Os Tempos dos Gentios Reconsiderados – Apêndice ao Capítulo 7

“A Cronologia Persa e a Duração do Exílio Babilônico dos Judeus”

A Cronologia Persa e a Duração do Exílio Babilônico dos Judeus (de 2003) é o primeiro de dois volumes nos quais Rolf Furuli tenta revisar a cronologia tradicional dos períodos neobabilônico e persa. Furuli afirma que a razão para este empreendimento é que esta cronologia está em conflito com a Bíblia. Ele insiste que a Bíblia mostra “inequivocamente”, “explicitamente” e “definitivamente” que Jerusalém e a terra de Judá permaneceram desoladas por 70 anos, até o momento em que os exilados judaicos em Babilônia retornaram a Judá como resultado do decreto que Ciro emitiu no primeiro ano de seu reinado, 538/37 A.E.C. (págs. 17, 89 e 91, em inglês). Isto dá a entender que a desolação de Jerusalém no 18º ano do reinado de Nabucodonosor ocorreu 70 anos antes, em 607 A.E.C. Conforme foi amplamente documentado neste livro, isto contraria a moderna pesquisa histórica, que fixou o 18º ano de Nabucodonosor em 587/86 A.E.C. Furuli não menciona explicitamente a data 607 A.E.C. neste volume, talvez porque uma abordagem mais detalhada da cronologia neobabilônica está reservada para o segundo volume dele, ainda não publicado.

Desse modo, a maior parte dos dez capítulos deste primeiro volume contém um exame crítico dos reinados dos reis persas desde Ciro até Dario II. A principal alegação desta discussão é que o primeiro ano de Artaxerxes I deve ser recuado 10 anos, de 464 para 474 A.E.C. Furuli não menciona que esta é uma ideia antiga, que pode ser remontada ao famoso teólogo jesuíta Denis Petau, mais conhecido como Dionísio Petávio, o qual apresentou isto pela primeira vez em um trabalho publicado em 1627. A revisão de Petávio tinha base teológica, porque, se as “setenta semanas [de anos]”, ou 490 anos, de Daniel 9:24-27 devem ser contadas desde o 20º ano do reinado de Artaxerxes (Neemias 2:1 e versículos seguintes) até 36 E.C. (a data que Dionísio apresentou como fim do período), o 20º ano de Artaxerxes tem de ser recuado de 445 para 455 A.E.C. Furuli nada diz sobre este motivo subjacente para a revisão que propõe.

A agenda secreta

Furuli publicou este livro à sua própria custa. Na contracapa do livro ele se apresenta desta maneira:

Rolf Furuli é conferencista em línguas semíticas na Universidade de Oslo. Ele está trabalhando em uma tese de doutorado que propõe um novo entendimento do sistema verbal do Hebraico Clássico. Trabalhou por muitos anos com teoria de tradução, e publicou dois livros sobre tradução bíblica; tendo também experiência como tradutor. Este livro é resultante do estudo de mais de duas décadas que ele fez sobre a cronologia do Mundo Antigo.

Furuli não menciona que é Testemunha de Jeová, e que por muito tempo produziu textos apologéticos para defender a interpretação da Torre de Vigia contra a crítica. Seus dois livros sobre tradução bíblica nada mais são que defesas da Tradução do Novo Mundo, a versão bíblica das Testemunhas. Ele não menciona que por muitos anos vem tentando defender a cronologia da Torre de Vigia e que sua cronologia revisada é basicamente uma defesa da cronologia tradicional da Sociedade Torre de Vigia. (Veja as páginas 360 e 361 deste livro.) Ele descreve sua cronologia como “nova”, chamando-a de “Cronologia de Oslo”, (pág. 14) quando na verdade a data 607 A.E.C. para a destruição de Jerusalém é a base cronológica para as alegações e mensagens apocalípticas da organização Torre de Vigia, e a data 455 A.E.C. para o 20º ano de Artaxerxes I é o ponto de partida tradicional para o cálculo que a Torre de Vigia faz das “setenta semanas” de Daniel 9:24-27.

Apesar destes fatos, Furuli jamais menciona a Sociedade Torre de Vigia ou a cronologia dela em qualquer parte de seu livro. Nem menciona minha refutação detalhada desta cronologia em várias edições do livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados (TGR), publicado originalmente em inglês em 1983, apesar do fato de que em “coleções organizadas de anotações” que pôs em circulação, ele tentou refutar as conclusões apresentadas em edições anteriores de meu livro. O silêncio de Furuli quanto ao TGR é notório porque ele faz uma discussão do estudo sobre o período bíblico de 70 anos que R. E. Winkle fez em 1987, o qual apresenta na maior parte os mesmos argumentos e conclusões que se encontram na primeira edição de TGR (1983). (Veja a pág. 276 deste livro, nota de rodapé 57.) Como Testemunha de Jeová, Furuli é proibido de interagir com ex-membros de sua organização. Se é este o motivo de fingir desconhecer a existência de meu estudo, ele está agindo como Testemunha leal – não como acadêmico.

É evidente que Furuli tem uma agenda, e ele a está escondendo.

Tentativas de Revisar a Cronologia Neobabilônica

Embora o Volume I da obra de Furuli seja principalmente uma tentativa de revisar a cronologia persa, algumas partes dele contêm também argumentos em favor de um alongamento da cronologia neobabilônica:

(A) No capítulo 6, Furuli alega que existem tabuinhas comerciais datadas do 17º ano do reinado de Nabonido que se sobrepõem ao reinado de Ciro, as quais, se estiverem corretas, “sugerem que Nabonido reinou por mais tempo” (pág. 132).

(B) Uma vez que a cronologia do período neobabilônico é estabelecida por várias tabuinhas astronômicas, Furuli dedica muito espaço à tentativa de minar a credibilidade destas tabuinhas, incluindo o diário astronômico VAT 4956, que especifica o 37º ano de Nabucodonosor. No Capítulo 1 ele alega que só existem duas fontes astronômicas principais para a cronologia dos períodos neobabilônico e persa. No mesmo capítulo ele descreve nove “fontes potenciais de erro” nas tabuinhas astronômicas babilônicas.

(C) No Capítulo 2, Furuli argumenta ser provável que os textos astronômicos contenham principalmente, não observações em primeira mão, e sim cálculos posteriores efetuados durante a era selêucida (após 312 A.E.C.).

(D) Por fim, no Capítulo 4, Furuli aborda a profecia de Jeremias acerca dos 70 anos, argumentando que os escritores de Daniel 9:2 e 2 Crônicas 36:21 “inequivocamente” aplicaram os 70 anos ao período da condição desolada de Jerusalém.

Nesta revisão examinarei criticamente estas alegações, uma por uma. Como a cronologia persa não é o assunto tratado neste livro, a revisão cronológica que Furuli fez daquele período não será examinada aqui. Uma análise mais detalhada (em inglês) do livro de Furuli, que inclui comentários sobre sua cronologia persa revisada, encontra-se no seguinte site:

http://user.tninet.se/~oof408u/fkf/english/furulirev.htm.

Para algumas obras às quais se fazem freqüentes referências na discussão que segue, são usadas as seguintes abreviaturas em inglês:

ADT  Diários Astronômicos de Babilônia e Textos Relacionados, Abraham J. Sachs e Hermann Hunger (Viena: Verlag der Österreichischen Akademie der Wissenschaften. Vol. I – 1988, II – 1989, III – 1996, V – 2001).

CBT  Catálogo das Tabuinhas Babilônicas no Museu Britânico, Erle Leichty et al, Vols. 6, 7 e 8 (1986, 1987 e 1988). Estes volumes listam as tabuinhas de Sipar mantidas no Museu Britânico.

LBAT  Antigos Textos Astronômicos Babilônicos e Textos Relacionados. Compilados por T. G. Pinches e J. N. Strassmaier, editado por Abraham J. Sachs (Providence, Rhode Island: Editora da Universidade Brown, 1955).

PD  Cronologia Babilônica 626 A.C. – 75 A.D., Richard A. Parker e Waldo H. Dubberstein, (Providence, Rhode Island: Editora da Universidade Brown, 1956).

(A) A suposta “sobreposição” entre os reinados de Nabonido e Ciro

Um argumento usado repetidamente por Furuli é que a existência de documentos comerciais datados que apresentam “sobreposições” cronológicas de alguns dias, semanas ou meses entre um rei e seu sucessor prova que “há algo errado com nosso esquema cronológico. Nesse caso é provável que o sucessor não tenha sucedido o rei anterior no ano em que este morreu. Pode haver um ou mais anos intermediários ou mesmo outro rei entre os dois em questão. Testar uma cronologia desta maneira é muito importante porque há discrepâncias entre todos os reis do Novo Império Babilônico e em vários dos primeiros reis do Império Persa.” (pág. 132)

Este argumento é examinado criticamente e contestado no Apêndice deste livro onde as supostas “sobreposições” entre os reinados de todos os reis do período neobabilônico são examinadas em detalhes. (Veja as págs. 375-386 deste livro.) A única “sobreposição” não discutida é a que se sugere ter existido entre o 17º ano de Nabonido e o ano de ascensão de Ciro. A razão para isto não é só por não existir qualquer texto datado que comprove essa sobreposição entre os dois reinados, mas também porque há várias tabuinhas provando definitivamente que Ciro sucedeu Nabonido em seu 17º ano. Cinco de tais textos são abordados neste livro, nas páginas 158-163.

Apesar disso, Furuli alega que algumas tabuinhas comerciais mostram uma sobreposição entre o 17º ano de Nabonido e o ano de ascensão de Ciro. A “Tabela 18”, na pág. 132 do livro dele, mostra que a tabuinha mais antiga que existe do reinado de Ciro (CT 57:717) é datada no dia 19, mês VII (tisri) do ano de ascensão dele, ou seja, três dias depois da queda de Babilônia. Esta data é correta. Todavia Furuli dá seqüência à tabela dele apresentando três tabuinhas que parecem ser datadas no reinado de Nabonido depois da tabuinha mais antiga do reinado de Ciro, indicando uma sobreposição de cinco meses entre os dois reis:

Dia – mês – ano:Rei:
19 — VII — asc.Ciro
10 — VIII — 17Nabonido
xx — IX — 17Nabonido
19 — XII — 17Nabonido

Furuli conclui:

“Se uma ou mais das três tabuinhas datadas nos meses 8 e 12 de Nabonido estiverem corretas, isto sugere que Nabonido reinou por mais de 17 anos. (pág. 132)”

Mas nenhuma das três “sobreposições de datas” é verdadeira.

(A-1) Nabonido “10 – VIII – 17” (BM 74972)

Conforme Furuli explica, PD rejeitou esta data porque na cópia do texto de J. N. Strassmaier, publicado em 1889, “o símbolo do mês está sombreado”.[1] Eles tiveram boas razões para fazer isto porque F. H. Weissbach, que conferiu a tabuinha em 1908, explicou que o nome do mês era altamente incerto e “de qualquer modo não era arasamnu” (o mês VIII).[2]

Na verdade, há até mesmo um erro mais grave com a data. Lá em 1990 pedi a C. B. F. Walker, do Museu Britânico, que verificasse novamente a data na tabuinha original. Ele fez isto juntamente com outros dois assiriologistas. Todos concordaram que o ano é 16, não 17. Walker diz:

“Acerca do texto Nabonido nº. 1054, mencionado por Parker e Dubberstein, pág. 13 e por Kugler, em SSB II 388, eu conferi essa tabuinha (BM 74972) e fiquei convencido de que o ano é 16, não 17. Ela foi também conferida pelo Dr. G. Van Driel e pelo Sr. Bongenaar, e ambos concordam comigo.”[3]

(A-2) Nabonido “xx – IX – 17” (Nº. 1055 em Nabonido, de Strassmaier)

Este texto não fornece qualquer número referente a dia, sendo a data acima apresentada simplesmente como “Kislimu [= mês IX], ano 17 de Nabonido”. Na realidade, o texto contém quatro diferentes datas deste tipo, não ordenadas cronologicamente, da seguinte maneira: Meses IX, I, XII e VI do “ano 17 de Nabonido”. Nenhuma destas datas se refere à época em que a tabuinha foi redigida. Uma data deste tipo está realmente ausente na tabuinha. Conforme F. X. Kugler explicou, a tabuinha pertence a uma categoria de textos que contém datas de prestação ou de entrega (mashshartum).[4] Tais datas eram determinadas com pelo menos um mês, e freqüentemente com vários meses de antecedência. Esta é a razão por que PD declara (na pág. 14) que “esta tabuinha é inútil para fins de datação.” Conforme é mostrado por seus conteúdos, o Nº. 1055 é um texto administrativo que estabelece as datas para entregas de certas quantias de cevada no 17º ano de Nabonido.[5]

(A-3) “19 – XII – 17” de Nabonido (BM 55694)

Esta tabuinha foi compilada por T. G. Pinches na década de 1890 e foi finalmente publicada em 1982 como CT 57:168.[6] Ela é também alistada em CBT 6, pág. 184, onde a data é especificada como “Nb(-) 19/12/13+” (= dia 19, mês 12, ano 13+).[7] Evidentemente o nome do rei e o número do ano estão ambos danificados e apenas parcialmente legíveis. “Nb(-)” quer dizer que o nome do rei começa com “Nabu-”. Isto pode se referir a Nabopolassar, Nabucodonosor ou Nabonido. Se for Nabonido, o número do ano danificado “13+”, pode se referir a qualquer ano entre o 13º e o 17º ano dele. Talvez um exame da tabuinha original poderia dar algumas pistas.

Assim, nenhuma das três tabuinhas alistadas por Furuli pode ser usada para provar que o 17º ano de Nabonido coincidiu com o ano de ascensão de Ciro, sugerindo que “Nabonido reinou por mais de 17 anos.”

(B) Tentativas de minar a credibilidade das tabuinhas astronômicas
(B-1) Somente três fontes principais para a cronologia do mundo antigo?

Furuli está bem ciente de que a evidência mais prejudicial contra o que ele chama de “Cronologia de Oslo” é fornecida pelas tabuinhas cuneiformes astronômicas. De modo que ele se esforça em depreciar a importância da maioria destas tabuinhas, declarando que há apenas duas fontes astronômicas principais nas quais a cronologia dos períodos neobabilônico e persa podem se basear. (Páginas 15, 24 e 45) Ele alega que pelo menos uma destas contradiz a terceira fonte cronológica principal – a Bíblia:

Há três fontes principais com informação referente à cronologia dos reis neobabilônicos e persas, a saber, Strm Kambys 400VAT 4956 e a Bíblia. As informações contidas nestas três fontes não se harmonizam. (pág. 21)

Furuli sabe, é claro, que para a fixação da data absoluta da queda de Babilônia em 539 A.E.C., há necessidade de pelo menos um texto astronômico. Como o diário VAT 4956 é desastroso para sua Cronologia de Oslo, ele é obrigado a escolher o Strm Kambys 400 para este fim, alegando que esta é “a tabuinha que é a mais importante para a cronologia persa” (pág. 128) e “a única fonte à base da qual se pode estabelecer uma cronologia absoluta referente ao ano em que Ciro conquistou Babilônia.” (pág. 134)

A baixa qualidade desta tabuinha já foi enfatizada neste livro. Como já foi mencionado por F. X. Kugler em 1903, ela é provavelmente a menos confiável de todas as tabuinhas astronômicas. (Veja as páginas 98 a 102 deste livro.) Eruditos modernos até mesmo questionam se ela contém alguma observação. O Dr. John M. Steele, por exemplo, explica:

É também imprudente basear qualquer conclusão referente aos registros babilônicos apenas nesta tabuinha, uma vez que ela não se enquadra em qualquer das categorias comuns de texto. Em particular, não há certeza se este texto contém observações ou cálculos dos fenômenos que registra. Pelo menos alguns dos dados devem ter sido calculados. Por exemplo, o registro completo de seis cronometragens lunares para o 7º ano de Cambises não pode ter sido todo medido; com certeza as nuvens teriam impedido sua observação em pelo menos algumas ocasiões. Desse modo, os seis dados lunares devem ter sido todos calculados, conforme sugerido por Kugler (1907: 61-72), ou então uma mistura de observações e cálculos. Há também debate quanto a se os dois eclipses lunares foram observados ou calculados.[8]

O fato é que a cronologia das eras neobabilônica e persa é fixada por meio de quase 50 tabuinhas de observações astronômicas (diários, textos de eclipse e textos planetários). Muitos deles são bem extensos e detalhados e servem como fontes principais para a cronologia absoluta deste período. A maior parte destas tabuinhas está publicada nos volumes I e V do ADT de Sachs & Hunger.[9] Por exemplo, há cerca de 25 diários do reinado de Artaxerxes II (404-358 AEC), 11 dos quais têm o nome do rei e as datas de reinado preservadas. A maioria, senão todos, aparentam ser, não cópias posteriores, e sim compilações originais do reinado de 46 anos de Artaxerxes II.[10] Portanto, para fixar a cronologia absoluta do reinado de Artaxerxes II ou de qualquer outro rei persa, o Strm Kambys 400 é desnecessário e irrelevante. Ele nem é necessário para estabelecer os reinados de Cambises e de Ciro, os quais podem ser fixados de modo mais seguro por meio de outros textos.

(B-2) “Fontes de erros” potenciais nas tabuinhas astronômicas babilônicas

Numa tentativa de enfraquecer adicionalmente a credibilidade dos textos astronômicos, nas páginas 29-37 Furuli descreve nove “fontes potenciais de erro” que poderiam minar a confiabilidade das tabuinhas que estão em conflito com sua Cronologia de Oslo, tais como o VAT 4956. Num exame mais atento, porém, as supostas “fontes de erro” revelam-se como (a) triviais e sem importância, (b) não aplicáveis às tabuinhas usadas para fixar a cronologia neobabilônica e persa, sendo, portanto, irrelevantes, (c) meros produtos da imaginação. Todas as “fontes potenciais de erros” de Furuli enquadram-se numa destas três categorias. Alguns exemplos são apresentados abaixo.

(B-2a) Fontes de erro triviais e irrelevantes

Um exemplo do tipo (a) é a descrição que Furuli faz do “processo de transcrição dos dados.” A discussão dele sobre isto se concentra no diário astronômico VAT 4956, datado do 37º ano do reinado de Nabucodonosor. Furuli explica:

A própria tabuinha é uma cópia feita muito tempo depois de a original ter sido feita, mas até mesmo a original não foi feita na ocasião em que as observações foram efetuadas. A tabuinha abrange um ano inteiro, e uma vez que o barro dificilmente se mantém úmido por 12 meses, as observações devem ter sido escritas em muitas tabuinhas menores, que foram copiadas quando a original foi feita. (págs. 30 e 31)

No que se refere ao procedimento de cópia e compilação, a descrição de Furuli é correta e bem conhecida pelos assiriologistas. Erros de cópia existem de fato, mas eles normalmente criam poucos problemas em tabuinhas que estejam razoavelmente bem preservadas e detalhadas o suficiente para serem úteis para fins cronológicos. Conforme discutido no capítulo 4 deste livro (na pág. 191), as posições lunares e planetárias datadas que estão registradas no VAT 4956 contêm evidentemente um par de erros de escrita. Estes erros, porém, são secundários e facilmente detectáveis por meio de cálculos modernos das observações registradas.

Assim, no lado anverso (frontal), linha 3, lê-se dia “9”, o qual P.V. Neugebauer e E. F. Weidner apontaram como um erro de escrita para dia “8”.[11] Similarmente, na linha 14 do anverso lê-se dia “5”, o que é obviamente um erro de escrita para o dia “4”. Os registros legíveis remanescentes das posições lunares e planetárias observadas, que são aproximadamente 30, estão corretos, como se demonstra por meio de cálculos modernos. Em seu recente exame do VAT 4956, o professor F. R. Stephenson e o Dr. D. M. Willis concluem:

As observações analisadas aqui são suficientemente diversas e precisas para tornar a data aceita da tabuinha — isto é, 568-567 A.C. — seguramente confirmada.[12]

(B-2b) “Fontes de erro” inaplicáveis e, portanto, irrelevantes

Um exemplo de (b) é a referência de Furuli à mudança gradual na velocidade de rotação da terra. (pág. 33) Conforme se indica neste livro (na pág. 392), isto não é problema para o período em questão, pois a taxa de diminuição na rotação da terra foi estabelecida para o intervalo anterior ao período neobabilônico, até mesmo por mais de um século antes. Desse modo, de meados do 8º século A.E.C. em diante, estamos em “terra firme” com relação a esta fonte de erro.

(B-2c) “Fonte de erro” imaginária nº. 1

Um exemplo de (c) é a referência de Furuli à suposta “rusticidade das observações” registradas nas tabuinhas astronômicas. Na página 32 (em inglês) ele alega:

Um problema é a rusticidade das observações. Como as tabuinhas provavelmente foram feitas por razões astrológicas, era suficiente saber o signo do zodíaco no qual a lua ou certo planeta se encontrava em determinado momento. Isto não produz observações particularmente precisas.

Através desta declaração, Furuli cria a falsa impressão de que as posições lunares e planetárias registradas nas tabelas astronômicas babilônicas eram fornecidas apenas em relação aos signos do zodíaco, de 30 graus cada.

Ele apóia isto citando um erudito, Curtis Wilson, que fez uma alegação deste tipo numa resenha de um livro de R. R. Newton, declarando que, “A posição do planeta só é especificada dentro de um intervalo de 30o.”[13]

Todavia, qualquer pessoa que tenha mesmo um conhecimento elementar sobre as tabuinhas astronômicas babilônicas sabe que a alegação de Wilson – repetida por Furuli – é falsa. Embora seja verdade que muitas posições registradas nas tabuinhas são determinadas em relação às constelações ao longo do cinturão zodiacal, a grande maioria das posições, até mesmo nos diários mais antigos, é determinada em relação a estrelas ou planetas. A divisão do cinturão zodiacal em signos de 30 graus cada foi feita depois, durante o período persa, e é só “perto do fim do 3º século A.C.” que “os diários começam a registrar as datas no momento em que um planeta se moveu de um signo do zodíaco para outro.”[14] Durante todo o período de 800 anos, de aproximadamente 750 AEC até por volta de 75 EC, os astrônomos babilônicos usaram diversas estrelas próximas à eclíptica como pontos de referência. Conforme explica o Professor Hermann Hunger num trabalho também usado por Furuli:

Para determinar a posição da lua e dos planetas, usam-se várias estrelas próximas à eclíptica como referência. Estas foram chamadas “Normalsterne” [Estrelas Normais] por Epping, e o termo permaneceu em uso desde então. (ADT, Vol. I, pág. 17; ênfase acrescentada.)

Nas páginas 17-19 do mesmo trabalho, Hunger alista 32 de tais estrelas normais conhecidas à base das tabuinhas. Noel Swerdlow declara: “Sem dúvida o maior número de observações de planetas nos diários são aquelas feitas à base de suas distâncias ‘acima de’ ou ‘abaixo de’ e ‘em frente a’ ou ‘atrás de’ estrelas normais, bem como de distâncias de um planeta em relação a outro, medidas em côvados e dedos.”[15]

Tais observações detalhadas são mostradas pelo VAT 4956, no qual cerca de dois terços das posições lunares e planetárias registradas são determinadas em relação a estrelas normais e planetas. E, em contraste com posições relacionadas a constelações, nas quais se diz simplesmente que a lua ou um planeta encontra-se “em frente a”, “atrás de”, “acima de”, “abaixo de” ou “em” determinada constelação, os registros de posições em relação a estrelas normais dão também as distâncias destas estrelas em “côvados” (de aproximadamente 2–2.5 graus cada) e em “dedos” (1/24 do côvado), como mostra Swerdlow. Embora comprovadamente as medidas não sejam matematicamente exatas, elas são consideravelmente mais precisas do que apenas posições relativas a constelações.

Ao analisar todos os diários astronômicos representados nos primeiros dois volumes do ADT de Sachs/Hunger, o Professor Gerd Grasshoff “obteve descrições de 3285 eventos, dos quais 2781 estão completos, sem palavras ilegíveis ou gravuras fragmentadas. Entre estes, 1882 são ocorrências topográficas [i.e., posições relativas a estrelas e planetas], 604 são observações lunares chamadas Lunar Seis … e 295 são localizações de um objeto celestial numa constelação.”[16] Assim, dois terços das posições são relativas a estrelas ou planetas, enquanto que só aproximadamente 10 por cento são relativas a constelações.

(B-2d) “Fonte de erro” imaginária nº. 2

Outro exemplo de (c) é a alegação de Furuli de que a cordilheira a leste de Babilônia, com altitudes chegando a até cerca de 4.000 metros, poderia impedir ou comprometer as observações:

Ao leste de Babilônia há uma cordilheira com altitudes que chegam a até cerca de 4.000 metros acima do nível do mar, enquanto a área a oeste da cidade é um deserto plano. … é óbvio que as altas montanhas ao leste de Babilônia poderiam impedir algumas observações. (pág. 29)

Mas os Montes Zagros, ao leste de Babilônia, não criam qualquer problema sério. Os pontos mais altos da cordilheira começam a uns 230 quilômetros ao leste de Babilônia com Kuh-e Varzarin, que tem uma altitude de aproximadamente 3.150 metros acima do nível do mar. Montanhas com “cerca de 4.000 metros acima do nível do mar” estão consideravelmente mais distantes. Devido à distância e à curvatura da terra, os Montes Zagros não são visíveis de Babilônia, pelo menos não do nível do solo, como pode ser constatado por qualquer um que tenha estado lá. O Professor Hermann Hunger, por exemplo, diz:

Estive lá [no Iraque] durante três anos, dos quais dois meses foram passados em Babilônia. Não há qualquer montanha visível de Babilônia.[17]

Naturalmente, é possível que um observador postado no alto do zigurate de 90 metros de Etemenanki, em Babilônia (caso as observações pudessem ter sido feitas de lá) poderia ver uma linha muito tênue e irregular de montanhas bem longe a leste, embora isto também seja duvidoso. Isto poderia ter afetado a arcus visionis até certo ponto (a pequena distância angular do sol abaixo do horizonte no primeiro ou no último momento de visibilidade de um corpo celeste acima do horizonte), que poderia, por sua vez, mudar em um dia ou dois a data da primeira e da última visibilidade de um corpo celeste.

Deve-se enfatizar que possivelmente isto poderia ser um problema no caso dos textos astronômicos que relatam apenas fenômenos próximos ao horizonte. Isso não afetaria as observações de posições lunares e planetárias em relação a estrelas e constelações específicas que se encontrassem mais alto no céu, e estas é que são geralmente as mais úteis para fins cronológicos. A maioria das cerca de 30 posições lunares e planetárias registradas na tabuinha astronômica VAT 4956 pertencem a esta categoria.

Nenhuma das “fontes potenciais de erro” de Furuli enfraquece a credibilidade do VAT 4956. Conheço apenas um erudito que tentou neutralizar a evidência provida por este diário, a saber, E. W. Faulstich, fundador e diretor do Instituto de Pesquisa Histórico-Cronológica em Spencer, Iowa, EUA. Faulstich acredita ser possível estabelecer uma cronologia absoluta da Bíblia sem a ajuda de fontes extrabíblicas, com base unicamente nos fenômenos cíclicos da Lei Mosaica (dias sabáticos, anos sabáticos e anos de jubileu) e o ciclo das 24 divisões do sacerdócio levítico. Uma conseqüência da teoria dele é que todo o Período Neobabilônico tem de ser recuado um ano. Como isso está em conflito com a datação absoluta do período com base nas tabuinhas astronômicas, Faulstich argumenta que o VAT 4956 contém informações de dois anos diferentes reunidas em um. Todavia, esta ideia é baseada em erros graves. Eu refutei totalmente a tese de Faulstich no artigo “Uma crítica à cronologia neobabilônica de E. W. Faulstich” (1999), que disponibilizo a quem me pedir.

(C) Será que a maior parte das posições astronômicas é calculada em vez de observada?

O “problema mais agudo na elaboração de uma cronologia absoluta baseada em tabuinhas astronômicas”, segundo alega Furuli, é que muitas, “talvez a maioria das posições dos corpos celestes descritas em tais tabuinhas é calculada em vez de observada.” (pág. 15) É isto verdadeiro?

Conforme foi abordado no capítulo 4 deste livro (págs. 181-184), os astrônomos babilônicos em uma fase inicial eram capazes de predizer certos fenômenos astronômicos, tais como ocorrências de eclipses lunares e certas posições planetárias. Estes cálculos pressupõem que eles tinham desenvolvido teorias para datar e localizar tais fenômenos. Na realidade, foram encontrados cerca de 300 textos que contêm listas de posições lunares e planetárias em intervalos regulares. (Veja a pág. 183 deste livro.) Tais tabuinhas aritméticas foram chamadas de “efemérides” pelo Professor Otto Neugebauer, que publicou todas as existentes deste tipo em sua obra de três volumes, Textos Astronômicos Cuneiformes (1955). Todas estas tabuinhas são antigas, quase todas datando do 3º ao 1º séculos A.E.C. Então, será que isto significa que todos ou a maioria dos fenômenos registrados nas tabuinhas astronômicas poderiam ter sido calculados em vez de observados, como alega Furuli? Eram os astrônomos babilônicos capazes de fazer isto? Será que nos dados registrados há indicações de que eles fizeram apenas isso?

(C-1) Fenômenos que os astrônomos babilônicos não poderiam ter calculado

Embora os astrônomos babilônicos pudessem calcular e predizer certos eventos astronômicos, os textos observacionais, diários, textos planetários e textos de eclipse continham relatórios de vários fenômenos e circunstâncias associadas com as observações que não poderiam ter sido calculadas.

Que os diários normalmente registram observações reais é mostrado por seus relatórios de fenômenos climatológicos. Por exemplo, os escribas relatam repetidamente quando o mau tempo impedia as observações astronômicas. Encontramos freqüentemente relatórios sobre “nuvens e chuva de vários tipos, descritas em detalhes através de numerosos termos técnicos, bem como nevoeiro, neblina, granizo, trovão, raio, ventos de todas as direções, freqüentemente frio, e freqüente ’pisan dib’, de significado desconhecido, mas sempre associado com chuva.”[18] Outros fenômenos registrados eram arco-íris, halos solares e níveis de rio. Nenhum destes poderia ter sido calculado retroativamente muito tempo depois. O que dizer, então, dos fenômenos astronômicos?

Conforme abordado no capítulo 4 deste livro (págs. 218 e 219), havia vários fenômenos planetários registrados nos textos que os astrônomos babilônicos não poderiam calcular. Estes incluíam conjunções de planetas com a lua e com outros planetas, juntamente com suas distâncias. O VAT 4956 registra vários de tais fenômenos que os astrônomos babilônicos não poderiam predizer ou calcular. Com respeito aos eclipses lunares, os astrônomos babilônicos podiam certamente predizer e calcular retroativamente as ocorrências de eclipses lunares, mas eles não podiam predizer ou calcular diversos detalhes importantes sobre tais eclipses. (Veja a pág. 218 deste livro) Isto foi abordado em detalhes pelo Dr. John M. Steele.[19] Comentando a alegação de que os registros de eclipse nas tabuinhas de eclipses lunares poderiam ser cálculos retroativos feitos por astrônomos babilônicos da era selêucida, Steele explica:

Você está absolutamente certo ao argumentar que os babilônios não poderiam ter calculado retroativamente os registros de eclipses antigos. O ciclo de Saros poderia ter sido usado para determinar a data de eclipses, até mesmo com séculos de antecedência, mas nenhum dos métodos babilônicos permitiria que eles calculassem circunstâncias tais como a direção da sombra do eclipse, a visibilidade de planetas durante o eclipse, e certamente não a direção do vento durante o eclipse, como encontramos em relatos antigos…

Embora os babilônios pudessem calcular a época dos eclipses, eles não podiam fazê-lo com o mesmo nível de precisão permitido pelas observações – há uma evidente diferença de precisão entre os eclipses que eles disseram que foram observados e os que eles dizem que foram preditos (isto é abordado em meu livro), o que prova que os eclipses “observados” foram realmente observados.[20]

(C-2) A maior parte do conteúdo dos textos observacionais é composta por observações

Embora os textos observacionais contenham ocasionalmente eventos calculados, devido a circunstâncias particulares tais como mau tempo, a maioria dos registros baseia-se evidentemente em observações reais. Que este é o caso dos diários é indicado diretamente pelo nome acadiano gravado no fim e nas bordas destas tabuinhas: natsaru sha ginê, que significa “observação normal.” (ADT, Vol. I, pág. 11)

Os peritos que examinaram detalhadamente estas tabuinhas concordam que elas contêm na maior parte observações genuínas. O Professor Hermann Hunger faz a seguinte descrição dos vários tipos de dados astronômicos registrados nos diários:

Lunar Seis [i.e., as diferenças de intervalo entre o pôr e o nascer do sol e da lua logo antes e logo depois da conjunção e da oposição]; fases planetárias, tais como a primeira e a última visibilidade … conjunções entre os planetas e as chamadas Estrelas Normais … eclipses; solstícios e equinócios; fenômenos de Sirius. Perto do fim do 3º século A.C., os diários começam a registrar as datas em que um planeta se moveu de um signo do zodíaco para outro. O resto do conteúdo dos diários compõe-se de dados não astronômicos.

Hunger acrescenta:

Quase todos estes itens são observações. As exceções são os solstícios, equinócios e os dados de Sirius que foram calculados segundo um esquema… ademais, em muitos casos, apesar de os Lunares Seis, eclipses lunares ou solares, ou fases planetárias não poderem ser observados, uma data ou hora é fornecida, especificando-se que não houve observação. Passagens esperadas de Estrelas Normais pela lua são às vezes registradas como perdidas devido a mau tempo, mas nunca se fornece uma distância calculada entre a lua e uma Estrela Normal.[21]

Em resumo, a alegação de Furuli de que “talvez a maioria das posições dos corpos celestes em tais tabuinhas sejam calculadas em vez de observadas” não tem fundamento. Ela é refutada por declarações nas próprias tabuinhas e pelo fato de estas conterem dados que os babilônios não poderiam ter calculado. Tais circunstâncias são diametralmente opostas à sugestão de que os dados contidos no diário astronômico VAT 4956 poderiam ter sido calculados, já que possivelmente “nunca houve um ‘tabuinha original’.” (Furuli, pág. 30)

(C-3) Uma teoria do desespero

Se os registros nas tabuinhas observacionais – diários e tabuinhas lunares e planetárias – mostram na maior parte observações comprovadamente genuínas e se os astrônomos babilônicos não tinham como calcular retroativamente muitos dos dados astronômicos e de outros tipos que estão registrados, como é possível, então, alguém se esquivar da evidência fornecida por estas tabuinhas?

Como as tabuinhas contêm freqüentemente tantas observações detalhadas e datadas em anos de reinado específicos que podem ser atribuídas com segurança a determinados anos julianos, a única escapatória é questionar a autenticidade dos números referentes a anos de reinado que se encontram nas tabuinhas.

É isto que Furuli faz. Ele imagina que “um escriba do 2º século poderia elaborar uma tabuinha baseada parcialmente em alguns fenômenos que abrangessem muitos anos, parcialmente na teoria (os três esquemas) e parcialmente nas tabuinhas de uma biblioteca” que mostrasse observações genuínas. Daí, se constatasse que as datas nas tabuinhas da biblioteca conflitassem com os dados teóricos, “estes dados errôneos poderiam ser usados para “corrigir” os dados corretos de sua tabuinha da biblioteca, resultando em a tabuinha que ele estava elaborando conter dados errados de anos de reinado”. (Furuli, pág. 41)

Furuli indica que não apenas as datas nas tabuinhas lunares e planetárias, mas também as datas nos diários poderiam ter sido alteradas da mesma maneira pelos eruditos do período selêucida. Referindo-se novamente ao fato de os diários mais antigos que existem serem cópias, ele diz:

Mas o que dizer do(s) ano(s) de reinado de um rei que esteja(m) registrado(s) em tais tabuinhas? Será que eles foram ajustados para se adequar a um esquema cronológico teórico incorreto, ou foram copiados corretamente? (Furuli, pág., 42)

Furuli se apercebe, é claro, que sua Cronologia de Oslo é completamente refutada pelas tabuinhas astronômicas babilônicas. É isto que o faz propor, como último recurso, a teoria de que estas tabuinhas poderiam ter sido manipuladas pelos eruditos do período selêucida, para fazê-las concordar com a suposta cronologia teórica que eles tinham para períodos anteriores. É este cenário provável? Qual é a implicação disto?

(C-4) A extensão das supostas revisões cronológicas selêucidas

Até que ponto a Cronologia de Oslo de Furuli difere da cronologia tradicional? Numa tabela cronológica nas páginas 219-225, que abrange os 208 anos do período persa (539–331 AEC), Furuli mostra, reinado por reinado, a diferença entre a cronologia dele e a tradicional. A tabela revela que a única concordância entre as duas é a datação dos reinados de Ciro e Cambises – o intervalo da queda de Babilônia (539 AEC) até 522 AEC, um período de 17 anos. Por dar ao usurpador Bardiya um ano completo de reinado após Cambises, Furuli adianta em um ano o inteiro reinado de 36 anos de Dario I. Daí, ele recua em 10 anos os reinados dos sucessores de Dario, Xerxes e Artaxerxes I, acrescentando 10 anos ao reinado deste último, criando uma co-regência de 11 anos entre Dario I e Xerxes.

Mas Furuli também atribui um reinado de um ano ao usurpador Sogdiano entre Artaxerxes I e seu sucessor Dario II. O efeito disto é que os reinados restantes até 331 AEC são todos adiantados em um ano. O resultado final é que a Cronologia de Oslo de Furuli diverge da cronologia tradicional para o período persa em 191 de seus 208 anos, ou seja, em 92 por cento do período.

Mas isto não é tudo. Conforme se menciona na introdução, Furuli quer acrescentar outros 20 anos em algum ponto do período neobabilônico depois do reinado de Nabucodonosor – entre 562 e 539 AEC. O resultado disto – que Furuli chama de “efeito dominó” – é que não só o reinado de Nabucodonosor, mas todos os reinados de seus antecessores são recuados em 20 anos.

Como o arquivo astronômico babilônico começa com o reinado de Nabonassar, 747-734 AEC, a Cronologia de Oslo de Furuli está em desacordo com a cronologia tradicional para a maior parte, senão para todo o período babilônico de 747 a 539 AEC. Isto significa que a desarmonia entre as duas chega a mais de 90 por cento do período de 416 anos, de 747 a 331 AEC. Isto significa também que a Cronologia de Oslo é contradita por mais de 90 por cento dos textos referentes a observações astronômicas – diários, textos de eclipse e textos planetários – datados neste período. Como estas tabuinhas registram milhares de observações datadas em dias, meses e anos de reinado específicos dentro deste período, começamos a ter alguma ideia do alcance das revisões cronológicas nas quais os eruditos selêucidas devem ter estado envolvidos, segundo a teoria de Furuli. Ademais, esta é apenas uma fração do conjunto completo de revisões necessárias.

(C-5) A extensão do arquivo astronômico original

Deve-se lembrar que o arquivo existente, de cerca de 1300 tabuinhas astronômicas cuneiformes não matemáticas e principalmente observacionais é apenas uma fração da extensão do arquivo original disponível aos eruditos selêucidas. Em uma palestra dada numa conferência em 1994, o Professor Hunger explicou:

Para lhes dar uma ideia de quanto continha originalmente aquele arquivo, e quanto ainda está preservado, fiz algumas estimativas aproximadas. Com base em diários bem preservados, encontrei registradas aproximadamente 15 posições lunares e 5 planetárias por mês, ambas em relação a Estrelas Normais. Os chamados Lunar Seis estão também registrados para todos os meses. Em adição, cada ano contem 3 fases de Sirius, 2 solstícios e 2 equinócios, pelo menos 4 possibilidades de eclipse ou eclipses, e aproximadamente 25 fases planetárias. Junto, isto resulta em aproximadamente 350 observações astronômicas por ano. Em 600 anos, 210.000 observações estão acumuladas. Agora eu não sei se o arquivo já estava completo até este ponto. Às vezes cópias de diários mais antigos indicam que estavam faltando dados no original. Mas, no geral, este é o grau de magnitude. Contando o número de meses razoavelmente preservados (ou seja, não por completo, porém mais da metade), eu cheguei a cerca de 400 meses preservados nos diários datados (fragmentos não datados não atendem aos propósitos desta conferência). Se compararmos isto com a duração de 600 anos do arquivo, vemos que temos preservados cerca de 5% dos meses nos diários.[22]

Se apenas cinco por cento do arquivo astronômico babilônico original está preservado hoje, a extensão das revisões cronológicas na qual Furuli acha que os copistas selêucidas estavam envolvidos fica evidente. Para harmonizar o arquivo inteiro deles com a suposta cronologia teórica de Furuli, eles teriam de mudar as datas de milhares de tabuinhas e dezenas de milhares de observações. Será provável que eles acreditassem tão firmemente numa suposta cronologia teórica a ponto de terem o trabalho de mudar as datas de quatro séculos de arquivos que continham milhares de tabuinhas? A ideia é absurda.

Podemos também nos perguntar por que os eruditos selêucidas desenvolveriam uma cronologia teórica para séculos anteriores se uma cronologia confiável para todo o período remontando a meados do 8º século poderia ser facilmente extraída do extenso arquivo astronômico à sua disposição. Não é muito mais realístico concluir que a cronologia deles era exatamente a encontrada no arquivo de tabuinhas herdado, um arquivo que tinha sido estudado e ampliado por gerações sucessivas de eruditos até a deles mesmos, inclusive?

Deve-se notar que, para fazer qualquer alegação que seja quanto às datas em sua Cronologia de Oslo, Furuli tem de confiar na datação das tabuinhas que os eruditos selêucidas supostamente revisaram. Mas se alguém presumir que a cronologia dele é válida, então este deve ser obrigatoriamente o caso das datas registradas nas tabuinhas – o que destrói a alegação dele de que os selêucidas revisaram as tabuinhas. Assim, o argumento de Furuli é essencialmente inconsistente e não pode estar correto.

Outro problema é que fim levaram as tabuinhas pré-selêucidas originais. Uma conseqüência necessária da teoria de Furuli é que quase todas as tabuinhas existentes devem refletir apenas cronologia teórica errônea dos eruditos selêucidas, não a que Furuli considera como a original e verdadeira, a Cronologia de Oslo. Desse modo, na visão dele, todas ou quase todas as tabuinhas existentes só podem ser as cópias revisadas recentes dos eruditos selêucidas. Assim, na página 64, ele alega:

Como no caso dos diários astronômicos em tabuinhas de barro, não temos os autógrafos dos livros bíblicos, mas apenas cópias.

É certamente verdadeiro no caso dos livros bíblicos, mas é isto verdade no caso dos diários astronômicos? Será que há qualquer evidência provando que todas as tabuinhas astronômicas preservadas hoje são apenas cópias do período selêucida?

(C-6) São todas as tabuinhas existentes cópias recentes do período selêucida?

É bem verdade que alguns dos diários mais antigos, incluindo o VAT 4956, são cópias posteriores. Conforme foi abordado no capítulo 4 deste livro, elas freqüentemente refletem a luta do copista para entender os documentos antigos que estavam sendo copiados, alguns dos quais estavam fragmentados ou de algum modo danificados. Por exemplo, duas vezes no texto do VAT 4956, o copista adicionou o comentário “quebrado”, indicando que ele não pôde decifrar alguma palavra no original. Freqüentemente os documentos usavam terminologia arcaica que os copistas tentaram modernizar. O que dizer dos diários de tempos posteriores?

Como um exemplo, há aproximadamente 25 diários do reinado de 46 anos de Artaxerxes II (404-358 A.E.C.), 11 dos quais não só preservam as datas (dia, mês e ano) como também o nome do rei. (ADT, Vol. I, págs. 66-141 em inglês) Alguns deles são extensos e contêm numerosas observações (por exemplo, os de nºs –372 e –366). Nenhuma destas tabuinhas apresenta algum indício de ser cópia posterior, dentre os mencionados acima. É provável, então, que eles, ou pelo menos alguns deles, sejam originais?

Esta pergunta foi enviada ao Professor Hunger há alguns anos. Ele respondeu:

Em minha opinião, todos os diários da época de Artaxerxes II podem ser do próprio reinado dele. Como você sabe, os diários maiores são todos cópias por serem coleções de tabuinhas menores que abrangiam períodos mais curtos. Mas isso não significa que eles foram copiados muito tempo depois. No meu entender faria mais sentido a ideia de que após cada período de meio ano as notas eram copiadas em um exemplar caprichado. Eu fiz uma rápida verificação na edição e não encontrei quaisquer observações tais como “quebrado”, que indiquem que o escriba copiou de um original mais antigo. Assim eu responderia sua pergunta sobre se “é provável” com um “Sim.”[23]

Desse modo, estas tabuinhas não refletem qualquer “cronologia teórica”, supostamente inventada pelos eruditos selêucidas posteriores. As tabuinhas podem muito bem ser documentos originais. Não se pode garantir que elas sejam cópias posteriores do período selêucida. E o mesmo vale, não só para os diários do reinado de Artaxerxes II, como também para a maioria das tabuinhas observacionais anteriores ao período selêucida. Mesmo que alguns dos diários e outras tabuinhas datadas em séculos primitivos sejam cópias posteriores, geralmente não se sabe quão posteriores estas cópias são, ou se foram copiadas no período selêucida ou antes disso.

Em conclusão, a teoria de que os eruditos selêucidas desenvolveram uma cronologia hipotética errônea para épocas anteriores, à qual incorporaram as tabuinhas astronômicas que estavam copiando, não tem o apoio dos fatos disponíveis. Ela não se baseia na realidade histórica e é uma tentativa desesperada de salvar datas estimadas, porém falsas.

(D) Alegações sem fundamento sobre os 70 anos bíblicos

Conforme é abordado no capítulo 5 deste livro, o profeta Jeremias aplica diretamente os 70 anos ao período do domínio de Babilônia sobre as nações, não ao período da desolação de Jerusalém e exílio judaico:

“… essas nações estarão sujeitas ao rei da Babilônia durante setenta anos.” (Jeremias 25:11, NVI)

“Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha promessa em favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar.” (Jeremias 29:10, NVI)

Estes textos aplicam claramente o período de 70 anos a Babilônia, não a Jerusalém. Ao citar os dois versículos da NVI, apresentados acima, o próprio Furuli admite isto, declarando que “o texto não diz explicitamente que isto se refere a um exílio para a nação judaica. Se fizermos uma análise gramatical no 25:11, descobriremos que ‘estas nações’ é o sujeito gramatical, e no 29:10, ‘Babilônia’ é o paciente, quer dizer, a nação que deveria experimentar o período de 70 anos.” (pág. 75)

(D-1) É o ponto de vista de Furuli sobre os 70 anos realmente apoiado por Daniel e pelo cronista?

Tentando se esquivar desta conclusão indesejável, Furuli se volta para as passagens sobre os 70 anos de Daniel 9:2 e 2 Crônicas 36:20, 21, declarando que “os escritores de Daniel e de 2 Crônicas entenderam as palavras de Jeremias como significando um exílio de 70 anos para a nação judaica.” Após citar a versão da NVI para estes dois textos, ele alega:

Como a análise abaixo mostra, as palavras de Daniel e do cronista são inequívocas. Elas mostram de maneira definitiva que Daniel e o cronista entenderam que Jeremias profetizou acerca de um período de 70 anos para o povo judaico quando a terra estava desolada. (pág. 76)

A discussão das duas passagens no capítulo 5 deste livro (págs. 254-264) mostra que esta alegação não tem base. Ambas as passagens podem ser facilmente harmonizadas com as declarações claras de Jeremias.

Embora Daniel associe ou conecte os 70 anos ao estado desolado de Jerusalém, isto não significa que ele igualou os dois períodos. Associar e igualar são duas coisas diferentes. Isto foi notado, por exemplo, pelo Dr. C. F. Keil, que em sua análise gramatical de Daniel 9:2 concluiu que Daniel associou e ainda assim distinguiu os dois períodos, da mesma maneira que se faz na profecia de Jeremias. Só depois de se completarem os 70 anos “para Babilônia”, JHWH visitaria os exilados judaicos e os traria de volta a Jerusalém terminando seu período de desolação. Isto é o que havia sido predito em Jeremias 29:10 e a declaração de Daniel está de pleno acordo com isto, segundo Keil. (Veja a página 257 deste livro, nota 31.)[24]

Em sua abordagem de 2 Crônicas 36:20, 21 Furuli ignora o versículo 20 e cita apenas o 21:

para se cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, até que a terra tivesse saldado os seus sábados. Todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado, para cumprir setenta anos.

Deve-se notar que este versículo inicia com uma oração subordinada e, mais especificamente, com uma declaração de finalidade: para se cumprir… . Furuli cita o versículo fora do contexto. Para saber qual evento cumpriria “a palavra de Jeová pela boca de Jeremias”, é necessário examinar a oração principal que se encontra no versículo 20. Este versículo diz:

Além disso, ele [Nabucodonosor] levou cativos a Babilônia os que foram deixados pela espada, e eles vieram a ser servos dele e dos seus filhos até o começo do reinado da realeza da Pérsia;

O cronista declara que a servidão aos reis de Babilônia findou no “começo do reinado da realeza da Pérsia.” Este evento ocorreu, conforme ele prossegue dizendo no próximo versículo (o 21), “para se cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, . . . para cumprir setenta anos.”

O significado óbvio é que o fim da servidão a Babilônia devido à conquista persa em 539 AEC cumpriu a profecia de Jeremias sobre os 70 anos. O cronista não reinterpreta as declarações de Jeremias fazendo-as significar 70 anos de desolação para Jerusalém, como alega Furuli. Pelo contrário, ele adere bem de perto à descrição que Jeremias faz dos 70 anos como um período de servidão sob Babilônia, e ele finaliza este período com a queda de Babilônia, exatamente como Jeremias havia predito em Jeremias 25:12 e 27:7. (Veja o capítulo 5 deste livro, págs. 259, 260.)

(D-2) Jeremias 25:9-12: 70 anos de servidão – para quem?

Voltando à profecia de Jeremias, Furuli primeiro põe em foco Jeremias 25:11 que diz:

Toda esta terra se tornará uma ruína desolada, e essas nações estarão sujeitas ao rei da Babilônia durante setenta anos. (NVI)

Conforme já foi mencionado antes, Furuli inicia sua abordagem da profecia dos 70 anos admitindo que Jeremias aplica os 70 anos a Babilônia, não a Jerusalém. Tendo concluído (erroneamente, conforme foi mostrado acima e no capítulo 5) que Daniel 9:2 e 2 Crônicas 36:21 declaram inequivocamente que Judá e Jerusalém permaneceram desoladas por 70 anos, Furuli se dá conta de que o significado de Jeremias 25:11 tem de ser mudado para concordar com a conclusão dele.

A frase “estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos” é muito clara em hebraico:

weâbdûhaggôyîmhâêllehet-melech bâbelshivîm shânâh
e-servirãonaçõesestasrei [de] Babelsetenta ano[s]

Conforme Furuli indica (na pág. 82 de seu livro), a partícula et antes de melech bâbel (“rei de Babel”) é um marcador que indica que melech bâbel é o objeto. A ordem das palavras em hebraico é típica: verbo-sujeito-objeto. Não há qualquer problema gramatical com a frase. Ela diz de maneira simples e inequívoca que “estas nações servirão o rei de Babel setenta anos.” Furuli também admite que “esta é a tradução mais natural.” (pág. 84) Então, como pode Furuli obrigá-la a dizer qualquer coisa diferente?

Primeiro Furuli alega que “o sujeito (‘estas nações’) é vago e indeterminado”. Na verdade não é. O sujeito refere-se simplesmente a “todas estas nações ao redor” mencionadas no anterior versículo 9. Furuli prossegue dizendo que o sujeito na frase não poderia ser “estas nações” no versículo 11 mas “esta terra” (Judá) e “seus habitantes” no versículo 9. Desse modo, o versículo 11 quer dizer realmente que só os habitantes de Judá serviriam ao rei de Babilônia por 70 anos, não “estas nações”. Como se pode explicar, então, a ocorrência de “estas nações” na frase? Furuli sugere que elas poderiam fazer parte do objeto, o rei de Babel, que “seria uma especificação de” estas nações. Então a frase poderia ser traduzida assim:

e eles servirão estas nações, o rei de Babel, setenta anos (pág. 84)

Furuli sugere também que a partícula et não pode ser usada aqui como um marcador de objeto e sim como uma preposição com o significado “com.” Baseado nesta explicação, a frase poderia até mesmo ser traduzida assim:

e eles servirão estas nações junto com o rei de Babel setenta anos (pág. 84)

Estas releituras não são apoiadas por qualquer tradução da Bíblia. Não só são forçadas, como também são refutadas pelo contexto mais amplo. A predição de que as nações circunvizinhas de Judá serviriam ao rei de Babilônia é repetida em Jeremias 27:7 de uma maneira impossível de ser mal-compreendida:

E todas as nações terão de servir mesmo a ele, e a seu filho, e a seu neto, até que venha mesmo o tempo da sua própria terra.

O contexto imediato do versículo prova conclusivamente que “as nações” mencionadas incluíam todas as nações não-judaicas do Oriente Próximo. De modo que os malabarismos lingüísticos de Furuli são desnecessários, enganosos, e um caso de argumentação tendenciosa.

A releitura pouco plausível e forçada que Furuli faz do versículo parece ser uma tentativa de fazê-lo concordar com o fraseado da versão Septuaginta (LXX), a qual ele então cita em apoio. (pág. 84) Alguns dos problemas da versão LXX de Jeremias são abordados no capítulo 5 deste livro, nota de rodapé 8, na pág. 231.

(D-3) Jeremias 29:10: O significado dos 70 anos para Babilônia

Jeremias 29:10 é abordado no capítulo 5 deste livro, págs. 247-253. O versículo declara explicitamente que os 70 anos se referem a Babilônia, não a Jerusalém:

Assim diz o SENHOR: ‘Quando se completarem os setenta anos da Babilônia [lebâbel]eu cumprirei a minha promessa em favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar.’ [i.e., para Jerusalém]. (NVI)

Furuli se apercebe de que a maioria das traduções de Bíblia verte a preposição le como “para” ou “da” e que muito poucas traduções (geralmente as mais antigas) vertem-na como “em” ou “na” (Furuli, pág. 85) Dentre estas últimas ele menciona seis: TNM, Rei Jaime, Harkavy, Spurrell, Lamsa e a Bíblia da Igreja Sueca de 1917.

A edição de Alexander Harkavy de 1939 contém o texto em hebraico junto com uma tradução em inglês. Furuli parece não ter percebido a declaração de Harkavy no prefácio de que o texto em inglês é o da Versão Autorizada, ou seja, a Versão Rei Jaime. A tradução de George Lamsa tem sido fortemente criticada devido à sua grande dependência da Versão Rei Jaime. Em Jeremias capítulo 29, ele também segue quase servilmente a Rei Jaime. De modo que sua tradução “em Babilônia” não significa coisa alguma. Eu não pude conferir a tradução de Helen Spurrell. Ela foi publicada em Londres em 1885, não em 1985, como alistado erroneamente na bibliografia de Furuli, não sendo, dessa forma, uma tradução moderna.

A Bíblia da Igreja Sueca de 1917 foi “substituída” recentemente por duas novas versões: Bibel-2000 e FolKbibeln (1998). Ambas dizem “para Babilônia” em Jeremias 29:10. Respondendo a minhas perguntas, os tradutores de ambas as versões enfatizaram que lebâbel em Jeremias 29:10 significa “para Babilônia”, e não “na” ou “em” Babilônia. Notavelmente, até mesmo a nova edição sueca revisada da TNM alterou o anterior “em Babilônia” (“i Babylon”, em sueco) que aparecia na edição de 1992 para “para Babilônia” (“för Babylon”, em sueco) na edição de 2003. (Veja a nota de rodapé 26, na pág. 248).

Uma vez que a versão “para Babilônia” contradiz a teoria de que os 70 anos se referem ao período da desolação de Jerusalém, Furuli precisa defender a versão notavelmente rara “na” ou “em” Babilônia. Ele alega até mesmo que a preposição “para” dá aos 70 anos “um significado obscuro”:

Se “para” for escolhido, o resultado é obscuro, porque o número 70 perde então todo o sentido específico. Não há qualquer evento particular que marque seu início ou fim, e o foco está também errado, pois está sobre Babilônia em vez de sobre os judeus. (pág. 86)

Esta é uma afirmação inacreditável e outro exemplo da contestação tendenciosa de Furuli. É difícil crer que Furuli desconheça totalmente o fato de que tanto o início como o término da supremacia de Babilônia no Oriente Próximo foram marcados por eventos revolucionários – o início pelo esmagamento final do Império Assírio e o término pela queda da própria Babilônia em 539 AEC. Com certeza ele deve saber que, segundo a cronologia secular, passaram-se exatamente 70 anos entre estes dois eventos. Autoridades modernas na história deste período concordam que o fim definitivo da Assíria ocorreu em 610/609 AEC. Na caixa que se encontra na página 253 do capítulo 5 deste livro, por exemplo, citam-se quatro eruditos eminentes em se tratando desse assunto, a saber, o Professor John Bright e três assiriologistas proeminentes, Donald J. Wiseman, M. A. Dandamaev e Stefan Zawadski. Seria fácil ampliar o número. Outro exemplo é o Professor Klas R. Veenhof. Ele descreve como o último rei da Assíria, Assur-Ubalit II, depois da destruição da capital Nínive em 612 AEC, retirou-se para a capital provincial Harã, o último baluarte assírio, onde conseguiu perdurar por mais três anos, apoiado pelo Egito. Veenhof escreve:

O apoio do Egito à Assíria não trouxe qualquer resultado; os exércitos babilônicos e medos tomaram a cidade em 610 A.C., e no ano seguinte [609] eles repeliram a última tentativa de sua retomada. Com isto dissolveu-se um grande império.[25]

A mesma informação histórica é dada pelo Professor Jack Finegan na página 252 (§430) da nova edição revisada de seu famoso Manual de Cronologia Bíblica. Citando Jeremias 29:10 ele conclui:

Os “setenta anos… para Babilônia”, dos quais fala Jeremias são desse modo os setenta anos de domínio babilônico, e o retorno de Judá do exílio depende do fim desse período. Uma vez que a queda final do Império Assírio foi em 609 A.C. (§430), e o Novo Império Babilônico durou desse ponto até o momento em que Ciro o persa tomou Babilônia em 539, o período da dominação babilônica foi na realidade de setenta anos (609 – 539 = 70).[26]

Certamente, ninguém que esteja familiarizado com a história neobabilônica pode alegar honestamente que os 70 anos “para Babilônia” tenham um “significado obscuro” devido a nenhum evento específico marcar o começo e o fim desse período.

(D-4) Jeremias 29:10: As versões Septuaginta e Vulgata

Em seguida Furuli indica que “a Septuaginta apresenta a forma dativa babylôni” sendo, porém, “‘em Babilônia’ o significado mais natural.” A afirmação revela uma surpreendente ignorância do grego antigo. Como todo perito em grego indica, o significado natural da forma dativa babylôni é “para Babilônia”. É uma tradução exata e literal, de lebâbel no hebraico original, que significa definitivamente “para Babel” neste texto, conforme é abordado nas págs. 251 e 252 deste livro. É verdade que em Jeremias 29:22 (36:22 na LXX) a forma dativa babylôni é usada com o sentido de localização, “em Babel”, mas ela só adquire este sentido por causa da preposição grega antecedente en, “em”:

E certamente se tomará deles uma invocação do mal, por parte do grupo inteiro dos exilados de Judá, que está em Babilônia (en babylôni)

Além disso, Furuli faz referência à maneira como a Vulgata Latina verte in Babylone, que significa, como ele explica corretamente, “em Babilônia.” Esta tradução mui provavelmente influenciou a Versão Rei Jaime de 1611, a qual por sua vez influenciou várias outras traduções mais recentes. O ponto é que todas as traduções derivadas ou influenciadas pela Vulgata, tais como a Rei Jaime, não são fontes independentes.

(D-5) Jeremias 29:10: A preposição hebraica le (lamed)

A preposição le é a mais comum no Velho Testamento hebraico. Segundo uma recente contagem, ela aparece 20.725 vezes, das quais 1.352 estão no livro de Jeremias.[27] Qual é o sentido dela em Jeremias 29:10? Desde que a primeira edição deste livro foi publicada em 1983, esta pergunta foi feita a dezenas de hebraístas qualificados ao redor do mundo. Eu contatei alguns e o mesmo fizeram alguns de meus correspondentes. Embora alguns poucos hebraístas tenham explicado que em algumas expressões le tenha o sentido de localização (“em, junto a”), na maior parte dos casos isto não ocorre, e eles rejeitam unanimemente este sentido no caso de Jeremias 29:10. Alguns deles são citados no capítulo 5 deste livro, págs. 251 e 252. Furuli discorda do ponto de vista deles. Ele crê que, uma vez que se usa le com o sentido de localização em algumas frases que aparecem em uns poucos lugares, é provável que seja também usada com este sentido em Jeremias 29:10. Ele argumenta:

Será que ela pode ser realmente usada com o sentido de localização “em, à”? Pode certamente, e O Dicionário de Hebraico Clássico alista aproximadamente 30 exemplos deste sentido, um dos quais sendo Números 11:10, “cada homem à (le) entrada da sua tenda”. Assim, em cada caso que le for usado, é o contexto que deve decidir seu significado. Por exemplo, em Jeremias 51:2 a frase lebâbel significa “a Babilônia”, porque o verbo antecedente é “enviar”. Mas lirûshâlâm [as letras li no início da palavra são uma contração de le+yod] em Jeremias 3:17, na frase “todas as nações se juntarão em Jerusalém”, tem o sentido de localização “em Jerusalém”, e o mesmo é verdade no caso da frase lîhûdâ em Jeremias 40:11, na expressão, “o rei de Babilônia tinha deixado um restante em Judá.” (pág. 86)

Pois bem, mas será que estes exemplos permitem que lebâbel em Jeremias 29:10 seja traduzido como “em” ou “na” Babilônia? É esta realmente uma tradução provável? Será que ela é até mesmo possível? Esta pergunta foi enviada ao professor Ernst Jenni, de Basiléia, Suíça, que é incontestavelmente a principal autoridade em preposições hebraicas na atualidade. Até agora, ele escreveu três volumes sobre três das preposições hebraicas mais comuns, a saber, be (beth), ke (kaph) e le (lamed). No volume que trata da preposição le (lamed), ele dedica 350 páginas ao exame desta preposição.[28] Vale a pena repetir aqui a resposta que ele deu, em 1º de outubro de 2003, citada na página 252 deste livro:

Minha abordagem desta passagem encontra-se no livro sobre Lamed, página 109 [em inglês] A tradução em todos os comentários e versões modernas é “para Babel” (Babel no sentido de potência mundial, não como cidade ou terra); isto é evidente tanto à base da linguagem, como à base do contexto.

Quando o sentido é “localização” deve-se fazer distinção entre onde? (local onde se está, “em”, “junto a”) e aonde? (local para onde se vai, “para”, “em direção”). O significado básico da preposição le é “com referência a”, e quando ela é seguida por uma especificação de local, pode ser entendida como significando “onde” ou “aonde” somente em certas expressões adverbiais (tais como a de Num. 11:10 [Clines DCH IV, 481b] “à entrada”, cf. Lamed págs. 256, 260, cabeçalho 8151). Em Jer. 51:2 le é um dativo pessoal (“e vou enviar a Babilônia [como potência mundial específica] joeireiros que certamente a joeirarão e que lhe esvaziarão a terra” (Lamed pág. 84f., 94)). Em Jer. 3:17 “a Jerusalém” (terminativo local), tudo o que é necessário encontra-se em Lamed pp. 256, 270 e ZAH 1, 1988, 107-111.

Quanto às versões: A LXX traduz por “babylôni”, inquestionavelmente um dativo (“para Babilônia”). Com certeza, só a Vulgata traduz por in Babylone, “em Babilônia”, assim como a Versão Rei Jaime “at Babylon” [em Babilônia], e provavelmente também a Tradução do Novo Mundo.

Espero tê-lo ajudado com estas informações e renovo os melhores cumprimentos,

E. Jenni

[Traduzido do alemão. Ênfase acrescentada.]

Devido a esta informação específica e autoritativa, os argumentos de Furuli em favor de um significado local de le em Jeremias 29:10 podem ser com certeza descartados.

(D-6) Que dizer dos 70 anos mencionados em Zacarias 1:12 e 7:5?

Que os textos sobre os 70 anos em Zacarias 1:12 e 7:5 referem-se a um período diferente daquele que é mencionado em Jeremias, Daniel, e 2 Crônicas demonstra-se detalhadamente no capítulo 5 deste livro, págs. 264-269. Não há qualquer necessidade de repetir a argumentação aqui. A tentativa que Furuli faz de igualar os 70 anos em Zacarias com os 70 anos de Jeremias, Daniel e do cronista esquiva-se do verdadeiro problema.

Segundo Zacarias 1:12, Jerusalém e as cidades de Judá haviam sido verberadas durante “estes setenta anos.” Se esta verberação terminou quando os judeus retornaram do exílio após a queda de Babilônia, como defende Furuli, por que o texto mostra que as cidades ainda estavam sendo verberadas no segundo ano de Dario, 520/519 AEC? Furuli não tem qualquer explicação para isto e ele prefere não comentar o problema.

O mesmo é verdade no caso de Zacarias 7:4, 5. Como poderiam os 70 anos de jejuns terem terminado em 537 AEC, como alega Furuli, se o texto mostra claramente que estes jejuns ainda estavam sendo celebrados no quarto ano de Dario, 518/517 AEC? Furuli novamente ignora o problema. Ele apenas faz referência ao fato de que os verbos hebraicos para “verberar”, “jejuar” e “lamentar” estão todos no tempo perfeito do hebraico, declarando que “Não há nada nos próprios verbos que torne obrigatório que os 70 anos ainda continuassem no momento do discurso”. (pág. 88, em inglês) É verdade, mas eles também não requerem o contrário. A forma verbal usada no texto não prova nada.

Mas o contexto prova. Ele mostra claramente que as cidades ainda estavam sendo verberadas “no momento do discurso”, em 519 AEC, e que os jejuns ainda eram mantidos “no momento do discurso”, em 517 AEC, aproximadamente 70 anos depois do sítio e da destruição de Jerusalém em 589-587 AEC. Foi por isso que esta questão foi levantada em 519 AEC: Por que Jeová ainda está irado contra Jerusalém e as cidades? (Zacarias 1:7-12) E foi por isso também que esta questão foi levantada em 517 AEC: Devemos continuar a realizar estes jejuns? (Zacarias 7:1-12) A interpretação de Furuli (que faz eco à da Sociedade Torre de Vigia) dá a entender que a verberação das cidades e os jejuns se mantinham por cerca de 90 anos – não 70 – contradizendo frontalmente as declarações no livro de Zacarias.

Resumo

Nesta análise do livro de Furuli, vimos várias dificuldades intransponíveis que sua Cronologia de Oslo gera, não apenas com respeito às fontes históricas extrabíblicas como também com respeito à própria Bíblia.

A quantidade de evidência contrária à cronologia revisada de Furuli, fornecida pelos documentos cuneiformes – em particular as tabuinhas astronômicas – é enorme. As tentativas que Furuli faz para lidar com esta evidência não são de qualquer proveito. A ideia dele de que a maioria, senão todos os dados astronômicos registrados nas tabuinhas poderiam ter sido calculados retroativamente num período posterior é comprovadamente falsa. A teoria final e desesperada que Furuli apresenta, segundo a qual os astrônomos do período selêucida – e houve muitos – mudaram sistematicamente as datas de quase todo o arquivo astronômico que haviam herdado de gerações anteriores de eruditos está distante da realidade.

No que se refere às passagens bíblicas sobre os 70 anos, vimos a que extremos Furuli se vê obrigado a ir, em suas tentativas de fazê-las concordar com sua teoria. Ele não consegue provar sua repetida alegação de que as passagens referentes aos 70 anos em Daniel e 2 Crônicas dizem inequivocamente que Jerusalém esteve desolada por 70 anos. Sua interpretação lingüística de 2 Crônicas 36:21 não tem base porque ele ignora a frase principal do versículo 20, que finaliza claramente a servidão no momento da conquista persa de Babilônia em 539 AEC. Não é melhor o caso das releituras lingüísticas que Furuli faz das passagens de Jeremias. Para harmonizar Jeremias 25:11 com sua teoria, ele admite que tem de desprezar “a tradução mais natural” do versículo. E para fazer Jeremias 29:10 concordar com sua teoria, ele tem de rejeitar a versão quase universal “para Babilônia” em favor das insustentáveis “em Babilônia” ou “na Babilônia”, versões estas que são rejeitadas por todos os competentes hebraístas modernos.

Assim, a abordagem de Furuli não é bíblica, como ele alega, e sim sectária. Como conservadora Testemunha de Jeová erudita, ele está disposto a ir a qualquer extremo para obrigar as passagens bíblicas e as fontes históricas a concordar com a cronologia dos tempos dos gentios da Sociedade Torre de Vigia – uma cronologia que é o fundamento principal da alegação de autoridade divina que este movimento religioso faz. Como documentei amplamente nesta revisão, esta agenda sectária obriga Furuli a inventar incríveis explicações das fontes pertinentes, tanto bíblicas como extrabíblicas.


Notas

[1] PD (Cronologia Babilônica, Parker & Dubberstein, 1956), pág. 13 em inglês. A tabuinha está listada como Nº. 1054 em Inschriften von Nabonidus, König von Babylon, de J. N. Strassmaier, (Leipzig, 1889).

[2] Veja Sternkunde und Sterndienst in Babel [SSB], de F. X. Kugler, Vol. II:2 (1912), pág. 388.

[3] Carta de Walker a Jonsson, 13 de novembro de 1990.

[4] SSB II:2, F. X. Kugler (1912), págs. 388, 389.

[5] P. A. Beaulieu na Revista de Estudos do Oriente Próximo, Vol. 52:4 (em inglês – 1993), págs. 256, 258.

[6] CT 57:168 = Textos Cuneiformes de Tabuinhas Babilônicas no Museu Britânico, Parte 57 (1982), Nº. 168, em inglês.

[7] Catálogo das Tabuinhas Babilônicas no Museu Britânico, Erle Leichty (CBT), Vol. 6 (1986), pág. 184 (82-7-14, 51), em inglês.

[8] Observações e Predições de Períodos de Eclipse por Astrônomos Antigos, John M. Steele (em inglês – Dordrecht-Boston-Londres: Publicadores Acadêmicos Kluwer, 2000), pág. 98. C. B. F. Walker, por exemplo, faz referência à magnitude inexata registrada para um dos dois eclipses no texto, “mas”, ele acrescenta, “o texto de Cambises é agora entendido como contendo uma série de previsões em vez de observações.” – Walker em A Mesopotâmia no Período Persa, de John Curtis (em inglês – Londres: Curadores do Museu Britânico, 1997), pág. 18.

[9] ADT = Sigla em inglês para Diários Astronômicos da Babilônia e Textos Relacionados.

[10] Comunicação de H. Hunger a C. O. Jonsson, datada de 26 de janeiro de 2001.

[11] Uma tradução e discussão da tabuinha feitas por Neugebauer & Weidner foi publicada em 1915. Veja a pág. 185 deste livro, nota 8.

[12] Sob Um Céu. Astronomia e Matemática no Antigo Oriente Próximo,F. R. Stephenson & D. M. Willis em J. M. Steele & A. Imhausen [eds.] (Münster: Ugarit-Verlag, 2002), págs. 423-428 em inglês. (Ênfase acrescentada)

[13] C. Wilson na Revista da História da Astronomia 15:1 (em inglês – 1984), pág. 40.

[14] H. Hunger em Astronomia Antiga e Divinação Celestial, editado por N. M. Swerdlow (em inglês – Londres: Editora do MIT, 1999), pág. 77. Cf. “História do Zodíaco”, B. L. Van der Waerden, Archiv für Orientforschung 16 (1952/1953), págs. 216-230.

[15] A Teoria Babilônica dos Planetas, N. M. Swerdlow (em inglês – Princeton, Nova Jersey, 1998), pág. 39.

[16] “Estrelas Normais em Antigos Diários Astronômicos Babilônicos”, Gerd Grasshoff, em Astronomia Antiga e Divinação Celestial, editado por Noel M. Swerdlow (em inglês – Londres: Editora do MIT, 1999), pág. 107.

[17] Comunicação de Hunger a Jonsson, 4 de dezembro de 2003.

[18] A Teoria Babilônica dos Planetas, N. M. Swerdlow (em inglês – 1998), pág.18.

[19] Observações e Predições de Épocas de Eclipse Feitas por Antigos Astrônomos, John M. Steele (em inglês – Dortrecht-Boston-Londres: Editores Acadêmicos Kluwer, 2000); também em seu artigo, “Previsão de Eclipse na Mesopotâmia”, Arquivo para a História das Ciências Exatas, Vol. 54 (2000), págs. 421-454, em inglês.

[20] Comunicação de Steele a Jonsson em 27 de março de 2003.

[21] H. Hunger em Astronomia Antiga e Divinação Celestial, editado por Swerdlow (1999), págs. 77, 78, em inglês. (Ênfase acrescentada)

[22] H. Hunger em Astronomia Antiga e Divinação Celestial, editado porSwerdlow (1999), pág. 82, em inglês. (Ênfase acrescentada)

[23] Comunicação de Hunger a Jonsson, 26 de janeiro de 2001.

[24] A tradução da Bíblia bem livre de Eugene H. Peterson expressa bem a distinção que se faz em Jeremias 29:10 entre o fim dos dois períodos, os 70 anos para Babilônia e o período da desolação de Jerusalém: “Assim que os setenta anos de Babilônia se completarem e nem um dia antes, eu me revelarei e cuidarei de vós como prometi e vos trarei de volta para casa. (A Mensagem. Os Profetas, 2000, pág. 230, em inglês)

[25] Geschichte des Alten Orients bis zur Zeit Alexanders des Grossen, Klas R. Veenhof (Göttingen, 2001), págs. 275, 276. (Traduzido do alemão)

[26] Manual de Cronologia Bíblica, Jack Finegan (em inglês – Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1998), pág. 255.

[27] Die hebräischen Prepositionen. Band 3: Die Präposition Lamed, Ernst Jenni, (Stuttgart, etc.: Verlag Kohlhammer, 2000), pág. 17.

[28] Ernst Jenni, Ibid.

Imagem: Túmulo de Ciro em Pasárgada. Wikipedia.

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