O Que Dizer da Comunicação Com os “Espíritos dos Mortos”?

Introdução

Conforme já visto em outros artigos, os cristãos que examinaram o que a Bíblia tem a dizer sobre a condição dos mortos chegaram à conclusão de que ela não ensina coisa alguma sobre consciência e/ou atividade da “alma” (ou do “espírito”) após a morte. Com base nisso, tais cristãos não veem motivo para tentar fazer contato com “espíritos” de pessoas falecidas a quem conheceram em vida. Embora muitos tenham aprendido de seus líderes religiosos que alguma “parte” do homem permanece ativa e consciente após a morte, e creiam nisso com sinceridade, ainda assim rejeitam resolutamente a prática de tentar “falar com os mortos”. Outros, embora não costumem fazer isso, encaram tal prática como inofensiva, algo que nada tem de objetável, e talvez até possa ser praticada como “diversão”. E existem, por fim, aqueles que vão mais longe: militam ativamente em favor do conceito da “sobrevivência da alma após a morte”, envolvem-se com práticas relacionadas com este conceito e, mais ainda: promovem tais práticas.

Considerando-se que alguns dos que se empenham em fazer apologia dessas coisas estão bem cientes do que a Bíblia tem a dizer sobre elas, as questões que surgem naturalmente são: Como é que esses apologistas procedem ao lidar com tais declarações? Que tipo de argumentação eles usam quando abordam os pronunciamentos bíblicos?

A Proibição da Consulta aos Mortos e Sua Autoria

O conteúdo do quadro abaixo faz parte de um texto que foi incluído numa série de matérias classificadas (numa mensagem) como “pesquisa bíblica cabal”, e recomendado para leitura e “séria reflexão” dos colaboradores do Mentes Bereanas. Este artigo inclui uma análise das afirmações que foram feitas neste texto específico, em confronto com declarações similares que constam em obras escritas por um destacado promotor destas mesmas práticas, que viveu no século 19. Acreditamos que esta análise é uma “séria reflexão”, e por isso a disponibilizamos para o benefício de nossos leitores.

O contexto da lei mosaica sobre não se evocar os mortos e o que foi dito aos cristãos

Se conversar com os “mortos” é manter contato com demônios, por que isto nunca foi dito clara e diretamente na Bíblia? Sendo a mediunidade algo que existe desde os tempos antigos, seria de se esperar uma palavra a respeito, para não deixar o entendimento dessa questão à mercê das conclusões pessoais dos leitores da Bíblia. Mas já que nada disso foi dito é sinal de que o motivo da proibição de não se tentar falar com os mortos era outro.

A lei de Israel dizia assim:

“Quando entrares no país que Javé, teu Deus, te der, não aprenderás a cometer as abominações daquelas nações. Não se achará, entre ti, quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, quem se entregue à adivinhação, à astrologia, às feitiçarias e à magia, quem recorra a encantamentos, interrogue os espectros e os espíritos e quem invoque os mortos.” – Deuteronômio 18:9-11, Bíblia Mensagem de Deus.

Percebe-se que o texto se refere a práticas religiosas das pessoas que moravam nas terras que os israelitas estavam prestes a se apossar. O autor dessas palavras, Moisés, sabia muito bem do que estava falando, porque tinha sido um príncipe do Egito, lugar então repleto de superstições, magia e presságios. E antes de liderar a libertação dos hebreus, Moisés também deve ter visto pessoalmente o que os futuros vizinhos de Israel faziam. Os hebreus não deviam aprender tais coisas das nações circunvizinhas depois que chegassem à terra prometida, porém muitos desobedeceram posteriormente.

Logo, contextualmente falando, a restrição imposta aos israelitas de não se evocar os mortos tinha como referência um conjunto de práticas das nações estrangeiras, que incluía principalmente a magia e a feitiçaria. Apenas estas últimas foi dito aos cristãos que eles deveriam evitar. A parte de não se falar com os mortos foi deixada de fora. (Gálatas 5:20) Somente o leitor da Tradução do Novo Mundo verá no Novo Testamento algo que lembra o mandamento mosaico, pois nessa Bíblia é dito: “Mas, quanto aos…. que praticam o espiritismo, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, terão o seu quinhão no lago que queima com fogo e enxofre.” (Apocalipse 21:8) A frase “praticam o espiritismo”, porém, é um anacronismo* que não aparece no texto grego original. No lugar dela há “feiticeiros”. É isto o que diz a maioria das traduções. Os editores da versão Novo Mundo sabem disso, conforme revela uma enciclopédia que eles publicaram. – Estudo Perspicaz das Escrituras, vol. 2, p. 28.

A palavra “espiritismo” é um neologismo criado pelos kardecistas no século 19, e não existia quando o Novo Testamento foi escrito.1

Talvez o motivo dos israelitas terem sido proibidos de consultar os mortos seja porque eles já tinham os meios aprovados por Deus para serem esclarecidos: sonhos, profetas, urim e tumim. (Há os que pensam que os profetas eram, na verdade, médiuns aprovados). Certos costumes adotados pelas outras nações eram repugnantes sob vários aspectos, e os hebreus deviam evitá-los. Buscar as formas de “orientação” de tais povos era compactuar com tais práticas e desconsiderar o arranjo existente em Israel. Os israelitas não tinham necessidade disso, pois já eram guiados por Deus, através das maneiras de esclarecimento mencionadas.

(Nota: Os grifos não são nossos; eles fazem parte da mensagem original.).

Visto que a citação direta da Lei Mosaica é o trecho do Deuteronômio 18:9-11, começaremos a análise neste ponto do texto. Após a citação, declara-se o seguinte:

Percebe-se que o texto se refere a práticas religiosas das pessoas que moravam nas terras que os israelitas estavam prestes a se apossar.

“Percebe-se”? Quem teria ‘percebido’ isso? Onde? Em que parte o trecho faz referência a “práticas religiosas”? Tudo o que o leitor da Bíblia verá são termos tais como “abominações” (BMD; “coisas repugnantes”, NVI; “costumes horríveis”, BV; “sortilégios”, TEB; “maldades”, FIG; “coisas nojentas”, NTLH, etc.). Ninguém encontrará descrições que difiram destas. O apelo ao “sujeito indeterminado” e essa “suavização” eufemística que foi feita aqui introduzem toda a argumentação acompanhante.2

O autor dessas palavras, Moisés, sabia muito bem do que estava falando, porque tinha sido um príncipe do Egito, lugar então repleto de superstições, magia e presságios. E antes de liderar a libertação dos hebreus, Moisés também deve ter visto pessoalmente o que os futuros vizinhos de Israel faziam.

Que Moisés “sabia muito bem do que estava falando”, ninguém duvida. Que o Egito era um “lugar então repleto de superstições, magia e presságios” toda pessoa informada sabe.3 Mas, a questão é: Será que Moisés apresentou alguma credencial pessoal para justificar tal decreto (ou qualquer outro que fazia parte da lei que ele transmitiu ao povo)? Aqui estão as palavras dele:

Eu [Moisés] lhes ensinei decretos e leis, como me ordenou o Senhor, o meu Deus, para que sejam cumpridos na terra na qual vocês estão entrando para dela tomar posse… Ele lhes anunciou a sua aliança, os Dez Mandamentos. E escreveu-os sobre duas tábuas de pedra e ordenou que os cumprissem. Naquela ocasião, o Senhor mandou-me ensinar-lhes decretos e leis para que vocês os cumprissem na terra da qual vão tomar posse… (Deuteronômio 4:5, 13, 14)

Diante deste fato, se Moisés “sabia muito bem do que estava falando” ou não, e o que ele “deve ter visto pessoalmente” ou deixou de ver em algum lugar, nada disso vem ao caso. Não há justificativa em omitir a informação acima, procurando desviar a atenção dos leitores para as “credenciais” de algum homem. Pelo menos não é isso o que se esperaria numa “pesquisa bíblica cabal”.

Isto é análogo à argumentação apresentada num dos livros de “Allan Kardec”.4 Num capítulo intitulado “A Proibição de Evocar os Mortos”, aparecem os seguintes trechos:

“Havia uma razão para cada disposição da lei civil de Moisés, mesmo em seus mínimos detalhes.”
“Com certeza, se Moisés voltasse à Terra hoje e tivesse de elaborar um código para uma das nações civilizadas da Europa, ele não daria as mesmas leis que deu aos hebreus.”
“As leis civis dos dias atuais punem todos os abusos que Moisés tinha o objetivo de reprimir.”
Moisés proibiu a evocação dos espíritos dos mortos …”
“É verdade que Moisés inclui a consulta aos mortos na proibição dele…”
“Com certeza, se os hebreus só tivessem usado o poder de se comunicar com os espíritos para tais propósitos [a saber ‘receber conselhos sábios deles e ajudar os que estão sofrendo entre eles a conseguir alívio’], Moisés, longe de proibir evocações, teria encorajado a tais porque elas teriam tornado seu povo mais maleável.”[!]5

Em toda a sua exposição, Rivail sempre responsabiliza Moisés pelas proibições. Ele jamais admite a origem divina delas.6

O texto analisado aqui prossegue:

A lei de Israel dizia assim:

“Quando entrares no país que Javé, teu Deus, te der, não aprenderás a cometer as abominações daquelas nações. Não se achará, entre ti, quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, quem se entregue à adivinhação, à astrologia, às feitiçarias e à magia, quem recorra a encantamentos, interrogue os espectros e os espíritos e quem invoque os mortos.” – Deuteronômio 18:9-11, Bíblia Mensagem de Deus.

Faltou citar as palavras que vêm logo em seguida (segundo esta mesma versão bíblica). São elas:

PORQUE todo homem que pratica estas coisas é abominável para Javé, e é por causa dessas abominações que Javé teu Deus vai expulsar essas nações da tua presença… Porque as nações que vais expulsar escutam astrólogos e adivinhos; mas Javé teu Deus não te permite isso. (Deuteronômio 18:12, 14)

Apenas o versículo 12 em outras versões:

PORQUE todas estas coisas abomina o Senhor, e por semelhantes maldades exterminará Ele estes povos à tua entrada. (FIG)

PORQUE é detestável ao Senhor todo aquele que faz estas coisas, e é por causa destas coisas abomináveis que o Senhor teu Deus os expulsa de diante de ti. (ALF)

PORQUE abominável é a Jeová todo aquele que faz estas coisas, e por causa destas abominações Jeová teu Deus os está desapossando diante de ti. (SBB)

Portanto, não era só o que foi citado que a “lei de Israel” dizia. O conteúdo do versículo 12 faz parte da lei, estabeleceu o “porque” dela, e não deveria ter sido omitido.7

Rivail, por sua vez, não truncou a citação do Deuteronômio. Neste caso, pelo menos, ele citou o trecho completo, sem qualquer “pudor”. Mas, será que ele aceitou as implicações? De maneira alguma. Ele tratou de arranjar logo uma “explicação”:

“Ademais, os israelitas não deveriam fazer qualquer aliança com as nações ao seu redor; e, desta forma, como eles teriam encontrado esses costumes entre as nações em cujos territórios estavam prestes a entrar e contra quem estavam prestes a lutar, Moisés achou necessário, para executar seus planos, inculcar nas mentes de seu povo uma profunda aversão por todos os costumes que, se fossem adotados por eles, teriam constituído muitos pontos de contato entre eles e seus vizinhos. Para fornecer uma base plausível para essa aversão, era necessário representar esses costumes como sendo condenados pelo próprio Deus; daí a afirmação: “O Senhor abomina todas estas coisas, e Ele destruirá, à vossa chegada, as nações que cometem esses crimes.”

Como sempre, toda a responsabilidade foi lançada sobre Moisés.8 Em outro trecho do mesmo capítulo, ele disse:

A este conceito sobre a questão há pessoas que se apressam em apresentar como objeção que todas as leis de Moisés foram proclamadas em nome de Deus9; tanto as que se referem aos assuntos comuns do cotidiano, como a lei dada no Monte Sinai… Nossos opositores esquecem que, para tornarem suas leis mais autoritativas todos os legisladores antigos diziam que as tinham recebido duma divindade. Mais do que qualquer outro líder, Moisés precisava desse tipo de sanção para seu código, por causa do caráter peculiarmente obstinado dos judeus; se, apesar dessa sanção, ele achou tão difícil conseguir a obediência deles, ainda mais difícil teria achado se tivesse promulgado suas leis em seu próprio nome.

Visto que Rivail incluiu certas declarações verdadeiras neste argumento, ele parece ser “plausível”, a princípio. Que aqueles judeus do tempo de Moisés eram um povo obstinado todo leitor da Bíblia sabe, pois até o próprio Deus disse isso (Exo. 32:8; 34:9). E, de fato, não foram poucos os líderes políticos ou religiosos ao longo da história que agiram de má fé, atribuindo falsamente suas próprias ideias a alguma “divindade” com o fim de conseguir a obediência de seus subordinados à base de intimidação (aliás, há quem faça isso ainda hoje!). O detalhe é que Rivail “esqueceu” uma importante diferença entre o “legislador” Moisés e “todos os legisladores antigos”. Esta diferença está delineada neste trecho:

Quando vocês ouviram a voz que vinha do meio da escuridão, estando o monte em chamas, aproximaram-se de mim todos os chefes das tribos de vocês, com as suas autoridades. E vocês disseram: “O Senhor, o nosso Deus, mostrou-nos sua glória e sua majestade, e nós ouvimos a sua voz vinda de dentro do fogo. Hoje vimos que Deus fala com o homem e que este ainda continua vivo! Mas, agora, por que deveríamos morrer? Este grande fogo por certo nos consumirá. Se continuarmos a ouvir a voz do Senhor, o nosso Deus, morreremos… Aproxime-se você, Moisés, e ouça tudo o que o Senhor, o nosso Deus, disser; você nos relatará tudo o que o Senhor, o nosso Deus, lhe disser. Nós ouviremos e obedeceremos”. O Senhor ouviu quando vocês me falaram e me disse: “Ouvi o que este povo lhe disse, e eles têm razão em tudo o que disseram… Vá, diga-lhes que voltem às suas tendas. Você ficará aqui comigo, e lhe anunciarei toda a lei, isto é, os decretos e as ordenanças que você lhes ensinará, e que eles deverão cumprir na terra que eu dou a eles como propriedade. Por isso, tenham o cuidado de fazer tudo como o Senhor, o seu Deuslhes ordenou; não se desviem, nem para a direita, nem para a esquerda. Andem sempre pelo caminho que o Senhor, o seu Deus, lhes ordenou, para que tenham vida, tudo lhes vá bem e os seus dias se prolonguem na terra da qual tomarão posse. (Deuteronômio 5:23-25, 27, 28, 30-33)

É possível insistir, com base no trecho acima, que tudo não passou de ‘invenção de Moisés’? Que nação da antiguidade presenciou – visível e audivelmente – tais impressionantes manifestações de poder divino? Qual foi o povo que, depois de ouvir a voz do próprio Deus, pediu encarecidamente ao seu representante humano para que este mesmo interagisse com Deus, em vez de Deus continuar falando com toda a nação diretamente? Poderia Moisés ter “encenado” essas coisas diante duma nação inteira? Novamente, é cabível a pergunta: Já que Rivail se mostrou tão disposto a fazer referências à Bíblia em seus escritos, por que ele não mencionou o trecho acima? Acaso “não sabia” disso?

Embora a maneira como Rivail abordou o assunto, omitindo informações importantes, classificando Moisés na mesma categoria de “todos os legisladores antigos” e acusando-o de fraude, difira do que foi feito na matéria em análise aqui, o resultado de ambos os procedimentos é o mesmo: Tanto a omissão da autoria, como essas racionalizações de Rivail objetivam manter bem longe da mente dos leitores o fato de que não foram as opiniões dum homem que motivaram as proibições. Tais proibições eram parte integrante da Lei que foi dada a Israel, e o povo viu, ouviu e sabia muito bem de quem procediam tais diretrizes. Não foi dita uma só palavra sobre o que Moisés ‘sabia’ ou ‘não sabia’, o que ele ‘viu’ ou ‘deixou de ver’ no Egito ou em outro lugar. Tais coisas simplesmente não entraram na consideração. Omitir deliberadamente a autoria das proibições, concentrando o foco em Moisés não é menos sério do que citá-la, só para logo em seguida alegar que tudo não passou duma “manobra teológica” de Moisés, ‘para dar mais autoridade’ às leis originadas ‘na cabeça dele’.

O texto analisado continua:

Logo, contextualmente falando, a restrição imposta aos israelitas de não se evocar os mortos tinha como referência um conjunto de práticas das nações estrangeiras, que incluía principalmente a magia e a feitiçaria.”

“Logo”, não. Muito menos “contextualmente falando”. A referência das proibições não é esta. Só foi possível apresentar isso como “referência” porque – de novo – o foco foi direcionado para um eufemismo forjado (“conjunto de práticas [religiosas?] das nações estrangeiras”), e a autoria da proibição (chamada aqui de “restrição imposta aos israelitas”) foi omitida. Declarado de modo simples e sem “pudor”: o contexto não foi levado em consideração, e sim completamente desrespeitado. As palavras acompanhantes do trecho do Deuteronômio (capítulo 18, versículos 12 e 14) foram – deliberadamente – ignoradas porque elas definem precisamentequal foi a “referência” da proibição. Mais uma vez, não é esse tipo de procedimento que se esperaria numa “pesquisa bíblica cabal”.

Uma Pequena “Aula” de Eisegese Bíblica

De tudo o que foi declarado no texto transcrito no início deste artigo, o último parágrafo é notório pela grande quantidade de deturpações num trecho tão curto. As declarações serão analisadas aqui, uma por uma:

TRECHO 1:

“Talvez o motivo dos israelitas terem sido proibidos de consultar os mortos seja porque eles já tinham os meios aprovados por Deus para serem esclarecidos: sonhos, profetas, urim e tumim.”

“Talvez”? Em se tratando das práticas consideradas aqui, não há espaço para raciocínio sobre hipóteses. O que possibilitou o uso desse expediente foi – de novo – a ocultação dos fatos, por meio duma citação arbitrariamente truncada. (O detalhe irônico aqui é que nem mesmo a conjectura acima conseguiu evitar uma admissão tácita: se os “meios aprovados por Deus” para os israelitas “serem esclarecidos” eram esses mencionados, quer dizer que a consulta aos mortos não era um “meio aprovado por Deus”).

TRECHO 2:

“(Há os que pensam que os profetas eram, na verdade, médiuns aprovados.)”

É claro que os anônimos mencionados nesse parêntesis têm todo o direito de “pensar” assim, se quiserem. E não só isso: eles teriam também o direito de expressar tais “pensamentos”, por qualquer meio lícito que seja. Quanto a tais coisas, não há questão. Porém, caso algum deles afirmasse isso, qualquer cristão estaria igualmente no seu direito de questionar tal pessoa. Por exemplo, se alguém se dirigisse a um de nós com essa conversa de que os profetas hebraicos eram “médiuns aprovados”10, poderíamos, para começar, indagar dessa pessoa quem ela imagina que teria concedido essa ‘aprovação’ em Israel. A menos que o nosso raciocínio, enquanto estudantes da Bíblia, seja “míope” e estejamos entendendo os trechos em questão de maneira muito “dogmática”, é imediata a conclusão de que não poderia ter sido Moisés. Muito menos Iavé! Poderíamos perguntar também à pessoa se ela conhece a definição das palavras “médium” e “profeta”; se tem noção da diferença entre esses conceitos. E, caso tenha, se ela não consegue ver nada estranho no fato de Deus (ou “Moisés”, como diria Rivail) ter proibido médiuns em Israel, declarando as práticas deles como “detestáveis” e decretando a própria morte para quem fizesse isso, e daí Ele próprio transmitir mensagens ao povo justamente por meio de médiuns!11 Seria mesmo concebível esse modus operandi? E assim por diante.

Ou seja, se essa falsa analogia (chamada aqui de ‘pensamento de alguns’), fosse expressa audivelmente, uma barragem de questionamentos poderia ser erguida imediatamente.12

TRECHO 3:

“Certos costumes adotados pelas outras nações eram repugnantes sob vários aspectos, e os hebreus deviam evitá-los.”

“Certos costumes”? Que “aspectos”? E “repugnantes” para quem? Temos aqui mais expressões “inocentes” usadas para “amainar” a declaração bíblica. Alguma possível ‘repugnância’ de alguém não teve nada que ver com a razão da proibição. Tampouco o trecho falou em “certos costumes” de outras nações, ou foi sugerido que essa ‘repugnância’ era para “os hebreus”. Todos os itens citados(adivinhação, feitiçaria, astrologia, consulta aos mortos, etc.) foram classificados – indiscriminadamente – como “abomináveis” – para Javé. “Os hebreus deviam evitá-los”, não por eles próprios talvez se sentirem ‘enojados’ com ‘certos costumes’. Eles estavam obrigados a evitar todas as práticas alistadas, porque Javé disse (por meio de Moisés) que todas elas eram, não apenas “repugnantes sob vários aspectos”, mas abomináveis no conceito dele. O que Moisés e o povo pensavam, ou deixavam de pensar de cada uma das práticas, se alguém achava alguma delas ‘asquerosa’ ou não, jamais entrou na consideração.

TRECHO 4:

“Buscar as formas de “orientação” de tais povos era compactuar com tais práticas e desconsiderar o arranjo existente em Israel. Os israelitas não tinham necessidade disso, pois já eram guiados por Deus, através das maneiras de esclarecimento mencionadas.”

As expressões “formas de orientação”, “arranjo existente em Israel”, “não tinham necessidade” e “maneiras de esclarecimento” foram as usadas desta vez para “suavizar” a declaração bíblica; constitui outro mal disfarçado desvio da questão. Isto foi ocasionado – de novo! – pela omissão da autoria das proibições. O trecho que foi omitido será repetido aqui, em outras versões além das já citadas, com destaque para as expressões que interessam:

Porque Javé detesta todo aquele que faz tais coisas, e é por causa dessas abominações que Javé, teu Deus, expulsa de tua frente essas nações. (APA)

Todo homem que assim proceder é uma abominação para o SENHOR, e é por causa de tais abominações que o SENHOR, teu Deus, desapossa as nações diante de ti. (TEB)

Porque abominável é a Jeová todo aquele que faz estas coisas, e, por causa destas abominações Jeová, teu Deus, os está desapossando diante de ti. (TB)

Refere-se o trecho apenas aos “israelitas”? Ou será que expressões tais como “todo aquele” ou “todo homem” já se tornaram “relativas” também?13

Nada se falou sobre “necessidade” ou falta dela, ou sobre existência de “arranjo” em algum lugar. Os “tais povos” que já viviam naquelas terras havia séculos nada sabiam de “arranjo existente em Israel”; esta nação nem sequer existia! Assim mesmo, Deus considerava as práticas daqueles povos “detestáveis” e Ele especificou precisamente isso como a razão da expulsão sumária deles daquelas terras. Os israelitas tinham de acatar todas as proibições, não porque as coisas proibidas eram “desnecessárias” na situação particular deles, e sim porque Deus as considerava detestáveis, e isso antes de existir qualquer “arranjo em Israel”, e antes de a nação israelita sequer surgir no cenário. Eles estavam obrigados a se pautar pelo conceito de Deus acerca das práticas. (A propósito, temos outra admissão tácita aqui: Se entre as tais “formas de orientação” ou “maneiras de esclarecimento mencionadas” não estava incluída a “consulta aos mortos” e isso não fazia parte do “arranjo existente em Israel”, está anulada de novo qualquer estória sobre “médiuns aprovados” dentro de Israel.).

Resumidamente: O objetivo de todas as declarações do parágrafo foi ‘caiar’ ao máximo possível a prática da comunicação com os “espíritos dos mortos”. Nenhuma das declarações foi aceita pelo que o escritor bíblico disse (exegese). Em vez disso, todas elas foram ‘relidas’ para serem adaptadas ao conceito defendido pelo autor das releituras (eisegese). Toda a representação flagrantemente falsa das Escrituras contida neste parágrafo tem como ponto de origem o mesmo erro: a omissão da autoria das proibições, devido à recusa terminante em admiti-la.

“Classificando” Ordens Divinas

Consideremos mais uma vez as práticas proibidas (para efeito de clareza, além da já citada BMD, será citada outra versão bíblica em linguagem contemporânea):

Bíblia Mensagem de DeusNova Versão Internacional
‘Não se achará, entre ti:
(1) quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha,
(2) quem se entregue à adivinhação,
(3) à astrologia,
(4) às feitiçarias
(5) à magia,
(6) quem recorra a encantamentos,
(7) interrogue os espectros e os espíritos
(8) e quem invoque os mortos.
Não permitam que se ache alguém entre vocês
(1) que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha;
(2) que pratique adivinhação,
(3) ou dedique-se à magia,
(4) ou faça presságios,
(5) ou pratique feitiçaria
(6) ou faça encantamentos;
(7) que seja médium ou espírita
(8) ou que consulte os mortos.

Repitamos agora um dos trechos de outro parágrafo, que já foi questionado, desta vez dando destaque a uma palavra dele:

“… a restrição imposta aos israelitas de não se evocar os mortos tinha como referência um conjunto de práticas das nações estrangeiras, que incluía principalmente a magia e a feitiçaria.”

Isto também é similar à argumentação de Rivail. Este, porém, apresentou seu conceito de uma maneira, digamos, “um pouco mais elaborada”. Disse ele:

“É verdade que Moisés inclui a consulta aos mortos em sua proibição, porém só como secundária e como acessória da prática da feitiçaria.”

É cabível perguntar: Disse Moisés alguma coisa parecida com isso? Será que a leitura simples da lista de proibições acima – em qualquer versão bíblica que tenhamos à mão – dá alguma margem, por mínima que seja, para fazermos essas “ressalvas”? Existe maneira de se fazer distinção entre as práticas (por exemplo, ‘principal’ ou ‘secundária’)? É possível identificar alguma delas como proibida ‘com mais força’ do que as demais? É admissível a conclusão de que uma determinada prática da lista só seria “detestável para Deus” se estivesse associada a uma outra, funcionando como “acessória” desta? A resposta a todas essas questões é óbvia.

Mas, por que razão isso foi feito? Qual é o objetivo da inclusão arbitrária dessas palavras “principalmente”, “secundária” e “acessória”? A resposta também é óbvia: Embora a fraseologia usada não seja idêntica nas duas citações acima, o objetivo claro de ambas é o mesmo: procurar “enfraquecer” uma das proibições da lista: a da consulta aos mortos. A inclusão da palavra “principalmente” visa a induzir à ideia de que, se as duas práticas mencionadas eram as ‘principais’, o restante delas deveria ser ‘secundário’ ou ‘menos importante’. As duas frases que vem logo em seguida, confirmam isso:

“Apenas estas últimas [“a magia e a feitiçaria”] foi dito aos cristãos que eles deveriam evitar. A parte de não se falar com os mortos foi deixada de fora.”

O erro grave que está por trás dessa interpretação será analisado no tópico que segue.

É Diferente a Norma Cristã?

No início da argumentação analisada aqui apareceu a seguinte declaração:

“Sendo a mediunidade algo que existe desde os tempos antigos, seria de se esperar uma palavra a respeito, para não deixar o entendimento dessa questão à mercê das conclusões pessoais dos leitores da Bíblia. Mas já que nada disso foi dito é sinal de que o motivo da proibição de não se tentar falar com os mortos era outro.”

(Aqui os sublinhados foram acrescentados.)

Existe um provérbio bíblico pertinente a essa discussão:

O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça. (Prov. 16:18, NTLH)

Quem foi que disse que quando o Soberano do Universo proíbe alguma coisa é preciso que Ele especifique razões para validar a proibição? Será que temos mesmo esse direito de “esperar uma palavra a respeito”, querendo ‘explicações’ para nos ‘convencer’ e nos ‘motivar’ a acatar proibições dele? Podemos nós, mortais, ‘esperar’ isso, e, caso não encontremos uma razão ou razões que nos satisfaçam pessoalmente, já podemos ir tirando nossas “conclusões pessoais”, tomando em nossas mãos a tarefa de definir nós mesmos essas razões, arrogando-nos o direito de especular sobre “o motivo da proibição”?

Consideremos, de maneira breve, dois exemplos de proibições divinas, extraídos aleatoriamente do texto bíblico:

1 – “E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá.” (Gênesis 2:16, 17)

2 – “Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo.” (1 Coríntios 6:18)

Note-se que, em ambos os casos, a proibição foi expressa em termos bem lacônicos. Quando o Senhor Deus proibiu nossos pais de se alimentarem daquela árvore, Ele não se esmerou em dar explicação alguma sobre o que estava envolvido nisso. Hoje, com a vantagem da perspectiva atual; toda pessoa que tem a mínima noção da história humana sabe perfeitamente qual foi o resultado da desobediência deles. Mas, ao primeiro casal humano, Deus não disse – e nem estava obrigado a dizer – ‘palavra adicional’ alguma! A ordem (e o termo usado em todas as versões bíblicas é este mesmo: “ordem”) foi: ‘não comam nem toquem nesse fruto, porque no dia em que o fizerem vocês morrerão.’ Isso que Ele falou não deveria ser feito e ponto final. A partir do momento em que Ele deu essa ordem, a obrigação dos que a ouviram era obedecer; não ficar ‘esperando alguma palavra a respeito’ por parte dele, para daí decidir se acatariam a proibição ou não. Foi precisamente (e infelizmente para eles – e para nós) o fato de o homem e a mulher posteriormente se arrogarem esse direito de “especular” e decidir as coisas eles mesmos, com base em suas teorias, que os levou a ‘trocar a verdade de Deus pela mentira’ e desacatar a ordem. Em palavras diretas e francas: Foi a vaidade deles, seu desejo de ser “como Deus” que trouxe a desgraça e a morte, para eles e seus descendentes.

De maneira similar, no caso da carta de Paulo (bem como em qualquer outro lugar onde a Bíblia especifica essa mesma proibição da promiscuidade sexual), jamais vamos encontrar elaboradas explicações acerca dos resultados que o desacatamento a isso trazem para o homem e para a mulher, bem como para a felicidade pessoal deles e de seus filhos (caso tenham), o impacto que a desconsideração destas normas morais tem na sociedade humana, toda a miséria que isso traz às famílias, incluindo até mesmo a destruição literal de um sem-número de vidas. Conforme qualquer leitor pode ver, quando Paulo tratou disso em sua carta, ele se limitou ao aspecto espiritual do assunto (e nem mesmo sobre isso ele falou muito). Já no que se refere ao aspecto físico, a única coisa que ele disse foi o citado acima: “quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo.” Ponto final. Uma frase lacônica. Isso é ainda menos do que o que foi dito no caso da proibição lá no Éden! Será que os cristãos lá do primeiro século que receberam essa carta deveriam agora se achar no direito de encarar a frase ‘pecar contra o próprio corpo’ como “insuficiente”, e esperar ‘uma palavra a respeito’; alguma explicação mais “técnica”, com pormenores suficientes para satisfazer o intelecto deles, e daí, só depois de ouvirem essas explicações e se satisfazerem, decidir se acatariam isso ou não? Se todos eles sabiam muito bem que aquela instrução vinha de Deus e não do apóstolo Paulo, não seria isso uma soberba das mais grosseiras?

Outra coisa: Sendo verdade que, no que se refere à questão da consulta aos mortos, não há no relato bíblico “uma palavra a respeito’, que “nada disso foi dito” (em conexão com seres do mundo espiritual), e se por acaso isso autoriza alguém a especular “que o motivo da proibição de tentar falar com os mortos era outro”, o que é que nos garante que esse tal “outro” motivo (especificado ou sugerido) é que é o correto, e que algum “talvez por isso” ou “talvez por aquilo” apresentado por por essa pessoa é que é mais digno de crédito? Será que alguém na terra tem essa “autoridade”, pensando que pode pontificar sobre proibições divinas, de maneira que outros devam dar algum crédito às “conclusões pessoais” dele?

Pior ainda: Será que estes homens podem usar essas suas “conclusões pessoais” – admitidamente fruto de sua ‘especulação’ – para justificar sua própria desobediência à proibição, e – mais ainda – tentar induzir outros ao mesmo procedimento? O que seria mais sábio e nos melhores interesses dos cristãos crentes na Bíblia: obedecer à proibição de Deus, especificada claramente nela, ou dar atenção às elucubrações de homens (que pensam que podem ‘interpretar’ e ‘classificar’ ordens dele) e daí desconsiderar a proibição também?

O seguinte foi o que Samuel respondeu a uma pessoa que seguiu essa mesma linha de raciocínio, querendo definir por si mesmo, segundo seus próprios critérios, que parte das instruções de Deus ele obedeceria e que parte desacataria:

Por que não obedeceste à voz de Jeová, mas te lançaste ao despojo, e fizeste o mal à vista de Jeová? Respondeu Saul a Samuel: Pelo contrário obedeci à voz de Jeová, e fui no caminho pelo qual Jeová me enviou, trouxe a Agague, rei de Amaleque, e destruí totalmente aos amalequitas. Mas o povo tomou do despojo, ovelhas e bois, que são as primícias do anátema, para as sacrificar a Jeová teu Deus em Gilgal. Disse Samuel: Tem, porventura, Jeová tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, quanto tem em que se obedeça à sua voz? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrifício, e o atender do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado da adivinhação, e a obstinação é como a idolatria e os terafins. Porquanto rejeitaste a palavra de Jeová, ele te rejeitou também a ti, para que não sejas rei. (1 Samuel 15:19-23, SBB. Grifos e sublinhados acrescentados.)

Naturalmente, aqui também alguns poderiam vir com o mesmo discurso que aplicam a Moisés: que Samuel era um ‘reacionário’, que o que está dito acima não passa de “conclusões pessoais” da ‘cabeça dele’, que ele usou a expressão “palavra de Jeová” só “para dar autoridade às suas leis”, que isso tudo era “aplicável só àquela época”, que vivemos em tempos “mais esclarecidos”, e ainda que as pessoas que dão atenção a essas palavras hoje têm “mente estreita”, “visão míope”, são “dogmáticas”, “preconceituosas”, “aplicam mal as Escrituras”, etc. Note-se, porém, que Samuel não sugeriu em momento algum que certas coisas são ‘mais graves’ ou ‘menos graves’, de maneira que possamos decidir nós mesmos quais instruções obedecer e quais podemos desconsiderar. De jeito nenhum. Ele colocou tudo em pé de igualdade, e quando falou em “rebelião”, ele não a comparou ‘principalmente com magia e feitiçaria’ e sim com a “adivinhação”, que é outra das práticas proibidas da lista que foi apresentada acima. A “obstinação” foi igualada à “idolatria”, que é ainda outra entre as práticas condenadas. Isso mostra que é muito duvidoso que Samuel seguiria a linha de raciocínio de que alguma daquelas práticas (tal como a da consulta aos mortos) poderia ser classificada como ‘secundária’, ‘acessória’, talvez ‘não tão detestável para Deus’, podendo ser desconsiderada no momento em que nós quisermos.

A atenção a pronunciamentos como esse de Samuel deveria nos lembrar quão tolo é brincar com normas divinas e ter o atrevimento de se por a fazer “classificação” das palavras dele, decidindo por nossa conta o que vamos acatar ou não, com base em nossas “conclusões pessoais”. A tentativa de fazer isso equivale mesmo é a rebelião e obstinação (“rebeldia” e “arrogância”conforme dizem outras versões). Foram estes os erros de nossos primeiros pais, do Rei Saul, de outras pessoas que desacataram ordens divinas no registro bíblico, e são também os erros de alguns na atualidade. E a raiz disso é a mesma que sempre foi, desde que o homem está na terra: soberba e a vaidade humana. Mais sério ainda é quando um indivíduo, além de fazer isso presunçosamente, não mantém o assunto restrito à sua própria vida, mas persiste em promover suas ideias da maneira mais recalcitrante possível, buscando induzir outros à mesma atitude, e chegando até a criticar e chamar de nomes depreciativos a cristãos que estão resolutamente determinados a não segui-lo nesse procedimento rebelde. Isto só faz aumentar a gravidade desse erro perante Deus.

É neste contexto que se enquadra a declaração já citada acima, que vamos repetir aqui:

“Apenas estas últimas [“a magia e a feitiçaria”] foi dito aos cristãos que eles deveriam evitar. A parte de não se falar com os mortos foi deixada de fora.”

O objetivo desta afirmação é transmitir a ideia de que não haveria qualquer problema em um cristão fazer essa coisa (“falar com os mortos”), e que se alguém fizer isso hoje, mesmo estando ciente de tudo o que as Escrituras tem a dizer, essa pessoa ainda pode se considerar um cristão fiel, “que ama a Palavra de Deus” e a respeita. Pois bem, se tivermos em mente a primeiríssima coisa que foi afirmada neste trecho analisado, a seguinte pergunta é cabível:

Se a consulta aos mortos era uma das proibições ‘secundárias’ (“acessórias”), e a partir de certo momento Deus “mudou de ideia” e não a considerou mais “detestável” em grau algum, e a “purificou”, de modo que não há qualquer problema em os cristãos fazerem isso hoje, “por que isto nunca foi dito clara e diretamente na Bíblia?”

Seria essa pergunta fruto de “dogmatismo” ou “visão míope”? Ninguém pode levantá-la? Ou recorrer a esse tipo de argumentação é privilégio exclusivo daqueles que se põem a “classificar” ordens divinas?

Rivail argumentou que grande parte da Lei Mosaica não poderia ser aplicada nos “tempos mais esclarecidos” de hoje, e, sendo assim, ‘não há cabimento em citar proibições dessa lei como motivo para se abster de falar com os mortos’. Reconhecemos prontamente que existe uma longa série de disposições da Lei Mosaica que não tem caráter obrigatório para os cristãos, quer por tais disposições terem cumprido o seu objetivo (o caso, por exemplo, dos sacrifícios das vidas de animais como expiação pelo pecado humano, que se cumpriram todos no sacrifício superior do “Cordeiro de Deus” que fez isso “de uma vez para sempre”) quer por se aplicarem exclusivamente à situação particular da nação israelita (por exemplo, a provisão de “cidades de refúgio”, as normas referentes à guerra, etc.). Mas, é imperativo reconhecermos também que, quando alguma norma cuja desobediência era passível de morte na Lei Mosaica foi ‘suspensa’ para os cristãos, sempre houve alguma manifestação clara das Escrituras nesse sentido.

Tomemos, como exemplo, a lei da guarda do sábado como dia de repouso, bem como toda a série de restrições dietéticas. Como toda pessoa que estudou a Lei Mosaica sabe, a desobediência a estas normas era punível com a morte. (Veja Levítico 7:23-25 e Números 15:32-36). Embora algumas pessoas e grupos religiosos entendam isso como obrigatório ainda hoje, a leitura de trechos tais como Romanos 14:1-6 admite a conclusão de que isso foi colocado como opcional para os cristãos. Mas, este é o ponto: Independentemente da interpretação que se dê, houve uma manifestação por parte de algum escritor cristão do primeiro século e o que este escritor transmitiu teve aprovação divina. Outro detalhe importante é que jamais Deus afirmou que considerava “detestável” alguém trabalhar no sábado, por exemplo. Em momento algum Ele se manifestou em termos tão fortes. A norma da Lei tinha outros objetivos.

Por isso, há todo o cabimento em insistirmos na pergunta feita acima, por meio desta série de questões:

Podemos encontrar alguma referência bíblica, por mínima que seja, “revogando” a proibição de alguma das práticas alistadas nesta referência do Deuteronômio?

Será que alguma daquelas práticas, tais como a da consulta aos mortos, foi em algum momento declarada como ‘liberada’ para os cristãos?

Temos alguma indicação, por mínima que seja, de que Deus não considera mais tais práticas “detestáveis”?

Foi dito alguma coisa ‘clara e direta’ nas Escrituras que nos dê base para pensar assim?

E, caso a resposta a estas perguntas seja “não, em momento algum”, estamos autorizados a ‘liberá-las’ nós mesmos?

Nossos Verdadeiros Amigos Espirituais

“Estou muito admirado com vocês, pois estão abandonando tão depressa aquele que os chamou por meio da graça de Cristo e estão aceitando outro evangelho. Na verdade não existe outro evangelho, porém eu falo assim porque há algumas pessoas que estão perturbando vocês, querendo mudar o evangelho de Cristo. Mas, se alguém, mesmo que sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que temos anunciado, que seja amaldiçoado! Pois já dissemos antes e repetimos: se alguém anunciar um evangelho diferente daquele que vocês aceitaram, que essa pessoa seja amaldiçoada!” (Aos Gálatas 1:6-9, NTLH)

O que Paulo disse acima pode parecer uma declaração muito forte a princípio (talvez alguns até o chamariam de “dogmático”!), mas tais palavras são plenamente justificáveis. Conforme foi demonstrado muitas vezes neste artigo e em outros, os que pretendem ‘santificar’ a prática da “consulta aos mortos” para os cristãos (além de defender insistentemente crenças antibíblicas correlatas a isso, tais como a da “sobrevivência consciente da alma após a morte”, querendo impor isso de qualquer maneira às Escrituras) são muito desleixados no tratamento que dão às referências bíblicas pertinentes a esses assuntos. Ao citarem as Escrituras, quando não omitem informações relevantes à questão discutida, procuram “ler” dentro delas suas teorias particulares, errando completamente o alvo do que está sendo discutido. Esse tratamento que dão às Escrituras, longe de evidenciar aderência a elas, passa, ao contrário, uma forte impressão de desrespeito e descaso para com os pronunciamentos dela.

No caso do trecho do Deuteronômio aqui discutido, porém, a omissão deles não se limita a isso. Ela vai além. Consideremos o que o trecho prossegue dizendo depois que aquelas proibições foram especificadas (e que o Sr. Rivail também nunca citou):

“As nações que vocês vão expulsar dão ouvidos aos que praticam magia e adivinhação. Mas, a vocês, o Senhor, o seu Deus, não permitiu tais práticas. O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no. Pois foi isso que pediram ao Senhor, ao seu Deus, em Horebe, no dia em que se reuniram, quando disseram: “Não queremos ouvir a voz do Senhor, do nosso Deus, nem ver o seu grande fogo, se não morreremos!” O Senhor me disse: “Eles têm razão! Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas.” (Deuteronômio 18:14-19, NVI).

Esta promessa foi cumprida em numerosas ocasiões. Muitos profetas verdadeiros foram designados por Deus para guiar a nação de Israel. E aproximadamente 15 séculos depois que a Lei Mosaica foi transmitida àquele povo por Deus, surgiu um homem, do qual ‘todos os profetas deram testemunho’. Este ‘maior profeta de todos’ é o referido no trecho citado abaixo:

Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras [entre as quais jamais se incluiu o uso de indivíduos mortos] aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. (Hebreus 1:1, 2, NVI).

Esta é a única pessoa – viva – a quem as Escrituras apontam como o “Guia Espiritual” por excelência para os cristãos. Ao contrário do que teorizam certos apologistas da prática de ‘falar com os mortos’, se dar ouvidos a “espíritos” de falecidos era proibido nos tempos bíblicos com base na ideia de que os pronunciamentos divinos só eram transmitidos por meio dos profetas verdadeiros, muito mais força essa instrução bíblica tem para os cristãos hoje. É unicamente ao Filho de Deus que somos incentivados a recorrer em busca de orientação espiritual, não a “espíritos” de pessoas mortas.

Aos cristãos que se pautam pela informação contida nas Escrituras que lerem este artigo, aconselhamos a que não se deixem intimidar pela aparente “erudição” de indivíduos que se empenham na pregação de um “evangelho diferente”. Se a Bíblia é o que ela diz ser repetidas vezes, a saber, a “Palavra de Deus”, aqueles que tentam enfraquecer o poder dos pronunciamentos dela colocam-se na posição de inimigos dele. Cair vítima dos muitos artifícios que essas pessoas usam para promover suas ideias lhe resultaria na maior perda possível!

Nossos “amigos espirituais” não são humanos falecidos, que nada veem e nada sabem, e sim o Criador Vivente, e também aquele a quem Ele “constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo”, o seu Filho ressuscitado, o nosso Líder e Mestre, o ‘responsável pela nossa salvação’ e o que nos fornece a melhor – e única – orientação espiritual de que precisamos.

APÊNDICETentativas Adicionais de Deturpar as Declarações Bíblicas

1. Profetas e Médiuns

Procurando defender a todo custo o conceito de Rivail de que ‘os profetas bíblicos eram médiuns’, foi-nos encaminhada a seguinte tréplica:

Primeiramente, “médium” é antes de tudo intermediário. E essa intermediação pode ocorrer de maneira sobrenatural. Há realmente uma alta probabilidade de que, senão todos, pelo menos alguns profetas daquele tempo eram o que chamaríamos hoje de “médiuns”. A analogia só é falha em um ponto: que os espíritos que apareciam para eles não diziam que eram “mortos”, mas anjos. Mas a dinâmica era muito semelhante. Por exemplo, quando um profeta via criaturas espirituais e as pessoas ao lado não as enxergavam.

E sobre “os que pensam” isso, eu não os citei, mas são justamente os escritores da literatura espírita. Esse conceito é muito comum entre eles. Eles também acham que os anjos também eram espíritos de mortos (porém superevoluídos), mas que a Bíblia não revelou isso porque ainda não era o tempo. Ainda mais naquele contexto de proibição de se consultar os mortos.  Como praticamente nada dessas informações é corroborável biblicamente não há porque citá-las. Essa interação do mundo espiritual (Céu, Hades etc.) com o nosso mundo é um campo quase que totalmente silencioso na Bíblia. Só mesmo revelações divinas diretas para esclarecer. E [Rivail] disse que seu movimento é a terceira parte nesse processo de evolução do esclarecimento (as outras duas foram o Velho Testamento e o Novo). Isto sim pode ser questionado com base bíblica. Porém as realidades espirituais relacionadas à morte do homem, não. Os aniquilacionistas não enxergam isso porque para eles tais realidades não existem. Somos apenas androides conscientes de carne e osso com um supercomputador na cabeça. A máquina parou de funcionar, o homem torna-se extinto, a menos que Deus faça um “back up” e crie uma réplica perfeita do falecido em algum momento indeterminado no futuro.

(Grifos acrescentados).

Mais uma amostra de como a falta de reflexão, aliada à sempre presente falta de respeito pelas Escrituras pode gerar tanto falatório vão! Dentre todas as tréplicas que recebemos a este artigo, os dois parágrafos acima figuram – sem qualquer dúvida – entre os exemplos mais infames duma ‘emenda pior que o soneto’, devido à grande quantidade de declarações autocontraditórias contidas neles – e, como em muitos outros casos, “recheadas” das velhas frases de efeito (sublinhadas) que não servem para convencer nem mesmo quem escreveu essas coisas.

Depois de apresentar uma definição propositalmente incompleta (“‘médium’” é antes de tudo intermediário…”), o primeiro parágrafo fala em “alta probabilidade” e “dinâmica muito semelhante”. Será verdade? Onde é que vamos encontrar isso? Ora, se “os espíritos que apareciam para [os profetas] não diziam que eram ‘mortos’, mas anjos” – e se foi assim em todos os casos relatados na Bíblia – baseia-se em que, então, essa “alta probabilidade” de que, “senão todos, pelo menos alguns profetas daquele tempo eram o que chamaríamos hoje de ‘médiuns’”? E quem são esses que os ‘chamariam’ dessa forma? (De novo o apelo ao ‘sujeito indeterminado no plural’!). Como é que poderia haver alguma “dinâmica muito semelhante” se em nenhum caso um profeta bíblico recebeu informações de indivíduos mortos? Não seria este “ponto” no qual “a analogia é falha” justamente o ponto essencial da definição do que vem a ser um “médium”? Existe algum outro “ponto” que nos permita estabelecer alguma analogia? Qual seria? Ou devemos imaginar que os seres que se manifestaram aos profetas para lhes fornecer informações mentiram todos, apresentando-se como enviados celestiais de Deus, quando na verdade não passavam de “espíritos desencarnados” de indivíduos mortos?

Quanto à menção de ‘um profeta ver criaturas espirituais e as pessoas ao lado não as enxergarem’, temos este instrutivo episódio relatado na Bíblia:

“O servo do homem de Deus levantou-se bem cedo pela manhã e, quando saía, viu que uma tropa com cavalos e carros de guerra havia cercado a cidade. Então ele exclamou: “Ah, meu senhor! O que faremos?” O profeta respondeu: “Não tenha medo. Aqueles que estão conosco são mais numerosos do que eles”. E Eliseu orou: “Senhor, abre os olhos dele para que veja”. Então o Senhor abriu os olhos do rapaz, que olhou e viu as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu.” (2 Reis 6:15-17)

Acaso existe algum médium que fez – ou faria – isso? Algum deles orou a Deus pedindo-lhe para mostrar o que viu a outros? Quantos dentre eles reconheceriam o que Eliseu reconheceu: que quem habilita um ser humano a ter visões do mundo espiritual é nenhum outro a não ser Deus e alguém só vê a manifestação se Ele quiser? Será que o profeta Eliseu acreditava que viu aquilo por ter uma capacidade própria? Alguma vez ele – ou qualquer outro profeta hebraico – alegou ter poderes ‘sensitivos’? E quem seriam essas “criaturas espirituais” que ele viu? Disse ou sugeriu ele em algum momento que aqueles ‘cavalos e carros de fogo’ eram uma manifestação de seres “desencarnados”? Alguém poderia provar que ele acreditava nisso? E assim por diante. Considerando-se estes questionamentos e muitos outros mais que poderiam ser feitos, qual seria a conclusão mais direta: Que existe mesmo essa tal “dinâmica muito semelhante” entre a atividade dum médium e dum profeta? Ou que não existe semelhança alguma, absolutamente?

A sequência de declarações feitas no segundo parágrafo consegue ser ainda mais deplorável. É uma desinformação atrás da outra!

Primeiro, admite-se que esses que “pensam [que os profetas eram ‘médiuns aprovados’]” são “justamente os escritores da literatura espírita”, sendo essa ideia “muito comum entre eles”. Pois não! Uma informação bem honesta – se não estivesse tão “atrasada”. Só faltou mencionar que esses “escritores” – não identificados – baseiam-se todos no que disse o “codificador” da doutrina deles: Rivail. Quando eles afirmam que ‘os profetas eram médiuns’ estão simplesmente fazendo eco ao que Rivail escreveu. Esta era uma das teorias dele. [Um leitor chamou isso zombeteiramente de “efeito papagaio”].

Em seguida, admite-se voluntariamente que, segundo esses mesmos autores,

“os anjos também eram espíritos de mortos (porém superevoluídos), mas que a Bíblia não revelou isso porque ainda não era o tempo.”

Aparentemente o autor dessa réplica esqueceu que, nesse mesmo intento de defender os conceitos de Rivail, ele declarou o seguinte em outro momento:

“Eu não teria tanta certeza que a omissão [de certos trechos bíblicos por Rivail] foi proposital. Acho mais fácil ele [Rivail] nunca ter lido essas passagens. Até hoje os kardecistas não costumam ser íntimos da Bíblia (conheço pessoalmente essa realidade deles).”

É bem estranho que se possa considerar, ainda que só como hipótese, que indivíduos que ‘provavelmente nunca leram a Bíblia na inteireza’ ou ‘não são íntimos dela’ tenham qualificações para pontificar sobre o que ‘a Bíblia revelou ou não revelou’ e qual seria o ‘‘tempo apropriado’’ para haver revelações! Se, como disse nosso correspondente, esta é mesmo a “realidade” desses autores, então que autoridade eles têm para dizer tais coisas sobre o conteúdo da Bíblia? A quem devemos dar crédito: Aos escritores bíblicos que receberam em primeira mão as informações, viram pessoalmente os seres que as transmitiram, e sabiam e disseram que eles eram anjos enviados por Deus, ou a esses “escritores da literatura espírita” que, apesar de ‘não serem íntimos da Bíblia’, desmentem as informações contidas nela, alegando que eles não eram anjos e sim “espíritos de mortos superevoluídos”?

E o questionamento não termina nisso. Temos da Bíblia a informação de que a Lei foi transmitida “por meio de anjos”. Se, como afirmam esses “escritores da literatura espírita”, os anjos são na verdade “espíritos de mortos superevoluídos”, então por que razão eles teriam proibido o contato com outros “espíritos dos mortos”, dizendo que isso é “detestável para Deus” e determinando até a sentença de morte para quem fizesse isso? Será que não temos outra contradição aqui, “ainda mais naquele contexto de proibição de se consultar os mortos”?  

Em seguida o parágrafo diz:

“Como praticamente nada dessas informações [dos “escritores da literatura espírita”] é corroborável biblicamente não há porque citá-las. Essa interação do mundo espiritual (Céu, Hades etc.) com o nosso mundo é um campo quase que totalmente silencioso na Bíblia. Só mesmo revelações divinas diretas para esclarecer. E [Rivail] disse que seu movimento é a terceira parte nesse processo de evolução do esclarecimento (as outras duas foram o Velho Testamento e o Novo). Isto sim pode ser questionado com base bíblica.”

Em relação a isso que está dito acima, não vemos necessidade de muitas palavras. Como cristãos, devemos nos perguntar com toda a seriedade: Será que a Bíblia é mesmo tão “silenciosa” assim nesse campo? O conteúdo dela sobre este assunto por acaso não é esclarecedor? E quem foi que disse que Hades faz parte do “mundo espiritual”? É isso mesmo o que as Escrituras dizem? Quer dizer que um lugar onde ninguém louva a Deus (Sal. 115:17 e outros) e não há sequer uma “lembrança” dele (Sal. 6:5) pode ser classificado como “mundo espiritual”? E quem teria recebido essas “revelações divinas diretas” que esclareçam para nós a tal “interação” entre nós e os mortos no Hades? Rivail? Algum outro apologista dele? Que o Sr. Rivail fez mesmo alegações bem pretensiosas nesse sentido é fato, mas, se admitidamente o que ele disse pode ser “questionado com base bíblica”, não há necessidade de nos determos aqui.

Francamente e sem rodeios: Este trecho acima não está dizendo absolutamente nada que se aproveite. Além de estar repleto de declarações questionáveis, a argumentação ainda cai num “redemoinho” sem saída: Primeiro, as informações contidas nas Escrituras sobre o mundo espiritual são desmerecidas – como se a Palavra de Deus fosse “silenciosa” e não esclarecesse nada, e os cristãos ao longo dos séculos não soubessem coisa alguma sobre o “mundo espiritual” – até aparecer o Sr. Rivail no século 19 com o seu ‘esclarecimento evoluído’. Ao mesmo tempo, afirma-se que “praticamente nada” dessas coisas que os seguidores dele dizem é “corroborável biblicamente” e que a reivindicação do próprio Rivail neste sentido “pode ser questionada com base bíblica”! (Não admira que essa linha de argumentação faça lembrar imediatamente a expressão “confusão mental”, que apareceu diversas vezes na réplica que recebemos!).

Na sequência, o parágrafo diz:

Porém as realidades espirituais relacionadas à morte do homem, não [podem ser questionadas biblicamente].”

De fato, não podem. Entre as ‘realidades relacionadas à morte do homem’ mencionam-se estas:

Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio. (Sal. 115:17)

Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol… Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura [Seol], para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. (Ecle. 9:5, 6, 10)

alma que pecar, essa morrerá. (Eze. 18:4)

E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. (Daniel 12:2)

Etc.

Inúmeras tentativas se fizeram ao longo da história para “questionar biblicamente” as realidades acima. Seria muito difícil enumerar todas as deturpações e circunlóquios a que alguns recorreram no esforço de negá-las a todo custo. Todo esse empreendimento foi completamente inútil. As declarações sobre a condição dos mortos expressas nestes trechos continuam tão verdadeiras como sempre foram!

Por fim, para “arrematar”, o segundo parágrafo conclui atribuindo descaradamente aos “aniquilacionistas” as seguintes ideias:

“Somos apenas androides conscientes de carne e osso com um supercomputador na cabeça. A máquina parou de funcionar, o homem torna-se extinto, a menos que Deus faça um “back up” e crie uma réplica perfeita do falecido em algum momento indeterminado no futuro.”

Acreditamos que aqui também não há necessidade de delongas. Limitamo-nos apenas às seguintes perguntas: São mesmo os “aniquilacionistas” que têm esses conceitos da natureza humana e da esperança da ressurreição dos mortos que a Bíblia apresenta? Qual deles disse essas coisas – ou mesmo algo que sequer lembre isso remotamente – em algum momento? É esta uma avaliação justa das crenças deles? Será apropriado referir-se à obra e à promessa de Deus dessa maneira? Não é o uso dessa terminologia um desrespeito para com Ele?

A análise contida aqui, e principalmente estas perguntas finais são para que cada leitor que respeita a Palavra de Deus reflita conscienciosamente por si mesmo.

2. “Ideias de Moisés Permitidas Por Deus”?

Conforme já observamos, com o objetivo de reduzir a força da proibição da consulta aos mortos, Rivail afirmou que quase todas as normas da Lei não tiveram origem divina, e simplesmente ‘saíram da cabeça de Moisés’. Esforçando-se em apresentar um “exemplo comprobatório” dessa afirmação de Rivail, um correspondente escreveu impetuosamente o seguinte, depois de ter lido nossa contestação:

“Sempre muito rápido em criticar e displicente no refletir… A lei mosaica dizia que se um boi matasse uma pessoa, o boi e o dono dele tinham de ser mortos a pedradas. Mas se o proprietário tivesse como pagar uma indenização ele se livrava da morte. Será que esse exemplo não dá ao menos um indicativo que algumas coisas da lei realmente foram ideias de Moisés permitidas por Deus? Já ouviram falar de lei de talião?”“… O exemplo mencionado do boi é um caso de atenuação previsto dentro da própria lei, mesmo sem relação com o tema aqui em pauta.”

Este é mais um exemplo de como o desejo ávido de defender elucubrações de indivíduos que não demonstram o devido respeito pelas Escrituras pode ocasionar facilmente a mencionada ‘displicência’ na abordagem delas. A norma da Lei em questão aqui, encontra-se registrada no livro do Êxodo, capítulo 21.

Para começo de conversa (e para variar, diga-se de passagem), essa sugestão de que a norma referente ao animal que matasse alguém ‘foi realmente ideia de Moisés’ desrespeita o contexto da situação. Esta norma figurou entre as primeiras ditadas após os Dez Mandamentos (que se encontram registrados em Êxodo 20:1-17). Foi depois disso que o povo implorou a Moisés para que ele mesmo interagisse com Deus. Após o registro dos Dez Mandamentos, o relato prossegue:

Todo o povo testemunhava os trovões, e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; o povo, ao ver isto, estremeceu e parou ao longe. Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e ouviremos; porém não nos fale Deus, para que não morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais; porque Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. O povo parou ao longe, mas Moisés chegou-se às trevas espessas onde Deus estava. Então disse Jeová a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: Vós mesmos tendes visto que do céu eu vos falei. (Êxodo 20:18-22, TB)

Daí, após algumas declarações adicionais de Deus (Êxodo 20:23-26), o capítulo 21 inicia-se com a seguinte determinação dele:

São estas as leis que você proclamará ao povo:

E entre as leis está a norma em questão aqui, sobre o animal que porventura ferisse mortalmente um ser humano.

Há algum “indicativo” neste relato, de que “algumas coisas da lei realmente foram ideias de Moisés”? Onde? E que “coisas” seriam essas? Estamos ou não justificados em crer que toda aquela série de leis estava sendo ditada a Moisés? Há base para se classificar esse entendimento como “visão fantasiosa da Bíblia”? Que base?

Em segundo lugar, será que a lei em questão dizia mesmo isso que se apregoa no quadro em amarelo acima? Ela está registrada em Êxodo 21:28-32. As palavras são:

Se um boi chifrar um homem ou uma mulher, causando-lhe a morte, o boi terá que ser apedrejado até a morte, e a sua carne não poderá ser comida. Mas o dono do boi será absolvido. Se, todavia, o boi costumava chifrar e o dono, ainda que alertado, não o manteve preso, e o boi matar um homem ou uma mulher, o boi será apedrejado e o dono também terá que ser morto. Caso, porém, lhe pedirem um pagamento, poderá resgatar a sua vida pagando o que for exigido. Esta sentença também se aplica no caso de um boi chifrar um menino ou uma menina. Se o boi chifrar um escravo ou escrava, o dono do animal terá que pagar trezentos e sessenta gramas de prata ao dono do escravo, e o boi será apedrejado.

Assim, não era em todo caso que o dono do animal deveria ser morto. Esta punição só seria aplicada se o animal ‘causasse a morte’ de alguém por descaso do dono. Se isto ocorresse ‘após o dono ter sido alertado’, o fato de esse dono ter ou não ter como indenizar não vinha ao caso. A regra era clara: “o boi será apedrejado e o dono também terá que ser morto. Caso, porém, lhe pedirem um pagamento, poderá resgatar a sua vida pagando o que for exigido.”

Portanto, a Lei não dava margem para algum proprietário de gado imaginar que poderia ser relapso impunemente, deixando de manter seus animais restritos, e caso ocorresse uma fatalidade ele ‘se livraria’ da morte, bastando pagar uma indenização. De maneira nenhuma! Esse pagamento de indenização era algo opcional, uma prerrogativa da parte prejudicada. E mais ainda: o dono do animal teria de pagar ‘o que fosse exigido’. Tanto a imposição da indenização como o valor dela estavam inteiramente sob o arbítrio da parte prejudicada. Se, porém, a família ou os entes queridos da pessoa morta pelo animal não quisessem saber de indenização alguma, aplicava-se a norma: o dono negligente morreria incondicionalmente. Já o restante do que diz a lei não fala de fatalidade, e sim de ferimento. Se um animal apenas ferisse alguém – mesmo que esse “alguém” fosse um escravo, independentemente da gravidade do ferimento, e independentemente de ter havido negligência ou não – o dono do animal estava obrigado a indenizar (e só neste caso o valor estava estipulado na lei, e não era pouco!), e ele ainda perderia o animal de sua propriedade, impossibilitando que o fato ocorresse de novo.

Devemos nos perguntar: Será correto afirmar que havia alguma “atenuação” prevista nesta norma, principalmente no caso da perda duma vida humana? Onde? Existe aqui algum “indicativo” de que tal norma saiu “da cabeça de Moisés”? Se há, que “indicativo” seria esse?

Embora esta norma tivesse relação com uma situação particular dos israelitas (que eram um povo pastoril), tal discussão tem toda a “relação com o tema aqui em pauta” sim! Esta norma estava em plena harmonia com todas as demais expressas na Lei: Todas elas inculcavam no hebreu um profundo respeito pela vida e bem-estar de outros seres humanos. O verdadeiro “indicativo” que todas estas normas dão é o do conceito do Autor delas, não o do conceito de algum homem. O Sr. Rivail estava errado no que afirmou, e o ‘advogado’ dele que disse o acima também.

3. Mais “Classificação” de Ordens Divinas

Sob o tópico É DIFERENTE A NORMA CRISTÃ? foi questionado o direito de homens se porem a fazer especulações voluntariosas sobre o “motivo” por trás de proibições divinas e depois usarem essas especulações deles para formular teorias particulares, pavimentando assim o caminho para a desobediência às proibições. Foi declarado – e isso está sendo mantido aqui, sem alterações – que este procedimento constitui franca rebelião contra Deus, sendo fruto da mesma soberba que acometeu nossos pais lá no Éden e acometeu todos os demais que desacataram ordens dele ao longo da história humana. O trecho específico relacionado com essa discussão foi o que segue:

“Quem foi que disse que quando o Soberano do Universo proíbe alguma coisa é preciso que Ele especifique razões para validar a proibição? Será que temos mesmo esse direito de “esperar uma palavra a respeito”, querendo ‘explicações’ para nos ‘convencer’ e nos ‘motivar’ a acatar proibições dele? Podemos nós, mortais, ‘esperar’ isso, e, caso não encontremos uma razão ou razões que nos satisfaçam pessoalmente, já podemos ir tirando nossas “conclusões pessoais”, tomando em nossas mãos a tarefa de definir nós mesmos essas razões, arrogando-nos o direito de especular sobre “o motivo da proibição”?”

Em seguida foram apresentados dois exemplos de proibições claras contidas nas Escrituras (comer o fruto da árvore lá no Éden e promiscuidade sexual), nas quais a terminologia usada por Deus também foi lacônica; sem quaisquer explicações acerca dos motivos por trás dessas proibições.

Numa tentativa de neutralizar ambos os exemplos, um correspondente escreveu:

“… as referidas proibições (Éden e fornicação) se referem a coisas visíveis e que podem ser constatadas in locu. Já no caso dos espíritos dos mortos é uma realidade completamente alheia ao que estamos normalmente acostumados. Por isso inquirir a respeito dela se torna mais significativo do que sobre os dois exemplos mencionados.”“… os objetos das proibições são visíveis para cada caso! O mesmo já não acontece no caso dos mortos. Proibir de consultá-los é uma admissão tácita de que eles existem e que podem interagir com os humanos se Deus permitir, porém ninguém os vê. Este é o entendimento verdadeiramente cristão.”

(Sublinhados acrescentados.)

Isso nada mais é que insistir no erro! O endurecimento nessa vontade de fazer “classificação” de ordens divinas pode de fato cegar um indivíduo, impedindo-o de perceber a gravidade da coisas que está dizendo! As ideias efetivamente expressas no primeiro parágrafo do quadro acima são:

(1) que o homem tem sim o direito de “inquirir a respeito de” (um eufemismo para “questionar”) algo que Deus tenha proibido e

(2) que se esse “algo” que foi proibido por Deus envolver uma “realidade completamente alheia ao que estamos normalmente acostumados” isso ainda torna a “inquirição” (“questionamento”) “mais significativa”.

Devemos nos perguntar: Quando um pai humano dá uma ordem aos seus filhos, o fato de o objeto dessa ordem ser uma ‘realidade completamente alheia ao que eles estão normalmente acostumados’ dá mais razão ou menos razão para a ordem do pai ser obedecida? Será que o fato de os filhos ‘não terem experiência’, ou não saberem coisa alguma sobre o “objeto” relacionado com a ordem já dá a eles o direito de questioná-la? Poderiam os filhos deste homem se valer do fato de a ordem dele envolver uma ‘realidade completamente alheia ao que eles estão normalmente acostumados’ como desculpa para desacatar a ordem? Qual é o pai que aceitaria esse tipo de “justificativa”? Devemos imaginar que o padrão de respeito exigido por Deus é menor?

O que dizer da afirmação feita no segundo parágrafo? As palavras são:

“Proibir de [consultar os mortos] é uma admissão tácita de que eles existem e que podem interagir com os humanos se Deus permitir, porém ninguém os vê. Este é o entendimento verdadeiramente cristão.”

“Entendimento verdadeiramente cristão.” (Imagine só!).

Não é a primeira vez que essa ideia nos é apresentada. Ela já havia aparecido em outra “pesquisa bíblica cabal” que nos foi indicada, e o questionamento já havia sido apresentado naquele contexto. Ele é repetido abaixo:

“… a mesma Lei [que proibia falar com os mortos] estabelecia também que os israelitas ‘não deveriam ter outros deuses além de Iavé’ (Êxodo 20:2, 3). O culto e o serviço a outros deuses foram estritamente proibidos. Contudo, poderia alguém encontrar entre as disposições da Lei alguma proibição de acreditar na existência desses deuses? A resposta é óbvia. Deveríamos agora tirar a conclusão de que a ausência desse tipo de proibição deve ser porque tais ‘deuses’ têm existência real e são capazes de agir? Estaria a proibição do culto a eles validando essas ideias? Vez após vez este regulamento foi desrespeitado, tendo a maioria da nação virado as costas para o Deus verdadeiro, indo atrás de deuses diferentes, promovendo zelosamente os rituais deles, e até mesmo perseguindo os poucos que não fizeram essas coisas e se mantiveram fiéis a Iavé. Será que tudo isso quer dizer, então, que tais deuses existiam mesmo? Quão insano seria raciocinar dessa maneira! A existência (ou não) deles é outra questão, que simplesmente não foi discutida na Lei. Por mais que seus adoradores acreditassem fervorosamente na divindade e no poder deles – e por mais que muitos israelitas tenham sido seduzidos a crer no mesmo – tais ‘deidades’ eram – e continuaram sendo – tão irreais como sempre foram; o “poder” delas não passava duma miragem, nada mais que um produto da imaginação de seus devotos, sendo toda essa adoração inútil. Aliás, o principal motivo de tantos israelitas irem atrás desses ‘deuses’ estrangeiros foi precisamente por terem vindo a acreditar na existência deles. Em termos simples e sem rodeios: por terem acreditado numa falsidade!

O mesmo raciocínio aplica-se perfeitamente a outros conceitos, tais como o da “sobrevivência após a morte”. Não é verdade que, tanto na antiguidade como atualmente, os que procuram ‘fazer contato’ com mortos (ou promover esta prática) são justamente os que acreditam que eles continuam conscientes? Quem não crê nisso obviamente não verá motivo algum para fazer essas coisas. Porém, tanto a crença como a descrença – em si mesmas – não servem para provar absolutamente nada, seja num sentido ou no outro. Apresentar a proibição da ‘consulta aos mortos’ como uma indicação de que ‘eles estão conscientes e podem transmitir informações’ é um erro primário. Tão primário quanto afirmar que a proibição do culto a outros deuses comprova a existência e o poder deles! Em momento algum a Lei de Deus a Israel sugeriu tais coisas! Os infiéis em Israel podem até ter vindo a acreditar que é assim, mas isso não torna tais ideias verdadeiras. Ainda que o Rei Saul e os homens que o acompanhavam acreditassem piamente que foi mesmo Samuel quem se manifestou naquele caso (por crerem em “consciência da alma após a morte” e que a adivinhadora teria algum poder de “evocar espíritos de mortos”), isto não coloca automaticamente tais ideias na categoria de fatos. A verdade é simplesmente esta: as crenças daqueles desobedientes – quaisquer que tenham sido elas – não comprovam coisa alguma sobre “consciência após a morte”, nem estabelecem a identidade de quem se manifestou através da médium.

Argumentar que a proibição de consultar os mortos “é uma admissão tácita de que eles existem e que podem interagir com os humanos” nada mais é que fazer Deus “confirmar” que os mortos estão ativos e conscientes, contradizendo a própria Palavra dele! O entendimento baseado nessa atrevida tentativa de ‘colocar palavras na boca de Deus’ é qualquer coisa que se possa imaginar, exceto “verdadeiramente cristão”!

4. Não Falar com os Mortos – Uma “Decisão Pessoal”?

Repitamos um trecho que também está sob o tópico É DIFERENTE A NORMA CRISTÃ?:

“Apenas estas últimas [“a magia e a feitiçaria”] foi dito aos cristãos que eles deveriam evitar. A parte de não se falar com os mortos foi deixada de fora.”O objetivo desta afirmação é transmitir a ideia de que não haveria qualquer problema em um cristão fazer essa coisa (“falar com os mortos”), e que se alguém fizer isso hoje, mesmo estando ciente de tudo o que as Escrituras tem a dizer, essa pessoa ainda pode se considerar um cristão fiel, “que ama a Palavra de Deus” e a respeita.

Agarrando-se à sua interpretação, o leitor replicou estridentemente:

“Não é transmitir ideia, não. É afirmar mesmo! Se Deus permitir que alguém que viveu nesta Terra volte para falar com um cristão não existe absolutamente nenhum problemaContanto que a iniciativa seja do lado de lá, e não no de cá.”

Isso está de acordo com outras declarações bombásticas que apareceram ao longo da tréplica. Exemplos:

“… quem tiver em mente o conceito realmente ortodoxo sobre o assunto sabe que não está descartada a possibilidade de um “morto” voltar e falar com um vivo.”

“… se os mortos continuam existindo confinados no Seol ou vivendo no céu, é perfeitamente possível a visita de algum deles, contanto que Deus permita.”

“… É claro que os antigos cristãos não buscavam o contato com os mortos. Porém, por NÃO SEREM aniquilacionistas, eles estavam sempre abertos à possibilidade de serem interpelados por algum espírito de alguém falecido.”

“… na verdade, o cristão não precisa de uma ordem expressa para evitar uma iniciativa de tentar falar com os mortos. Todos nós evitamos isso. Porém, se alguém vier do mundo espiritual falar conosco e se identificar como sendo alguém que já viveu nessa Terra, não atribuiremos sem pensar à obra de demônios e nem sairemos correndo. Pelo menos não deveríamos… Lembrem-se o exemplo dos apóstolos na transfiguração. Logo, consultar é uma coisa. Ser visitado é outra, embora esta [“visita”] seja algo muito raro de acontecer. Por isso a maioria dos relatos atuais de contato com os mortos são falsos.”

O desestímulo à consulta aos mortos permanece apenas por decisão pessoal e não por proibição. E ao passo que aparentemente para o israelita falar com os mortos estava excluído sob qualquer hipótese, para os cristãos tal comunicação existe apenas como possibilidade.  Não como prática corriqueira e por iniciativa deles.”

Em alguns momentos, nosso artigo já havia chamado a atenção para  a “recusa terminante” em

  1. admitir a autoria divina da Lei que Moisés transmitiu ao povo;
  2. reconhecer a implicação dos termos nada incertos nos quais a proibição da consulta aos mortos foi expressa.

As declarações nos dois quadros em amarelo acima, que também foram encaminhadas a nós posteriormente, deixam patente que seu autor ainda não está disposto a aceitar estas duas realidades. A ideia que se tenta transmitir é que falar com os mortos não foi realmente proibido, e sim apenas ‘desestimulado’, como algo a ser ‘evitado’. Que um israelita não devia fazer essa coisa ‘em hipótese alguma’ não é para ser entendido como uma certeza, e sim como algo apenas ‘aparente’. Em momento algum se admite que a consulta aos mortos foi proibida por ninguém menos que o próprio Deus. De modo algum! Tanto a referência a “Deus” em conexão com a proibição, como os próprios termos “proibição” ou “proibida” foram cuidadosamente evitados. Mais ainda, chegou-se ao ponto de sugerir o contrário, a saber, que Deus poderia até mesmo colaborar para que um ser humano faça isso, por ‘dar permissão’ para que o “espírito de alguém falecido” faça uma “visitação” a um cristão vivo!

A atitude que está por trás dos dizeres contidos nos dois quadros acima merece ser, com toda a justiça, classificada como incrivelmente teimosa! Realmente, não é comum encontrar tamanha determinação por parte dum indivíduo em resistir à verdade! (Compare isso com o que o apóstolo Paulo falou sobre a atitude de certo opositor dele em 2 Tim. 4:14, 15).

Conforme veremos logo a seguir, a ideia central que está por trás dessa conversa sobre “iniciativa” pode ser – fácil e inapelavelmente – questionada por meio duma analogia simples, em poucas palavras. Antes disso, porém, há um detalhe (irônico, diga-se de passagem) que vale mencionar: Ainda que as declarações acima fossem totalmente válidas, elas estariam contribuindo para desautorizar a prática da consulta aos mortos. Como assim? Ora, não é verdade que toda e qualquer ação desse tipo envolve obrigatoriamente uma iniciativa de quem decida praticar isso? Será que em algum momento as Escrituras colocam a possibilidade de alguém falar com os mortos sem ter decidido fazer isso primeiro? A resposta é óbvia! Tanto a pessoa pode decidir isso sozinha, como pode ser levada a fazer isso por influência de outros, conforme mostra a seguinte referência:

“Quando alguém lhe disser para consultar médiuns e espíritas, que sussurram e murmuram, não deveria um povo consultar seu Deus? Por que consultar os mortos em favor dos vivos?” (Isaías 8:19, NIV)   

Quando as Escrituras tratam desse assunto da “consulta aos mortos”, jamais elas se expressam em termos de “visitação” de “espíritos de mortos” sem um “convite prévio”; tal possibilidade jamais foi aventada! O Rei Saul foi visitar uma médium na casa dela porque ele decidiu; ninguém o obrigou. Ele fez isso porque quis; nenhum “espírito de falecido” lhe disse alguma coisa sem ele ter perguntado. Isto foi assim no caso dele, no caso de todos na antiguidade que consultaram os mortos e é assim no caso de qualquer um que faça essa mesma coisa hoje.

Suponhamos, porém, que haja uma possibilidade de um cristão receber uma “visitação”, ou, para usar os termos acima, ser “interpelado por algum espírito de alguém falecido”, que venha “do lado de lá” para falar com ele. Será que isso daria a esse cristão autorização para desconsiderar a proibição divina? A seguinte analogia simples permite-nos ter uma noção clara do que realmente foi dito nos quadros em amarelo acima:

Um pai se dirige aos seus filhos, transmitindo-lhes a seguinte instrução:

“NÃO FALEM COM ESTRANHOS.

”Todavia, após ouvir isso, um dos filhos diz o seguinte aos demais:
“Sim, nosso pai nos proibiu de conversar com estranhos. Mas esta proibição só vale se a INICIATIVA de falar for nossa. O que ele quis dizer foi que nós não devemos dirigir a palavra a alguém estranho. Mas, se algum estranho “puxar conversa” conosco, tudo bem, podemos conversar normalmente com ele. Se a INICIATIVA for do indivíduo, e não nossa, então “não existe absolutamente nenhum problema” em manter o diálogo. A ordem de nosso pai não vale mais, e podemos tranquilamente deixar para lá o que ele falou. Aliás, é até provável que seja o nosso pai mesmo quem terá dado “permissão” àquela pessoa estranha para vir falar conosco!”

Francamente e sem qualquer “pudor”: Se alguém – não importa quem seja – acha mesmo que essa coisa de “iniciativa” é “argumento” que se apresente com toda a naturalidade a pessoas ADULTAS, manifestando imaginar que “não existe absolutamente nenhum problema” em aplicar essa “racionalização” a um caso que envolva Deus e uma proibição explícita dele, atrevendo-se a ANULAR a ordem divina sem a menor cerimônia, convertendo-a em nada mais que uma “decisão pessoal” dos cristãos, então só há duas conclusões possíveis que podemos tirar: ou esse indivíduo perdeu o juízo ou o caso é bem mais grave: ele perdeu completamente – e há muito tempo – o respeito por Deus.

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Créditos das Imagens:

“Sessão espírita” (Século 19).

Bruto e o Fantasma de César”. Gravura em cobre de Edward Scriven à base de uma pintura de Richard Westall, Londres, Inglaterra, 1802.

Os Dez Mandamentos, Providence Lithograph Company, EUA, 1907.

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Notas

1 O uso de neologismos para se referir a práticas que existem desde tempos imemoriais nada tem de objetável. Na presente discussão, se o termo em questão não pudesse ser aplicado a qualquer prática dos tempos antigos, teríamos um erro de cronologia, que é o significado da palavra “anacronismo”.

Que a palavra “espiritismo” (ou alguma expressão equivalente, como “prática espírita”) é um neologismo que não existia nos tempos bíblicos todos sabem. Aliás, este é o caso de outras palavras, como “homossexual”, “ocultismo”, “médium”, etc.  Elas também não existiam nos idiomas antigos, mas são usadas livremente em muitas versões bíblicas modernas, e isso nada tem de “anacronismo”.

Por exemplo, quem é que negaria que “homens que fazem sexo com homens” (NIV) é equivalente a “homossexuais” (NTLH e outras versões)? Todos sabem que o termo “homossexuais” também é um neologismo; ninguém na antiguidade fazia a menor ideia do significado disso. Mas, será que isso justifica classificar os tradutores bíblicos que o usaram em suas versões como “anacrônicos”? Era a prática homossexual na antiguidade diferente da de hoje? Da mesma forma, certa mulher referida no livro de 1 Samuel 28 é chamada de “médium” em grande número de versões bíblicas.* Será que existe alguma diferença entre a “mediunidade” daquela mulher e a das pessoas “sensitivas” na atualidade?

Essa celeuma inútil não se limita a palavras; vai além disso. Há quem afirme taxativamente que os cristãos crentes na Bíblia se “incomodam” com o trecho mencionado, de 1 Samuel 28, que relata uma conversa – supostamente com o “espírito” do falecido profeta Samuel – realizada a pedido de um rei de Israel. Qual seria a natureza desse ‘incômodo’, é difícil imaginar. Quase ninguém questionará que uma típica “sessão espírita” (outro neologismo, aliás!) ocorreu lá (dizemos “quase ninguém” porque já vimos pelo menos uma tentativa de “caiar” este relato de 1 Samuel 28, como se não fosse exatamente isso que tivesse ocorrido naquele caso!).

Na realidade, os que levam em conta a informação bíblica, e por isso não dão – nem estão minimamente interessados em dar – ouvidos a “espíritos” de mortos são os que nenhum motivo têm para se ‘incomodar’ com tal relato. Tampouco se incomodam com ele os que “conversam com os mortos” e não estão minimamente preocupados com os pronunciamentos bíblicos. Ao que parece, os únicos que têm suas “suscetibilidades” feridas por tal narrativa, e demonstram muita preocupação em “explicá-la” minuciosamente (e há quem tente descaradamente associar Deus com o que ocorreu lá!) são certas pessoas que fazem apologia à prática em questão ao mesmo tempo em que alegam respeitar a Bíblia e seu Autor. Por que essas pessoas procedem desta forma? A resposta é óbvia: Porque desejam usar tais referências bíblicas como “evidência” em apoio de suas teorias, mas estão bem cientes de que todas as referências bíblicas à prática da “comunicação com os mortos” são claramente condenatóriasSe fosse realmente necessário fazer alguma comparação, a conclusão imediata é que o tom de todas estas referências apoia a postura dos cristãos que rejeitam qualquer envolvimento com isso, e não a postura dos apologistas dessa prática.

Assim, a alegação de os cristãos “se incomodarem” com o relato de 1 Samuel 28 nada mais é que uma projeção do incômodo que é sentido por quem sugeriu tal coisa. O cristão que verdadeiramente respeita a Palavra de Deus e dá atenção aos pronunciamentos dela acerca de determinados procedimentos não verá qualquer motivo para se perturbar com tais relatos, e muito menos para “criar caso” com palavras que aparecem em versões bíblicas modernas (que descrevem adequadamente tais procedimentos) e até inventar “anacronismos” que não existem.

[* Entre as versões bíblicas em língua inglesa do Deuteronômio 18:11, a AMP, CSB, ERV, EXB, ESV, HCSB, ICB, ISV, TLB, NASB, NCV , NIV, NKJV, NLT, RSV e TLV usam a palavra “médium”, sendo que as versões AMP, CSB, JUB, LEB, NASB, NIV, NKJV e TLV fazem também referência ao termo “espírita”. No caso de 1 Crônicas 10:13 (que relata a punição do Rei Saul), aproximadamente metade das versões mais conhecidas nesse idioma, a saber, AMP, CSB, CEB, ERV, ESV, EXB, GW, HCSB, ICB, ISV, LEB, TLB, NOG, NASB, NCV, NIV, NKJV, NLT, NRSV, RSV, TLV e VOICE referem-se à mulher consultada por Saul como “médium”, sendo que a versão JUB a chama de “espírita” neste mesmo texto. Será que deveríamos classificar todas estas versões eruditas e lidas por milhões de pessoas como “anacrônicas”, só porque as palavras “médium” e “espírita” não existiam nos tempos bíblicos, sendo neologismos criados num século mais recente? Qual seria o motivo de todo esse “pudor” linguístico?].

2 Nas versões em inglês do Deuteronômio 18:9-11, o termo “abominações” é o mais comum. É usado em ASV, DBY, HNV, JUB, KJV, NKJV, OJB, RHE, TMB, TYN, WBT, WEB, WYC e YLT. Outros termos são “coisas detestáveis” (CEB, NAS), “coisas odiosas” (NCV), “costumes detestáveis” (CSB, NLT), “estilos de vida abomináveis” (MSG), “modos detestáveis” (NIV, TNIV), “modos repugnantes” (BBE), “práticas abomináveis” (CJB, ESV, RSV), “práticas detestáveis” (LEB), “práticas repugnantes” (GNT, GW), “práticas repulsivas” (NRS). Dentre as versões que foram consultadas, a única que não associa qualquer qualificativo negativo ao termo “práticas” é a NIRV, mas, se o texto diz logo em seguida que “o SENHOR odeia tais práticas”, dificilmente se poderia agregar o qualificativo “religiosas” a tais. Se a intenção é ajudar o leitor a “perceber” melhor as coisas (como se o Autor da Bíblia precisasse disso!), não seria nada mal inserir também o qualificativo “falsas” após a palavra “religiosas”.

Nem é preciso dizer que a combinação da omissão com a falácia do eufemismo é “poderosa”, e pode apanhar desprevenido um leitor que não se inteirar do assunto na própria Bíblia! É claro que a “substituição” dos termos francamente negativos do versículo por uma expressão “suave” (tal como “práticas religiosas”) facilita a aceitação das ideias que o texto pretende defender. Este recurso é de grande ajuda em mascarar uma realidade “indesejável”, dessensibilizando a consciência do leitor.

3 A propósito, o grande historiador grego Heródoto nos fornece a seguinte informação pertinente:

Estas histórias egípcias são para o uso de quem acredita em tais narrativas: para mim, é minha diretriz ao longo de toda essa história que eu registro o que me foi dito, exatamente como ouvi.

Acredita-se no Egito que os governantes do mundo inferior são Deméter e Dionísio.* Além disso, os egípcios foram os primeiros a ensinar que a alma humana é imortal e, por ocasião da morte do corpo, ela entra em algum outro ser vivo, vindo então a nascer; e depois de passar por todas as criaturas da terra, mar e ar (cujo ciclo ela completa em três mil anos), entra mais uma vez em um corpo humano no nascimento. Alguns gregos, cedo ou tarde, usaram essa doutrina como se fosse deles; eu sei os nomes deles, mas não os registro aqui.

* Ísis e Osíris.

– Herodotus [Heródoto] – Traduzido para o inglês por A. D. Godley, Loeb Classical Library, Harvard University Press, Cambridge, MA, EUA e William Heinemann, Londres, Inglaterra, Vol. I (Livros I e II), 1920 – Livro II, 123-124. Grifos e sublinhado acrescentados.

4 “Allan Kardec” é o pseudônimo do escritor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869. Alegadamente, esse pseudônimo tinha sido o nome dele numa “encarnação” anterior, sendo que tal informação lhe teria sido transmitida pelos “espíritos superiores”). Neste artigo ele será referido, deste ponto em diante, por seu sobrenome, Rivail. Os trechos citados são do livro O Céu e o Inferno – A Justiça Divina Justificada na Pluralidade de Existências, Capítulo 11.

5 A “explicação” dele para o motivo de a Lei prescrever pena de morte para estas e outras práticas é “impagável”:

“Se Moisés pronunciou a pena de morte aos delinquentes da época dele, foi porque eram necessárias medidas rigorosas para governar as pessoas indisciplinadas com quem ele tinha de lidar, e, consequentemente, essa penalidade foi generosamente introduzida em seu código. Deve-se lembrar também que ele não tinha muita escolha nos meios de repressão a serem usados por ele, pois no meio do deserto ele não tinha prisões nem reformatórios, e além disso, seu povo não era passível de ameaça de punição meramente disciplinar: consequentemente, era impossível para ele graduar suas penalidades como se faz atualmente.”

Logo a primeira sentençado trecho que ele citou (Deuteronômio 18:10-12) é suficiente para demolir essas teorias. A declaração está grifada nesta citação adicional (segundo a BMD):

Quando entrares no país que Javé, teu Deus, te der, não aprenderás a cometer as abominações daquelas nações. Não se achará, entre ti, quem faça passar pelo fogo…”

Nenhum fator contingencial entrou na questão; nenhuma elaboração da Lei foi influenciada pelo fato de eles estarem “no meio do deserto”. A Lei deveria vigorar justamente quando a nação já estivesse estabelecida em sua própria terra. Será que quando eles estivessem radicados lá haveria alguma margem para se fazer “emendas”, talvez fazendo provisão para outras penalidades que não a morte para os delitos em questão? De modo algum! O Deuteronômio 4:1, 2 anula esta possibilidade:

“E agora, ó Israel, ouça os decretos e as leis que lhes estou ensinando a cumprir, para que vivam e tomem posse da terra, que o Senhor, o Deus dos seus antepassados, dá a vocês. Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do Senhor, o Deus de vocês, que eu lhes ordeno.”

A conversão da penalidade capital em alguma pena “meramente disciplinar” (para usar os termos de Rivail) não foi sequer cogitada, em momento algum da história da nação de Israel! Tampouco esta especificação se trata dum ‘caso isolado’. Pelo contrário, tal diretriz está refletida constantemente no Deuteronômio. O capítulo 6, versículo 1 (que Rivail também “esqueceu” de citar) confirma isso, sem margem para ambiguidade:

“Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram na terra para a qual estão indo para dela tomar posse.” (NVI. Veja também Deut. 17:14, 26:1 e outros.).

Apenas como mais um exemplo, já que Rivail falou em “pena de morte aos delinquentes”, a seguinte era a sanção determinada na Lei para um jovem delinquente contumaz:

“Se um homem tiver um filho obstinado e rebelde que não obedece a seu pai nem à sua mãe e não os escuta quando o disciplinam, o pai e a mãe o levarão aos líderes da sua comunidade, à porta da cidade, e dirão aos líderes: “Este nosso filho é obstinado e rebelde. Não nos obedece! É devasso e vive bêbado”. Então todos os homens da cidade o apedrejarão até à morte. Eliminem o mal do meio de vocês. Todo o Israel saberá disso e temerá.” (Deuteronômio 21:18-21, NVI).

As alternativas eram apenas estas: ou o jovem aceitava a disciplina familiar e se corrigia ou morreria a pedradas fora dos portões da cidade. Nada de “reformatórios” ou qualquer coisa desse gênero. Isto deveria vigorar nas cidades de Israel, como nação estabelecida num país. Não foi algo ‘contingencial’, estabelecido por Moisés para ser aplicado “no meio do deserto”, só porque ‘não havia reformatórios para jovens rebeldes lá’. 

Por que Rivail não citou nada disso? Acaso “não prestou atenção” aos trechos acima? Teria ele algum grave “problema de entendimento” da língua francesa, na qual leu a Bíblia dele? Seria um absurdo imaginarmos isso de um professor e escritor obviamente capacitado, e que não era nenhuma criança quando escreveu seus livros. Qual foi o problema, então? Igualmente óbvio: Ele desconsiderou tudo isso deliberadamente. Só procedendo desta maneira foi que ele pôde fazer a racionalização acima (e o mesmo fazem regularmente os simpatizantes das teorias dele hoje.)

A penalidade estabelecida para todos os delitos em questão – desde o princípio e de modo definitivo – não era outra senão a morte, e isso não foi determinado por Moisés, e sim pelo Deus da nação. A diretriz dele era essa mesma. Com o objetivo de defender a prática da “comunicação com os espíritos”, Rivail simplesmente se recusou a aceitar este fato, preferindo lançar, não só o arbítrio das normas como também o das sanções nos ombros de Moisés. O entendimento que ele se viu obrigado a endossar foi que um homem – Moisés – era quem tinha nas mãos o poder da vida e da morte em Israel!

Aparentemente sentindo-se incomodado com esta declaração, um leitor deste artigo replicou:

“Se [Rivail] acreditava que nada da lei mosaica foi ordenado diretamente por Deus, só ele poderia responder. Porém também é fato, e até comentaristas bíblicos isentos mencionam isso, que a única parte da Lei escrita diretamente por Deus foram os 10 mandamentos. As demais podem sim ter sido acomodadas conforme a conveniência da época. Não há nenhum problema em pensar assim.”

Em primeiro lugar, ninguém discutiu se “Rivail acreditava que nada da lei mosaica foi ordenado diretamente por Deus”. Nem o próprio Rivail se expressou nesses termos. Repitamos aqui a frase que aparece no artigo:

Em toda a sua exposição, Rivail sempre responsabiliza Moisés pelas proibições. Ele jamais admite a origem divina delas.

De que “exposição” e de que “proibições” está se falando aqui? Da exposição que está contida no texto intitulado “A Proibição de Evocar os Mortos” (Capítulo 11 do livro O Céu e o Inferno). Qualquer pessoa que ler este capítulo não encontrará uma só declaração onde Rivail tenha concedido a menor margem à possibilidade de que as proibições discriminadas no Deuteronômio 18:9-12 tiveram origem divina. De jeito nenhum! Ele questiona isso o tempo todo, e sempre as atribui exclusivamente a Moisés.

Em segundo lugar, ninguém questionou que só os 10 Mandamentos foram escritos por Deus. Quando “comentaristas bíblicos isentos” dizem que “a única parte da Lei escrita diretamente por Deus foram os 10 mandamentos”, o que eles estão fazendo é nada mais que reafirmar o que as próprias Escrituras dizem. Com base no que está registrado, por exemplo, em Êxodo 31:18 e Deuteronômio 9:10, qualquer estudioso da Bíblia tem base para concluir que só os 10 Mandamentos foram escritos pelo “dedo de Deus”, enquanto que todas as demais leis foram escritas por meio de Moisés.  Jamais algum erudito que respeita a Palavra de Deus achou necessário levantar polêmica quanto a isso.

Em terceiro lugar, a declaração acima confunde ‘redação’ com ‘autoria’. Uma coisa é afirmar que “a única parte da Lei escrita diretamente por Deus foram os 10 Mandamentos”. Outra coisa – bem diferente – é discutir o que na Lei Mosaica “foi [ou não] ordenado diretamente por Deus”. Será que o fato de Moisés ter escrito todas as leis (exceto os 10 Mandamentos) de seu próprio punho significa que elas eram da autoria dele? Segundo o Sr. Rivail, a resposta é SIM. O seguinte foi o que ele afirmou em outro de seus livros:

Esta Lei [os 10 Mandamentos] é para todos os tempos e todos os países, e por isso tem caráter divino. Todas as outras leis foram decretadas por Moisés, obrigado a manter, pelo temor, um povo naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater os abusos enraizados e os preconceitos adquiridos por eles na servidão do Egito. Para dar autoridade às suas leisele teve de atribuir-lhes origem divina, assim como fizeram outros legisladores de povos primitivos. A autoridade do homem deveria se basear na autoridade de Deus. Porém, só a ideia de um Deus terrível poderia impressionar homens ignorantes, nos quais o senso de verdadeira justiça e moralidade eram bem pouco desenvolvidos. É evidente que Aquele que tinha incluído em seus mandamentos: “Não matarás ou causarás o mal ao teu próximo” não poderia se contradizer por fazer da exterminação um dever.”(O Evangelho Segundo o Espiritismopág. 24 (Da edição em inglês, The Headquarters Publishing Co Ltd., Londres, Inglaterra, 1987. [Traduzida da 3ª Edição em francês, L’Évangile Selon Le Spiritisme, Paris, França, 1866]).

Rivail repete aqui as mesmas teorias que são apresentadas no livro que foi citado neste artigo (O Céu e o Inferno), a saber, que Moisés atribuiu origem divina ao que escreveu porque ele queria “dar autoridade às suas leis” e a maneira que ele encontrou para “impressionar homens ignorantes” foi inventar um “Deus terrível”.

Portanto, pôr-se a discutir o que foi ou não “ordenado diretamente por Deus” é nada mais que um espantalho. Isto não foi discutido neste artigo, e nem por Rivail. O que este afirmou é diferente disso: Segundo ele tais normas não tiveram nada que ver com Deus – nem direta, nem indiretamente. E para não deixar qualquer dúvida, ele ainda ‘arrematou’ sugerindo que se fosse Deus quem tivesse determinado essas penalidades Ele estaria se ‘contradizendo’ por “fazer da exterminação um dever”!

Em quarto lugar, essa frase “as demais [leis] podem sim ter sido acomodadas conforme a conveniência da época” é, para se dizer o mínimo, uma frase vaga; ela esconde mais do que revela. O que devemos entender por “conveniência da época”? E quem, exatamente, teria feito essa ‘acomodação’?

Mesmo sendo verdadeiro que certas leis [e não ‘todas as demais, com exceção dos 10 Mandamentos’] eram civis, aplicando-se à situação particular da nação judaica, e não de outras nações, será que isso pode ser usado para colocar em dúvida que elas foram elaboradas por Deus? O objetivo por trás da generalização acima não é outro a não ser este: induzir à ideia de que elas saíram ‘da cabeça de Moisés‘ a bem da “conveniência da época”. Portanto, há problema em pensar dessa maneira, sim, pois a autoria divina da Lei está sendo negada. E a maneira como isso foi feito é mais repreensível do que a de Rivail, pois o que este fez sem rodeios, está sendo feito aqui de maneira capciosa. [Vale mencionar que esse mesmo correspondente que “tomou as dores” de Rivail e nos enviou sua mensagem repleta das habituais deturpações grosseiras das Escrituras (algumas de nível muito pior do que as de Rivail) e dos costumeiros ataques ad hominem contra os cristãos que respeitam a Palavra de Deus sabia perfeitamente ‘o que Rivail acreditava’; sabia que os conceitos dele eram esses mesmos, pois declarou voluntariamente ter lido escritos deste autor.].

No mais gritante contraste com os juízos expressos nos dois quadros em amarelo acima, em momento algum da história de Israel alguém duvidou por um só instante de que todos aqueles regulamentos da Lei haviam se originado do próprio Deus, não de Moisés. Uns quinhentos anos depois que a Lei havia sido transmitida no Sinai, o Rei Davi, já idoso, chamou seu jovem filho, Salomão, para dar-lhe instruções sobre como ele deveria se comportar em seu futuro reinado. Entre outras coisas, Davi disse:

Que o Senhor lhe dê prudência e entendimento para que você obedeça à lei do Senhor, o seu Deus, quando ele o puser como líder de Israel. E você prosperará se for cuidadoso em obedecer aos decretos e às leis que o Senhor deu a Israel por meio de Moisés. Seja forte e corajoso! Não tenha medo nem se desanime! (1 Crônicas 22:12,13, NVI).

Alguns séculos depois, quando o Rei Josias empreendeu uma reforma no templo em Jerusalém, este mesmo livro da Lei dada a Moisés foi encontrado. O seguinte foi o teor da conversa que se seguiu:

E, tirando eles o dinheiro que se tinha trazido à casa do Senhor, Hilquias, o sacerdote, achou o livro da lei do Senhor, dada pela mão de Moisés. E Hilquias disse a Safã, o escrivão: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safã. E Safã levou o livro ao rei, e… leu nele perante o rei. Sucedeu que, ouvindo o rei as palavras da lei, rasgou as suas vestes. E o rei ordenou…, dizendo: Ide, consultai ao Senhor por mim, e pelos que restam em Israel e em Judá, sobre as palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do Senhor, que se derramou sobre nós; porquanto nossos pais não guardaram a palavra do Senhor, para fazerem conforme a tudo quanto está escrito neste livro. (2 Crônicas 34:14-21, ACR)

Depois do exílio judaico em Babilônia, Neemias também empreendeu uma reconstrução geral no país, que incluiu uma grande renovação da força da antiga lei (cujo desrespeito, aliás, tinha sido precisamente a razão de eles terem seguido para o exílio). Numa reunião geral da nação, Neemias recapitulou a história dos atos poderosos que Deus havia tomado em favor deles. O registro diz:

No vigésimo quarto dia do mesmo mês, vestidos de sacos, e com a cabeça coberta de pó, os israelitas reuniram-se para um jejum… De pé em seus lugares, escutaram a leitura da lei do Senhor, seu Deus, durante um quarto do dia; e durante o outro quarto do dia confessaram seus pecados e prostraram-se diante do Senhor, seu Deus… E os levitas… diziam: … Sois vós, Senhor, vós somente, que fizestes o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo o que ela contém, o mar e tudo o que nele se encerra; sois vós quem dais a vida a todos os seres, e o exército dos céus vos adora. Vós, Senhor Deus, fostes quem escolheu Abrão, quem o fez deixar a terra de Ur, na Caldéia, e quem lhe deu o nome de Abraão… Vistes a aflição de nossos pais no Egito, e ouvistes os seus clamores junto do mar Vermelho… Fendestes o mar diante deles, que passaram a pé enxuto; mas precipitastes nos abismos todos os que os perseguiam, como uma pedra é atirada às profundezas das águas. Vós os guiastes durante o dia por uma coluna de nuvem, e à noite por uma coluna de fogo, para iluminar o caminho que deviam seguir. Descestes ao monte Sinai, falastes-lhes do alto do céu e destes-lhes justas ordenações, leis verdadeiras, preceitos e mandamentos excelentes. Fizestes lhes conhecer o vosso santo sábado, e prescrevestes-lhes, pela boca de Moisés, vosso servo, os mandamentos, preceitos e uma lei. (Neemias, 9:1-14, TEB)

Este mesmo entendimento manteve-se após o início da Era Cristã. O médico Lucas, autor de um dos 4 Evangelhos diz:

Quando se completaram os dias da purificação segundo a lei de Moisés, levaram [o menino Jesus] a Jerusalém para o apresentar ao Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogênito será consagrado ao Senhor), e para oferecer um sacrifício segundo o que está dito na Lei do Senhor: Um par de rolas, ou dois pombinhos… Quando se tinham cumprido todas as ordenanças segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. (Lucas 2:22-24, 39, TB).

Ao ser confrontado por opositores do Cristianismo, Estevão, o primeiro mártir, também fez uma recapitulação geral dos tratos passados de Deus com o povo judeu (aos moldes do que Neemias havia feito). Ao falar sobre Moisés, ele disse:

Este é aquele Moisés que disse aos israelitas: ‘Deus lhes levantará dentre seus irmãos um profeta como eu’. Ele estava na congregação, no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos antepassados, e recebeu palavras vivaspara transmiti-las a nós… No deserto os nossos antepassados tinham o tabernáculo da aliança, que fora feito segundo a ordem de Deus a Moisés, de acordo com o modelo que ele tinha visto… Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo… vocês, que receberam a Lei por intermédio de anjos, mas não lhe obedeceram. (Atos 7:37-53, NVI).

Tendo em vista tudo o que foi declarado acima, a questão é realmente bem simples: Ou a Lei que foi dada aos judeus tem origem divina ou não tem. Ou o que Moisés registrou faz parte de ‘toda a Escritura inspirada por Deus‘ (2 Tim. 3:16) ou não faz. Cabe a cada leitor decidir a quem vai dar crédito: Se é a todos esses homens reverentes da história bíblica que tinham o devido respeito à Lei de Deus, e jamais questionaram a autoria dela, ou ao Sr. Rivail e aos ‘advogados’ dele, que, com o objetivo de atender a “agenda” deles de ‘santificar’ a prática da comunicação com os “espíritos dos mortos”, gostariam de nos fazer crer que as disposições da Lei se originaram “da cabeça de Moisés” e que “as demais [leis, com exceção dos 10 Mandamentos] podem sim ter sido acomodadas conforme a conveniência da época” e “não há nenhum problema em pensar assim.”

7 Reagindo impulsivamente ao apontamento desta omissão, o mesmo leitor escreveu:

“E no texto em questão, se bem notarmos, há pouca importância na referida “omissão”, uma vez que o ponto a que eu me referi é verdadeiro, que a prática de consulta aos mortos era típica das nações mencionadas.”

“Pouca importância”? Será que esse ‘ponto referido’ reduz a importância duma proibição divina? Declarações como a acima fazem lembrar uma conhecida frase popular: “A emenda saiu pior que o soneto”.

Verifiquemos novamente o trecho. Sob o cabeçalho que segue, outra versão diz: 

Espiritismo Proibido. Quando vocês entrarem na terra que o Senhor seu Deus lhes está dando, vocês não aprenderão a imitar as práticas detestáveis (repulsivasdaquelas nações. Não se achará entre vocês… alguém que use adivinhação ou leitura da sorte, que pratique a feitiçaria ou quem interprete os presságios, ou um feiticeiro, ou um que lance encantamento ou um feitiço, ou um médium, ou um espírita ou um necromante [que consulta os mortos]. Pois qualquer um que fizer estas coisas é totalmente repulsivo para o Senhor; e por causa dessas práticas detestáveis, o Senhor seu Deus as está expulsando diante de vocês. (Deuteronômio 18:9-12, AMP)

Que parte desta citação não está suficientemente clara? Foi ou não foi dito que “a prática de consulta aos mortos era típica das nações mencionadas”? Há necessidade de que algum candidato a “erudito” moderno nos “informe” isso? E alguém poderia explicar de que maneira esta informação “desconhecida” torna de “pouca importância” o restante do que a referência diz? O trecho incluiu ou não incluiu a “consulta aos mortos” entre as práticas “detestáveis”? E para quem foi dito que as práticas são “repulsivas”? Será que algum judeu que ouviu o pronunciamento acima considerou de “pouca importância” este detalhe?  

Não, a declaração em fundo amarelo acima não é decorrente de simples “mal entendido”, nem da falta da mínima noção de ridículo. O problema é bem maior do que isso: uma completa – e temerária – perda de respeito pela Palavra de Deus. E o que consta em outros pontos do texto só faz confirmar esta conclusão. Em certo momento de nosso artigo apareceu a seguinte sequência de perguntas:

“É possível insistir, com base no trecho acima [Deuteronômio 5:23-25, 27, 28, 30-33], que tudo não passou de ‘invenção de Moisés’? Que nação da antiguidade presenciou – visível e audivelmente – tais impressionantes manifestações de poder divino? Qual foi o povo que, depois de ouvir a voz do próprio Deus, pediu encarecidamente ao seu representante humano para que este mesmo interagisse com Deus, em vez de Deus continuar falando com toda a nação diretamente? Poderia Moisés ter “encenado” essas coisas diante duma nação inteira? Novamente, é cabível a pergunta: Já que Rivail se mostrou tão disposto a fazer referências à Bíblia em seus escritos, por que ele não mencionou o trecho acima? Acaso “não sabia” disso?”

O leitor em questão respondeu:

“Certamente ele sabia, porém ele era mais realista, ainda que não estivesse correto em tudo o que acreditou. De qualquer maneira, livros sagrados de outras religiões dizem coisas semelhantes. Será que só pelo fato de haver tais declarações as tornam necessariamente verdadeiras? É o caso do Islã, que segundo o livro sagrado dele, foi revelado também por Deus, mediante pelo anjo Gabriel. De modo que só o texto em si não é suficiente. São necessários outros fatores, sendo a fé um deles, obviamente.”

Devemos entender, então, que quem duvida do relato do que ocorreu lá no Monte Sinai é “mais realista”? Se ‘Rivail não estava correto em tudo o que acreditou’, em que ‘crenças’ ele estaria “correto”, então? Quer dizer que desconsiderar todos os detalhes da narrativa e acusar Moisés de fraude deliberada não tem problema algum? O registro detalhado das circunstâncias da transmissão da Lei no Sinai não “as tornam necessariamente verdadeiras”, já que “livros sagrados de outras religiões dizem coisas semelhantes”?

[O mais cômico – se não fosse tão trágico – é que depois de dizer essas coisas, o correspondente ainda veio falar em “fé”, ao mesmo tempo em que dedica considerável parte de seu texto à argumentação ad hominem, classificando os que acreditam nesses relatos bíblicos como pessoas que têm “visão fantasiosa da Bíblia” e estão “no jardim da infância” em sentido espiritual. Ele fez uma série de apologias às ideias de Rivail, e ao mesmo tempo disse: “Não há porque eu fazer papel de advogado de [Rivail].” No trecho acima ele afirmou taxativamente que Rivail “certamente sabia” o que o Deuteronômio diz enquanto em outro lugar sugeriu que Rivail ‘não era íntimo da Bíblia’! E, para “arredondar a conta”, aparentemente sem notar essas flagrantes contradições, afirmou repetidas vezes que o presente artigo é fruto de “cegueira” e “confusão mental”!].

Vejamos outras referências pertinentes a esta discussão:

Então disse Jeová a Moisés: Eis que venho ter contigo em uma nuvem espessa, para que o povo ouça quando eu falar contigo, e para que também te creia para sempre… Disse Jeová a Moisés: Vai ter com o povo, e santifica-os hoje e amanhã. Lavem os seus vestidos, e estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia descerá Jeová à vista de todo o povo sobre o monte Sinai. (Êxodo 19:9-11, TB)

A glória de Jeová descansou sobre o monte de Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; ao sétimo dia do meio da nuvem chamou a Moisés. Era a aparência da glória de Jeová como um fogo consumidor sobre o cume do monte aos olhos dos filhos de Israel. (Êxodo 24:16, 17, TB)

Repitamos agora um trecho da declaração feita acima:

“Que nação da antiguidade presenciou – visível e audivelmente – tais impressionantes manifestações de poder divino? Qual foi o povo que, depois de ouvir a voz do próprio Deus, pediu encarecidamente ao seu representante humano para que este mesmo interagisse com Deus, em vez de Deus continuar falando com toda a nação diretamente? Poderia Moisés ter “encenado” essas coisas diante duma nação inteira?”

Insistimos: Que parte dos trechos do Êxodo citados, bem como desta declaração do parágrafo anterior não está clara? Disse o relato que algum homem apareceu lá, do nada, alegando ter recebido informações de Deus? É isso o que as referências do Êxodo e do Deuteronômio dizem? Haveria alguma possibilidade de toda aquela gente ter se enganado, pensando ter visto fenômenos sobrenaturais? Será verdade que “livros sagrados de outras religiões dizem coisas semelhantes” ao que está registrado nesses dois livros bíblicos? Em qual livro sagrado de religião consta que Deus se manifestou de forma visível audível perante milhões de espectadores, e o fez de modo tão impressionante que o povo optou por ouvi-lo por meio dum representante humano? Estas perguntas ficam registradas aqui para a reflexão de nossos leitores.

8 A seguinte declaração aparece no texto que o leitor nos encaminhou:

“Ter Moisés atribuído a Deus coisas que saíram da cabeça dele é perfeitamente viável. E não seria má-fé, uma vez que o objetivo dele era nobre, encaminhar a nação para a adoração do Deus único, e este mesmo Deus estava atento às coisas ditas e escritas por Moisés e o orientava, quer por inspiração ou por alertas diretos. E nem eram tão diretos assim, pois Deus nunca veio pessoalmente dar tais instruções. Eram sempre anjos que falavam em nome Dele.”

Embora a linguagem usada acima pareça ter um tom bem “piedoso”, a verdade é que ela conseguiu ser mais “arrojada” do que a do próprio Rivail! Não só foi endossado servilmente o conceito dele, de que Moisés atribuía suas próprias ideias a Deus, como ainda foi declarado que isso é “perfeitamente viável”! Segundo a declaração acima, as leis não tinham origem divina; elas se originavam de Moisés, sendo que Deus, na maior parte dos casos, limitava-se a ficar “atento” ao que Moisés dizia e escrevia!

Consideremos uma das leis que visavam a “encaminhar a nação para a adoração do Deus único”:

O Senhor disse a Moisés: “Diga o seguinte aos israelitas: Façam borlas nas extremidades das suas roupas e ponham um cordão azul em cada uma delas; façam isso por todas as suas gerações. Quando virem essas borlas vocês se lembrarão de todos os mandamentos do Senhor, para que lhes obedeçam e não se prostituam nem sigam as inclinações dos seus corações e dos seus olhos. Assim vocês se lembrarão de obedecer a todos os meus mandamentos, e para o seu Deus vocês serão um povo consagrado. Eu sou o Senhor, o seu Deus, que os trouxe do Egito para ser o Deus de vocês. Eu sou o Senhor, o seu Deus”. (Números 15:37-41).

Como qualquer leitor da Bíblia sabe, pronunciamentos iguais a este aparecem muitas vezes, não só no caso dos Dez Mandamentos, mas ao longo de todo o registro da LeiEm cada caso o registro da norma começa dessa maneira: “O Senhor [Iavé] disse” (não ‘Moisés disse e o Senhor sancionou’), e termina com a frase: “Eu sou o Senhor [Iavé], o seu Deus”.

Devemos nos perguntar, com toda a seriedade: Era Moisés um monumental mentiroso? Será mesmo “perfeitamente viável” crermos que em todos esses casos Moisés mentiu ao povo, tendo inventado ele mesmo tais normas, para depois dizer que elas se originaram de Deus? Houve um só caso na história em que Deus tenha guiado e orientado seus servos por meio do erro e do endosso de mentiras? É esse o Deus que as Escrituras nos dão a conhecer?

Rivail alegou que Moisés atribuiu “suas leis” a Deus porque queria “dar autoridade” aos seus próprios conceitos, e que ele determinou a pena de morte “generosamente” em “seu código” porque queria manter o povo “nas rédeas”. Segundo a declaração acima, ter Moisés afirmado que as leis “da cabeça dele” vinham de Deus tinha o “objetivo nobre” de “encaminhar a nação para a adoração do Deus único”.

Qual é o objetivo dessas declarações? Por que todo esse esforço para “provar” que aquilo tudo saiu da ‘cabeça de Moisés’? Por que razão o autor do texto acima sentiu-se motivado a endossar o que Rivail disse, e ainda associando a isso termos inequívocos tais como “objetivo nobre” e “perfeitamente viável”? A resposta é óbvia: Porque a “agenda” é exatamente a mesma de Rivail: induzir outros a acreditar que a proibição da consulta aos mortos não teve nada que ver com Deus.

Infelizmente, porém, esta argumentação falha miseravelmente em atingir tal objetivo. Ainda que fosse verdade que as coisas aconteceram como está delineado na declaração acima, isto ainda não anularia a força da norma. Ora, se tivesse sido impróprio; uma arbitrariedade Moisés afirmar que Deus considera “detestável” a prática da consulta aos mortos, e daí determinar a pena capital para quem quer que fizesse isso, por que Deus não se pronunciou? Por que teria Ele ficado em silêncio? Não estava Deus “atento às coisas ditas e escritas por Moisés e o orientava, quer por inspiração ou por alertas diretos”?

Assim, embora a argumentação apresentada acima (no quadro em amarelo), pareça ser mais “suave” e “piedosa” do que a de Rivail, ela também é completamente inútil ao propósito de reduzir a força dessa proibição.

9 Isto nada mais é que um espantalho criado por Rivail. Nenhum erudito bíblico afirmou que “todas as leis de Moisés foram proclamadas em nome de Deus”. Embora Iavé tenha proibido as práticas mencionadas no Deuteronômio expressando claramente seu conceito inequivocamente negativo acerca dessas coisas, em considerável número de casos tudo o que Ele fez foi tolerar certos procedimentos de homens imperfeitos, ainda que Ele próprio não gostasse deles. A legislação relacionada com tais costumes constituía, na realidade, um conjunto de providências para evitar maiores prejuízos para os envolvidos. Quando os fariseus quiseram apanhar Jesus em contradições (como sempre tentavam, aliás), argumentando que ‘a Lei Mosaica prescrevia o divórcio’, Jesus replicou: “Moisés lhes permitiu divorciar-se de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio.” (Mateus 19:8). Estas palavras de Jesus tornam claro que neste caso do divórcio, e em outros (tais como o da escravidão humana), Iavé fez provisões para lidar com as situações peculiares da época, criadas pela arbitrariedade dos homens. Mas o próprio Deus não ditou coisa alguma prescrevendo divórcio (até porque Ele odeia isso; veja Malaquias 2:16) ou escravidão humana (algo que jamais foi do propósito dele, como Rivail sabia muito bem). Moisés nunca disse que Deus aprovava tais coisas, e muito menos que Ele era o originador delas. Deus não idealizou tais coisas e Jesus, com sua autoridade divina, restaurou o padrão que existia “desde o princípio”. Já no caso da “consulta aos mortos”, defendida por Rivail e pelos seguidores dele, jamais houve sequer a “tolerância” da parte de Deus (e Rivail também sabia disso perfeitamente). Javé disse claramente que “abomina” esta prática e “detesta” quem faz isso. Esta “objeção” que Rivail alegou que alguns se “apressam” em fazer não foi levantada por ninguém, a não ser por ele próprio, para depois ser facilmente “refutada”.

10 A omissão da autoria aqui é compreensível. Se a intenção é passar ao público uma impressão de ‘respeito às Escrituras’, seria de péssimo alvitre identificar claramente quem foi o indivíduo incrédulo na Bíblia que disse algo parecido com isso, citando-o como “referência erudita” numa “pesquisa bíblica cabal”. Quem foi que fez isso? Foi aquele mesmo que acusou Moisés de ‘enganar o povo’ – o próprio Rivail! Em seu Livro dos Médiuns, capítulo 31, item XI (pág. 544), ele escreveu:

“O dom da mediunidade é tão antigo quanto o mundo. Os profetas eram médiuns. Os mistérios de Elêusis se fundavam na mediunidade. Os caldeus, os assírios tinham médiuns. Sócrates era dirigido por um Espírito que lhe inspirava os admiráveis princípios da sua filosofia; ele lhe ouvia a voz. Todos os povos tiveram seus médiuns e as inspirações de Joana d’Arc não eram mais do que vozes de Espíritos benfazejos que a dirigiam.” (Grifo acrescentado).

Pelo menos Rivail não endossou (até onde sabemos!) algum absurdo sobre “médiuns aprovados”. Em vez disso, ele apelou para a teoria da “mediunidade inata” nos humanos, o que lhe permitiu incluir os profetas hebraicos. Que Rivail defendia esse conceito de ‘mediunidade universal’ pode ser depreendido à base do que ele diz no Capítulo 31 (parte X) deste mesmo livro:

Todos os homens são médiuns, todos têm um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo. Agora, que uns se comuniquem diretamente com ele, valendo-se de uma mediunidade especial, que outros não o escutem senão com o coração e com a inteligência, pouco importa: não deixa de ser um Espírito familiar quem os aconselha. Chamai-lhe espírito, razão, inteligência, é sempre uma voz que responde à vossa alma, pronunciando boas palavras. Apenas, nem sempre as compreendeis.”

Note-se que embora “todos os homens” sejam médiuns, segundo ele é preciso ‘saber escutar’ o “Espírito”. Quem consegue isso? Só os que possuem uma “mediunidade especial” que os habilitaria a se comunicar “diretamente” com o “Espírito” e ‘compreendê-lo’. Em outras palavras, de qualquer maneira existe uma “hierarquia”; alguns médiuns seriam dotados de uma habilidade “especial”; já outros, nem tanto; estes ‘nem sempre compreendem’ o “Espírito familiar”. Cremos que não é difícil deduzir em qual destas categorias se enquadraria o autor destas “explicações”!

11 Conforme é praticamente um consenso entre os eruditos bíblicos, os judeus da antiguidade, bem como os primitivos cristãos não tinham qualquer conceito dualista do ser humano. Tal conceito foi forjado e é defendido vigorosamente na doutrina imortalista, já que ele é um “pré-requisito” essencial para validar as demais teorias deles. O conceito de “mediunidade” também depende disso. Numa nota de rodapé do livro O Céu e o Inferno (pág. 7), Rivail explicou:

Um dos termos em inglês equivalentes a “mediunidade” é medianimity, derivado “das palavras latinas medium, do meio, intermediário, e anima, alma; a faculdade especial que habilita certas pessoas a servir como um intermediário, ou canal de comunicação entre almas em corpos carnais e almas em corpos fluídicos do mundo espiritual.”

Portanto, segundo ele a “comunicação” não é simplesmente entre uma pessoa viva e uma falecida. Alega-se que a “alma” do médium (quando este fica no estado de “transe”) se “liberta” para ‘mediar’ a comunicação entre uma “alma desencarnada” (referida aqui pomposamente como “alma em corpo fluídico do mundo espiritual”) e uma “alma encarnada” (o cliente que o contratou). É claro que ninguém encontrará esse tipo de informação dentro das Escrituras, já que os judeus e os primitivos cristãos sempre tiveram um conceito “monista” da pessoa humana. Eles nada sabiam de uma “alma” atuando de maneira “independente” – nem no caso dos vivos, nem no dos falecidos.

12 A falsa analogia foi combinada aqui com outra falácia, a do apelo à autoridade anônima (ou apelo ao rumor). Este expediente possibilita ao argumentador apresentar uma ideia que ele claramente deseja que outros aceitem, sem, contudo, assumir qualquer responsabilidade por ela.  Caso a ideia venha a ser demonstrada como falsa, ele está livre de acusação e “com a consciência tranquila”, já que o conceito tinha se originado de ‘outros’ (não identificados) que “pensaram” isso, ou “disseram” aquilo – e não dele próprio. Esta é uma técnica escusa, muito mal disfarçada, valendo-se dum ‘sujeito oculto na terceira pessoa do plural’. Nada impede, porém, que tal afirmação seja respondida com o mesmo nível de “lógica”. No caso presente, a diferença entre “médium” e “profeta” e, o que é mais importante, a clareza dos pronunciamentos bíblicos, possibilita que essa afirmação baseada em ‘alguns pensam isso ou aquilo’ seja replicada do seguinte modo: ‘Há os que usariam a palavra “ridículo” para caracterizar um ‘pensamento’ desse tipo.’

13 Em nossa experiência com a discussão sobre a natureza humana e a condição dos mortos, vimos muitos exemplos desse velho expediente de tentar “enfraquecer” palavras ou expressões absolutas para se esquivar de evidência “desfavorável”. Um dos casos mais escandalosos que já vimos neste particular envolve a palavra “imortalidade”. O que é “imortalidade” todos sabem; este termo dispensa explicações. Porém, com o fim de obscurecer o conceito e com isso “acomodar” a noção de “imortalidade da alma” às Escrituras, certa matéria que nos foi recomendada fez diversas referências a uma “imortalidade relativa”. Curiosamente, nenhum erudito sabe nada sobre essa “imortalidade relativa”. Mas a fonte em questão conseguiu citar uma “referência erudita” em apoio desse conceito! Qual? Uma publicação duma religião “aniquilacionista materialista”, a revista Despertai!, das Testemunhas de Jeová!

Mas, será que as Testemunhas de Jeová sabem alguma coisa sobre “imortalidade relativa”? Nós verificamos esta citação (da revista Despertai! de 22 de abril de 1990, pág. 4) e, de fato, a expressão “imortalidade relativa” aparece uma vez lá. O detalhe, porém, é que não foi o escritor da publicação quem disse isso. Esse termo foi usado por um cientista. Entretanto, o cientista não teve qualquer intenção de inventar um “novo conceito” de imortalidade; este foi um termo que ele usou para se referir simplesmente a prolongamento indefinido da vida humana por métodos científicos (tais como a clonagem [cópia genética] e a criônica [congelamento]). Ora, se o cientista estava dizendo que para a vida humana ser simplesmente prolongada já seria necessário implementar tais métodos custosos, é claro que ele não poderia estar falando sobre “imortalidade”!E o escritor da Despertai! não perdeu tempo em colocar em dúvida essa promessa, já que a crença das Testemunhas de Jeová neste particular não difere da crença dos demais cristãos. Em certo ponto o escritor do artigo diz:

“Ao passo que, naquela época, nem todos os gerontólogos e pesquisadores partilhassem tal entusiasmo, o consenso geral dos peritos parecia ser que, já no início do século 21, o envelhecimento seria controlado e a vida teria uma extensão significativa. Agora que estamos muito mais perto do início do século 21, qual é o quadro? Está a vida mais longa, quanto mais a imortalidade, a nosso alcance?”

Ele claramente diferenciou aqui “vida mais longa” ou de “extensão significativa” (que era a promessa de alguns cientistas ‘otimistas’ do século 20) de “imortalidade”. Acerca do conceito de “imortalidade”, é o seguinte o que as publicações da Torre de Vigia declaram:

A palavra grega a·tha·na··a é formada pelo prefixo negativo a, seguido duma forma da palavra para “morte” (thá·na·tos). Assim, o sentido básico é “imortalidade”, e refere-se à qualidade de vida que se usufrui, seu caráter infindável e indestrutível. (1Co 15:53, 54 n; 1Ti 6:16 n) A palavra grega a·fthar·sí·a, que significa “incorrupção”, refere-se àquilo que não pode decompor-se ou ser corrompido, aquilo que é imperecível. — Ro 2:7; 1Co 15:42, 50, 53; Ef 6:24; 2Ti 1:10.

As expressões “imortal” ou “imortalidade” não ocorrem nas Escrituras Hebraicas, as quais mostram, porém, que Jeová Deus, como Fonte de toda a vida, não está sujeito à morte, sendo assim imortal. (Sal 36:7, 9; 90:1, 2; Hab 1:12) Este fato é também enfaticamente declarado pelo apóstolo cristão Paulo ao referir-se a Deus como “Rei da eternidade, incorruptível”. — 1Ti 1:17.

… as Escrituras Gregas Cristãs não contradizem nem alteram o ensino inspirado das Escrituras Hebraicas de que o homem, a alma humana, é mortal, sujeito à morte. As Escrituras Gregas Cristãs, contudo, contêm deveras a revelação do propósito de Deus de conceder a imortalidade a determinados servos seus.

– Estudo Perspicaz das Escrituras, Sociedade Torre de Vigia (EUA), Volume 2, 1991, pág. 385 (grifos acrescentados).

Pode-se encontrar alguma referência a “imortalidade relativa” aqui? As Testemunhas de Jeová não só sabem muito bem o que é “imortalidade” como também defendem corretamente que esta só pode ser concedida por Deus. O máximo que poderia ser conseguido por esforços humanos seria prolongar a vida por algum tempo, e mesmo essa possibilidade ainda é duvidosa. Era isso o que a matéria da Despertai! citada estava enfatizando. Outras citações de publicações da Torre de Vigia pertinentes a esta discussão dizem:

Por fim, o pecado que alienara Adão e Eva de Jeová Deus levou à sua morte. Não possuíam a imortalidade… para Adão e Eva continuarem vivendo, Deus tinha de sustentar a vida deles.

– Revista Despertai! de 8 de junho de 1972, pág. 28.

… a vida imortal concedida a Jesus, ao ser ressuscitado, não é simplesmente infindável, mas está além de deterioração ou de dissolução, e além de destruição.

– Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2, 1991, pág. 385.

A Bíblia diz que Jeová tem imortalidade e incorrupção. (1Ti 1:17) Concedeu estas primeiro ao seu Filho. Na época em que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo, Cristo era o único que recebera imortalidade. (1Ti 6:16)…

Anjos são criaturas espirituais, mas não são imortais, porque os que se tornam demônios iníquos serão destruídos.

– Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 3, 1992, pág. 783.

Sobre “imortalidade relativa”? De novo, nem uma só palavra! O que está sendo dito acima é que nem mesmo o Filho perfeito de Deus possuía a imortalidade no princípio. Ele só passou a possuí-la depois de sua ressurreição. Todas as citações acima deixam muito claro qual é o conceito dos líderes das Testemunhas de Jeová: o primeiro casal humano era mortal, os anjos são mortais, e até o próprio Cristo era mortal a princípio. Qualquer criatura a quem Deus não tenha concedido a imortalidade é mortal, sem que qualquer conceito forjado de “imortalidade relativa” entre no cenário. Este ensino não se encontra em qualquer publicação da Torre de Vigia, e muito menos na Bíblia. A verdade simples e sem rodeios é esta: “imortalidade relativa” não existe.

Apesar de todos estes fatos, com a pretensão de defender esse conceito inventado, a fonte imortalista não só citou (como “evidência documental”) publicações “aniquilacionistas” que não dizem uma única palavra em apoio do conceito, como ainda alegou que as Testemunhas de Jeová ‘entenderam o conceito de imortalidade relativa’! Com isso, o assunto foi levado tão longe da realidade que chega a ser cômico! Essa manipulação gritante e crassa desonestidade jornalística é mais uma atestação do ponto a que chegam certos indivíduos, em seu desespero de encontrar “apoio erudito” para suas teorias.

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