Devem os Cristãos Dar o Dízimo?

O Testamento Cristão faz poucas referências ao dízimo. Nos relatos evangélicos isto é feito num momento em que a Lei de Moisés, que exigia o dízimo, ainda estava em vigor. Todas as outras referências estão na carta aos Hebreus. Elas falam tanto no dízimo que existia sob a Lei como no dízimo que foi dado por Abraão. O Testamento Cristão nunca ordena explicitamente que o cristão pague o dízimo. É bíblica a ideia de que os cristãos devem dar o dízimo?

O argumento apresentado por alguns é que o dízimo já existia antes da Lei Mosaica e, portanto, ainda é obrigatório para os cristãos. O livro de Hebreus diz que Abraão, depois de derrotar os reis invasores, deu a Melquisedeque “os dízimos dos despojos” da batalha. Em referência a qualquer outro valor ou a qualquer outra ocasião, a Bíblia nunca diz que Abraão tenha pago dízimos. O neto de Abraão, Jacó praticou o dízimo. Ele fez isso devido a um voto pessoal, não por causa de um mandamento de Deus. Fora isso, as Escrituras Hebraicas não fazem qualquer menção ao dízimo até o momento em que ele foi ordenado sob a Lei de Moisés. — Hebreus 7:4; Gênesis 28:20-22.

Ainda que se tivesse ordenado que Abraão ou Jacó dessem dízimos, e isso fosse realmente um mandamento anterior à Lei Mosaica, esta norma não seria automaticamente vinculativa para os cristãos. A Noé se ordenou que não comesse sangue, e a Abraão foi ordenado que praticasse a circuncisão. Ambas as instruções foram dadas antes da Lei Mosaica; ainda assim, em Atos  capítulo 15, uma delas está incluída especificamente como sendo obrigatória para os cristãos, e a outra não. A única conclusão bíblica é que o dízimo não era uma das “coisas necessárias” que o Espírito Santo e os apóstolos acharam por bem colocar sobre os crentes gentios. — Gênesis 9:3, 4; 17:9-14, Atos 15:28, 29.

O livro de Atos relata que “todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” (Atos 4:34, 35)

Significa isso, então, que os cristãos devem dar a totalidade dos seus rendimentos para a assembleia de crentes? Não parece que essa prática tenha sido seguida fora da Palestina, talvez nem mesmo fora da área de Jerusalém. Seja qual for o caso, isso era um costume, não um mandamento. O capítulo 5 de Atos relata que Ananias morreu depois de reter dinheiro dos apóstolos. Morreu ele pelo fato de ‘roubar dinheiro de Deus’? Observemos as palavras de Pedro: 

“Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (Atos 5:1-6)

Pedro não o acusou de roubar, e sim de mentir.

Com referência ao dinheiro que estava coletando para uma missão de ajuda, Paulo escreveu: 

“Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.” (NVI)

Paulo até faz referência aos sacerdotes e ao serviço no templo nos termos da Lei, ao explicar que “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”, mas Paulo não disse aos cristãos que pagassem o dízimo. Em que oportunidade melhor do que essa Paulo poderia ter dado essa instrução? — 2 Coríntios 9:6-8, 1 Coríntios 9:11-14

É correto que os cristãos doem dinheiro para a obra de Deus, e não se afirma aqui que dez por cento seja um valor além do que é razoável. Todavia, já que nenhum dos apóstolos mencionou o dízimo, nem há qualquer outra indicação de que os cristãos devam dar o dízimo, qualquer um que ensinar isso como norma obrigatória está indo além do que as Escrituras dizem e lançando um novo fundamento que não foi lançado no princípio. — Efésios 2:20.

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As citações da Bíblia são da versão ARC, a não ser que outra versão seja indicada.

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