Ir ou não para a universidade?

Será que os métodos usados pela liderança das Testemunhas de Jeová para desencorajar os jovens de ir a universidade mudaram? O breve exame das duas citações que seguem é revelador:

Citação 1:

“Se é jovem, também precisa encarar o fato de que jamais se tornará velho no atual sistema de coisas. Por que não? Porque toda a evidência em cumprimento da profecia bíblica indica que este corrupto sistema de coisas deverá terminar dentro de poucos anos… como jovem, jamais cumprirá qualquer carreira que este sistema ofereça. Se está no ginásio e pensa em obter instrução universitária, isso significará pelo menos quatro, talvez até seis ou oito anos mais a fim de formar-se numa carreira especializada. Mas, onde estará êste sistema de coisas naquele tempo? Já estará caminhando bem para o seu fim, se já não tiver desaparecido! É por isso que os pais que baseiam suas vidas na Palavra profética de Deus acham mais prático orientar seus filhos para profissões que não exijam períodos tão longos de instrução adicional… Com tais profissões práticas, muitos jovens conseguem sutentar-se com trabalho de tempo parcial. Isto lhes permite gastar mais de seu tempo em ajudar as pessoas interessadas a aprender os requisitos de Deus para a vida, por estudarem a Bíblia com elas. Na verdade, aqueles que não entendem onde nos achamos na corrente do tempo, do ponto de vista de Deus, chamarão isto de imprático. Mas, o que é realmente prático: preparar-se para uma posição neste mundo que logo desaparecerá? ou trabalhar no sentido de sobreviver ao fim deste sistema e gozar a vida eterna na nova ordem justa de Deus.” (Revista Despertai! de 22 de novembro de 1969, pág. 15 [grifos acrescentados]).

FOTOCÓPIA:

Testemunhas de Jeová e Universidade - Despertai de 1969

Citação 2:

“Os orientadores educacionais sem dúvida acreditam que o melhor para você é buscar o ensino superior e planejar uma carreira secular. No entanto, a confiança deles se baseia num sistema social e econômico que não tem futuro permanente. Por outro lado, por seguir uma carreira teocrática, você estará buscando objetivos realmente compensadores e permanentes. E estará seguindo o exemplo perfeito de Jesus. Você será feliz se tomar essa decisão sábia. Ela o protegerá.” (Revista A Sentinela de 15 de junho de 2012, pág. 23 [grifos acrescentados]).

FOTOCÓPIA:

Testemunhas de Jeová JW e Universidade - Orientação de 2012

Quase 43 anos – uma vida – separam estes dois pronunciamentos da liderança das Testemunhas de Jeová, e os argumentos usados para orientar os jovens a desistirem da educação universitária e de uma carreira profissional e, em vez disso, dedicarem seu tempo e suas energias à organização religiosa, são essencialmente os mesmos:

1 – a sempre-presente ênfase na proximidade do “fim do sistema” mundial;

2 – a criação de um confronto entre o “conceito humano” e o “conceito divino”;

3 – a apresentação do envolvimento com a organização como a melhor opção para o futuro.

A única diferença entre os dois pronunciamentos é na fraseologia usada em cada um desses argumentos:

1 – termos categóricos tais como “fato”, “evidência”, “deverá” e “jamais” – usados para implantar na mente dos jovens que eram Testemunhas de Jeová no final da década de 1960 que o “sistema” seria destruído em “poucos anos” – foram substituídos por frases vagas, de definição imprecisa, tais como ‘o sistema social e econômico não tem futuro permanente‘.

2 – comparações intimidadoras tais como “palavra profética de Deus” e “ponto de vista de Deus” versus o conceito de homens que ‘não entendem nada’ sobre isso – usadas para impor às mentes jovens a ideia de que a cronologia do “fim” era absolutamente certa – foram substituídas por comparações mais amenas, tais como “exemplo perfeito de Jesus” versus o conceito dos orientadores educacionais.

3 – a garantia de ‘sobrevivência’ (uma preocupação de qualquer ser humano) – apresentada aos jovens que decidissem se envolver profundamente com a organização no final dos anos 1960 – foi substituída por uma garantia de ‘felicidade’ (igualmente uma preocupação de todos na humanidade) para os que decidirem fazer isso agora, no século 21.

É claro que, por mais que o segundo pronunciamento, o da revista A Sentinela de 2012, seja muito menos prolixo e tenha um linguajar bem menos carregado do que o pronunciamento da revista Despertai! de 1969, o efeito nas mentes crédulas dos jovens que seguem a organização, acreditando ser ela a representante exclusiva de Deus na terra, será o mesmo. Que jovem cristão, crente sincero na Bíblia, desejaria se envolver em algo que “não tem futuro permanente”, que está contra o “exemplo perfeito de Jesus” e que vai conduzi-lo a uma ‘vida infeliz’? E será que os jovens Testemunhas que decidirem ir para a universidade – apesar de toda a pressão contrária e desaprovação de seus correligionários – farão isso sem qualquer sentimento de culpa?

E isso de modo algum é o fim do assunto: Todas as pessoas – homens e mulheres de idade avançada hoje, que eram jovens Testemunhas de Jeová no final dos anos 1960 – ainda podem apontar claramente todo o erro e dogmatismo daquele pronunciamento e de outros que influenciaram suas decisões e resultaram em decepção. Os que são jovens no momento em que se escreve isso e que decidirem acatar esse pronunciamento de 2012 (e outros semelhantes a ele) nem isso poderão fazer. Alguém ainda poderá dizer aos futuros decepcionados entre eles que toda a responsabilidade pela decisão foi deles, já que nada taxativo foi dito neste pronunciamento!

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