A Doutrina da Imortalidade na Igreja Primitiva

Introdução

A maioria dos cristãos evangélicos da atualidade crê que todo ser humano tem dentro de si uma alma naturalmente imortal que, sendo separada do corpo por ocasião da morte física, continua a existir para sempre, seja no gozo da presença de Deus ou no tormento eterno do inferno de fogo – neste último caso em particular experimentando conscientemente a dor de estar sendo queimada, mas nunca sendo realmente queimada.

Esta posição foi bem declarada pelo popular evangelista Billy Graham, em seu livro, Peace With God [A Paz com Deus], capítulo 6, parágrafo 25, onde ele diz: “A Bíblia ensina que você é uma alma imortal. Sua alma é eterna e viverá para sempre. Em outras palavras, o verdadeiro você – a parte de você que pensa, sente, sonha, aspira; o ego, a personalidade – nunca morrerá. A Bíblia ensina que sua alma viverá para sempre em um dos dois lugares – o céu ou o inferno.”

No mesmo capítulo, ele acrescenta no parágrafo 28: “A Bíblia ensina que quer sejamos salvos ou condenados, há existência consciente e eterna da alma e da personalidade.”

Esta crença está realmente expressa nas declarações de fé de muitas denominações protestantes – por exemplo, a Convenção Batista do Sul, as Assembleias de Deus, a Associação Geral de Igrejas Batistas Regulares, a Associação Batista Americana, a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular e a Igreja Evangélica Livre dos Estados Unidos (para citar apenas algumas). Assim, ela é considerada tanto como tendo apoio bíblico como doutrinariamente essencial por essas igrejas que a incluem.

Por outro lado, uma pequena, porém vocal minoria, que refere a si mesma como “condicionalistas”, acredita que a alma (cujo termo eles entendem significar a “personalidade integral”) é naturalmente mortal, não imortal e, consequentemente, não pode e não viverá para sempre (de maneira incondicional) a menos que a imortalidade seja concedida ao indivíduo por Deus – e que Deus só concede a imortalidade aos que confiam em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e o seguem como seu Senhor.

Esta posição é bem declarada por David A. Dean, do Berkshire Christian College, em seu livro Resurrection Hope [A Esperança da Ressurreição], página 83, onde ele diz: “Nada na Bíblia ensina que os ímpios sejam imortais. Jamais expressões tais como ‘viver para sempre’, ‘existir para sempre’, ‘nunca morrer’, ‘ser imortal’, ou quaisquer expressões equivalentes, são aplicadas à natureza da alma, ou ao destino dos perdidos. Elas só são aplicadas ao destino dos justos. A morte é o salário inevitável para o pecado. A vida eterna é um dom de Deus somente para aqueles que creem em Jesus Cristo.”

Neste mesmo livro, ele acrescenta na página 84: “A segunda morte destrói a pessoa inteira, completa e irreversivelmente. Jesus disse: ‘Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno.’ (Mateus 10:28). Na segunda morte há uma destruição completa e eterna da personalidade (ou pessoalidade) integral do pecador. A vida da pessoa é tirada e a vida eterna lhe é retida.”

Esta doutrina é chamada por aqueles que a defendem de “imortalidade condicional”, e seus defensores têm sido muitas vezes levados a formar igrejas e denominações próprias – por exemplo, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Conferência Geral Cristã do Advento dos Estados Unidos, a Igreja Cristadelfiana, a Igreja de Deus da Fé Abraâmica (e outras) – porque sentem que não podem assinar honestamente as Declarações de Fé de outras igrejas, como as mencionadas antes.

Em minha opinião, porém, as crenças das igrejas de hoje em dia não constituem um padrão válido pelo qual julgar a verdade ou a falsidade de qualquer doutrina. Estamos agora quase tão distantes na corrente do tempo de Cristo e dos apóstolos como Abraão estava quando Deus falou com ele na Mesopotâmia – e Deus não fala com ninguém por meio de revelação inspirada já por mais de dezenove séculos! Sobre a questão da imortalidade humana, como em qualquer outro assunto de cunho espiritual, não devemos perguntar: “O que as igrejas modernas ensinam?”, e sim, em vez disso, “O que a Bíblia diz?” e “Como os primitivos cristãos interpretavam suas declarações?”

Com este princípio em mente, então, o tema deste livro é definido da seguinte forma: O que podemos aprender com os escritos dos Pais da Igreja com relação à(s) posição(ões) defendida(s) na época deles sobre o tema da imortalidade humana? Especificamente, queremos descobrir se os Pais Apostólicos, Sub-Apostólicos e Antenicenos do primeiro, segundo e terceiro séculos tinham um conceito semelhante ao conceito popular moderno, ou um mais semelhante ao conceito condicionalista.

A imortalidade natural

Os defensores do conceito ao qual me refiro como doutrina da “imortalidade natural”, ou “naturalismo”, geralmente mantêm um conceito dicotômico ou tricotômico da natureza do homem.1 Definamos estes dois termos:

Dicotomia é o conceito de que o ser humano constitui-se de duas partes separáveis, a “material” e a “imaterial”. Dentro desta ideia, a “parte material” consiste em tudo o que pode ser observado e analisado quimicamente: em outras palavras, o “corpo”. A “parte imaterial” consiste em tudo o que não pode ser observado e analisado: a “mente”, as “emoções”, a “personalidade”, e a “alma” ou “espírito” (a maioria dos dicotomistas usa estes dois últimos termos quase intercambiavelmente).

Tricotomia, por outro lado, é o conceito de que um ser humano consiste em três partes separáveis​​, o “corpo”, a “alma” e o “espírito”. Nesse conceito, o “corpo” consiste em tudo o que pode ser observado e analisado quimicamente, e a “alma” e o “espírito” são distintos, não só do “corpo”, como também entre si. A “alma” é geralmente encarada como a “parte” do homem que é imaterial, mas é também possuída pelos animais (a “mente”, as “emoções”, etc.), enquanto que o “espírito” é a “parte” do homem que é ao mesmo tempo imaterial e exclusivamente humana (a “vontade”, a “personalidade”, a capacidade de fazer escolhas morais, a capacidade de ter um relacionamento com Deus, etc.).

Tanto os dicotomistas como os tricotomistas creem que por ocasião da morte, as “partes” se separam e tomam rumos diferentes. Dicotomistas e tricotomistas concordam que a “parte material”, ou o “corpo” se desintegra, a não ser que seja preservado química ou milagrosamente; os dicotomistas creem que a “parte imaterial” sobrevive, permanece consciente, e segue diretamente para seu destino eterno, enquanto que os tricotomistas creem que a “alma” e o “espírito” se separam, não só do “corpo”, como também um do outro, e podem ter destinos separados e distintos.

Para os fins deste livro, não tentarei fazer distinção entre dicotomistas e tricotomistas, mas juntarei num grupo todos os que acreditam que o ser humano é constituído de partes separáveis​​, e compartilham a ideia de que alguma “parte” do homem sobrevive à morte do “corpo” e foi destinada antes da Criação a continuar existindo para sempre. Por conveniência, denominarei essas pessoas como “naturalistas”, o que significa que elas defendem o conceito ao qual me refiro como doutrina da “imortalidade natural”, ou “naturalismo”. (Os termos “naturalista” e “naturalismo”, conforme usados neste contexto, não devem ser confundidos com os termos “naturalista” e “naturalismo” usados no contexto das pessoas que apreciam atividades ao ar livre, alimentos cultivados organicamente, nudez, e assim por diante.).

A imortalidade condicional

Os proponentes do conceito a que me refiro como doutrina da “imortalidade condicional”, ou “condicionalismo”, defendem usualmente um conceito monista, ou “unitário”, da natureza do homem.2 Há aqui outro termo para definir.

Neste conceito, o “corpo”, a “alma”, o “espírito”, e assim por diante, não são ​​”partes” separáveis, e sim apenas maneiras diferentes de descrever a mesma pessoa. O “corpo” é a pessoa encarada de um ponto de vista físico; a “mente” é a pessoa encarada de um ponto de vista intelectual; a “vontade” é a pessoa encarada em sua capacidade de fazer escolhas morais; e assim por diante.

Os que aderem a esta doutrina encaram o termo “alma” como equivalente à “personalidade total”, apontando para as muitas referências bíblicas onde a expressão “minha alma” é usada para significar “eu”; “sua alma”, “ele”; etc. E, para muitos que têm este conceito, o “espírito” não é encarado como um aspecto do ser humano de forma alguma, e sim como a “força vital” que “energiza” a pessoa e faz com que ela “viva” (o contrário de estar “morta”).

Deveria parecer lógico para o leitor, assim como é para mim, que qualquer um que tenha esse conceito da natureza humana não encara a morte como algum tipo de “separação” do ser humano em “partes” com diferentes destinos. Esta definição da natureza do homem exige que todos os aspectos de sua personalidade total experimentem o mesmo destino. Uma vez que o destino de pelo menos um aspecto – o “corpo” – é bem conhecido, a saber, a desintegração (e por fim a inexistência), deveria ser óbvio que o destino dos demais aspectos é o mesmo, e que não haveria qualquer esperança de uma pessoa continuar existindo sob qualquer forma depois de sua morte, a não ser que Deus intervenha realizando um milagre.

Isto é, de fato, o que a maioria dos condicionalistas acredita, com base em seu entendimento da natureza dos seres humanos. A ideia da “imortalidade condicional” é então apresentada como a solução para o problema assim criado. Segundo este conceito, Deus vai levantar pessoas inteiras de um estado de morte para um estado de imortalidade, desde que, nesta vida, a “condição” (fé em Cristo como Senhor e Salvador) tenha sido satisfeita. Aqueles que não creem em Cristo serão punidos com a “segunda” – ou final – morte: a destruição completa da pessoa inteira, ou “alma”, sem esperança de uma nova oportunidade para o arrependimento e a salvação. Embora muitos condicionalistas não gostem da palavra “aniquilação”, esta palavra descreve com precisão o que eles acreditam que será o destino final dos que não se arrependerem de seus pecados – nesta vida – recebendo o perdão de Deus.

A bem da conveniência, neste livro eu denominarei como “condicionalistas” os autores que defendem o conceito ao qual me refiro como doutrina da “imortalidade condicional”, ou “condicionalismo”.

As fontes antigas

Conforme mencionado na Introdução, nossa principal fonte de dados sobre o entendimento da imortalidade humana que prevaleceu na Igreja Primitiva serão os escritos dos Pais Apostólicos, Sub-Apostólicos e Antenicenos do primeiro, segundo e terceiro séculos D.C. Estes são definidos da seguinte forma:

1) Os Pais Apostólicos são os escritores cujas vidas coincidiram com as dos apóstolos e que se supõe, portanto, que tiveram conhecimento pessoal dos ensinos dos apóstolos.

2) Os Pais Sub-Apostólicos são os escritores cujas vidas coincidiram com as dos Pais Apostólicos, e que se supõe, portanto, que tiveram conhecimento pessoal do entendimento que os Pais Apostólicos tinham dos ensinos dos apóstolos.

3) os Pais Antenicenos são todos os outros escritores cristãos, cujo trabalho foi completado antes do Concílio de Nicéia, que ocorreu em 325 D.C.

Uma vez que o apóstolo João morreu em 102 D.C., só classificarei como Pais Apostólicos os autores nascidos antes dessa data. Deste grupo, os que escreveram sobre o tema da imortalidade foram:

Clemente de Roma (30-97 D.C.)

O(s) escritor(es) das Odes de Salomão (por volta de 100 D.C.)

Inácio de Antioquia (35-107 D.C.)

Policarpo de Esmirna (69-155 D.C.)

Pápias de Hierápolis (70-163 D.C.)

O(s) escritor(es) da Didaqué (por volta de 120 D.C.)

Quadrato de Atenas (por volta de 126 D.C.)

Matetes (por volta de 130 D.C.)

Clemente de Corinto (por volta de 130 D.C.)

Barnabé de Alexandria (por volta de 135 D.C.)

Aristides de Atenas (por volta de 140 D.C.)

Hermas de Roma (100 D.C.?)

Com base nestas datas, usarei o ano 142 D.C. (uma geração depois da morte do apóstolo João) como uma data de corte conveniente para distinguir os Pais Sub-Apostólicos dos Pais Antenicenos. Os autores nascidos depois de 102 D.C., mas antes de 142 D.C. serão classificados como Sub-Apostólicos. Assim, os Pais Sub-Apostólicos que escreveram sobre o tema da imortalidade foram:

Justino de Samaria (106-165 D.C.)

Taciano da Assíria (110-180 D.C.)

Teófilo de Antioquia (115-181 D.C.)

Melito de Sardes (190 D.C.?)

Atenágoras de Atenas (127-190 D.C.)

Polícrates de Éfeso (125-196 D.C.)

Irineu de Lyon (130-202 D.C.)

E, por estas definições, os Pais Antenicenos que escreveram sobre o tema da imortalidade antes do final do terceiro século D.C., foram:

Clemente de Alexandria (153-213 D.C.)

Tertuliano de Cartago (145-220 D.C.)

Hipólito de Porto Romano (170-236 D.C.)

Os escritor(es) das Pseudo-Clementinas (por volta de 220 D.C.)

Minúcio Félix da África (185-250 D.C.)

Orígenes de Alexandria (185-254 D.C.)

Comodiano da África (200-275 D.C.)

Cipriano de Cartago (200-258 D.C.)

Novaciano de Roma (210-280 D.C.)

Gregório Taumaturgo de Neo-Cesaréia (213-270 D.C.)

Arnóbio de Sica (250-327 D.C.)

É claro que esta não é uma lista completa de todos os escritores cristãos dos primeiros três séculos D.C.; porém, é uma lista completa de todos os escritores daquela época nos quais consegui encontrar alguma referência ao tema da imortalidade humana. De qualquer forma, nenhum autor cristão importante dos primeiros três séculos foi intencionalmente omitido na compilação desta lista. Não se pode afirmar que eu enviesei a questão a ser discutida neste livro por meio da seleção tendenciosa das fontes de pesquisa.

A consulta às fontes antigas

Os textos bíblicos relacionados com a questão da imortalidade humana são numerosos demais para serem alistados e analisados num livro deste tamanho; nem é o propósito deste livro “provar” se estão certas ou erradas as doutrinas do Naturalismo e do Condicionalismo pelo método tradicional do exame das provas textuais bíblicas. Ao contrário, o propósito declarado do livro é determinar qual das duas posições foi a mais proeminente na Igreja Cristã durante seus primeiros três séculos de existência. Por esta razão vou evitar propositadamente quaisquer tentativas de analisar os escritos dos próprios apóstolos, ou quaisquer outros textos bíblicos, e restringirei nossa atenção a um exame dos ensinamentos dos Pais Apostólicos, Sub-Apostólicos e Antenicenos. Meu procedimento será o seguinte:

Numa ordem aproximadamente cronológica, descreverei cada escritor numa breve biografia; alistarei suas obras mais importantes, juntamente com as respectivas datas de publicação, se conhecidas; e em seguida analisarei algumas citações de seus escritos, usando caracteres em negrito para destacar palavras-chave, com o fim de determinar se ele deve ser classificado como naturalista ou condicionalista. Uma vez que apenas algumas páginas serão dedicadas a cada Pai, deve ser óbvio que este não será um estudo versículo por versículo de todos os escritos patrísticos! Mas elas representarão as conclusões extraídas cuidadosamente do estudo aprofundado de cada Pai e de suas obras, e tentarei fazer o meu melhor para ser imparcial em minhas tentativas de classificação. É minha crença de que o ponto a ser apresentado na conclusão pode ser mais bem estabelecido por este método.

Os Pais Apostólicos

Conforme já mencionado, os Pais Apostólicos, que escreveram sobre o assunto da imortalidade do ser humano foram:

Clemente de Roma (30-97 D.C.)

O(s) escritor(es) das Odes de Salomão (por volta de 100 D.C.)

Inácio de Antioquia (35-107 D.C.)

Policarpo de Esmirna (69-155 D.C.)

Pápias de Hierápolis (70-163 D.C.)

O(s) escritor(es) da Didaqué(por volta de 120 D.C.)

Quadrato de Atenas (por volta de 126 D.C.)

Matetes (por volta de 130 D.C.)

Clemente de Corinto (por volta de 130 D.C.)

Barnabé de Alexandria (por volta de 135 D.C.)

Aristides de Atenas (por volta de 140 D.C.)

Hermas de Roma (100 D.C.?)

Os escritos deles abrangem aproximadamente a primeira metade do século II DC.

Clemente de Roma

Clemente nasceu por volta de 30 D.C.; não sabemos onde. Orígenes de Alexandria (185-254 D.C.) diz que ele é o Clemente que foi mencionado pelo apóstolo Paulo, quando escreveu: “Sim, e peço a você, leal companheiro de jugo, que as ajude; pois lutaram ao meu lado na causa do evangelho, com Clemente e meus demais cooperadores. Os seus nomes estão no livro da vida.” (Filipenses 4:3). Ele foi ordenado ao ministério pelo Apóstolo Pedro. Segundo Eusébio de Cesaréia (263-339 D.C.), que é conhecido como o “Pai da História da Igreja”, ele serviu como o quarto bispo de Roma de 88-97 D.C.3 Ele foi exilado na Criméia durante a perseguição instigada pelo famoso imperador romano, Trajano, e lá foi martirizado por afogamento.

A Epístola aos Coríntios de Clemente, conhecida comumente como 1 Clemente, é o espécime mais antigo da literatura pós-apostólica que temos hoje. Ela foi escrita por volta do ano 95 D.C.4 e era “lida em inúmeras igrejas (no tempo de Eusébio), e encarada como estando quase no mesmo nível dos escritos canônicos”.

1 Clemente contém várias referências à imortalidade e ao destino final dos iníquos. Por exemplo:

1 Clemente 26:1 pergunta: “Será então que consideramos alguma coisa grande e maravilhosa para o Criador de todas as coisas levantar novamente os que piamente o serviram na certeza de uma boa fé…”? (o que significa que Deus não vai “levantar novamente” os que não o serviram desta maneira).

1 Clemente 30:7 cita Jó 14:1 dizendo: “o nascido de mulher… vive, mas por pouco tempo” (algo oposto à ideia de que ele vive para sempre) (uma citação um tanto livre, mas essencialmente correta). O resto do capítulo é um texto favorito de muitos condicionalistas modernos, incluindo declarações como, “… assim o homem se deita e não se levanta; até quando os céus já não existirem, os homens não acordarão e não serão despertados do seu sono.” (Jó 14:12 ); “Quando um homem morre, acaso tornará a viver? Durante todos os dias do meu árduo labor esperarei pela minha dispensa.” (Jó 14:14); e “Mas, assim como a montanha sofre erosão e desmorona, e a rocha muda de lugar; e assim como a água desgasta as pedras e as torrentes arrastam terra, assim destróis a esperança do homem.” (Jó 14:18, 19).

1 Clemente 35:1, 2 apresenta a “vida em imortalidade” como uma das “dádivas de Deus” (não como uma propriedade natural dos seres humanos). O texto completo diz: “Quão abençoadas e maravilhosas são, amados, as dádivas de Deus! A vida em imortalidade, o esplendor em justiça, a fé em confiança, a continência em santidade: e todas estas coisas são submetidas à nossa compreensão.”5

1 Clemente 36:2 diz:: “Por Ele (Jesus), o Senhor quis que nós provássemos [do conhecimento da imortalidade]”. O contexto deixa claro que a palavra “nós” refere-se unicamente aos salvos, não aos condenados – o que significa que estes últimos não vão “provar [do conhecimento da imortalidade]”.

1 Clemente 39:2 pergunta: “Pois o que pode um homem mortal fazer, ou que poder há em alguém feito do pó?”. Aqui Clemente faz referência ao homem como “mortal” (não “imortal”) e descreve-o como “alguém feito do pó”, o que pode indicar que Clemente mantinha a forma “materialista” do conceito monístico ou “unitário” da natureza do homem.6

1 Clemente 41:3 diz: “Aqueles que praticam algo contra o que agrada Sua vontade [ou seja, a de Deus] recebem a morte [não o tormento] como castigo.”7

1 Clemente 44:2 faz referência aos apóstolos como tendo designado ministros e dado “instruções no sentido de que, após o sono deles [a frase favorita dos condicionalistas para descrever a morte], outros homens aprovados devem sucedê-los no seu ministério.”

1 Clemente 48:1, 2 faz referência ao “amor fraternal”, como a “porta da justiça aberta para a vida” (o que significa que os que não têm esse amor não entraram por esta “porta” e, portanto, não tem “vida” eterna).

1 Clemente 50:3 diz que: “Desde Adão, todas as gerações passaram até o dia de hoje. Mas os que foram perfeitos no amor segundo a graça de Deus tomaram posse da terra dos santos e hão de manifestar-se quando o Reino de Cristo estiver à vista.” O versículo seguinte, numa tentativa de apoiar esta afirmação, cita Isaías 26:20 dizendo: “Entrai nos aposentos por um instante, até que passe minha ira e meu furor. Então me lembrarei do dia favorável e hei de ressuscitar-vos de vossos túmulos.” A primeira metade desta citação é um “resumo” substancialmente preciso de Isaías 26:20, mas a segunda metade não se encontra em nosso atual texto deste versículo, e deve, portanto, ser entendida como a própria “interpretação” de Clemente do que Isaías estava dizendo. No processo de dar essa interpretação, Clemente mostrou-nos que ele acreditava que o “lugar” dos falecidos “piedosos” era os “túmulos” (até o Reino de Cristo se manifestar). Assim, fica claro que ele não acreditava que os justos “vão para o céu” quando morrem!

1 Clemente 51:5 diz que “O faraó, seu exército, todos os chefes do Egito, os carros e os que neles estavam não foram lançados ao Mar Vermelho por outro motivo. Aí pereceram porque endureceram seus corações insensatos, após os sinais e milagres realizados por Moisés, servo de Deus, no Egito.”8 A palavra grega traduzida aqui como “pereceram” é apolonto, que significa literalmente “destruído” – não “atormentado”.

1 Clemente 53:4 cita o Senhor (em Êxodo 32:10), como dizendo: “deixa-me exterminá-lo (e não “atormentá-lo”), apagarei seu nome sob os céus…” (uma maneira bem pictórica de dizer “fazê-los completamente inexistentes”). Porém, de novo, estas palavras não são encontradas em nosso texto atual do Êxodo, e devem ser entendidas como a própria interpretação de Clemente da palavra traduzida como “consumir” em Êxodo 32:10. Da mesma forma, o versículo seguinte (1 Clemente 53:5) cita Moisés (em Êxodo 32:32) como dizendo, “tira-me do livro dos vivos.” Mas, nosso atual texto de Êxodo 32:32 diz: “risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito.” Observe como Clemente interpreta o “livro” de Deus! O trecho conclui (em 1 Clemente 53:6), com a frase “O servo [ou seja, Moisés] fala com liberdade com o seu Senhor: exige perdão para o povo ou implora que seja destruído [veja o comentário sobre 1 Clemente 51:5] junto com ele.”

1 Clemente 56:16 prediz a morte do leitor, dizendo: “descerás ao túmulo” (e não “subirás ao céu”).

1 Clemente 57:4-10 cita a “sabedoria” (Provérbios 1:20) como dizendo, em Provérbios 1:26, “eu também rirei da vossa ruína, e me alegrarei quando alastrar sobre vós o extermínio” (a Versão Rei Jaime traduz esta palavra, neste contexto, como “calamidade”), e, em Provérbios 1:32, 33: “Serão mortos [não “atormentados”] por terem cometido injustiças contra os pequenos, e o julgamento destruirá os ímpios. Quem me ouve, habitará em sua tenda confiante na esperança, e viverá tranquilamente, sem temor de nenhum mal.”

1 Clemente 59:1 descreve novamente Deus como aquele “que [entre outras coisas] aniquilas os projetos dos povos” – citando o Salmo 33:10, que diz: O SENHOR desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos.” É evidente que Clemente acreditava que “aniquilar” alguma coisa era o mesmo que ‘quebrantá-la’, ‘desfazê-la’ ou reduzi-la à não existência.

Clemente jamais usa os termos “alma imortal” ou “imortalidade da alma”9 e nunca fala de um processo de punição que continua por toda a eternidade. Clemente acreditava claramente que a imortalidade é condicional – a ser concedida apenas aos justos.”10

O(s) Escritores das Odes de Salomão

A identificação do(s) autor(es) das Odes de Salomão é desconhecida.11O que se sabe com certeza é que o Rei Salomão viveu e reinou durante o século X A.C. e as Odes, que não são de antes do fim do primeiro século D.C., não foram escritas por ele. O trabalho é, portanto, corretamente classificado como um pseudoepigráfico.

Os eruditos têm debatido por muito tempo a identificação do grupo responsável pela produção das Odes. Judaísmo, Cristianismo e Gnosticismo foram todos propostos como fontes potenciais. Uma vez que as Odes não mencionam o Templo ou a Lei de Moisés, elas não parecem ser de origem judaica. Elas falam de uma figura messiânica, mas não em termos típicos do cristianismo ortodoxo. Como elas não se encaixam perfeitamente nem dentro do judaísmo nem do cristianismo ortodoxo, talvez tenham derivado de uma fonte gnóstica.
 
Antes da descoberta do erudito inglês James Rendell Harris (veja a consideração abaixo), a Ode 1 era conhecida com base num texto gnóstico escrito em copta. Na Ode 8:14 e na Ode 19:1-5, Deus é representado numa fraseologia judaico-cristã atípica como tendo seios. Quando ordenhados pelo Espírito Santo, os crentes são alimentados com leite salvífico (o Filho). Com base nestas circunstâncias, alguns concluíram que as Odes são gnósticas em sua origem. Todavia, o consenso geral dos eruditos é que a verdadeira origem encontra-se mais provavelmente no início do cristianismo judaico.

A data exata da composição é desconhecida. As estimativas de datas variam do final do primeiro século D.C. (por esses eruditos que acreditam que a composição é realmente da primitiva igreja judaico-cristã) até tão tarde quanto o século III D.C. (pelos que creem que a composição é de origem gnóstica). Muitos eruditos reconhecem uma possível influência do pensamento judaico apocalíptico, e conceitos similares aos expressos nos Manuscritos do Mar Morto são encontrados nas Odes. Se esta influência existe de fato, então uma data de composição próxima de 100 D.C. seria provável.

É razoável concluir que o trabalho foi provavelmente composto na primeira metade do século II D.C. Se esta conclusão for a correta, então as Odes de Salomão se encaixam dentro do período de tempo desejado (95 D.C. – 325 D.C.), que é o alvo deste livro para a avaliação do conceito apresentado naquele período sobre a questão da imortalidade humana.

As odes estiveram praticamente perdidas para a humanidade até que foram descobertas por James Rendel Harris em 1909, em alguns documentos siríacos antigos que ele havia conseguido algum tempo antes, durante uma viagem ao Oriente Médio. No manuscrito que ele tinha estavam faltando as páginas de abertura e, das 42 odes, a Ode 1 estava faltando em parte e a Ode 2 completamente. Antes da descoberta de Harris, as Odes só eram conhecidas através de anotações em listas de livros apócrifos, trechos na Pistis Sophia copta e com base numa citação latina da Ode 19 por Lactâncio no século IV D.C. Talvez seja repetitivo dizer que a Ode 1 é conhecida por meio duma fonte gnóstica. A Ode 2 nunca foi localizada.

Por que as Odes de Salomão foram escritas? Elas são poéticas na forma e têm uma semelhança impressionante com os Salmos contidos nos cânones judaico e cristão. As Odes não citam do Antigo Testamento nem do Novo Testamento. Charlesworth defende que o escritor foi influenciado pelo primeiro e pelas tradições do último. Ele vê uma grande dependência dos Salmos davídicos e acredita que há provas suficientes para sustentar a hipótese de que o(s) escritor(es) conhecia(m) tanto o idioma hebraico como o grego. Ele conclui que as Odes de Salomão são o mais antigo hinário cristão conhecido.

Em minha análise da tradução de Charlesworth das Odes para o inglês, encontrei referências que tratam da questão da imortalidade humana em 23 das 42 odes restantes. Examinarei brevemente um por um desses trechos, e proporei uma conclusão sobre o conceito da imortalidade humana apresentado neles.

A Ode 3:8 diz: “Realmente, aquele que se junta a Ele, que é imortal, será verdadeiramente imortal.” O “Ele” neste trecho refere-se a Deus. Aqueles que se juntam ao Imortal serão imortais. Isto sugere que aqueles que não estão unidos a Deus não serão imortais.

A Ode 5:14 diz: “E apesar de todas as coisas visíveis perecerem, eu não vou morrer, porque o Mestre está comigo e eu estou com Ele.” Não está claro neste ponto da Ode se o escritor afirma que ele já possui a imortalidade, e, portanto, não pode morrer, ou se ele está sugerindo uma futura ressurreição para a imortalidade. Porém, devemos notar que este versículo iguala “perecer” com “morte”.

A Ode 6:15 diz: “Até as almas que estavam prestes a expirar foram salvas da morte.” Neste versículo encontramos uma equivalência entre “expirar” e “morte”. Aqueles que ainda mantêm o fôlego, ainda que debilmente, são livrados de perder o que resta de sua respiração e de passar da condição da vida para a condição da morte.

A Ode 7:24 diz: “E que não haja qualquer um que respira que esteja sem conhecimento ou voz.” Esta é uma advertência para todos os que respiram (ou seja, para todos os que estão vivos) para que adquiram conhecimento de Deus e falem com destemor e alegria sobre seus conhecimentos. Os que estão sem respiração estão mortos e não têm capacidade de falar.

A Ode 8:21, 22 diz: “E vós, que eram amados no Amado, e vós que sois sustentados naquele que vive, e que são salvos naquele que foi salvo. E vós sereis encontrados incorruptos em todas as eras, por conta do nome de vosso Pai.” O “Amado” refere-se ao Messias não identificado. Afirma-se que o próprio Messias “foi salvo” e os que forem encontrados nele são salvos. Isto, no mínimo, significa que os não encontrados no Messias não são salvos.

A Ode 9:4 diz: “Pois na vontade do Senhor está a vossa vida, e Seu propósito é a vida eterna e vossa perfeição é incorruptível.” Este versículo associa a vida do crente com o propósito de Deus – isto é, a vida eterna. Afirma-se que esta perfeição é “incorruptível”. Presumivelmente, aquele que não é um crente pode antecipar que sua condição perante Deus é imperfeita e, portanto, será encontrada “corruptível”.

A Ode 9:7 diz: “E também que nenhum dos que o conheceram pode perecer, e assim os que o receberam, não podem ser envergonhados.” Este versículo iguala “conhecer a Deus” com a perspectiva (ou esperança?) de não “perecer”. Ele sugere ainda uma ligação entre “perecer” e “vergonha”. Os que conhecem a Deus não serão envergonhados. Os que não o conheceram serão.

A Ode 10:2 diz: “E Ele fez com que sua vida imortal habitasse em mim e permitiu-me proclamar o fruto de sua paz.” Vemos aqui que Deus faz com que a vida imortal habite no crente. O inverso está implícito para os que não acreditam. Ou seja, Deus não fará com que a vida imortal habite o incrédulo.

A Ode 11:12 diz: “E do alto Ele me deu descanso imortal, e eu me tornei como a terra que floresce e se alegra com os seus frutos.” Este trecho fala de Deus dar ao crente descanso imortal. A imortalidade é, assim, apresentada como algo que é dado, em vez de algo que já se possui.

A Ode 15:8-10 diz: “Eu me revesti da imortalidade por meio de seu nome, e tirei a corrupção por Sua graça. A morte foi destruída diante de minha face, e o Seol foi derrotado pela minha palavra. E a vida eterna surgiu na terra do Senhor, e isso foi declarado aos Seus fiéis, e foi dado sem limite a todos os que nele confiam.” Este versículo está falando sobre o Messias se revestir de imortalidade. Não há como se revestir de alguma coisa que já se possui. A imortalidade é contrastada com a corrupção. A morte, que se diz ser destruída pelo Messias revestido de imortalidade, é destruída por este ato. A morte é também associada neste trecho com o Seol, ou seja, o lugar dos mortos. O revestimento do Messias introduz a vida eterna na terra de Deus. Isto sugere que, antes deste ato, a vida eterna não era vista na terra de Deus. Se nenhuma vida eterna era encontrada na terra antes deste evento, então o estado oposto, ou seja, a vida mortal, era tudo o que existia na terra.

A Ode 22:8-10 diz: “E Ele os escolheu das sepulturas, e os separou dos mortos. Levou ossos mortos e os cobriu com carne. Mas eles estavam imóveis, por isso deu-lhes energia vital.” Aqui, a palavra “Ele” refere-se à destra de Deus, isto é, o Messias. É o Messias quem escolhe (resgata?) os crentes de seus túmulos. Esta escolha separa os escolhidos dos que não são escolhidos. Os que não são escolhidos ficam para trás na sepultura. Eles estão numa condição de morte. Afirma-se que Messias tira “ossos secos”, não “ossos vivos”, e os cobre com carne. Os que são revestidos com carne estão imóveis até que o Messias lhes dá energia (espírito?) vital, ou seja, ele os reanima. (Isto soa muito parecido com a descrição da ressurreição da morte para a vida. Esta observação pode não parecer significativa, mas ela o será quando comparada com o conceito de Charlesworth, que será apresentado a seguir.) Em contraste, os que não são escolhidos não são revestidos com carne, os ossos permanecem mortos e eles não recebem energia para ficarem reanimados.

A Ode 23:20 diz: “Então todos os sedutores tornaram-se obstinados e fugiram, e os perseguidores extinguiram-se e foram apagados.” Os “sedutores” são os que foram seduzidos à descrença e passam a seduzir outros à incredulidade. Eles fogem, em vez de se dirigir à fonte que é capaz de salvá-los da morte. Afirma-se que eles se tornam “extintos” e “apagados”. Isso quer dizer que eles vão morrer e a própria memória deles será removida.

A Ode 24:9 diz: “E todos os que estavam faltos pereceram, porque não puderam expressar a palavra para que pudessem permanecer.” Esses que estão faltos (em conhecimento e crença) perecerão. Conforme já observamos, o escritor compara “perecer” com “morte”. Estas pessoas não são capazes de expressar a palavra, ou seja, a confissão de fé no Messias. É essa incapacidade decorrente de sua falta de conhecimento / fé ou sua incapacidade de falar é pelo fato de terem morrido? Ambos os entendimentos são possíveis.

A Ode 26:11 diz: “Quem pode interpretar as maravilhas do Senhor? Embora o que interpreta será destruído, ainda assim o que foi interpretado permanecerá.” Este é um texto difícil, mas parece dizer que, embora aquele que interpreta os atos de Deus seja destruído na morte, a própria interpretação não pode ser destruída. Esta me parece uma reflexão sobre a mortalidade até mesmo dos que são justos. Em outras palavras, todos os seres humanos, sejam justos ou maus, serão destruídos na morte. Como já vimos em outros trechos, esta destruição não é definitiva para o crente justo, ainda que o seja para o descrente perverso.

A Ode 28:6-8 diz: “Pois estou pronto antes que a destruição venha, e fui postado ao seu lado imortal. E a vida imortal me abraçou e me beijou. E dessa vida é o Espírito que está dentro de mim. E ele não pode morrer, porque é vida.” Este versículo parece ser um eco da Ode 26:11. O homem justo prepara-se para a destruição que todos os homens devem enfrentar. Ele está confiante de que já foi assegurado por meio de sua fé no Messias que não permanecerá numa condição de destruição. Sua fé o coloca ao lado de quem é imortal e que tem o poder de conceder-lhe a imortalidade. Por causa de sua fé, ele é abraçado (ou tem a esperança segura de estar sendo abraçado) pela imortalidade. Por outro lado, os que não possuem essa fé não mantêm qualquer esperança segura. O escritor passa a vincular a vida imortal com o Espírito que está dentro, ou estará nele novamente quando seus ossos mortos forem revestidos novamente com carne e energizados para se tornarem capazes de movimento. Sua imortalidade depende da imortalidade do Espírito energizante.

A Ode 28:17 diz: “E não pereci, porque eu não era irmão deles, nem foi meu nascimento como o deles.” O orador neste versículo é, aparentemente, o Messias. Ele não está negando que morreu. Ele está afirmando que foi resgatado do túmulo enquanto os seus inimigos ou não foram (ou não serão) resgatados dessa maneira.

A Ode 29:4 diz: “E ele me fez ascender das profundezas do Seol, e da boca da morte Ele me chamou. O “ele” neste versículo refere-se ao Messias. O escritor está dizendo que o Messias fez com que ele saísse da sepultura. Este parece ser mais um exemplo de ressurreição do crente da sepultura. O escritor iguala “Seol” com “a boca da morte”.

A Ode 29:10 diz: “E o Senhor derrubou meu inimigo por meio de Sua Palavra, e ele tornou-se como o pó que a brisa leva.” O inimigo do escritor, o incrédulo, torna-se como o pó que o vento leva. Isso soa muito parecido com a redução de uma pessoa a cinzas (no lago de fogo?) e a dissolução ou dispersão dos componentes do corpo, que estavam unidos. Isto tem a conotação de destruição completa do incrédulo.

A Ode 31:7 diz: “E possuí-vos por meio da graça, e tomai vossa vida imortal.” A vida imortal é algo que o escritor insta o leitor a tomar para si mesmo. Não há qualquer necessidade de pedir a alguém para tomar para si mesmo algo que essa pessoa já possua.

A Ode 33:9 diz: “E não seja corrompido nem pereça.” Neste trecho encontramos um paralelo entre “corrompido” e “perecer”. O escritor está advertindo seus leitores para evitar este terrível fim.

A Ode 33:12 diz: “E os que me colocaram neles não serão falsamente acusados, mas possuirão a incorruptibilidade no novo mundo.” O “me” neste versículo é a Graça personificada. Os que aceitam a graça de Deus possuirão a incorruptibilidade na era por vir. Isto sugere que os que não aceitam a graça de Deus não possuirão a incorruptibilidade naquele dia futuro.

A Ode 34:6 diz: “A Graça foi revelada para a sua salvação. Creia e viva e seja salvo.” A salvação (da penalidade do pecado, a morte) só é encontrada por meio da aceitação da graça de Deus. Os que creem e vivem uma vida correta serão salvos. Em contraste, os que não aceitam a graça de Deus são infiéis. Eles não viverão dignamente e não verão a salvação.

A Ode 38:3 diz: “E tornou-se para mim um refúgio de salvação, e me pôs no lugar da vida imortal.” O contexto é a Verdade personificada que coloca o crente no lugar da vida imortal. Os que não são guiados pela Verdade não são colocados no lugar da vida imortal. Eles permanecem no lugar da vida mortal.

A Ode 39:12 diz: “E eles não são nem apagados, nem destruídos.” Este versículo fala do caminho seguro dos passos do Messias. Assim como os passos dele não são “apagados, nem destruídos’’, tampouco são os passos dos que seguem o caminho do Messias – que depositam sua confiança nele. Os que não seguem obedientemente o Messias trilham um caminho diferente. Não existe essa garantia de a proteção ser “nem apagada, nem destruída” para os que andam por outro caminho.

A Ode 40:6 diz: “E Suas possessões são a vida imortal, e os que a recebem são incorruptíveis.” A possessão de Deus é a vida imortal. É algo que pertence a Ele e o homem deve recebê-la como um presente dele para ser incorruptível. Se o homem possuísse a vida imortal inerentemente, não haveria necessidade de receber o dom da imortalidade Dele. Os que não recebem o presente são corruptíveis.

A Ode 41:3 diz: “Nós vivemos no Senhor por Sua graça e a vida que recebemos por meio do Messias.” A “vida” que recebemos por meio do Messias de Deus é a da imortalidade. Não há imortalidade para o homem à parte de aceitar a graça de Deus. Essa vida imortal é dispensada pelo Messias de Deus. Os que não seguem o Messias não recebem a vida no mundo por vir.

A Ode 41:11 diz, “E Sua Palavra está conosco em todo o nosso caminho, o Salvador que dá a vida e não nos rejeita.” A “Palavra” de Deus, o “Salvador”, é o Seu Messias. Ele dá a vida (imortal) àqueles que o seguem. Os que não seguem o Messias serão rejeitados. Em outras palavras, os que não seguem o Messias não receberão a vida (imortal) dele.

A Ode 41:15 diz: “O Messias em verdade é um. E Ele era conhecido antes da fundação do mundo, que Ele daria vida às pessoas para sempre pela verdade do Seu nome.” Este versículo restringe a dádiva da vida às pessoas que aceitam a verdade de que o capaz de dar o presente é o Messias de Deus. Uma vez que todas as pessoas tem vida, a “dádiva da vida” quer dizer que o Messias pode, em nome de seu Deus, pela Sua autoridade, conceder algo que o homem não possui em sua vida. Esse algo é a imortalidade, mas só para os que creem e o seguem.

A Ode 42:10-13 diz: “Eu não fui rejeitado, embora fosse considerado assim, e eu não pereci embora pensassem isso de mim. O Seol me viu e foi quebrado, e a Morte me jogou fora e muitos comigo. Eu fui vinagre e amargura para ela, e desci com ela tanto quanto sua profundidade. Daí, os pés e a cabeça foram libertados, porque ela não pôde suportar meu rosto.” O orador neste trecho é o Messias. Seus inimigos pensaram que o tinham feito perecer. Em última análise, eles não o fizeram. O lugar dos mortos (o túmulo) e a morte não foram capazes de retê-lo. Este cenário vívido descreve a ressurreição do Messias dentre os mortos. Como vimos em trechos anteriores, a esperança do homem mortal é ser ressuscitado dentre os mortos, por aquele que venceu a morte e o túmulo.

Sem dúvida, o(s) autor(es) das Odes de Salomão apresentou(aram) um conceito sobre a imortalidade dos humanos com um teor claramente condicionalista. A descrição de ossos mortos sendo revestidos com carne e sendo reanimados pela introdução do espírito é a descrição clássica da ressurreição dos mortos. O autor é contundente em restringir esta vida aos que creem e seguem o Messias.

A imortalidade é propriedade de Deus, apenas. Ele a concedeu ao Seu Messias quando o ressuscitou do lugar dos mortos. O Messias, que era mortal, foi revestido de imortalidade. É este mesmo Messias que ressuscitará do lugar dos mortos os que o seguem e obedecem, e os revestirá com a imortalidade.

Os comentários de Charlesworth sobre o conceito da vida imortal retratado nas Odes são um tanto desconcertantes. Ele escreve: “O odista não professa nem o conceito grego de uma alma imortal que foi transmigrada de um corpo para outro, nem o conceito judaico da ressurreição do corpo… Em vez disso, o odista exulta em sua salvação e experiência de imortalidade, porque lhe foi tirada uma peça de roupa corrupta e colocada uma vestimenta de incorruptibilidade… Tudo nessa linguagem é usado para declarar enfaticamente que sua imortalidade é geograficamente aqui e cronologicamente agora.”12

É certo que as Odes não professam o conceito grego de uma alma imortal, e nem mesmo falam de transmigração “de um corpo para outro”. Porém, as odes não deixam de expressar o conceito judaico da ressurreição do corpo.

Charlesworth entende que o odista afirma que a mudança da corrupção para a incorrupção ocorreu literalmente no período natural da vida do odista – é algo que já foi obtido pelos seguidores do Messias. Porém, parece claro que o odista está expressando a esperança segura que o seguidor tem no Messias. É a esperança que se mantém em perspectiva; o cumprimento literal dela é certo, mas está reservado para o dia em que o Messias ressuscita corporalmente o crente dentre os mortos e o reveste com a imortalidade.

Reconheço que não estou a par das credenciais acadêmicas de Charlesworth e também que minha compreensão das odes pode estar sendo influenciada por minha própria crença no conceito judaico da imortalidade humana. É possível que eu esteja lendo algo no texto que não está lá. Com essa ressalva em mente, sugiro respeitosamente para consideração a proposta de que o odista expressa de fato o conceito judaico duma ressurreição corporal dos crentes mortais para a vida imortal na era vindoura.

Inácio de Antioquia

Inácio Teóforo (este apelido significa “o Portador de Deus”) nasceu por volta de 35 DC, provavelmente na Síria. Ele foi discípulo do apóstolo João, e serviu como o terceiro bispo de Antioquia no fim do primeiro século e início do segundo. Ele foi martirizado no Coliseu em Roma na segunda-feira, 20 de dezembro de 107 DC, sendo jogado aos leões.13

Durante sua jornada final (a Roma), Inácio escreveu sete Epístolas, geralmente referidas como In. Efésios, In. Magnésios, In. Tralianos, In. Romanos, In. Filadelfianos, In. Esmirniotas e In. Policarpo.

Estas Epístolas contêm muitas referências à imortalidade e ao destino final dos que não são salvos. Por exemplo:

In. Efésios 5:7 cita João 3:36 como dizendo, “aquele que não obedecer ao Filho não verá a vida” (esta é uma citação substancialmente precisa, exceto que Inácio substitui o verbo “crer”, usado por João, por “obedecer”). O ponto é que os condenados não experimentarão a “vida” após o julgamento deles.

In. Efésios 7:1 descreve o destino final daqueles que “praticam as coisas indignas de Deus”, como sendo a “destruição” (não o tormento!), e o versículo seguinte (7:2) cita Provérbios 11:3 como dizendo, “a destruição dos ímpios é súbita” (na verdade, Provérbios 11:3 diz: “a perversidade dos transgressores os destruirá” – não exatamente a mesma declaração, mas uma declaração semelhante usando a mesma palavra-chave, “destruir”). Depois, no mesmo capítulo (7:5-7), Inácio diz que “Jesus… era… imortal”, apesar de viver “em um corpo mortal” e que “ele tornou-se sujeito à corrupção (ou seja, a desintegração do corpo que se segue à morte), para que pudesse libertar nossas almas da morte e corrupção, e curá-las (ou “salvá-las”), e para que pudesse restaurá-las à saúde, quando elas estavam doentes com impiedade e paixões perversas.” Se as nossas “almas” devem ser libertas da “morte”, elas certamente não podem ser “imortais”, como Inácio diz que Jesus era (ou seja, antes de ele “se tornar sujeito à corrupção”)!

In. Efésios 16:3, ao descrever o destino dos falsos mestres, diz que “os que corrompem meras famílias humanas estão condenados à morte” e os “que se esforçam para corromper a Igreja” vão “sofrer a punição eterna” precisamente porque Jesus, para o bem da Igreja, “suportou a cruz, e submeteu-se à morte!” Evidentemente Inácio encarava “morte” e “punição eterna” como sendo essencialmente a mesma coisa. No versículo seguinte (16:4), ele prossegue dizendo que qualquer um que “desprezar sua doutrina (isto é, a de Cristo), deve ir para o inferno.” – e, no versículo seguinte (16:5), que “Da mesma forma, todo aquele que recebeu de Deus o poder de distinguir, e ainda segue um pastor inábil (ou seja, um falso mestre), e recebe uma falsa opinião sobre a verdade, deve ser punido.” Mais uma vez, ele parece equiparar a “punição” com o “inferno”, o qual, no versículo anterior, ele havia igualado com a “morte”. Para Inácio, então, os termos “morte”, “inferno” e “punição eterna” parecem ser intercambiáveis, e todos eles são literalmente o contrário de “imortalidade”.

In. Efésios 17:1 diz: “Para este fim o Senhor recebeu unguento em sua cabeça para que pudesse soprar a imortalidade sobre a Igreja.”14 (sem esse “sopro”, portanto, nenhum ser humano possuiria a “imortalidade”)

In. Efésios 20:2 faz referência ao pão da Santa Comunhão como “o remédio da imortalidade, e o antídoto que nos impede de morrer, [que causa] que devamos viver para sempre em Jesus Cristo.” Outra vez Inácio contrasta “imortalidade” e viver “para sempre” com “morrer” (não com “sofrer tormento eterno”!).

In. Magnésios 5:1 diz: “Vendo, então, que todas as coisas (incluindo, conforme logo veremos, as vidas humanas) têm um fim, e está diante de nós a vida (o que significa, é claro, a vida “eterna”) com base na nossa observância [dos preceitos de Deus], sendo a morte (não o tormento eterno”!) o resultado da desobediência,… fujamos da morte, e escolhamos a vida.”

In. Magnésios 10:1 diz: “Pois se Ele nos recompensasse segundo nossas obras, deixaríamos de existir” (A expressão grega aqui traduzida por “deixaríamos de existir” é ouketi esmen.)

In. Tralianos 2:1 diz: “Pois quando você está em sujeição ao bispo como a Jesus Cristo é claro para mim que você está vivendo não para homens, mas para Jesus Cristo, que morreu por nossa causa, que por crer na morte dele você pode escapar da morte (não do ‘tormento’).”15

In. Tralianos 8:3, referindo-se a Jesus, diz: “Ele deu a si mesmo como resgate por nós, para que Ele pudesse nos purificar por meio de seu sangue da nossa velha impiedade, e outorgou a vida a nós quando estávamos quase a ponto de perecer pela depravação que estava em nós.”

In. Tralianos 11:3, ao fazer referência a certos falsos instrutores, diz, “os filhos da maldade… produzem frutos da morte (ou seja, seus falsos ensinos), dos quais se alguém provar, essa pessoa morre instantaneamente, e essa não é uma simples morte temporária, mas uma que durará para sempre.” (Note-se que Inácio afirma que a “morte” dessas pessoas é que durará para sempre, não as “almas” delas!)

Em contraste com os que são vítimas dos falsos mestres, In. Tralianos 11:8 diz: “Cristo vos convida a [compartilhar] de sua imortalidade, por sua paixão e ressurreição, na medida em que sois membros dele.” Assim, segundo Inácio, os “membros” do Corpo de Cristo (ou seja, os cristãos) são convidados a experimentar a imortalidade, em contraste com as vítimas dos falsos mestres, que são ameaçadas com uma “morte” que “durará para sempre”.

Em In. Romanos 4:2, Inácio diz, fazendo referência ao seu martírio que se aproximava: “É preferível que atraiam bestas selvagens para que se tornem meu túmulo, e não deixem qualquer vestígio de meu corpo, para que quando eu adormecer não seja uma carga para ninguém.”16 Note-se que ele diz, “adormecer”, não “ir para o céu”.

Em In. Filadélfios 3:1, numa consideração sobre os que seguem os falsos mestres, Inácio faz referência ao Diabo (que “apadrinha” os falsos mestres) como “o destruidor dos homens”; alguns versículos depois, em In. Filadélfios 3:7-10, ele afirma que, “se um homem não ficar longe do pregador de falsidades, ele pode ser condenado ao inferno… Não tenhais companheirismo com tal homem, para que não pereças junto com ele, mesmo que ele seja seu pai, seu filho, seu irmão, ou um membro de sua família.” Note-se que neste capítulo Inácio define a “condenação ao inferno” como “destruição” e “perecer”, e não como “tormento”.

In. Filadélfios 8:6 faz referência a “Jesus Cristo, a quem desobedecer é destruição manifesta.” (Mais uma vez, não se fala em “tormento”.)

In. Esmirniotas 6:1-2 diz enfaticamente: “Que nenhum homem se iluda. A menos que ele creia que Jesus Cristo viveu na carne, e confesse sua cruz e paixão, e o sangue que Ele derramou pela salvação do mundo, ele não obterá a vida eterna, seja ele um rei, um sacerdote, um governante, ou uma pessoa comum, um mestre ou um servo, um homem ou uma mulher.” (Se a “vida eterna” deve ser “obtida” – e há uma possibilidade de que alguém possa “não obtê-la”, então é claro que ela não é algo que todos possuem inerentemente). Depois, no mesmo capítulo (em In. Esmirniotas 6:7), Inácio cita João 17:3 como dizendo: “Esta é a vida eterna, conhecer o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou.” Esta é uma citação substancialmente precisa – a única mudança em relação ao original sendo que Jesus falou com Deus, na segunda pessoa, enquanto Inácio altera a citação para a terceira pessoa do discurso – e, aliás, este versículo é mais um dos “favoritos” de muitos condicionalistas modernos, que o usam para demonstrar que os que não “conhecem” Deus não possuem “vida eterna”.

E em In. Policarpo 2:8, ele incentiva seu companheiro bispo, “Seja sóbrio como atleta de Deus. O prêmio é a imortalidade e a vida eterna, do qual você foi persuadido.”17 Se a “imortalidade e a vida eterna” constituem um “prêmio”, então obviamente não são algo que todos os seres humanos possuem naturalmente!

Em todas as suas epístolas, Inácio “é totalmente silencioso em relação a qualquer imortalidade inata da alma, ou qualquer coisa semelhante a isso.”18 Concluo, portanto, que ele deve ser classificado como condicionalista.

Policarpo de Esmirna

Policarpo nasceu por volta de 69 DC em Esmirna. Ele foi discípulo do apóstolo João, e como um homem jovem “foi posto em contato com muitos que tinham visto Cristo” pessoalmente. Ele serviu como bispo de Esmirna durante a primeira metade do segundo século. Uma carta da igreja em Esmirna à igreja em Filomélio, vulgarmente conhecida como O Martírio de Policarpo, preserva em detalhes meticulosos a história de como Policarpo foi queimado na fogueira em Esmirna no sábado, 23 de fevereiro de 155 DC, por se recusar a renunciar à sua fé em Jesus.19 A carta registra a famosa declaração dele: “Durante oitenta e seis anos eu o servi, e ele nunca me fez qualquer mal: Como então posso blasfemar meu Rei e meu Salvador?”

Segundo Irineu de Lyon (130-202 DC), Policarpo escreveu várias epístolas, mas só uma está disponível atualmente – sua Epístola aos Filipenses, escrita por volta de 109 DC, como uma “carta de apresentação” para uma coleção de escritos de Inácio de Antioquia que Policarpo estava enviando para a igreja em Filipos. Esta epístola é comumente referida como Poli. Filipenses.

Poli. Filipenses não contêm muitas referências diretas à imortalidade e ao destino final dos incrédulos, mas há várias referências indiretas a este tópico:

Poli. Filipenses 2:2 diz: “Ora, ‘ele que o levantou’ (isto é, a Jesus) dentre os mortos ‘também irá nos levantar’ se fizermos sua vontade, e andarmos nos seus mandamentos e amarmos as coisas que ele amava, refreando-nos de toda a injustiça, cobiça, amor ao dinheiro, maledicência, falso testemunho, ‘não pagando mal por mal, ou injúria por injúria, ou golpe por golpe, ou maldição por maldição.”20 (o que significa que ele não vai “levantar-nos” se não fizermos a sua vontade).

Similarmente, Poli. Filipenses 5:2 afirma, “Da mesma forma os diáconos sejam irrepreensíveis diante de sua justiça, como servos de Deus e de Cristo e não de homem, não maldizentes, não de língua dobre, não amantes do dinheiro, temperados em todas as coisas, compassivos, cuidadosos, andando de acordo com a verdade do Senhor, que era o ‘servo de todos’. Porque, se o agradarmos no mundo atual receberemos dele o que está por vir; assim como ele prometeu nos levantar dos mortos, e que, se formos cidadãos dignos de sua comunidade, ‘reinaremos também com ele’, se tivermos nada além de fé.”21 Note-se outra vez a tríplice repetição de “se”, o termo “condicionalista”, indicando que não “receberemos dele o que está por vir”, ele não vai “levantar-nos dos mortos”, e não “reinaremos com ele” se não “agradarmos a Deus”, não formos “cidadãos dignos de sua comunidade” e não “tivermos fé.”

Poli. Filipenses 7:1 diz que “…todo aquele que perverte os oráculos do Senhor para os seus próprios desejos, e diz que não há nem uma ressurreição nem um julgamento, ele é o primogênito de Satanás.”

Poli. Filipenses 9:1,2 diz que “Inácio, Zózimo e Rufo, …o próprio Paulo, e …o restante dos apóstolos… estão [agora] no lugar que lhes corresponde na presença do Senhor…”. Este trecho não diz absolutamente nada sobre o destino dos incrédulos, que é a questão em litígio entre condicionalistas e naturalistas. Além disso, note-se que a palavra “agora” está grafada entre colchetes, indicando que o tradutor a inseriu com base na teoria de que ela está “implícita” no texto grego, embora na verdade não esteja incluída nele. Finalmente, note-se que Policarpo diz que estes apóstolos falecidos “estão [agora] no lugar que lhes corresponde na presença do Senhor…” – não que eles estão “no céu” (considerando-se que o Senhor é conhecido por ser onipresente, isso realmente não diz muita coisa.)#

O Martírio de Policarpo também contêm várias referências a esses tópicos, algumas das quais pretendem ser citações do próprio Policarpo, como, por exemplo, a seguinte:

“Você (referindo-se ao procônsul) me ameaça com o fogo que queima por uma hora, e depois de pouco tempo se extingue, mas [você] é ignorante acerca do fogo do vindouro julgamento…, reservado para os ímpios.” (Martírio 11:4)

“Eu lhe dou (referindo-se a Deus), graças pelo Senhor ter me contado digno deste dia e desta hora, que eu deva ter parte na…  ressurreição… tanto da alma como do corpo,…” (Martírio 14:3).

(Outras referências à imortalidade em O Martírio de Policarpo devem ser estudadas separadamente, pois não necessariamente refletem os conceitos de Policarpo, e sim os dos autores da carta. Eu não incluí estes autores como “fontes” deste livro, já que é incerto quanto do atual texto da carta é original, e quanto reflete interpolações de copistas posteriores, diversos dos quais são listados no atual texto do capítulo 22.)

Policarpo pode não ter afirmado especificamente que acreditava na destruição final dos que rejeitam a Cristo, mas, pelo menos, “ele nunca sugere a existência interminável dos condenados no sofrimento eterno.”22 Salvo muita evidência em contrário, então, sinto que devo classificá-lo, junto com seu bom amigo, Inácio, como condicionalista.

Pápias de Hierápolis

Pápias nasceu por volta de 70 DC; não se sabe onde. Ele foi discípulo do apóstolo João, um amigo de “outros que viram o Senhor” e de Policarpo de Esmirna, e serviu como bispo de Hierápolis, na Frígia, durante a primeira metade do segundo século.23 Ele foi martirizado em Pérgamo por volta de 163 DC.24

Pápias escreveu uma obra de cinco volumes intitulada Explanação dos Discursos do Senhor que foi frequentemente citada por escritores posteriores, como Irineu de Lyon (130-202 DC) e Eusébio de Cesaréia. (263-339 DC). Uma vez que nenhum exemplar destes livros permaneceu até os dias de hoje, só sabemos do conteúdo deles por meio de fragmentos preservados nessas citações.

Em nenhum desses fragmentos Pápias aborda diretamente a questão da imortalidade humana, mas há um trecho em que ele cita 1 Coríntios 15:25,26, onde o apóstolo Paulo afirma: “Pois é necessário que ele [Jesus] reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.” Este é um trecho “predileto” de muitos condicionalistas, que entendem isso como um ensinamento de que, em primeiro lugar, os incrédulos serão “destruídos”, daí o agente de destruição (a “morte”) em si deixará de existir. Os autores naturalistas que consultei raramente fazem referência a este trecho de qualquer maneira. Seria difícil, com base nessa evidência tão tênue, elaborar uma conclusão acerca de qual posição Pápias mantinha, exceto dizer que, se ele era um naturalista, não deixou qualquer pista (conhecida por nós) que nos convença de que ele era. Por isso, prefiro classificá-lo, juntamente com o seu bom amigo, Policarpo de Esmirna, como condicionalista.

O(s) Escritor(es) da Didaqué

Didaqué, ou Ensino dos Doze Apóstolos, é um manual catequético (para ser usado na instrução dos novos convertidos ao Cristianismo) escrito por volta do ano 120 DC no Egito ou na Síria.25 Apresenta os padrões morais do Cristianismo como “o Caminho da Vida” (Didaqué 1:2) e o pecado como “o Caminho da Morte” (Didaqué 5:1).

Assim, longe de significar que esta “morte” envolve o tormento eterno das almas imortais, esta mais antiga tentativa conhecida de criar uma “Teologia Sistemática” quer dizer que os incrédulos não vão sequer ser levantados para o julgamento! Didaqué 16:6-7 diz: “E ‘então aparecerão os sinais’ da verdade. Primeiro o sinal se espalhará no Céu, daí o sinal do som da trombeta, e em terceiro lugar a ressurreição dos mortos, mas não de todos os mortos, e sim como foi dito, ‘O Senhor virá e todos seus santos com ele.’”26

Esta posição (a não ressurreição dos ímpios mortos), tem sido mantida em tempos modernos por uma pequena minoria de condicionalistas – por exemplo, pela denominação “União da Vida e do Advento”, que foi fundada em 1863, e se fundiu com a Conferência Geral do Advento dos Estados Unidos em 1964 – mas certamente esta posição jamais foi aceita por algum naturalista! Há pouca dúvida, portanto, de que devo classificar o(s) escritor(es) do Ensino dos Doze Apóstolos junto com os outros condicionalistas do início do segundo século.

Este fato pode ser ilustrado ainda por meio da referência à Didaqué 10:2, que diz: “Damos-te graças, Ó Santo Pai, pelo Vosso Santo Nome que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento e fé e imortalidade que tornaste conhecidos a nós por meio de Teu Filho Jesus.”27 Esta declaração significa que o(s) autor(es) da Didaqué não acreditava(m) que a imortalidade era um atributo natural da alma ou do espírito humano. O versículo seguinte (Didaqué 10:3) diz: “Tu, Senhor Todo-Poderoso, criaste todas as coisas por amor do Teu Nome, e proveu alimento e bebida aos homens para o deleite deles, e para que possam dar graças a Ti, mas a nós abençoaste com alimento e bebida espiritual e luz eterna por meio de Teu Filho (Jesus)”.28 Esta declaração também significa que o(s) autor(es) não acreditava(m) que os incrédulos (referidos no versículo como “homens”), possuem naturalmente a vida eterna (que é referida no versículo como “luz eterna”).

Estou, portanto, convencido de que o(s) autor(es) desconhecido(s) da Didaqué era(m) condicionalista(s).

Quadrato de Atenas

Quadrato nasceu no final do primeiro século, em algum lugar na Ásia Menor. “Segundo Eusébio, ele alegou ter sido discípulo dos apóstolos.”29 Ele serviu como bispo de Atenas durante a primeira metade do século II. Nada sabemos sobre a época ou as circunstâncias de sua morte.

Em 126 DC, Quadrato escreveu uma Apologia da Religião Cristã que foi dirigida ao Imperador Adriano. Só um pequeno fragmento deste trabalho foi preservado.

O pouco que temos da Apologia enfatiza a ressurreição dos mortos, frequentemente usando termos tais como “levantado dentre os mortos” e “levantado”. Ele não faz qualquer menção do conceito de uma alma imortal. Admitidamente esta evidência é escassa, mas na falta de qualquer outra evidência, prefiro classificar Quadrato, pelo menos provisoriamente, como condicionalista, juntamente com seu amigo e concidadão, Aristides de Atenas.

“Matetes”

“Matetes” nasceu em algum momento durante a segunda metade do primeiro século; não se sabe onde. Ele foi “um discípulo dos apóstolos” (segundo sua Homilia Sobre a Palavra 1:1).30 Nada sabemos sobre a época ou circunstâncias de sua morte.

Por volta de 130 DC, “Matetes” escreveu uma Homilia Sobre a Palavra, cujos capítulos iniciais não mais são conhecidos, mas os últimos dois capítulos foram preservados, pelo fato de um copista desconhecido tê-los incluído na Epístola a Diogneto (possivelmente o mesmo Diogneto que foi tutor do imperador romano, Marco Aurélio), sendo que uma cópia desta foi descoberta em 1592 DC e daí destruída por um incêndio em 1870 DC. Ninguém sabe quem foi o escritor dessa Epístola (referida comumente como Diogneto), nem quando ou onde foi escrita. A Homilia Sobre a Palavra é frequentemente apresentada como Diogneto 11:1–12:9; porém, tomarei a liberdade de renumerar seus versículos como Homilia Sobre a Palavra  1:1–2:9.

Homilia Sobre a Palavra 2:2 diz que “não é a árvore do conhecimento que destrói – é a desobediência que se prova destrutiva.” Homilia Sobre a Palavra 2:3, 4 prossegue dizendo, “Deus… plantou a árvore da vida no meio do paraíso, revelando… o caminho da vida… Pois nem a vida pode existir sem conhecimento, nem é o conhecimento seguro sem a vida.”

Se a “vida” não pode existir sem o conhecimento, então, claramente, os seres humanos não podem ser imortais por natureza; já que, se fossem, suas vidas continuariam a existir para sempre, mesmo que eles não adquirissem conhecimento.

Dessa forma, sinto-me justificado, embora talvez com algo a menos do que a certeza, em classificar “Matetes” (pelo menos provisoriamente) como condicionalista.

Clemente de Corinto

O documento comumente chamado de 2 Clemente é há muito tempo intrigante para os eruditos em Patrística. Segundo M. B. Riddle, ele é obra de “um autor desconhecido”, que pode ter sido bispo de Corinto “entre 120 DC e 140 DC”31 – por esta razão, vou chamá-lo de “Clemente de Corinto” como uma maneira de honrar tanto a tradição de ele ter sido escrito por “Clemente” como a probabilidade de que ele tenha sido escrito em Corinto.

2 Clemente 1:7 afirma que Jesus Cristo “salvou-nos quando estávamos prestes a perecer”; o versículo 9 do mesmo capítulo acrescenta que “toda a nossa vida era nada mais que a morte”, e o versículo 11 faz referência à “destruição a que fomos expostos (antes de ele nos salvar).”

2 Clemente 2:6 descreve os “pecadores” (2 Clemente 2:5, citando Mateus 9:13) como “os que perecem”; 2 Clemente 2:8 também se refere a eles como “perecendo” e indo rapidamente para a destruição”.

Em contraste, 2 Clemente 5:5 descreve “a promessa de Cristo” como “vida eterna”, e o versículo 6 prossegue perguntando: “Por qual maneira de agir, então, vamos conseguir [esta bênção]?” Naturalmente, nenhuma “maneira de agir” seria necessária para se “conseguir” alguma coisa que já se possui naturalmente!

No Capítulo 6, Clemente discute a “inimizade” entre “este mundo e o próximo” (versículo 4). Neste contexto, ele descreve as coisas “que estão por vir”, como sendo “incorruptíveis” (versículo 7). Em contraste (se não “fizermos a vontade de Cristo”), “nada nos livrará da punição eterna” (versículo 8). Uma vez que o oposto de “incorruptível” é, por definição, “corruptível”, o conceito de Clemente sobre “punição eterna” deve ser o de “corrupção” (uma palavra usada frequentemente de maneira intercambiável tanto com “morte” como com “destruição” nos escritos que estamos estudando).

Novamente, 2 Clemente 7:3 faz referência ao “caminho reto” como “a corrida que é incorruptível” e 2 Clemente 7:7 faz referência a isso como “a competição incorruptível”.

No Capítulo 8, Clemente diz que “por fazer a vontade do Pai, e manter a carne santa, e observar os mandamentos do Senhor, alcançaremos a vida eterna” (versículo 4) e realmente “cita” o Senhor como dizendo: “Mantenha a carne santa e o selo imaculado, para que possais receber a vida eterna” (versículo 6). “Alguns pensaram que esta é uma citação de um livro apócrifo desconhecido, mas isso parece mais uma explicação das palavras precedentes.”32

2 Clemente 15:2 usa a expressão bem rara “alma que perece” para descrever um ouvinte de sua mensagem não salvo. No capítulo 17, ele exorta seus ouvintes: “Arrependamo-nos, portanto, de todo o coração, para que nenhum de nós pereça” (versículo 1) e exclama, “quanto mais deve uma alma que já conhece a Deus não perecer!” (versículo 2). Depois, no mesmo capítulo, ele diz, “tentemos fazer avanços nos mandamentos do Senhor, para que… possamos estar reunidos para a vida (claramente, a vida eterna)” (versículo 4). Em contraste, no versículo 10 ele diz que “os que… negaram Jesus… são punidos com tormentos penosos em fogo inextinguível”. Todavia, ele não insiste (como fazem os naturalistas modernos) que estes “tormentos” continuarão para sempre. Ao dizer que o “fogo” é “inextinguível” ele simplesmente enfatiza que o trabalho destrutivo deste fogo continuará ininterruptamente até que esteja concluído! Lembremos que este destino está posicionado como oposto à promessa de “vida” (eterna) para os que escaparem dele. De modo que ele não pode consistir em algum “viver para sempre” numa “condição pior”. Deve consistir de por fim deixar de viver.

No capítulo 19, Clemente incentiva seus ouvintes a “arrepender-se de todo o coração, dando, assim, a vós mesmos a salvação e a vida [eterna].” (versículo 2). Depois, no mesmo capítulo, ele promete aos que “sofrem o mal no mundo” que “eles usufruirão o fruto imortal da ressurreição” (versículo 8), levando à experiência de “viver novamente… por uma eternidade” (versículo 10).

Por fim, em sua doxologia concludente, Clemente faz referência a Jesus como o “Príncipe da incorrupção” (2 Clemente 20:6).

O livro de Clemente (que é realmente uma homilia, ou sermão) ganhou o título de “2 Clemente” porque durante muito tempo a autoria dele foi atribuída erroneamente (por muitas pessoas) a Clemente de Roma, cuja Epístola aos Coríntios (o único trabalho que se sabe que ele escreveu) era, portanto, chamada de “1 Clemente” (veja acima). Certamente este erro não poderia ter sido cometido se Clemente de Corinto defendesse um conceito tão diferente de uma doutrina tão fundamental quanto a da imortalidade humana. Porém, já vimos que não há dúvida de que Clemente de Roma era condicionalista. Este fato, por si só – reforçado, como é, pelas inúmeras referências já citadas – é o bastante para deixar claro que Clemente de Corinto, assim como seu antecessor e homônimo, era condicionalista.

Barnabe de Alexandria

A chamada Epístola de Barnabé foi escrita por volta de 135 DC por um cristão judeu desconhecido que agora é referido comumente como “Barnabé de Alexandria”. Este Barnabé não é o apóstolo Barnabé, que acompanhava o apóstolo Paulo; mas ele é geralmente classificado como um dos Pais Apostólicos.33

Em vários lugares, Barnabé descreve a recompensa do cristão como uma oportunidade de “viver para sempre” (o que significa que os incrédulos não viverão para sempre). Por exemplo:

Em Barnabé 6:3, ele cita Isaías 28:16 como dizendo, “aquele que espera por ele viverá para sempre.” Na verdade, Isaías 28:16 diz: “aquele que confia, jamais será abalado.” O apóstolo Paulo, de maneira semelhante, reformula este versículo quando o cita em Romanos 10:11, como dizendo: “Todo o que nele confia jamais será envergonhado.”34 Em todo caso, o ponto de Barnabé (por implicação) é que os que não “esperam nele” não vão “viver para sempre”.

Em Barnabé 8:5, ele faz referência a esta citação outra vez, dizendo: “E por que a lã foi posta na madeira? Porque o reino de Jesus está na madeira, e porque os que nele esperam viverão para sempre.”35

Em Barnabé 9:6, ele cita o Salmo 34:12 como perguntando: “Quem é que deseja viver para sempre?” Na verdade, o Salmo 34:12 diz: “Quem de vocês quer amar a vida e deseja ver dias felizes?” Assim, enquanto Davi pode ter perguntado apenas sobre uma vida longa, Barnabé entende claramente que ele estava perguntando sobre a vida eterna. Mas, se os seres humanos possuíssem inerentemente a imortalidade, a pergunta nem faria qualquer sentido.

Em Barnabé 11:10, ele faz referência a Ezequiel 47:1-12 como ensinando que “havia um rio que flui da direita, e belas árvores cresceram dele, e quem comer delas viverá para sempre.”36 Este é um justo resumo do trecho um tanto longo de Ezequiel. Barnabé 11:11 prossegue “explicando” este ensino, dizendo: “Ele quer dizer que quem ouve e acredita nessas coisas ditas viverá para sempre.”37

Em relação ao destino dos incrédulos, Barnabé 6:2 cita Isaías 50:9 como dizendo: “Ai de vós, pois todos ireis envelhecer como uma peça de vestuário e a traça os comerá.”38 Esta é uma citação bem precisa.

Em Barnabé 11:7, ele cita o Salmo 1:4-6 como dizendo: “Não é assim com os ímpios, não é assim; mas eles são mesmo como a palha que o vento leva da face da terra. Por conseguinte, os ímpios não se levantarão no julgamento, nem os pecadores na assembleia dos justos, pois o Senhor conhece o caminho dos justos, e o caminho dos ímpios perecerá.”39 Esta também é uma citação bem precisa e é outro trecho “favorito” de muitos escritores condicionalistas. Note-se que Barnabé reformulou um pouco o Salmo 1:5, para que ele dissesse, “os iníquos não se levantarão [N.T.: no sentido de ‘ressuscitar’; inglês: to rise up] no julgamento”, onde o Salmo realmente diz, “os ímpios não se levantarão [N.T.: no sentido de ‘ficar de pé’ ou ‘tomar posição’; inglês: to stand] no julgamento”. Isto pode ser uma indicação de que ele mantinha a posição de “não-resurreicionista” que descrevi em conexão com nossa consideração sobre a Didaqué (veja a pág. 19).

Barnabé 15:9 diz: “Seu Filho, vindo [novamente], destruirá o tempo do homem iníquo, e julgará os ímpios”… Se o “tempo” do homem iníquo deverá ser “destruído” na época do “julgamento” dos “ímpios”, os próprios iníquos e ímpios devem ser “destruídos”, senão eles iriam de algum modo existir sem terem qualquer “tempo” no qual viver. Três versículos depois (15:12), Barnabé prossegue dizendo: “nós mesmos, tendo recebido a promessa, com a maldade não mais existindo, e tendo todas as coisas sido feitas novas pelo Senhor, seremos capazes de administrar a justiça.” Se a “maldade” já não está “existindo”, após o dia do juízo, então as pessoas ímpias e iníquas devem elas próprias estar na condição de inexistentes. Então, elas certamente não podem ser imortais, se haverá um tempo em que elas vão deixar de existir.

Barnabé 20:1 diz que “o Caminho do Sombrio (ou seja, o Diabo) é torto e cheio de maldição, pois é o caminho da morte eterna com punição, e nele estão as coisas que destroem sua alma: idolatria, perversidades, arrogância do poder, hipocrisia, coração hipócrita, adultério, assassinato, roubo, orgulho, transgressão, fraude, malícia, autossuficiência, encantamentos, magia, avareza, falta de temor a Deus;”40

E Barnabé 21:1-3 diz: “É bom, portanto, que aquele que aprendeu as ordenanças do Senhor, tantas quantas foram escritas, ande nelas. Pois o que faz estas coisas há de ser glorificado no reino de Deus, e quem escolhe as outras perecerá com as suas obras. Por esta razão, há uma ressurreição, por esta razão há uma recompensa.”41

Em toda a epístola não se faz qualquer menção de “alma imortal” ou de “tormento sem fim”. Claramente, Barnabé de Alexandria deve ser classificado como condicionalista.

Aristides de Atenas

Marciano Aristides nasceu em algum momento no final do primeiro século, provavelmente em Atenas. Ele era filósofo, e continuou a usar seu manto de filósofo depois que se tornou cristão no início do segundo século. Nada sabemos sobre o momento ou as circunstâncias de sua morte.

Aristides escreveu uma Apologia por volta de 140 DC, dirigida ao imperador romano, Antonino. Este livro ficou perdido durante centenas de anos, mas foi redescoberto no final do século 19.42

A Apologia faz duas declarações sobre o assunto da imortalidade. No capítulo 1, ela diz que “Deus” (não o homem!) é “imortal”; e no capítulo 7 afirma-se que o homem “tem um princípio e um fim” e ele é “destruído” pela “morte”. Estas afirmações são comuns em escritos condicionalistas. Por outro lado, Aristides não faz quaisquer declarações que me inclinem a pensar que ele era naturalista. Portanto, eu o classifico como condicionalista.

Hermas de Roma

Hermas nasceu por volta de 100 DC, em Roma. Seu irmão, Pio I, serviu como o décimo bispo de Roma entre 140-155 DC.43Hermas e Pio podem ter sido netos do Hermas a quem o apóstolo Paulo enviou saudações em Romanos 16:14. Não sabemos coisa alguma sobre a época ou as circunstâncias da morte dele.

Por volta de 154 DC, Hermas escreveu uma novela (uma espécie de “Pilgrim’s Progress” [“O Peregrino”] do segundo século) chamada O Pastor, que é dividida em três partes, conhecidas, respectivamente, como as Visões, os Mandamentos e as Similitudes (ou Parábolas). Pio elogiou oficialmente este livro como uma “instrução útil para o povo.” Como resultado, ele veio a ser muito popular, e muitas pessoas acharam que ele deveria ser incluído no Novo Testamento.

O Pastor usa frequentemente a expressão “viver em Deus” com o significado de “viver para sempre” (um uso derivado possivelmente de Romanos 6:10, onde o apóstolo Paulo, ao falar de Cristo, diz: “Porque morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; mas vivendo, vive para Deus.” – significando claramente, neste contexto, “vive para sempre”), e quase sempre associa esta expressão com alguma condição tal como “se observares todos estes mandamentos”. Eis aqui alguns exemplos deste uso [N.T.: A tradução de “O Pastor” à qual se recorreu aqui está estruturada de maneira diferente da versão que foi consultada pelo autor. Os capítulos correspondentes da tradução usada aqui são citados entre colchetes, após cada trecho.]

“Observa isso e afasta de ti todo mal, para que sejas revestido de toda virtude de justiça, e viverás para Deus, se observares esse mandamento.” (Mandamentos 1:5 [Capítulo 26]).

“E todo aquele que observar esse mandamento e se abstiver desse grande vício da mentira, viverá em Deus.” (Mandamentos 3:10 [Capítulo 28])

“Viverás, se observares meus mandamentos e seguires seus caminhos. Quem ouvir esses mandamentos e os observar, viverá em Deus.” (Mandamentos 4:17 [Capítulo 30])

“Observa, portanto, a castidade e a santidade, e viverás em Deus.” (Mandamentos 4:27 [Capítulo 32])

“Todos os que se arrependerem de todo o seu coração, viverão em Deus” (Mandamentos 5:9)

“Quem ouvir esses mandamentos e os observar, viverá em Deus.” (Mandamentos 5:19 [Capítulo 30])

“… e todos os que agirem assim, também viverão em Deus. (Mandamentos 6:18 [Capítulo 38])

“Abstém-te, portanto, de tudo isso, para que vivas em Deus.” (Mandamentos 8:7 [Capítulo 38])

“E ainda, se não praticares o mal e te abstiveres dele, viverás em Deus; e todos aqueles que guardarem esses mandamentos e andarem em seus caminhos, também viverão em Deus.” (Mandamentos 8:12 [Capítulo 38])

“Serve, portanto, à fé que tem força e afasta a dúvida que não tem força nenhuma. Então viverás em Deus, e todos os que pensam assim também viverão em Deus.” (Mandamentos 9:11 [Capítulo 39])

“Purifica-te, portanto, dessa tristeza maligna, e viverás em Deus. E todos os que afastarem de si a tristeza e se revestirem de toda alegria, também viverão em Deus.” (Mandamentos 10:23 [Capítulo 42])

“É preciso, portanto, abster-se dos desejos maus para que, abstendo-vos, vivais em Deus.” (Mandamentos 12:6 [Capítulo 45])

“Observai seus mandamentos e vivereis em Deus.” (Mandamentos 12:33 [Capítulo 49])

“Todos aqueles que os guardarem, purificando o coração dos desejos vazios deste mundo, viverão em Deus.” (Mandamentos 12:36 [Capítulo 49])

Se fizeres isso e o temeres, abstendo-te de toda obra má, viverás em Deus.” (Parábolas 5:6 [Capítulo 54])

“Portanto, conserva os dois puros, e viverás em Deus.” (Parábolas 5:63 [Capítulo 60])

“Quem quer que andar neles viverá em Deus.” (Parábolas 6:1 [Capítulo 61])

“Caminhai, portanto, conforme os meus mandamentos, e vivereis em Deus.” (Parábolas 6:6 [Capítulo 61])

“Vai e dize a todos que façam penitência, e viverão em Deus.” (Parábolas 8:79 [Capítulo 77])

“Todos os que se arrependerem do fundo do coração, se purificarem dos pecados anteriormente assinalados e não acrescentarem mais nada a seus pecados, receberão do Senhor a cura de seus pecados passados, se não duvidarem a respeito desses mandamentos; então eles viverão em Deus.” (Parábolas 8:82 [Capítulo 77])

Se fizerem penitência, viverão em Deus.” (Parábolas 9:204 [Capítulo 99])

Por outro lado, em muitos lugares Hermas descreve o destino final dos ímpios como “morte”, “destruição”, “não viver”, “morrer para Deus”, etc. Aqui estão alguns exemplos desse uso:

“O rancor provoca a morte.” (Visões 2:23 [Capítulo 7])

“Sê simples e inocente, e serás como as crianças que não conhecem o mal que destrói a vida dos homens.” (Mandamentos 2:1 [Capítulo 27])

“Se alguém realiza esse ato vicioso, prepara a morte para si mesmo.” (Mandamentos 4:2 [Capítulo 29])

“O caminho tortuoso não tem trilhas, mas é impraticável, cheio de obstáculos, pedregoso e espinhoso. Ele é fatal para os que nele caminham.” (Mandamentos 6:4 [Capítulo 35]).

“O servo de Deus deve abster-se dessas obras, pois aquele que não se abstém delas, não pode viver em Deus.” (Mandamentos 8:4 [Capítulo 38])

“O desejo mau é selvagem e difícil de amansar. É terrível, e com sua selvageria consome os homens. Principalmente se o servo de Deus cair nesse desejo e não tiver discernimento, será consumido de modo terrível. Ele consome também os que não têm a veste do desejo bom e se deixam enredar por este mundo. O desejo entrega-os à morte.” (Mandamentos 12:2 [Capítulo 44]).

“É preciso, portanto, abster-se dos desejos maus para que, abstendo-vos, vivais em Deus. Todos os que são dominados por eles e não lhes resistem, acabarão morrendo, pois esses desejos são mortais.” (Mandamentos 12:6 [Capítulo 45])

“Escutai, portanto, e temei aquele que pode salvar ou destruir tudo; observai seus mandamentos e vivereis em Deus.” (Mandamentos 12:33 [Capítulo 49])

“Entretanto, naquele mundo, os pagãos e os pecadores, as árvores secas que viste, serão encontrados secos e mortos, e serão queimados, como madeira morta, patenteando-se assim que durante a vida deles sua conduta foi má.” (Parábolas 4:4 [Capítulo 53])

“Se manchas tua carne, mancharás também o Espírito Santo. Portanto, se manchas tua carne, não viverás.” (Parábolas 5:59 [Capítulo 60])

“Para eles não há mais penitência para a vida, porque, além de tudo, blasfemaram contra o nome do Senhor. Para eles, portanto, resta apenas a morte.” (Parábolas 6:13 [Capítulo 62])

“A corrupção conserva ainda alguma esperança de restauração, ao passo que a morte implica em perdição eterna.” (Parábolas 6:15 [Capítulo 62])

“As volúpias perniciosas, de que falamos antes, só lhe trazem tormentos e castigos. Caso se obstinem e não se arrependam, acarretam a morte para si mesmos.” (Parábolas 6:44 [Capítulo 65])

“Tais indivíduos estão definitivamente mortos para Deus. Vês que nenhum deles fez penitência, embora tenham ouvido as palavras que lhes transmitiste, sob minha ordem. A vida, portanto, foi tirada desses homens.” (Parábolas 8:52 [Capítulo 72])

“Outros ainda farão penitência, e todos aqueles que não fizerem penitência, já perderam a vida.” (Parábolas 8:54 [Capítulo 72])

“Vês, portanto, que a penitência dos pecadores traz vida, e a impenitência, traz morte.” (Parábolas 8:55 [Capítulo 72])

“Aqueles que não fizerem penitência, persistindo em suas ações, certamente morrerão.” (Parábolas 8:59 [Capítulo 73])

“Contudo, se um deles voltar novamente à discórdia, será expulso da torre e perderá a própria vida.” (Parábolas 8:63 [Capítulo 73])

“Nessas pessoas, portanto, está a vida do Senhor; nos que provocam discórdia e violam a lei, está a morte.” (Parábolas 8:64 [Capítulo 73])

Se não fizerem penitência, também eles já terão perdido a vida.” (Parábolas 8:67 [Capítulo 74])

“Outros se afastaram definitivamente de Deus; esses perderam definitivamente a vida.” (Parábolas 8:68 [Capítulo 74])

“Mas, se eles se obstinarem em suas ações, estarão trabalhando para a própria morte.” (Parábolas 8:69 [Capítulo 74])

“Para os que não fazem penitência, mas permanecem nos seus prazeres, a morte está próxima.” (Parábolas 8:74 [Capítulo 75])

“Todos aqueles, porém, que aumentarem seus pecados e caminharem nas paixões deste mundo, se condenarão à morte.” (Parábolas 8:83 [Capítulo 77])

Se aquele que deve praticar o bem, pratica o mal, não te parece que comete erro maior do que aquele que não conhece a Deus? Por isso, aqueles que não conhecem a Deus e praticam o mal, são condenados à morte. Mas os que conhecem a Deus, que viram sua grandeza, e ainda praticam o mal, serão duplamente castigados, e morrerão para sempre.” (Parábolas 9:173 [Capítulo 95])

Se fizerem penitência e praticarem algo de bom, viverão em Deus; mas, se persistirem obstinados em suas obras, serão entregues àquelas mulheres que os matarão.” (Parábolas 9:192 [Capítulo 97])

“Contudo, também eles, se fizerem logo penitência, viverão; se não fizerem penitência, porém, já estão entregues às mulheres que lhes tirarão a vida.” (Parábolas 9:197 [Capítulo 98])

“O Senhor curará vossos pecados passados, se vos purificardes desse demônio; caso contrário, sereis entregues a ele para a morte.” (Parábolas 9:209 [Capítulo 100])

“Portanto, se alguém quiser fazer penitência, que a faça logo, antes que a torre esteja terminada. Caso contrário, será morto pelas mulheres.” (Parábolas 9:225 [Capítulo 103])

“Da mesma forma, as palavras dessas pessoas envenenam o homem e o fazem morrer.” (Parábolas 9:227 [Capítulo 103]).

“Alguns fizeram penitência e foram salvos; os outros, sendo como são, podem ser salvos, se se arrependerem. Se não fizerem penitência, morrerão vitimados pelas mulheres.” (Parábolas 9:228 [Capítulo 103]).

“Com efeito, é má intenção um servo renegar seu próprio Senhor. Vigiai, portanto, vós que tendes essa intenção, para que ela não permaneça em vosso coração, e morrais para Deus.” (Parábolas 9:238 [Capítulo 105])

“No entanto, se permanecerdes na malícia e no rancor, não vivereis em Deus.” (Parábolas 9:276 [Capítulo 110])

“Por outro lado, todos aqueles que não observam seus mandamentos, afastam-se da vida e desprezam o pastor. No entanto, o pastor, tem a sua honra junto de Deus. Todos aqueles que o desprezam e não observam seus mandamentos, se entregam à morte.” (Parábolas 10:13 [Capítulo 112])

“Todo aquele que se comportar conforme esses mandamentos, viverá, e será feliz em sua vida. Por outro lado, quem os deixar à margem, não viverá, e será infeliz em sua vida.” (Parábolas 10:23 [Capítulo 114]).

A doutrina da imortalidade condicional talvez nunca tenha sido mais claramente expressa do que em Mandamentos 7:6, que diz: “Os que o temem [isto é, ao Senhor] e guardam seus mandamentos têm a sua vida junto de Deus. Aqueles, porém, que não guardam seus mandamentos não têm vida em si mesmos.”

“Hermas claramente não defende a imortalidade inerente e imprescritível para os ímpios.”44 Em trecho algum neste livro (que é quase tão longo, em versículos, como o Evangelho de Mateus) ele menciona, ou mesmo insinua, os conceitos de alma indo para o céu ou para o inferno por ocasião da morte, o tormento eterno dos condenados, uma “alma imortal”, ou um “espírito imperecível”. Ademais, longe de representar uma posição minoritária na Igreja Primitiva, sabemos que O Pastor foi citado como Escritura por Irineu de Lyon (130-202 DC); foi elogiado por Tertuliano de Cartago (145-220 DC); foi considerado divinamente inspirado por Orígenes de Alexandria (185-254 DC); foi lido publicamente nas igrejas na época de Eusébio de Cesaréia (263-339 DC); foi citado por Atanásio de Alexandria (296-373 DC); foi aclamado por Jerônimo de Belém (345-420 DC); e foi associado a alguns dos mais antigos manuscritos do próprio Novo Testamento!45 Devo concluir que, tanto o próprio Hermas foi condicionalista como também que ele escreveu O Pastor num momento da história em que o condicionalismo era mantido pela maioria predominante dos cristãos.

Ademais, uma vez que já completamos nosso estudo dos Pais Apostólicos e descobrimos que nenhum deles era naturalista, tenho de concordar com a conclusão do Dr. James K. Brandyberry de que “o ensino da imortalidade inata está ausente nos Pais Apostólicos, os escritores cristãos que viveram mais próximos ou cujas vidas coincidiram parcialmente com a do último dos apóstolos.”46

Os Pais Sub-Apostólicos

Conforme já mencionado, os Pais Sub-Apostólicos que escreveram sobre o tema da imortalidade humana foram:

Justino de Samaria (106-165 DC )

Taciano da Assíria (110-180 DC)

Teófilo de Antioquia (115-181 DC)

Melito de Sardes (??-190 DC)

Atenágoras de Atenas (127-190 DC)

Polícrates de Éfeso (125-196 DC)

Irineu de Lyon (130-202 DC)

Os escritos deles abrangem aproximadamente a segunda metade do segundo século DC.

Justino de Samaria

Flávio Justino, popularmente conhecido como Justino, o Mártir (este apelido significa “a Testemunha”), nasceu por volta de 106 DC em Flávia Neápolis (anteriormente conhecida como Siquém, atualmente conhecida como Nablus), em Samaria. Quando jovem, estudou em todas as grandes escolas filosóficas dos gregos – estoica, aristotélica, pitagórica e platônica. “Estas filosofias nunca o satisfizeram.”47 Ele se converteu ao Cristianismo por volta do ano 130, mas continuou a usar a roupagem distintiva dum filósofo, “como um sinal de que ele tinha alcançado a única filosofia verdadeira.” Ele viajou extensamente, estabelecendo-se por fim (por volta de 150 DC) em Roma, onde trabalhou como professor. Justino “foi realmente o primeiro a esforçar-se para interpretar o Cristianismo do ponto de vista grego.” Durante essa época, os cristãos eram constantemente perseguidos. Junto com outros cristãos, Justino foi interrogado por Q. Júnio Rústico, que era o prefeito da cidade de Roma. Os cristãos foram ordenados a renunciar ao Cristianismo e oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Junto com Justino, todos eles se recusaram a renunciar à sua fé e, assim, foram decapitados por sua profissão do Cristianismo em algum momento entre 163 e 167 DC.

Os escritos de Justino incluem sua Primeira Apologia (155 DC), o Diálogo Com Trífon (158 DC) e sua Segunda Apologia (161 DC), bem como vários tratados menores e menos conhecidos, tais como Discurso aos Gregos, Dirigido aos Gregos, Sobre o Governo Único de Deus e Sobre a Ressurreição.

Na Primeira Apologia 8:2, Justino diz: “… desejando a vida eterna e pura, [nós, cristãos] aspiramos à convivência com Deus, Pai e artífice do universo. E, por isso, nós nos apressamos a confessar a nossa fé, pois estamos persuadidos e acreditamos que esses bens podem ser conseguidos por aqueles que por suas obras demonstraram ter seguido a Deus e desejado sua convivência, onde nenhuma maldade poderá nos atingir.” Dustin Smith (em seu artigo não publicado sobre Justino, o Mártir) comenta que “… a vida eterna… soa como algo que não temos, porque é algo que almejamos… a vida eterna é algo que podemos obter.”48 Mas por que desejaríamos – e por que precisaríamos obter – a vida eterna se nós já a possuíssemos, por natureza?

Na Primeira Apologia 10:3, Justino diz: “… do mesmo modo como no princípio [Deus] nos fez do não ser”, e ele prossegue argumentando, com base nesta premissa, “assim também cremos que àqueles que escolherem o que lhe é grato concederá a incorruptibilidade…” Esse argumento significaria que: 1) os que não escolhem o que é agradável a Ele não são considerados dignos da incorruptibilidade, ou da imortalidade; e 2) uma vez que os incrédulos não existiam antes de serem criados, eles não existirão quando os salvos forem feitos imortais.

Na Primeira Apologia 13:2, Justino apresenta uma das várias funções de um cristão como “dirigir-lhe [a Deus], por nossa palavra louvores e hinos… ao mesmo tempo que lhe suplicamos que nos conceda de novo a incorruptibilidade pela fé que nele temos.” Se, porém, as almas (mesmo as daqueles que não têm fé nele) são, por natureza incorruptíveis, como Platão ensinou, por que tais ‘súplicas’ deveriam ser feitas?

Na Primeira Apologia 21:6, Justino diz que “quanto a alcançar a imortalidade, nos foi ensinado que  a alcançam aqueles que vivem santa e virtuosamente perto de Deus”. Claramente, com base no uso que ele fez da palavra ‘alcançar’ neste contexto, ele quis dizer que eles não são “automaticamente” imortais; também, com base no uso da palavra “apenas”, ele certamente quer dizer que os que não “vivem perto de Deus” não são imortais.

Da mesma forma, em seu Discurso aos Gregos 5:6, Justino diz: “A Palavra [Divina]… torna os mortais imortais,….” Parece ser um exagero do óbvio salientar que “mortais” (por definição) não são “imortais” – e que é preciso haver a intervenção milagrosa de Deus para “torná-los” assim! No entanto, uma declaração tão óbvia como essa é precisamente o que os defensores do naturalismo negam.

Na Primeira Apologia 26:2-4, como parte de uma longa seção sobre os falsos profetas, Justino descreve a carreira, e a posterior veneração, de Simão, o Mago (veja Atos 8:9-24), e prossegue descrevendo (no versículo 5) Meandro de Caparetéia como “um discípulo de Simão [Mago], e inspirado por demônios….” No versículo 6, ele nos informa que Meandro “convenceu aqueles que o seguiram de que eles nunca morreriam…” – desta forma afirmando implicitamente, como ele faz em outros lugares, que os ímpios finalmente morrem (em oposição à ideia de que eles viveriam para sempre em tormento consciente).

Na Primeira Apologia 39:10, ao comparar a lealdade dos soldados romanos ao imperador com a lealdade dos cristãos a Cristo, Justino diz, “se os soldados registrados por você, e que fizeram o juramento militar, colocam sua lealdade [a você] acima da própria vida deles… embora você não possa oferecer-lhes nada incorruptível, seria deveras ridículo, se nós, que ansiamos há muito tempo pela incorruptibilidade, não suportássemos todas as coisas (por exemplo, perseguição, tortura, morte), para obtermos o que desejamos (a saber, incorruptibilidade, ou imortalidade) dele (isto é, de Deus), que é capaz de concedê-la.” Por que os cristãos “ansiariam há muito tempo” por “obter” imortalidade “daquele que é capaz de concedê-la” se eles já a possuíssem por natureza?

A Primeira Apologia 42:5 diz: “Jesus Cristo, sendo crucificado e morto, ressuscitou, e tendo ascendido ao céu, reinou; e por essas coisas que foram publicadas em seu nome entre todas as nações pelos apóstolos, há alegria proporcionada para os que esperam a imortalidade prometida por Ele.” Por que os cristãos diriam que “esperam” uma imortalidade “prometida” a eles por Jesus, se todos os seres humanos já possuíssem a imortalidade por natureza?

Na Primeira Apologia 44:8 Justino diz que “a espada de Deus é fogo, do qual os que optam por fazer o mal se tornam o combustível.” Em que teoria da física ou da química o “combustível” do fogo queima para sempre e nunca queima?

Novamente, na Primeira Apologia 54:3, Justino diz que “os ímpios entre os homens [vão] ser punidos pelo fogo.”

Antes de sua conversão, Justino, assim como todos os filósofos gregos, deve ter acreditado na imortalidade natural. No primeiro capítulo de seu Diálogo Com Trífon ele descreve os platonistas como tendo “suposto que a alma é imortal” e, desta forma, acreditam na imortalidade (inerente) da alma. É bem instrutivo, portanto, observar quão vigorosamente ele adotou o condicionalismo depois de se tornar cristão.

Os primeiros capítulos do Diálogo Com Trífon contêm o testemunho de Justino de como ele se tornou cristão. Depois de descrever os seus estudos anteriores em filosofia (grega), Justino fala de seu encontro com “certo ancião” (Diálogo Com Trífon 3:2) que compartilhou o Evangelho de Cristo com ele. Em um ponto durante essa discussão, o “ancião”, perguntou a Justino, “É a alma… imortal…” (Diálogo Com Trífon 4:7)?. “Seguramente”, respondeu Justino (4:9). Daí, a totalidade do capítulo seguinte (Diálogo Com Trífon 5) é dedicada ao tema, “A Alma Não É Imortal Em Sua Própria Natureza”. No nono versículo deste capítulo, o ancião pergunta: “Elas (isto é, as almas) não são, então, imortais?” Voltado para a única conclusão lógica (depois do que foi dito nos oito primeiros versículos), Justino responde: “Não.”49

No capítulo seguinte (Diálogo Com Trífon 6:7-8), o ancião diz: “A alma participa da vida, já que a vontade de Deus é que ela viva. Assim, então, ela nem mesmo vai participar [da vida] quando Deus não quiser que ela viva… Quando quer que a alma deixe de existir, o espírito da vida é removido dela, e não há mais qualquer alma.”

Em Diálogo Com Trífon 12:1, Justino cita Isaías 55:3 como dizendo, “Ouvi minhas palavras, e vossa alma viverá” (esta é uma citação exata do texto da Septuaginta; o texto massorético diz simplesmente, “ouvi, e vossa alma viverá”). De qualquer forma, o ponto é o mesmo: “se uma pessoa não ouvir então sua alma não viverá. Porque [eles creem] ser possível que uma alma ‘não viva’… isso soa como se Justino e Isaías não fossem naturalistas, e sim claramente condicionalistas.”50

Em Diálogo Com Trífon 39:11, Justino faz referência ao “espírito iníquo e enganoso, da serpente” (Satanás), e declara que ele “não deixará de levar à morte e perseguir os que confessam o nome de Cristo até que ele venha novamente, e os destrua a todos, e retribua a cada um o que merece.” Dustin Smith comenta: “Aqui Justino está nos dizendo que Jesus voltará e, em seguida, julgará as pessoas… os que forem julgados negativamente… serão destruídos… a alma… pode de fato morrer, e, portanto, não é imortal por natureza.”51

Em Diálogo Com Trífon 46:15, Justino diz, “nós [cristãos]… nos regozijamos na morte, crendo que Deus nos ressuscitará por seu Cristo, e nos tornará… imortais…”. Seria desnecessário Deus “tornar” imortal uma alma que é “imortal”!

Da mesma forma, em Diálogo Com Trífon 69:18, Justino afirma que “se alguém for… um observador das doutrinas deixadas por [Jesus], Ele o levantará na Sua segunda vinda perfeitamente sadio, depois de torná-lo imortal…”. Novamente, seria desnecessário Jesus tornar imortal uma alma que é “imortal”.

De fato, Justino defendeu tão fortemente essa crença, que ele disse a seu amigo judeu, “Se você se juntou com alguns que se chamam de cristãos, mas que não admitem esta [verdade], e aventuram-se a blasfemar o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó; e dizem que não há ressurreição dos mortos, e que suas almas, quando morrem, são levadas para o céu; não imagine que eles sejam cristãos.” (Diálogo Com Trífon 80:9). Isto é uma linguagem muito mais forte do que a maioria dos condicionalistas modernos usaria!

Em Diálogo Com Trífon 100:10, Justino diz: “Deus destrói tanto a serpente [isto é, Satanás] como os anjos [isto é, os demônios] e os homens [isto é, seres humanos] que são como ele [Satanás]; mas provê a libertação da morte para os que se arrependem de sua maldade [isto é, os cristãos] e acreditam nele [isto é, em Jesus].” Note-se como a “morte” é equiparada com a “destruição” – e como esta última (destruição) é a punição dos pecadores, enquanto os santos são “libertados” da primeira (a morte, não o tormento eterno).

Da mesma forma, na Segunda Apologia 7:1, Justino diz que “os anjos, demônios e homens iníquos deixarão de existir” na “destruição do mundo inteiro”. Dustin Smith comenta, “Justino vai bem [longe] em nos mostrar [que] haverá um momento no futuro no qual os anjos [iníquos], os demônios e os homens deixarão de existir. Embora, segundo os [naturalistas] isso seja impossível já que a alma é imortal e vai viver para sempre no céu ou [inferno]… Justino crê que a alma… não é imortal.”52

Em Diálogo Com Trífon 117:6, Justino diz: “Ele [Deus] levantará todos os homens dentre os mortos, e destinará alguns [isto é, os cristãos] a serem incorruptíveis, imortais e livres da angústia no reino eterno e imperecível; mas enviará outros [ou seja, os não cristãos] para a punição eterna de fogo.” Note-se como a última, a “punição” é contrastada com a primeira, a “destinação”, o que significa que os que são enviados para o “fogo” não são “imortais” ao passo que os que são destinados ao “reino” são.

Em Diálogo Com Trífon 121:11, Justino diz que “em seu glorioso advento” Jesus “destruirá certamente todos aqueles que o odiavam, e que injustamente se afastaram dele…”. (“Destruirá”, e não “preservará vivos em tormentos”!)

Em Dirigido aos Gregos 35:4, Justino exorta seus leitores a “aprender” da Bíblia “o que dará a vós a vida eterna” – o que significa, naturalmente, que se eles não aprendessem esta informação, eles não teriam a vida eterna.

Há uma longa discussão sobre este tema no tratado de Justino Sobre a Ressurreição, que inclui afirmações como as seguintes:

“… a Palavra… veio a nós… dar-nos em si mesma… vida eterna…” (1:11) (o que significa que nós já não possuíamos a vida eterna “em nós mesmos”).

Platão diz… que nada pode ser produzido a partir do que não está em existência, nem pode alguma coisa ser destruída ou dissolvida dentro do que não tem qualquer existência” (6:3-4) (em contraste com a própria crença de Justino de que tais coisas são possíveis, com Deus).

“Pois, assim como no caso de uma junta de bois, se um ou o outro está livre do jugo, nenhum deles pode arar sozinho; assim também nem alma nem o corpo sozinho podem fazer nada” (como continuar a viver por um só momento, e muito menos para sempre!) “se eles se desagregarem de sua comunhão.” (8:4)

“Deus chamou o homem à vida e ressurreição…” (8:18) (se o “homem” tem de ser “chamado” à vida e ressurreição, ele não será destinado a estes sem tal ‘chamado’).

“… os que dizem, que… não se seguiria imediatamente que [o corpo] tem a promessa da ressurreição… dizem… que a alma é incorruptível…” (8:7, 24) (em contraste com a própria crença de Justino de que o corpo tem “a promessa da ressurreição”, à qual aguarda, e que a alma é “corruptível”).

“… Porque vamos tolerar por mais tempo tais argumentos incrédulos e perigosos, e deixar de ver que estamos regredindo quando damos ouvidos a um argumento como este: que a alma é imortal,…? Pois isto é o que costumávamos ouvir de Pitágoras e Platão (que acreditavam na imortalidade natural),… antes de aprendemos a verdade (ou seja, que a alma é mortal)” (10:6-7.)

Dustin Smith conclui: “[Justino] diz muitas coisas para mostrar que ele não acredita que a alma seja imortal. Ele cita também trechos da Bíblia que mostram que as almas podem morrer e que a verdadeira esperança dum crente está no futuro cumprimento do Reino de Deus. Os escritos de Justino se estendem por mais de 150 páginas e [ele é] considerado um dos principais contribuintes dos Pais Sub-Apostólicos.”53

Embora alguns eruditos tenham tentado encontrar vestígios do naturalismo neoplatônico nos escritos de Justino (admitidamente com alguma medida de sucesso, o que não surpreende, considerando-se a educação anterior dele), a conclusão de uma lista impressionante54 é que, conforme apresentei, ele era, de fato, um franco condicionalista.

Taciano da Assíria

Taciano, o Apologista nasceu por volta de 110 DC na Assíria. A princípio, ele era um ávido estudante de literatura pagã e dedicou-se ao estudo da filosofia.55 Daí, ele se tornou discípulo de Justino, o Mártir e se converteu ao Cristianismo. Após a morte de seu ilustre mentor (em 165 DC), Taciano voltou à sua terra natal e fundou uma seita ascética chamada de Encratitas (que significa “os auto-controlados”), que depois foi condenada como herética. Entretanto, o próprio Taciano morreu em 180 DC, muito antes de isso acontecer.

Dos seus numerosos escritos, os únicos que sobreviveram são seu famoso Diatessaron (uma Harmonia dos Quatro Evangelhos, escrita por volta de 175 DC), e um Dirigido aos Gregos, que é comumente referido como o Oratio.

Em Oratio 6:4, Taciano diz, “assim como, sendo não existente antes de nascer, eu não sabia quem eu era, e só existi na potencialidade da matéria carnal, mas tendo nascido, depois de um anterior estado de nada, eu obtive, por meio de meu nascimento, uma certeza da minha existência; da mesma forma, tendo nascido, e por meio da morte não mais existindo, e não sendo mais visto, existirei novamente (isto é, depois da Ressurreição).”56

Segundo Taciano, “o Pai que o gerou o fez homem uma imagem de imortalidade, de forma que, como a incorrução está com Deus, do mesmo modo, o homem, compartilhando de uma parte de Deus, pode ter o princípio imortal também” (Oratio 7: 1)57 – mas, na Queda, o homem foi “separado dele” e tornou-se “mortal” (Oratio 7:7).58 Consequentemente, o homem pecador está “fadado a morrer…” (Oratio 11:10).59

Ao discutir a mitologia pagã sobre astronomia, Taciano afirma que “os homens, perjurando-se por salário,… dizem… que os reis ascenderam aos céus…” (Oratio 10:10). Claramente, se Taciano não acreditava que os “reis” vão para o céu quando morrem, ele não presumia que outros “homens” iriam. Depois, no mesmo capítulo (Oratio 10:19), ao discutir a história da “filha de Tíndaro”, ele contrasta a expressão “dotado de imortalidade” com a expressão “levar à morte”, demonstrando mais uma vez sua crença de que qualquer um que morre obviamente não possui imortalidade.

Oratio 13:1 faz esta declaração clara: “A alma não é, em si mesma, imortal, ó gregos, e sim mortal.60

Que Taciano não acreditava em qualquer tipo de existência de almas desencarnadas fica claro com base na declaração dele em Oratio 15:2, que “A alma humana… [nunca] poderia aparecer por si mesma, sem o corpo.”

Em Oratio 15:14, Taciano faz referência à condição dos homens “depois da perda da imortalidade”. (Se a imortalidade foi “perdida”, os homens obviamente não a possuem mais.) Dois versículos depois, em Oratio15:16, Taciano diz, “os homens anseiam pela imortalidade”. (Mas as pessoas não “anseiam” por algo que já possuem!)

Oratio 16:3 acrescenta: “É difícil conceber que a alma imortal, que é entravada pelos membros do corpo, torne-se mais inteligente quando migrou dele”61 – ridicularizando assim a crença comum daqueles filósofos gregos com quem Taciano estava falando, que defendiam a doutrina da imortalidade natural. Dois versículos depois, em Oratio 16:5, Taciano faz referência ao “divino… poder que torna as almas imortais” – naturalmente não haveria necessidade de qualquer “poder” que “torna as almas imortais” se elas já o fossem por natureza.

Ao fazer referência ao destino final de um incrédulo, Taciano diz em Oratio 17:2, “ele será… entregue no dia da consumação como combustível para o fogo eterno.” É claro que o fogo destrói completamente o que quer que seja “entregue” a ele como “combustível”. Esta declaração é seguida imediatamente pelo aviso de Taciano ao seu(s) leitor(es), em Oratio 17:3: “E tu… receberás a mesma punição…”

Depois, no mesmo capítulo (Oratio 17:14, 15), ao ridicularizar a ideia de que as “relíquias” de santos falecidos possam fazer milagres, Taciano pergunta: “como poderia ser que quando vivo eu não tinha consciência do mal, enquanto que agora que estou morto e não posso fazer nada, meus restos, que são incapazes de movimento ou mesmo de sentido, façam alguma coisa percebida pelos sentidos? E como aquele que morreu, pela morte mais miserável, poderá ajudar em vingar qualquer um?”

Decerto, pelo menos na época em que escreveu o Oratio, Taciano, assim como seu famoso tutor, era condicionalista.

Teófilo de Antioquia

Teófilo nasceu por volta de 115 DC, na Mesopotâmia. Ele pode ter sido designado depois do Teófilo a quem o Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos se dirigem (Lucas 1:3; Atos 1:1). De qualquer forma, ele foi discípulo de Policarpo de Esmirna, e serviu como o sexto bispo de Antioquia de 168-180 DC.62 Ele morreu em Antioquia, em 181 DC.

Teófilo escreveu três cartas a um amigo pagão dele, chamado Autólico, que vou citar aqui como 1 Autólico, 2 Autólico, e 3 Autólico. Ele também escreveu diversos outros livros que se perderam.

Há muitas referências ao tema da imortalidade humana nos breves escritos de Teófilo que possuímos. Por exemplo:

1 Autólico 7:12, 13 diz: “Quando você tiver se despido do mortal, e se revestir de incorruptibilidade, daí você verá a Deus dignamente. Pois Deus há de levantar sua carne imortal com sua alma; e daí, tendo-se tornado imortal, você verá o Imortal, se agora você crer nele.”63 Isto é claramente um ensino condicionalista.

Em 1 Autólico 14:7, Teófilo cita Romanos 2:7 (um versículo favorito de muitos condicionalistas modernos) dizendo: “Para aqueles que fazendo o bem com perseverança buscam a imortalidade, ele dará a vida eterna.”64 Esta é uma citação substancialmente precisa.

Em 2 Autólico 15:6, 7, Teófilo faz esta interessante analogia: “Assim como o sol permanece sempre pleno, nunca se tornando menos, assim também Deus sempre se mantém perfeito, estando cheio de todo o poder, entendimento, e sabedoria, e imortalidade, e tudo o que é bom. Mas a lua míngua mensalmente, e de certa forma morre, sendo um tipo do homem; em seguida, ela nasce novamente, e é crescente, por um padrão da futura ressurreição.”

2 Autólico 24:11 apresenta a doutrina de que “o homem foi feito numa natureza média, nem totalmente mortal, nem completamente imortal, mas capaz de ambos”65 – novamente um ensinamento que é favorecido por muitos condicionalistas, mas que certamente não é aceito pelos naturalistas.

Esta ideia é desenvolvida adicionalmente em 2 Autólico 27:1-10, onde se lê: “Mas alguém dirá para nós, Foi o homem feito mortal por natureza? Certamente que não. Então ele era imortal? Não afirmamos isso também. Mas alguém dirá: Ele não era nada, então? Nem mesmo isso atinge alvo. Ele não era, por natureza, nem mortal nem imortal. Pois, se Ele o tivesse criado imortal desde o início, Ele teria feito dele um Deus. Novamente, se Ele o tivesse feito mortal, Deus pareceria ser a causa da morte do homem. Então, nem um nem outro, Ele não o criou nem imortal nem mortal, mas, como já dissemos acima, capaz de ambos; de modo que, se o homem se voltar para as coisas da imortalidade, guardando o mandamento de Deus, ele deverá receber como recompensa dele a imortalidade e se tornará [como] Deus [é]; mas se, por outro lado, ele se voltar para as coisas da morte, desobedecendo a Deus, ele se tornará a causa da morte para si mesmo.”66

Finalmente, em 3 Autólico 7:9, 10, Teófilo cita Platão como “afirmando que a alma é imortal” e pergunta: “Como é que pode a doutrina dele não parecer terrível e monstruosa – para os que têm pelo menos algum juízo?”67

Portanto, não há qualquer dúvida de que Teófilo de Antioquia era condicionalista.

Melito de Sardes

Melito, o filósofo, nasceu no início do segundo século; não se sabe onde. Ele serviu como bispo de Sardes de 160-177 DC. Ele morreu por volta de 190 DC.68

Melito foi um escritor prolífico; porém, a maior parte dos tratados dele só é conhecida por meio de fragmentos escassos. Ele é mais conhecido por sua Apologia a César Antonino, escrita por volta de 170 DC, e por sua Homilia Sobre a Páscoa, que foi descoberta em 1940 DC.

Em Apologia 7:2, Melito insta com o imperador, “Creia nele que é, na realidade, Deus, e abra sua mente para Ele, e comprometa sua alma, e ele é capaz de lhe conceder a vida imortal69 – no versículo 4, ele acrescenta, “se você servi-lo constantemente.”70

E em Apologia 12:5 ele diz: “Se você seguir o mal, será condenado por suas más ações; mas… se seguir a bondade, receberá dele o bem abundante, juntamente com vida imortal.”71

Em Apologia 17:14, Melito insta com o imperador, “temei Aquele… que pode fazer de si mesmo um fogo, e consumir todas as coisas. “

A Apologia 18:13, 14 conclui “No último tempo, haverá um dilúvio de fogo, e a terra será queimada, junto com suas montanhas; e a humanidade será queimada, junto com os ídolos que eles fizeram, e as imagens esculpidas que eles adoraram; e o mar será queimado, juntamente com suas ilhas; mas o justo será preservado da ira, assim como os seus companheiros da arca foram salvos das águas do dilúvio. E então os que não conheceram a Deus, e os que fizeram deles ídolos se lamentarão quando virem esses ídolos deles sendo queimados, junto com eles, e não haverá nada para ajudá-los.”72

Além disso, em sua Homilia, Melito explica que a herança que Adão deixou à humanidade foi “não a imortalidade e sim a corrupção… não a vida, mas a morte…”

Claramente, o pouco que sabemos do ensino de Melito nos leva a crer que ele também era condicionalista.

Atenágoras de Atenas

Atenágoras nasceu em 127 DC, em Atenas. Como jovem filósofo, ele abraçou o Platonismo (que, naturalmente, inclui a doutrina da Imortalidade Natural) e tentou refutar as alegações do Cristianismo. Para fazer isso, ele estudou o ensino cristão em grande profundidade. Isto o levou à conversão. Ele morreu por volta do ano 190 DC.

O único livro existente agora, que temos certeza de que foi escrito por Atenágoras, é Um Apelo aos Cristãos, publicado em 177 DC.73 Outro livro, Um Tratado Sobre a Ressurreição dos Mortos “é geralmente atribuído a ele”, mas, “alguns eruditos o consideraram como… escrito no terceiro, ou ate mesmo no quarto século.”74

O Apelo deixa claro que Atenágoras era naturalista, mesmo depois de sua conversão. Uma parte do Capítulo 31 diz: “Estamos convencidos de que, quando formos removidos da vida atual viveremos outra vida… como espírito celestial… ou, caindo com o resto, uma pior e no fogo; pois Deus não nos fez… para perecermos e sermos aniquilados. Note-se que Atenágoras nega especificamente que o destino dos incrédulos é “perecer”, algo que os escritores condicionalistas afirmam frequentemente.

Conforme mencionado acima, não temos certeza se o Tratado foi realmente escrito pelo mesmo homem, mas ele reflete claramente os mesmos conceitos. O Tratado 15:2 diz: “Toda a natureza dos homens em geral é composta de uma alma imortal e um corpo que foi destinado a ele na criação.”75 E o Tratado 15:10 acrescenta: “O homem, portanto, que é composto de duas partes, deve continuar [a existir] para sempre.”76

Até onde pudemos determinar, Atenágoras foi o primeiríssimo escritor cristão a ensinar a doutrina da Imortalidade Natural – uns 75 anos depois da morte do apóstolo João!77 Considerando os antecedentes dele (antes de sua conversão), parece apropriado concluir que a doutrina da Imortalidade Natural da alma foi literalmente “importada” do Platonismo para o Cristianismo, em vez de constituir alguma parte da antiga teologia cristã, como a doutrina da Imortalidade Condicional evidentemente constituía.

Polícrates de Éfeso

Polícrates nasceu por volta de 125 DC, provavelmente em Éfeso. Ele foi o oitavo homem de sua família a servir como bispo, e foi bispo de Éfeso, em 190 DC, quando foi excomungado pelo bispo de Roma (Vítor I) por causa de sua posição na controvérsia Quartodecimana.78 Isso não teve nada que ver com o assunto que estamos discutindo neste livro; era uma discussão sobre a data apropriada para a celebração da Páscoa. Polícrates morreu por volta do ano 196 DC.

Um pequeno trecho de sua Epístola a Vítor e à Igreja de Roma Referente ao Dia de se Observar a Páscoa é tudo o que temos dos escritos deste autor.

O trecho desta carta é cheio de referências aos santos de épocas passadas como tendo agora “ido para o seu descanso”, sendo “postos para descansar”, “repousando”, “descansando”, “deitados”, etc., “em” ou “nos” locais onde morreram; por exemplo, o apóstolo Filipe, em Hierápolis; o apóstolo João, em Éfeso; Thraseas de Eumênia, em Esmirna; Sagaris, em Laodicéia; Melito, de Sardes; etc. Melito, em particular, é descrito como “aguardando a visitação do céu, quando ele se levantará novamente dos mortos.”79 O grupo inteiro descrito assim “ressuscitará no dia da vinda do Senhor, quando ele virá com a glória do céu, e erguerá novamente todos os santos.”80 Estas são certamente frases que são normalmente usadas pelos que defendem um conceito condicionalista, não um conceito naturalista da imortalidade. Não se diz uma palavra sobre qualquer um desses “grandes luminares”81 ter “ido para o céu” ou “continuado a viver no mundo espiritual” depois de sua morte. Concluo que Polícrates de Éfeso era certamente um condicionalista.

Irineu de Lyon

Irineu nasceu pouco antes de 130 DC em Esmirna. Ele foi discípulo de Policarpo de Esmirna e serviu como bispo de Lyon, na Gália (que é hoje conhecida como França), a partir de 178 DC, até sua morte. Irineu foi descrito como um “fundamentalista do segundo século” que acreditava “que o Cristianismo, porém, nunca pode ser uma mera filosofia, que ele se assenta, em vez disso, na revelação e nas sagradas tradições, que ele atua no Espírito Santo e só é transmitido pela Igreja Católica (isto é, universal) e sua palavra apostólica”.82 Ele morreu em 202 DC.83

Em 185 DC, Irineu publicou um tratado de cinco volumes intitulado Uma Refutação e Subversão do Falsamente Chamado Conhecimento. Esta obra é comumente conhecida como Contra as Heresias. Para os propósitos deste livro, citarei os cinco livros da obra dele como 1 Heresias, 2 Heresias, 3 Heresias, 4 Heresias e 5 Heresias, respectivamente.

A obra é repleta de referências ao tema da imortalidade humana. Na maioria destes trechos, Irineu está argumentando contra a ideia gnóstica de que os salvos viverão eternamente como espíritos desencarnados; portanto, ele enfatiza fortemente a ressurreição e a imortalidade do corpo, opondo-se, no processo, à ideia da imortalidade inerente da alma. Irineu também introduz a expressão “conferir a imortalidade” (para descrever a ação de Deus, que resulta na mudança do que é mortal para o que é imortal), uma expressão que contradiz claramente a ideia gnóstica da imortalidade inerente. Por exemplo:

Em 1 Heresias 10:1, num trecho que pode ser descrito como “o Credo de Irineu”, ele afirma que Deus vai “conferir a imortalidade aos justos…”.

Em 2 Heresias 11:1, ele afirma que a “adoção de filhos… que é a vida eterna… se dá por meio dele mesmo [Jesus], conferindo-a [ou seja, a vida eterna] a todos os justos.” (Mas não aos injustos, como parece ser a implicação).

Em 2 Heresias 29:2, ele diz, “Deus, quando Ele ressuscita nossos corpos mortais que preservou justos, irá torná-los [isto é, os nossos corpos] incorruptíveis e imortais.”84

E, “almas e espíritos… durarão tanto quanto Deus quiser que eles tenham existência e continuidade”, já que “a vida não surge de nós, nem de nossa própria natureza; mas é concedida segundo a graça de Deus. E, portanto, aquele que preserva a vida concedida por Ele, e dá graças a Ele que a transmitiu, receberá também longura de dias para todo o sempre. Mas aquele que rejeitá-la, e se mostrar ingrato ao seu Criador, uma vez tendo sido criado, e não reconhecer Aquele que concedeu [o dom a ele], priva-se [do privilégio de] continuar para todo o sempre”. (2 Heresias 34:3).85 Esta é uma afirmação muito clara da natureza condicional da imortalidade humana.

Da mesma forma, ao falar dos gnósticos, Irineu afirma: “estes homens… não podem receber… imortalidade”. (4 Heresias 37:6)

Aqui está outra afirmação desse tipo: “Isto, portanto, foi o [objeto da] longanimidade de Deus, que o homem… pode conhecer a si mesmo, como mortal e fraco que é; ao passo que ele também entende com respeito a Deus, que Ele é imortal e poderoso a tal ponto que pode conferir a imortalidade ao que é mortal e a eternidade ao que é temporal; e pode entender também” que “o homem que foi desobediente a Deus” foi “cortado da imortalidade” (3 Heresias 20:2).

Outra: “Ele concede aos que o seguem e servem a vida e incorruptibilidade e glória eterna.” (4 Heresias 14:1).

Outra: “O Pai, também, confere [ao homem] incorruptibilidade” (4 Heresias 20:5).

Outra: “Alguns, não conhecendo o poder e a promessa de Deus, podem opor-se à sua própria salvação, julgando-a impossível para Deus, que ressuscita os mortos, tem poder de conferir-lhes duração eterna, mas o ceticismo dos homens deste tipo não tornará a fidelidade de Deus sem efeito.” (5 Heresias 5:3)

Outra: “Conferindo-lhes a imortalidade também…, Ele mostra ser o único Deus que realiza estas coisas, e como o próprio bom Pai, benevolentemente conferindo vida aos que não têm a vida em si mesmos” (5 Heresias 15:1).

Outra: “[O homem] recebe incorruptibilidade não de si mesmo, mas pelo dom gratuito de Deus.” (5 Heresias 21:3)

Argumentando contra a heresia dos Valentinianos, Irineu diz, “eles defendem… que Deus… não pode conceder imortalidade ao que é mortal…” (2 Heresias 14:4). Obviamente, a própria posição de Irineu era que “o que é mortal” (um ser humano) só se torna imortal quando Deus “concede” imortalidade a ele.

Mais uma vez, fazendo referência ao apóstolo Paulo, Irineu diz: “Portanto, este lutador capaz exorta-nos à luta pela imortalidade, para que possamos ser coroados, e possamos receber a coroa preciosa, ou seja, aquela que é adquirida pela nossa luta, mas não nos coroa por si mesma”. (4 Heresias 37:7) É evidente que esta linguagem um tanto poética expressa a crença de Irineu de que a imortalidade é condicional, não natural.

Em uma frase muito longa (4 Heresias 11:4), Irineu diz (entre outras coisas) que “… para os zombadores, e para os que não estão sujeitos a Deus,… para os que… estão cheios de… maldade, ele destinou perdição eterna, por cortá-los da vida.”

Da mesma forma, em outro trecho longo (5 Heresias 27:2), Irineu diz, “a separação de Deus é a morte” (não o “tormento eterno consciente”!) “e a separação de Deus consiste na perda de todos os benefícios que ele tem em reserva.” (Naturalmente, um desses benefícios é a “vida eterna”; assim Irineu está dizendo claramente que “a separação de Deus” é igual à “morte” e igual à “perda da vida eterna”.) Além disso, ele acrescenta, “as boas coisas são eternas e sem fim com Deus e, portanto, a perda destas também é eterna e sem fim.” Assim, segundo Irineu, a punição “dos… que rejeitam” os “benefícios” de Deus será uma perda “infindável” da vida eterna.

Ao discutir com um suposto questionador que pergunta: “Deus não poderia ter apresentado o homem como perfeito desde o início?”, Irineu argumenta, em 4 Heresias 38:1, que Cristo “poderia facilmente ter vindo a nós em sua glória imortal, mas, nesse caso, nós nunca poderíamos suportar a grandeza da glória; e por isso foi que ele, que era o pão perfeito do Pai, ofereceu a si mesmo a nós como leite, [porque éramos] como crianças. Ele fez isso quando apareceu como homem, de maneira que nós, sendo nutridos, por assim dizer, do seio de sua carne, e tendo, por esse meio de aleitamento, ficado acostumados a comer e beber a Palavra de Deus, possamos nos tornar capazes de também conter em nós mesmos o Pão da imortalidade, que é o Espírito do Pai” – o que significa, claramente, que os que não são “nutridos” dessa maneira (ou seja, os que não recebem a Cristo como Salvador) não são capazes de “conter” em si mesmos o “Pão” da imortalidade.

Depois, no mesmo capítulo (4 Heresias 38:3), Irineu faz referência à “doação gratuita da existência eterna aos [crentes] por Deus” e afirma que “estar em sujeição a Deus é permanência na imortalidade” e que “a contemplação de Deus é produtora de imortalidade” (o que significa que a rebelião contra Deus, e a falha em “contemplar” Deus leva ao oposto da imortalidade, a permanecer em inexistência).

Em 5 Heresias 29:1, Irineu descreve o processo de ser “salvo” como um “amadurecimento para a imortalidade” – obviamente as frutas não “amadurecem” para uma condição na qual já se encontram. Colocado de outro modo, pode-se dizer que seria improvável um naturalista usar essa expressão.

Irineu também usa as palavras tipicamente condicionalistas “destruir” e “destruição” (especificamente, “pelo fogo”) para descrever o destino dos condenados. Por exemplo:

Em 2 Heresias 32:2, falando daqueles gnósticos que, acreditando “que lhes cabe ter experiência em todo tipo de obra; mas, voltando-se para a volúpia e a luxúria, e ações abomináveis… ficam… condenados”, ele diz, “uma vez que eles são destituídos de todas essas [virtudes] que foram mencionadas [isto é, no início do trecho], eles [necessariamente] passarão para a destruição do fogo.

Da mesma forma, “Os que fazem essas coisas, já que eles andam realmente segundo a carne, não tem o poder de viver para com Deus … O homem vai para a destruição, se ele continuou a viver segundo a carne.” (5 Heresias 11:1)

É interessante, porém, que ao citar 2 Tessalonicenses 1:9, em 4 Heresias 33:11, Irineu substitui a palavra geralmente traduzida como “destruição” pela palavra “morte” – citando 2 Tessalonicenses 1:9. como: “Que serão punidos com a morte eterna diante da face do Senhor e da glória do seu poder”.

Em outra citação interessante (de 2 Coríntios 5:4, em 4 Heresias 36:6), Irineu substitui a palavra normalmente traduzida como “vida” pela palavra “imortalidade” – traduzindo 2 Coríntios 5:4 como, “… não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela imortalidade.”

Ainda em outra (citando João 3:36, em 4 Heresias 37:5), Irineu – de modo significativo, conforme parece – insere a palavra “eterno” num lugar onde ela não se encontra no texto bíblico, vertendo João 3:36 como: “Aquele que crê nele tem a vida eterna; enquanto que o que não crê no Filho não tem a vida eterna, mas o furor de Deus permanecerá sobre ele.” Pode-se dizer que esta é uma maneira bem “condicionalista” de “interpretar” o verdadeiro texto de João 3:36.

Outras declarações “condicionalistas” de Irineu são as seguintes:

“Os homens… são… mortais….” (2 Heresias 7:1)

“… a alma,… enquanto… compartilhar a vida com o corpo,… não… deixa de viver.” (2 Heresias 33:4) – significando, ao que parece, que quando o corpo deixa de viver, a alma também deixa de viver.

“…os incrédulos… não herdarão… a vida …” (3 Heresias 7:2)

“Os que… estão numa condição de morte… são privados do seu dom, que é a vida eterna;… eles permanecem… mortais.” (3 Heresias 19:1).

“O homem nunca deve adotar uma opinião contrária com relação a Deus, supondo que a incorruptibilidade que lhe pertence é de sua propriedade natural, e por conseguinte, não tendo a verdade, glorie-se com arrogância vazia, como se ele fosse naturalmente como Deus.” (3 Heresias 20:1).

“… os que estão fora do reino de Deus… são deserdados do [dom da] incorruptibilidade….” (4 Heresias 8:1)

“Mas a Palavra de Deus não aceitou a amizade de Abraão, como se ele tivesse necessidade dela, pois ele era perfeito desde o início (“Antes de Abraão”, diz ele, “eu sou”), e sim que ele, em sua bondade pode conceder a vida eterna ao próprio Abraão, na medida em que a amizade de Deus confere a imortalidade a quem a abraça.” (4 Heresias 13:4).

“Deus sempre preservou a liberdade, e o poder de se autogovernar no homem, enquanto que ao mesmo tempo Ele emitiu suas próprias exortações, a fim de que os que não lhe obedecem sejam julgados com justiça (condenados) porque não lhe obedeceram; e os que obedeceram e creram nele sejam honrados com a imortalidade.” (4 Heresias 15:2)

“… assim o homem pode alcançar a imortalidade….” (4 Heresias 20:2)

“Portanto, os que veem a Deus, recebem a vida. E por esta razão, [embora] Ele seja além da compreensão, e sem limites e invisível, rendeu-se ao visível e compreensível, e dentro da capacidade dos que crêem, para que pudesse vivificar os que o recebem e contemplam por meio da fé…. Ele concede vida àqueles que o veem. Não é possível viver à parte da vida, e os meios de vida são encontrados em comunhão com Deus;” (4 Heresias 20:5).

“Desta forma, os homens verão a Deus, para que possam viver, sendo feitos imortais por esta visão.” (4 Heresias 20:6).

“… O homem, apartando-se para longe de Deus por completo, deixará de existir.” (4 Heresias 20:7.)

“… os que crêem nele serão incorruptíveis….” (4 Heresias 24:2)

“… todos eles receberam um centavo cada, tendo [carimbada nele] a imagem real e a sobrescrição, o conhecimento do Filho de Deus, que é a imortalidade.” (4 Heresias 36:7).

“É bom obedecer a Deus, e acreditar nele, e guardar o seu mandamento, e isto é a vida do homem; assim como não obedecer a Deus é mal, e isto é a sua morte… é uma coisa má que o priva da vida, isto é, a desobediência a Deus… o que preserva a sua vida, a saber, a obediência a Deus, é bom… Novamente, como pode ser imortal, quem em sua natureza mortal não obedece ao seu Criador?… Se você, sendo obstinadamente endurecido, rejeitar a operação da habilidade dele, e se mostrar ingrato em relação a Ele, por ter sido criado um [mero] homem, tornando-se, assim, ingrato a Deus, você terá perdido a um só tempo tanto a obra dele como a vida.” (4 Heresias 39:1, 2).

“Mas quando eles forem convertidos e chegarem ao arrependimento, e deixarem o mal, terão o poder de se tornarem filhos de Deus, e de receber a herança da imortalidade que é dada por Ele.” (4 Heresias 41:3)

“O Pai…  a este mortal a imortalidade, e a este corruptível a incorrupção… de maneira que nunca fiquemos cheios de orgulho, como se tivéssemos a vida por nós mesmos, e exaltados contra Deus, nossas mentes se tornem ingratas; mas aprendamos pela experiência que possuímos existência eterna por meio do excelso poder deste Ser, e não proveniente de nossa própria natureza.” (5 Heresias 2:3)

“O homem… é… mortal por natureza.” (5 Heresias 3:1)

“A incorrupção… é uma vida feliz e sem fim” que é “concedida por Deus”. (5 Heresias 3:3)

“Ele corta as luxúrias da carne, as que trazem a morte a um homem.” (5 Heresias 10:2)

As “obras da carne… trazem a morte [aos seus praticantes].” (5 Heresias 11:2)

“A morte traz a mortalidade.” (5 Heresias 12:1)

Deus é o que … imortalidade.” (5 Heresias 13:3)

“Os atos carnais…, pervertendo o homem para pecar, privam-no da vida.” (5 Heresias 14:4)

Não há dúvida de que Irineu de Lyon foi um “campeão”86 do condicionalismo. Podemos ver, então, que quando a era dos Pais Sub-Apostólicos chegou ao fim só um escritor cristão (Atenágoras) tinha abraçado a doutrina da imortalidade natural, e todos os demais (dos quais estudamos um total de dezessete) haviam mantido, mais ou menos demonstravelmente, o condicionalismo.

Os Pais Antenicenos

Conforme já foi mencionado, os Pais Antenicenos que escreveram sobre o tema da imortalidade humana foram:

Clemente de Alexandria (153-213? DC)

Tertuliano de Cartago (145-220 DC)

Hipólito de Porto Romano (170-236 DC)

O(s) escritor(es) das Pseudo-Clementinas (por volta de 220 DC)

Minúcio Félix da África (185-250 DC)

Orígenes de Alexandria (185-254 DC)

Comodiano da África (200-275 DC)

Cipriano de Cartago (200-258 DC)

Novaciano de Roma (210-280 DC)

Gregório Taumaturgo de Neo-Cesaréia (213-270 DC)

Arnóbio de Sica (250-327 DC)

Os escritos deles abrangem aproximadamente o terceiro século DC.

Clemente de Alexandria

Tito Flávio Clemente nasceu em 153 DC, em Atenas, de pais pagãos.87 “Originalmente um filósofo pagão”, ele viajou extensivamente pela Grécia, Itália, Egito, Palestina e outros países, e daí estudou Gnosticismo Cristão de 180-189 DC na escola fundada por Pantaeno de Alexandria.88 Quando Pantaeno se aposentou (para ingressar no trabalho missionário), Clemente tornou-se o diretor da escola, e ele continuou nessa posição de 189 a 202 DC. Ele fugiu de Alexandria em 202 DC, devido à perseguição aos cristãos que ocorreu durante o reinado de Septímio Severo. Depois, ele viajou bastante novamente. Não sabemos das circunstâncias de sua morte, que ocorreu em algum momento entre 211 e 215 DC.89

Enquanto foi diretor em Alexandria, Clemente escreveu três tratados principais:

Protrepticus (ou Uma Exortação aos Pagãos) – por volta de 190 DC
Paedogogus (ou O Pedagogo) – por volta de 192 DC
Stromata (ou Ensinamentos Diversos) – por volta de 194 DC.

Clemente escreveu também diversos outros livros, dos quais só existem fragmentos atualmente, incluindo um intitulado Hypotyposes (ou Ilustrações). Não está claro se este livro foi escrito antes de ProtrepticusPaedogogus e Stromata (como sugere Anne Mbeke) ou depois deles (como acredita LeRoy Froom). A resposta a esta pergunta pode ter um impacto considerável na interpretação sobre a possível mudança de posição por parte de Clemente, que será discutida de maneira breve, abaixo.

A Clemente também se credita a autoria do “mais antigo hino cristão de autor conhecido”90, cuja tradução em inglês é intitulada “Shepherd of Eager Youth” [O Pastor da Juventude Ansiosa]. Ele foi “usado como um hino de instrução cristã para novos conversos jovens do paganismo.”

Apesar da grande quantidade de material que Clemente nos deixou, há relativamente poucas referências sobre o assunto da imortalidade humana nos escritos dele, e as que existem, não são muito claras. Por exemplo, em Paedogogus 1:3, ele diz: “Observemos os mandamentos de Deus sigamos seus conselhos: Eles são o caminho mais curto e direto que leva à [existência eterna].” E em Paedogogus 1:6, ele diz: “No instante em que somos batizados, somos iluminados; iluminados, tornamo-nos filhos; tornando-nos filhos, tornamo-nos perfeitos; e, tornados perfeitos, recebemos a imortalidade” e “a comunhão espiritual da fé… consigna o homem à eternidade… imortalizando-o.” Isto certamente soa como as palavras de um condicionalista. Mas, em Stromata, Livro IV, capítulo 3, ele diz, “a morte… é a dissolução das cadeias que prendem a alma ao corpo.” Isto certamente soa como o ensino de um naturalista. E, no fragmento de uma obra perdida intitulada Sobre a Alma, Clemente é citado como dizendo: “Todas as almas são imortais, mesmo as dos sem Deus, para quem seria melhor não ser incorruptível.” Aqui também, Clemente parece ser naturalista; mas, em outros fragmentos, ele parece ser condicionalista. LeRoy Edwin Froom diz (mas sem comprovar isso documentalmente) que Clemente “mudou” de condicionalista para naturalista”91; ele também classifica-o com os naturalistas que defendiam o ensino da “Restauração Universal.”92 Anne Mbeke, por outro lado, especula que “Clemente mudou de ideia, porém de naturalista para condicionalista, e não vice-versa.” Então, talvez seja melhor, para os propósitos deste livro, não classificar Clemente de Alexandria nem como naturalista nem condicionalista, e sim deixá-lo sem classificação até que a pesquisa adicional se complete.

Tertuliano de Cartago

Quinto Septímio Florêncio Tertuliano nasceu por volta de 145 DC, em Cartago.93 Ele se tornou cristão por volta do ano 185 e ancião da igreja em Cartago uns cinco anos depois, e foi um dos mais prolíficos escritores da Igreja desde esse momento até se converter ao Montanismo, o que o levou a ser excomungado. Tertuliano morreu por volta de 220 DC.94

Uma listagem despojada, que contenha só os títulos de suas obras mais conhecidas, juntamente com as datas em que foram escritas, teria de incluir, pelo menos, o seguinte:

Do Arrependimento, 195 DC

Do Batismo, 195 DC

Da Oração, 195 DC

Apologia, 197 DC

Ao Mártir, 197 DC

Dos Espetáculos, 197 DC

Uma Resposta aos Judeus, 198 DC

Prescrições Contra Hereges, 200 DC

Da Paciência, 202 DC

Do Vestuário das Mulheres, 202 DC

Da Penitência, 203 DC

Da Alma, 203 DC

O Terço, 204 DC

Exortação à Castidade, 204 DC

Antídoto para a Picada de Escorpião, 205 DC

Contra Marcião, 207 DC

A Minha Esposa, 207 DC

Contra Hermógenes, 207 DC

Contra os Valentinianos, 207 DC

Da Carne de Cristo, 207 DC

Do Véu das Virgens, 207 DC

Contra Práxeas, 208 DC

Do Pálio, 208 DC

Da Monogamia, 208 DC

Da Modéstia, 208 DC

Do Jejum, 208 DC

Da Ressurreição da Carne, 208 DC

Em muitos desses livros Tertuliano discute a questão da imortalidade humana. Ele diz, por exemplo, “Todos os que não são verdadeiros adoradores de Deus… devem ser consignados à punição do fogo eterno… que… não consome o que queima, mas enquanto queima repara.” (Apologia 48:31-33) Esta descrição gráfica do tormento dos condenados baseia-se claramente na suposição de sua existência sem fim.

Mais uma vez, ele diz claramente: “Assim, definimos a alma, como sendo… imortal.” (Da Alma 22:5).

Além disso, Tertuliano acrescenta: “Nós… mantemos… que as almas são agora mesmo passíveis de tormento e de bênção no Hades, apesar de estarem desencarnadas.” (Da Ressurreição 17:2, 3).

Poucas frases depois, ele acrescenta: “A alma… não tem… mortalidade.” (Da Ressurreição 18:17).

E, em Da Ressurreição 35:2, Tertuliano usou a frase “a imortalidade natural da alma”, provavelmente pela primeira vez em qualquer escrito cristão.

É óbvio que Quinto Septímio Florêncio Tertuliano deve ser classificado como naturalista; na verdade há uma sensação de que ele deve ser considerado como um dos “pais fundadores” da doutrina da imortalidade natural.

Hipólito de Porto Romano

Hipólito nasceu por volta de 170 DC; não se sabe onde.95 Ele foi discípulo de Irineu de Lyon. No primeiro terço do terceiro século, ele serviu como bispo de Porto, que era um subúrbio de Roma. Ele morreu por afogamento em 236 DC.96

A Hipólito se creditam muitos escritos, incluindo os seguintes:

O Pequeno Labirinto

Do Cristo e Anticristo

Contra os Judeus

Contra Noeto

Contra Beron e Hélix

Da Santa Teofania

Contra Platão

A Refutação de Todas as Heresias

Ele pode também ter sido o autor da famosa e misteriosa Epístola a Diogneto, que foi preservada em um único manuscrito que data do século treze ou catorze e publicada em 1592 DC.¥ O próprio manuscrito não existe mais, tendo sido destruído em um incêndio em 1870 DC. O presumido destinatário deste belo exemplo de uma antiga “apologia” cristã (uma defesa da religião cristã contra ataques do paganismo) pode ter sido o Diogneto que foi tutor do imperador romano Marco Aurélio. Ela contém uma descrição do estilo de vida dos primeiros cristãos (Diogneto 5) e a declaração explícita, “A alma, que é imortal, vive em uma moradia mortal.” (Diogneto 6:8).

Contra Platão 1:6 diz que “os injustos, e aqueles que não creram em Deus, que honraram como Deus as obras vãs das mãos dos homens, ídolos formados (por eles próprios), serão sentenciados a esta punição sem fim [no lago de fogo].” Depois, no mesmo livro, Hipólito diz que “aos amantes da iniquidade será aplicada a punição eterna. E o fogo que é inextinguível e sem fim aguarda os últimos, e certo verme do fogo, que não morre, e que não consome o corpo, mas continua irrompendo do corpo com aflição infindável. Nenhum sono lhes dará descanso; nenhuma noite vai acalmá-los; nenhuma morte irá livrá-los da punição.” (Contra Platão 3:6-8)

Além disso, na Refutação, Hipólito critica especificamente:

1) os Naassenos, por acreditarem na existência de uma “alma mortal” (Livro V, Capítulo 2),

2) Taciano da Assíria (que, conforme vimos, era condicionalista), classificando-o como “herege” (Livro VIII, Capítulo 9),

3) os Quartodecimanos (entre os quais estava Polícrates de Éfeso, um franco condicionalista), classificando-os como “hereges” (Livro VIII, Capítulo 11), e

4) os saduceus, por suporem “que a alma não continua depois da morte”, “que haverá uma dissolução tanto da alma como do corpo”, e “que o homem passa para a não existência”.

Obviamente, Hipólito de Porto Romano era tanto naturalista como um franco adversário do condicionalismo e de muitos dos primeiros Pais da Igreja que defendiam esta ideia.

O(s) Escritor(es) das Pseudo-Clementinas

As chamadas Pseudo-Clementinas são um grupo de livros escritos por volta de 220 DC, cuja autoria é desconhecida, provavelmente um autor ou grupo de autores judaico-cristãos.97 Eles foram projetados para serem encarados como se tivessem sido escritos por Clemente de Roma, mas, claramente, não foram. Três dos livros são conhecidos, respectivamente, como os Reconhecimentos, as Homilias, e o Epítome.98

Segundo o(s) autor(es) das Pseudo-Clementinas, “… a alma é imortal” (1 Reconhecimentos 5:6). 3 Reconhecimentos 39-49 é uma “prova” da imortalidade da alma de onze capítulos. 5 Reconhecimentos 28:2 especifica que “até as almas dos ímpios são imortais, embora talvez eles próprios gostariam que elas acabassem junto com seus corpos.”99 8 Reconhecimentos 28:3-4 explica que “embora o homem seja composto de diferentes substâncias, uma mortal e a outra imortal, ainda assim, pela habilidade inventiva do Criador, sua diversidade não impede sua união, e isso embora as substâncias sejam diversas e alheias entre si. Pois uma é tirada da terra e formada pelo Criador, mas a outra é provida a partir de substâncias imortais; e ainda assim a honra de sua imortalidade não é violada por essa união.”100

O mesmo ensino é igualmente proeminente nas Homilias. 1 Homilia 5:3 diz que “a alma é imortal”; 2 Homilia 13:1 insiste que “há toda a necessidade de que aquele que diz que Deus é justo por natureza, acredite também que as almas dos homens são imortais: pois onde estaria a justiça dele, se alguns, que viveram piedosamente foram maltratados e, às vezes, violentamente mortos, enquanto outros, que foram totalmente irreverentes, e cederam a uma vida luxuriosa, tiveram a morte comum dos homens?”101 O resto do capítulo prossegue dizendo: “Uma vez, portanto, que sem qualquer contradição, Deus, que é bom, é também justo, Ele não poderia ser conhecido como justo de alguma maneira, a menos que a alma, depois de sua separação do corpo, seja imortal, de maneira que o ímpio, estando no inferno, tendo recebido aqui suas coisas boas, seja punido lá por seus pecados; e o homem bom, que foi punido aqui por seus pecados, possa então, como que no seio do justo, ser constituído como herdeiro de coisas boas. Uma vez, portanto, que Deus é justo, é totalmente evidente para nós que há um julgamento, e que as almas são imortais.”102 2 Homilia 29-31 é uma “prova” da imortalidade da alma de três capítulos, e 11 Homilia 11:2 insiste que “até a alma dos ímpios é imortal, para os quais teria sido melhor que ela não fosse incorruptível.” – o versículo seguinte acrescenta: “Pois, sendo punido com tortura sem fim sob o fogo inextinguível, e jamais morrendo, ele não vê fim algum de sua miséria.”103

É claro que, quem quer que tenha escrito estes livros (e tentou passá-los como se tivessem sido escritos por Clemente I, que, como vimos, foi condicionalista!) era, ou eram, crente(s), na doutrina da imortalidade natural.

Minúcio Félix da África

Marcos Minúcio Félix nasceu provavelmente por volta do ano 185 DC na África. Quando jovem, ele se converteu do paganismo ao Cristianismo.104 Ele morreu por volta de 250 DC em Roma.105

Em algum momento durante a primeira metade do terceiro século, Minúcio Félix escreveu uma Apologia na forma de uma discussão entre um pagão chamado Cecílio (hoje em dia nós o chamaríamos de “Cecil”) e um cristão chamado Otávio. A obra é geralmente conhecida como Otávio.

Otávio 35:1 descreve a punição dos ímpios como “tormentos eternos”; Otávio 35:3 especifica, “Não há qualquer medida nem término para esses tormentos.” O versículo seguinte acrescenta: “O fogo inteligente queima os membros e os restaura, alimenta e nutre.” E o versículo seguinte conclui dizendo: “Assim como os fogos dos raios atingem os corpos, e não os consomem; como os fogos do Monte Etna e do Monte Vesúvio, e das terras em chamas (i.e., vulcões) em qualquer lugar, ardem, mas não se gastam; assim esse fogo penal (ou seja, o Inferno) não é alimentado pelos restos dos que queimam, mas é nutrido pelo infindável devoramento de seus corpos.”106 Embora nenhum dos termos reais “imortal”, “imortalidade”, “alma”, etc., seja realmente usado nestes versículos, é evidente que esta doutrina do Inferno baseia-se na premissa da imortalidade inata da alma humana. Ninguém expressará qualquer surpresa quanto à minha conclusão de que Minúcio Félix era naturalista.

Orígenes de Alexandria

Orígenes Adamantino (esse pseudônimo significa “duro como uma rocha”) nasceu por volta de 185 DC em Alexandria, sendo o mais velho dos sete filhos de Leonides, que foi martirizado sob a perseguição que surgiu durante o governo do imperador Septímio Severo.107 Ele foi discípulo de Clemente de Alexandria (e também de Amônio Sacas, um neoplatonista), e ensinou o cristianismo (entre outros assuntos) – primeiro, em Alexandria, de 203-231 DC (quando ele foi excomungado pelo bispo de Alexandria), e, em seguida, em Cesaréia, de 231-249 DC (quando ele foi preso durante a perseguição que surgiu sob o imperador Décio). Ele morreu em 254 DC em Tiro.108

O primeiro (e maior) trabalho de Orígenes foi um livro conhecido em grego como Peri Archon, em latim como De Principiis, e em inglês como On the Principles [Dos Princípios], que ele publicou por volta de 215 DC. Outras grandes obras incluem as seguintes:

Da Ressurreição

Da Oração

Comentário Sobre João (230-238 DC)

Exortação ao Martírio (232 DC)

Carta a Gregório Taumaturgo (235 DC)

Carta a Julio Africano (240 DC)

Diálogo com Heráclides (246 DC)

Contra Celso (247 DC)

Comentário sobre Mateus (247 DC)

Homilia Sobre Ezequiel

Homilia sobre o Levítico

Apologia (248 DC)

… para citar apenas alguns!

Porém, não há necessidade de ler outra obra além de De Principiis para determinar a posição de Orígenes sobre o assunto da imortalidade humana.

Na Introdução, ele afirma que “a alma, tendo uma substância e vida própria, deve, depois de sua partida do mundo, ser recompensada de acordo com seus méritos, sendo destinada ou a obter uma herança de vida eterna e bem-aventurança, se suas ações tiverem procurado isso para si, ou a ser entregue ao fogo eterno e punições, se a culpa por seus crimes a tiver levado a isso.”109

Depois, no Livro II, 2:1, ele diz que “as mentes espirituais e racionais, serão… eternas…”

E, no mesmo livro, 10:1, ele comenta que seria “vão e supérfluo alguém levantar dentre os mortos, para morrer pela segunda vez.”110 Isto é exatamente o que a maioria dos condicionalistas ensina que vai acontecer.

Ademais, “o corpo que se levanta novamente dos que serão destinados ao fogo eterno ou a punições severas, é então incorruptível pela própria mudança da ressurreição, de maneira que ele não pode ser corrompido e dissolvido nem mesmo por punições severas.” (Livro II, 10:3).111

No Livro IV, 1:36, Orígenes afirma que “a alma humana também será imortal”.112

E, em Contra Celso, Livro III, 22:5, ele afirma que “a doutrina da imortalidade da alma… é para nós uma doutrina de importância proeminente.”113

No mesmo trabalho, Livro VI, 71:5, ele conclui que “nós, porém, não conhecemos qualquer substância incorpórea que seja destrutível pelo fogo, nem [cremos] que a alma do homem, ou a substância de ‘anjos’, ou de ‘tronos’, ou ‘domínios’, ou ‘principados’, ou ‘poderes’, possa ser dissolvida pelo fogo.”114

Claramente, Orígenes de Alexandria era tanto um naturalista como um bom e bem conhecido porta-voz da doutrina da imortalidade natural.

De fato, o historiador da Igreja Primitiva, Eusébio de Cesaréia (263-339 DC), em sua História da Igreja, Livro VI, capítulo 37, conta como Orígenes contendeu com alguns Tanatopsiquistas – (“a seita que proclamou a mortalidade da alma”) – em um “sínodo de não pequenas dimensões” na Arábia em 246 DC. Nenhum escrito de qualquer membro deste grupo foi preservado, mas obviamente eles eram condicionalistas. Eusébio descreve-os como “dizendo que a alma humana morre.” Um deles, Demétrio, foi bispo, e é citado no Diálogo Com Heráclides, de Orígenes, capítulo 167, criticando Orígenes por ensinar “que a alma é imortal”. Assim, tanto na história de Eusébio, como nos próprios escritos de Orígenes, está preservado um registro do fato de que em meados do terceiro século DC, tanto a imortalidade natural como a imortalidade condicional estavam sendo ensinadas nas igrejas cristãs, e estava em curso um debate ativo entre os defensores das duas posições.

Comodiano da África

Comodiano Mendicus Christi (este apelido significa “servo de Cristo”) nasceu por volta de 200 DC no Norte da África. Pouco se sabe sobre sua vida e obra, a não ser que ele estava aparentemente servindo como bispo em algum lugar no norte daÁfrica por volta de 240 DC, quando escreveu um poema chamado Instruções em Favor da Disciplina Cristã.115 Ele morreu por volta de 275 DC;116 não sabemos em que local ou em que circunstâncias.

As Instruções contêm duas referências ao tema da imortalidade humana:

1) “Eu… pensei… que quando a vida tivesse partido, a alma também estivesse morta e tivesse perecido. Estas coisas, porém, não são assim…” (Instruções 26:13, 14)

2) “Ó tolo, você não morre absolutamente; nem, quando morto, você escapa do Grandioso… Você está despido, ó tolo, que pensa que com a morte você não existe…” (Instruções 278:1,7).

Estas declarações demonstram claramente que Comodiano era naturalista.

Cipriano de Cartago

Táscio Cecílio Cipriano nasceu por volta de 200 DC perto de Cartago.117 Ele se converteu ao cristianismo em 246 DC e serviu como bispo de Cartago de 248 a 258 DC.118 Ele foi executado em 258 DC por se recusar a negar a Cristo.119

Alguns dos mais famosos das centenas de escritos de Cipriano incluem os seguintes, juntamente com as respectivas datas de publicação, se conhecidas:

Carta a Donato (246 DC)

A Vaidade dos Ídolos (247 DC)

Contra os Judeus (248 DC)

Referente aos Enfermos (251 DC)

A Unidade da Igreja (251 DC)

Comentário sobre a Oração do Senhor (252 DC)

Dirigido a Demetriano (252 DC)

Referente à Mortalidade (252 DC)

Obras e Esmolas (254 DC)

Ciúme e Inveja (256 DC)

A Glória do Martírio

Apesar da enorme quantidade de material que Cipriano nos deixou (o mais notável é que ele o produziu num período de apenas 10 anos, e enquanto servia como bispo de uma grande comunidade cristã), há poucas referências ao tema da imortalidade humana em seus escritos. Estas poucas referências ocorrem principalmente nos tratados Referente à Mortalidade e A Glória do Martírio:

Em Mortalidade 14:3 ele diz: “o… que… é entregue aos fogos da Geena… a chama eterna atormentará com punições sem fim…” Este é certamente o linguajar do naturalismo.

Em Martírio, porém, a posição de Cipriano não é tão clara. Martírio 8:5 diz: “Sem dúvida, que a luxúria da vida fique em espera, mas que seja daqueles a quem o pecado não expiado o fogo ardente torturará com vingança eterna por seus crimes.”120

E Martírio 10:4 faz referência à possibilidade de “ser punido com uma queima perpétua.”121

Porém, no capítulo seguinte, Cipriano diz que “o fogo vai consumir os que são inimigos da verdade. O paraíso de Deus floresce para as testemunhas; a Geena engolfará os negadores e o fogo eterno os queimará.” (Martírio 11:4-5).122

Esta última referência parece mais com as palavras dum condicionalista! O Dr. Froom, no entanto, classifica Cipriano como naturalista;123 e, por força da declaração inequívoca em Mortalidade 14:3, eu vou, pelo menos provisoriamente, fazer o mesmo.

Novaciano de Roma

Novaciano nasceu em 210 DC; o local do nascimento dele é desconhecido, possivelmente a Frígia.124 Ele estava servindo como ancião na igreja em Roma, quando ocorreu uma cisão, em 251 DC, sobre a questão de se recomunicar com os que haviam deixado a igreja durante um período de perseguição (Cipriano de Cartago faz referência a esta situação em seu Tratado Referente aos Enfermos). Novaciano adotou uma “linha dura”, deixou a Igreja Católica, e fundou uma seita chamada de Catharoi (uma palavra com o mesmo significado da palavra “Puritanos”). Ele serviu como bispo dessa seita até seu martírio em 280 DC. Os Catharoi (que não devem ser confundidos com os Cátaros de uma época posterior!) continuaram como denominação separada até algum momento do sexto século.125

Antes de 250 DC, Novaciano tinha escrito pelo menos duas “epístolas”126 que não foram preservadas. Ele escreveu um Tratado Sobre os Alimentos Judaicos em 250 DC. Ele também escreveu um Tratado Sobre a Trindade em 257 DC. O primeiro contém uma referência ao tema da imortalidade humana; o segundo contém várias.

Em Alimentos Judaicos 5:18, Novaciano cita Cristo como dizendo: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou.” (João 6:27). Esta é uma citação substancialmente precisa de um versículo popular entre os condicionalistas modernos que seguem a interpretação que faz com que o termo “a qual” se refira à frase “vida eterna”, em vez de à palavra “comida”.

Em Trindade 1, Novaciano descreve a “punição” pela desobediência de Adão à ordem de Deus de não comer “o fruto da árvore” do conhecimento do bem e do mal como sendo a “mortalidade”.

Uma vez em Trindade 2, uma vez em Trindade 3, três vezes em Trindade 4, uma vez em Trindade 6, e uma vez em Trindade 31, Novaciano afirma que Deus é “imortal”;127 mas em Trindade 15:28 ele diz que “todo homem é mortal” e acrescenta que “a imortalidade não pode ser do que é mortal.”128

Em Trindade 14:12, ele descreve a punição por negar a Cristo como “a destruição da alma”, e em Trindade 14:15, 16 ele prossegue dizendo: “Se Cristo é apenas homem, como é que ‘assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim Ele deu também ao Filho ter a vida em si mesmo’, quando o homem não pode ter vida nele, a exemplo de Deus, o Pai, porque ele é não glorioso em eternidade, mas feito com os materiais da mortalidade? Se Cristo é só homem, como é que ele diz, ‘Eu sou o pão da vida eterna, que desceu do céu’, quando o homem não pode ser nem o pão da vida, ele mesmo sendo mortal, nem poderia ter descido do céu, uma vez que nenhuma matéria perecível está estabelecida no céu?”129 Aqui Novaciano baseia um argumento a favor da divindade de Cristo na própria distinção entre Divindade e humanidade, já que Divindade é por natureza imortal, e humanidade não é imortal.

Da mesma forma, em Trindade 15:38 ele diz que “todo homem está sujeito às leis da mortalidade, e, portanto, é incapaz de manter-se [vivo] para sempre”.130

Adicionalmente, em Trindade 16:2, 3, ele faz referência à punição pela incredulidade como sendo “morrer para sempre” e “morrer eternamente”, enquanto que, em Trindade 16:4, ele diz, a título de contraste, que o crente (e ele somente) está “destinado a atingir a vida eterna.”131

E em Trindade 18:37, ele faz referência à “destruição do povo de Sodoma” (note-se que ele não diz, “a destruição da cidade”, e sim “a destruição do povo”).

As citações acima tornam claro que, conforme diz o Dr. Froom, “Novaciano era condicionalista.”132

Que dizer então de Trindade 25:9-17, que contém as seguintes declarações: “Pelo que se a divindade em Cristo não morre, mas a substância da carne apenas é destruída, quando em outros homens também, que não são carne apenas, e sim carne e alma, só a carne de fato sofre as incursões do definhamento e morte, enquanto a alma é encarada como incorruptível, e além das leis da destruição e da morte?” (v. 9); “… se a alma imortal não pode ser morta…” (v. 11); “… se em algum homem qualquer que seja, a alma tem esta excelência de imortalidade que não pode ser morta…” (v. 12); “… se a crueldade do homem não consegue destruir a alma…” (v. 13); “a própria alma… não é morta por homens” (v.14); e “… se… a morte… não destrói a alma, embora ela dissolva os próprios corpos: pois ela pode exercer o seu poder sobre os corpos, não aproveitou para exercê-lo sobre as almas; pois um deles era mortal, e, portanto, morreu; o outro era imortal, e, portanto, entende-se que não foi extinto” (v. 17)? A abundância de palavras tais como “que se”, “quando”, “enquanto”, “é encarada”, “se”, “se… isso”, “se… embora” e “entende-se” leva-me a sugerir que Novaciano está aqui usando uma forma de argumento no qual ele concede aos seus leitores “a bem do argumento” certas suposições que ele sabe que eles admitirão, o que permitirá a ele convencê-los de seu ponto, embora ele não defenda esses pressupostos como parte de seu próprio sistema de crenças (conforme demonstrado em outros lugares).

Em Trindade 29:25-27, Novaciano associa claramente a imortalidade humana com a ressurreição de corpos humanos (em oposição à sobrevivência de almas humanas): “[O Espírito Santo é] um habitante dado pelos nossos corpos e um condicionador de sua santidade. Que, trabalhando por nós na eternidade, pode também produzir nossos corpos na ressurreição da imortalidade…. Pois nossos corpos são treinados tanto nele como por ele para avançar para a imortalidade, aprendendo a se governar com moderação segundo os decretos dele”.

Novaciano foi chamado de “herege” por Cipriano de Cartago (e outros, incluindo o autor anônimo do Tratado Contra o Herege Novaciano, que foi escrito em 255 DC na África), mas não por causa de sua posição sobre a imortalidade; e sim por causa de sua abordagem estrita na questão da recomunicação, que resultou no rompimento dele com a linha mais “moderada” do catolicismo. Na verdade, o autor do Tratado Contra o Herege Novaciano provavelmente era ele próprio um condicionalista; ele frequentemente usa a palavra “destruição” para fazer referência ao destino dos condenados, e cita vários trechos bíblicos usados muitas vezes por condicionalistas modernos, tais como Ezequiel 18:4, 20, 21; Mateus 10:28; Lucas 18:1-5; Judas 15 (que ele alterou para dizer “executar julgamento contra todos e para destruir todos os iníquos”, etc.); e Apocalipse 6:17 (que ele alterou para dizer “porque o dia da destruição vem”, etc.).

Gregorio Taumaturgo de Neo-Cesaréia

Gregório Taumaturgo (esse apelido significa “Operador de Milagres”) nasceu em 213 DC em Neo-Cesaréia, Ponto.133 Ele foi criado num lar pagão, estudando filosofia neoplatônica e lei romana, mas se converteu ao cristianismo por meio do ensinamento de Orígenes de Alexandria em 233 DC. Cinco anos depois, ele voltou para sua cidade natal, encontrou 17 cristãos lá e organizou-os numa igreja. Daí, ele serviu como bispo de Neo-Cesaréia de 240 DC134 até sua morte, em 270 DC, em Neo-Cesaréia135, ocasião em que disseram (um exagero, talvez) que só restavam 17 pagãos na cidade!

Eis aqui os títulos de alguns dos escritos de Gregório:

Declaração de Fé

Metáfrase do Livro de Eclesiastes

Oração e Panegírico Dirigido a Orígenes (238 DC)

Epístola Canônica (258-262 DC)

Confissão Seccional de Fé

Sobre a Trindade

Doze Tópicos Sobre a Fé

Sobre o Assunto da Alma

Quatro Homilias

Sobre Todos os Santos

Sobre o Evangelho Segundo Mateus

Uma rápida leitura de Sobre o Assunto da Alma torna fácil estabelecer a posição de Gregório sobre a questão da imortalidade humana. Todo o sexto capítulo é dedicado à questão de “Se nossa alma é imortal”. O versículo 3 conclui que “a alma, sendo simples, e não sendo constituída por diversas partes, mas sendo não composta e indissolúvel, deve ser, em virtude disso, incorruptível e imortal.”136 O versículo 5 acrescenta que “a alma, sendo auto-atuante, não tem cessação de seu ser”137 Os versículos 6 e 7 raciocinam que “segue-se que isso que é auto-atuante é sempre atuante; e o que é sempre atuante é incessante; e o que é incessante é sem fim; e o que é sem fim é incorruptível; e o que é incorruptível é imortal. Consequentemente, [uma vez que] a alma é auto-atuante, como foi mostrado acima, conclui-se que ela é incorruptível e imortal.”138 O versículo 10 reitera, “Portanto [já que], a alma não é corrompida pelo mal peculiar a si mesma, e o mal da alma é a covardia, a intemperança, a inveja, e assim por diante, e todas estas coisas não a despojam de seus poderes de vida e ação, segue-se que ela é imortal.”

Portanto, não há dúvida que, assim como seu mestre, Orígenes de Alexandria, Gregório Taumaturgo era naturalista.

Arnóbio de Sica

Arnóbio, o Velho nasceu por volta de 250 DC. Ele morava em Sica, Numídia, África do Norte. Como pagão, ele era conhecido por seu ódio intenso ao cristianismo. Ele se converteu por volta de 303 DC, mas a princípio desconfiaram dele (como ocorreu com Saulo, em Atos 9:26), e o batismo lhe foi recusado. Isto o levou a publicar uma série de sete livros intitulados coletivamente Disputas Contra os Pagãos em algum momento entre 303 e 310 DC.139 Farei referência a esses livros como 1 Disputas, 2 Disputas, 3 Disputas, 4 Disputas, 5 Disputas, 6 Disputas, e 7 Disputas, respectivamente, para os propósitos deste livro. Arnóbio morreu por volta de 327 DC.140

Em 1 Disputas 18:5, Arnóbio diz que a morte “encerra todas as coisas, e tira a vida de todos os seres sencientes.” No mesmo versículo, ele usa a palavra “extinção” como sinônima para a palavra “morte”.

Em 1 Disputas 64:8, Arnóbio diz que Cristo “foi enviado pelo único [verdadeiro] Rei… para trazer-lhe a imortalidade, que você acha que [já] possui, confiando nas asserções de alguns homens” (i.e., os filósofos gregos, como Platão, etc.). Claramente, Arnóbio não está dizendo que ele acredita que seus leitores “[já] possuem” imortalidade. Pelo contrário, a crença dele é que a imortalidade deve ser trazida a eles, e que Cristo fez isso. Alguns versículos depois (em 1 Disputas 65:1), ele diz que esta “era ingrata e ímpia” (referindo-se à geração pagã em que ele vivia) está “preparada para sua própria destruição, devido à sua extraordinária obstinação.” Depois, no mesmo capítulo ele afirma que Cristo “disse aos seus inimigos… o que deve ser feito para que eles possam escapar da destruição e obter a imortalidade, que eles não conheciam” (1 Disputas 65:13). E, no versículo seguinte (1 Disputas 65:14), ele diz “que de nenhuma outra maneira” além de crer em Cristo “eles poderiam evitar o perigo de morte.”

Em 2 Disputas 1:8, Arnóbio diz a seus leitores pagãos que Cristo “preparou para vocês um caminho para… a imortalidade, pela qual vocês anseiam” – mas por que eles ‘ansiariam’ por algo que já possuíam inerentemente?

Em 2 Disputas 7:17, Arnóbio lembra a seus leitores pagãos que “a alma… segundo vocês dizem é imortal” – mas ele não teria necessidade de incluir as palavras “segundo vocês dizem”, se ele acreditasse que a alma é imortal, como ele afirma que eles acreditavam.

2 Disputas 14 é uma comparação da própria doutrina (cristã) de Arnóbio sobre o “inferno” (v. 1) com a doutrina (filosófica grega) de Platão sobre a “imortalidade da alma” (v. 1). Entre outros pontos estabelecidos neste capítulo estão os seguintes: os cristãos falam de “fogos que não podem ser extintos” (v. 1), enquanto que Platão diz que “a alma é imortal”; (v. 3) e os cristãos acreditam que as almas dos ímpios são “aniquiladas” e “passam inutilmente para a destruição eterna” (v. 7), enquanto Platão “pensou ser uma crueldade desumana condenar almas à morte.” (v. 6). Arnóbio conclui expondo o que ele chama de “doutrina de Cristo” (v. 8): Que as almas “perecem se elas não conheceram a Deus”, mas são “livradas da morte se elas deram ouvidos a” Ele (v. 8) e por declarar que a “verdadeira morte do homem… não deixa coisa alguma para trás” (v. 9), porque “as almas que não conhecem Deus serão consumidas no… fogo” (v. 10). No primeiro versículo do capítulo seguinte (2 Disputas 15:1), Arnóbio descreve a “opinião… de que as almas são imortais” como “extravagante”.

Em 2 Disputas 16:3-5, Arnóbio pergunta: “Deixareis vós de lado sua arrogância habitual, ó homens, que alegam que Deus é vosso Pai, e sustentam que sois imortais, assim como Ele é? Será que inquirireis, examinareis, pesquisareis o que sois, de quem sois, qual a vossa ascendência, o que fazeis no mundo, de que forma nascestes, como viestes a viver? Será que deixareis de lado toda a parcialidade, considerareis, no silêncio de vossos pensamentos que somos criaturas, ou muito parecidas com o resto, ou distintas por nenhuma grande diferença?” Ele responde sua própria pergunta três capítulos depois: “Se os homens conhecessem a si próprios de modo abrangente, ou tivessem o menor conhecimento de Deus, eles jamais alegariam possuir uma natureza divina e imortal;” (2 Disputas 19:1). Em 2 Disputas 18:3, ele diz, “se a alma tivesse em si mesma o conhecimento que é apropriado para uma estirpe divina e imortal, todos os homens saberiam tudo desde o princípio”, o que, obviamente, não é o caso, já que os seres humanos sempre estão aprendendo coisas novas com o passar do tempo. Da mesma forma, em uma longa consideração sobre o mesmo assunto, Arnóbio afirma que “tem-se acreditado que as almas dos homens são divinas, e, portanto, imortais”, e ele chega a sugerir que esta ideia “foi aceita precipitadamente e tomada como certa.” (2 Disputas 22:2) – e prossegue com uma lista exaustiva de questões destinadas a refutá-la.

Novamente, em 2 Disputas 24:3, Arnóbio representa-se como fazendo a Platão uma pergunta, que começa com as palavras “se você está realmente certo de que as almas dos homens são imortais” (o que significa que essa crença é de Platão, não a dele próprio), e em 2 Disputas 25:2, ele segue esta pergunta com outra, começando com: “É… a… alma… imortal” (indicando, mais uma vez, uma resposta negativa).

Os capítulos 26-36 de 2 Disputas contêm inúmeras referências ao assunto da imortalidade humana. 2 Disputas 26:6, ao fazer referência a “almas” (26:5), diz que “o mesmo raciocínio não só mostra que elas não são incorpóreas, como as priva até mesmo de toda a imortalidade, e remete-as aos limites dentro dos quais a vida normalmente se encerra.”141 Três capítulos depois, Arnóbio apresenta um argumento moral contra a doutrina da imortalidade natural, perguntando: “Como ele pode ser sobrepujado por qualquer medo ou temor (ou seja, do julgamento de Deus), se está convencido de que é imortal, assim como o próprio Deus Supremo, e que nenhuma sentença (ou seja, de morte) pode ser pronunciada sobre ele por Deus, visto que há a mesma imortalidade em ambos, e que o ser imortal não pode ser perturbado por outro, que é apenas igual a ele” (2 Disputas 29:7)?142 O ponto desse argumento é semelhante ao levantado por Jesus quando Ele disse: “Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno.” (Mateus 10:28) (Naturalmente, este versículo é outro “favorito” de muitos condicionalistas!)

Um importante vislumbre do fato de que havia um “debate” em andamento entre naturalistas e condicionalistas na época de Arnóbio aparece em 2 Disputas 31:2, 3: “Daí é que entre homens letrados, e homens dotados de excelentes habilidades há conflito quanto à natureza da alma, e alguns dizem que ela está sujeita à morte, e não pode tomar para si a substância divina; ao passo que outros defendem que ela é imortal, e não pode cair sob o poder da morte… pois, por um lado, apresentam-se argumentos por uma das partes, pelos quais se verifica que a alma é capaz de sofrer, e perecível; e, por outro lado, não faltam argumentos aos seus oponentes, por meio dos quais se mostra que a alma é divina e imortal”143 No capítulo seguinte, Arnóbio deixa claro que posição ele tomou no debate, dizendo: “Fomos ensinados pelo maior instrutor (isto é, Jesus) que as almas estão situadas não longe das mandíbulas escancaradas de morte; que elas podem, no entanto, ter suas vidas prolongadas pela graça e bondade do Governante Supremo se apenas elas tentarem fazer um esforço de conhecê-lo – pois o conhecimento dele é um tipo de fermento vital e cimento para unir o que de outra forma estaria separado.” (2 Disputas 32:1).144 No capítulo 33, dirigido a leitores presumivelmente naturalistas (como eram todos os filósofos gregos pagãos), ele acrescenta: “Vocês acham que, assim que se forem, libertos das obrigações de seus membros carnais, vocês encontrarão asas com as quais poderão ascender ao céu… Nós evitamos tal presunção, e não pensamos que isso esteja em nosso poder.” (2 Disputas 33:3-4).145

Perto do fim desta consideração, Arnóbio pergunta: “se as almas são mortais…, como podem elas… tornar-se imortais?” (2 Disputas 35:1). A resposta dele próprio a esta pergunta é dada no próximo capítulo, onde ele diz que “a imortalidade é um dom de Deus”, pelo qual Ele “se dignou a conferir a vida eterna às almas”, que de outra foram seriam destinadas à “aniquilação total” (2 Disputas 36:3).146 Bem à frente no livro, esse ensinamento é resumido na frase “que as almas dos homens… são dotadas com a imortalidade, se eles repousarem sua esperança dessa tão grande dádiva no Deus Supremo, o único que tem poder de conceder tais bênçãos, por afastar a corrupção” (2 Disputas 53:1).147 E no Capítulo 62, Arnóbio acrescenta: “Ninguém além do Deus Todo-Poderoso pode preservar as almas; nem há alguém mais que possa dar-lhes longura de dias, e conceder-lhes também um espírito que nunca morrerá, exceto Ele, o único que é imortal.”148

Em 2 Disputas 63:1, Arnóbio retrata seus adversários como dizendo que ele (Arnóbio) ensina que “Cristo foi enviado por Deus para este fim, para que pudesse libertar almas infelizes da ruína e destruição…”.

Em 2 Disputas 64:13, Arnóbio defende sua crença de que Deus oferece a vida eterna a seres humanos, mas não os obriga a recebê-la – um conceito que, segundo me parece, seria difícil um naturalista manter – por dizer que “nossa salvação não é necessária para Ele, de maneira que Ele ganharia ou perderia alguma coisa, quer nos tornasse [imortais], quer permitisse que fôssemos aniquilados e destruídos pela corrupção.” Uma vez que é claro que ele já havia ensinado que Deus não “tornou” os seres humanos imortais, é igualmente claro que ele ensina aqui que Deus realmente “permite” que eles sejam “aniquilados” e “destruídos”.

Comparando a doutrina cristã da salvação com as crenças pagãs sobre os diferentes poderes de seus vários deuses, Arnóbio afirma que “é direito de Cristo unicamente dar a salvação às almas, e atribuir-lhes a vida eterna… as almas não podem receber de ninguém a vida e a salvação, exceto dele a quem o Supremo Governante deu essa incumbência e dever. O Mestre Todo-Poderoso do mundo determinou que este deve ser o caminho da salvação – esta é a porta da vida, por assim dizer – por Ele apenas há acesso à luz: os homens não podem engatinhar ou entrar em outro lugar, sendo todos os outros caminhos fechados e protegidos por uma barreira impenetrável. Sendo assim… por esforço algum você poderá alcançar o prêmio da imortalidade, a não ser que Cristo presenteie o que você entende que constitui esta imortalidade, e tenha sido autorizado a entrar na verdadeira vida.” (2 Disputas 65:11-66:1).

Em 2 Disputas 72:7, falando do “Todo-Poderoso e Supremo Deus” (2 Disputas 72:4), Arnóbio pergunta: “Não é Ele somente incriado, imortal e eterno?” Embora ele não cite realmente 1 Timóteo 6:16 (um versículo favorito de muitos condicionalistas modernos), ele certamente estabelece o mesmo ponto que é estabelecido lá:  Deus é imortal; portanto, os seres humanos não são imortais.

Com base em todas essas referências, está muito claro que “Arnóbio era um condicionalista militante.”149

Resposta à Questão

Na Introdução deste livro, nosso tópico de discussão foi definido da seguinte forma: “O que podemos aprender com os escritos dos Pais da Igreja com relação à(s) posição(ões) defendida(s) na época deles sobre o tema da imortalidade humana? Especificamente, queremos descobrir se os Pais Apostólicos, Sub-Apostólicos e Antenicenos do primeiro, segundo e terceiro séculos tinham um conceito semelhante ao conceito popular moderno, ou um mais semelhante ao conceito condicionalista.”

Após definir os dois conceitos, e rotulá-los, por conveniência, como “Naturalismo” e “Condicionalismo”, respectivamente, fiz uma recapitulação das vidas e obras de doze Pais Apostólicos, sete Sub-Apostólicos, e onze Pais Antenicenos, cujos escritos abrangem o período de 95 DC até algum momento entre 303 e 310 DC. Conforme eu disse no tópico “As Fontes Antigas”, não estudamos cada escritor cristão dos primeiros três séculos, e sim cada escritor cristão dos primeiros três séculos em cujas obras eu pude encontrar quaisquer referências ao tema da imortalidade humana.

Cada um dos trinta autores foi classificado ou como condicionalista ou como naturalista. Agora chegou o momento de perguntar: O que descobrimos com este exercício?

Parece-me que a primeira, e talvez mais importante coisa que descobrimos é que na Igreja primitiva, assim como na Igreja atual, existiram cristãos verdadeiros e sinceros de ambas as convicções doutrinárias que estudamos. Vimos também que frequentemente ocorreu um “debate” enérgico, às vezes até injurioso, entre os representantes das duas posições. Todavia, é importante notar que tudo isto estava ocorrendo dentro do contexto mais amplo da comunhão cristã universal que era geralmente conhecida na época como a Igreja “Católica”. Isso não era primariamente uma argumentação entre cristãos e não cristãos, nem era uma “luta” entre cristãos ortodoxos e cultistas heterodoxos. Era realmente uma discussão doutrinária entre indivíduos e entre grupos, sendo que todos eram membros do mesmo corpo de Cristo em todo o mundo, a Igreja Cristã.

A segunda, e próxima coisa mais importante que descobrimos é que, durante o período em estudo, o condicionalismo, e não (como é o caso hoje) o naturalismo, era a visão mais prevalecente nos escritos dos Pais da Igreja. Este fato pode ser demonstrado por meio duma enumeração simples, conforme segue:

Condicionalistas:16 definidos, 4 prováveis– Total: 20
Naturalistas:8 definidos, 1 provável– Total:   9
Não classificados: – Total:   1

Assim, o condicionalismo prevalece sobre o naturalismo por uma maioria aproximada de 2/3 dos trinta Pais que pudemos classificar.

Outra questão que vale a pena considerar é: Foi este um conflito regional? Eram os Pais numa área geográfica mais inclinados ao condicionalismo, e os Pais em outra região mais inclinados ao naturalismo? O gráfico a seguir ilustra a surpreendente resposta a esta questão:

RegiãoCondicionalistasNaturalistas
Ásia8 ou 91
Europa72
África2 ou 35
(Desconhecido)21

Logo a seguir, o leitor perceberá a razão pela qual parece ter havido essa predominância do condicionalismo na Ásia, o continente onde o Cristianismo se originou. A “surpresa” é ver o contraste entre a predominância do condicionalismo na Europa, o continente que depois veio a ser a “sede mundial” do Cristianismo, e a predominância do naturalismo na África, o continente em que o cristianismo depois se tornou virtualmente extinto. Alguém pensaria que teria sido o contrário! O que o gráfico realmente mostra é que tanto os condicionalistas como os naturalistas podem ser encontrados em todas as três áreas do mundo que foram influenciadas pelo cristianismo nos primeiros séculos. Eu não creio que isso mostre que a geografia, ou o regionalismo, tenha desempenhado realmente um papel tão importante no debate naquele momento.

Parece-me que um papel muito mais importante foi desempenhado pela passagem do tempo. O gráfico na próxima página foi montado de maneira a ilustrar o “progresso” das duas doutrinas ao longo do período de tempo abrangido pelo estudo. Ele enumera cada Pai da Igreja sob o cabeçalho apropriado em ordem cronológica desde a época dos apóstolos (no topo da página) até a época do Concílio de Nicéia (na parte inferior).

CONDICIONALISTAS NATURALISTAS
Clemente de Roma
O(s) escritor(es) das Odes de Salomão
Inácio de Antioquia
Policarpo de Esmirna
Pápias de Hierápolis
O(s) escritor(es) da Didaqué
Quadrato de Atenas
Matetes
Clemente de Corinto
Barnabé de Alexandria
Aristides de Atenas
Hermas de Roma
Justino de Samaria
Taciano da Assíria
Teófilo de Antioquia
Melito de Sardes
  
  Atenágoras de Atenas
Polícrates de Éfeso
Irineu de Lyon
  
 Clemente de Alexandria (não classificado) 
  Tertuliano de Cartago
Hipólito de Porto Romano
O(s) escritor(es) das Pseudo-Clementinas
Minúcio Felix da África
Orígenes de Alexandria
Comodiano da África
Cipriano de Cartago
Novaciano de Roma  
  Gregório Taumaturgo de Neo-Cesaréia
Arnóbio de Sica  

Visto desse modo, o “placar” vem a ser:

Antes da época de Clemente de Alexandria– 18 condicionalistas, 1 naturalista
Depois da época de Clemente de Alexandria–   2 condicionalistas, 8 naturalistas

Fica claro, com base neste gráfico, que o condicionalismo era a doutrina original da Igreja Primitiva (95-177 DC), e que o naturalismo foi introduzido pela primeira vez por Atenágoras de Atenas, e popularizado por Tertuliano de Cartago, e depois da época deste último rapidamente se tornou o conceito predominante, embora tenha continuado a existir uma minoria vocal de condicionalistas.

Agora fica mais clara a razão de o condicionalismo ser muito mais forte na Ásia durante os primeiros três séculos do que era na Europa e na África. A Ásia foi o continente em que o Cristianismo se originou. As igrejas da Ásia se apegaram mais tenazmente à doutrina original (o condicionalismo), enquanto as igrejas na Europa e na África foram progressivamente caindo sob a influência da doutrina mais recente (o naturalismo).

Fora do escopo que foi definido para este livro, mas, certamente dentro dos limites da relevância do assunto, é a questão de como o debate entre os defensores das duas doutrinas teve continuidade depois do Concílio de Nicéia (325 DC). Resumidamente, a resposta a esta pergunta é que o debate prosseguiu, com uma porcentagem cada vez maior dos escritores pós-Nicéia abraçando o naturalismo conforme os séculos passavam. Em momento algum se chegou à unanimidade. Por fim, no ano de 1513, o Quinto Concílio de Latrão, da Igreja Católica Romana, condenou oficialmente o condicionalismo como heresia. Mesmo assim, porém, o debate não terminou. Apenas quatro anos depois, Martinho Lutero rompeu com o Catolicismo Romano e começou o movimento conhecido hoje como Protestantismo. Ele, e muitos outros líderes protestantes originais, tais como John Wycliffe, William Tyndale, John Milton e John Darby reviveram a antiga crença na imortalidade condicional. Outros reformadores eram naturalistas. Assim, enquanto o debate foi encerrado na Igreja Católica Romana, por decreto oficial, ele logo surgiu de novo nas igrejas protestantes, e continua (lá) até o dia de hoje. Conforme mencionei na Introdução, algumas denominações adotaram uma “posição” oficial em favor de uma das doutrinas ou da outra. Muitas outras denominações mantiveram as portas abertas para os cristãos de qualquer persuasão. O “debate” continua.

Considerações Finais

Vimos que há duas opiniões radicalmente diferentes sobre a questão da imortalidade humana: viemos a conhecê-las como Naturalismo e Condicionalismo. Observamos também que durante a maior parte da história cristã um “debate” tem sido travado entre os defensores das duas posições. Além disso, descobrimos que quase todos os Pais da Igreja que escreveram antes de 200 DC eram condicionalistas, e que a maioria dos que escreveram entre essa época e 310 DC eram naturalistas. Concluímos que a imortalidade condicional era a doutrina original e predominante da Igreja primitiva.

Nesse ponto, acredito que seria sábio reiterar que não procurei “provar” a correção ou incorreção de uma dessas doutrinas. Eu só procurei determinar qual dos conceitos era o mais prevalecente na Igreja primitiva. É por isso que citei extensivamente os escritos dos primitivos Pais da Igreja e não fiz citações frequentes das Escrituras Sagradas. Não estou de forma alguma tentando dar a entender que a Bíblia não tem nada a dizer sobre este assunto: pelo contrário, ela tem tanto a dizer que seria necessário um livro muito, muito maior para abranger tudo. Nem estou querendo sugerir que o que a Bíblia diz não é importante. Pelo contrário, é minha crença de que o que quer que a Bíblia ensine sobre este assunto é de importância absoluta e decisiva. Mas, o objetivo declarado deste trabalho era analisar os conceitos da Igreja primitiva, e os comentários da Bíblia estão, portanto, fora do escopo definido do livro.

A maior parte dos autores que escreveram sobre este assunto seguiram bem firmemente um caminho ou o outro. Mas, pode-se perguntar: “Se houvesse uma resposta bíblica simples e clara à questão de se a imortalidade é ‘natural’ ou ‘condicional’, então por que houve debate sobre isso ao longo dos últimos dezoito séculos?” Por um lado, durante muitos desses séculos, a maioria das pessoas não teve a oportunidade de estudar a Bíblia por si mesma. O voto da maioria, o decreto eclesiástico, injúrias acaloradas, e até mesmo perseguição e ameaça de morte, foram utilizadas como meios de “resolver” esta questão. Por outro lado, ainda hoje muitas igrejas excluem potenciais membros, a menos que eles aceitem uma resposta pré-embalada, imposta à sua consciência por meio da assinatura de uma Declaração de Fé denominacional. Se mais igrejas mantiverem suas portas abertas aos cristãos de qualquer persuasão, permitindo que o assunto seja estudado e respondido com base nas Escrituras, é mais provável que vejamos esta questão respondida decisivamente em nosso período de vida.

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John H. Roller

Notas

1 Veja, por exemplo, a consideração de Charles Ryrie intitulada “The Nature of Man” [A Natureza do Homem] em seu livro, A Survey of Bible Doctrine [Um Levantamento da Doutrina Bíblica], págs. 104-107.

2 Veja, por exemplo, a consideração de Basil Atkinson sobre “The Nature of Man” [A Natureza do Homem] em seu livro, Life and Immortality [A Vida e a Imortalidade], págs. 1-29. Observe também o parágrafo inicial da Introdução, na pág. iii.

3 Hoffman, Mark, 1989 World Almanac [Almanaque Mundial], pág. 509.

4 Froom, LeRoy, The Conditionalist Faith of Our Fathers [A Fé Condicionalista de Nossos Pais], pág. 762.

5 Lake, Kirsopp, The Apostolic Fathers [Os Pais Apostólicos], pág. 67.

6 Lake, op. cit.

7 Ibid., pág. 79.

8 Ibid., pág. 97.

9 Constable, Henry, The Duration and Nature of Future Punishment [A Duração e a Natureza da Punição Futura], pág. 168.

10 Froom, op. cit., pág. 767.

11 A informação biográfica e cronológica em geral foi extraída de duas fontes:

The Old Testament Pseudepigrapha, Volume Two [Os Pseudoepigráficos do Antigo Testamento, Volume 2], editado por James H. Charlesworth, The Anchor Bible Reference Library, publicada por Doubleday, 1985.

Early Christian Writings: New Testament, Apocrypha, Gnostics, Church Fathers, Odes of Solomon [Os Primitivos Escritos Cristãos: Novo Testamento, Apócrifos, Gnósticos, Pais da Igreja, Odes de Salomão], www.earlychristianwritings.com/odes.html

12 Charlesworth, op. cit., pág. 731.

13 Lake, op. cit., pág. 166.

14 Lake, op. cit., pág. 191.

15 Ibid., págs. 213-214.

16 Lake, op. cit., pág. 231.

17 Ibid., pág. 271.

18 Froom, op. cit., pág. 773.

19 Lake, op. cit., pág. 280.

20 Ibid., pág. 285.

21 Lake, op. cit., pág. 289.

# N.T.: Nem todos os cristãos estão de acordo com o conceito de “onipresença” de Deus. Contudo, mesmo que ficasse comprovado que tal conceito não é verdadeiro, isso não tornaria as expressões “na presença do Senhor” e “no céu” equivalentes. Por exemplo, em Gênesis 17:1 lemos: “Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito.” (Almeida Atualizada) [Estaria Abraão ‘andando’ no céu?]. Salmos 139:7, 8 diz: “Para onde poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura [“no Seol”, Almeida], também lá estás.” (Nova Versão Internacional). [Ninguém pode ‘fugir da presença de Deus’, não importa para onde vá. E isto inclui o próprio Seol.]. Ezequiel 16:48-50 diz: “… Sodoma, tua irmã, e as suas filhas não agiram como tu e as tuas filhas… Eram altivas e cometeram abominação na minha presença. Por isto eu as eliminei, como viste.” (Bíblia de Jerusalém) [Estiveram os habitantes de Sodoma no céu, ‘cometendo abominação’ lá?]. E muitas outras referências bíblicas similares a estas poderiam ser citadas. É inútil, pois, qualquer tentativa de obrigar Policarpo a “dizer” que aqueles cristãos falecidos encontravam-se no céu, pelo fato de ele ter usado a expressão “na presença do Senhor”. A verdade é esta: Policarpo simplesmente não afirmou coisa alguma sobre “céu”.

22 Froom, op. cit., pág. 796.

23 Moyer, Elgin, Wycliffe Biographical Dictionary of the Church [Dicionário Biográfico Wycliffe da Igreja], pág. 314.

24 Roberts, Alexander, The Ante-Nicene Fathers [Os Pais Antenicenos], Vol. 1, pág. 151.

25 Froom, op. cit., págs. 774-775.

26 Lake, op. cit., pág. 333.

27Ibid., págs. 324-325.

28 Ibid., pág. 325.

29 Moyer, op. cit., pág. 337.

30 Roberts, op. cit., Vol. 1, pág. 23.

31 Roberts, op. cit., Vol. 7, pág. 513.

32 Ibid., pág. 519, nota 16.

33 Froom, op. cit., pág. 778.

34 Lake, op. cit., pág. 359.

35 Ibid., págs. 369-371.

36 Ibid., pág. 383.

37 Lake, op. cit., pág. 383.

38 Ibid., pág. 359.

39 Ibid., pág. 381.

40 Ibid., pág. 407.

41 Ibid., págs. 407-409.

42 Moyer, op. cit., pág. 16.

43 Schepps, Solomon, Lost Books of the Bible [Os Livros Perdidos da Bíblia], pág. 197, e Hoffman, op. cit., pág. 509.

44 Froom, op. cit., pág. 788.

45 Schepps, op. cit., pág. 197.

46 Brandyberry, James, Development of the Doctrine of Immortality from the Apostolic Fathers to Augustine  [O Desenvolvimento da Doutrina da Imortalidade dos Pais Apostólicos a Agostinho], pág. 4.

47 Smith, Dustin, Justino, o Mártir, pág. 1.

48 Smith, op. cit., págs. 1, 2.

49 Roberts, op. cit., Vol. 1, pág. 197.

50 Smith, op. cit., pág. 6.

51 Ibid., págs. 7-8.

52 Ibid., pág. 5.

53 Smith, op. cit., pág. 9.

54 Froom, op. cit., págs. 826, 827. Note-se, especialmente, a citação de Alger (na parte inferior da pág. 826).

55 Froom, op. cit., pág. 834.

56 Roberts, op. cit., Vol. 2, pág. 67.

57 Ibid.

58 Ibid., págs. 67, 68.

59 Ibid., pág. 69.

60 Ibid., pág. 70.

61 Ibid., pág. 72.

62 Froom, op. cit., págs. 840-841.

63 Roberts, op. cit., vol. 2, pág. 91.

64 Ibid., pág. 93.

65 Ibid., pág. 104.

66 Ibid., pág. 105.

67 Roberts, op. cit., Vol. 2, pág. 113.

68 Moyer, op. cit., pág. 272.

69 Roberts, op. cit., Vol. 8, pág. 753.

70 Ibid.

71 Ibid., pág. 754.

72 Ibid., págs. 755, 756.

73 Roberts, op. cit., Vol. 2, pág. 127.

74 Brauer, Jerald, Westminster Dictionary of Church History [Dicionário de História da Igreja de Westminster], págs. 70-71.

75 Roberts, op. cit., Vol. 2, pág. 157.

76 Ibid.

77 Brandyberry, op. cit., pág. 8.

78 Moyer, op. cit., págs. 331-332.

79 Roberts, op. cit., Vol. 8, pág. 774.

80 Ibid., pág. 773.

81 Ibid.

82 Von Campenhausen, op. cit., pág. 27.

83 Moyer, op. cit., pág. 204.

84 Roberts, op. cit., Vol. 1, pág. 403.

85 Ibid., págs. 411, 412.

86 Froom, op. cit., pág. 873.

87 Mbeke, Anne, Clement of Alexandria and Conditional Immortality [Clemente de Alexandria e a Imortalidade Condicional], pág. 2.

88 Moyer, op. cit., pág. 94.

89 Von Campenhausen, op. cit., pág. 38.

90 Osbeck, Kenneth, Amazing Grace: 366 Inspiring Hymn Stories for Daily Devotions [Graça Maravilhosa: 366 Histórias de Hinos Inspiradores Para Devoções Diárias], pág. 81.

91 Froom, op. cit., pág. 758.

92Ibid.

93 Roberts, op. cit., Vol. 3, pág. 3.

94 Ibid., pág. 4.

95 McDonald, op. cit., Vol. 6, pág. 1139.

96 Roberts, op. cit., Vol. 5, pág. 6.

¥N.T.: Com o objetivo de situar a Epístola a Diogneto o mais próximo possível do período apostólico, há quem procure transmitir a impressão de que só existe incerteza quanto à autoria dela, mas não quanto à data de sua escrita, existindo até “fortes evidências” de que teria sido por volta de 120 D.C. Nada mais falso. As mesmas dúvidas que existem entre os eruditos quanto à autoria e ao destinatário, aplicam-se à data da composição. As datas propostas são bem variáveis, abrangendo da década de 70 do primeiro século até o início do quarto século. Sobre a teoria de que o autor teria sido Quadrato de Atenas, certa obra diz:

“Na década de 1940 P. Andriessen propôs e defendeu vigorosamente a opinião de que a Carta a Diogneto é na verdade a Apologia de Quadrato, evidenciada de outra forma só por meio do bem conhecido fragmento em Eusébio [§ 109 abaixo]. O fragmento de Eusébio não se encontra na Carta a Diogneto; mas Andriessen salientou que parece haver uma lacuna na carta entre o Cap. 7, Vs. 6 e o Cap. 7, Vs. 7, onde algo muito parecido com o fragmento de Quadrato em Eusébio poderia ser esperado. Na teoria de Andriessen, Diogneto é o imperador Adriano, e a Apologia ou Carta a Diogneto foi apresentada a ele por Quadrato na época da Páscoa do ano 125 D.C. A teoria dele é atraente, fascinante, mas não convincente. Tão recentemente quanto 1949, H. G. Meecham defendeu uma data por volta de 150 D.C. para a carta; e em 1951 H. I. Marrou defendeu uma data por volta de 200 D.C. A questão não está resolvida.” (W. A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers [A Fé dos Pais Primitivos], Vol. 1, The Liturgical Press, Collegeville, Minnesota, 1970, pág. 40. Sublinhados acrescentados).

Isto foi escrito em 1970, mas qualquer exame do que os pesquisadores dizem hoje, deixa claro que a mesma incerteza persiste. Assim, não há como apresentar uma data do início do segundo século (ou mesmo antes disso!) como se fosse a ‘correta’ (como tendem a fazer alguns naturalistas). Autorias e datas próximas do fim do segundo século são tão elegíveis como as demais. A hipótese apresentada aqui, de o autor da Epístola ter sido Hipólito de Porto Romano (o que situaria a escrita dela por volta de 200 D.C.) foi defendida por R. H. Connolly em The Date and Authorship of the Epistle to Diognetus [A Data e a Autoria da Epístola a Diogneto], The Journal of Theological Studies [Revista de Estudos Teológicos], Vol. 36, Nº. 144 (outubro de 1935), págs. 347-353.

97 Froom, op. cit., pág. 758.

98 Roberts, op. cit., Vol. 8, pág. 69.

99 Ibid., pág. 150.

100 Roberts, op. cit., Vol. 8, pág. 173.

101 Ibid., pág. 231.

102 Ibid.

103 Ibid., pág. 286.

104 Roberts, op. cit., Vol. 4, pág. 170.

105 McDonald, op. cit., Vol. 9, pág. 883.

106 Roberts, op. cit., Vol. 4, pág. 195.

107 Roberts, op. cit., Vol. 4, pág. 224.

108 Ibid., pág. 229.

109 Ibid., pág. 240.

110 Ibid., pág. 294.

111 Roberts, op. cit., págs. 294, 295.

112 Ibid., pág. 381.

113 Ibid., pág. 472.

114 Ibid., pág. 606.

115 Roberts, op. cit., Vol. 4, pág. 201.

116 Moyer, op. cit., pág. 99.

117 Moyer, op. cit., pág. 108.

118 Roberts, op. cit., Vol. 5, pág. 264.

119 Moyer, op. cit., pág. 108.

120 Roberts, op. cit., Vol. 5, pág. 581.

121 Roberts, op. cit., Vol. 5, pág. 581.

122 Ibid.

123 Froom, op. cit., pág. 758.

124 Froom, op. cit., págs. 902, 903.

125 Moyer, op. cit., pág. 303.

126 Citado em seu Tratado Sobre os Alimentos Judaicos 1:7.

127 Roberts, op. cit., Vol. 5, págs. 612-615.

128 Ibid., pág. 624.

129 Roberts, op. cit., Vol. 5, pág. 623.

130 Ibid., pág. 625.

131 Ibid.

132 Froom, op. cit., pág. 909.

133 McDonald, op. cit., Vol. 6, pág. 797.

134 Roberts, op. cit., Vol. 6, pág. 3.

135 Veja também Moyer, op. cit., pág. 171.

136 Roberts, op. cit., Vol. 6, pág. 56.

137 Ibid.

138 Ibid.

139 Froom, op. cit., págs. 917-918.

140 Moyer, op. cit., pág. 18.

141 Roberts, op. cit., Vol. 6, pág. 444.

142 Ibid., pág. 445.

143 Ibid., pág. 446.

144 Ibid.

145 Ibid.

146 Ibid., pág. 447.

147 Roberts, op. cit., Vol. 6, pág. 454.

148 Ibid., pág. 457.

149 Froom, op. cit., pág. 919.

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