidados, como pastores da Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do seu próprio Filho. Pois eu sei que, depois que eu for, aparecerão lobos ferozes no meio de vocês e eles não terão pena do rebanho.” (Atos 20:28, 29)

Assim, o que deteve os falsos mestres, no primeiro século foi Paulo, e não só ele, mas também todos os apóstolos de Jesus Cristo.  A partir do momento em que eles saíram do cenário com a morte, falsos ensinos se espalharam como gangrena. Observemos o que Vine’s Expository Dictionary of New Testament Words [Dicionário Expositivo das Palavras do Novo Testamento de Vine] tem a dizer sobre isso:

“Até meados do 3º século DC, as igrejas ou tinham se afastado da fé cristã, ou tinham travestido certas doutrinas nela. Para aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, os pagãos foram recebidos dentro das igrejas à parte da regeneração pela fé, e se permitiu amplamente que eles retivessem seus signos e símbolos pagãos.” (Ênfase acrescentada).

Meados do terceiro século seriam menos de 200 anos depois da morte de Paulo e cerca de 150 anos depois da morte do apóstolo João. Já então a apostasia era galopante no “cristianismo”. Certamente, então, hoje os cristãos sinceros precisam seguir o exemplo dos bereanos de estudar as Escrituras para obter a verdade simples do evangelho de Jesus Cristo. – Atos 17:10, 11.

NOTAS


1 Isto não significa necessariamente que ele afirma abertamente ser Deus; poucos anticristos fazem isso. Mas, ao assumir uma autoridade que não lhe foi designada, o anticristo se coloca acima de Cristo, uma posição ocupada unicamente por Deus.

2 Algumas organizações religiosas que alegam não possuir uma classe clerical têm estruturas de poder autoritário que se enquadram na descrição do Anticristo.

3 Os textos bíblicos utilizados pelos elementos autoritários em organizações religiosas têm sido muito mal aplicados. Apenas em casos mais extremos de pecado e apostasia é que as Escrituras permitem o policiamento de cristãos pela assembléia de crentes.

4 Queremos reiterar que, tendo crescido numa época em que esta era a norma, a maioria dos clérigos não está ciente de que o uso de um título, principalmente reverendo, é errado.

5 N.T.: Mesmo um termo bíblico pode ser mal aplicado, ou entendido duma maneira imprópria. A palavra bíblica “ancião”, significa basicamente um “homem mais maduro”, seja por ser mais idoso, ou por ter longa experiência de vida cristã. Esta palavra nada tem que ver com um “cargo” (designado por outros) e qualquer tratamento diferenciado que outros dispensem à pessoa que possui tal “cargo” dentro duma instituição religiosa é impróprio. Os anciãos cristãos são dignos de respeito de seus concrentes, mas não em decorrência de terem um “cargo” que, de algum modo os coloque num nível “superior” aos demais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *