O Dilúvio do Tempo de Noé ― Sua Cronologia e Extensão

“Enquanto durar a terra, plantio e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais cessarão.” (Gên. 8:22, NVI)

Introdução

Alguns levantam questões com respeito ao relato de Gênesis sobre o Dilúvio dos dias de Noé. Tais pessoas sentem-se perturbadas por alegações de que os documentos antigos da Mesopotâmia fornecem uma cronologia que estenderia a história da população daquela região para um período muito anterior ao que se aceita para a época do Dilúvio, que a Bíblia evidentemente situa no terceiro ou quarto milênio A.E.C. Outros ficam em dúvida quanto à questão do alcance da inundação, se foi ou não um dilúvio global que afetou todo o planeta. Um ponto importante, enfatizado como indicando o contrário, é o fato de que certas espécies de animais, (como um exemplo entre vários, o canguru), são encontradas apenas em pontos isolados do planeta, tanto os seres vivos como os fósseis de tais criaturas, encontrados na terra. Da mesma forma, se ocorreu um dilúvio global, com grande quantidade de água cobrindo todo o planeta, parece difícil entender como os mesmos rios descritos como existentes na região antes da inundação ainda continuaram lá depois disso, aparentemente sem terem sido afetados. (Gênesis 2:10-14). Talvez o mais significativo seja que a finalidade do dilúvio é apresentada como tendo sido a decisão de Deus de pôr fim à maldade desenfreada que reinava entre a raça humana. Isto levanta a questão: Que propósito haveria em aniquilar todos os animais e aves em vastas áreas despovoadas da terra uma vez que estas criaturas não tinham nada que ver com a maldade humana predominante na região onde Noé vivia?

Apresentamos aqui algumas informações que poderão ser úteis para tais questões, servindo para confirmar a historicidade e a confiabilidade do relato bíblico.

A Cronologia da Antiga Mesopotâmia

Estão as cronologias da Mesopotâmia e do Egito em conflito com a data bíblica do Dilúvio, ou seja, aproximadamente 2500 A.E.C., segundo o texto hebraico Massorético e aproximadamente 3500 A.E.C., segundo a versão Septuaginta Grega (LXX)? (A Septuaginta acrescenta 100 anos à idade de alguns dos patriarcas antediluvianos, no momento do nascimento de seus primogênitos, em relação às idades fornecidas no texto Massorético).

Muitos parecem acreditar que as cronologias da antiga Mesopotâmia e do Egito são fixadas com segurança, quando na verdade elas têm uma base muito fraca e mutável.

A cronologia da antiga Mesopotâmia, por exemplo, foi consideravelmente reduzida, passo a passo, como resultado das pesquisas ao longo do século 20, conforme se ilustra na tabela abaixo, que mostra a redução gradual da datação dos reinados de Sargão I e Hamurábi. A cronologia do antigo Egito foi reduzida de forma semelhante durante o mesmo período. O gráfico que segue ilustra isso, os nomes à esquerda sendo os dos eruditos mais destacados no campo de estudos da história e da cronologia da antiga Mesopotâmia (acadiana), durante períodos sucessivos de pesquisa nos séculos 19 e 20.

A CRONOLOGIA DA ANTIGA MESOPOTÂMIA

 Mudanças entre 1895 e 1998

ANOHISTORIADORESSARGÃO IHAMURÁBI
 (O primeiro rei da Dinastia de Acade)(O sexto rei do Primeiro Império Caldeu)
1895Boscawen3800-3755 A.E.C.2235-2193 A.E.C.
1935Will Durant2872-2817 A.E.C.2123-2081 A.E.C.
1942-1998Cronologia maior1848-1846 A.E.C.
Cronologia Média1792-1750 A.E.C.
Cronologia menor1728-1686 A.E.C.
1977Brinkman2334-2279 A.E.C.1792-1750 A.E.C.
1987Muitos eruditos[2270-2215 A.E.C.]1728-1686 A.E.C.
1998H. Gasche[2238-2183 A.E.C.]1696-1654 A.E.C.
Mudanças 1895 / 1998 1562 anos a menos539 anos a menos
[1992][Professor P. James][Uma redução adicional de cerca de 250 anos na cronologia.]

Os problemas relacionados com as cronologias antigas estão longe de serem resolvidos, e é mais provável que os períodos serão reduzidos ainda mais. Um problema é que eles com freqüência estão em conflito com as datas baseadas em C14 (carbono 14 radioativo).

A obra História Antiga da Universidade de Cambridge, Vol. 1:2 (1971, em inglês) data experimentalmente o período do Antigo Império (sigla em inglês: E.D.) mesopotâmico em aproximadamente 3000-2450 A.E.C, e parece apropriado, portanto, citar o que este trabalho tem a dizer sobre um dos problemas com esta datação. O Capítulo XVI, “O Período do Antigo Império Mesopotâmico”, foi escrito pelo famoso arqueólogo britânico Max E. L. Mallowan (falecido em 1978), o qual explicou:

“Infelizmente, esta estimativa aparentemente satisfatória para a extensão do período do Antigo Império não está de acordo com as recentes descobertas de carbono-14, em particular no que se refere ao material de Nipur, testado recentemente, o que poderá exigir uma redução de até seis ou sete séculos nas datas do terceiro milênio. Temos de encarar a possibilidade de que se o recém-emergente padrão do carbono-14 para o terceiro milênio é o correto, temos de abandonar toda a base anteriormente aceita da cronologia egípcia da qual a mesopotâmica depende em grande parte. Mas devemos relutar em fazer isso sem evidências muito fortes em contrário, pois os cálculos da cronologia egípcia baseados na evidência escrita podem ser confirmados astronomicamente, com apenas uma pequena margem de erro [este suposto apoio “astronômico” para a cronologia egípcia está sendo cada vez mais rejeitado pelos eruditos modernos!] e, se aceitarmos uma cronologia menor baseada em carbono-14 para o período do Antigo Império, somos confrontados com um hiato grande e inexplicável entre este e o Período Neolítico, para o qual o mesmo método forneceu datas surpreendentemente elevadas. Portanto, algumas autoridades estão, por ora, inclinadas a acreditar que neste final do terceiro milênio [A.C.] houve alguma perturbação física no campo magnético solar, que pode ter afetado o nível de atividade do carbono-14 no reservatório de trocas do carbono.” (Páginas 242 e 243 em inglês)

É verdade que isto foi escrito em 1971, bem antes de curvas de calibração que foram desenvolvidas e ampliadas para trás neste período antigo. Porém, ainda assim os arqueólogos que pesquisam as primitivas civilizações do Oriente Próximo geralmente desconfiam das datas do carbono-14.

A Lista de Reis Assírios (AKL em inglês)

A espinha dorsal da cronologia da Mesopotâmia anterior ao primeiro milênio A.E.C. é a tradicional Lista de Reis Assírios. Cinco cópias da Lista de Reis Assírios (sigla em inglês: AKL) foram encontradas, mas como duas são apenas fragmentos, as outras três são as mais importantes. A lista apresenta os nomes e os períodos dos reinados dos soberanos assírios desde os tempos antigos até o período neo-assírio, sendo que um dos exemplares termina com Salmaneser V, em 726-722 A.E.C.

As listas foram atualizadas em vários momentos. Todas as cópias existentes são antigas, a mais antiga tendo sido compilada durante o reinado de Tiglate-Pileser II, em 966-935 A.E.C. (A “história editorial” da AKL é discutida por Shigeo Yamada em Zeitschrift fur Assyriologie, Band 84:1, 1994, págs. 11-37 em alemão) Nos trechos posteriores, a lista pode ser confrontada com o Cânon Epônimo Assírio (que abrange o período de 910-649 A.E.C.) e, para este período pelo menos, parece ser confiável. De lá e retrocedendo até o final do período cassita, por volta de 1155 A.E.C., ela também parece estar, em geral, de acordo com outras fontes.

Os trechos anteriores da lista, no entanto, têm mostrado estar longe de serem confiáveis. Acredita-se que as primeiras partes baseiam-se parcialmente na tradição oral. Além disso, uma série de governantes e dinastias que a lista apresenta como consecutivos, na realidade foram contemporâneos. Assim, ao considerar as evidências encontradas para os reis simultâneos em Kish, os eruditos Wu Yuhong e Stephanie Dalley disseram: “Se é possível que um distrito tenha dois reis ao mesmo tempo, um governando sobre a população urbana estabelecida e o outro sobre os acampamentos periféricos, torna-se possível aplicar à lista de reis assírios os mesmos critérios que já estão bem estabelecidos para a lista de reis sumérios, a saber, dinastias paralelas que são representadas como sucessivas.” (Revista Iraque, Vol. 52, 1990, pág. 163 em inglês).

Foram feitas tentativas de datar o Primeiro Império Babilônico (ao qual pertence Hamurábi) com a ajuda de uma série de textos que contém as observações astronômicas do planeta Vênus. Estas tabuinhas são conhecidas como “Tabuinhas de Vênus de Ammisaduqa”, porque são datadas do reinado de Ammisaduqa, o penúltimo governante da dinastia. Todavia, as observações são difíceis de interpretar e podem fornecer diversas datas alternativas. Com base nessas tabuinhas, os eruditos em geral, propuseram três cronologias diferentes para o Primeiro Império Babilônico, as chamadas cronologias “alta”, “média” e “baixa” (ver a tabela acima). A diferença entre a cronologia alta e a baixa é de aproximadamente 120 anos, e ainda há grande divergência entre os eruditos sobre isso. Alguns também propuseram outras datas alternativas para as tabuinhas de Vênus.

A atual condição da cronologia mesopotâmica para o segundo milênio A.E.C. e períodos anteriores é aptamente descrita pelo professor F. H. Cryer:

“Em contraste com a datação no primeiro milênio, as datas absolutas de outros períodos cronológicos na Mesopotâmia são conjecturais. O início do primeiro milênio e o momento da transição do segundo milênio são muito obscuros em todas as nossas fontes existentes, tanto quanto se refere à Mesopotâmia. Uma extrema carência de fontes é geralmente citada como sendo o motivo de nossa ignorância, e de fato estamos em grande parte, se não totalmente, na dependência de listas de reis, que são às vezes amplamente divergentes, para obter até mesmo um quadro sombrio. Neste contexto, somos prejudicados pelo fato de que parece ter sido importante para os cronologistas locais, especialmente na Assíria, esboçar, no mínimo, a ilusão de uma continuidade dinástica, de modo que inúmeros reis que governaram simultaneamente em principados rivais (isto é, reinados colaterais) parecem se suceder uns aos outros nos registros. O mesmo vale também para diversas edições antigas da lista de reis sumérios, um documento que apresenta cidades-estados como uma seqüência, juntamente com sua sucessão de governantes, para os quais os deuses forneciam a base para a instituição da realeza.” – F. H. Cryer em Civilizações do Antigo Oriente Próximo, Jack M. Sasson et al (eds.), Vol. II, 1995, pág. 657 em inglês.

Estes problemas com a lista de reis assírios tradicional e a cronologia da primitiva civilização mesopotâmica foram muito bem enfatizados posteriormente pelo Dr. Julian Reade no Museu Britânico, em um extenso artigo, “Listas de Reis Assírios, As Tumbas Reais de Ur e Origens do Indo”, publicado na Revista de Estudos Sobre o Oriente Próximo, Vol. 60:1, janeiro de 2001, págs. 1-29 em inglês. Em sua detalhada e muito interessante abordagem, Reade afirma que a cronologia da Mesopotâmia para o período 2500-1500 A.E.C., é “distorcida”, e argumenta em favor de “cronologias muito menores do que as normalmente apresentadas para este período.” Ele demonstra também que essa redução da cronologia é também apoiada por estudos recentes de anéis de árvores. (Págs. 1, 10 em inglês).

Em vista da evidência disponível agora, portanto, não há qualquer base para duvidar da autenticidade do momento aproximado do Dilúvio dos dias de Noé, conforme indicado na Bíblia.

Quanto à segunda questão, sobre a extensão da inundação, devemos reconhecer que nada está além do poder do Criador do céu e da terra. Mas a verdadeira questão é: O que diz realmente o relato bíblico? Será que o relato torna obrigatório que tenha ocorrido um dilúvio global, afetando todas as partes do planeta?

O Dilúvio Mesopotâmico Por Volta de 3500 A.E.C.

Que houve uma enorme inundação, datada atualmente pelos geólogos por volta de 3500 A.E.C., a qual submergiu a planície da Mesopotâmia e varreu a civilização pré-sumeriana de Ubaid parece agora ter sido claramente estabelecido por pesquisas geológicas e geomorfológicas realizadas nas décadas de 1960 e 1970, na Mesopotâmia e na região do Golfo Pérsico. Um sumário da evidência é apresentado por Theresa Howard-Carter no artigo, “A Evidência Tangível da Antiga Dilmun”, publicado na Revista de Estudos Cuneiformes, Volume 33, 1981, páginas 210-223 em inglês.

Em sua abordagem sobre o Dilúvio, Howard Carter começa por indicar que “quase todas as autoridades que examinaram seriamente a questão do dilúvio em escritos anteriores a 1975 têm mostrado estar certas na medida em que se referem apenas à existência de dilúvios na Mesopotâmia. Mas uma recente pesquisa da geomorfologia da região do Golfo nos obriga agora a pensar em termos mais amplos.” Daí ela apresenta brevemente a nova evidência de um enorme Dilúvio por volta de 3500 A.E.C., que foi muito mais extenso do que as inundações locais abordadas em trabalhos anteriores:

“Antes, o Dilúvio tinha sido sempre discutido em termos da área que inclui a cabeceira do Golfo, o Delta, e a Baixa Mesopotâmia. A nova evidência nos obriga a considerar literalmente toda a área do Golfo, em profundidade… Esta maior de todas as inundações ocorreu justamente na metade do quarto milênio [aprox. 3500 A.E.C.] num ponto já distinto arqueologicamente como o início do período de Uruque. Isto é estratigraficamente demonstrável em Eridu, Ur, e Warka. “(Páginas 221 e 222 em inglês).

Conchas marinhas, terraços marinhos e outras evidências indicam que as águas que submergiram as cidades da civilização de Ubaid foram causadas por um movimento massivo do mar a partir do Golfo. Esta descoberta está de acordo com a declaração de Gênesis 7:11, por vezes esquecida, de que as águas do dilúvio tinham duas fontes: (1) “romperam-se os mananciais da vasta água de profundeza e (2) abriram-se as comportas do céu.” A expressão “vasta água de profundeza” (hebraico: tehom rabba) é usada na Bíblia, referindo-se especialmente ao mar (por exemplo, Isa. 51:10; 63:3; Jonas 2:4). A inundação a partir do Golfo Pérsico explicaria por que a arca de Noé (o Ziusudra sumério, o qual se diz ter vivido na cidade de Shuruppak, no sul da Mesopotâmia) foi levada para o norte, em direção às montanhas ou colinas na área do Ararate. Se o Dilúvio tivesse sido causado apenas pela água vinda de cima (chuvas) e acompanhasse as inundações dos rios Eufrates e Tigre, a Arca teria sido levada na direção sul, para o Golfo.

A Extensão do Dilúvio Ocorrido por Volta de 3500 A.E.C.

Parece evidente que esta catástrofe desastrosa foi o pano de fundo histórico do relato bíblico e das tradições do Dilúvio na Mesopotâmia. A que distância na direção norte este “enorme dilúvio” chegou ainda permanece uma questão aberta. Uma enorme onda marítima vinda do Golfo Pérsico poderia percorrer um caminho muito longo na direção norte ao longo da planície, atingindo até mesmo os distritos montanhosos do norte do Iraque. Deve-se ter em mente que a maioria das planícies da Mesopotâmia ao sul dessa área são muito baixas. A inteira planície do delta ao sul de Bagdá, por exemplo, é extremamente plana e está apenas poucos metros acima do Golfo Pérsico em Bagdá, tanto é que Bagdá, que fica a 600 quilômetros ao norte do Golfo está a menos de 10 (dez) metros acima do nível do mar!

Para um dilúvio local durar mais do que algumas horas ou dias, teria de haver uma região delimitada que inclui toda a região do Tigre-Eufrates. E o fato é que o Iraque é freqüentemente descrito como uma “calha”. A Enciclopédia Britânica, Vol. 12 (1969), por exemplo, explica: “O Iraque consiste numa calha de terra baixa situada entre maciços de terras altas assimétricos e bem diferentes ao leste, norte e oeste, e que continua na direção sudeste até o Golfo Pérsico.” (Página 527 em inglês) Da mesma forma, a Dra. Susan Pollock diz em sua obra A Antiga Mesopotâmia (Cambridge, 1999):

“A Mesopotâmia é, geologicamente falando, uma calha criada conforme o Escudo Arábico pressionou o continente asiático, gerando os Montes Zagros e uma depressão na terra ao sudoeste deles. Dentro deste trecho, o Tigre e o Eufrates e seus afluentes depositaram enormes quantidades de sedimentos aluviais, formando a planície da Baixa Mesopotâmia (também conhecida como a planície aluvial da Mesopotâmia). Hoje, a planície da Baixa Mesopotâmia se estende por uns 700 quilômetros aproximadamente, desde a latitude de Ramadi e Baquba, no noroeste do Golfo, que inundou sua extremidade sudeste.” (Página 29 em inglês)

Como não se sabe exatamente o que causou o massivo movimento do mar para inundar a planície da Mesopotâmia, podem ter estado envolvidas circunstâncias desconhecidas para nós hoje, que impediram as águas de retornar muito rápido para o mar. Claramente, muita investigação ainda resta ser feita.

Em grande parte, as dificuldades levantadas por alguns são baseadas no significado atribuído a certas palavras no texto hebraico do relato de Gênesis. Estas incluem as palavras freqüentemente traduzidas como “terra”, “céu” e “altos montes.” Uma consideração do significado básico destes termos é esclarecedora.

O Dilúvio — Inundações Regionais Através do Mundo

É bem possível que o dilúvio do tempo de Noé foi um de uma série de aumentos do nível do mar que ocorreram após o fim da última Era Glacial (atualmente datada em cerca de 11 mil anos atrás).

Em anos mais recentes os cientistas revisaram suas opiniões sobre o fim da Era Glacial e concluiu-se que este fim ocorreu muito mais rápido do que se acreditava até então. Os cientistas Olaf Joris e Bernard Weninger, por exemplo, declaram:

“As condições climáticas do Holoceno, como aparentam ser agora, pelo menos em se tratando do Hemisfério Norte, não são o resultado de mudanças lentas e graduais. Pelo contrário, elas surgiram em saltos e de forma abrupta, em apenas algumas décadas.” – 14C-Alterskalibration und die Absolute Chronologie des Spätglacials, de Olaf Joris & Bernhard Weninger, Archäologisches Korrespondenzblatt, Vol. 30:4, 2000, pág. 461 em alemão.

Em seu livro, Eras Glaciais e Causas Astronômicas (Chichester, Reino Unido: Praxis Publishing Ltd, 2000), os autores Richard A. Muller & Gordon J. MacDonald, que são proeminentes especialistas em eras glaciais, dão explicações adicionais na página 4 (em inglês):

“O aspecto abrupto da finalização é surpreendente. A agricultura, e tudo o mais de nossa civilização desenvolveu-se desde esta terminação. A enorme geleira, de vários quilômetros de espessura, que cobre grande parte da América do Norte e da Eurásia derreteu-se rapidamente. Só pequenas partes da geleira permaneceram na Groenlândia e na Antártida, onde existem até hoje. O derretimento provocou uma série de inundações em todo o mundo, como jamais havia sido experimentado antes pelo Homo sapiens… A inundação liberou água suficiente nos oceanos para fazer com que o nível médio do mar se elevasse em 110 metros, o bastante para inundar as áreas costeiras,… A água proveniente do derretimento do gelo provavelmente inundou a terra em pulsos, pois formou lagos de gelo represado e depois liberou catastroficamente suas águas. Estas inundações deixaram muitos registros, incluindo as poças remanescentes, conhecidas agora como os Grandes Lagos, e possivelmente deram origem a lendas que persistiram durante muitos anos. (Ênfase acrescentada).

Foi demonstrado que esta elevação do nível do mar ocorreu em vários estágios repentinos, o último dos quais sendo datada por volta de 3500 A.E.C. Que esta última catástrofe foi contemporânea ao Dilúvio de Noé é plenamente possível e talvez provável, geologicamente falando.

De certa maneira, então, esse dilúvio poderia ser considerado como global, pois a elevação do nível do mar afetaria as áreas costeiras e baixas no mundo inteiro. Há evidência de que uma catástrofe de enormes proporções despovoou outras áreas além da Mesopotâmia por volta dessa época, terminando o chamado Período Calcolítico no Oriente Próximo. Margie Burton e Thomas E. Levy, da Universidade da Califórnia, em San Diego, explica:

“O fim do Período Calcolítico – a transição Calcolítico / Primitiva Idade do Bronze I (Early EB I ou IA, em inglês) – foi descrito como um processo de colapso social, político, econômico e demográfico (Gofna, 1998) A atual evidência estratigráfica e radiométrica indica que a maioria dos grandes sítios do Calcolítico foram abandonados por volta de meados do quarto milênio A.E.C. [aprox. 3500 A.E.C.] e não foram restabelecidos, embora alguns possam ter tido ocupação limitada e efêmera estendendo-se até o que pode ser chamado de Primitiva Idade do Bronze IA (sigla em inglês: EB IA) – Um Registro Radiocarbônico do Calcolítico e seu Uso na Arqueologia do Levantamento Meridional, de M. Burton & Levy TE, Radiocarbono, Vol. 43:3 (2001), pág. 1232 em inglês.

“Terra” (planeta / mundo) ou “Terra” (região / país)?

A evidência mostra, portanto, que houve realmente um Dilúvio. Ele pode muito bem ter sido “local” ou “regional” no sentido de que se limitou à Mesopotâmia e talvez a algumas outras áreas costeiras e regiões mais baixas da terra, lugares onde as pessoas normalmente se estabeleciam nos tempos antigos. Na tradição sumeriana do Dilúvio, pelo menos, indica-se claramente que o dilúvio foi uma catástrofe localizada, pois se afirma que “o Dilúvio varreu a Terra [kalam, em sumeriano].” Kalam era a palavra que os sumerianos usavam para designar seu próprio país, que praticamente cobria a área do Golfo até a atual Bagdá, e antes, no antigo período acadiano, era dividida em Suméria e Acade.

As tradições bíblica e mesopotâmica do Dilúvio se correspondem fortemente, embora não se possa demonstrar que o relato bíblico foi derivado delas ou vice-versa. Elas dão evidência de terem uma origem comum e falam do mesmo evento. Por esta razão é possível, e talvez provável, que a Bíblia, assim como as tradições da Mesopotâmia, fala de uma catástrofe regional, utilizando a palavra hebraica erets no sentido de “terra” ou “região” em vez de “terra” (planeta). Que o relato bíblico do Dilúvio em Gênesis 6-8 pode ser entendido desta forma é demonstrada, por exemplo, pelo Professor Franz Delitzsch, um eminente erudito bíblico conservador do século 19, em sua obra, Um Novo Comentário Sobre Gênesis, Vol. 1, págs. 222-282 em inglês. (Este comentário foi publicado originalmente em alemão em 1887).

Deve-se ressaltar que a Bíblia usa a palavra erets mais comumente no sentido de “terra” (região) e mais raramente no sentido de “terra” (mundo). No Dicionário Teológico do Antigo Testamento, Vol. 1, pág. 393 em inglês, o Dr. Magnus Ottosson explica: “Nem sempre é fácil determinar se erets significa ‘terra’ (planeta) ou ‘terra’ (região) num dado momento.”

Em Gênesis 10:10; 11:2, por exemplo, erets é usado, não em referência ao planeta Terra, e sim à “terra” de Sinear. Em Gênesis 12:5 refere-se novamente não ao mundo todo, e sim simplesmente à “terra” de Canaã; em Gênesis 13:10 à “terra do Egito”; em Gênesis 36:31 à “terra de Edom”. Portanto, o termo tem uma aplicação variável e isto argumenta contra uma tradução arbitrária. Conforme foi dito, o uso mais comum é com referência a uma “terra”, no sentido de região, e não o planeta Terra.

Os tradutores têm o mesmo problema com a palavra grega para “terra”, ge. (De cujo termo básico se derivam as nossas palavras “geografia” e “geologia”.) Isto pode significar tanto “terra” no sentido de globo terrestre como uma área mais restrita, como um ‘país’ ou ‘distrito’. Em nossa era espacial estamos acostumados a pensar em “terra” como o planeta inteiro, mas nos tempos antigos as pessoas faziam isso com menos freqüência. No Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento de Colin Brown, Vol. 1, pág. 518 em inglês, o Dr. R. Morgenthaler diz:

“É freqüentemente difícil decidir se uma determinada passagem está falando de um determinado país, especialmente da terra de Israel, ou do planeta povoado como um todo. Com nossa visão moderna sobre o mundo, estamos inclinados a pensar em termos globais e universais. No entanto, o Novo Testamento pode usar a palavra ‘terra’ de uma maneira muito específica.”

É bem possível, portanto, que a erets que foi coberta pelo Dilúvio bíblico se refira principalmente à “terra” ou região da Mesopotâmia, assim como a palavra sumeriana kalam. O contexto deve sempre decidir se erets significa “terra” (no sentido de região) ou “terra” (como planeta). E se o contexto bíblico não for suficiente para decidir a questão, o contexto histórico do relato original pode ser o nosso melhor guia.

As referências adicionais da Bíblia ao Dilúvio não precisam também ser entendidas como tratando de um evento mundial. Em Gênesis 6:17 encontramos as palavras: “tudo o que há na terra [em hebraico erets] perecerá.” Nas Escrituras às vezes encontramos metonímia, que é o uso de uma parte para representar o todo. Esta mesma figura de expressão é encontrada nas línguas modernas. Por exemplo, no caso duma reunião de pessoas em algum lugar, a afirmação “todo mundo estava falando”, significaria literalmente “todas as pessoas do mundo”, mas neste caso significa simplesmente todos entre os presentes naquele momento e naquele local. O mesmo seria válido em inglês com a expressão “everybody was taking”, em espanhol com a expressão “todo el mundo hablaba” e em francês com a expressão “tout le monde”. É interessante observar a maneira como Jesus falou de sua segunda vinda como um evento inesperado, em comparação não só com a vinda do Dilúvio, como também, na mesma passagem, com a destruição de Sodoma. E assim como ele disse que o Dilúvio “destruiu a todos”, disse sobre Sodoma que o fogo e enxofre do céu “destruiu a todos.” (Lucas 17:26-30) A palavra “todos”, em ambos os casos se refere, naturalmente, a todos os envolvidos nas respectivas catástrofes, e não necessariamente a todos os povos da terra, como é óbvio no segundo caso, o da cidade de Sodoma. Pedro também menciona essas duas catástrofes de maneira semelhante. (2 Pedro 2:5-9) Devemos ter uma ideia similar a esta em mente ao considerar as palavras da declaração de Pedro de que “veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água.” Aqui o termo “mundo” é a palavra grega kosmos. No livro Estudos do Vocabulário do Grego do Novo Testamento, de K.S. Wuest (pág. 57 em inglês), lemos: “Uma vez que kosmos é considerado como a ordem das coisas, cujo centro é o homem, a atenção é dirigida principalmente para ele, e kosmos denota a humanidade nessa ordem de coisas, como a humanidade se manifesta dentro e por meio de tal ordem. (Mateus 18:7)…”

O ponto vital do relato do Gênesis, bem como as referências de Cristo e de Pedro, é que a raça humana foi submetida a uma catástrofe aquosa e que a humanidade só sobreviveu como resultado da provisão de Deus por meio de Noé. (Mateus 24:39) Se, como parece evidente, a raça humana nos dias de Noé estava restrita a uma área geográfica relativamente limitada – o que deve ter sido o caso se todas as pessoas haveriam de ficar cientes da pregação de Noé (2 Pedro 2:5) e saberem o que ele estava fazendo na construção da arca – então a inundação de toda aquela área constituiria realmente uma inundação do mundo (no sentido da esfera humana e da ordem centrada no homem) ou kosmos daquela época.

Conforme um comentário expressou isto:

“Há todas as razões para crer que essa catástrofe foi co-extensiva com a população humana do mundo. Em cada ramo da família humana encontram-se tradições do evento. Estas tradições não precisam ser recitadas, embora algumas delas tenham uma semelhança notável com a história bíblica, ao passo que outras são muito belas em sua construção, e significativas em vários pontos. Inundações locais ocorrendo em várias ocasiões e em diferentes países não poderiam ter dado origem às coincidências imediatas, encontradas nestas tradições, tais como o envio das aves e o número de pessoas que foram salvas.” — A Bíblia do Expositor, (em inglês) com comentário sobre Gênesis de Marcus Dods.

Esta mesma fonte faz as seguintes observações:

“É [importante] considerar a natureza da narrativa, bem como o uso comum da linguagem entre os hebreus. E se fizermos isso cuidadosamente, seremos certamente levados a concluir que o Dilúvio é descrito do ponto de vista de uma testemunha ocular… Podemos lembrar também que o costume da Bíblia é fazer referência a registros históricos com base na evidência de testemunhas oculares. Este é com muita freqüência o caso do Novo Testamento. Os apóstolos e evangelistas alegam constantemente ter estado presentes nas cenas que eles relatam (veja especialmente Lucas 1:1, 2; João 19:35; 21:24; Atos 1:3; 1 Cor. 15:3-8; 2 Ped. 1:16; 1 João 1:1); e eles as relatam conforme as cenas se apresentaram aos olhos deles. O batismo de Jesus, a transfiguração, ele caminhando sobre a água, a multiplicação dos pães e dos peixes, a crucificação, a ressurreição, a ascensão, as línguas de fogo no dia de Pentecostes, são todos simplesmente retratados como os que estavam presentes as viram e entenderam…”

“Ora é justamente assim que o Dilúvio é descrito em Gênesis. Ele é retratado como teria se apresentado aos olhos de Noé e de sua família. Além disso, com base no princípio que acabamos de mencionar, no mais alto grau de probabilidade a descrição é realmente a que foi feita por uma dessas testemunhas oculares. Teria sido muito estranho se nenhuma descrição tivesse sido feita ou preservada. O filho de Noé, Sem, teria quase certamente contado isso vez após vez aos seus filhos e netos. Eles teriam preservado isso em suas memórias e passado adiante. Como foi tão notoriamente o caso entre as nações mais antigas (ver, ‘Sans. Lit.’, de Max Müller, pág. 500 em inglês) as palavras ou a narrativa original teriam sido cuidadosamente transmitidas de pai para filho, por escrito ou por tradição oral, e assim , com toda a probabilidade, temos em Gênesis as próprias sílabas pelas quais o patriarca Sem descreveu para os antepassados de Abraão o evento que ele próprio tinha visto, e no qual ele tinha tomado parte tão marcante. A autoridade divina da narrativa não teria sido mais afetada por isso do que a autoridade do Evangelho de… Marcos é afetada pelo fato provável de que Marcos relatou o que… Pedro transmitiu a ele como o resultado de sua própria experiência, ocular e auditiva. Vejamos então desta forma. Um dos oito humanos salvos na arca relata tudo aquilo que ele viu.”

Que os judeus, nos tempos antigos estavam cientes da possibilidade de que o dilúvio bíblico pode ter sido uma catástrofe regional é evidente pelo fato de que os rabinos, segundo o Talmude, discutiam entre si sobre se as águas do Dilúvio tinham atingido a terra de Israel ou não. (Talmude Babilônico Zeb. 113b; Gen. Rabá 33.6; Lev. Rabá 31.10; Cant. Rabá 1.15, par. 4; 4.1, par. 2)

“Montes” ou “Colinas”?

Segundo Gênesis 7:19, no Dilúvio “todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos.” Isto não significa necessariamente que as águas cobriram as altas montanhas de todo o planeta. “Debaixo de todo o céu” pode significar simplesmente que as águas cobriram todas os montes acima do horizonte visível para as pessoas que estavam na arca. Em primeiro lugar podemos observar que o termo hebraico (sha.may.im), traduzido como “céu”, tem uma variedade de aplicações.

Em Deuteronômio 4:17 e 1 Samuel 17:44 o termo se refere simplesmente à atmosfera acima da terra, na qual os pássaros voam. As cidades cananéias de muralhas altas foram descritas como “fortificadas até os céus” (Deuteronômio 9:1). Assim, “debaixo de todo o céu”, pode significar corretamente tudo dentro do campo de visão, de horizonte a horizonte.

Ademais, o substantivo plural hebraico harim pode significar tanto “montanhas” como “colinas”. Não só os tradutores da Versão Rei Jaime, como também os modernos tradutores da Nova Versão Rei Jaime traduziram harim como “colinas altas” em Gênesis 7:19. O mesmo faz também Bullinger na The Companion Bible: “Todas as colinas altas, que estavam debaixo de todo o céu foram cobertas.” Em Os Cinco Livros de Moisés, de Ferrar Fenton, aparece também “todas as colinas”, mas acrescenta: “e montanhas”. Certamente estes tradutores escolheram a palavra “colinas”, não porque acreditavam que o Dilúvio foi local, e sim porque este era o significado freqüente da palavra harim, e porque eles acharam que era muito apropriado traduzi-lo desta maneira neste contexto. Isto seria especialmente adequado se levarmos em consideração que o relato do Dilúvio, como geralmente se crê, foi o testemunho de pessoas que viviam na Mesopotâmia, onde as únicas “montanhas” que os habitantes podiam ver eram colinas. Para uma pessoa que vivia no sul da Mesopotâmia, como Ziusudra, que viveu na cidade de Shuruppak, entre os rios Eufrates e Tigre, a elevada cadeia de montanhas persa, ao leste, estava a 250 quilômetros de distância e não podia ser vista por causa da curvatura da superfície da Terra.

Algumas pessoas fazem referência ao Salmo 104:6 para mostrar que a Bíblia fala de um Dilúvio global. No entanto, este salmo não se refere ao Dilúvio. É um hino ao Criador e, conforme os comentaristas bíblicos têm observado, a referência é à Criação, narrada em Gênesis, capítulo 1, não ao relato do Dilúvio. Assim, as “águas” mencionadas no Salmo 104:6 referem-se as águas do “abismo” (tehom, em hebraico) que, segundo Gênesis 1:2 cobria toda a terra antes do aparecimento da terra seca no terceiro dia criativo.

Os “Montes do Ararate”

No fim do Dilúvio a arca de Noé repousou “sobre os montes [ou, ‘colinas’] de Ararate”. (Gênesis 8:4) Originalmente, o Ararate não era o nome de uma montanha, e sim de uma localidade geográfica, que mais tarde, no período assírio, consolidou-se como um reino. (Veja 2 Reis 19:37; Isa. 37:38; Jer. 51:27.) Este reino situava-se ao norte e nordeste da Mesopotâmia, com seu centro em torno dos mares Van e Úrmia. Nas inscrições cuneiformes assírias o nome do reino é Urartu. O reino de Urartu foi destruído no final do sétimo século A.C., e depois disso o nome desapareceu.

Assim, quando Gênesis 8:4 afirma que “a arca repousou sobre as montanhas (ou montes) de Ararate”, isto quer dizer que ela veio pousar nas montanhas ou colinas na região de Urartu. Note-se que é usado o plural, “montanhas, colinas”. É só depois, na tradição cristã, a partir do século 11 D.C., que a alta montanha de Agri Dag, no nordeste da Turquia, passou a ser chamada de “Ararate”, e foi identificada como o local do pouso da arca. No entanto, a própria Bíblia não menciona o nome da montanha, nem diz que ela era uma montanha alta.

Os Targuns e a antiga Versão Siríaca (Peshitta) traduzem Ararate como “Korduene” (Karduchia), e este é também o local onde Beroso situa o pouso da arca, segundo Josefo (Antiquities I.3.6). Korduene parece referir-se à área ocupada pelos curdos, o Curdistão, anteriormente a Armênia. As versões em latim, de fato, traduzem Ararate, como “Armênia”, o território que corresponde mais ou menos ao antigo reino de Urartu. Uma excelente obra sobre o reino de Urartu / Ararate é Urartu-das Reich am Ararat (“Urartu, o Reino em Ararate”), escrita por Ralf-Bernhard Wartke (Mainz am Rhein, 1993, em alemão).

Descobertas arqueológicas mostram que a fronteira sul do reino de Urartu estendia-se até a área de Nínive (perto da atual Mossul) e do rio Zab. É bem possível que a área geográfica denominada anteriormente como Urartu era maior e mais prolongada nas direções sul e sudeste. Vastas áreas do sul do reino de Urartu estavam apenas entre 200 e 300 metros acima do nível do mar. A cadeia montanhosa de Hamrin, ao nordeste de Bagdá, atinge cerca de 500 metros. Mas na época do Dilúvio estas áreas podem ter sido muito mais baixas, visto que os movimentos de formação de montanhas no Iraque e no sudoeste da Pérsia continuaram ocorrendo desde aquele tempo. Os Drs. G. M. Lees e N. L. Falcon dizem:

“Este sistema montanhoso se desenvolveu de uma ampla zona de depressão ou geossinclinal, por meio duma relativa aproximação entre a Pérsia e o maciço central estável da Arábia, que comprimiu a faixa móvel entre ambos e formou uma série de ondas gigantes de terra ou dobras montanhosas. O período de máximo movimento tangencial foi no final do Plioceno, mas a elevação da cadeia de montanhas como um todo, distinta desses movimentos de dobra, continuou em épocas recentes e de fato ainda está ativa.” (“A História Geográfica das Planícies da Mesopotâmia”, Revista Geográfica, Vol. CXVIII, 1952, pág. 27 em inglês. [ênfase acrescentada].).

Há razões para acreditar que a montanha em que a arca de Noé pousou, não pode ter sido muito elevada. Quando a arca pousou sobre uma montanha/colina de Urartu, Noé soltou um corvo e depois uma pomba. Quando ele enviou a pomba pela segunda vez, ela voltou com uma “folha de oliveira” recém-arrancada. (Gen. 8:11) O povo do Oriente Médio sabia muito bem (e ainda sabe) que oliveiras só podem crescer até uma altura de cerca de 500 metros acima do nível do mar. A arca, portanto, dificilmente poderia ter pousado num ponto mais alto do que isso, e possivelmente foi num nível bem mais baixo. Isto também se harmoniza com o entendimento do Dilúvio como uma catástrofe mais ou menos regional.

Conforme já declarado, Deus certamente tinha poder para produzir um dilúvio global. Os pontos que foram estabelecidos aqui objetivam mostrar que o relato bíblico em si mesmo dá margem a outro entendimento.

Acerca dos meios utilizados para a preservação da raça humana, o Comentário da Bíblia, editado por F. C. Cook, tendo sido o comentário de Gênesis escrito por E. H. Browne, diz:

“A pergunta sobre porque Deus achou bom salvar o homem e os animais num navio enorme, em vez de deixá-los num refúgio em colinas altas, ou em algum abrigo, talvez seja uma pergunta em vão. Todavia, podemos certamente ver que a grande lição moral e as grandes verdades cruciais apresentadas no relato do Dilúvio e da arca mostraram um notável afastamento do curso comum da natureza e da Providência. O julgamento foi muito mais marcante, o livramento muito mais manifestamente Divino, do que teriam sido, se colinas, árvores ou cavernas tivessem sido o abrigo oferecido para aqueles que foram salvos. O grande modelo profético da salvação do dilúvio de pecados por meio de Cristo e dentro da Igreja de Cristo teria perdido toda a sua beleza e simetria, se meros refúgios terrestres tivessem sido suficientes para a libertação naquele caso. Tal como foi, a história de Noé, em paralelo com a história de Cristo, é o que talvez mais cativa nossos pensamentos, impressiona nossas consciências e ainda revive nossas esperanças. Foi um julgamento notavelmente executado no momento apropriado. É uma lição profundamente instrutiva para todos os tempos.”

Comentando os efeitos sobre Noé e sua necessidade de fé na sabedoria e na providência de Deus, o comentário de David Atkinson na série “A Bíblia Fala Hoje” (publicado em inglês pela Inter-Varsity Press) afirma:

“A vida para Noé [não] foi um cruzeiro de luxo. Confinado durante [muito tempo] num sepulcro escuro, sem dúvida, fétido, para não dizer anti-higiênico, Noé poderia muito bem ter ficado desesperado por sua vida… Poder-se-ia imaginar que Noé persistentemente rogou ao Senhor, e se perguntou o que estava acontecendo na terra… Estaria ele sendo salvo para isto: viver seus dias confinado nesta prisão, oito pessoas e um zoológico, e sem nem mesmo uma visão do exterior? Seria este o preço da obediência?”

O relato caldeu do Dilúvio retrata Noé sendo sobrepujado em determinado ponto com a agonia diante da experiência. O Comentário Bíblico do Expositor (em inglês) expressa a opinião de que esse sentimento por parte de Noé seria razoável, apresentando as razões e também as lições que podem ser tiradas disso:

“… a sensação de desolação e de restrição só aumentaria na mente de Noé em vez de diminuir. Mês após mês que passava, ele chegava cada dia mais perto do fim do seu suprimento de alimento, e ainda assim as águas se mantinham inalteradas. Ele não sabia por quanto tempo deveria ficar naquele lugar escuro e desagradável. Ele foi deixado fazendo seu trabalho diário, sem qualquer sinal sobrenatural para aliviá-lo de sua ansiedade natural… Era verdade que ele estava salvo, enquanto outros haviam sido destruídos. Mas, de que adiantava essa segurança? Sairia ele algum dia de sua prisão? A que níveis de privação ele teria de chegar antes disso? Muitas vezes ocorre o mesmo conosco. Nós fomos encarregados de fazer a vontade de Deus sem qualquer sinal alentador perceptível contra dificuldades naturais, circunstâncias dolorosas, má saúde, espírito abatido, fracasso de planos acalentados e de velhas esperanças — até que finalmente chegamos a pensar que talvez a segurança seja tudo o que temos em Cristo, um mero livramento do sofrimento de um tipo, conseguido pela resistência a muito mais sofrimento de outro tipo que devemos aceitar em quaisquer condições; contentando-nos apenas com o livramento de nossa vida, embora ela seja estéril. Com quanta freqüência um cristão se pergunta por que, afinal, ele optou por uma vida que pode suportar, se a monotonia e as restrições da vida cristã são incompatíveis com o prazer verdadeiro?”

“O uso que o Novo Testamento faz deste evento é notável. Pedro o comparou com o batismo, e ambos são vistos como símbolos de salvação por meio duma destruição. As oito almas que estavam na arca, diz ele, “foram salvas pela água.” A água que destruiu o resto os salvou. Quando parecia haver pouca esperança de a linhagem do bem ser capaz de resistir à influência dos ímpios, o Dilúvio veio e colocou a família de Noé num novo mundo. A pessoa penitente que acredita na eficácia do sangue de Cristo para eliminar o pecado permite que seu aviltamento seja lavado e emerge novamente, limpa e renovada para a vida que Cristo nos dá. Em Cristo, o pecador necessita de abrigo para si mesmo e de destruição para os seus pecados. É a ira de Deus contra o pecado que nos salva, destruindo os nossos pecados, exatamente como foi o Dilúvio que destruiu o mundo, e ao mesmo tempo, e desse modo, preservou Noé e sua família.”


Imagem em destaque: Pôr-do-sol – Porto Seguro (Brasil)

One thought on “O Dilúvio do Tempo de Noé ― Sua Cronologia e Extensão

  • novembro 7, 2023 em 1:29 pm
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    vou falar uma coisa.
    o tal diluvio biblico faz voces acreditarem que deus fez um milagre e inundou todo planeta.
    as evidencias demonstrar que o dilúvio foi uma enorme enxente no eufrates na região de uruk.
    lembrem-se que é normal o rio amazonas subir 20 metros. uma enxente de 10 metros era normal naquela época. mas um excepcional inundou muito.
    acredito que o morro warca (que fica em uruk) foi a salvação dos que moravam em volta dele. que muitos morreram na mesopotânia nesta enchente. Embora em outros lugares do planeta fora daquela planicie nada aconteceu. mas ficou este relato que o povo sempre gosta de aumentar.
    veja a epopéia de gilgames e de outros reis. eles faziam coisas fantasticas. Isto é o imaginário humano.
    o fato para mim é que com a enxente, que era chamada dilúvio, uma delas muito maior de 20 a 30 mts só sobreviveu os poucos que moravam em volta do moro warka. e dai veio a lenda de noe. que abrão levou com ele.
    o ser humano fica esperando uma subversão da lei da natureza com uma voz misteriosa falando eu sou deus e gosto de voce e não daquele.
    isto para mim é como criança que acredita em papai noel. que só fica boazinha porque acredita que papai nole vai lhe trazer um presente.

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