O Batismo Cristão

Atualmente, a maioria dos cristãos evangélicos pratica o “batismo por imersão”. Por definição, este é o ato de submergir completamente um indivíduo em água como um testemunho de seu compromisso de levar uma vida cristã. É geralmente realizada por um ministro ordenado (ou licenciado), e acompanhada de uma declaração formal, como: “Como profissão de sua fé em Jesus Cristo, eu agora te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Como foi que esta tradição surgiu, e qual é a base bíblica para ela?

Talvez o leitor pense que João Batista “inventou” o batismo. Afinal de contas, na primeira vez em que o batismo é mencionado no Novo Testamento, era João quem estava “fazendo” o batismo. O leitor ficaria surpreso em saber que o batismo já era praticado uns 1.450 anos antes de João nascer?

A primeira aparição do “batismo” na Bíblia – embora a própria palavra não ocorra lá – está no Levítico: “Moisés fez o que o SENHOR mandou, e o povo todo se reuniu em frente da Tenda. Aí Moisés lhes disse: – Vou fazer agora o que o SENHOR mandou. Moisés fez com que Arão e os seus filhos chegassem perto dele e mandou que se lavassem.” A ocasião, naturalmente, era a dedicação de Arão ao sacerdócio levítico. Assim, vemos que o significado original, primário do batismo é que ao ser batizada a pessoa está sendo designada para servir a Deus como um sacerdote.

(Queira notar que no Novo Testamento, todos os cristãos – não apenas os “ministros” – são designados para servir a Deus como sacerdotes. Veja, por exemplo, 1 Pedro 2:5 e 1 Pedro 2:9 É por isso que é apropriado que todos os cristãos – não só os “ministros” – sejam batizados).

480 anos depois do tempo de Moisés, Salomão, o rei de Israel, construiu um magnífico Templo em Jerusalém, para substituir o antigo Tabernáculo onde Moisés havia batizado Arão e seus filhos. Um dos itens nesse Templo era um “mar” descrito em 2 Crônicas 4:2-6. Considerando-se suas dimensões (2 Crônicas 4:2) e volume (2 Crônicas 4:5), diríamos que este objeto daria uma piscina de bom tamanho. Note-se que 2 Crônicas 4:6 termina dizendo que “o mar era para que os sacerdotes se lavassem [isto é, para que fossem “batizados”] nele. Assim, vemos que um verdadeiro ato de batismo requer uma grande quantidade de água. (Os sacerdotes não “aspergiam” ou “derramavam” a água em si mesmos. O “mar” precisava ser grande o suficiente para que eles pudessem se submergir nele.).

Ao longo da era do Antigo Testamento, apenas os sacerdotes eram batizados desta maneira, nunca o resto das pessoas. Entre a escrita do último livro do Antigo Testamento (Malaquias) e a vinda de João Batista (registrado nos Evangelhos), o Judaísmo dividiu-se em várias “denominações” diferentes. Um desses grupos, conhecido como os essênios, é o mais famoso (hoje) por eles terem escrito os Rolos do Mar Morto. Os essênios acrescentaram um novo conceito à ideia do batismo do Antigo Testamento: em sua comunidade, todos os essênios eram considerados como “sacerdotes” e, portanto, qualquer indivíduo que se tornasse essênio era batizado num “mar” que eles construíram em Qumran.

A relevância desse fato para a prática do Novo Testamento torna-se clara quando percebemos que João Batista era provavelmente um membro da comunidade dos essênios. No entanto, enquanto os essênios reconheciam a ideia de que “todos no povo de Deus são sacerdotes”, eles mantiveram este conhecimento para si mesmos, batizando todos os essênios, mas não batizando quem não fosse essênio. João Batista levou a prática para o próximo passo lógico: ele começou a batizar todos os que vinham a ele se arrependendo de seus pecados e expressando o desejo de viver para Deus (cf. Marcos 1:4, 5). Assim, o princípio do Novo Testamento do “sacerdócio de todos os crentes” (enunciado claramente, pela primeira vez, uns 1.500 anos depois, por Martinho Lutero) veio a ser estabelecido.

Note-se que João também precisava de “muita água” (João 3:23) para realizar o seu batismo – confirmando mais uma vez que o verdadeiro batismo é feito pelo processo hoje chamado de “imersão”.

O fato de o próprio Jesus ter sido batizado por João certamente acrescenta uma nota de autenticação aos conceitos de João sobre o significado e o método do batismo. Note-se, por exemplo, a declaração de Jesus de que o propósito de seu batismo era “cumprir toda a justiça” (Mateus 3:15). Embora não seja especificamente declarado na Bíblia, é consenso da maioria dos cristãos evangélicos que outro significado do batismo é que o indivíduo está expressando o desejo de se “identificar” com Jesus, por fazer o que Jesus fez, e pelas mesmas razões dele. Essa crença é geralmente expressa pela afirmação de que essa pessoa decidiu “seguir o Senhor nas águas do batismo”.

Deve-se notar, também, que Jesus foi batizado por imersão. Nenhum outro sentido poderia ser extraído da declaração em Mateus 3:16 de que depois de seu batismo, ele “saiu logo da água”. (Seria impossível ele ‘sair da água’, a menos que tivesse primeiro entrado nela.).

No final de seu ministério terrestre, pouco antes de ascender ao céu, Jesus deu aos discípulos a chamada “Grande Comissão” (Mateus 28:19, 20), uma ordem (não uma sugestão!) que incluía “batizar-se” como uma das atividades que seus discípulos deveriam continuar a “observar… até o fim dos tempos.” Assim não haveria qualquer desculpa para a Igreja Cristã decidir que o batismo não é mais relevante e deve ser descartado junto com outras práticas culturalmente ultrapassadas, tais como seguir os regulamentos dietéticos que Jesus indicou especificamente que não eram mais válidos (Atos 10:9-16).

O livro de Atos contém muitas referências ao batismo, todas as quais se combinam para lembrar ao leitor que todos os cristãos devem ser batizados (Atos 2:38), sejam eles homens ou mulheres (Atos 8:12), brancos ou negros (Atos 8:36), antigos perseguidores da Igreja (Atos 9:18), gentios (Atos 10:47), ou esposas crentes, filhos ou servos de crentes (Atos 16:31-33). Note-se que em todos estes casos o batismo segue-se quase logo depois do arrependimento e da fé. Hoje em dia é mais provável que haverá algum intervalo de ensino e preparação entre a profissão inicial da fé e sua “exteriorização” no batismo. Mas esse período não é exigido pelas Escrituras; na verdade, as Escrituras parecem dar indicação de que qualquer intervalo deve ser tão breve quanto possível (Atos 8:36).

Alguns outros significados do batismo cristão são encontrados nos seguintes versículos das cartas do apóstolo Paulo:

Romanos 6:3-5: O batismo representa a morte dos crentes (em primeiro lugar, para com o pecado, e em segundo lugar, o final da vida atual), o enterro (que confirma a morte, e é simbolizado pela submersão do candidato na água – assim como se diz que alguém foi “enterrado” ao ser completamente coberto pela terra) e a ressurreição (em primeiro lugar, para uma vida de santidade, e em segundo lugar, quando Jesus retornar).

Gálatas 3:26-27: O batismo é equiparado a “se revestir de” Cristo, uma vez que o candidato (depois de ser batizado) irá, naturalmente, remover sua roupa molhada e se vestir com uma roupa limpa e seca. (Veja também Colossenses 3:8-14.) Note-se também que Gálatas 3:28 enfatiza a universalidade do cristianismo, que derruba todas as distinções tais como aquelas entre judeus e gentios, escravos e homens livres, homens e mulheres, etc. No mundo de hoje, faríamos bem em reconhecer que este versículo significa também uma eliminação de distinções tais como preto e branco, ricos e pobres, velhos e jovens, “cidade” e “país”, “oriental” e “ocidental”, “norte” e “sul”, “instruídos” e “indoutos”, etc., etc., etc. O batismo é para todos os que aceitam Jesus como Senhor e Salvador.

Efésios 4:5: O fato de haver apenas “um só batismo” exclui a ideia de que as igrejas de uma determinada denominação só devem estender a comunhão aos que foram batizados de acordo com as tradições de uma denominação específica. Não importa em que “ramo” da igreja você foi batizado – uma vez que você foi batizado, esse batismo é válido, e todas as igrejas cristãs devem estender a comunhão a você como um companheiro cristão, independentemente de a qual denominação pertencia o ministro que o batizou.

Tito 3:5: O batismo não “salva”! Deus é quem salva, e Ele o faz em resposta à sua profissão de fé em Jesus (Romanos 10:9). Isso é o que a Bíblia quer dizer com o batismo “do Espírito Santo”. (Veja Mateus 3:11.) O batismo na água é apenas um testemunho de sua salvação. Você foi salvo no momento em que aceitou Jesus como seu Salvador. Você deve se batizar o mais rapidamente possível depois de ter feito isso. Mas sua salvação não depende de seu batismo, caso contrário o ladrão na cruz (Lucas 23:42) não teria sido salvo, já que ele nunca teve a oportunidade de se batizar. Então, se você jamais teve a oportunidade de ser batizado, você poderá ser tão salvo como ele foi. Porém, se você tiver a oportunidade, precisa obedecer ao mandamento de Cristo e ser batizado assim que possível.

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