Pode a Cronologia Persa Ser Revisada?

Análise crítica do livro A Cronologia Persa e a Duração do Exílio Babilônico dos Judeus (Oslo: Rolf Furuli, 2003)Análise dos capítulos 5 a 10 – Exame da “Resposta a Jonsson”

Introdução

O livro de Rolf Furuli A Cronologia Persa e a Duração do Exílio Babilônico dos Judeus foi publicado originalmente em 2003, como Volume I dos dois livros dele sobre a cronologia da antiguidade. Como mostra o título do livro, o esse primeiro volume trata de duas questões: (1) a cronologia persa, e (2) a duração do exílio judaico em Babilônia. A segunda questão é discutida nos quatro primeiros capítulos do livro, e uma análise destes capítulos por este autor foi publicada em 2003. Porém, uma análise da discussão que Furuli fez da primeira questão, a cronologia persa, foi publicada em outro lugar, a saber, na revista interdisciplinar britânica Cronologia & Catastrofismo (C&CR): “Pode a Cronologia Persa Ser Revisada? – Parte I” (C&CR 2006, págs. 25-40), e “Pode a Cronologia Persa Ser Revisada? – Parte II: O Reinado de Artaxerxes I” (C&CR 2007, págs. 38-57).

A razão básica de Rolf Furuli tentar revisar a cronologia persa é a exposição que a Torre de Vigia faz das “setenta semanas [de anos]”, ou 490 anos, de Daniel 9:24-27. Com base em Neemias 2:1 em diante, ela conta esse período de 490 anos do 20º ano de Artaxerxes I até 36 EC, a suposta data que em que expira a septuagésima “semana de anos”, no meio da qual o Messias seria “decepado” segundo Daniel 9:26, 27. Esta aplicação, porém, exige que o 20º ano de Artaxerxes I seja datado em 455 AEC, em vez de 445. Esta é uma ideia antiga que pode ser remontada até o famoso teólogo Denis Petau, mais conhecido como Dionísio Petávio, que a apresentou pela primeira vez numa obra publicada em 1627 (De Doctrina Temporum, Vol. 2).

A descoberta e interpretação dos muitos milhares de tabuinhas cuneiformes datadas no período persa tornaram esta aplicação insustentável. A evidência contra a teoria tem aumentado constantemente, desde que o estudo destas tabuinhas começou em meados do século 19. O peso esmagador da evidência contra a data 455 AEC disponível hoje trouxe problemas intransponíveis para a Torre de Vigia e seus apologistas. Como não existe evidência que fale em favor da data, a defesa que eles fazem da data tem se limitado a tentativas de enfraquecer a evidência contra ela.

Para recuar o 20º ano de Artaxerxes I de 445 para 455 AEC, foi necessário aumentar a duração do reinado dele de 41 para 51 anos. Isso empurra o primeiro ano de seu reinado de 464 para 474 AEC. Todas as datas anteriores são recuadas em 10 anos. O reinado de 21 anos de seu antecessor, Xerxes, por exemplo, é recuado de 485-465 para 495-475 AEC. Isso também mudaria a data da queda de Babilônia, 539 AEC, para 549 AEC. Mas, como a data de 539 AEC é indispensável para a cronologia da Torre de Vigia, a solução foi criar uma co-regência em algum momento depois de 539. A variação de Furuli da teoria da co-regência envolve uma solução em duas etapas. Furuli não só prolonga o reinado de Artaxerxes I para 51 anos (que, conforme já foi dito, recua o reinado de seu predecessor Xerxes em 10 anos), como também avança o reinado de Dario I (521-486 AEC), um ano à frente (para 520-485). Deste modo, Furuli cria uma co-regência de 11 anos entre Dario I e seu filho e sucessor Xerxes:

Governante Persa:Cronologia Tradicional:“Cronologia de Oslo”, de Furuli:
Dario I36 anos: 521 – 48636 anos: 520 – 485
Xerxes I21 anos: 485 – 465Em co-regência com Dario, 11 anos: 495 – 485+ como governante único, 10 anos: 484 – 475
Artaxerxes I41 anos: 464 – 42451 anos: 474 – 424

Que esses rearranjos cronológicos são insustentáveis foi demonstrado em minha análise de duas partes em C&CR mencionadas acima.

Numa tentativa de defender sua variação da cronologia da Torre de Vigia (a “Cronologia de Oslo”), Rolf Furuli escreveu uma resposta ao meu comentário, que foi publicada na edição de C&CR de 2009: “Estudos Sobre a Cronologia Persa – Uma Resposta a Jonsson” (págs. 30-39). Nesta resposta de 10 páginas, Furuli explica que “o espaço não permite” que ele “trate de todos os argumentos” que eu apresentei (pág. 38). Na verdade, ele evitou discutir a maioria das provas que apresentei e optou por se concentrar quase exclusivamente na tentativa de minar a força das tabuinhas astronômicas do período.

A abordagem que Furuli fez de minha análise de duas partes

Rolf Furuli iniciou sua “Resposta a Jonsson”, afirmando que “Jonsson baseia seus argumentos e conclusões em fontes secundárias, isto é, nas conclusões tiradas por diferentes eruditos que estudaram os documentos originais.” (Furuli, pág. 30) O que ele quis dizer com isso?

Furuli afirmou repetidamente que, em contraste com ele, eu não estudei as línguas antigas e sou, desta forma, obrigado a usar traduções das tabuinhas originais feitas por eminentes autoridades em escrita cuneiforme, acadiana, e tabuinhas astronômicas cuneiformes, autoridades tais como Abraham J. Sachs, Hermann Hunger, Christopher Walker, John Steele, e outros. Para Furuli isso é o mesmo que recorrer a “fontes secundárias”.

Todavia, em primeiro lugar, Rolf Furuli nada sabe sobre meus estudos e conhecimentos de línguas da antiguidade.

Em segundo lugar, o conhecimento que o próprio Furuli tem da escrita cuneiforme, acadiana, e da antiga astronomia babilônica está longe de ser suficiente, como tem sido demonstrado vez após vez, pelas análises críticas das obras e artigos que ele escreveu sobre o assunto até agora. As considerações dele foram expostas – e não só por mim como também por diversos outros eruditos – como repletas de erros graves, página após página.

Em terceiro lugar, todas as citações das tabuinhas cuneiformes astronômicas em sua “Resposta a Jonsson” de 10 páginas são citadas literalmente das traduções dos volumes ADT de Abraham Sachs e Hermann Hunger. (ADT = sigla em inglês para Diários Astronômicos de Babilônia e Textos Relacionados, Vols. I, II, III, V e VI). Assim, se Furuli considera essas traduções como “fontes secundárias”, então ele é tão dependente de “fontes secundárias” como alega que eu sou!

Em quarto lugar, se um erudito que é autoridade em linguagem cuneiforme e acadiana e que passou a maior parte de sua vida adulta estudando antigas tabuinhas astronômicas escritas nessa língua deve ser considerado como uma fonte secundária, o que devemos dizer sobre o próprio Rolf Furuli, que não é autoridade em cuneiforme e acadiano e nem em tabuinhas astronômicas babilônicas? Pode ele até mesmo ser considerado como uma fonte secundária? Como ele até agora não fez qualquer contribuição que tenha servido para aumentar nosso entendimento do idioma acadiano, nossa compreensão da astronomia babilônica, ou nossa compreensão das tabuinhas cuneiformes astronômicas, será que ele pode ser considerado como uma fonte útil de qualquer maneira?

E em quinto lugar, se temos questões sobre como certo trecho de uma tabuinha astronômica babilônica deve ser entendido e traduzido, a quem devemos recorrer? A uma eminente autoridade nesses textos, ou a Rolf Furuli, que não é perito nessas tabuinhas, e cuja agenda é bem conhecida da maioria de nós? A resposta é óbvia.

Quando a evidência é sobrepujante, um erudito tem todo o direito de tirar uma conclusão definitiva. Eu tive de fazer isso há uns 35 anos, quando, como uma das Testemunhas de Jeová, e depois de muita pesquisa e relutância, finalmente me senti obrigado a abrir minha mente para a enorme quantidade de evidência que eu ​​tinha encontrado contra a cronologia da Torre de Vigia e aceitar os fatos desagradáveis. Num artigo anterior em Cronologia & Catastrofismo, Furuli enfatiza quão importante é, principalmente para um erudito, adotar uma “abordagem equilibrada” e ter “mente aberta.” (“A Mente Aberta e a Cronologia Antiga”, Cronologia & Catastrofismo 2007, págs. 36, 37 em inglês) Mas, enfatizar isso no papel é uma coisa, ser um erudito assim é outra. É bem conhecido para muitos dos leitores dos escritos de Furuli que ele passou toda a sua vida adulta defendendo as alegações e dogmas duma organização religiosa baseados em cronologia. Por isso, parece bem descabido que em sua “Resposta a Jonsson” de 10 páginas ele se incline a usar argumentos ad hominem, descrevendo-me como “categórico”, “dogmático” e “sectário”. Só se ele começar a adotar uma “abordagem equilibrada” da cronologia da Torre de Vigia, admitindo e apontando abertamente suas deficiências e problemas graves, é que ele vai provar ser um erudito de mente aberta, não dogmático e não sectário. Até agora, contudo, ele nunca criticou abertamente a cronologia da Torre de Vigia, a pedra angular da alegação desta organização de ser “o único canal de Deus na terra.”

Análise crítica da “Resposta a Jonsson” escrita por Furuli

Minha análise em duas partes da consideração de Furuli sobre a cronologia persa abrange 36 páginas no total. Aproximadamente seis destas páginas (uns 17% da análise) são dedicadas à discussão das tabuinhas astronômicas que estabelecem a cronologia absoluta dos reinados de Dario I, Xerxes e Artaxerxes I. Eu usei quatro tabuinhas: 

(1) LBAT 1393 (traduzida como Nº. 54 em ADT V), datada no reinado de Dario I. 

(2) LBAT 1419 (Nº. 4 em ADT V), com um registro datado no 21º ano de Xerxes (465/464 AEC). 

(3) VAT 5047 (Nº. -453 em ADT I), datada no 11º ano de Artaxerxes I (454/453 AEC). 

(4) LBAT 1387+1388+1486 (Nº. 56 em ADT V), datada principalmente no reinado de Artaxerxes I.

Conforme já foi dito, em sua “Resposta a Jonsson” Furuli se concentra quase inteiramente nas tabuinhas cuneiformes astronômicas. Todavia, além das quatro tabuinhas que eu usei, Furuli considera também três outras tabuinhas astronômicas: 

(5) Strm Kambys 400 (Nº 55 em ADT V), datada no 7º ano de Cambises. 

(6) W 20030/142 (N° -463 em ADT I). O ano de reinado está faltando. 

(7) BM 33478 (N° -440 em ADT I). O ano de reinado está danificado.

Eu não usei nenhuma dessas três tabuinhas, pelas seguintes razões:

• A primeira tabuinha (5), que é datada no 7º ano de Cambises (523/522 AEC), é uma das tabuinhas astronômicas mais problemáticas. Ela não é apenas uma cópia posterior. Conforme apontam os eruditos, ela contém uma mistura de observações, previsões e, talvez, cálculos retroativos adicionados posteriormente pelo copista. Além disso, ela também contém uma grande quantidade de erros e contradições. (Veja TGR4, págs. 99-101)

• Na segunda tabuinha (6), tanto o nome do rei quanto o ano de reinado estão faltando. Ainda que as observações astronômicas registradas nela possam ser datadas com segurança no ano 464 AEC, ela não estabelece esta data como o primeiro ano de Artaxerxes I (ou 11º, segundo Furuli). Ela é, portanto, inútil para fins cronológicos.

• Por fim, a terceira tabuinha (7) é datada para um rei chamado Artaxerxes. O ano de reinado está parcialmente danificado. Hunger datou-a provisoriamente no 24º ano de Artaxerxes I (441 AEC), mas ele admitiu que tanto a data como a identidade do rei são problemáticas. (ADT I, pág. 61) Os problemas foram resolvidos alguns anos depois por Johannes Koch, que demonstrou que a tabuinha pertenceu ao 23º ano de Artaxerxes II, 382/381 AEC. (Archiv für Orientforschung 1991/2, págs. 101-103) Esta conclusão foi depois, em 1993 e 1998, apoiada por R. J. van der Spek. (História Aquemênida XI, editado por M. Brosius & A. Kuhrt, 1998, pág. 240) De modo que a datação anterior da tabuinha para Artaxerxes I teve de ser abandonada. Como ela pertenceu a um período que eu não discuto em meu comentário de duas partes, eu não a usei.

Quase metade da consideração que Furuli fez das tabuinhas astronômicas é dedicada a essas três tabuinhas, apesar de sua má qualidade, e ele tenta usá-las em apoio de sua “Cronologia de Oslo.” (C&CR 2009, págs. 31-37) Em uma longa discussão da nº (7) acima (BM 33478 = Nº -440 em ADT I), por exemplo, ele argumenta que ela deve ser datada no 10º ano de Artaxerxes I, que ele data em 465/464 AEC. (C&CR 2009, págs. 34-37) Não há nada no texto que apóie isso. Além disso, Furuli parece não estar ciente de que Koch e van der Spek redataram a tabuinha. Uma análise reveladora da abordagem que Furuli faz sobre esta tabuinha foi escrita e disponibilizada na internet por Ann O’Maly. Este é o link para a tradução em português do artigo dela: Será que as posições astronômicas na tabuinha BM 33478 ajudam a provar que o 20º de Artaxerxes I foi 455 AEC?

Uma vez que nenhuma destas três tabuinhas, principalmente as duas últimas, pode ser usada para estabelecer a cronologia absoluta do período que discuti, eu não as usei. Se Furuli achou que elas servem como parte de sua “Resposta a Jonsson”, ele errou completamente o alvo, já que eu não vi razão para discutir qualquer uma delas.

Toda a consideração de Furuli sobre as quatro tabuinhas que usei é absolutamente enganosa. No que se refere a uma das tabuinhas que usei, a de número (3) acima (VAT 5047), datada no 11º ano de Artaxerxes, eu desafiei Furuli a encontrar um ano durante o período persa além de 454 AEC com posições que correspondam completamente ao padrão das posições lunares e planetárias registradas na tabuinha. (C&CR 2007, pág. 44) Furuli não aceitou o desafio. Em vez disso, ele tenta minar a qualidade das posições, alegando que das posições registradas na tabuinha “4 estão erradas e 2 estão corretas” e que a tabuinha, desta forma, “provavelmente contém cálculos retroativos” em vez de observações. (C&CR 2009, pág. 33) Todavia, um estudo aprofundado das posições com o auxílio de um programa de astronomia moderno prova que o problema não é a qualidade das posições, e sim a qualidade do exame que Furuli fez das posições. Pelo menos 5 dos 6 posições podem ser provadas como corretas, enquanto que a sexta é problemática. Como ela está registrada duas vezes, com leituras ligeiramente diferentes, em dois lugares diferentes da tabuinha (na coluna IV da linha 2 e na borda superior da linha 3), isso pode indicar um erro de escrita ou de cópia. De qualquer maneira, meu desafio continua de pé.

O tratamento que Furuli dá às outras três tabuinhas usadas por mim é da mesma qualidade pobre. A respeito da tabuinha Nº (1) acima (LBAT 1393) ele alega erroneamente que “11 posições estão erradas, 4 são possivelmente corretas, e 1 está correta.” Mais uma vez, isso indica, segundo ele, que “as muitas posições erradas nesta tabuinha sugerem realmente cálculos retroativos” em vez de observações. (C&CR 2009, pág. 32) Sobre a de Nº (2) acima (LBAT 1419), ele admite que o registro datado no último ano de Xerxes se encaixa perfeitamente com 465 AEC, mas argumenta erroneamente que também se encaixa perfeitamente com 475. (C&CR 2009, págs. 35, 36) e sobre a de Nº (4) (LBAT 1387+1388+1486) ele alega que, das 43 posições de Vênus relacionadas com um rei, 32 estão erradas, 5 corretas e 6 possivelmente corretas. Infelizmente, a conclusão de Furuli de que “74% de posições erradas dificilmente poderiam representar observações, e sim mais provavelmente cálculos retroativos, feitos com base num esquema que contêm erros” baseia-se na mesma qualidade de exame inadequado que caracteriza a abordagem que ele faz das outras tabuinhas.

Seria necessário fazer uma exposição muito longa e cansativa para apresentar as verificações astronômicas de todas as observações registradas nas quatro tabuinhas. O exame de apenas uma das quatro tabuinhas, como por exemplo a LBAT 1393 será suficiente para mostrar quão errôneas as afirmações de Furuli realmente são. Como até esta provavelmente será uma experiência bem cansativa para a maioria dos leitores, os resultados foram resumidos numa tabela no final da consideração.

A tabuinha cuneiforme astronômica LBAT 1393 (Nº 54 em ADT V)

A tabuinha astronômica LBAT 1393, transliterada e traduzida por Abraham Sachs e Hermann Hunger e publicada como Nº 54 em ADT V, págs. 158-165, registra observações do planeta Júpiter organizadas em ciclos de 12 anos. As observações foram feitas nos reinados de Ciro, Cambises e Dario I. A tabuinha foi considerada brevemente por mim nas páginas 28 e 29 de Cronologia & Catastrofismo (C&CR) de 2006, onde foi demonstrado que ela põe a perder a chamada “Cronologia de Oslo” de Rolf Furuli para o reinado de Dario I. Minha consideração sobre esta tabuinha é criticada por Rolf Furuli em C&CR 2009, página 32, onde ele afirma que a tabuinha registra “muitas posições erradas”, alegando que ele “descobriu que 11 posições estão erradas, 4 estão possivelmente corretas (15), e 1 está correta.” Ele não diz quais das 16 posições ele acha que estão erradas e por que, mas ele sugere que o motivo para as supostas posições astronômicas errôneas é que elas “mais provavelmente representam cálculos retroativos e não observações verdadeiras.”

Está correto isso? Um exame atento das observações demonstra que as alegações de Furuli são totalmente infundadas.

Registros que são inúteis para fins de datação

Alguns registros na tabuinha estão severamente danificados, e em todos, exceto um, os anos de reinado se perderam. Estes registros são, portanto, inúteis para fins de datação. Só uma breve descrição deles será necessária:

O anverso:

As colunas I’ e II’ do anverso estão quebradas e faltantes. A coluna III’ contém seis linhas com texto, mas grande parte do texto está danificado, e tanto o nome do rei como os anos de reinado se perderam. Embora as duas observações preservadas (uma que dá a posição de Júpiter, e a outra a data de seu último aparecimento) ajustem-se aos anos 512 e 511 AEC, elas não podem ser usadas ​​para provar que estes foram o 10º e 11º anos do reinado de Dario I.

A coluna IV’ contém quatro linhas com texto e o número de ano “23” é visível na linha 2′. Se isso se refere ao 23º ano de Dario I, corresponderia a 499 AEC na cronologia tradicional. Registros de duas observações, datadas nos meses III e VI, estão preservados nas linhas de 2′- 4′, mas como o texto está parcialmente danificado e difícil de interpretar, eu não os usei em minha discussão.

O reverso:

O texto na coluna I’ do reverso está perdido nas linhas 1′, 2′ e 9′. As seis linhas restantes estão parcialmente danificadas, mas as duas observações registradas podem ser datadas no ano 526 AEC. O primeiro registro na coluna II’ contém um texto parcialmente legível nas linhas 1′-3′ e 10′, com duas observações que podem ser datadas em 515 AEC. Porém, como o nome do rei e o ano de reinado estão faltando em ambos os registros, eu não usei nenhuma das quatro observações em minha consideração sobre a tabuinha.

Registros que são úteis para fins de datação

As partes restantes do reverso registram observações de Júpiter, datadas nos anos 8, 19, 20, 31 e 32 de um rei sem nome, que pode ser seguramente identificado como Dario I. Os detalhes fornecidos para as 13 observações não se ajustam a qualquer outro rei. Não se pode provar que qualquer destas observações está errada, de modo que a alegação de Furuli é comprovadamente falsa. Na matéria que segue, as 13 observações serão brevemente examinadas, uma por uma, com a ajuda de dois programas de astronomia modernos, SkyMap Pro 11.04 e PLSV (Visibilidade Planetária, Lunar e Estelar, em inglês), disponível gratuitamente na internet em Alcyone Software – http://www.alcyone.de/).

O segundo registro na coluna II’ do reverso (linhas 11′-17′) contém os números do ano, mês e dia. Como a maior parte do texto também está preservada, é possível conferir e datar as observações registradas:

Reverso, coluna II’, linhas 11′ – 12’a: 

“(Ano) 8… Mês III, … dia 4, último aparecimento em Gêmeos.”

Na cronologia tradicional, o 8º ano de Dario I começou na primavera de 514 AEC. O dia 4 do terceiro mês daquele ano corresponde a 28/29 de maio (noite a noite) no calendário juliano. O programa PLSV mostra que a última visibilidade de Júpiter nesse ano pôde ser observada em 29 de maio depois do pôr-do-sol, e o programa SkyMap confirma que Júpiter naquele momento estava em Gêmeos. Porém, a tabuinha mostra que o astrônomo babilônio observou o último aparecimento (em Gêmeos) na noite anterior, 28 de maio, após o pôr-do-sol. A diferença de um dia entre o cálculo moderno e a observação antiga não é problemática. Por uma série de razões – condições climáticas, incertezas no arcus visionis, variações na magnitude planetária, efeitos atmosféricos e outras circunstâncias da observação – as observações babilônicas da primeira e última visibilidade de um planeta poderiam muitas vezes diferir em um, dois ou mais dias em relação à visibilidade tecnicamente mais exata, estabelecida com o auxílio de métodos e cálculos modernos. (Veja Teije de Jong, “As Antigas Observações Babilônicas de Saturno: Considerações Astronômicas”, em J. M. Steele e Annette Imhausen (eds.), Sob Um Céu. Astronomia e Matemática no Oriente Próximo da Antiguidade, Münster: Ugarit-Verlag, 2002, pág. 177 em inglês.) Levando-se isso em consideração, a observação registrada na tabuinha está em excelente harmonia com os cálculos modernos.

Reverso, coluna II’, linhas 12’b-13′: 

[Ano 8 cont.] “Mês IV, … dia 3, primeiro aparecimento 5° em frente de Câncer.”

O dia 3 do quarto mês de 514 AEC corresponde a 26/27 de junho no calendário juliano. Segundo o programa PLSV a primeira visibilidade de Júpiter neste ano poderia ser vista antes do nascer do sol de 27 de junho, conforme indicado na tabuinha. Naquele momento Júpiter estava “em frente”, isto é, a oeste da constelação de Câncer. Não está claro a qual distância os 5° se referem. Nenhuma estrela específica é mencionada, e a referência a uma constelação inteira é muito geral. Os limites das constelações de Babilônia naquela época não eram idênticos aos reconhecidos hoje. Furuli assinala corretamente que “hoje é difícil saber o que então se pensava ser o fim exato ou a frente de uma constelação.” (C&CR 2009, pág. 32) O programa SkyMap mostra que Júpiter naquela época estava aproximadamente 18,5° “em frente do” centro de Câncer. Além disso, Júpiter estava muito mais próximo da constelação de Gêmeos do que de Câncer, e teria sido mais natural para os eruditos babilônicos, portanto, darem a distância até a brilhante estrela β Gêmeos, a cerca de 7°, segundo os cálculos modernos. É possível que a posição de Júpiter tenha sido calculada nesta ocasião, em vez de observada, talvez devido ao mau tempo. Isso explicaria por que toda uma constelação é usada como referência, em vez de uma estrela específica. É também interessante notar que os eruditos de Babilônia, quando dividiram o zodíaco em 12 signos de 30° cada, começaram o signo zodiacal de Câncer com β Gêmeos! (Hermann Hunger e David Pingree, Ciências Astrais na Mesopotâmia, Brill, Leiden-Boston-Köln, 1999, pág. 150 em inglês) Não é muito provável, porém, que essa divisão havia sido feita já no final do 6º século AEC. Devido às incertezas mencionadas acima, não se pode afirmar que a posição indicada na tabuinha está errada.

Reverso, coluna II’, linhas 16′ e 17′: 

[Ano 8 cont.] “Mês VIII,… dia sete, ele ficou parado em […]”.

A data – Ano 8, mês VIII, dia 7 – corresponde a 25/26 de outubro de 514 AEC. O nome da constelação no final está perdido, mas Câncer é a única alternativa para esta data. O programa SkyMap mostra que Júpiter ficou parado em Câncer por volta de 25/26 de outubro e, em seguida, começou novamente a voltar para oeste.

Reverso, coluna III’ linha 5′:

O registro nas primeiras quatro linhas da coluna III’ está danificado e está faltando o ano de reinado, por isso, mesmo que fosse possível datar a observação, isso não seria de muita ajuda do ponto de vista cronológico. Os próximos registros nas linhas 5′ a 12′, porém, são datados no 19º ano e registram quatro observações datáveis. O primeiro é descrito na linha 5′: 

“(Ano) 19. Mês III, … dia 6, primeiro aparecimento atrás da Carruagem.”

O dia 6 do mês III, do 19º ano de Dario I corresponde a 29/30 de maio de 503 AEC no calendário juliano. “Carruagem” era o nome babilônico para a parte norte de Touro, à qual pertenciam, por exemplo, as estrelas β Touro e ζ Touro. (Hermann Hunger e David Pingree, Ciências Astrais na Mesopotâmia, Leiden-Boston-Köln: Brill, 1999, pág. 271 em inglês). Segundo o programa PLSV, o primeiro aparecimento de Júpiter pôde ser visto na parte da manhã antes do nascer do sol de 31 de maio de 503 AEC. Isto é um dia depois de ter sido observado pelo astrônomo babilônio. Sua observação anterior não é impossível, porém, já que o intervalo entre o aparecimento de Júpiter e o nascer do sol na manhã de 30 de maio foi de aproximadamente 46 minutos, que é quase o mesmo que na manhã de 31 de maio, quando foi de aproximadamente 47 minutos – só uma diferença de aproximadamente um minuto.

Como Carruagem, a parte norte de Touro, ascendeu acima do horizonte oriental antes de Júpiter, o observador babilônio concluiu que Júpiter estava atrás (= a leste) da Carruagem. β Touro, uma estrela brilhante na extremidade norte-oriental da Carruagem, por exemplo, surgiu às 06h44min, ou 22 minutos antes de Júpiter. Não se pode afirmar, portanto, que essa observação estava errada, porque Júpiter, se medido em relação à eclíptica, estava ao sul, em vez de ao leste de β Touro. Em relação ao horizonte, Júpiter foi definitivamente visto pelo observador babilônio como aparecendo atrás da Carruagem.

Reverso, coluna III”, linhas 7′ e 8′: 

[Ano 19 cont.] “Mês VI2,… dia 10, ele ficou parado atrás de γ Gêmeos; no dia x, ele se moveu de volta para o oeste.”

O dia 10 do mês VI2 (o segundo ululu) do 19º ano, corresponde a 28/29 de setembro de 503 AEC no calendário juliano. O programa SkyMap confirma que na manhã de 29 de setembro, antes do nascer do sol, Júpiter ficou parado na constelação de Gêmeos. Depois de alguns dias – o texto está um pouco danificado e o número do dia está ilegível (daí a expressão “dia x”) – ele pôde ser visto se movendo “de volta para o oeste”. O único problema é a posição atribuída a Júpiter aqui como estando atrás de γ Gêmeos. No ponto estacionário Júpiter estava quase exatamente ao norte desta estrela e apenas ligeiramente atrás dela – contanto que a eclíptica fosse usada como o eixo das coordenadas, o que parece ter sido a prática usual na maioria dos casos. Enfim, este é um pequeno problema já que o registro não é muito específico, não sendo dada qualquer distância até a estrela. Portanto, afirmar que a posição registrada na tabuinha está errada, certamente seria ir longe demais.

Reverso, coluna III’, linha 9′: 

[Ano 19 cont.] “Mês VIII … dia 9, nascimento acrônico.”

Nascimento acrônico refere-se à situação em que um corpo celeste surge no leste, no momento em que o sol se põe no oeste. Isso aconteceu com Júpiter no dia 9 do oitavo mês do ano 19, segundo nossa tabuinha. A data indicada corresponde a 25/26 de novembro de 503 AEC no calendário juliano. O programa SkyMap mostra que ao pôr do sol às 19:59 de 25 de novembro, Júpiter tinha apenas começado a surgir no leste, às 19:57. A observação registrada é, portanto, confirmada pelos cálculos modernos.

Reverso, coluna III’, linhas 11′, 12′: 

[Ano 19 cont.] “Mês X, … dia 12 ou 13, ele ficou parado… a Carruagem.”

O dia 12 ou 13 do mês X do ano 19 corresponde a 25/26 ou 26/27 de janeiro do ano 502 AEC. A observação é confirmada pelo programa de astronomia. Júpiter, que tinha se aproximado da parte norte de Touro (= Carruagem) vindo do leste, tinha atingido seu ponto estacionário atrás de Touro por volta de 25-27 de janeiro de 502 AEC. Poucos dias depois ele começou a se mover lentamente para leste outra vez.

Reverso, coluna III’, linhas 13′-16′: 

“(Ano) 20… Mês III, dia 20, […] primeiro aparecimento […] a estrela brilhante de Gêmeos (β Gem), ele (Júpiter) estava brilhante.”

A data – dia 20, mês III do ano 20 – corresponde a 1/2 de julho de 502 AEC. O programa PLSV confirma que a primeira visibilidade de Júpiter ocorreu na manhã do dia 1º de julho, antes do nascer do sol. Por alguma razão – mau tempo, talvez – o astrônomo babilônio não o viu até a manhã seguinte, 2 de julho. Conforme já foi mencionado, o desvio de um, dois, ou poucos dias a mais é uma diferença totalmente aceitável entre os cálculos modernos e as observações antigas. No momento da observação, Júpiter estava aproximadamente a 5,5° atrás (a sudeste, para ser mais preciso) de β Gêmeos. O fato de que Júpiter, nesse dia, surgiu tantos quantos aproximadamente 54 minutos antes do nascer do sol provavelmente explica por que foi dito que ele estava “brilhante” em seu surgimento. Além disso, também confirma que a observação foi real, já que ninguém teria como calcular retroativamente o ‘brilho’ de um planeta.

Reverso, coluna III’, linha 17′: 

[Ano 20 cont.] “Mês V, … dia 27, ele entrou no Presépio.”

A data (dia 27, mês V do ano 20) corresponde a 5/6 de setembro de 502 AEC. Presépio é um aglomerado estelar aberto entre γ Câncer e δ Câncer, e o programa de astronomia mostra que a posição de Júpiter estava quase exatamente entre estas duas estrelas na manhã de 6 de setembro, antes do nascer do sol.

As duas primeiras linhas de coluna IV’ do reverso estão danificadas. Os meses XI e XII são mencionados na linha 1. Há uma observação registrada na linha 2′ – “Dia 25, último aparecimento em Áries. […]” – mas, como falta o número do ano, ela não pode ser datada com alguma certeza e tem de ser ignorada.

Reverso, coluna IV’, linha 3′: 

“(Ano) 31. Mês II,… dia 25, primeiro aparecimento na Carruagem […]”

O 31º ano de Dario I começou na primavera de 491 AEC na cronologia tradicional. O mês II, dia 25, corresponde a 4/5 de junho. O programa PLSV mostra que a primeira visibilidade de Júpiter naquele ano ocorreu na manhã de 5 de junho, antes do nascer do sol, e o programa SkyMap mostra que Júpiter estava naquele momento na extremidade leste da Carruagem, a parte norte de Touro. Tanto a data do primeiro aparecimento de Júpiter como sua posição estão em completa harmonia com as registradas na tabuinha.

Reverso, coluna IV’, linhas 5′ e 6′: 

[Ano 31 cont.] “Mês VI,… dia 28, ele ficou parado em Gêmeos, ele se moveu de volta para o oeste.”

A data – mês VI, dia 28 – corresponde a 3/4 de outubro de 491 AEC. Conforme mostrado pelo programa de astronomia, na manhã do dia 4 de outubro Júpiter ficou parado em Gêmeos. Alguns dias depois ele podia ser visto se movendo de volta para o oeste outra vez, conforme indicado na tabuinha. Furuli não acredita que os astrônomos babilônios poderiam determinar o ponto estacionário quase no mesmo dia, porque “Júpiter se move lentamente (só cerca de 30° por ano em relação às estrelas).” (Furuli, pág. 32) Ele afirma que a tradução “ficou parado em Gêmeos” é “imprópria”, porque “Júpiter já estava em Gêmeos por mais de dois meses e ainda ficaria lá por outros dois meses.” (Furuli, pág. 38, nota 16) Indicar que os astrônomos babilônios acreditavam que Júpiter “ficou parado” por vários meses em Gêmeos é um erro grave. Eles observavam o seu movimento lento de maneira regular e atenta e eram capazes de determinar quase o dia em que ele parou e começou seu movimento retrógrado. A observação registrada na tabuinha é um exemplo disto. Furuli está simplesmente errado.

Reverso, coluna IV’, linhas 9′-11′: 

(Ano) 32,… Mês III, … no dia 10 ou 11, último aparecimento, 6 côvados atrás de Gêmeos.”

A data corresponde a 7/8 ou 8/9 de junho de 490 AEC. O programa PLSV confirma que a última visibilidade de Júpiter ocorreu durante a noite de 7 de junho depois do pôr-do-sol, o que está de acordo com a tabuinha. É verdade que Júpiter estava atrás (a leste) de Gêmeos em ambos os dias sugeridos, mas é difícil entender como a distância – 6 côvados (12°) – foi medida. Júpiter estava mais perto das estrelas mais próximas em Gêmeos (cerca de 2 côvados atrás de δ Gêmeos, por exemplo, e menos de 4 côvados atrás de λ Gêmeos). Mas, como não se menciona estrela alguma, só a constelação, a referência não é específica. Poderia ser simplesmente a distância até o centro da constelação de Gêmeos.

Reverso, coluna IV’, linhas 11′ e 12′:

[Ano 32 cont.] “Mês IV,… dia 9, [primeiro aparecimento] 5° na frente de […]”

Mês IV, dia 9 corresponde a 6/7 de julho de 490 AEC no calendário juliano. A restauração “[primeiro aparecimento]” é certa, já que o último aparecimento de Júpiter havia ocorrido no mês anterior (ver acima). O programa PLSV mostra que a primeira visibilidade de Júpiter em 490 AEC ocorreu na manhã de 5 de julho, antes do nascer do sol. Segundo a tabuinha, no entanto, o planeta só foi observado dois dias depois, na manhã do dia 7, antes do nascer do sol, quando ele pôde ser observado cerca de 5°-6° na frente de Câncer. Conforme já foi apontado, a diferença de dois dias não é problema. O mau tempo ou outras circunstâncias evidentemente impediram a observação do primeiro aparecimento durante dois dias. 

Observações de Júpiter e Cálculos Modernos – Tabela Resumida: 

Data de Dario ITabuinha LBAT 1393Cálculo ModernoConcordância
Ano 8, mês III, dia 4 = 28/29 de maio de 514 AEC“último aparecimento em Gêmeos”Último aparecimento em Gêmeos em 29 de maio depois do pôr-do-solSim
Ano 8, mês IV, dia 3 = 26/27 de junho de 514“primeiro aparecimento 5° na frente de Câncer”Primeiro aparecimento na frente de Câncer em 27 de junho antes do nascer do solSim, mas a distância não é específica
Ano 8, mês VIII, dia 7 = 25/26 de outubro de 514“ficou parado em […].”Júpiter ficou parado em Câncer em 25/26 de outubroSim
Ano 19, mês III, dia 6 = 29/30 de maio de 503“primeiro aparecimento atrás da Carruagem”Primeiro aparecimento atrás da Carruagem em 31 de maio antes do nascer do solSim
Ano 19, mês VI2, dia 10 = 28/29 de setembro de 503“ele ficou parado atrás de γ Gêmeos; no dia x, ele se moveu de volta para o oeste”Parado ao norte e ligeiramente atrás de γ Gêmeos em 29 de setembro antes do nascer do sol; daí moveu-se de volta para o oesteSim, mas a posição “atrás” é questionável
Ano 19, mês VIII, dia 9 = 25/26 de novembro de 503“nascimento acrônico”Júpiter começou a nascer no leste ao pôr-do-sol de 25 de novembroSim
Ano 19, mês X, dia 12-13 = 25/26-26/27 de janeiro de 502“ficou parado… na Carruagem”Júpiter atingiu seu ponto estacionário atrás da Carruagem por volta de 25-27 de janeiroSim
Ano 20, mês III, dia 20 = 1/2 de julho de 502“primeiro aparecimento […] a estrela brilhante de Gêmeos (β Gêmeos); ele (Júpiter) estava brilhante”A primeira visibilidade de Júpiter ocorreu em 1º de julho antes do nascer do sol (1 dia antes)Sim
Ano 20, mês V, dia 27 = 5/6 de setembro de 502“ele entrou em Presépio”Júpiter estava em Presépio em 6 de setembro antes do nascer do solSim
Ano 31, mês II, dia 25 = 4/5 de junho de 491“primeiro aparecimento na Carruagem”A primeira visibilidade ocorreu em 5 de junho antes do nascer do sol na CarruagemSim
Ano 31, mês VI, dia 28 = 3/4 de outubro de 491“ele ficou parado em Gêmeos; moveu-se de volta para o oeste”Júpiter estava parado em Gêmeos em 4 de outubro antes do nascer do sol; daí ele se moveu para o oesteSim
Ano 32, mês III, dia 10-11 = 7/8-8/9 de junho de 490“último aparecimento 6 côvados atrás de Gêmeos”A última visibilidade ocorreu atrás de Gêmeos em 7 de junho depois do pôr-do-solSim, mas a distância não é específica
Ano 32, mês IV, dia 9 = 6/7 de julho de 490“[primeiro aparecimento] 5° na frente de […]”A primeira visibilidade ocorreu em 5 de julho antes do nascer do sol (2 dias antes); 5°-6° na frente de CâncerSim

O exame das observações registradas na LBAT 1393 (= BM 36823, transliterada e traduzida como Nº. 54 em ADT V) mostra que 13 das observações com um ano de reinado preservado estão legíveis e específicas o suficiente para serem datadas. Com a ajuda de softwares de astronomia modernos foi demonstrado que 10 destas observações estão totalmente corretas, enquanto que algumas questões permanecem no que se refere às distâncias não-específicas fornecidas por duas observações e a posição “atrás” é questionável para outra observação. Outros detalhes dados por estas três observações são totalmente corretos, porém. Pode-se acrescentar que os resultados do exame acima também foram verificados e confirmados por outros eruditos. A alegação de Furuli, de que “11 posições estão erradas, 4 estão possivelmente corretas, e 1 está correta”, foi demonstrada como totalmente infundada. A questão é como Furuli conseguiu chegar a uma conclusão tão errada assim.

O exame que Furuli faz de outras tabuinhas em sua “Resposta a Jonsson” mostra ser simplesmente desastrosa. A maioria das observações e posições nas tabuinhas que eu usei, e que ele classifica como “erradas” mostram estar corretas num exame minucioso. O problema real, portanto, não é a qualidade das posições registradas nas tabuinhas, e sim a qualidade da própria análise que Furuli faz destas posições. O problema parece ser que (1) Furuli não sabe usar corretamente um programa de astronomia moderno, ou (2) o entendimento que ele tem da astronomia babilônica antiga é insuficiente, ou, mais provavelmente, (3) ambos.

Imagem: Observatório em Maragha, Irã. (Wikipédia).

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