O Que a Bíblia Realmente Diz Sobre a Destruição de Jerusalém

Para chegar à data de 607 AEC para a destruição de Jerusalém, a liderança das Testemunhas de Jeová começa com um evento que supostamente ocorreu em 537 AEC. Daí eles dizem que a cidade foi destruída 70 anos antes, cumprindo o aviso dado em Jeremias 25:15. Embora essa explicação pareça adequada, não foi isso o que as Escrituras Hebraicas registraram sobre a destruição da cidade.

Um aviso dado por séculos

Quando a nação hebraica recebeu a Terra Prometida, os profetas advertiram que se eles desobedecessem aos mandamentos de Deus, Ele iria removê-los daquela terra, destruir as cidades e devastar a terra.  

“… se vocês não me ouvirem e não colocarem em prática todos esses mandamentos, e desprezarem os meus decretos, rejeitarem as minhas ordenanças, deixarem de colocar em prática todos os meus mandamentos e forem infiéis à minha aliança, então assim os tratarei: 

Deixarei as cidades de vocês em ruínas e arrasarei os seus santuários, e não terei prazer no aroma das suas ofertas. Desolarei a terra a ponto de ficarem perplexos os seus inimigos que vierem ocupá-la. Espalharei vocês entre as nações e desembainharei a espada contra vocês. 

Sua terra ficará desolada, e as suas cidades, em ruínas. Então a terra desfrutará os seus anos sabáticos enquanto estiver desolada e enquanto vocês estiverem na terra dos seus inimigos; e a terra descansará e desfrutará os seus sábados. Enquanto estiver desolada, a terra terá o descanso sabático que não teve quando vocês a habitaram. 

São esses os decretos, as ordenanças e as leis que o Senhor estabeleceu no monte Sinai entre ele próprio e os israelitas, por intermédio de Moisés.” (Lev. 26:3-46) 

Este aviso tinha sido dado também em Deuteronômio:  

“Mas se vocês se esquecerem do Senhor, do seu Deus, e seguirem outros deuses, prestando-lhes culto e curvando-se diante deles, asseguro-lhes hoje que vocês serão destruídos. Por não obedecerem ao Senhor, ao seu Deus, vocês serão destruídos como o foram as outras nações que o Senhor destruiu perante vocês.” (Deut. 8:19-20; Veja também Deuteronômio 28:15-68) 

Os profetas – que eram seus pregadores – repetiram continuamente a mesma advertência. (Joel 1:2, 6-7, 12, 15; 2:1-3; Isaías 28:13-14; 51:17, 19; Sofonias 1:4; 2:1-2; 3:7, 8; Habacuque 1:5-7, Ezequiel 5:8, 9, 11, 14) 

O motivo da desolação de Israel

Todos os reis do reino setentrional de Israel foram maus aos olhos dos profetas de Deus, por isso Deus fez com que o reino fosse destruído e o povo espalhado entre as nações.  

“Tudo isso aconteceu porque os israelitas haviam pecado contra o Senhor seu Deus, que os tirara do Egito, de sob o poder do faraó, rei do Egito. Eles prestaram culto a outros deuses e seguiram os costumes das nações que o Senhor havia expulsado de diante deles, bem como os costumes que os reis de Israel haviam introduzido. Os israelitas praticaram o mal secretamente contra o Senhor seu Deus. Desde torres de sentinela até cidades fortificadas, eles mesmos construíram altares idólatras em todas as suas cidades. Ergueram colunas sagradas e postes sagrados em todo monte alto e debaixo de toda árvore frondosa. Em todos os altares idólatras queimavam incenso, como fizeram as nações a quem o Senhor havia expulsado de diante deles. Fizeram males que provocaram o Senhor à ira. Prestaram culto a ídolos, embora o Senhor houvesse dito: ‘Não façam isso’“. (2 Reis 17:7-12) 

Os pecados abomináveis de Manassés

Como o rei Manassés, de Judá, desobedeceu aos profetas e abraçou as crenças das nações vizinhas, ele foi especificamente identificado como a causa primária da ira de Deus:  

“Manassés, rei de Judá, cometeu esses atos repugnantes. Agiu pior do que os amorreus que o antecederam e também levou Judá a pecar com os ídolos que fizera. Portanto, assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Causarei uma tal desgraça em Jerusalém e em Judá que os ouvidos de quem ouvir a respeito ficarão zumbindo. Estenderei sobre Jerusalém o fio de medir utilizado contra Samaria e o fio de prumo usado contra a família de Acabe. Limparei Jerusalém como se lava um prato, lavando-o e virando-o de cabeça para baixo. Abandonarei o remanescente da minha herança e o entregarei nas mãos de seus inimigos. Serão despojados e saqueados por todos os seus adversários, pois fizeram o que eu reprovo e me provocaram à ira, desde o dia em que seus antepassados saíram do Egito até hoje.” (2 Reis 21:11-15). 

Judá foi mais iníquo do que Israel

Judá foi considerado mais maléfico do que Israel, porque o povo de Judá “viu também que dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei embora, por causa de todos os seus adultérios. Entretanto, a sua irmã Judá, a traidora, e também se prostituiu, sem temor algum. E por ter feito pouco caso da imoralidade, Judá contaminou a terra, cometendo adultério com ídolos de pedra e madeira. Apesar de tudo isso, sua irmã Judá, a traidora, não voltou para mim todo o coração, mas sim com fingimento”, declara o Senhor. O Senhor me disse: “Israel, a infiel, é melhor do que Judá, a traidora.” (Jer. 3:8-11) 

A mensagem de Jeremias repetiu advertências anteriores

A vida de Jeremias foi ameaçada quando ele advertiu que Jerusalém seria destruída, mas ele foi salvo quando se mostrou que ele estava só repetindo a mensagem que havia sido dada por profetas anteriores. (Jeremias 25:2-7; 26:18) 

A destruição poderia ter sido evitada

Sempre que um profeta dava esse aviso, ele deixava claro que Deus não traria sua punição se o povo acatasse a mensagem. Quando uma nação cedia e corrigia seus caminhos, Deus também cedia e a punição prometida era evitada. 

“Se em algum momento eu decretar que uma nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que eu adverti converter-se da sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre ela a desgraça que eu tinha planejado.” (Jeremias 18.7-8) 

Os 70 anos de servidão não poderiam ser evitados

Quando Babilônia se tornou a superpotência na região, o profeta Jeremias repetiu a já antiga ameaça de destruição da cidade. Em seguida, ele acrescentou que todas as nações serviriam a Babilônia por 70 anos: “essas nações estarão sujeitas ao rei da Babilônia durante setenta anos.” (Jeremias 25:11) Deus decidiu usar Babilônia como seu servo, e todas as nações serviriam a ela por 70 anos. Essa sujeição começou ao mesmo tempo para todas as nações – no momento em que Deus decidiu usar Babilônia como seu servo executor. Ao mesmo tempo, Jeremias deixou claro que quando uma nação servisse voluntariamente a Babilônia, essa nação permaneceria em seu próprio país: 

“Agora, sou eu mesmo que entrego todas essas nações nas mãos do meu servo Nabucodonosor, rei da Babilônia; sujeitei a ele até mesmo os animais selvagens. Todas as nações estarão sujeitas a ele, a seu filho e a seu neto; até que chegue a hora em que a terra dele seja subjugada por muitas nações e por reis poderosos.” ‘Se, porém, alguma nação ou reino não se sujeitar a Nabucodonosor, rei da Babilônia, nem colocar o pescoço sob o seu jugo, eu castigarei aquela nação com a guerra, a fome e a peste’, declara o Senhor, ‘e por meio dele eu a destruirei completamente. Não ouçam os seus profetas, os seus adivinhos, os seus intérpretes de sonhos, os seus médiuns e os seus feiticeiros, os quais lhes dizem para não se sujeitar ao rei da Babilônia. Porque são mentiras o que eles profetizam para vocês, o que os levará para longe de sua terra. Eu banirei vocês, e vocês perecerão. Mas, se alguma nação colocar o pescoço sob o jugo do rei da Babilônia e a ele se sujeitar, então deixarei aquela nação permanecer na sua própria terra para cultivá-la e nela viver’, declara o Senhor”. [Eu, Jeremias] Entreguei a mesma mensagem a Zedequias, rei de Judá, dizendo-lhe: Coloquem o pescoço sob o jugo do rei da Babilônia, sujeitem-se a ele e ao seu povo, e vocês viverão. Por que razão você e o seu povo morreriam pela guerra, pela fome e pela peste, com as quais o Senhor ameaça a nação que não se sujeitar ao rei da Babilônia? Não dêem atenção às palavras dos profetas que dizem que vocês não devem sujeitar-se ao rei da Babilônia; estão profetizando mentiras. (Jeremias 27:1-3, 6-14) 

Os falsos profetas prometiam libertação rápida

Os eventos registrados nos capítulos 28 e 29 de Jeremias mostram que estes 70 anos de servidão a Babilônia pelas nações não poderiam ser evitados. Isso foi bem diferente no caso da destruição Jerusalém que havia sido ameaçada, já que ela poderia ter sido evitada.

Pouco depois que Nabucodonosor tinha exilado o Rei Joaquim de Judá, os falsos profetas em Jerusalém e em Babilônia prometeram libertação rápida e um fim da situação. Em Jerusalém, o falso profeta Hananias disse que o jugo de escravidão seria quebrado, e Jeremias respondeu dizendo que eles continuassem resistindo ao jugo, só o veriam se intensificar. (Jeremias 28:1-4, 10-14) Por meio de suas ações, Jeremias e Hananias mostram que o jugo da Babilônia já estava em vigor. Para o povo em Babilônia, Jeremias disse para não darem ouvidos aos seus falsos profetas. Eles deveriam se estabelecer, construir casas e constituir família. A servidão a Babilônia continuaria até completar 70 anos e só então Babilônia seria punida: 

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados, que deportei de Jerusalém para a Babilônia: “Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos. Casem-se e tenham filhos e filhas; escolham mulheres para casar-se com seus filhos e dêem as suas filhas em casamento, para que também tenham filhos e filhas. Multipliquem-se e não diminuam… Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: “Não deixem que os profetas e adivinhos que há no meio de vocês os enganem. Não dêem atenção aos sonhos que vocês os encorajam a terem. Eles estão profetizando mentiras em meu nome. Eu não os enviei”, declara o Senhor. Assim diz o Senhor: “Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha promessa em favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar.” (Jeremias 29:4-6, 8-10) 

O povo compreendeu totalmente que Jeremias estava dizendo que passaria um longo tempo antes de a servidão terminar. A servidão estava em curso e não poderia ser evitada. (Jeremias 29:27, 28) 

“Sem homens nem animais”, enquanto Jerusalém ainda permanecia de pé

Antes de Jerusalém ter sido destruída, o povo já estava dizendo que a terra estava sem homens nem animais porque Babilônia controlava a terra. (Jeremias 32:43; 33:10-12) 

A destruição poderia ter sido evitada, mas não a servidão por 70 anos

O contraste entre estas duas situações, uma evitável e outra inevitável ​​é demonstrado no momento em que Jeremias confrontou o rei Zedequias enquanto Babilônia estava atacando Jerusalém. Jeremias suplicou a Zedequias, que, se ele voluntariamente tomasse a iniciativa em se render, estaria mostrando sua disposição de servir a Babilônia, e isso evitaria a destruição de Jerusalém que tinha sido ameaçada por Deus. Jeremias não queria ver a cidade destruída, isso ainda poderia ser evitado. Mas o rei não deu ouvidos ao mensageiro de Deus. 

“Então Jeremias disse a Zedequias: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: ‘Se te renderes imediatamente aos oficiais do rei da Babilônia, tua vida será poupada e esta cidade não será incendiada; tu e a tua família viverão. Mas, se não te renderes imediatamente aos oficiais do rei da Babilônia, esta cidade será entregue nas mãos dos babilônios, e eles a incendiarão; nem mesmo tu escaparás das mãos deles’ “… Mas se te recusares a render-se, foi isto que o Senhor me revelou:… “Todas as tuas mulheres e os teus filhos serão levados aos babilônios. Tu mesmo não escaparás das mãos deles, mas serás capturado pelo rei da Babilônia; e esta cidade será incendiada.” (Jer. 38:17-18, 21, 23) “Sujeitem-se ao rei da Babilônia, e vocês viverão. Por que deveria esta cidade ficar em ruínas?” (Jeremias 27:17) 

Assim, os 70 anos seguiriam o seu curso completo e não poderiam ser evitados. A cidade, porém, não precisava ter sido destruída; isso poderia ter sido evitado. 

O fim dos 70 anos de servidão

A submissão de todas as nações a Nabucodonosor e seus descendentes terminou no momento em que Babilônia caiu. O seu domínio não poderia terminar antes, nem poderia terminar depois. Seus dias haviam sido contados.

“Nabucodonosor levou para o exílio, na Babilônia, os remanescentes, que escaparam da espada, para serem seus escravos e dos seus descendentes, até à época do domínio persa.” (2 Crônicas 36:20)

Uma vez que o período de 70 anos de sujeição a Babilônia tinha terminado, Ciro pode emitir seu decreto que permitiu aos cativos das nações retornarem para as terras de seus antepassados. O cronista disse que o descanso desfrutado pela terra chegou ao fim no momento em que os setenta anos de servidão terminaram: 

“A terra desfrutou os seus descansos sabáticos; descansou durante todo o tempo de sua desolação, até que os setenta anos se completaram, em cumprimento da palavra do Senhor anunciada por Jeremias.” (2 Crônicas 36:21) 

O versículo está dizendo que o descanso terminou no momento em que os setenta anos terminaram. Ele não diz que o descanso durou setenta anos. O fim do domínio babilônico pôs fim ao descanso sabático.

A confusão da Torre de Vigia 

A liderança da Torre de Vigia confunde os 70 anos de submissão, que não poderiam ter sido evitados, com a destruição de Jerusalém, que poderia ter sido evitada. A destruição evitável ocorreu depois que as nações tinham iniciado seu inevitável período de 70 anos de sujeição a Babilônia. Assim, não existe contradição entre a cronologia neobabilônica, que diz que Jerusalém foi destruída em 587/586 AEC e o registro bíblico. 

Não existe apoio bíblico para a explicação que a Torre de Vigia apresenta para a destruição de Jerusalém e os setenta anos de submissão a Babilônia por parte das nações.

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