Exercendo o Amor em Nossas Associações Cristãs

No artigo Coisas Essenciais, Coisas Não Essenciais e a Unidade Cristã, sugerimos que o princípio da unidade deve ser “Em coisas essenciais, unidade; em coisas não essenciais, liberdade; em todas as coisas, o amor.” Sugerimos ainda que as únicas doutrinas essenciais que devemos enfatizar são que a Bíblia é a Palavra de Deus, e que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o Senhor, Salvador e Rei. Em nossa consideração, mostramos a importância de manter Jesus Cristo no centro de nossas associações e a necessidade de demonstrar o amor cristão baseado em princípios aos nossos irmãos e irmãs. Concluímos que este tipo de amor identifica os verdadeiros cristãos. É o amor a Deus, a Cristo e aos nossos irmãos que fornece uma poderosa força unificadora — mais poderosa do que a aderência a qualquer sistema doutrinário específico. Como é, então, que podemos demonstrar de uma maneira prática esse tipo de amor cristão unificador e baseado em princípios?

O Corpo de Cristo

Primeiro, devemos entender que o Cristianismo engloba relacionamentos — nosso relacionamento com Jesus Cristo como cabeça da congregação, nosso relacionamento com Deus, o Pai, por meio de Cristo e nosso relacionamento com nossos irmãos e irmãs — membros associados do corpo de Cristo. São estes indivíduos e seus relacionamentos que constituem o corpo de Cristo, e estes relacionamentos têm base no amor cristão baseado em princípios. 

Pois, assim como o corpo é um só, mas tem muitos membros, e todos os membros daquele corpo, embora muitos, são um só corpo, assim também é o Cristo. Pois, deveras, todos nós fomos batizados por um só espírito em um só corpo, quer judeus quer gregos, quer escravos quer livres, e a todos nós se fez beber de um só espírito. (1 Coríntios 12:12,13, TNM)

No artigo Um Só Corpo em Cristo, Lewis Hrytzak descreveu a condição ideal de uma associação da seguinte forma: 

Só existe um centro do Cristianismo – um apenas – e este centro é: associação espiritual com Deus por meio de Cristo. É apenas isso! Quando existe essa comunhão, aí está a eclésia. Na ausência dela, não há eclésia. Pode haver pessoas bem clericais, edifícios suntuosos, dogmas eruditos, doutrinas e assim por diante, mas se não existir uma verdadeira associação com Deus por meio de Cristo, não há eclésia. Por outro lado, se existe essa comunhão com Deus por meio de Cristo, os cristãos amarão uns aos outros, e eles serão um em Cristo, apesar de certas diferenças doutrinárias.

Vemos, assim, que sem a participação do próprio Deus por meio de Seu Espírito, não pode haver verdadeira associação cristã. Se Jesus Cristo não está presente, liderando-nos como cabeça da congregação, então os nossos esforços são em vão. Estamos realizando meras obras de homens, não obras de Deus. 

Como podemos garantir que o Espírito de Deus esteja presente por meio de Jesus Cristo em nossas associações cristãs? Devemos pedi-lo! 

Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem. (Lucas 11:13)

Devemos persistir em nossas orações a Deus por sua direção. Como uma irmandade, devemos sempre olhar para a liderança do Espírito e a liderança de Jesus Cristo, em vez de para nossas próprias idéias e obras.

Relacionamentos Autênticos

No livro Relacionamentos Autênticos, de Wayne e Clay Jacobsen, os autores dão muitos conselhos muito sobre a arte esquecida do “uns aos outros”, como eles colocam. Resumiremos o livro neste artigo. Nós o recomendamos fortemente para leitura adicional.

Os relacionamentos saudáveis são definidos na página 17: 

Relacionamentos saudáveis, porém, não são criados por se sentar juntos no mesmo edifício ou participar nas mesmas atividades, e sim por absorver o coração de Jesus nos relacionamentos que mudam a vida. Ao longo do ministério de Jesus, ele demonstrou que os atos mais simples de amor e amizade podem tocar as almas mais endurecidas e transformá-las.

Na página 19, os autores escrevem sobre a necessidade da verdadeira amizade: 

Um amigo meu define os relacionamentos típicos, como a “acomodação mútua às próprias necessidades.” Ele não pretende que isso seja lisonjeiro. O que ele quer dizer é que nossas amizades duram apenas enquanto podemos satisfazer alguma necessidade profunda uns dos outros de aceitação, segurança, ou status. É por isso que a maioria das amizades com outros crentes são orientadas a tarefas e sobrevivem apenas enquanto trabalhamos na mesma tarefa em conjunto. Contanto que você siga o programa, encontrará aceitação. No entanto, se você fizer a pergunta errada, perder algumas reuniões, ou até mesmo (que Deus não permita!) sair para se juntar a outra associação, as amizades terminam de repente ou se tornam hostis. 

Para onde quer que eu viaje, vejo essa sede por todo o corpo de Cristo, e ela com frequência permanece não saciada. As pessoas têm muitos conhecidos, e ainda assim poucas amizades verdadeiras. Não sabemos como construí-las, cultivá-las, ou apreciá-las e muitas vezes acabamos fazendo o melhor que podemos por nós mesmos. Só podemos escapar dessa armadilha vivendo da maneira que Jesus viveu, não tentando obter o amor por nós mesmos, mas aprendendo a compartilhar com os outros.

Na pág. 21, os autores definem uma “Vida Focada nos Outros”: 

Se você já compartilhou amizades com pessoas focadas nos outros, você sabe que tesouro são esses amigos. Eles demonstram interesse em você exatamente pelo fato de se importarem. A preocupação deles não está vinculada às próprias necessidades e desejos deles no relacionamento. O cuidado deles por você não exige nada em troca e se alegra só por ver você abençoado. Eles abrem a vida deles como um livro e deixam que você o leia livremente. Você nunca tem de adivinhar o que eles estão pensando, porque eles virão e dirão a você, e eles fazem você se sentir seguro o suficiente para que você não tenha de fingir alguma coisa com eles. Eles oferecem seus conselhos livremente, mas nunca exigem que você os acate. Dão a você a liberdade de discordar e a flexibilidade de fazer coisas de maneira diferente de como eles fariam sem nunca comprometerem o amor deles por você. 

Quase sem pensar eles tirariam a camisa e lhe dariam, se soubessem que você precisa dela, mas eles nem sempre vão lhe dar tudo o que você quiser. Eles passam por alto suas falhas, comemoram sua promessa e oferecem sua ajuda para você chegar lá. Você pode não vê-los por meses ou anos em algum momento, mas da próxima vez que seus caminhos se cruzarem, você vai se sentir como se nunca tivessem se separado. Quando eles dizem que vão orar por você, você sabe que vão. Quando você passar por seus momentos mais sombrios, eles vão ficar ao seu lado. Eles deixarão que sua presença o console, mesmo quando as palavras certas lhes faltarem. 

Esses amigos têm a sua origem no coração de Deus. Ninguém pode amar tão livremente a quem Deus não tenha amado primeiro profundamente. Descubra o poder deste amor, e você nunca mais estará sozinho.

Pessoas assim são raras, mas todos nós já as conhecemos. Somos atraídos naturalmente por elas. Necessitamos de pessoas como estas em nossas associações. Ou melhor, precisamos dessas qualidades nas pessoas em nossas associações. Como podemos desenvolver essas qualidades, se já não as possuímos?

Os Textos “Uns aos Outros”

Os autores de Relacionamentos Autênticos identificam 22 dos chamados textos “uns aos outros”. Ao estudá-los e aplicar suas lições, juntamente com petições a Deus por ajuda, podemos nos desenvolver como pessoas “focadas nos outros”. 

Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. (João 13:34)

Viver no amor de Deus é o primeiro passo. Temos de experimentar o amor de Deus para então podermos refleti-lo em nossos relacionamentos com os outros. O amor uns aos outros não é uma tarefa onerosa, mas a alegria de compartilhar a vida de Deus, não só com o seu povo, mas também com um mundo cativo da escuridão (pág.30). 

… perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou. (Efésios 4:32) 

Por isso acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu… (Romanos 15:7) 

… suportando uns aos outros com amor. (Efésios 4:2) 

Ser machucado por outros é uma situação que pode nos tornar tão críticos e defensivos que é difícil investir em novos relacionamentos. Muitas vezes, a maneira como alguém olha ou age desencadeia memórias de uma pessoa ou experiência desagradável, e se não tivermos deixado isso no passado, vamos reagir por nos distanciar dessa pessoa. Como poderemos nos unir de coração, se estamos carregando esse tipo de bagagem? Aprender a lidar com o nosso passado é fundamental para manter nossas amizades e nos abrir para novas. O perdão e a aceitação são os purificadores da vida do corpo, que nos permitem viver livres do passado. Aceitemos as pessoas como elas são, confiando que Deus vai mudá-las com o tempo. (Pág. 37, 42) 

Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios. (Romanos 12:10) 

Oscar Wilde: O egoísmo não é viver como uma pessoa quer viver, é pedir aos outros para viver como essa pessoa deseja viver.

Este conflito para satisfazer o ego é o nosso maior tirano. Em vez de relaxar no momento, estamos constantemente tendo de manipulá-lo. Descobrimos nós mesmos usando as pessoas em vez de amá-las. Se vamos participar na alegria do amor uns aos outros, precisamos deixar que Jesus reajuste o nosso pensamento para que sejamos ainda mais conscientes dos outros do que somos de nós mesmos. (Páginas 46, 47) 

Saudai-vos uns aos outros… (2 Coríntios 13:12)

Sejam mutuamente hospitaleiros… (1 Pedro 4:9) 

Dale Carnegie: Você pode fazer mais amigos em dois meses, interessando-se em outras pessoas do que pode em dois anos, tentando conseguir que outras pessoas se interessem por você.

Dê uma olhada ao seu redor e veja onde você pode ser hospitaleiro. Em seguida, desmarque a sua agenda e convide um amigo ou alguém que você talvez não conheça bem para o almoço ou jantar. Parece fácil – porque é! É muitas vezes o primeiro passo para uma amizade inestimável (pág. 67). 

Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros… (Efésios 4:32) 

Mas não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros… (Hebreus 13:16)

Numa cultura onde a maioria das pessoas está olhando para o número um, atos aleatórios de bondade destacam-se tão brilhantemente como um farol numa noite sem lua (pág. 71). Em uma situação de conflito, um ato de bondade pode fazer muito para neutralizar a animosidade, permitindo-nos praticar o amor uns aos outros (pág.75). 

… sirvam uns aos outros mediante o amor. (Gálatas 5:13) 

Levem os fardos pesados uns dos outros… (Gálatas 6:2) 

Edifiquem-se uns aos outros… (1 Tessalonicenses 5:11)

Uma ação de servir pode iniciar um novo relacionamento – um que poderia simplesmente abrir uma vida ao amor de Deus. O importante é permitirmos que o amor nos motive, ao passo que o Espírito nos torna conscientes de oportunidades para servir. Servir por obediência por si só é escravidão, servir com amor é uma alegria (pág. 83)

Muitas vezes você vai descobrir que assim como você compartilha livremente de sua vida, outros farão o mesmo. Ouvir como os outros estão aprendendo a seguir a Deus e buscar a sabedoria que estão descobrindo na Palavra de Deus não só enriquecerá sua própria jornada, como aumentará a profundidade da associação que você usufrui com outros. Este tipo de partilha é o pão e a manteiga da vida do corpo. (pág. 86). 

… encorajem-se uns aos outros todos os dias… (Hebreus 3:13) 

Consolem-se uns aos outros… (1 Tessalonicenses 4:18) 

E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. (Hebreus 10:24)

Nós encorajamos uns aos outros, dizendo ou fazendo coisas que tornam Deus mais visível para eles. O encorajamento que recebemos de uma reunião cristã apenas não é suficiente; precisamos de incentivo adicional por meio de relacionamentos pessoais, e estaríamos bem servidos se tecêssemos o encorajamento no tecido de nossas vidas e de nossa interação com outros (pág. 91). Embora isso possa ocorrer em uma variedade de maneiras, estimular outros ao amor e a boas obras atrai o melhor dos outros, ajudando-os a ver o propósito de Deus em suas vidas (pág.93). 

… ensinem uns aos outros (Romanos 15:14)

… aconselhem-se uns aos outros. (Colossenses 3:16)

O Rei Salomão disse: “Quem ouve a repreensão construtiva terá lugar permanente entre os sábios.” (Provérbios 15:31). Devemos estar dispostos a oferecer conselhos em um espírito de amor aos nossos irmãos, e devemos estar dispostos a receber tal conselho em um espírito de humildade. Todavia, devemos entender que o crescimento no relacionamento com Deus não vem por meio da conformidade com regras, e sim por meio da transformação interior, espiritual (pág.104). Em todas as vezes o nosso objetivo deve ser ajudar nossos irmãos e irmãs na sua própria caminhada com Cristo, não na caminhada que nós achamos que eles deveriam andar. 

… orem uns pelos outros. (Tiago 5:16)

A verdadeira oração é o processo de se envolver com a necessidade de alguém, orando conforme nosso melhor entendimento da obra de Deus, e depois permanecendo na situação até que vejamos sua obra concluída. Aprender a fazer isso bem pode levar a orações eficazes e a um crescimento maravilhoso em nossos relacionamentos (pág. 119). 

Confessem os seus pecados uns aos outros… (Tiago 5:16) 

Tende o mesmo sentimento uns para com os outros. (Romanos 12:16)

Estes textos são para relacionamentos cristãos maduros, apenas! Revelar o nosso interior para as pessoas não é fácil, porque muitos de nós fomos abusados ou manipulados por outros precisamente em nossos pontos mais fracos. Não precisamos nos abrir com outros só porque eles se dizem crentes, mas podemos permitir que os relacionamentos cresçam até o ponto em que as pessoas possam lidar adequadamente com a profundidade de nosso compartilhamento num ambiente de amor e confiança (pág. 126). 

… sujeitando-vos uns aos outros. (Efésios 5:21) 

Richard Foster: “Sujeição é a habilidade de por de lado a terrível carga de sempre precisar encontrar o seu próprio caminho.”

Como irmãos e irmãs não dizemos uns aos outros o que fazer, mas mantemos um diálogo honesto que respeite obra de Deus em nossas vidas. Devemos seguir Jesus, não intermediários que nos dizem o que Deus requer.

Paulo entendia a sujeição, não como algo que ele exigia dos outros, e sim como aquilo que o libertou para servir os outros. Sempre tome cuidado quando seguir a direção de Deus vem à custa de outra pessoa. Quando Deus coloca algo em nossos corações, Ele nos pede para assumir o risco e não impor isso a outros. Quando rejeitamos o conceito de que a sujeição é uma ferramenta para controlar uns aos outros, podemos deleitar-nos em seus frutos, por partilhar nossa sabedoria e discernimento sem nos sentirmos ameaçados (págs.140, 141). Por meio desta partilha o corpo de Cristo cresce.

Conclusão

O corpo de Cristo é um organismo espiritual vivo, composto de verdadeiros cristãos individuais, em união com Jesus Cristo, a cabeça do corpo. Para sobreviver, o corpo não deve ser dividido. A unidade é obtida por meio de nossa sujeição à chefia de Cristo, pedindo humildemente orientação, e refletindo o amor de Deus em todos os nossos relacionamentos e práticas. Os textos “uns aos outros” que consideramos demonstram, de modo prático e específico, como podemos expressar este amor uns aos outros. Meditemos sobre estes textos e usemo-los em nossa caminhada com nosso Senhor.
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Resumo do livro Authentic Relationships [Relacionamentos Autênticos], de Wayne e Clay Jacobsen. As referências bíblicas são da NVI ou da SBB, a não ser que haja outra indicação.

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