Deus Trabalha Por Meio de Uma Organização?

A matéria contida nesta publicação foi preparada especificamente para pessoas que são ou que já foram Testemunhas de Jeová. Examina-se a evidência bíblica relacionada com as questões levantadas acima, sendo que todas elas se originam de declarações feitas nas publicações da Torre de Vigia, as quais afirmam que Deus sempre trabalhou por meio duma organização. Explora-se também a ideia de as Testemunhas de Jeová – como grupo ou individualmente – terem autorização bíblica para ser um “canal de comunicação” entre Deus e a humanidade. Mas, mesmo pessoas que nunca pertenceram a esta religião talvez tenham algum interesse em examinar essa matéria, com o fim de entender a importância da ideia de uma organização estruturada e com autoridade centralizada no pensamento das Testemunhas de Jeová.

A menos que haja outra indicação, os textos citados aqui são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. As citações da Nova Versão Internacional, são seguidas pela abreviatura NVI.

Deus Trabalha Por Meio de Uma Organização?

A Sociedade Torre de Vigia afirma que Deus sempre usou uma organização para se comunicar e prover liderança e direção aos seus servos. Ensina também que ao longo do último século, ou pouco mais, a organização de Deus se identifica com as Testemunhas de Jeová, ou Sociedade Torre de Vigia (Associação Torre de Vigia, no Brasil). A estrutura administrativa e executiva das Testemunhas, por meio de publicações impressas e representantes, mantém comunicações altamente detalhadas e regulares entre a sede mundial e as muitas congregações das Testemunhas de Jeová através do mundo. Estas comunicações incluem instruções para o serviço de pregação, atualizações e ajustes de assuntos doutrinários ou organizacionais, regras e regulamentos para a vida religiosa e cotidiana, e principalmente instruções e procedimentos disciplinares para os que deixarem de cumprir essas regras. A sede mundial recebe também relatórios regulares de representantes da organização em todos os países. 1Uma organização que recebe relatórios regulares de membros espalhados por uma enorme área e que tenha um grupo central de administradores que exerce controle sobre membros que vivem em muitos países diferentes não era possível até uns dois séculos atrás. O próprio conceito de uma “organização mundial” é bem recente, sendo resultante do amplo desenvolvimento da tecnologia das comunicações nos últimos cem anos ou pouco mais.

As Testemunhas de Jeová vêem seu Corpo Governante e a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (dos Estados Unidos da América), como representantes de um “canal” de comunicação entre Deus e a humanidade. Elas defendem que Deus dirige todos os Seus interesses na terra por meio dessa organização. Acreditam firmemente que fora da organização delas não há salvação nem favor divino. Reconhecer a autoridade dessa “organização dirigida pelo espírito” é até mesmo incluído entre os requisitos para alguém ser batizado como Testemunha de Jeová. 

Portanto, a expressão “organização de Jeová”, conforme é usada nas publicações da Torre de Vigia, significa bem mais do que apenas um grupo de adoradores. A Torre de Vigia ensina que Deus sempre deu a uma pessoa ou a um pequeno grupo de pessoas tiradas dentre o povo de Deus na terra, a autoridade de repassar, distribuir ou interpretar informações e instruções recebidas diretamente dele para o restante dos servos aprovados. Ensina também que Deus não mantém relacionamento independente com ninguém à parte desse “canal de comunicação”. 

Indica a Bíblia que Deus realmente usou uma organização terrestre visível ao longo da história? Se não, como foi que Ele se comunicou com a humanidade, como foi que a dirigiu, revelou sua vontade, lidou com problemas, e estabeleceu representantes especiais?

De Adão ao Dilúvio

Deus falou diretamente com Adão e Eva. Abençoou-os e deu orientações quanto ao que se esperava deles. (Gênesis 1:28-30) Depois que eles pecaram, o próprio Deus os interrogou e em seguida pronunciou a sentença de julgamento diretamente sobre cada um dos três indivíduos na Jardim do Éden: Adão, Eva e a serpente. (Gênesis 3:9-19) Quando Caim e Abel ofereceram sacrifícios a Deus, Ele os julgou individualmente. Quando Caim demonstrou ter uma atitude errada, Deus lhe deu orientação pessoal, e o advertiu contra o pecado. Depois de ter assassinado seu irmão, Deus o julgou de maneira individual. (Gênesis 4:6-15)

Durante o longo período patriarcal que se seguiu, a obediência ao mandamento de Deus de que a humanidade deveria crescer, multiplicar-se e encher toda a terra exigia que seus servos se espalhassem, em vez de se juntarem num grupo. Em harmonia com isso, não há menção alguma de servos de Deus que prestassem adoração num lugar central ou que recebessem regularmente mensagens de Deus como grupo, para depois repassá-las a outros.

Quando Deus decidiu eliminar da terra os injustos por meio dum dilúvio, Ele escolheu Noé para executar as instruções que preservariam tanto famílias humanas, como de animais. Sendo consistente com seu padrão, Deus falou diretamente a Noé. 2A revista A Sentinela compara a organização Torre de Vigia com a arca de Noé, como ‘provisão de Deus para a salvação’ dentro da qual todos os justos na terra se juntaram, para serem salvos da destruição no dilúvio. (A Sentinela de 1º de março de 1997, pág. 12, e muitas outras publicações). É interessante notar que o próprio Noé foi a única pessoa mencionada como justa no relato em Gênesis, bem como nas referências feitas a ele por Jesus e Pedro. (Gênesis 6:9; Mateus 24:38; 2 Pedro 2:5) Embora sua esposa, três filhos e três noras tenham sido salvos do dilúvio junto com ele, a Bíblia não dá qualquer ênfase à ideia de que a família de Noé foi salva porque era justa ou que apenas pessoas justas tiveram a permissão de entrar na arca. Depois do dilúvio, na época do pecado de Canaã, Jeová é mencionado como “Deus de Sem”. (Gênesis 9:26), o que gera a pergunta se Jeová era adorado por todos como Deus. Assim, é possível que pelo menos alguns da família de Noé podem ter sido poupados, não por serem justos, mas por causa de Noé e para dar continuidade à raça humana. Mais tarde, foi oferecida a toda a família do justo Ló, incluindo os genros, a oportunidade de salvação da destruição de Sodoma e Gomorra, muito embora só o próprio Ló parece ter demonstrado um forte compromisso com a adoração verdadeira, com base no relato bíblico sobre suas ações. (Compare com Gênesis 19:12-36; 2 Pedro 2:7) “pregador da justiça” (2 Pedro 2:5), Noé atuou como profeta, ou seja, alguém que transmite mensagens divinas. Depois do dilúvio, Noé fez sacrifícios a Deus em favor de sua família, um padrão que continuaria por muitos séculos. 3Um exemplo é Jó, que ‘… se levantava de manhã cedo e oferecia sacrifícios queimados segundo o número de todos eles [seus filhos]; pois, dizia Jó, “meus filhos talvez tenham pecado e amaldiçoado a Deus no seu coração”. Assim Jó fazia sempre.’ (Jó 1:5) Em se tratando de adoração, os chefes de família representavam suas famílias perante Deus, exercendo assim a função de sacerdotes ou mediadores em sentido limitado.

Do Dilúvio ao Monte Sinai

Após o dilúvio, Deus repetiu sua ordem de “sede fecundos e tornai-vos muitos e enchei a terra.” (Gênesis 9:1) Ele continuou a falar diretamente com indivíduos. Ele se comunicava por meio de anjos, sonhos, visões ou profetas que recebiam mensagens divinas, com a ordem de repassá-las aos beneficiários. Quando um grupo de rebeldes conspirou para construir uma torre, em parte por temerem ser “espalhados pela superfície de toda a terra”, Jeová Deus confundiu sua língua, o que os obrigou a obedecer, pelo menos por algum tempo, sua ordem de encher a terra. (Gênesis 11:4,8) 

Centenas de anos depois, Deus fez uma promessa pessoal a seu amigo Abraão, um notável homem de fé, de que ele se tornaria “uma grande nação”. (Gênesis 12:2) Isso marcou o início de uma coisa nova. Uma família favorecida receberia atenção especial e produziria o prometido Messias. Será que isso deu início a um modo mais “organizado” de comunicação divina com a humanidade? 

À medida que a família de Abraão crescia, Deus continuou a se comunicar diretamente com seus servos, incluindo pessoas que agiam, temporária ou permanentemente, como profetas. Contudo, é visível que naquela época, ninguém tinha entendimento completo de tudo e nem Deus trabalhava unicamente por meio de um só “canal” em algum momento. Por exemplo, José, enquanto ainda era um jovem que vivia com seu pai, um patriarca e profeta, teve sonhos inspirados que prediziam coisas futuras. José foi enviado por Jeová ao Egito, para preparar o caminho da transformação da família de Jacó numa nação. Mas Jeová não revelou a Jacó o que Ele estava fazendo, embora Jacó fosse o patriarca e profeta. (Gênesis 42:36) Sob a liderança de Deus, 75 descendentes de Abraão mudaram-se para o Egito. Quando saíram de lá, uns 215 anos depois, já ascendiam a milhões. 

Quando Deus estava prestes a libertar seu povo da escravidão no Egito, Ele falou pessoalmente a Moisés por meio dum arbusto ardente, e o comissionou a fazer milagres, para mostrar aos israelitas e aos egípcios o significado e o poder por trás do nome de Jeová. A prontidão com que os israelitas aceitaram adorar um bezerro de ouro nas planícies do Sinai, por exemplo, além de outros sinais de fé fraca, sugere que enquanto estavam no Egito eles não tinham mantido, como grupo, a adoração pura de Deus que fora praticada por seu ancestral, Abraão. 

Os israelitas entraram num pacto especial de relacionamento com Deus depois que saíram do Egito. Receberam a Lei que os guiaria em questões morais, civis e religiosas. A organização Torre de Vigia apresenta esses eventos como um paralelo de como as Testemunhas de Jeová foram tiradas do “mundo” da humanidade, especialmente da Cristandade, e têm recebido instruções e direção central por meio de um “canal de comunicação” terrestre, o que levou todas a serem unidas dentro da forma atual da organização delas. A nação de Israel é usada como um “tipo” ou quadro da altamente organizada Torre de Vigia. Será que a Lei Mosaica criou uma estrutura administrativa centralizada como a que existe entre as atuais Testemunhas de Jeová?

Como o Povo de Israel Foi Organizado?

Moisés era realmente um “canal de comunicação” entre Deus e os israelitas. Faz-se menção dele nas Escrituras como um “mediador”. (Números 12:7; Gálatas 3:19) Nesse papel, ele prefigurou Jesus Cristo. (Deuteronômio 18:18,19; compare com Atos 3:19-23.) Moisés liderou a nação de Israel e foi um profeta. Seu sucessor, Josué, foi um líder, mas não um mediador ou profeta, nem o foram o irmão de Moisés, Arão, e seus descendentes, os sacerdotes. Tanto eles como os outros membros de sua tribo, os levitas, só eram encarregados de funções religiosas, não de funções executivas ou proféticas. Quem, então, dirigia as coisas em Israel? 

Não havia qualquer necessidade de um governo centralizado, porque a nação de Israel era realmente uma única família. Estava “organizada” em linhagens familiares. Os anciãos e os “chefes de cem e de mil” em Israel não eram eleitos por voto popular, nem eram designados por Deus. Eles eram parentes das pessoas que representavam. Cada tribo era um grupo familiar, descendente de um ancestral comum, e tinha parentesco consangüíneo. 

A Lei Mosaica fornecia diretrizes morais e religiosas para os Israelitas. Ela fornecia extensivas definições de pensamentos ou ações pecaminosas que poderiam ocorrer em qualquer faceta da vida diária, junto com procedimentos específicos para lidar com esses delitos. Ela definiu projetos e procedimentos altamente detalhados para construir o tabernáculo e mudá-lo de lugar em lugar. Mas ela não estabeleceu qualquer forma de governo humano ou corpo administrativo. Sob a Lei, os israelitas deveriam se conduzir por meio de sua consciência, e não por meio de governantes humanos que faziam valer o poder governamental por meio da polícia ou outras forças armadas. As penalidades contra os pecadores ou transgressores da lei eram aplicadas em cada comunidade, pelos próprios habitantes daquela comunidade, sob a supervisão dos anciãos, e os sacerdotes supervisionavam as oferendas acompanhantes e outros procedimentos religiosos. Cada indivíduo era responsável por seu comportamento perante Deus, sua família e a comunidade. Essa era uma forma teocrática de governo em seu verdadeiro sentido: o próprio Deus agia no lugar de qualquer rei humano. Essa forma de governo funcionava? 

Do Monte Sinai ao Profeta Samuel

Depois que entraram na terra prometida, os israelitas continuaram por mais de 350 anos sem qualquer rei humano ou governo centralizado. “Naqueles dias não havia rei em Israel. Cada um costumava fazer o que era direito aos seus próprios olhos.” (Juízes 21:25) Esse arranjo teocrático não resultou em anarquia. A evidência é que esse foi um excelente arranjo.

Conforme necessário, de tempos a tempos, Deus selecionava e designava juízes. Os juízes agiam como líderes, porém, mais num sentido militar do que governamental. Às vezes, mais de um juiz era designado e em certas épocas não havia nenhum juiz em atividade. Eles não tinham qualquer autoridade executiva especial e tampouco agiam como reis sobre Israel, pois o próprio Deus era seu único Governante. Os capítulos concludentes do livro de Juízes contêm um relato interessante e incomum de como a justiça foi administrada sob esse arranjo, no caso de um crime particularmente violento.

O registro bíblico declara que durante mais de dois terços do período dos juízes houve paz em Israel. Depois de algumas ocasiões em que juízes apareceram para livrar Israel dos inimigos, houve três períodos de quarenta anos e um período de oitenta anos em que o país teve “sossego”. (Juízes 3:11,30; Juízes 5:31; Juízes 8:28) Nunca mais houve tantos anos de paz como durante o período dos juízes. Na verdade, durante aquele tempo, a Bíblia relata que só um profeta, a mulher Débora, foi enviado a Israel. O que aconteceu que mudou a situação e pôs fim a essas condições de paz em Israel?

 Uma Má ideia Cria Raízes

Nos dias dos profeta Samuel, os israelitas começaram a querer ter um rei. Eles queriam um governo visível centralizado. Por quê? Seria porque a forma teocrática de governo que trouxera paz e prosperidade por gerações não estava funcionando? Não. Seria para protegê-los da apostasia? Não. Por que, então? Eles disseram: “… teremos de tornar-nos iguais a todas as nações, e o nosso rei terá de julgar-nos, e terá de sair na nossa frente e travar as nossas batalhas.” (1 Samuel 8:20) O caso era que eles queriam ser exatamente iguais às nações pagãs ao redor deles. A ideia era egoísta, mundana e anti-teocrática. E foi exatamente isso o que Deus disse. Samuel pensou que Israel tinha rejeitado a ele como profeta, mas Jeová o corrigiu. Deus disse que esse pedido dos israelitas era uma rejeição dele como seu Rei invisível. Deus advertiu a nação de Israel que um governo centralizado os levaria a muitas dificuldades, mas eles continuaram insistindo que Deus desse a eles um rei humano. (1 Samuel, capítulos 8 a 10).

Deus concedeu o pedido deles. Escolheu um homem bom e capacitado, Saul, como seu primeiro rei. Com o passar do tempo, as boas qualidades que haviam levado Saul a ser escolhido se corromperam. Deus rejeitou Saul e escolheu outro rei para Israel, o jovem Davi, que veio a se tornar um homem “agradável ao coração [de Deus].” (1 Samuel 13:14) Mesmo um homem com essa recomendação maravilhosa não estava isento de sérias transgressões. O reino de Davi foi marcado por escândalos pessoais e tragédias familiares.

Salomão, o filho de Davi, e também selecionado por Deus, foi chamado de “o mais sábio de todos os homens”. Seu reinado de 40 anos foi caracterizado por paz, prosperidade e felicidade, mas, ao atingir mais idade, Salomão também se tornou infiel a Deus. (1 Reis 11:4-6) Em resultado disso, quando o filho de Salomão, Roboão, assumiu o trono, Jeová dividiu a nação, para sempre, em dois reinos: dez tribos ao norte (Israel) e duas tribos ao sul (Judá). – 1 Reis 11:9-13 

O governo centralizado sobre todo o Israel fracassou miseravelmente. Só durou três gerações, apesar do fato de que era o próprio Deus quem escolhia seus reis. A partir desse ponto na história dos judeus, qualquer tentativa de comparar os israelitas com as Testemunhas de Jeová de hoje se torna muito mais complicada. 

Dois Reinos, Uma Organização?

Depois da divisão em dois reinos, as coisas nunca foram as mesmas para os judeus. O reino de Judá continuou a ter descendentes de Davi em seu trono, ao passo que o reino de Israel teve dinastias múltiplas, às vezes sendo substituídas por meio de guerras sangrentas. Os dois reinados lutaram contra inimigos externos e entre si. Cada um tinha sua própria linhagem de reis. O reino setentrional estabeleceu um centro de adoração em Samaria, em vez de em Jerusalém, que estava no território do reino das duas tribos, ao mesmo tempo em que substituiu quase que totalmente os sacerdotes levitas por sacerdotes não-levitas, e gradualmente passou a praticar a adoração falsa. 

É difícil imaginar como a situação governamental entre os judeus poderia ser comparada de alguma maneira a uma única e harmoniosa organização com uma estrutura administrativa central. Não era o caso de um dos reinos ser fiel e o outro infiel. Tanto em um quanto no outro reino houve reis bons e maus. Deus não se refreou de ter tratos, quer com um, quer com o outro reino. Ele enviou profetas a ambos os reinos. Em qualquer um dos reinos, assim que um rei injusto tomava posse, a maldade imperava. Porem, sob o reinado de reis com inclinações justas, geralmente havia um retorno a uma forma mais pura de adoração, o que resultava em bênçãos. 

O reino setentrional de Israel caiu definitivamente nas mãos do rei assírio, Salmaneser, em meados do oitavo século antes de Cristo. Com o tempo, alguns de seus descendentes voltaram à sua capital anterior, Samaria, ao norte da Palestina. Nos dias de Jesus, eram conhecidos como samaritanos, e seus primos judaicos os odiavam. 

Depois da queda do reino setentrional, o reino meridional, Judá, continuou a ter bons e maus reis. Devido à sua infidelidade, no sexto século antes de Cristo, Deus finalmente permitiu que eles fossem levados ao cativeiro pelo rei babilônico Nabucodonosor. Depois do cativeiro, um grupo relativamente pequeno de judeus retornou a Jerusalém, para reconstruir o templo e se restabelecer em sua pátria judaica. Mas, a maioria deles nunca retornou à Palestina. 

Quase vinte séculos se passaram, entre a promessa feita por Deus a Abraão, seu amigo, de que sua descendência haveria de se tornar uma nação e a vinda de Cristo. Os israelitas adoraram fielmente a Deus de forma unida, especialmente nos séculos anteriores ao período monárquico. Contudo, eles nunca tiveram qualquer corpo administrativo central que lembrasse remotamente a organização Torre de Vigia de hoje, seja na forma, seja na função. E durante todo aquele período, eles ainda eram o povo escolhido de Deus. Como sabemos isso?

Jesus é Enviado às “Ovelhas Perdidas de Israel”

Por ocasião do aparecimento de Jesus no cenário, Israel era tudo, menos uma nação altamente organizada. Os judeus eram governados por estrangeiros. Não praticavam a adoração pura. A maioria deles (os remanescentes do reino setentrional de dez tribos, mais os descendentes do grande número de judeus que nunca voltaram à Palestina depois do cativeiro em Babilônia) estava espalhada pela terra. Eram governados por diversas nações e reis. Estavam divididos em suas crenças. Haviam feito tantos acréscimos à Lei, que o simples mandamento de guardar o sábado se tornara quase impossível de obedecer. A adoração que era praticada em Jerusalém havia sido corrompida pelo comercialismo, por rituais e formalidades vazias.

Todavia, apesar dessa situação, o ministério de Jesus foi dirigido aos judeus e samaritanos e não aos gentios. Por quê? Segundo ele mesmo disse, ele havia sido enviado “às ovelhas perdidas… de Israel.” (Mateus 15:24) Apesar da infidelidade e da apostasia, eles ainda eram o povo escolhido de Deus. Só depois que rejeitaram o Messias é que sua “casa foi abandonada”. (Mateus 23:38, compare com Mateus 21:33-43) 

Como Deus Se Comunicava Com Israel?

A Bíblia está repleta de exemplos de como Deus influenciava seu povo a fazer sua vontade. A alguns Ele falou diretamente (Gênesis 46:1-4; Josué 8:1) ou por meio de anjos. (Juízes 6:11-24; capítulo 13) Outros recebiam visões ou sonhos. (1 Reis 3:5-15; 1 Reis 9:1-9; Isaías 1:1; Amós 7:1-9; Ezequiel 1:1) Mas, a maior parte das mensagens dirigidas ao povo de Deus foi transmitida pelos profetas. Conforme declara Hebreus 1:1: “Deus … há muito falou em diversas ocasiões e de muitos modos aos nossos antepassados por intermédio dos profetas.” 

Geralmente os profetas apareciam em Israel quando o povo se tornava infiel. A tarefa deles era simplesmente transmitir mensagens de Deus (profecias), advertir o povo para deixar a adoração falsa e encorajá-lo a obedecer à Lei e praticar a verdadeira adoração. Quem designava esses profetas? Eles não eram escolhidos pelos líderes da nação, pelos sacerdotes e nem mesmo por outros profetas. Eram designados pelo próprio Deus, por meio do espírito santo. (Números 11:24-29) 

O trabalho de um profeta, conforme descrito na Bíblia, oferecia pouco ou nenhum prestígio ou poder. Os profetas eram malvistos. A maior parte deles foi tratada de maneira indigna pelo povo escolhido de Deus. Muitos foram brutalmente perseguidos ou mortos pelos líderes da nação. 

Já que não havia qualquer arranjo na Lei para designar profetas, nem qualquer procedimento oficial para autorizá-los, cada israelita individual tinha a responsabilidade de determinar se alguém que se apresentava como profeta estava realmente falando em nome de Deus. Por isso, a Lei especificava três sinais indicativos de um profeta ou duma profecia verdadeira: 1) o profeta deveria falar em nome de Jeová, 2) a profecia deveria se cumprir e 3) a profecia deveria promover a adoração verdadeira. (Deuteronômio 18:20-22; 13:1-4) 

Será que os profetas de Deus estavam organizados em um corpo central que dava diretrizes à nação de Israel? A Bíblia menciona grupos de profetas em alguns lugares, tais como 1 Samuel 10:5,10; 2 Reis 2:3,5 e 2 Reis 4:38, mas eles nunca agiram como um tipo de “canal de comunicação” regular de Deus. Na verdade, às vezes alguns profetas nem sabiam do paradeiro ou até da existência de outros profetas ou mesmo de outros adoradores verdadeiros.

Por exemplo, durante um dos períodos de infidelidade do reino setentrional, o profeta Elias acreditava ser a única pessoa em Israel que não havia se curvado diante de Baal. No entanto, Deus revelou a ele: “E deixei sete mil remanescer em Israel, todos os joelhos que não se dobraram diante de Baal e toda boca que não o beijou.” (1 Reis 19:18) Sem dúvida, aquelas pessoas fiéis teriam sido consideradas desleais ao rei ungido que estava no poder. Contudo, ainda assim, elas não estavam obviamente organizadas em algum tipo de grupo. Levavam uma vida discreta em fidelidade pessoal a Deus, mesmo estando cercadas pelo povo infiel (mas ainda escolhido) de Deus. 

Durante todo o período pré-cristão, a Bíblia menciona pessoas fiéis que mantiveram lealdade a Deus, quer os líderes da nação estivessem guiando o povo na adoração verdadeira, quer não. Foi assim até a chegada de Jesus. Um justo profeta chamado Simeão viu o bebê Jesus, em cumprimento de uma profecia transmitida a ele por meio do espírito santo. Menciona-se também uma profetisa fiel chamada Ana. (Lucas 2:25-38)

Começa a Era Cristã

A vinda de Jesus envolveu o aparecimento de um novo porta-voz e não de um novo modo de comunicação entre Deus e o homem. Hebreus 1:1, 2 (NVI) diz: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.” Estabeleceria Jesus uma organização visível para representar seus interesses na terra ou será que cada cristão seria um “embaixador substituindo a Cristo”? – 2 Coríntios 5:20 

Na ocasião em que Jesus falou sobre manter a vigilância, “Pedro perguntou: ‘Senhor, estás contando esta parábola para nós ou para todos?’ O Senhor respondeu: ‘Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas suponham que esse servo diga a si mesmo: ‘Meu senhor se demora a voltar’, e então comece a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a embriagar-se. O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis. Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.’” (Lucas 12:41-48, NVI

A organização Torre de Vigia usa essa pergunta de retórica que Jesus fez, de acordo com a passagem paralela em Mateus 24:44-51, como autorização para assumir a responsabilidade “do [um e único] escravo fiel e discreto” a cargo de “todos os bens [do Amo].” Contudo, é difícil aceitar a ideia de que essa parábola se refere a múltiplas organizações religiosas em operação no momento da chegada de Cristo em poder, cada uma com uma responsabilidade maior ou menor, dependendo do que cada uma delas fez com o conhecimento que tinha. Esta passagem só faz sentido como uma exortação aos cristãos para que se mantenham vigilantes e se comportem apropriadamente para com outros, principalmente para com outros cristãos, sempre tendo em mente que um dia todos terão de responder a uma Autoridade maior.

Eram os Apóstolos Um “Corpo Governante”?

Se Jesus quisesse estabelecer um “canal de comunicação” por meio do qual seria revelado um crescente entendimento das Escrituras, poderíamos esperar com certeza que seus apóstolos fiéis seriam esse “canal” a quem se revelaria essa “nova luz”. Todavia, o registro mostra que este não foi o caso. Alguns apóstolos aparecem freqüentemente no registro inspirado do crescimento do Cristianismo. Alguns escreveram cartas que se tornaram parte das Escrituras inspiradas, a saber, Mateus, Pedro, Tiago e João. Mas outros dentre os doze não tiveram qualquer proeminência durante o crescimento e difusão do Cristianismo, em comparação com, por exemplo, Paulo e Barnabé, Silas e Timóteo. E a maior parte das Escrituras Gregas inspiradas foi escrita por pessoas que não faziam parte dos doze apóstolos, sendo este principalmente o caso de Paulo, além de Marcos, Lucas, Tiago (irmão de Jesus) e Judas. 

A vida, a morte e a ressurreição de Jesus cumpriram muitas profecias das Escrituras Hebraicas de várias maneiras não previstas pelos instrutores religiosos dos dias dos apóstolos. Tais profecias precisavam de explicação para que os primitivos cristãos pudessem entendê-las corretamente. Como foi revelado à primitiva igreja este entendimento profundo acerca do papel de Jesus como o Messias? Segundo Lucas 24:13-35, no mesmo dia em que foi ressuscitado, Jesus apareceu a dois discípulos na estrada para Emaús, um homem chamado Cléopas e outro discípulo. “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes [não aos onze apóstolos] o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.” Essa inteira explicação de como as profecias hebraicas se aplicavam a Jesus foi sem dúvida um exemplo notável de revelação divina dentro do registro bíblico. Depois que Jesus tinha partilhado uma refeição com eles e partido, eles se levantaram imediatamente e retornaram a Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos e lhes contaram tudo sobre seu encontro com Jesus. Enquanto ainda estavam contando a história, o próprio Jesus apareceu a todo o grupo que estava reunido lá.

Antes de sua ascensão ao céu, Jesus disse aos onze apóstolos que já lhe tinha sido dada autoridade para assumir a responsabilidade pessoal por tudo: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.” – Mateus 28:18-20 

Antes de sua morte, Jesus dissera a seus discípulos que enviaria o ajudador ou conselheiro que tomaria seu lugar na terra depois que ele retornasse ao céu: “E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” (João 14:16, 17, NVI) Ao falar depois sobre a obra do espírito santo, Jesus continuou: “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.” – João 16:13,14. 

Será que o espírito santo só agiria por um pequeno intervalo, durante mais ou menos uma geração depois do início da congregação cristã, até que Jesus pudesse organizar a recém formada igreja para que esta assumisse a responsabilidade do espírito santo, ou seja, alimentar os discípulos, “guiando-os a toda a verdade” e ao mesmo tempo falando em nome de Jesus? Não. Jesus disse que o espírito estaria com eles “para sempre”, sem qualquer necessidade de ser substituído. 

Jesus havia prometido que estaria com eles “todos os dias, até a terminação do sistema de coisas”, por isso não havia qualquer razão para que eles esperassem o desenvolvimento de alguma organização humana centralizada, composta por representantes humanos que seriam a fonte de liderança e direção. Mesmo que eles se juntassem em pequenos grupos para encorajar uns aos outros, eles poderiam estar absolutamente certos da presença e bênçãos de Jesus, pois ele disse: “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles.” – Mateus 18:20. 

O “Concílio” de Jerusalém – Uma “Fonte de Nova Luz”?

A organização Torre de Vigia sugere que os anciãos da congregação de Jerusalém, a cidade de onde o evangelho começou a se difundir por todo o mundo, atuavam duma maneira bem parecida com a do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, decidindo sobre assuntos de importância para os cristãos de outras congregações e agindo como uma fonte de crescente entendimento da verdade. A organização afirma que os anciãos em Jerusalém agiram nessa função quando surgiu uma questão envolvendo a circuncisão. É isso o que ensina a Bíblia? Qual era o papel da congregação de Jerusalém e como o próprio Jesus e o espírito santo agiram no tocante à abordagem e solução daquele problema? Examinemos o registro encontrado em Atos 15:1-35 e Gálatas 2:1-14.

Segundo o livro de Atos, a questão surgiu quando alguns homens vieram de Jerusalém (“da parte de Tiago”, veja Gálatas 2:12) para Antioquia e começaram a ensinar algo novo, algo que Paulo não havia ensinado aos crentes gentios. Qual era essa “nova verdade” de Jerusalém? “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos.” Isso estava em conflito direto com o que o próprio Jesus tinha revelado a Paulo, ou seja, que era só por meio da fé que alguém poderia ser salvo. Paulo argumentou fortemente contra esse “novo ensino”. Mas, os homens de Jerusalém insistiam que eles estavam certos, de modo que Paulo e Barnabé subiram até Jerusalém para “tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros.” O registro de Paulo na carta aos Gálatas mostra que ele subiu a Jerusalém porque havia sido ordenado pelo próprio Senhor, “em virtude duma revelação”. Com efeito, alguns cristãos judeus realmente já acreditavam que a circuncisão (e guardar a lei de Moisés) era necessária para a salvação. 

O relato que Paulo fez à congregação na Galácia acerca dessa situação mostra que ele se reuniu em particular com “aqueles que pareciam ser alguma coisa” na congregação, os anciãos proeminentes. Ele “pôs diante deles o Evangelho que [ele pregava] entre os gentios e não cedeu nem por um instante.” Aqueles homens piedosos reconheceram que estavam errados, aceitaram a correção de Cristo, dada por meio de Paulo, e falaram com os outros anciãos, desta feita numa reunião maior, sob a liderança do espírito santo, de modo que todos chegaram a um ponto de vista correto. Daí eles escreveram uma carta se desculpando, dirigida especificamente aos gentios de Antioquia (Atos 15:28), na qual sugeriram algumas coisas que, se fossem evitadas, contribuiriam para a paz entre os judeus e os gentios, bem como para a própria saúde e prosperidade deles. 4Na carta, registrada em Atos 15:23-29, os cristãos gentios são encorajados a se abster de “coisas sacrificadas aos ídolos, de sangue, da carne de animais estrangulados e da fornicação.” No entanto, mais tarde Paulo considerou o assunto de comer carne sacrificada aos ídolos e tornou claro que evitar comê-la era uma questão de consciência e não uma regra rígida. Para os cristãos, evitar fazer outros tropeçarem por meio de suas ações era o principal fator motivador. (Compare com Romanos 14:14,20,21; 1 Coríntios 10:19-33).

É evidente que não se chegou a nenhum entendimento novo devido àquela reunião. Os anciãos em Jerusalém foram corrigidos, em vez de darem correção. Este evento não fornece qualquer evidência de que havia um “corpo governante” composto de homens em Jerusalém que elaboravam leis e regras que deveriam ser repassadas a todos os cristãos. Na verdade, o caso era exatamente o oposto. A evidência mostra nitidamente que o espírito de Deus agiu por meio de pessoas fiéis específicas com a finalidade de alimentar e livrar os cristãos do erro.  

O Espírito de Deus Trabalha Junto com os Primitivos Cristãos

Jesus disse a seus discípulos para permanecer em Jerusalém só até que eles fossem “revestidos com o poder de cima”. (Lucas 24:49) Isso ocorreu no Pentecostes. Pedro falou nessa ocasião, aplicando a profecia de Joel ao que aconteceu. Essa profecia, que deveria se cumprir durante toda a era cristã, incluía o seguinte: “derramarei do meu espírito sobre toda sorte de carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, e os vossos jovens terão visões e os vossos anciãos terão sonhos; e até mesmo sobre os meus escravos e sobre as minhas escravas derramarei naqueles dias do meu espírito, e eles profetizarão.” (Atos 2:17,18) Essa profecia dava conta de que Deus, por meio do espírito santo, iria se comunicar com os cristãos exatamente das mesmas maneiras como Ele havia feito durante os tempos pré-cristãos, diretamente, por meio de visões, sonhos e por meio de profetas. Mostra o registro bíblico que isso aconteceu? 

O livro de Atos está repleto de relatos que ilustram claramente o cumprimento da profecia de Joel. Ele mostra o envolvimento bem ativo e pessoal de Cristo, do espírito santo, de anjos, visões e sonhos na obra da primitiva igreja cristã, inclusive a conversão de pessoas, a expansão da congregação, seleção e envio de apóstolos e missionários, a manutenção da congregação livre da corrupção ocasionada pela falsidade, encorajamento e assistência aos cristãos durante aflições e provas, e também o registro e a preservação de todas as informações essenciais que os cristãos precisariam nos séculos vindouros, isto é, as Escrituras Cristãs. Não houve qualquer parte essencial do Cristianismo na qual Jesus não tenha se envolvido pessoalmente, ou dirigido por meio do espírito santo. 

Considere o caso de Filipe e o etíope. Felipe estava pregando em Samaria quando um anjo o enviou à estrada de Jerusalém a Gaza. No caminho ele encontrou um eunuco etíope. O espírito enviou Filipe até a carruagem do eunuco. Depois de Filipe ter batizado o etíope, o espírito de Deus levou Filipe embora. – Atos 8:36,39,40. 5Tem sido sugerido que os superintendentes eram “designados” pelo espírito santo no sentido de que homens que estavam familiarizados com as qualificações bíblicas para os superintendentes designavam outros homens que preenchiam essas qualificações. Esta é uma explicação razoável, e respeitados comentaristas sugerem que os superintendentes em Éfeso foram designados por alguns representantes da igreja. Mas a própria Bíblia não declara que Paulo ou alguma outra pessoa tenha designado esses superintendentes em alguma ocasião. As cartas de Paulo a Timóteo e a Tito que continham essas qualificações ainda não tinham sido escritas. A Bíblia diz que os superintendentes efésios foram designados pelo espírito santo. (Atos 20:28) Assim, é provável que o espírito santo designou diretamente esses homens para a posição de superintendentes. Se foi assim, é também possível que foi por observar estes homens designados diretamente pelo espírito santo que Paulo foi inspirado a registrar as qualificações para esta função, para beneficiar diretamente Timóteo e Tito.

Considere também o caso de Cornélio, um homem devoto e temente a Deus. Ele teve uma visão de um anjo de Deus, que lhe disse para enviar homens a Jope para buscar Pedro. Nesse ínterim, Pedro, que estava orando no terraço, caiu em transe e uma voz lhe disse que coisas anteriormente consideradas impuras agora eram puras. O espírito contou a ele a respeito dos homens enviados por Cornélio. Pedro foi até a casa de Cornélio, onde proclamou o Evangelho a um grande grupo de pessoas, e elas se tornaram cristãs. – Atos 10:1-46. 

O próprio Jesus apareceu a Saulo para efetuar a conversão dele. (Atos 9:3-6, 15) Saulo (Paulo), sob a influência do espírito santo, tornou-se destacado entre os apóstolos por levar a mensagem cristã aos não-judeus. Ele fundou muitas congregações. Quem o autorizou a fazer isso? Teria sido a congregação de Jerusalém ou a congregação de Antioquia da qual ele saía para suas viagens missionárias? Não. Saulo e Barnabé foram comissionados e saíram como missionários sob a orientação específica do espírito santo. – Atos 13:1-4.

O registro mostra que as pessoas a quem Paulo pregava eram orientadas a se dirigir ao próprio Cristo em busca de orientação em vez de recorrer a um grupo de anciãos em Jerusalém ou em qualquer outro lugar. Quando Paulo falou a um carcereiro em Filipos, ele simplesmente começou a falar a palavra de Deus ao homem e a “todos na casa daquele” logo depois de sua milagrosa libertação, em algum momento depois da meia-noite. Antes do amanhecer, o carcereiro e toda a sua família (incluindo os filhos e possivelmente até os servos) foram batizados. Foi a atenção deles dirigida para uma congregação local, para que completassem seu “treinamento”? Não, porque não havia qualquer congregação ali, só outra pessoa recém convertida, uma mulher chamada Lídia. – Atos 16:30-34.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados, mas a mensagem é clara. O próprio Jesus Cristo e o espírito santo, em vez de qualquer homem ou grupo de homens, foram os que desempenharam o papel mais ativo na liderança dos primitivos cristãos. O espírito orientou Paulo e seus companheiros durante suas viagens missionárias (Atos 16:6-10; Atos 18:9-11; Atos 20:22,23; Atos 21:4), salvou-os dos perigos, inspirou-os a escrever cartas às congregações que haviam sido fundadas pelo esforço deles, e designou superintendentes. – Atos 20:28,32,33.[4]

Assim como aos israelitas foi especificada uma maneira de identificar claramente verdadeiros e falsos profetas e profecias, assim é no caso dos cristãos. Depois de descrever detalhadamente o tipo de conduta que seus seguidores teriam, Jesus disse que “esses homens” (os falsos profetas) poderiam ser reconhecidos pelos seus “frutos”, não como organização, e sim como indivíduos. (Mateus 7:15-20). Mais tarde, o apóstolo João disse que as “expressões inspiradas” (“espíritos”, NVI) deveriam ser provadas: “Toda expressão inspirada que confessa a Jesus Cristo como tendo vindo na carne origina-se de Deus, mas toda expressão inspirada que não confessa a Jesus não se origina de Deus. Além disso, esta é a expressão do anticristo que ouvistes que virá e agora já está no mundo.” (1 João 4:1-3) João não focalizou sua atenção nas doutrinas, no comportamento do profeta ou na fonte da profecia como critérios para julgar as mensagens que supostamente vinham de Deus. Em vez disso, a profecia é julgada por aquilo que ela enfoca. Se o foco da profecia é em Cristo e em suas obras de redenção, ela vem de Deus. Se não, o espírito da profecia é proveniente do anticristo. (Compare com Apocalipse 19:10.)

Deus Trabalha Por Meio de Indivíduos e Por Meio Duma Organização?

Em vista da sobrepujante evidência de que ao longo da história Deus sempre comunicou sua vontade por meio de indivíduos, alguém poderia perguntar: Será possível que Deus se relacione conosco tanto individualmente como por meio duma organização, transmitindo-nos certas coisas por meio da Bíblia e outras por meio de instruções organizacionais? Esta ideia se baseia na premissa de que uma organização pode agir como se fosse uma pessoa. Uma organização não é uma entidade à parte, com capacidade de pensamentos, sentimentos e opiniões independentes. 

Quando as pessoas desejam canalizar seus esforços para efetuar alguma tarefa ou atingir algum objetivo, ou simplesmente desejam desfrutar duma associação, elas podem se juntar numa organização, com algum grau de união forte ou fraca. Elas podem designar um ou mais líderes ou porta-vozes para o grupo, e designar tarefas a vários membros. Os membros do grupo podem formar uma corporação legal para conduzir o empreendimento. Eles podem também chegar a um acordo sobre regras de conduta e procedimentos operacionais, a serem seguidos para se atingir os objetivos da organização. Porém, embora seja comum falar que uma organização realiza alguma coisa, isso é simplesmente uma figura de linguagem. Nenhuma atividade que seja atribuída a uma organização pode ser feita independentemente dos indivíduos envolvidos, estejam estes atuando em separado ou em conjunto. Todo pensamento ou ação provém de indivíduos

À parte dos membros, uma organização se torna absolutamente, incapaz de gerar, transmitir ou executar idéias. Isso quer dizer que qualquer informação que venha “da organização”, está na realidade vindo de uma ou mais pessoas. Isso explica por que às vezes é tão difícil para algumas Testemunhas de Jeová sinceras determinarem qual é, realmente, o “conceito da organização” sobre certos assuntos, uma vez que as orientações escritas ou verbais podem ser contraditórias. Isso ocorre porque essas orientações refletem os diferentes conceitos das diferentes pessoas que originaram as informações. 

Uma organização não tem conceitos próprios, opinião, memória, consciência, amor ou ódio. Ela não pode agir de maneira certa ou errada. Uma organização não pode, de forma alguma, fazer coisas por sua própria vontade. Só pessoas podem fazer isso. A verdade básica sobre a natureza das organizações torna claro que é só numa base pessoal que um indivíduo pode ter uma relação com Deus, ou com qualquer outra pessoa. 

Depois da Segunda Guerra Mundial, o partido nazista nunca foi julgado por seus crimes de guerra. Mas as pessoas que estavam associadas com ele foram. Uma organização não pode cometer crimes e nem ser punida por esses crimes. Não se pode atribuir qualquer culpa a ela. Mas isso pode ser atribuído a pessoas. É por isso que Jesus, ao falar sobre sua vinda em glória, disse que “separará uns dos outros assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.” Ao prosseguir falando, ele mostrou que pronunciará seu julgamento com base no comportamento da pessoa e não com base na lealdade dessa pessoa a uma organização ou estrutura de crenças. (Mateus 25:31-46). 

Isso não está sendo dito para argumentar que as organizações estão erradas ou que são más em si mesmas. Mas é preciso que entendamos o que as organizações realmente são e o que elas não são. 

Será que Deus Precisa de Uma Organização?

A palavra traduzida nas línguas modernas como “organização” vem da palavra grega organon que significa um implemento, instrumento ou ferramenta. Assim, por definição, uma organização significa mais do que apenas um grupo de pessoas. Assim como as ferramentas ou instrumentos, as organizações são criadas para cumprir algum propósito ou influenciar algum grupo que esteja fora da própria organização. O termo está mais freqüentemente ligado aos negócios, à atividade política e aos movimentos trabalhistas, sendo que todos estes derivam seu poder dos recursos coletivos de muitos indivíduos e usam essa força para atingir algum propósito que seria impossível de ser conseguido por uma única pessoa. 

Uma concordância bíblica mostrará que a palavra organon nunca aparece na Bíblia, e nem o conceito de indivíduos agindo como um instrumento coletivo. As palavras hebraicas traduzidas por “ferramenta” ou “implemento” são literais, e esses termos nunca são aplicados nas Escrituras a um grupo de adoradores aprovados por Deus. A Bíblia fala dos cristãos como uma “congregação”, “igreja” ou “corpo”, cuja razão de existir está dentro do próprio corpo. Embora eles possam influenciar pessoas que estão fora do corpo, os verdadeiros cristãos vivem somente por causa de Jesus Cristo e em função dele, que é a cabeça do corpo. O relacionamento intensamente pessoal entre cada crente e Jesus, o líder, é enfatizado vez após vez nas Escrituras Gregas Cristãs. 

Em contraste com as referências bíblicas a um corpo de crentes, o conceito de uma “organização visível” que Deus usa como se fosse uma ferramenta ou instrumento para pregar, anunciar os julgamentos e outras obras é fortemente enfatizado nas publicações da Torre de Vigia. Nesse contexto está sempre incluída uma característica encontrada no mundo dos negócios, na política e nas organizações trabalhistas: um pequeno grupo de líderes autorizados a dar orientação e tomar decisões em nome dos outros membros do grupo, dos quais se espera que obedeçam sem se queixar ou questionar. E como é também o caso no mundo dos negócios, na política e nos sindicatos, a lealdade à organização torna-se um conceito fundamental. Num ambiente assim, a consciência pessoal e o julgamento individual devem tornar-se menos importantes do que a obediência ou “unidade” (na verdade, uniformidade), pois, a menos que seus líderes sejam obedecidos, a organização não tem poder algum. 

Isso significa que a única autoridade que uma organização tem está nas mentes das pessoas que obedecem às regras e regulamentos organizacionais. (Compare com Romanos 6:16; 2 Pedro 2:19) A obediência às diretrizes estabelecidas pelos representantes de uma organização pode ser entendida como sendo obediência à organização. Mas não é este o caso. Trata-se simplesmente da obediência à vontade dos indivíduos que elaboraram as diretrizes. Uma organização não tem vontade própria. As organizações não são personalidades ou entidades com desejo, intelecto ou capacidade independentes. É fácil perdermos de vista esse simples fato quando somos confrontados com a evidência de enormes consecuções que são possíveis quando as pessoas canalizam seus recursos e esforços. Entretanto, prédios enormes e quaisquer outras consecuções materiais não impressionam a Deus e nem necessariamente indicam seu favor e sua bênção. – Gênesis 11:6. 

Não deveríamos nos deixar intimidar ou ser enganados quando os líderes de uma organização religiosa apontam para as marcas visíveis de “sucesso” como um sinal de que Deus os abençoa ou esteja apoiando seu trabalho. Os recursos e as habilidades de Deus são absolutamente ilimitados. Ele não tem qualquer necessidade de edifícios, parques gráficos, dinheiro ou qualquer tipo de estrutura organizacional para multiplicar seus recursos, como se existissem coisas que Ele mesmo não é capaz de realizar. 

Deus não tem nenhuma das limitações típicas das organizações. Por exemplo, as regras e regulamentos organizacionais que possam parecer as melhores para se governar a conduta das pessoas como grupo podem ser injustas para pessoas que estão dentro do grupo. Deus, por outro lado, pode dar atenção personalizada a cada um. Podemos confiar em que nosso Pai celestial conhece nossas necessidades individuais e nos proverá tais necessidades da melhor maneira possível. – Mateus 6:31-33; 1 João 5:13-15, 20.

“Vinde a Mim”

Nos séculos que se seguiram após a morte dos apóstolos, muitas organizações religiosas foram formadas, geralmente com as mais sinceras das intenções, tais como prover associação, o livramento da perseguição e proteger os crentes contra falsos ensinos. Porém, com o passar do tempo, os fundadores originais morrem e o grupo vai aumentando de tamanho. Mais cedo ou mais tarde, alguns membros ativos e influentes da organização podem perder de vista o propósito original que levou à formação da associação ou organização. Devido à falta de fé na capacidade de Jesus de suprir as necessidades de seus discípulos, ou talvez movidos por um senso de responsabilidade, ou por oportunidades de lucro financeiro, poder ou prestígio, eles passam a se utilizar indevidamente dos grandiosos objetivos declarados pela organização, e começam a manobrar as coisas de forma a exercer cada vez mais controle sobre outras pessoas. As terríveis conseqüências que por fim resultam da continuidade desse processo estão escritas com sangue e lágrimas nas páginas da história. Os líderes dessas organizações podem alegar que são representantes de Cristo e insistir que têm autoridade para falar em nome dele. Por declararem que detêm o direito exclusivo de interpretar a Bíblia, expulsam qualquer pessoa que discorde de suas interpretações. Substituem as palavras simples da Bíblia por seus próprios conceitos e aumentam o rol de membros de suas igrejas por meios humanos, tais como promessas de segurança dentro da organização ou liderança espiritual confiável. Eles conseguem manter os membros cativos por meio de chantagem, coerção ou ameaças; ditam regras e regulamentos aos seus membros, exigem lealdade e apoio financeiro, além de intimidarem pessoas sinceras com a tirania da autoridade.

Todas estas ações trazem a maior desonra para Jesus Cristo. Depois de descrever longamente o tipo de conduta que seus verdadeiros seguidores teriam, Jesus advertiu: “Cuidado com os falsos profetas que vem a vós em pele de ovelha, ao passo que por dentro são lobos.” Ele disse que “tais homens” poderiam ser reconhecidos pela sua conduta ou pelos seus “frutos”, não como uma organização, mas como indivíduos. (Mateus 7:15-20) É por isso que o crescimento organizacional, em si mesmo, não mostra as bênçãos ou a aprovação de Deus, pois Jesus disse que “muitos falsos profetas surgirão e desencaminharão a muitos.” – Mateus 24:11.

As organizações não são, em si mesmas, erradas. Elas provêem um meio de canalizar e usar recursos tais como tempo, energia ou dinheiro. No entanto, os líderes de qualquer organização religiosa podem se corromper, e usar estes recursos para objetivos diferentes de honrar a Cristo e sua obra de redenção. Se isso ocorrer, os indivíduos dentro de uma organização que decidirem seguir sua consciência, em vez de seguir a liderança da organização, poderão ter sérios problemas com os líderes ou com outros membros da organização. Nesse caso, os líderes podem fazer ameaças e taxá-los como “perigosos” para os outros membros, e até mesmo expulsá-los.

Isso não é nenhuma novidade. Se os membros duma organização religiosa odeiam ou chamam tais pessoas de “apóstatas” pelo fato de elas terem, conscienciosamente, preferido seguir a Deus e ao seu Filho, em vez de aos líderes da organização e, em resultado disso, passam a excluí-las de sua associação, esses excluídos podem se lembrar das palavras reconfortantes de Jesus: “Felizes sois quando homens vos odiarem, quando vos excluírem e vos insultarem e rejeitarem vosso nome como mau por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos naquele dia e pulai de júbilo porque vossa recompensa nos céus é grande.” – Lucas 6:22,23, NVI, compare com 3 João 9,10.

Pedro declarou: “Deus não é parcial, mas em cada nação o homem que o teme e pratica obras justas é aceitável a Ele.” (Atos 10:34,35) Paulo acrescentou: “[Deus] não está distante de cada um de nós.” (Atos 17:26,27) Nosso serviço a Deus pode ser efetuado em qualquer lugar, a qualquer tempo e deve ser feito em base pessoal, porque Deus comprou cada um de nós, como indivíduos, com o sangue de seu Filho. Ele deseja que cada um de nós se arrependa dos pecados, que aceite o perdão e que se achegue pessoalmente a Jesus. “Vinde a mim”, disse Jesus, “… e eu vos aliviarei.” – Mateus 11:28.

Para Onde Iremos Agora?

A Bíblia relata que Deus se comunicou com a humanidade por meio dos profetas nos tempos pré-cristãos e por meio de seu Filho na Era Cristã. Não há, em qualquer lugar da Bíblia, a menor evidência sugerindo que Deus tenha alguma vez estabelecido ou trabalhado por meio dum pequeno grupo de servos na condição de representantes especiais que agiam regularmente como administradores dele, e revelavam regularmente mensagens de Deus ou sua expressa vontade ao restante de seu povo fiel. É por isso que não há um único incentivo na Bíblia para que os servos de Deus se identifiquem, ou demonstrem lealdade, fidelidade e obediência a alguma organização.

Não podemos transferir para outra pessoa nossa responsabilidade pessoal diante de Deus. Como vimos, uma organização não pode ser responsabilizada por nada. Paulo disse: “Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.” (Romanos 14:12, NVI) No dia em que tivermos de prestar contas a Deus pelo que fizemos, um registro de lealdade a uma organização não poderá jamais substituir um excelente registro de fé em Deus e na resultante conduta cristã para com outros, especialmente para com os seguidores de Jesus.

As conclusões apresentadas neste folheto, se aceitas, podem gerar um problema para as pessoas que talvez estejam considerando se devem continuar a se associar com a organização da Torre de Vigia. Se decidirem sair, poderão se perguntar para onde podem ir. Mesmo que discordem seriamente de certas doutrinas da Torre de Vigia, talvez ainda assim pensem em continuar dentro da organização, visto que as conseqüências de deixar a organização, principalmente por causa de divergências doutrinais, quase certamente trará a rejeição dos amigos e de membros da família, além de difamação e tagarelice. Sofrer esse abuso pode ser um alto preço a pagar, se a pessoa simplesmente for se associar com outra igreja que talvez tenha certas doutrinas corretas, mas não ensina “toda a verdade”. Deixar uma organização na qual se acreditava como sendo a melhor fonte de orientação espiritual do mundo, só para se juntar a outra com esse mesmo objetivo pode não ser um procedimento sábio. Na verdade, essa não é nem a única nem a melhor alternativa. A decisão não deveria, de modo algum, girar em torno da escolha de uma das muitas organizações existentes. Por que não?

No conceito da Torre de Vigia, a “verdade” consiste de “ensinos corretos”, “explicações exatas”, ou interpretações que podem ser apoiadas ou “provadas” pelo raciocínio humano. As publicações da Torre de Vigia dizem que a verdadeira religião tem de ensinar toda a verdade, e que se apenas um ensino for incorreto, o inteiro conjunto de ensinos é suspeito. Isso está de acordo com os objetivos organizacionais, pois a uniformidade de pensamento entre seus membros torna muito mais fácil o controle organizacional. As publicações da Torre de Vigia usam referências bíblicas como apoio, da mesma maneira que um cientista ou um matemático defende teorias sobre o funcionamento do universo físico por raciocinar com base em fatos e procedimentos físicos estabelecidos ou axiomas matemáticos.

Este tipo de abordagem não pode ser usado para se conhecer a Deus. Paulo advertiu contra esse tipo de conhecimento: “O conhecimento enfuna, mas o amor edifica. Se alguém pensa que tem adquirido conhecimento de algo, ele ainda não [o] conhece como devia conhecer. Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido por ele.” (1 Coríntios 8:1-3) Paulo torna claro que amar a Deus é muito mais importante do que aquilo que você sabe sobre os fatos ou sobre as passagens bíblicas. Nenhuma pessoa ou grupo de pessoas, e, sendo assim, nenhuma organização, igreja ou grupo religioso sabe tudo sobre Deus ou seus caminhos. De modo que ninguém pode encontrar a “verdade que conduz à vida eterna” procurando a explicação “correta” de passagens bíblicas ou “provando” conceitos doutrinais. A “verdade”, no sentido bíblico, não é encontrada nesse ponto. (Compare com João 5:39)

Jesus disse: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6) Portanto, conhecer a “verdade” no sentido bíblico deve começar por se formar uma relação com o Filho de Deus, Jesus Cristo, simplesmente aceitando-o como Salvador, Mediador, Senhor e Rei e convidando-o a fazer parte de sua vida e influenciá-la. (1 Coríntios 3:11; Revelação 3:20) Quando muitos dos discípulos de Jesus o deixaram por não terem entendido alguns de seus ensinos, ele perguntou aos doze: “Será que vós também quereis ir?” Pedro respondeu: “Senhor, para quem iríamos? Tu tens declarações de vida eterna e acreditamos e viemos a saber que tu és o Santo de Deus.” (João 6:68) Os apóstolos de Jesus não estavam prestes a abandoná-lo para ir a algum lugar em busca da “verdade”. A resposta de Pedro à pergunta de Jesus mostra que ele entendia que a questão não era para onde ir, e sim em quem confiar. Os apóstolos sabiam que eles não poderiam confiar em nenhuma outra pessoa ou grupo de pessoas para receberem ensinos que os conduziriam à vida eterna.

O apóstolo João assegura que nos foi dado “entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (1 João 5:20, NVI)

João continuou: “Filhinhos, guardem-se dos ídolos.” (versículo 21) Por que esse aviso? Porque é muito fácil seguir outras pessoas ou sistemas religiosos em vez de seguir a Jesus Cristo. As publicações da Torre de Vigia fazem referência à organização nos mesmos termos que a Bíblia usa para se referir a Jesus Cristo. As Testemunhas dizem que estão “na verdade” querendo dizer que estão “na organização”. A organização é apresentada como sendo aquela que administra “todos os interesses do Rei” na terra, coisas que Jesus disse que ele próprio iria administrar. Atribuir a uma organização essa capacidade de ser um canal da mensagem, direção e bênçãos de Deus, além de ser a única fonte de ensino puro, liderança aprovada e proteção contra os inimigos, significa nada menos do que idolatria. (Compare isso com Êxodo 32:4.) E as pessoas que dirigem a atenção dos outros para uma organização em vez de para Jesus Cristo são claramente falsos profetas.

Não seja desencaminhado pelas alegações autoritárias de qualquer homem ou grupo de homens. Siga apenas a Jesus Cristo. Ele é quem tem “toda a autoridade no céu e na terra.” (Mateus 28:18) Com base nesse firme fundamento, procure a associação com outros cristãos. Jesus está governando como Rei. Ele tem seguidores fiéis em toda a terra, e certamente o ajudará a encontrá-los, se você os procurar sinceramente. Não espere que eles vejam todos os assuntos da mesma maneira que você vê. Os cristãos se desenvolvem espiritualmente ao longo da vida. E a conduta é um indicador muito mais confiável de ser um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. (1 João 3:18) Associar-se com outros cristãos resultará em bênçãos, tanto para você como para eles. A fraternidade cristã é o corpo de Cristo, e nenhum cristão deseja perder a plena alegria de ser uma parte ativa deste corpo, aprendendo a ser cada vez mais semelhante a Cristo em palavra e ação. Que Deus o abençoe em seus esforços de seguir o Cordeiro “para onde quer que ele vá.”! (Apocalipse 14:4, NVI)

Thomas W. Cabeen.

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