Estamos Vivendo Numa Época Especial da História?

Um ensino de longa data e bem proeminente da organização Torre de Vigia é a crença de que no ano de 1914 encerrou-se um período de tempo especial, que Jesus chamou de “Tempos dos Gentios”, os “últimos dias” começaram, e Cristo começou a reinar sobre toda a terra pela primeira vez desde sua ressurreição e ascensão ao céu. Logo antes desse tempo, dizem eles, em antecipação de seu reinado iminente, Jesus começou a inspecionar as organizações religiosas do mundo para ver qual delas seria sua representante oficial, quando ele começasse a governar em 1914. Ele examinou os ensinamentos de todas as denominações na terra que afirmam ser cristãs e decidiu que a mais “fiel” (ou seja, a que tinha a interpretação mais correta da Bíblia) era o pequeno grupo de seguidores de Charles Russell, que mais tarde viriam a ser conhecidos como Testemunhas de Jeová. Como consequência disso (segundo as publicações da Torre de Vigia), pouco depois de 1914 Jesus colocou todos os interesses de seu reino nas mãos deles, e eles se tornaram seu único canal aprovado de comunicação entre Deus e a humanidade.

Se eles estiverem corretos, algo muito significativo mudou em 1914. A partir desse ano as coisas teriam de ser diferentes do que eram em todo o resto da Era Cristã. Se isto é verdadeiro, confere credibilidade à afirmação deles de que a organização Torre de Vigia, com suas origens no século 19, é a única denominação cristã que Deus aprova. Por outro lado, se o peso da evidência bíblica e histórica não apoia esta conclusão, as alegações da Torre de Vigia são muito suspeitas. O objetivo deste artigo é ajudar a esclarecer as implicações do conceito da Torre de Vigia.

Desde sua própria origem, os ensinamentos fundamentais da Torre de Vigia se basearam e se associaram fortemente com a ideia de que estudantes da Bíblia sérios podem determinar com razoável precisão a época da volta de Cristo em glória, seja por meio de cálculos cronológicos, observação de eventos mundiais específicos à luz da profecia bíblica, ou por meio de outros sinais que serviriam como indicadores confiáveis da iminente volta ou advento de Cristo. Os cristãos que acreditam que é possível fazer isso foram chamados de “adventistas”.

Examinemos primeiramente a cronologia que, segundo as alegações da Torre de Vigia, estabelece que o ano de 1914 assinalou o fim de um período de tempo especial e o começo de outro. 

É a Cronologia da Torre de Vigia Sólida?

Charles T. Russell tomou emprestado boa parte de sua cronologia e metodologia dos Segundo Adventistas, que se desenvolveram após a tentativa fracassada de William Miller de predizer o retorno de Cristo em 1843. Os cálculos se basearam, em grande parte, em interpretações de trechos de Daniel 4 e Lucas 21. Resumidamente, as Testemunhas ensinam que os “Tempos dos Gentios” são um período especial de 2.520 anos durante os quais o Reino de Deus (especificamente da dinastia de Davi), não teria rei. Elas creem que este período começou quando Jerusalém foi destruída nos tempos pré-cristãos pelos exércitos babilônicos e terminou em 1914. Considerando a importância das conclusões que ela supostamente apoia, a cronologia se baseia numa série de suposições bem frágeis:

Em primeiro lugar, que o sonho que o Rei Nabucodonosor teve sobre se tornar um animal por “sete tempos” (registrado em Daniel 4) não se refere primariamente a ele (como o texto diz diretamente), e sim que ele, um rei pagão, e nem mesmo adorador do Deus de Israel, representa, na verdade, o Reino de Deus.

Em segundo lugar, que o Reino ou domínio de Deus sobre a humanidade de alguma forma “terminou” quando Zedequias, descendente direto de Davi, foi removido do trono de Jerusalém quando esta foi destruída por Babilônia, e que o reino “começaria” novamente uns vinte e cinco séculos depois, quando Jesus, também descendente de Davi, começasse a governar em 1914. Os judeus esperavam um descendente de Davi para governar como rei para sempre, mas o conceito de o reino ou soberania de Deus “terminar” naquela época e “começar” em algum momento posterior nunca foi sugerido nos escritos sagrados judaicos. Na realidade, esta ideia contradiz diretamente Daniel 4:17, que é associado à experiência animalesca de Nabucodonosor!

Em terceiro lugar, com base na primeira hipótese, cada “tempo” deve representar um ano “profético” especial de 360 dias, embora nenhum ano terrestre real, solar ou lunar, tenha 360 dias.

1A palavra aramaica que Daniel usou aqui para “tempo” significa simplesmente um período não especificado, nem sempre um ano. (A palavra para ano, como em Daniel 1:1, é diferente) A palavra usada aqui é `idd’n, que, segundo o Theological Wordbook of the Old Testament [Vocabulário Teológico do Antigo Testamento], significa “tempo, período, intervalo, ano, era… Dois significados básicos são igualmente um “ponto no tempo” ou um “espaço de tempo”. Neste contexto, um “tempo” poderia facilmente significar uma semana, um mês ou uma estação, não necessariamente um ano.

Sete destes anos proféticos de 360 dias dariam um total de 2.520 dias “proféticos”.2Um leitor apontou que Apocalipse 11:2-3 relaciona “tempos” com dias de uma maneira diferente: “Mas, quanto ao pátio que está de fora do [santuário do] templo, lança-o completamente fora e não o meças, porque foi dado às nações, e elas pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses. E farei as minhas duas testemunhas profetizar por mil duzentos e sessenta dias trajadas de saco. (TNM) Aqui, a fraseologia é bem semelhante à que está em Lucas 21:24: (“Jerusalém será pisada pelas nações”). A palavra grega para “pisar” é a mesma em ambos os trechos, e ambos falam de Jerusalém, a “cidade santa”. Este texto descreve um período de “pisoteio” que dura 42 meses ou 1.260 dias em vez de 2520! Cada um desses dias “proféticos”, por sua vez deve representar um ano solar de aproximadamente 365¼ dias. Absolutamente nada nas Escrituras, na tradição judaica, ou nos escritos dos primitivos cristãos sequer sugere que possamos elaborar essa complicada série de hipóteses e cálculos.

Em quarto lugar, que este período de 2.520 anos solares é o mesmo período a que Jesus se referiu quando ele usou a expressão traduzida como “os tempos designados das nações” ou “os tempos dos gentios” em Lucas 21:24 (“Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se cumpram…”), muito embora Jesus estivesse discutindo especificamente a futura destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 DC, e não sua destruição passada pelos babilônios, e apesar do fato de não haver uma única palavra nas Escrituras, na tradição judaica ou nos escritos cristãos que indique que os “tempos dos gentios” se referem a qualquer período de tempo durante o qual o reino eterno de Deus estaria inativo.

Em quinto lugar, que Jerusalém foi destruída pelos exércitos de Nabucodonosor em 607 AC. A data da destruição de Jerusalém é uma das estabelecidas com mais precisão na história antiga. O que é ainda mais significativo, as fontes históricas que estabelecem a data para a queda de Babilônia em 539 AC, (data que a Torre de Vigia aceita e, de fato, usa como ponto de partida para seus cálculos de 1914) são exatamente as mesmas fontes, que estabelecem 587/6 AC como a data da destruição de Jerusalém! Diversas linhas de evidência independentes (históricas, astronômicas, arqueológicas, etc.) apontam para a data de 587/6 AC, não 607 AC, como a data da destruição de Jerusalém. Não há qualquer evidência histórica confiável que apoie a data 607 AC. (Veja o livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, Carl Olof Jonsson, publicado em português em 2008, para uma discussão detalhada sobre este tópico.)

Em sexto lugar, que todos os muitos trechos das Escrituras Gregas que afirmam claramente que Jesus começou a reinar no primeiro século, como Mateus 28:18: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.”, realmente não significam o que dizem. Abaixo está um estudo mais aprofundado sobre as implicações desta suposição.

Cada uma das seis hipóteses alistadas acima é inter-relacionada com as demais. A veracidade de todas juntas é absolutamente crítica para o ensino da Torre de Vigia de que em 1914 o mundo entrou num período de tempo especial, conhecido como “o tempo do fim” e que Jesus escolheu a organização Torre de Vigia como o canal oficial de comunicação de Deus com o seu povo fiel na Terra. Se qualquer uma dessas suposições estiver errada, a conclusão final é completamente inválida e a alegação da Torre de Vigia é comprovadamente falsa.

Vale a pena notar que Russell, usando a mesma metodologia, “provou” que ele próprio estava vivendo num período de tempo especial, que ele acreditava que acabaria em 1914 com o retorno de Cristo para julgar as nações. Ele também admitiu que, se qualquer um dos pressupostos em que baseava suas conclusões estivesse errado, isso invalidaria tanto sua abordagem como suas conclusões. Isso ocorreu de fato. Com o tempo, quase todos os seus pressupostos foi rejeitado, e a data final de Russell para o tempo do fim (1914) tornou-se a data inicial para o mesmo período no ensino posterior (e atual) da Torre de Vigia. 

Quando Jesus Começou a Reinar?

Se a cronologia da Torre de Vigia é inválida e Jesus não começou seu reinado em 1914, está ele agora reinando? Em caso afirmativo, quando foi que esse reinado começou? As publicações da organização interpretam Hebreus 1:13 (“Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo para os teus pés”) conforme segue:

“Em 33 EC, ele [Jesus] morreu, foi ressuscitado e ascendeu para o céu… Naquela época, porém, Jesus não atuou como Rei e Juiz sobre as nações. Ficou sentado junto a Deus, aguardando o tempo de agir como Rei do Reino de Deus. Paulo escreveu sobre ele: “Com referência a qual dos anjos disse ele alguma vez: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para os teus pés’?” — Hebreus 1:13. As Testemunhas de Jeová têm publicado muita evidência de que o período de espera de Jesus expirou em 1914, quando ele se tornou governante do Reino de Deus nos céus invisíveis.” — Revista A Sentinela de 15 de outubro de 1995, págs. 20-21, parágrafos 14-16 (Grifo acrescentado).

Hebreus 10:12, 13 diz: “Mas este, havendo oferecido para sempre um só sacrifício pelos pecados, sentou-se à destra de Deus, daí em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés.” (Sociedade Bíblica Britânica) Se esta fosse a única referência ao Salmo 110 nas Escrituras Cristãs, e não houvesse mais nada indicando o contrário, este versículo poderia, efetivamente, ser interpretado no sentido de que a palavra “esperando” neste trecho se refere a um período de não governança. É exatamente assim que a liderança da organização Torre de Vigia interpreta:

“Mesmo após a ressurreição e a ascensão de Jesus ao céu, ele teve de esperar à mão direita de seu Pai até vir o tempo de ele governar a humanidade como Rei. (Hebreus 10:12, 13)” — Revista A Sentinela de 15 de junho de 1994, pág. 6.

Mas, será que é assim que os apóstolos e os primitivos cristãos entendiam a expressão “senta-te à minha direita”? Não! Entre os povos antigos, a imagem de um rei sentado no trono de seu Deus, era uma maneira comum de expressar que o rei governava com a aprovação e apoio de seu Deus. Isto se harmoniza com a maneira como os primitivos cristãos entendiam essa frase, conforme veremos.

3Veja Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, Carl Olof Jonsson, págs. 310-317.

Este não é o único lugar onde esta expressão do Salmo 110 é citada nas Escrituras Gregas Cristãs. Na realidade, esse trecho das Escrituras Hebraicas é o mais citado nas Escrituras Cristãs. Assim, podemos examinar todas as suas ocorrências para estabelecer corretamente como ele era usado e entendido. A interpretação da Torre de Vigia de que “sentar-se” significa “esperando” é requerida por sua crença de base cronológica de que Jesus só poderia começar seu reinado em 1914, conforme discutido acima. Mas está bem claro, com base em muitos outros lugares onde este trecho é citado, que os primitivos cristãos não entendiam tal trecho como significando a não regência. Eles entendiam “sentado à direita de Deus”, com o sentido de que Jesus já estava governando como rei. Talvez o exemplo mais claro disso seja a citação que Paulo fez do Salmo 110 em sua primeira carta aos Coríntios, ao tratar da ressurreição. Neste trecho, Paulo realmente substitui a expressão “sentar-se à direita de Deus” por “reinar como rei” diretamente na citação:

“A seguir, o fim, quando ele entregar o reino ao seu Deus e Pai, tendo reduzido a nada todo governo, e toda autoridade e poder. Pois ele tem de reinar até que [Deus] lhe tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. Como último inimigo, a morte há de ser reduzida a nada… Mas, quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos. — 1 Cor 15:24-28, TNM (Itálico acrescentado). [Nota do tradutor: Na versão em inglês da TNM a frase é “reinar como rei”].

É evidente, com base em seu uso do trecho, que Paulo entendia ‘sujeitar todas as coisas aos pés de Cristo’ com o significado de regência. Por que não seria este o caso, se depois de sua ressurreição Jesus dissera explicitamente que lhe tinha sido dada “toda a autoridade no céu e na terra”? Quando Jesus nasceu, o anjo Gabriel disse que a Jesus seria dado o trono de Davi, seu antepassado, e que ele iria reinar para sempre. Portanto, para os apóstolos o mais natural seria entender as palavras dele após a ressurreição como querendo dizer que ele estava reinando como seu rei, ainda que o modo como seu governo seria expresso tenha sido diferente do que eles esperavam. A declaração do salmista que ele reinaria no meio de seus inimigos é consistente com a imagem de um governante que se senta em seu trono, à direita de seu Deus, e continua seu governo até que todas as coisas estejam sujeitas ao seu poder. Uma grande ressurreição ocorre nessa época; assim a morte se torna o último inimigo a ser sujeito a ele. Depois disso, escreve Paulo, o Filho se submete a Deus, o Pai.

Muitos outros trechos mostram que os apóstolos e os primeiros discípulos viam Jesus como governando como rei nos dias deles, sendo que vários desses trechos fazem referência ao Salmo 110. Aqui estão apenas alguns exemplos (todos citados da Tradução do Novo Mundo, edição de 1984):

Mateus 28:18-20: E Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até à terminação do sistema de coisas.”

Marcos 16:19: Daí, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado para o céu e se assentou à direita de Deus.

João 5:26, 27: “Pois, assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E deu-lhe autoridade para julgar, porque é Filho do homem.”

João 17:1, 2: Jesus falou estas coisas, e, levantando os olhos para o céu, disse: “Pai, veio a hora; glorifica o teu filho, para que o teu filho te glorifique,  segundo lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que, com respeito ao [número] inteiro dos que lhe deste, ele lhes dê vida eterna.

Col 2:9, 10: … porque é nele que mora corporalmente toda a plenitude da qualidade divina. E assim possuís uma plenitude por meio dele, sendo ele a cabeça de todo governo e autoridade.

Atos 17:6, 7: … arrastaram Jasão e certos irmãos perante os governantes da cidade, clamando: “Estes homens que têm subvertido a terra habitada estão também presentes aqui, e Jasão recebeu-os com hospitalidade. E todos estes [homens] agem em oposição aos decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus.”

Efésios 1:19-23: É segundo a operação da potência de sua força, com que ele tem operado no caso do Cristo, quando o levantou dentre os mortos e o assentou à sua direita nos lugares celestiais, muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio, e todo nome dado, não só neste sistema de coisas, mas também no que há de vir. Sujeitou também todas as coisas debaixo dos pés dele, e o fez cabeça sobre todas as coisas para a congregação, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que em tudo preenche todas as coisas.

Col 1:12-14: … [O Pai] nos livrou da autoridade da escuridão e nos transferiu para o reino do Filho do seu amor, mediante quem temos o nosso livramento por meio de resgate, o perdão dos nossos pecados.

1 Pedro 3:21, 22: O que corresponde a isso salva-vos também agora, a saber, o batismo, (não a eliminação da sujeira da carne, mas a solicitação de uma boa consciência, feita a Deus,) pela ressurreição de Jesus Cristo. Ele está à direita de Deus, pois foi para o céu; e foram-lhe sujeitos anjos, e autoridades, e poderes.

Vistos em seus contextos, estes trechos indicam claramente que os primitivos cristãos acreditavam que Jesus estava governando, não esperando. Toda a base da confiança deles na salvação e no perdão de seus pecados baseava-se em seu entendimento de que eles tinham um sumo sacerdote regente que poderia pleitear ativamente por eles, que o glorificado Jesus estava no céu, sentado à direita de Deus, isto é, governando com o pleno apoio de seu Pai, com toda a autoridade para agir em seu nome. 

Estamos Vivendo nos “Últimos Dias?”

Além de crer que Jesus estava reinando, não há dúvida também de que os primitivos cristãos acreditavam que eles estavam vivendo nos “últimos dias”. Pedro, por ocasião dos eventos marcantes do primeiro Pentecostes após a ressurreição de Jesus, citou a profecia de Joel como prova desse fato:

“… isto é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: ‘“E nos últimos dias”, diz Deus, “derramarei do meu espírito sobre toda sorte de carne…” — Atos 2: 16,17.

A expressão “últimos dias” aqui é a tradução do termo grego eschatais hemerais, uma expressão usada na versão grega das Escrituras Hebraicas e amplamente compreendida pelos judeus como uma referência à era messiânica. (Isa 2:2; Oséias 3:5; Miquéias 4:1) A introdução da carta inspirada aos Hebreus reflete essa perspectiva:

“Deus, que há muito, em muitas ocasiões e de muitos modos, falou aos nossos antepassados por intermédio dos profetas, no fim destes dias nos falou por intermédio dum Filho…”

A expressão “no fim destes dias” na Tradução do Novo Mundo aqui é a tradução das mesmas palavras gregas usadas por Pedro no dia do Pentecostes (eschatais hemerais), mas a expressão é traduzida de maneira diferente aqui, de modo que suas implicações não são imediatamente perceptíveis para qualquer pessoa, só para estudantes mais diligentes.

4Nota do tradutor: Outras versões bíblicas são consistentes na tradução da expressão eschatais hemerais. A Nova Versão Internacional, por exemplo, traduz Hebreus 1:1, 2 da seguinte maneira: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.” (Grifo e sublinhado acrescentado.)

Os primitivos cristãos não entendiam a expressão “últimos dias”, no mesmo sentido em que poderíamos dizer sobre um dia do final do mês de março, quando sentimos as primeiras brisas frescas do outono: “Estes são os últimos dias do verão” Os judeus em geral acreditavam que a história humana se dividia em duas grandes épocas: os “dias anteriores” ou o período antes do aparecimento do Messias e os “dias posteriores” ou período após o aparecimento dele. Uma vez que os primeiros discípulos de Jesus, todos judeus, aceitaram-no como o Messias, eles acreditavam que o aparecimento dele marcou o início dos “últimos dias”, ou a Era Messiânica, em contraste com os “dias anteriores” antes de ele ter aparecido, e eles apoiavam esse conceito por meio de referências às Escrituras Hebraicas.

Os primitivos cristãos judaicos tiveram de mudar sua perspectiva inicial acerca da natureza de seu Messias e o governo dele. Eles esperavam um salvador político que os libertaria da sujeição a Roma. Em vez disso, Jesus os libertou do pecado, da morte e do Diabo. Seu reino era bem real, mas não fazia parte deste mundo. Eles se tornaram parte dele, por aceitá-lo e obedecê-lo como governante. (Col 1:13) Jesus também revelou-lhes que ele iria embora e voltaria novamente em um momento inesperado. Muitos dos discípulos primitivos evidentemente pensavam que a segunda vinda ocorreria durante sua vida. Porém, à medida que mais e mais das pessoas que tinham conhecido Jesus pessoalmente, incluindo os apóstolos, começaram a morrer (muitos como mártires), e a perseguição contra eles se intensificou, eles começaram a entender que a era messiânica não seria uma época de abundância física e bênçãos materiais (como muitos mestres judeus ensinaram), e sim, em vez disso, um período prolongado de tribulação, especialmente para os cristãos. Assim, foi apropriado Paulo alertar a Timóteo: “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias haverá tempos críticos, difíceis de manejar.” (2 Timóteo 3:1) Depois de descrever o tipo de pessoas que caracterizaria esses dias difíceis, ele disse a Timóteo para “afastar-se” (“afaste-se para longe”, na Kingdom Interlinear [Interlinear do Reino]) dessas pessoas. É claro que ele não estava advertindo Timóteo sobre eventos que ocorreriam muitos séculos no futuro. No conceito de Paulo, ele e Timóteo estavam vivendo nos últimos dias, ou seja, na Era Messiânica ou Cristã. 

O Que Dizer dos “Sinais” que Jesus Previu?

As Testemunhas de Jeová acreditam que a profecia de Jesus em Mateus 24 (e os trechos paralelos em Marcos 13 e Lucas 21, às vezes chamada de “Discurso do Monte das Oliveiras” ou “Sermão Escatológico”, palavra grega esta que significa “últimas coisas”) descreve uma série de eventos que ocorreriam no momento da parousia de Jesus e serviriam como um sinal de que ela tinha começado. O objetivo deste artigo não é apresentar uma análise detalhada, versículo por versículo, destes trechos, mas só fazer algumas observações pertinentes.

Primeiramente, uma breve explicação sobre o entendimento da Torre de Vigia acerca da palavra grega parousia em Mateus 24:3. O termo é geralmente traduzido como “vinda” ou “chegada”, mas é traduzido como “presença” na Tradução do Novo Mundo. No final do século 19, alguns Segundo Adventistas decepcionados, discípulos de William Miller, que tinham esperado o retorno de Jesus em 1843, notaram que a palavra parousia fora traduzida como “presença” na Emphatic Diaglott, uma versão interlinear greco-inglesa preparada por Benjamin Wilson. Evidentemente impressionados com a cronologia de Miller o suficiente para não quererem desistir dessa data, alguns deles formularam a ideia de que talvez Jesus tinha voltado realmente em 1843, assim como Miller havia previsto, porém ele tinha feito isso de maneira invisível.

Russell incorporou as ideias deles em sua própria versão do “tempo do fim”. Ele encarava a  parousia de Jesus como um período especial de 40 anos de presença invisível durante o qual os seguidores de Russell (que na época se chamavam Estudantes Internacionais da Bíblia e são agora conhecidos como Testemunhas de Jeová) estariam em um relacionamento especial com Jesus, após o qual eles seriam arrebatados em glória para o céu. Russell via os acontecimentos descritos em Mateus 24:3-14 como prova de que Jesus já havia retornado, de maneira invisível.

Se a parousia de Jesus deveria ser invisível, teria de haver algum sinal para mostrar que ela tinha começado. Nesse caso, seria estranho Jesus escolher coisas que estariam em evidência quase constante durante toda a era cristã como sinais de algum período especial no término desta. A dificuldade que surge quando se dá atenção a estes tipos de coisas como sinais é demonstrada pelo fato de que Russell apontou para os eventos de Mateus 24:6-14 (guerra, pestilência, fome, terremotos e outros) como prova de que a parousia de Jesus tinha começado em 1874 e terminaria em 1914. Todavia, hoje as Testemunhas de Jeová usam os mesmos eventos para provar que a parousia começou em 1914, quando Jesus supostamente os colocou no comando de todos os interesses de seu reino na Terra.

A palavra grega parousia, em seu sentido mais comum, significa presença corporal, mas pode também se referir à visita de uma pessoa com poder régio, o que é consistente com a própria descrição que Jesus fez de sua segunda vinda: “Quando o Filho do homem chegar na sua glória, e com ele todos os anjos, então se assentará no seu trono glorioso. E diante dele serão ajuntadas todas as nações, e ele separará uns dos outros assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.” (Mateus 25:31, 32) “… o próprio Senhor descerá do céu com uma chamada dominante, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, e os que estão mortos em união com Cristo se levantarão primeiro.” — 1 Tessalonicenses 4:16.

Nos dias de Jesus, muitos judeus acreditavam que logo antes da vinda do Messias haveria uma série de calamidades. Estas “desgraças do Messias”, incluído guerras, insurreições, pestilência, fome, terremotos e sinais ou portentos do céu. Não é improvável que os discípulos de Jesus tenham ouvido falar dessas previsões. Uma vez que estes eventos claramente não apareceram antes do nascimento ou batismo de Jesus, quando eles o ouviram prever a destruição do templo, eles podem ter se perguntado: “É isso o que nos disseram para esperar; as desgraças do Messias? É a destruição do templo parte desse grande período de calamidade que esperamos que preceda a vinda dele em glória?” 5Para mais detalhes, veja os artigos de M. Brunec, S.B.D., C.D.B., publicados pelo Pontifício Instituto Bíblico em fascículos sucessivos nos Volumes 30 e 31 de Verbum Domini.

Se isto era o que estava por trás da pergunta deles, a resposta de Jesus foi que os desastres com certeza viriam, mas não seriam um sinal de sua volta. Pelo contrário, Jesus começou sua profecia, advertindo-os para não serem enganados. Ele acrescentou que, quando as guerras e rumores de guerras ocorressem “vede que não fiqueis apavorados. Pois estas coisas têm de acontecer, mas ainda não é o fim.” (Mateus 24:6). Outras catástrofes também surgiriam. Mesmo estas só seriam “o princípio das dores de aflição”. Em vez de confirmar que essas coisas seria as precursoras imediatas de seu retorno e da libertação deles, Jesus avisou-os que esperassem um aumento da perseguição e do ódio por parte de pessoas de todas as nações, de um grande aumento da maldade. Ele disse que eles precisariam de perseverança. As palavras não apontavam para uma libertação iminente, e sim para um longo período de tribulação. Os eventos mencionados por Jesus em Mateus 24:3-14 ocorreram muitas vezes ao longo dos séculos, desde os dias dos apóstolos. Periodicamente, durante esses séculos, uma pequena minoria de cristãos têm tentado provar que a volta de Jesus era iminente, apontando a prevalência de guerra, terremotos, fome, pestilência, e coisas relacionadas. Eles se decepcionaram vez após vez.

6Uma excelente consideração de todo este assunto encontra-se em Doomsday Delusions [Decepções do Juízo Final], 1995, de C. Marvin Pate e Calvin B. Haines, Jr., InterVarsity Press.

Na verdade, as palavras de Jesus vêm se cumprindo por quase dois mil anos, e o fim ainda está no futuro.

As palavras de Jesus podem ter dado a primeira indicação aos discípulos de que a era messiânica não seria o tempo de grande paz política e prosperidade material que eles poderiam ter sido levados a esperar por parte alguns instrutores judaicos. Possivelmente eles associaram a destruição da qual ele falou com seu retorno, e por isso eles só fizeram uma pergunta, mas a resposta de Jesus abrangeu dois eventos distintos: primeiro, a destruição do templo judaico e segundo, a volta ou parousia de Jesus, ambos os quais eles podem ter pensado que ocorreriam ao mesmo tempo.

Jesus deu-lhes instruções específicas sobre o que fazer no momento da destruição de Jerusalém. Porém, ao mesmo tempo, ele os advertiu de que os eventos que eles poderiam considerar sinais de sua parousia não eram de modo algum verdadeiros sinais, e sim falsos sinais, que eram esperados por alguns judeus em conexão com a chegada gloriosa do Messias, mas eram irrelevantes para a segunda vinda de Jesus. É bastante significativo que, em vez de fornecer a eles um sinal que apareceria durante algum período significativo de tempo, até mesmo anos, antes de sua segunda vinda, ele pediu repetidamente, em vez disso, que eles se mantivessem alertas, vigilantes. Ele comparou seu retorno à visita de um ladrão na noite. Os ladrões não fornecem qualquer aviso prévio antes de atacarem. — Mateus 24:43, 44. 

Conclusão

Para resumir, há problemas insolúveis com o conceito da Torre de Vigia. Em primeiro lugar, a ideia de que se pode prever, por qualquer meio que seja o momento em que Cristo retornará está em contradição direta com o alerta dado claramente pelo próprio Jesus de que ele voltaria num momento em que os seus discípulos não pensariam. A ideia de qualquer tipo de sinal dando aviso prévio sobre a volta de Jesus contradiz completamente o que ele disse de maneira clara em várias ocasiões, que a sua parousia seria tanto súbita como inesperada: “Persisti em olhar, mantende-vos despertos, pois não sabeis quando é o tempo designado.” (Marcos 13:33) Se prestarmos atenção em suas palavras, o discurso de Jesus no Monte das Oliveiras, não fornece um modo de prever quer uma presença invisível, quer a iminente segunda vinda dele.

Em segundo lugar, o conceito da parousia de Jesus como um evento invisível não pode ser conciliado com as palavras dele: “E eis que estou convosco todos os dias, até à terminação do sistema de coisas.” (Mateus 28:20), as quais mostram claramente que Jesus sempre estaria invisivelmente presente com seus discípulos. Também contradiz diretamente Revelação 1:7, que diz: “Eis que ele vem com as nuvens e todo olho o verá, e aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra baterão em si mesmas de pesar por causa dele.” Isto ensina claramente que a parousia de Jesus seria tudo, menos invisível.

Em terceiro lugar, se permanecermos fiéis ao sentido original e mais direto das Escrituras, temos de concluir que Jesus começou a reinar no primeiro século, e que todos os cristãos que viveram desde o primeiro século até agora viveram nos últimos dias, isto é, a Era Messiânica. Tanto a evidência bíblica como a histórica mostram que Jesus Cristo começou a reinar no primeiro século, e que seu reinado continuou, “no meio dos seus inimigos”. Assim sendo, devemos também concluir que a situação que existe entre as pessoas que alegam ser cristãs é a que Jesus esperava, e que o modo como as coisas se desenvolveram está em harmonia com a sua vontade soberana como rei sobre o céu e a terra. Qualquer grupo que tenha se iniciado durante algum dos séculos seguintes à era apostólica não pode fazer qualquer alegação séria de ser a verdadeira igreja de Jesus.

Não temos qualquer motivo para concluir que Jesus abandonou seus seguidores para seu inimigo, o Diabo, no final do período apostólico, como Russell acreditava e ensinou. Também não há qualquer base para se concluir que perto do final do primeiro século as coisas de alguma forma ficaram fora do controle de Jesus e todo o corpo de Cristo tornou-se tão corrupto que eles perderam sua posição como a verdadeira Igreja que ele fundou. Se Jesus tem “toda a autoridade no céu e na terra” e enviou seus discípulos a pregar e ensinar com base nisso, temos de concluir que tem havido verdadeiros seguidores de Cristo ao longo de todos os séculos, desde que Jesus caminhou sobre a terra. Se alguém procurar e examinar honestamente as evidências históricas disponíveis, pode-se ver que a Igreja fundada por Jesus no primeiro século manteve-se em existência contínua desde então.

Thomas W. Cabeen

Adendo

O exame da evidência histórica e das declarações bíblicas pertinentes, que foram citadas ao longo deste artigo, conduz de fato às conclusões apresentadas, no que se refere ao significado das expressões gregas eschatais hemerais (“últimos dias”) e parousia (“vinda” ou “chegada”), e comprova quão inútil é qualquer esforço por parte de homens devotos de tentar sugerir ou predizer quando Cristo deverá retornar, com base em cálculos cronológicos ou em “sinais” físicos indicativos duma “presença invisível” dele a partir de alguma data específica do calendário moderno. Milhares, até mesmo milhões de pessoas que deram atenção a essas “predições” humanas ao longo da história acabaram vez após vez amargamente desapontadas. Ao mesmo tempo, há base para se crer que os “últimos dias” abrangem a Era Cristã, que desde sua ressurreição Jesus está governando ativamente e que a Igreja fundada por ele na terra manteve-se em “existência contínua” desde o primeiro século.

O que dizer, porém, da afirmação de que “a situação que existe entre as pessoas que alegam ser cristãs é a que Jesus esperava, e que o modo como as coisas se desenvolveram está em harmonia com a sua vontade soberana como rei sobre o céu e a terra”?

Embora esta ideia, em si, tenha sua validade, seria um erro entender isso em sentido absoluto. É verdade que as “boas novas do Cristo” chegaram a toda a terra habitada, com efeitos maravilhosos na vida de um sem-número de pessoas ao longo dos séculos. Não se pode esquecer, porém, que o reino de Cristo seria exercido “no meio dos seus inimigos”. Onde estariam esses inimigos? Em todos os lugares, inclusive dentro do próprio reino! Esta é a razão de tanto Jesus como seus apóstolos terem achado por bem dar alguns avisos bem claros sobre uma situação lamentável que infelizmente se faria presente dentro do ambiente da Igreja Cristã ao longo desses “últimos dias”. Entre esses avisos, citam-se estes (conforme a Nova Versão Internacional, com grifos e sublinhados acrescentados):

Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores… pelos seus frutos vocês os reconhecerão!… Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’” (Jesus Cristo, em Mateus 7:15, 20, 22, 23).

“Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem!” (Apóstolo Paulo, em Atos 20:29-31).

“No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras… Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram.” (Apóstolo Pedro, em 2 Pedro 2:1-3).

Todos estão bem a par da situação do Cristianismo hoje. É gritante a generalizada divisão em nível mundial que existe na Igreja há muitos séculos. Entre os exemplos de instituições que vieram a existir séculos depois de Jesus e os apóstolos terem caminhado pela terra pode-se mencionar a Igreja Católica Romana (a partir do século 4), as Igrejas Ortodoxas Orientais (com seu início no século 11), as Igrejas Protestantes (século 16) e milhares dos chamados “novos movimentos religiosos”, que incluem numerosas Igrejas Evangélicas e congêneres da atualidade (originadas, em sua maioria, a partir do século 19). Invariavelmente, a liderança de cada uma dessas instituições reivindica para si própria (direta ou indiretamente) a posição de “verdadeira igreja de Jesus”, com a consequente exclusão de todas as demais! Era isso o que o Rei, Cristo Jesus, ‘esperava que ocorresse em seu reino’ e será que este “modo como as coisas se desenvolveram” está “em harmonia com a sua vontade soberana como rei sobre o céu e a terra”? A resposta é óbvia!

O que foi que levou a uma situação tão deplorável como essa? Por que ocorreu toda essa fragmentação do Cristianismo em milhares de instituições concorrentes e conflitantes, com resultados tão nefastos, que foram escritos nas páginas da história com muito sangue derramado, inclusive? A resposta a isso não é nenhuma outra além do que havia sido predito com clareza nos trechos acima:

1) A todo momento surgiram “falsos mestres” dentro da comunidade cristã, com uma aparência exterior de piedade, mas ‘deturpando a verdade’ com o objetivo de “atrair os discípulos” de Cristo;

2) Pela falta de acatamento à instrução de “ter cuidado” e “vigiar”, muitos foram seduzidos, realmente “enganados” pelas “heresias destruidoras” introduzidas por esses homens, ‘seguindo o caminho deles’, destinando a eles a lealdade e honra que deveriam ser destinadas exclusivamente ao Rei e, consequentemente, sendo “explorados” pelas mais diversas “histórias” que esses homens inventaram.

Qualquer pessoa que estude a história do Cristianismo ao longo de todos esses séculos entenderá que os dois fatos acima estão invariavelmente na própria raiz do surgimento e desenvolvimento de qualquer instituição particular – antiga ou moderna. (Para mais informações sobre como se chegou a esta situação, veja o artigo O Processo de Institucionalização do Cristianismo). Isso jamais foi o propósito de Cristo ou o que ele tinha em mente para o seu Reino. Antes, conforme expresso corretamente pelo autor deste artigo: “qualquer grupo que tenha se iniciado durante algum dos séculos seguintes à era apostólica não pode fazer qualquer alegação séria de ser a verdadeira igreja de Jesus.” A seriedade deste assunto é frisada adicionalmente pelas seguintes palavras de Cristo, que são apresentadas aqui como citação final. Quando deu aos seus discípulos a explicação da parábola do trigo (os cristãos verdadeiros) e do “joio” (os falsos cristãos), ele disse:

“Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino todos os que servem de tropeço, e os que praticam a iniquidade, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus 13:40-42, Almeida Atualizada).

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