Por Que a Multiplicidade de Doutrinas?

Um leitor expressou incerteza sobre a variedade de conceitos (muitas vezes conflitantes) que existem sobre assuntos tais como a natureza de Deus e do homem — bem como o grande fervor com que essas ideias são defendidas por pessoas e grupos religiosos. Identificando as causas deste problema, um cristão veterano escreveu o seguinte em resposta a este leitor:

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Posso entender sua sensação de certa medida de incerteza. Isso é um subproduto da longa associação com um sistema religioso que apresenta um conceito absolutista, como se ele estivesse na posse de toda a verdade. Como resultado disso, a compreensão das Escrituras se baseava, não nas próprias Escrituras, e sim na interpretação dada a elas pela religião. Quando se começa a olhar para as Escrituras, para o que elas mesmas dizem, não surpreende que uma pessoa se sinta hesitante e incerta.

Parte do problema pode estar em nossa ideia de que devemos ter certeza absoluta sobre praticamente tudo o que é dito nas Escrituras. Mas isso deixa de reconhecer a verdade declarada pelo apóstolo de que em algumas coisas, pelo menos, “agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho” e que a compreensão plena e completa ainda está à frente. (1 Coríntios 13:12) É reconfortante saber que a mensagem básica da Bíblia é essencialmente simples, ao alcance de quem está, de certa forma, como um “pequenino”. (Mateus 11:25, 26) Pessoalmente, creio que é um alívio não achar que devo ter a resposta para tudo. As tentativas de conhecer o incognoscível, definir o indefinível, são a raiz de grande parte da confusão e divisão que vemos hoje. Lembro-me de um comentário do autor do livro O Fogo Que Consome, que, ao lidar com um determinado texto que permitia mais de uma explicação, disse que achava que a posição correta em relação ao texto era a de um “agnosticismo reverente”, isto é, por respeito a Deus ele estava disposto a admitir que não sabia ou não tinha certeza. Pessoalmente, sinto-me achegado a pessoas que reconhecem que não têm todas as respostas, e distanciado daquelas que parecem achar que sabem tudo.

O conceito de muitos quanto ao que é a “Palavra de Deus” é mais tradicional do que bíblico. Eles não percebem que a expressão “Palavra de Deus” transmite mais o sentido de “Mensagem de Deus”, e não simplesmente o das próprias palavras. Os escritos encontrados na Bíblia são o veículo para a mensagem de Deus e a mensagem é o fator crucial. Parece que a falta de foco na mensagem faz com que muitas ex-Testemunhas de Jeová (e outros) se percam em sua leitura, desviando-se para toda sorte de questões secundárias. Se alguém simplesmente considerar as Escrituras, talvez começando pelas Escrituras Cristãs, lê-las e deixá-las falar por si mesmas, muitos problemas desaparecerão. Usar uma tradução diferente da costumeira pode ajudar, já que a mente não fica inclinada a manter conceitos preconcebidos.

No que se refere à doutrina da Trindade, eu percebi há muito tempo que o verdadeiro problema nesta área decorre de uma má-vontade de simplesmente aceitar as coisas como as Escrituras as colocam. Os homens parecem querer ser explícitos onde as declarações bíblicas não são, como se de certa maneira a Bíblia fosse deficiente. Eles parecem achar que suas elucubrações ou acréscimos compensam essa deficiência. Algumas observações dum famoso comentarista bíblico do século 19, Albert Barnes, expressam meu próprio conceito sobre isso. Ao comentar sobre um determinado trecho do livro de Romanos, ele escreveu:

Como já foi dito, acredito que a raiz do problema e da controvérsia é essencialmente uma falha em deixar as coisas como as Escrituras as colocam. Simplesmente citar um texto como o de Mateus 28:19, no qual se faz referência ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, não prova o conceito complexo de um Deus trino, com o uso de termos como “essência”, “consubstancialidade”, “união hipostática”, etc. O sentido básico do termo “trindade” em si é simplesmente o de um “trio” e há outros trios mencionados nas Escrituras, tais como a referência ao “Espírito, a água, e o sangue” em 1 João 5:8, ou “a fé, a esperança e o amor” em 1 Coríntios 13:13. Eles são agrupados por causa de sua inter-relação no que diz respeito ao assunto envolvido. Isso é igualmente verdade no caso de Mateus 28:19.

João 1:1 é o versículo mencionado com mais frequência nas discussões sobre o assunto. A maioria das pessoas o lê e sobrepõe a ele os conceitos religiosos que mantinham antes. Muitos eruditos altamente respeitados reconhecem que a terceira ocorrência do termo theos nesse texto tem um sentido adjetivo ou qualificativo. Os comentários do bem conhecido erudito britânico William Barclay mostram que os pressupostos comuns não procedem. Ele afirma:

Uma ilustração baseada no idioma inglês deixará isso claro. Se eu disser: “O pregador é o homem”, estou usando o artigo definido tanto antes da palavra “pregador” como da palavra “homem”, e, desta forma, eu identifico o pregador com algum homem bem específico que eu tenho em mente. Porém, se eu disser: “O pregador é homem”, eu omiti o artigo definido antes da palavra “homem”, e o que estou querendo dizer é que o pregador deve ser classificado como um homem, ele está na esfera da masculinidade, ele é um ser humano. O Evangelho de João não tem o artigo definido antes de theos, Deus. O Logos, portanto, não é identificado como Deus ou com Deus; a palavra theos tornou-se um adjetivo e descreve a esfera à qual o Logos pertence. Portanto, teríamos de dizer que isso significa que o Logos pertence à mesma esfera de Deus; mesmo sem ser identificado com Deus, o Logos tem o mesmo tipo de vida e de ser que Deus tem. Aqui, a Nova Bíblia Inglesa apresenta a tradução perfeita: “O que Deus era, a Palavra era.” Este trecho não identifica o Logos com Deus; não diz que Jesus era Deus, nem o chama de Deus; mas diz que, em sua natureza e ser ele pertence à mesma classe de Deus, e está na mesma esfera da vida que Deus. – Jesus Como Eles o Viam, do erudito protestante Wiiliam Barclay, págs. 21, 22 em inglês.

Outra tradução útil do versículo, encontrada em algumas versões é: “O Verbo estava com a Deidade e o Verbo era Deidade.” A vantagem desta versão, a meu ver, é que, enquanto para a maioria das pessoas o termo “Deus” é comumente tomado como um nome próprio, a palavra “Deidade” não passa de imediato essa impressão, ela tem um sentido mais genérico.

Parece que a preocupação de rebater acusações de politeísmo feitas nos primeiros séculos levaram os homens a desenvolver sua própria terminologia e produzir definições precisas que vão além de qualquer coisa encontrada nas Escrituras. Pessoalmente, acredito que os resultados mostram que isso foi um erro. A doutrina não ajuda em nada para a compreensão – a grande maioria das pessoas jamais saberia sequer expressá-la em suas próprias palavras. É uma fórmula que elas conhecem o rótulo, mas não são capazes de começar a explicar seus ingredientes. Uma analogia simples pode, talvez, ser de mais ajuda para as pessoas, tal como comparar o uso de “deidade” com o uso do termo “realeza”. O filho de um rei é, como seu pai, da “realeza”. Essa realeza é fruto de sua relação com o pai real, como parte de uma família real. Cristo participa da mesma forma da divindade pelo fato de estar da família divina de Deus, tendo sido gerado por Deus. Pelo menos para mim, isso faz a aplicação do termo theos [Deus] a Cristo tanto compreensível como harmoniosa com as próprias declarações dele a respeito de sua relação com seu Pai, e faz isso sem criar qualquer conotação de “politeísmo”, no sentido em que se entende esse termo.

Em vez de nos deixarmos controlar por meia-dúzia de “textos que provam” — seja um lado da questão, seja o outro, minha própria experiência diz que é a leitura progressiva das Escrituras, livro por livro, capítulo por capítulo, versículo por versículo, que traz uma imagem coerente. Essa imagem tem aspectos consistentes que não são, pelo menos não para mim, compatíveis com a “doutrina ortodoxa da Trindade”. Como apenas um exemplo, o apóstolo Paulo vez após vez começa suas cartas referindo-se ao “Deus, o Pai e Nosso Senhor Jesus Cristo.” Nunca é “Deus, o Pai e Deus, o Filho”, e o Espírito Santo nem aparece na expressão. Se o pensamento de Paulo fosse trinitário, isso seria muito difícil de entender.

Francamente, penso que os raciocínios usados para validar a doutrina da Trindade são tão forçados (e igualmente tão sutis), como aqueles que estão por trás de grande parte da doutrina da Torre de Vigia. Da mesma forma, a pressão da atual ortodoxia me faz lembrar a pressão que eu experimentei sob o autoritarismo do sistema religioso das Testemunhas. E é isso o que eu mais condeno. O grande dogmatismo da maioria das fontes trinitaristas, a tendência deles de relegar qualquer um que não compartilhe de seu conceito à classe dos “hereges” é tanto imodesta como anticristã. Por outro lado, os mais eruditos entre eles reconhecem que a doutrina não é claramente (“explicitamente”) ensinada nas Escrituras, enquanto, ao mesmo tempo, eles podem insistir que o “desenvolvimento” dos “germes” ou “sementes” da doutrina seja aceito. Eu saí dum sistema que seguia precisamente essa prática e não tenho qualquer desejo de voltar para lá.

Devemos, conforme Judas expressou, ‘batalhar pela fé uma vez por todas confiada aos santos’ (Judas 3). O que eu não farei é batalhar por uma fé baseada em interpretações humanas que não foram originalmente confiadas aos santos, nem por Cristo, nem por seus apóstolos ou por outros escritores bíblicos — interpretações que são pós-bíblicas, que tentam estabelecer como doutrina obrigatória o que a própria Bíblia não diz claramente, que derivam a sua autoridade de concílios da igreja de séculos posteriores, concílios que determinaram o que deve e o que não deve ser considerado “ortodoxo”. Esses ensinamentos não constituem “fé uma vez por todas confiada aos santos”, e sim acréscimos eclesiásticos humanos.

Conforme João 1:1 e outros textos deixam claro, a divindade é atribuída ao Filho, sendo o termo grego theos, inegavelmente aplicado a ele. O que não está presente é a evidência de que este uso o iguala com o Deus Soberano, Aquele de quem ele foi gerado. Conforme alguns têm expressado, o problema surge quando os homens se esforçam em formular definições explícitas quanto a em que consiste a deidade ou divindade do Filho, com o resultante desenvolvimento de toda sorte de fórmulas sobre “essência”, “substância”, “Divindade”, etc. Que o caso é o do Filho refletindo a glória do Pai é, essencialmente, o que o apóstolo declarou em Hebreus 1:3: “O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser.” (Hebreus 1:3, NVI) Um homem pode ter um filho, que cresce e pode ser da mesma altura e ter a mesma força que seu pai, ele pode ter qualidades e inteligência, que são essencialmente idênticas às de seu pai. Mas o pai continua sendo seu pai, a fonte da vida dele. Se este não é o caso com o Pai e o Filho nas Escrituras, seríamos obrigados a dizer que uma comparação enganosa e confusa foi usada quando esses termos foram escolhidos. De qualquer maneira, creio que o problema está, não nas Escrituras e nas declarações dela, e sim nas interpretações humanas colocadas em lugar delas. Isto é o que tem levado a muita confusão e também à divisão.

Uma vez que Cristo veio como o Enviado de Deus e agiu e falou por Deus, fazendo isso “em nome de seu Pai”, não é incomum que os textos nas Escrituras Hebraicas referentes a Jeová seriam também aplicados a este Ungido de Deus. Isso é verdade em alguns casos, no que se refere aos mensageiros angélicos, que falaram a mensagem de Jeová, com o escritor bíblico dizendo: “Jeová disse”, enquanto o contexto mostra que foi um anjo que falou. (Compare com Gênesis 18:1-3, 16, 17; também Êxodo 3:2-4, onde o hebraico faz referência a um “anjo” em um versículo e em outro a “Jeová” ou “Deus”; veja também Hebreus 1 :1-3).

Muitas ex-Testemunhas de Jeová dão um giro de 180 graus em praticamente todas as crenças doutrinárias. Eles foram convencidas ou se deixaram convencer de certas doutrinas. Durante as várias décadas de minha associação com as Testemunhas de Jeová eu também estava convencido sinceramente desse jeito. Minhas crenças sobre muitos, muitos pontos mudaram radicalmente; mas não fiz algum tipo de mudança “por atacado”, simplesmente porque eu mudei só quando a própria Bíblia me levou a tal mudança. O que acho lamentável é o fato de que, ao mudar radicalmente suas crenças, muitas ex-Testemunhas mantêm o dogmatismo que tanto caracteriza a organização Torre de Vigia e outras religiões que afirmam possuir a “verdade absoluta”. Alguns que deixaram esta organização religiosa tornaram-se ainda mais dogmáticos quanto aos seus novos conceitos (“novos” para eles, embora estes conceitos sejam essencialmente parte do credo da “ortodoxia” desenvolvida ao longo dos séculos). Conforme eu mencionei a um conhecido, entre alguns desses grupos de “ex-Testemunhas de Jeová” eu me sinto como se estivesse de volta entre as Testemunhas de Jeová, com a atitude deles de ter a Verdade, a única verdade (a “verdade”, neste caso, sendo geralmente o equivalente a “doutrina ortodoxa”). Em vez de a organização Torre de Vigia controlar o pensamento dessas pessoas e exigir sua subserviência, ditando como devem entender a Bíblia, agora é a “ortodoxia” que faz o mesmo.

Ao ouvir outros, ou ler as cartas deles, estou cada vez mais impressionado com a necessidade de incentivar as pessoas a pesar e analisar argumentos. Nós não fazíamos isso enquanto éramos Testemunhas e nossas capacidades mentais tendem a atrofiar, em resultado disso. Foi nos meus últimos anos de associação com a Torre de Vigia que comecei a perceber o quanto eu tinha confundido plausibilidade com argumentação e raciocínio sólido. Ao ler livros que abordam as diversas formas de argumentação falha eu comecei a ver inúmeros exemplos disso nas publicações da Torre de Vigia que eu tinha lido no passado e aceito — com base na plausibilidade.

Acredito que a maioria das Testemunhas de Jeová é aparentemente incapaz de reconhecer esse tipo de argumentação, para perceber onde a plausibilidade está substituindo a lógica sólida e a argumentação adequada. E, com base nos últimos anos e na comunicação com centenas de ex-Testemunhas, parece que uma grande porcentagem dos que saem da organização não estão mais bem equipados para fazê-lo quando confrontados com a argumentação que vem de suas novas fontes de pesquisa. Elas parecem se deixar convencer muito facilmente por argumentos que, em muitíssimos casos, diferem pouco no método daqueles usados pela Torre de Vigia no caso de muitos de seus ensinos.

Acredito que muitos cometem o grave erro de atribuir certas crenças à Torre de Vigia, como se esta organização religiosa fosse a fonte exclusiva dessas crenças. Na realidade, ao ridicularizar certas posições a respeito da alma, o conceito do tormento eterno, ou a relação entre Deus e seu Filho, eles também estão ridicularizando os escritos de eruditos e teólogos eminentemente respeitados que, mesmo diferindo em detalhes ou grau dos ensinamentos das Testemunhas, apresentam, no entanto, provas sólidas que apontam na mesma direção geral. Há muitos eruditos altamente conceituados que afirmam de forma bem clara e sem rodeios que o conceito da imortalidade inerente da alma não é um ensinamento bíblico, e sim derivado da filosofia grega.

Muitas vezes parece que os eruditos reconhecidos da Cristandade, eles próprios “ortodoxos” e, portanto, trinitaristas, parecem mais abertos e objetivos ao descrever a origem dessa doutrina do que pessoas bem menos esclarecidas. Até que ponto se deve pensar na questão de por que é que eles reconhecem a doutrina da Trindade como um desenvolvimento pós-bíblico, uma doutrina que eles defendem em grande parte em função das decisões dos concílios religiosos? Tenho um bom número de obras de referência respeitáveis ​​em minha biblioteca e, quase sem exceção, elas reconhecem que esta doutrina não se encontra realmente no Novo Testamento, nem era ensinada nos primeiros séculos anteriores ao Concílio de Nicéia. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Volume 2, página 84 (em inglês), por exemplo, começa sua consideração sobre a trindade, dizendo: “O Novo Testamento não contém a doutrina da Trindade desenvolvida.”

Eu me pergunto quantos percebem que o que eles supõem ser estritamente conceitos da Torre de Vigia está em conformidade com declarações feitas por eruditos reconhecidos da Cristandade. Por que a Encyclopædia Britannica, por exemplo, diz que “nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita, como tal, aparece no Novo Testamento”, e que “a doutrina desenvolveu-se gradualmente ao longo dos séculos”, só chegando à sua forma atual (ortodoxa) “no fim do 4º século”? Por que a Nova Enciclopédia Católica diz que “a formulação de ‘um só Deus em três Pessoas’ não foi solidamente estabelecida, com certeza não plenamente assimilada na vida cristã e na sua profissão de fé, antes do fim do 4.° século… Entre os Pais Apostólicos, não havia nada, nem sequer remotamente, que se aproximasse dessa mentalidade ou perspectiva.”? Por que o teólogo suíço conhecido internacionalmente, Emil Brunner disse que “nunca foi a intenção das testemunhas originais de Cristo no Novo Testamento colocar diante de nós um problema intelectual — o das Três Pessoas Divinas — e daí dizer-nos silenciosamente para adorar este mistério dos “Três-em-Um”. Não há vestígio algum dessa ideia no Novo Testamento. Este “mysterium logicum”, o fato de que Deus é Três e ainda assim Um, encontra-se totalmente fora da mensagem da Bíblia. É um mistério que a Igreja coloca diante dos fiéis em sua teologia, pelo qual ela dificulta e embaraça a fé deles com uma heteronomia que está em harmonia, é certo, com uma falsa alegação de autoridade, mas que não tem qualquer conexão com a mensagem de Jesus e seus Apóstolos. Nenhum Apóstolo teria sonhado em pensar que há aqui Três Pessoas divinas, cuja relação mútua e paradoxal unidade estão além de nossa compreensão. Nenhum “mysterium logicum”, nenhum paradoxo intelectual, nenhuma antinomia de Trindade e Unidade, tem algum lugar no testemunho deles… O mistério da Trindade, proclamado pela Igreja e consagrado em sua liturgia, do 5º ou 6º século em diante, é um pseudo-mistério, que surgiu de uma aberração do pensamento teológico sobre as linhas declaradas na Bíblia, e não da própria doutrina bíblica.”1? Uma posição bastante comum entre os eruditos é o conceito de que, embora não seja especificamente ensinada nas Escrituras, as “sementes” da doutrina da trindade se encontram lá. Isto equivale a dizer que é uma questão de interpretação. Para cada “texto-prova” apresentado para estabelecer as alegações feitas pelos defensores da doutrina, existem inúmeros trabalhos eruditos para mostrar que o original em grego desses versículos simplesmente não admite afirmações dogmáticas. Então, não é simplesmente uma questão de debater o conteúdo das publicações da Torre de Vigia; a pessoa é obrigada, em vez disso, a discutir com esses eruditos reconhecidos e qualificados. Uma vez que eles próprios são trinitaristas, por que todos esses eminentes eruditos fazem essas admissões? Não é vantagem alguma para eles fazê-lo, e certamente não o fariam se a honestidade não os obrigasse a proceder desse modo.

Declarações semelhantes podem ser encontradas em praticamente todas as obras de referência respeitáveis que li. É estranho que as pessoas que se deixaram doutrinar pela argumentação deficiente de um Corpo Governante obviamente falível, permitam-se agora ser doutrinadas por outra argumentação que é igualmente falha e aceitem como verdade absoluta uma doutrina baseada em decisões de um corpo governante do passado, composto por bispos reunidos sob a direção de um imperador romano.

Espero que a sua preocupação em deixar as Escrituras guiarem seu pensamento produza bons resultados. Se sua preocupação em ‘batalhar pela fé uma vez por todas confiada aos santos’ for verdadeira, você atingirá o crescimento e maturidade tal que você não pensará em termos do que um segmento religioso ou outro ensina e defende. Pode levar algum tempo, mas com oração e esforço sincero baseado na fé você poderá atingir esse nível, que o identifica como seguidor de Cristo e não de um sistema.

Agradeço novamente por seu interesse e desejo-lhe tudo de bom, bem como que você procure progredir no conhecimento e no entendimento.

NOTA:

1 The Christian Doctrine of God  (A Doutrina Cristã Sobre Deus), Emil Brunner, pág. 226.

Imagem: Massacre de São Bartolomeu, 1572 (François Dubois)

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