Correspondência com o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová (sobre a cronologia de 1914)

PRÓLOGO

Conforme um número crescente de pessoas dentre as Testemunhas de Jeová está tomando conhecimento, a liderança central da Torre de Vigia está muito bem ciente da grande quantidade de evidências contra a cronologia que dá sustentação a tudo o que eles ensinam sobre o ano de 1914. A obra mais importante que trata deste questionamento é o livro do autor sueco Carl Olof Jonsson, intitulado “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados“.

Capa da primeira edição de
Os Tempos dos Gentios Reconsiderados (1983).

Tradução da palavra no “raio”: Verdade

Todavia, nem todos estão a par dos antecedentes que levaram à publicação deste livro.

Em 2008 Jonsson divulgou o conteúdo de toda a correspondência que manteve com a liderança das Testemunhas de Jeová entre 1977 e 1980. Pouco depois disso disponibilizamos a tradução dessa correspondência aqui. Os leitores acharão muito instrutivo acompanhar o que ocorreu depois que estas cartas chegaram à sede mundial da Torre de Vigia e também analisar como o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová reagiu quando as recebeu.

As cartas que seguem são apresentadas em ordem de data, cada uma delas seguida por breves comentários. Os modelos originais das cartas foram mantidos apenas nas versões em PDF (o arquivo que contém todas as traduções pode ser obtido na seção de Publicações.

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Carta de Jonsson para o Corpo Governante – 20/05/1977

Åmål, 20 de maio de 1977

Prezados Irmãos,

Um irmão fez um estudo abrangente do período neobabilônico em relação ao nosso entendimento atual dos “tempos designados das nações”. O “tratado” dele, escrito com toda a honestidade e amor sincero pela verdade, foi examinado cuidadosa e criticamente por alguns irmãos capacitados, mas não foi possível refutar os argumentos e a conclusão de que 587 A.E.C., não 607, é a data correta para a destruição de Jerusalém e de seu templo. Se esta conclusão for correta – e parece realmente muito difícil evitar todos os fatos apresentados – as consequências serão de longo alcance em relação a todas as coisas que associamos com 1914: a parousia de Cristo, o estabelecimento do Reino de Deus, a expulsão de Satanás, etc.

Está anexa a parte II do tratado, que aborda a cronologia neobabilônica. Pedimos que vocês a leiam cuidadosamente e deem sua opinião sobre ela, uma vez que este assunto é de nosso profundo interesse.

Aguardando ansiosamente sua resposta.

Com amor cristão por todos vocês.

Seu irmão,

Carl Olof Jonsson

Comentário: É evidente que Jonsson sabia que a evidência que ele havia reunido, por mais incontestável que fosse, poderia ser mal-interpretada pelo Corpo Governante. Isso explica o fato de ele não ter se identificado logo no primeiro momento. Note-se, porém, que ele se aproximou da liderança, não como crítico e sim como pesquisador. Apesar de estar questionando um ensino central da organização, sua carta nada teve de agressiva. Era, no máximo, um convite a um diálogo franco. A primeira resposta da Torre de Vigia vem a seguir.

Resposta do Corpo Governante – 19/08/1977

EG:EI  Nova Iorque, 19 de agosto de 1977

Prezado Irmão Jonsson:

Agradecemos por sua carta de 20 de maio e pela matéria que você enviou juntamente com ela. Lamentamos que a quantidade de trabalho aqui não nos permitiu dar a ela a atenção que gostaríamos até o presente momento.

Em sua carta você menciona ter nos enviado a parte II do tratado elaborado, mas você apresentou uma página que é chamada de Parte I. É essa a totalidade da Parte I? Mencionamos isso porque teríamos interesse em obter o tratado completo. Se essa é a totalidade da Parte I, então gostaríamos de obter a Parte III, se é que algo dela já foi preparado.

Além disso, gostaríamos de obter de você o nome e endereço do irmão que fez a pesquisa e elaborou este tratado. Estamos agora adquirindo algo da matéria de referência citada nas notas de rodapé dele e gostaríamos de ter o nome e endereço dele à nossa disposição, caso tenhamos perguntas a fazer. Você menciona que a matéria foi examinada por vários irmãos. Então, se há outros com os quais você está em contato que estão envolvidos com este empreendimento e que seriam capazes de fornecer informações que precisemos, apreciaríamos saber a respeito deles.

Agradecemos por sua bondosa atenção ao pedido acima.

Seus irmãos,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOSDE NOVA IORQUE, INC

EG = Gene Smalley,
Departamento de Redação
[ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Comentário: Uma resposta também muito amigável, devemos dizer. O fato de a Torre de Vigia alegar ‘falta de tempo’ para examinar toda a matéria é também algo perfeitamente compreensível, já que a evidência reunida por Jonsson era de fato volumosa. O detalhe que chama a atenção, porém, foi a preocupação da Torre de Vigia em, logo de início, querer saber os nomes e outras informações sobre todos os envolvidos. Não que isso seja errado, em si. A questão é que isso deveria ser secundário, em relação à validade da própria informação em questão. Eis porque Jonsson respondeu o seguinte:

Carta de Jonsson para o Corpo Governante – 05/09/1977

Åmål, 5 de setembro de 1977

Ref.: “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”

Prezados Irmãos,

Obrigado imensamente por sua amável carta de 19 de agosto, que eu recebi há alguns dias. Eu elaborei o tratado acima e, como eu disse a vocês, alguns irmãos capacitados examinaram criticamente o manuscrito e ajudaram-me a fazer algumas melhorias, especialmente na Parte I. Além disso, um irmão e bom amigo nos EUA foi de grande ajuda em corrigir meu inglês. Eu não acho que os nomes envolvidos nesta pesquisa sejam importantes, mas como eu entendo que vocês pretendem investigar cuidadosa e objetivamente este assunto (o que é realmente muito gratificante) estou disposto a responder a todas as perguntas que eu puder, e também enviarei aos outros irmãos quaisquer questões que vocês tiverem. Assim, poderíamos trabalhar nisto juntos e enviar a vocês todas as informações e observações importantes que possamos obter.

Está agora incluída a Parte I do manuscrito, contendo um levantamento histórico das interpretações dos “tempos dos gentios” desde o primeiro século, incluindo Charles Taze Russell. O objetivo deste trabalho é colocar nosso entendimento atual do assunto dentro de uma perspectiva histórica e preparar a mente para a informação apresentada nas partes II e III. Infelizmente eu ainda estou trabalhando na Parte III. Eu tenho um rascunho grosseiro escrito em sueco e também muitas anotações, mas o problema é escrever isso de maneira clara e inteligível em inglês. Espero que esteja pronto em outubro. Esta parte trata dos textos bíblicos que contêm a profecia dos 70 anos (Jer. 25, 29; Dan. 9; 2 Crô. 36; Zac. 1, 7, etc.), a base bíblica para o cálculo dos tempos dos gentios como um período de 2.520 anos e uma consideração sobre a data de 1914. Naturalmente esta parte do trabalho só dá algumas sugestões alternativas, e muito mais pesquisa será necessária para solucionar todos os problemas. Logo que ela estiver pronta, enviarei a vocês uma cópia.

Em sua carta vocês mencionam que estão adquirindo algumas das matérias de referência mencionadas nas notas de rodapé. Como eu tenho quase tudo isso fotocopiado aqui em minha casa, enviarei de bom grado a vocês qualquer coisa de que precisarem, se isto facilitar sua investigação.

Com amor cristão.

Seu irmão,

Carl Olof Jonsson [ASSINATURA]

Comentário: Ao mesmo tempo em que se identificou como autor da pesquisa, Jonsson se prontificou em dar qualquer ajuda necessária. Ainda naquele mesmo ano, ele enviou mais informações, conforme mostra esta carta:

Carta de Jonsson para o Corpo Governante – 12/12/1977

Åmål, 12 de dezembro de 1977

Ref.: “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”

Prezados Irmãos,

Espero que tenham recebido a Parte I do tratado mencionado acima, como pediram. Ela foi enviada a vocês em 5 de setembro de 1977. Enviei a vocês hoje, numa embalagem separada (correio aéreo), a Parte III, que prometi enviar a vocês em outubro, mas sofreu atraso por vários motivos. Primeiramente, porque a última parte acabou sendo mais longa do que eu pretendia, apesar do fato de várias coisas terem sido abordadas de modo muito breve. A correção do inglês levou algum tempo também, além do que o manuscrito foi elaborado em meio a muitas outras responsabilidades, tanto na congregação como em meu trabalho secular.

Vários irmãos examinaram agora o tratado e a maioria deles tende a concordar com as conclusões. Esperamos, portanto, que vocês submeterão a evidência e argumentação apresentadas a um exame cuidadoso e objetivo. Embora alguma parte da evidência possa parecer apresentada de modo um tanto crítico, deve-se ter em mente que a crítica sempre se refere a uma ideia que parece claramente estar errada, nunca a indivíduos ou a uma associação de indivíduos. O tratado foi escrito com humildade mental, amor pela verdade e visando aos melhores interesses de todos nós. Espero, portanto, que a argumentação não seja interpretada como provocativa, pois esta nunca foi a intenção.

Estamos todos aguardando ansiosamente seus comentários.

Com amor cristão por todos vocês.

Seu irmão,

Carl Olof Jonsson  [ASSINATURA]

PS: Na pág. 27 de meu tratado, a última sentença e a nota de rodapé 20 fizeram referência a Robert R. Newton, que há alguns anos expôs Cláudio Ptolomeu como tendo “forjado” algumas de suas observações. Talvez vocês estejam apercebidos do fato de que ele agora publicou um livro sobre o assunto: O Crime de Cláudio Ptolomeu, 1977 (em inglês – Editora da Universidade John Hopkins). Segundo a revista Scientific American (outubro de 1977, pág. 79 e seguintes), “Newton descobriu também que uma grande parte das observações que Ptolomeu atribuiu a outros astrônomos não é material que ele preservou do passado, e sim material que ele forjou… Ademais, a farsa de Ptolomeu pode ter chegado ao ponto de inventar o período dos reinados de reis babilônicos.” Assim, a atitude crítica adotada no livro Ajuda com relação a Ptolomeu é certamente justificada. “É claro,” conforme Newton diz na conclusão de seu livro “que nenhuma declaração feita por Ptolomeu pode ser aceita a menos que ela seja confirmada por autores que sejam totalmente independentes de Ptolomeu no que se refere aos assuntos em questão.” Isto é exatamente o que foi feito na Parte II de meu tratado, uma vez que a cronologia neobabilônica é estabelecida por várias linhas de evidência independentes do cânon de Ptolomeu. Estas mostram que a lista de Ptolomeu está correta com relação ao período neobabilônico.

Comentário: Observa-se que o autor continuou mantendo exatamente a mesma posição: a abordagem de pesquisador, não de crítico. Se havia algum tom de crítica, isto se referia à informação em si, e não às pessoas envolvidas. Típico desta atitude é este trecho: “… deve-se ter em mente que a crítica sempre se refere a uma ideia que parece claramente estar errada, nunca a indivíduos ou a uma associação de indivíduos.” Qualquer pesquisador que estivesse no lugar dele, esperaria que sua informação fosse considerada de maneira objetiva. A seguinte foi a resposta da Torre de Vigia:

Resposta do Corpo Governante – 17/01/1978

GEA:ESB

Nova Iorque, 17 de janeiro de 1978.

Prezado Irmão Jonsson:

Temos em mãos sua carta de 12 de dezembro de 1977, e também o tratado que preparou, intitulado “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados.”

Ainda não tivemos a oportunidade de examinar este material, pois outros assuntos urgentes estão ocupando nossa atenção. Contudo, analisaremos este material quando tivermos a oportunidade.

Apreciamos sua sinceridade em querer definir seus pontos de vista. Contudo, não importa quão forte possa ser a argumentação em apoio destes pontos de vista, eles devem, por enquanto, ser encarados como sua opinião. Não é algo sobre o qual o irmão deva falar ou tentar divulgar entre outros membros da congregação. Mencionamos isto porque o irmão diz em sua carta que vários irmãos examinaram o seu tratado e que “todos aguardamos ansiosamente vossos comentários.”

Conforme pode reconhecer, o que o irmão declara no seu tratado equivale a um abandono radical do entendimento atual que as Testemunhas de Jeová têm da cronologia. Temos certeza de que compreende que se forem feitas mudanças importantes, deveriam sê-lo de modo ordeiro, exatamente como foi o caso no primeiro século, com orientação proveniente de uma fonte central. (Atos 15:1, 2) Temos também certeza de que compreende que indivíduos promoverem e advogarem essas mudanças teria, não um efeito unificador, e sim divisório, que produziria confusão. Mencionamos-lhe isto pelo fato de o tratado que o irmão enviou conter uma declaração na primeira página descrevendo-o como “preparado por Testemunhas de Jeová, para Testemunhas de Jeová.” Dizer que algo é “preparado por Testemunhas de Jeová” significa que tem a aprovação das Testemunhas de Jeová como um corpo, e temos certeza de que o irmão percebe que este não é o  caso do tratado em questão. Isto  poderia dar uma falsa impressão e estamos seguros de que este não é o seu desejo. Pode ter certeza de que seus pontos de vista serão examinados por irmãos responsáveis e que se em algum momento tiver de ser feita uma mudança doutrinal, ela virá através dos canais apropriados. Isto é importante para preservar a unidade da organização de Jeová.

Esperamos que o irmão acate o conselho dado acima. Na ocasião apropriada, esperamos analisar o seu tratado e avaliar o que está contido nele.

Enviamos-lhe o nosso amor caloroso e as melhores recomendações. 

Seus irmãos,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS

Comissão de Redação do Corpo Governante

GEA = W. L. Barry, Corpo Governante

[ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Comentário: Apesar de o Corpo Governante já estar de posse da parte principal desta reconhecidamente importante matéria por 4 meses, e da matéria completa por um mês, eles continuaram alegando ‘falta de tempo’ para examiná-la e tratarem dela de modo objetivo. Mas não é isso que questionamos primariamente aqui. O que chama a atenção é a tentativa deles de silenciar completamente o autor da pesquisa, com base na alegação de que tal matéria produziria “confusão” na mente dos irmãos e que ela representava nada mais que a “opinião” de Jonsson (esse expediente é muito comum quando se pretende desqualificar as ideias de alguém, sem discuti-las objetivamente). Devido ao fato de o Corpo Governante ter (propositalmente ou não) interpretado mal certas declarações do autor, e principalmente por não terem dado qualquer previsão de quando fariam um exame objetivo da matéria, ele respondeu o seguinte:

Carta de Jonsson para o Corpo Governante – 22/02/1978

Åmål, 22 de fevereiro de 1978

Ref.: “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”

Prezados Irmãos,

Apreciei sua carta de 17 de janeiro e sua promessa de que meu tratado será examinado por “irmãos responsáveis”. Certamente todos percebemos a importância deste assunto, já que ele não se refere só a um pequeno detalhe, e sim à “pedra angular” de nosso edifício escatológico. Desta forma, como a busca e a divulgação da verdade é a razão primária de nossa existência como organização, este assunto não pode ser tratado com descaso ou adiado para algum futuro indefinido. Um cozinheiro que foi informado da evidência indicando que algum alimento que ele prepara parece estar envenenado não hesitaria em começar imediatamente a examinar o assunto e, nesse meio tempo, ele teria muito cuidado em não servir o alimento suspeito aos convidados. Não deve o mesmo ser verdade no caso do alimento espiritual também?

Vocês evidentemente entenderam mal a declaração que fiz em minha carta anterior, segundo a qual “vários irmãos examinaram o tratado”. Eu não estou falando sobre ele ou tentando promover a evidência apresentada no tratado entre membros da congregação, já que estou apercebido dos efeitos perturbadores que isto poderia ter sobre os irmãos em geral. O amor pela verdade e pelos irmãos não causa divisões e confusão, mas, conforme vocês sabem, muitos irmãos tendem a considerar as coisas escritas nas publicações da Sociedade como quase inspiradas por Deus e, portanto, acima do exame crítico à luz das Escrituras. (Atos 17:11) Tenho certeza de que vocês concordam que essa atitude é muito infeliz e deve ser coibida. Devido a esta atitude, o questionamento aberto deve ser evitado, já que ele vez após vez se confronta com reações irracionais. O tratado foi examinado por seis irmãos capacitados na Suécia (nenhum dos quais pertence à nossa congregação) e por cerca de oito irmãos dos EUA e de outros países. Porém, como é provavelmente impossível que todos os envolvidos mantenham esta delicada questão em segredo, eu penso que ela será difundida mais e mais com o passar do tempo. Já existe alguma evidência disso. Isto poderia causar muito problema com o tempo, mas tenho certeza que vocês já terão esclarecido o assunto antes disso.

Outra coisa sobre a qual vocês comentam é a declaração na página inicial de que o tratado é “escrito por Testemunhas de Jeová e para Testemunhas de Jeová”. Uma vez que alguns irmãos foram de grande ajuda em examinar e corrigir o tratado e deram várias boas sugestões e aperfeiçoamentos, achei totalmente correto declarar que o tratado foi resultante da pesquisa de várias Testemunhas, e que ele foi direcionado às Testemunhas de Jeová, não aos nossos oponentes, que poderiam usá-lo como poderosa arma contra nós. Até agora, nenhum dos irmãos que leram o tratado entenderam mal esta declaração, concluindo que o trabalho “tem a sanção das Testemunhas de Jeová como um corpo”. Mas entendo seus sentimentos quanto a este detalhe e mudei a declaração da página de rosto do meu original. Está anexa uma cópia da nova página de rosto, que vocês podem usar para substituir a anterior.

Alguns outros detalhes menores foram também mudados no tratado, especialmente algumas declarações sobre Ptolomeu, que foram corrigidas de acordo com a evidência apresentada por R. R. Newton em seu livro O Crime de Cláudio Ptolomeu (veja o PS em minha carta anterior). Estas mudanças não alteram quaisquer das linhas de evidência apresentadas contra a data 607 A.E.C., mas foram feitas a bem da exatidão. Outra correção refere-se à nota 21 da página 63, onde “8 meses” deve ser lido como “4 meses” e “10 meses” deve ser lido como “2 meses”. As páginas alteradas estão anexas, para que vocês possam substituí-las.

Com caloroso amor cristão.

Seu irmão no serviço de Jeová e sua verdade,

Carl Olof Jonsson [ASSINATURA]

Comentário: Esta carta foi enviada no início de 1978. Uma vez que a pesquisa começou a trazer problemas de ordem moral para o autor, e pelo fato de se passarem vários meses adicionais, sem qualquer resposta da organização, Jonsson enviou uma carta adicional a um dos membros do Corpo Governante no final do ano:

Carta de Jonsson para o Corpo Governante – 06/12/1978

Åmål, 6 de dezembro de 1978

Prezado Irmão,

Suponho que você esteja a par de (e provavelmente leu) meu tratado Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, que enviei ao Departamento de Redação no ano passado. Este tratado apresentou uma série de argumentos demonstrando que Jerusalém foi desolada pelos babilônios em 587 A.E.C., não em 607 A.E.C. como temos defendido até agora. Embora eu ainda não tenha recebido uma resposta com uma avaliação da evidência apresentada no tratado, entendo e fui informado que uma razão porque a evidência foi desconsiderada é a importância que vocês atribuem a uma recente obra de Robert R. Newton, intitulada O Crime de Cláudio Ptolomeu (Baltimore, 1977), e especialmente a declaração feita pelo comentarista deste livro na Scientific American de outubro de 1977, pág. 80, segundo a qual  “A falsificação de Ptolomeu pode ter ido até o ponto de inventar a duração de reinados de reis babilônicos.”. Esta declaração, que também foi citada em A Sentinela de 15 de dezembro de 1977, pág. 747 [15 de março de 1978, pág. 11 em português] pode ser completamente refutada, conforme é mostrado no documento anexo (uma tabela com breves comentários) sobre Os Reinados dos Reis Babilônicos: Uma Comparação do Cânon de Ptolomeu com Fontes Mais Antigas, elaborado anteriormente neste ano.

Há duas razões, irmão Schroeder, pelas quais estou me dirigindo pessoalmente a você acerca deste assunto: 1) Um dos superintendentes de distrito aqui na Suécia, o irmão Rolf Svensson, contou-me que você é uma espécie de perito em cronologia na sede, e 2) ele contou-me também sobre uma reunião que você teve na Europa no começo de agosto deste ano com vários irmãos proeminentes. Na reunião você disse à assistência;

A.      que uma campanha está agora em andamento nos EUA, tanto fora (os Adventistas do Sétimo Dia) como dentro da organização, com o fim de derrubar nossa atual cronologia de 607 A.E.C. – 1914 E.C.,

B.      que a Sociedade não tem qualquer intenção de abandonar a cronologia em sua forma atual,

C.     que alguns dos antigos documentos mencionados por estes “atacantes” mostraram ser forjados (a lista de reis de Ptolomeu foi mencionada) e que a Sociedade está acompanhando este assunto com o maior interesse, e

D.     que não há nada nos argumentos propostos por estes “atacantes” que seja novidade para a Sociedade.

Isto foi, naturalmente, uma informação muito interessante para mim, e eu gostaria de fazer alguns comentários sobre ela e fazer-lhe algumas perguntas, às quais espero que você tenha a bondade suficiente para responder.

A. A campanha. Será possível que você esteja considerando a pesquisa que fiz sobre a cronologia neobabilônica e a evidência que apresentei ao Departamento de Redação como parte da campanha mencionada acima? Pelo menos, parece que irmãos em posições da dianteira aqui na Suécia entenderam sua declaração desse modo. Foi-me dito por um superintendente de distrito que é contra os desejos da Sociedade alguém se envolver em pesquisa do tipo que fiz, que a Sociedade não precisa disso, que recentemente um irmão na Islândia foi desassociado por causa de sua pesquisa, etc. Avisos similares são também dados na tribuna. Numa assembleia de circuito que visitei algumas semanas atrás, outro superintendente de distrito falou ironicamente sobre alguns “irmãos presunçosos”, que, agindo como “pequenos profetas”, desenvolveram “sua própria cronologiazinha” em oposição à Sociedade. Outro irmão que pertence à Comissão de Filial, num discurso que faz para as congregações, dedica considerável tempo em alertar contra “elementos perigosos” nas congregações, sendo que entre estes elementos ele se refere especificamente a irmãos que não tem fé na cronologia da Sociedade. Eu creio que você pode imaginar que tipo de clima se desenvolve devido a pronunciamentos como estes – um clima de medo, suspeita, etc., onde você vez após vez descobre que algum irmão interpretou uma declaração inofensiva que você fez de um modo que pode ser voltado contra você.

Minha pesquisa começou há mais de dez anos, em resultado de perguntas feitas a mim por um homem com quem eu estudava a Bíblia. Gradualmente foi ficando claro para mim que a cronologia geralmente aceita para o período neobabilônico tem evidências muito fortes em seu apoio. Eu tentei refutá-las muito arduamente, mas não pude, e por fim tive de aceitá-las. Após ter discutido as evidências com alguns de meus amigos íntimos (pessoalmente ou por carta) por algum tempo, decidiu-se que elas deveriam ser apresentadas à Sociedade. Consequentemente, elaborei o tratado Os Tempos dos Gentios Reconsiderados e o enviei ao Departamento de Redação. Este trabalho foi feito com a maior seriedade e com toda a sinceridade. Quão trágico é, pois, observar o desenvolvimento de uma situação na qual a atenção é desviada da questão levantada – a validade da data 607 A.E.C. – e dirigida para aquele que a levantou, e ele – não a questão – ser considerado como o problema! Isto é realmente perturbador. Como é possível que uma situação como essa tenha se desenvolvido em nossa organização?

B. Abandonar ou não a cronologia? Posso entender perfeitamente a hesitação em abandonar a cronologia, mesmo que a evidência contra ela seja muito forte. Abandonar o cálculo 607 A.E.C. – 1914 E.C. teria consequências muito sérias para nosso entendimento atual dos eventos desde 1914 (como eu também demonstrei na Parte III do tratado). E posso entender também os argumentos que o irmão Fred Rusk apresentou para um amigo íntimo meu, que visitou recentemente a sede e discutiu a cronologia com ele, a saber, que “não podemos simplesmente descartar a data 1914, se não temos nada para colocar no lugar dela”. Por outro lado, o amor à verdade tem sido uma das mais importantes marcas de nossa organização e com certeza esta foi uma das razões por que Deus abençoou esta organização no passado. Os que amam a verdade não terão quaisquer problemas mesmo em se tratando de grandes mudanças, uma vez que se dão conta de que as mudanças são feitas para se adequar à verdade e aos fatos. Eu conheço muitos irmãos (que nada sabem das evidências contra a data 607 A.E.C.), que agora tem problemas crescentes com nossa cronologia atual, simplesmente porque eles veem que a data 1914 está ficando  cada  vez  mais distante e  a geração conectada a ela  estendida  ao  ponto da ruptura, e a  década crítica  de 1970 (com  a data  de 1975 tendo passado há pouco tempo). Há um amplo e crescente sentimento de que algo está basicamente errado, e isto é, com certeza, nossa cronologia. – Será que precisamos realmente de “algo para colocar no lugar dela”? Para um cristão, a Bíblia e tudo o que está contido nela é suficiente como fundação de sua fé. E nenhuma data 607 A.E.C. ou 1914 E.C. encontra-se lá. Os primitivos cristãos não tinham tais datas, e ainda assim o que eles tinham era suficiente para eles. Quando eles perguntaram a Jesus sobre a época em que o Reino de Deus seria estabelecido, ele não deu a eles quaisquer datas ou cálculos cronológicos, e ele não fez referência a Daniel capítulo quatro. Ele simplesmente disse “Não vos cabe obter conhecimento dos tempos (kairoi) e das épocas que o Pai tem colocado sob sua própria jurisdição” – Atos 1:6, 7. Não deveria esta declaração ser suficiente para colocar no lugar do cálculo 607 – 1914?

C. Documentos forjados? Estou realmente surpreso de ouvir que alguns dos documentos que estabelecem a cronologia do período neobabilônico mostraram ser forjados. Perguntei a mim mesmo: Se isto é verdade, porque não fui informado disso numa resposta ao meu tratado? Isto certamente teria sido de grande ajuda para mim. Não sei nada sobre tais falsificações, embora eu tenha estudado esses documentos por anos e tenha acompanhado as discussões sobre eles em revistas científicas. Mas logo percebi que os “documentos” referidos só poderia ser a lista de reis de Ptolomeu (que não usei como evidência em meu tratado). E talvez você não tenha dito que esta lista de reis foi provada como forjada (já que ela não foi), mas apenas que isso poderia ser provado. O irmão Rusk, em sua discussão com meu amigo, mencionada acima, também fez referência à possível invenção da lista de reis de Ptolomeu, e não pareceu saber de outras falsificações. Assim, estou tirando a conclusão que esta lista constitui os “documentos” a que se fez referência. Você poderia confirmar isto?

A lista de reis de Ptolomeu não foi inventada, como demonstrei no documento anexo sobre Os Reinados dos Reis Babilônicos, no qual o cânon de Ptolomeu é confrontado com os reinados dos reis babilônicos conforme encontrados em outros documentos que são muito mais antigos. Ptolomeu evidentemente conseguiu sua informação de fontes mais antigas, que lhe estavam disponíveis. Por outro lado, R. R. Newton parece ter demonstrado que Ptolomeu forjou muitas das observações astronômicas associadas à sua lista de reis na obra dele, Almagesto. Como é possível que tais observações tenham sido forjadas, se a lista de reis não foi? Para obter uma resposta a esta questão, enviei meu documento sobre Os Reinados dos Reis Babilônicos ao Sr. Newton e fiz algumas perguntas. Fiz também algumas perguntas sobre o eclipse solar no eponímia de Bur-Sagale, mencionado no cânon epônimo.

O Sr. Newton não é perito em cronologia e história assiro-babilônica, o que ele também admite prontamente em seu livro O Crime de Cláudio Ptolomeu: “Eu não tentei estudar a evidência disponível de outras fontes além de Ptolomeu ‘para anos mais antigos’ ”, isto é, antes de Nabucodonosor (pág. 375 em inglês). Isto ficou também evidente em nossa correspondência. Embora ele tenha examinado o diário astronômico VAT 4956 e confirmado a data anteriormente estabelecida para o 37º ano do reinado de Nabucodonosor (568/567 A.E.C.), podendo assim fixar o primeiro ano do reinado de Nabucodonosor em 604/603 A.E.C., ele não sabia praticamente nada sobre os antigos documentos sobre os quais a cronologia assiro-babilônica está fundada. Isto é demonstrado claramente na discussão que ele faz do “cânon epônimo” assírio, onde ele comete um erro muito crasso. (Infelizmente, parece que a abordagem das listas epônimas no livro Ajuda cai no mesmo erro, dando a impressão que a colocação da eponímia de Senaqueribe no décimo oitavo ano de reinado dele é uma invenção de historiadores modernos, ao passo que esta informação é fornecida nas próprias listas epônimas! pag. 326 [em inglês], parágrafos 4 e 5).

[NOTA DO TRADUTOR: Esta matéria foi removida da edição do “Ajuda” em português e não consta sob o verbete “Cronologia”.]

Em sua resposta, Newton admite que “a lista de reis pode ser genuína”, e por isso ele não só quer dizer que ela não foi inventada (porque isto é muito evidente à base de minha tabela), como também que ela pode estar correta. Estas são duas coisas diferentes: O cânon não foi inventado, mas tomou sua informação de fontes mais antigas. Mas concorda ele com os fatos? A  resposta a esta  questão é naturalmente  dependente da questão de se as fontes mais antigas estão de acordo com os fatos. E isto foi o que eu demonstrei em meu tratado, onde apresentei várias linhas de evidência independente, que demonstram que a cronologia aceita do período neobabilônico está correta. Há também outras linhas de evidência, não incluídas no tratado, que estabelecem a duração do período neobabilônico, mas como elas abrangem segmentos diferentes do período, e não o período inteiro, eu não as incluí no tratado. Um destes segmentos, por exemplo, abrange o período do 16º ano de Nabopolassar até o ano de ascensão de Nabonido. Um documento do reinado de Nabonido declara que este período foi de 54 anos (610-556 AEC). – Anexei a resposta de Newton e também uma cópia de minha resposta à carta dele. Ele não respondeu minha última carta, evidentemente porque não pode refutá-la.

D. Nenhuma novidade?  Naturalmente você poderia dizer isso em agosto de 1978. Mas quando recebeu a Parte II de meu tratado em maio de 1977, você não encontrou nenhuma novidade nele? O que dizer da Estela de Harã, Nabon. H 1, B? Essa estela foi descoberta em 1956, e uma tradução dela foi publicada por Gadd em 1958. Você sabia alguma coisa sobre tal estela quando o livro Ajuda foi publicado em 1971? Eu tirei a conclusão que não, porque se soubesse, você não teria feito referência à cópia danificada da mesma estela, descoberta em 1906, sem mencionar a estela contendo a informação cronológica completa nela, descoberta 50 anos depois. Fazer uma consideração sobre a estela danificada com o fim de demonstrar quão pouco sabemos sobre a cronologia neobabilônica não teria sido honesto, caso você soubesse sobre a nova estela em boas condições de 1956. Uma vez que estou convencido de que a pessoa que escreveu esse artigo era um homem honesto, devo concluir que ele não sabia da nova estela de 1956. Parece-me também muito improvável que você não sabia nada sobre as tabuinhas de Egibi e a forte evidência que elas dão para o período neobabilônico, ou a evidência da cronologia contemporânea do Egito, baseada independentemente numa série de estelas de Ápis. Os três tipos de evidência mencionados acima são todos contemporâneos ao período neobabilônico, são todos independentes entre si e ainda assim todas elas concordam quanto à duração do período neobabilônico.  São a mais forte evidência que temos hoje com relação à duração do período neobabilônico. Ainda assim, nenhuma delas foi alguma vez mencionada em qualquer publicação nossa, nem no livro Ajuda, nem em parte alguma. Se esta evidência não era “nenhuma novidade”, parece-me muito curioso que ela nunca tenha sido discutida ou mencionada em parte alguma, e nenhuma tentativa tenha sido feita para refutá-la. Você tem certeza que nada disso era novidade quando o livro Ajuda foi preparado, ou quando você obteve meu tratado em 1977?Uma objeção a meus argumentos contra a data 607 A.E.C é que eles são todos baseados em fontes “do mundo” ou “profanas”. Com relação a isso, deve-se mencionar apenas que uma parte muito grande de nossa atual “cronologia bíblica”, é também baseada unicamente em fontes “do mundo”, a saber, os mais de 2.500 anos de 539 A.E.C. a 1978 E.C. Além disso, é exatamente o mesmo tipo de evidência (profana ou documentos do mundo) que torna a data 539 A.E.C. “absoluta”, “fundamental”. O fato é que toda a nossa “cronologia bíblica”, que é fixada em relação à data 539 A.E.C., por esta razão é unicamente baseada em fontes “do mundo”! Qualquer argumento estabelecido contra os documentos nos quais a data 587 A.E.C. é baseada entra também em choque com 539 A.E.C com a mesma força, e, indiretamente, também com a data 607 A.E.C., já que essa data é derivada de 539 A.E.C! Esta é a verdadeira situação, e eis por que devemos aceitar a data 587 A.E.C em vez de 607 A.E.C. como a data correta para a destruição de Jerusalém.

Estou confiante de que você não se ofenderá com minha franqueza, mas examinará o material anexo com mente aberta. Fique certo de que eu tenho os melhores pensamentos acerca de todos vocês e, apesar das dificuldades atuais, oro para que Jeová continue a guiar a todos nós para sua verdade mais completa e em mostrar amor cristão uns aos outros. Aguardo ansiosamente sua resposta.

Seu irmão,

Carl Olof Jonsson [ASSINATURA]

Comentário: Infelizmente este membro do Corpo Governante jamais respondeu a esta carta. Mas, sabe-se que ela foi recebida, pois a seguinte notificação foi dada pela organização:

Carta do Corpo Governante para Jonsson – 22/12/1978

EW:ESC  

Nova Iorque, 22 de dezembro de 1978

Prezado Irmão Jonsson:

Estamos escrevendo para informá-lo que sua carta de 6 de dezembro, com anexo, dirigida ao Irmão A. D. Schroeder, foi recebida sem problemas e foi encaminhada ao Departamento de Redação. No momento não estamos elaborando qualquer resposta ou comentário sobre os pontos levantados em sua carta.

Receba, por favor, nossas melhores recomendações.

Seus irmãos,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOSDE NOVA IORQUE, INC 

EW = E. C. Chitty, Depto. de Redação [ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Comentário: Posteriormente, a sede enviou outra resposta curta, mas esta tratou apenas de uns poucos detalhes secundários. Como já havia se passado mais de um ano que Jonsson havia mandado a informação completa, os representantes da Torre de Vigia já não podiam alegar ‘falta de tempo’. Assim, tudo o que a sede soube declarar foi ‘não compartilhamos sua convicção’, mas não deu qualquer explicação objetiva acerca dos motivos disso. Eis a carta:

Carta do Corpo Governante para Jonsson – 01/01/1979

EW:ESE

Nova Iorque, 1º de janeiro de 1979

Prezado Irmão Jonsson:

Em adição à nossa carta de 22 de dezembro, há alguns comentários que gostaríamos de fazer.

Queremos notificá-lo que não estamos desconsiderando ou dispensando o que você escreveu, tanto em sua carta com anexos dirigida ao irmão Schroeder como em sua correspondência anterior enviada a nós. É evidente que você fez muita pesquisa e não temos qualquer desejo de sugerir que você não é consciencioso em sua apresentação e motivos. Você claramente acha que a evidência secular encontrada é suficiente para se chegar a uma conclusão positiva. Nós não compartilhamos essa firme convicção e, portanto, cremos que no momento é melhor manter reserva de nossa avaliação.

No que se refere a fazer pesquisa sobre a matéria, conforme mencionado na página 2 de sua carta, isto é inteiramente um assunto de decisão e responsabilidade pessoal. Certamente não seria verdadeiro dizer que alguém foi desassociado por ter feito pesquisa. Porém, se em resultado de se fazer isso ou não, alguém mantém ativas suas opiniões sobre determinado assunto a ponto de causar controvérsia pública e disputa, e resultante desunião, então nos interesses dos irmãos, isso requer que alguma ação seja tomada. Se há alguma questão sobre certo assunto, então, até que ela possa ser decidida e esclarecida totalmente, além de qualquer questionamento razoável, é melhor mostrar consideração por não criar uma grande questão quanto a isso, dando origem a dissensão e debate. – 1 Cor 1:10, 11.Apreciamos muito as expressões no fechamento de sua carta e enviamos a você nosso caloroso amor cristão.

Seus irmãos,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIA E TRATADOSDE NOVA IORQUE, INC 

EW = E. C. Chitty, Departamento de Redação

[ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Comentário: Passou-se mais um ano inteiro, sem qualquer resposta da sede da organização. A essa altura a situação de Jonsson dentro da organização havia ficado mais e mais precária. No entanto ele continuava como Testemunha de Jeová. Um representante da organização fez-lhe uma visita em casa e discutiu a situação com ele. Como este representante da organização entendeu claramente o problema e ficou ciente de que o questionamento continuava sem qualquer resposta, ele tomou a iniciativa de escrever uma carta ao Corpo Governante, solicitando-a. Foi só então que, pela primeira vez, passados mais de dois anos e meio, a sede da organização finalmente se dispôs a providenciar alguma resposta à informação que haviam recebido em 1977. Esta resposta veio na forma desta carta de 4 páginas:

Carta do Corpo Governante para Jonsson – 28/02/1980

EJ:ESC

Nova Iorque, 28 de fevereiro de 1980

EJ= C. Chain, Depto de Redação [ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Prezado Irmão Jonsson:

Lamentamos pelo longo atraso em enviar uma resposta mais extensa a você, com relação ao material que você enviou à Sociedade em 1977 sobre o assunto da cronologia antiga. Por alguns anos antes de receber a informação que você forneceu e mesmo durante os anos desde que a recebeu, a Sociedade tem continuado a juntar materiais sobre o assunto da cronologia bíblica e secular. Apreciamos o que você nos enviou e lemos e pensamos sobre isso. De modo algum ele foi esquecido ou simplesmente deixado de lado como se não tivesse nenhuma importância. Estamos também de posse de seu material, intitulado “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”. Este também foi lido e será um assunto para consideração adicional no futuro.

Reconhecemos que a pesquisa representada pelo material que você nos deu requereu tempo considerável. Reconhecemos também que muito tempo e esforço foi dedicado em escrever a informação na forma que você nos enviou. Uma vez que você evidentemente está muito interessado em promover um melhor entendimento da palavra inspirada de Deus e fez tanto esforço em fazer uma contribuição nesse sentido, nós achamos que é só apropriado fazer alguns comentários sobre seu material. Gostaríamos, porém de mencionar dois problemas que surgem: (1) Não achamos que seria apropriado para nós debater ponto por ponto sobre todo detalhe onde discordamos ou continuamos não convencidos acerca das conclusões a que você chegou. Isso estaria em desarmonia com o espírito do que é dito sobre “questões” e “debates” em 1 Timóteo 6:3-5; (2) o material que você nos enviou com relação à cronologia propriamente dita abrange muitas páginas datilografadas, e a informação intitulada “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados” chega a 107 páginas datilografadas. Uma vez que os que têm de manusear a correspondência para a Sociedade têm uma considerável carga de trabalho para processar todos os dias, não é nem possível e nem seria justo para com outros entrarmos em extensa correspondência com você. Não queremos dizer que qualquer resposta que você decidir dar a esta carta será ignorada. O que quer que você diga será lido e considerado cuidadosamente. Mas a Sociedade não pode entrar em longa e repetida correspondência sobre estas matérias. Assim como no caso de qualquer assunto, tudo o que podemos fazer é o esforço de juntar os melhores e mais confiáveis materiais e tirarmos conclusões à base deles que se harmonizem completamente com a inspirada Palavra de Deus.

Faremos, todavia, um esforço de oferecer uns poucos comentários com respeito aos pontos colocados nos materiais que você nos enviou. Primeiramente, com relação ao Cânon de Ptolomeu, a Sociedade não pode aceitar os números de Ptolomeu  para  os reis babilônicos  como  um  guia  inerrante para  a cronologia  daquele  período. O Cânon de Ptolomeu é composto basicamente de duas coisas – informação histórica e astronômica. Ptolomeu tinha à disposição alguns documentos históricos que davam a duração dos reinados de reis babilônicos e ele tinha também à disposição informação astronômica. Quando ele dá informação sobre eclipses, essa informação é correta. Mas quando ele sincroniza essa informação com anos de certos reis, isso é outra história. Não há evidência de que Ptolomeu tinha à disposição documentos contemporâneos ao período neobabilônico. Possivelmente ele tinha acesso a certos “diários astronômicos” que fornecem o nome e o ano de certo rei, juntamente com observações de posições planetárias durante o ano. Porém, todos os diários astronômicos desse tipo que foram preservados até nossos dias, são da Era Selêucida. Eles são cópias de documentos anteriores. Os próprios documentos anteriores podem ter sido cópias de originais escritos durante o período neobabilônico. Os números de Ptolomeu para os reis babilônicos estão de acordo com outros números disponíveis em tais cópias de diários astronômicos escritos durante a Era Selêucida.

Um exemplo é a tabuinha conhecida como VAT 4956. À base da informação que você nos enviou, parece que você está de posse do artigo (em alemão) sobre esta tabuinha elaborado por Paul Neugebauer e Ernst Weidner em 1915. Você notará que na página 38 do texto em alemão (conforme traduzimos em inglês) consta o seguinte: “Nossa cópia deste texto de observação não foi feito no próprio ano de -567/66. Ela é, em vez disso, uma cópia de um período muito posterior.” Os autores mencionam também que: “Adicionalmente chama-se a atenção para a assinatura… que remete para a primeira linha da tabuinha seguinte, a qual trata do 38º ano de Nabucodonosor. Portanto, nossa tabuinha pertence a uma coleção de textos de observações astronômicas que provavelmente abrange um longo período de tempo e foi destinado a servir como uma base para trabalho astronômico teórico.” É verdade que na mesma página 39 os autores declaram: “Tanto quanto se refere ao conteúdo, naturalmente, nossa cópia é uma representação verdadeira do original.” Ao passo que esta opinião pode estar correta em relação à informação astronômica na tabuinha, isso não é necessariamente verdade no caso de seus detalhes históricos. Ao passo que a informação astronômica nesta tabuinha aponta para o ano -567/66 (568-567 A.E.C.), a atribuição da tabuinha ao 37º ano de Nabucodonosor pode ser simplesmente a opinião de um escriba que montou e datou “uma coleção de textos de observações astronômicas”, elaborados em um período “muito posterior”, escriba esse que veio a aceitar os dados históricos que correspondem aos que foram apresentados mais tarde por Ptolomeu.

Não queremos dizer com isso, irmão Jonsson, que a Sociedade vê todos os números de Ptolomeu como incorretos. Por exemplo, Ptolomeu atribui 43 anos para Nabucodonosor; e isto é confirmado pela própria Bíblia.

Quanto aos textos de crônicas da antiga Babilônia que se preservaram até nossa época, estes abrangem apenas períodos relativamente pequenos do reino neobabilônico. Por exemplo, temos informação de textos de crônicas para os primeiros onze anos de Nabucodonosor e para seu 37º ano, para o terceiro ano de Neriglissar, mas nada de Amel Marduque e Labashi Marduque. Só uma parte do reinado de Nabonido é abrangida. Ao passo que os anos dos reis babilônicos alistados nestes textos de crônicas não contradizem o Cânon de Ptolomeu, eles não são em si mesmos suficientes para constituir uma confirmação completa e absoluta de todos os números de Ptolomeu.

O que dizer, então, da estela de Nabonido de Harã, designada como NABON H 1, B? À base de sua correspondência, parece que você tem uma cópia do artigo sobre este documento, publicado em Estudos Anatolianos, Vol. 8, 1958. Notamos que o Cânon de Ptolomeu atribui 42 anos para o período entre o rei assírio Esar-Hadom e Nabopolassar  de  Babilônia. A estela  de  Nabonido de Harã dá 42 anos para Assurbanipal, que sucedeu a Esar-Hadom. Mas antes de Nabopolassar esta inscrição apresenta um reinado de 3 anos para certo rei Assur-Etil-Ili. E existe uma tabuinha comercial datada no quarto ano de Assur-Etil-Ili. C. J. Gadd, o tradutor de NABON H 1, B para o inglês, menciona um problema adicional: Esta dificuldade aumenta bastante quando o reinado de Sin-Shar-Iskun é também levado em consideração, pois parece haver indicação suficiente de que ele também foi rei da Assíria antes da ascensão de Nabopolassar… Nada se sabe acerca das relações entre Assur-Etil-Ili e Sin-Shar-Iskun, ambos os quais foram sucessores de Assurbanipal, um, provavelmente ambos, sendo filhos dele. Os contratos mostram que o primeiro governou por pelo menos quatro anos, o segundo por pelo menos sete anos.”

O mesmo autor declara também: “No atual estágio de nosso conhecimento dificilmente valeria a pena elaborar conjecturas para dar a razão destas aparentes discrepâncias: (a) que a inscrição de Harã parece requerer aproximadamente dois anos a mais entre a morte de Assurbanipal e a ascensão de Nabopolassar do que nossa evidência, incluindo o cânon ptolemaico, coloca à nossa disposição; (b) que o reinado de Sin-Shar-Iskun, o qual, de outra maneira deveria ter começado antes do de Nabopolassar, é agora aparentemente excluído do breve intervalo que ocorreu então.” Estas dificuldades cronológicas apresentadas por textos cuneiformes contemporâneos, bem como pelo Cânon de Ptolomeu, têm atraído a atenção dos eruditos. Em vista dos fatos, não nos sentimos obrigados nem inclinados a considerar os números no Cânon de Ptolomeu como um guia infalível em matéria de cronologia.

Com relação aos documentos comerciais, tais como os apresentados pelas tabuinhas da Casa de Egibi, sabemos que existem tabuinhas para todos os anos dos reis neobabilônicos representados no Cânon de Ptolomeu. Mas, podemos afirmar sem dúvida que as tabuinhas da Casa de Egibi representam todos os anos de todos os reis daquele período? Podemos afirmar com certeza que nenhum daqueles reis governou durante anos não representados por tabuinhas da Casa de Egibi? Com certeza não podemos. Por exemplo, durante o reinado de Dario I não há registros da Casa de Egibi para os anos 7, 32, 33, 34 e 36. Mas não estaríamos autorizados a dizer que este rei não governou durante aqueles anos simplesmente à base de não haver tabuinhas. Não podemos dizer com certeza que os reis neobabilônicos governaram somente durante anos representados por essas tabuinhas.

Quanto aos sincronismos da cronologia egípcia com reis babilônicos e também com governantes de Judá, os períodos de reinado que podem ser confirmados por estelas não vão além da época do reinado de Nabucodonosor. Não vemos qualquer razão para discordar dos números que sincronizam com reis em Babilônia e Judá antes da época de Nabucodonosor. Porém, para os reinados após essa época, por exemplo, para os reinados de Amásis e Psamético III existe alguma discordância nas fontes históricas. Com relação a Amásis, segundo uma fonte Maneto atribui a ele 44 anos. Entretanto, Sincelo cita Maneto como dando a ele apenas 42 anos. A maior data conhecida para Amásis em monumentos é ano 44. É interessante, porém, que Diodoro da Sicília (I, 68) atribui a este rei 55 anos. Com relação a Psamético III, Maneto lhe atribui um reinado de seis meses. Todavia, a maior data disponível em monumentos para este rei é ano 2; e um documento mencionado na publicação Notice des papyrus démotiques archai’ques (de Revillout) dá quatro anos de governo para um Rei Psamético que o autor alega ser Psamético III. Portanto, algumas  fontes  históricas  para os reis Amásis  e  Psamético III dão  mais  anos  do  que  os  períodos   de reinado comumente aceitos. Com relação aos anos em que Psamético governou, alguns eruditos (Unger, Wiederman, Petris) declaram que este rei governou em 526 e 525 A.E.C., ao passo que outros eruditos (Krall e Spiegelberg) preferem os anos 528 e 527 A.E.C. Em vista disso, podemos dizer com certeza que a cronologia para a 26ª dinastia do Egito confirma absolutamente os números no Cânon de Ptolomeu para o período neobabilônico? Com certeza não podemos fazer tal alegação.

Notamos que no material sobre “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”, começando na página 51, você defende a opinião de que o cativeiro babilônico começou no ano de ascensão de Nabucodonosor. Como uma linha de evidência para isto, você cita a crônica babilônica, conforme publicada por Wiseman, a qual inclui esta declaração: “Nessa época Nabucodonosor conquistou toda a área do país de Hati.” Todavia, a tradução que aparece em Crônicas Assírias e Babilônicas, de A. K. Grayson não tem “país de Hati” neste local, mas, em vez disso “Ha[ma]te”. Em uma nota, Grayson diz: “Kur Ha-[ma-a]-tu: uma restauração Ha-[at]-tu deve ser rejeitada à base de que Hat-tu também aparece nesta crônica.”

Segundo Josefo, conforme reconhecido em seu material, em Carquemis Nabucodonosor “ocupou toda a Síria, com exceção de Judá.” Com isto as Escrituras concordam. Jeremias declara que Nabucodonosor levou judeus em cativeiro “no sétimo ano”, “no décimo oitavo ano” e “no vigésimo terceiro ano” de seu reinado. (Jer 52: 28-30) O fato de Nabucodonosor ter tomado um “pesado tributo” da terra de Hati não tem de significar que os setenta anos de cativeiro para Babilônia tinham começado. Reis gentios anteriores a Nabucodonosor tinham também levado tributo de Judá.

Mais uma vez, irmão Jonsson, expressamos apreciação pelo árduo trabalho que você efetuou no material que nos enviou. Há nele muitas observações valiosas, tanto das Escrituras como de fontes seculares e nós o manteremos em arquivo para referência. Todavia, no momento a Sociedade não tem qualquer plano de publicar algo adicional ou diferente do que já foi publicado sobre este assunto.

No entanto, conforme a informação continuar a fluir, é possível que alguma coisa deste tipo possa ser feita no futuro. Mais uma vez agradecemos pelo considerável tempo e esforço que você dedicou ao objetivo de promover um entendimento mais claro de um assunto muito difícil. Enviamos nosso amor e cumprimentos.

Seus irmãos,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOSDE NOVA IORQUE, INC

Comentário:

Ninguém esperaria, é claro, que a resposta oficial da Torre de Vigia deveria ser tão extensa e tão abrangente quanto o questionamento de Jonsson. Nem o próprio Jonsson havia solicitado tal coisa. Porém, o mínimo que qualquer pesquisador sério teria todo o direito de esperar é que a resposta enviada tratasse pelo menos dos pontos principais do questionamento, fazendo isso de maneira imparcial. Nada disso se viu nessa resposta da Torre de Vigia. A carta da organização, além de fazer breves comentários sobre detalhes secundários e ignorar as evidências principais apresentadas por Jonsson, limitou-se a repetir uma série de argumentos que já haviam sido demonstrados como insustentáveis por ele.

Vale a pena enfatizar o seguinte parágrafo: “Mais uma vez, irmão Jonsson, expressamos apreciação pelo árduo trabalho que você efetuou no material que nos enviou. Há nele muitas observações valiosas, tanto das Escrituras como de fontes seculares e nós o manteremos em arquivo para referência. Todavia, no momento a Sociedade não tem qualquer plano de publicar algo adicional ou diferente do que já foi publicado sobre este assunto.”

Em termos simples: ‘Muito obrigado, irmão. Você trabalhou muito e está tudo muito bom. Mas o seu trabalho será arquivado. Não temos planos de mudar nossos ensinos.’

Dizemos, com toda a sinceridade que, caso essa resposta tivesse sido recebida por um pesquisador que não fosse Testemunha de Jeová, ela teria, com toda a certeza, sido considerada como indigna de uma organização do porte da Torre de Vigia e a faria cair prontamente no descrédito em meio a toda a comunidade erudita. Apesar disso, Jonsson ainda se dispôs a considerar minuciosamente cada ponto abrangido na resposta oficial da organização, enviando-lhes a seguinte carta:

Resposta de Jonsson – 31/03/1980

Suécia, 31 de março de 1980

Prezados Irmãos:

Sua carta de 28 de fevereiro de 1980 chegou sem problemas há aproximadamente duas semanas. Em primeiro lugar, gostaria de dizer a vocês que eu a apreciei, e especialmente a maneira como ela foi escrita: discutindo – num espírito de amor fraternal e respeito – sobre a questão da cronologia como tal, não sobre o questionador, seus motivos (se ele e desleal, apóstata, presunçoso, etc.), seu direito de examinar o assunto e questionar conclusões prévias, seu direito de partilhar suas descobertas com seus amigos e solicitar o parecer deles, e assim por diante – como se este fosse o problema. Porém, quando um alarme contra incêndio começa a soar, não seria relevante concluir que há algo errado com o alarme e que um exame atento dele com o fim de silenciá-lo resolveria o problema. Acho encorajador que em sua carta mais recente vocês voltaram sua inteira atenção para o “fogo”, por assim dizer.

Apreciei muito também a iniciativa tomada pelo irmão Bengt Hanson, em visitar-me em dezembro passado para uma conversa particular, depois da qual ele escreveu a vocês sobre minha situação.

Naturalmente, entendo muito bem que é impossível que vocês mantenham uma extensa correspondência comigo sobre o assunto da cronologia e debatam sobre cada detalhe do meu tratado (“Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”). Por outro lado, não hesito em responder sua carta, em parte porque os pontos que vocês levantaram contra minhas conclusões são claramente inválidos, o que é fácil de demonstrar, e em parte porque apresentarei duas linhas de evidência adicionais, além das que já foram apresentadas no tratado contra a data 607 A.E.C. Eu não estou fazendo isso por achar agradável empenhar-me em “questões” e “debates”, ou porque quero provar que eu estou certo e vocês estão errados. Não é importante saber quem está certo. O importante é o que está certo. A verdade e os fatos pertencem a todos aqueles que os apreciam. É por isso que sinto que devo responder sua carta.

Um verdadeiro cientista (e, por extensão, qualquer pessoa que ama a verdade) incentiva reações e críticas amigáveis, já que isso dará a ele a oportunidade de corrigir erros e trazer seus pensamentos para mais perto da verdade. Eu suponho que esta é também a atitude de vocês e, uma vez que escreveram em sua carta que “o que quer que você diga será lido e considerado cuidadosamente”, estou convicto de que a crítica e informação adicional apresentada nas páginas que seguem serão cuidadosamente examinadas, sem opiniões preconcebidas. A mente aberta para com a verdade, a coragem de encarar e enfrentar a verdade, a prontidão em aceitar a verdade quando ela é distinguida claramente, aconteça o que  acontecer – são estas as  marcas dum  amante da verdade, um verdadeiro cristão. Seria  tolice  gastar muito tempo e energia na tentativa de defender certa ideia ou interpretação até o fim, só porque não há o que colocar no lugar dela, quando toda a evidência disponível indica que ela não tem nada que ver com a realidade. Se, apesar disso, tal ideia ou interpretação é publicada, pregada e divulgada para milhões de pessoas, sendo apresentada não apenas como uma teoria, e sim como uma verdade cristã básica, afirmando-se que a rejeição dela despertaria a ira de Deus, então isso seria mais que tolo. Seria um grave pecado pelo qual Jeová nos responsabilizaria.

Os pontos que vocês levantaram serão considerados um por um sob cabeçalhos separados. Se optarem por escrever algumas linhas e dizer-me o que pensam e como se sentem com relação à informação abaixo, isto seria muito apreciado. Se acreditam que eu poderia ser de alguma ajuda em sua investigação adicional deste assunto, talvez por fornecer informação ou detalhe adicional, ou enviar alguma matéria de que precisarem, fiquem à vontade para pedir isso a mim.

Lamento que esta carta, juntamente com a consideração nas páginas que seguem tenha ficado muito longa. Todavia, tentei explicar as coisas da maneira mais breve possível. Eu pretendia acrescentar também alguma informação adicional sobre o assunto, mas talvez isso possa ser feito em outra carta no futuro, caso necessário.

Irmãos, obrigado mais uma vez por sua amável carta! Com amor cristão.

Seu irmão,

Carl Olof Jonsson  [ASSINATURA]

Anexos:

1. Correspondência entre Jonsson e Sachs.

2. Algumas páginas do artigo de J. Oates em Iraque XXVII, 1965

O CÂNON DE PTOLOMEU

Seus primeiros comentários referentes ao Cânon de Ptolomeu e a declaração que vocês fizeram de que o cânon dele não pode ser considerado como um “guia inerrante” para a cronologia da era babilônica é, naturalmente, correta. Isto foi basicamente o que eu também disse em meu tratado. Os números de Ptolomeu foram aceitos por historiadores modernos, não porque o cânon dele em si mesmo seja considerado como um guia livre de erro para a cronologia do período babilônico e posteriores, e sim porque (1) os números dele foram confirmados por uma série de fontes muito antigas para a cronologia daquela época, sendo algumas das quais contemporâneas à era neobabilônica, e porque (2) em seu extenso trabalho Almagesto, ele estabelece a cronologia apresentada em seu cânon como uma cronologia absoluta, com o apoio de uma grande quantidade de matéria sobre astronomia, reunida de fontes antigas. Os cálculos dele foram conferidos e verificados por astrônomos modernos e, mais do que isso: Descobertas modernas de tabuinhas astronômicas antigas, chamadas especificamente de “diários” astronômicos, habilitaram os astrônomos e historiadores modernos a estabelecer a cronologia absoluta de quase todo o período abrangido pelo Cânon de Ptolomeu, independentemente de Ptolomeu e seus eclipses, fornecendo assim uma confirmação independente da cronologia dele. Assim, o que importa hoje não é o Cânon de Ptolomeu, e sim as fontes e documentos mais antigos que o confirmaram: diários astronômicos, tabuinhas comerciais, crônicas, listas de reis, estelas egípcias e babilônicas contemporâneas, etc. – e a Bíblia.

Eu percebi com interesse sua declaração sobre Ptolomeu, segundo a qual “Quando ele dá informações sobre eclipses, essa informação é correta” (pág. 1) Um dos eclipses mais antigos que ele registra é datado no 5º ano de Nabopolassar (Almagesto, V. 14, pág. 340), sendo identificado pelos astrônomos modernos com o eclipse lunar de 22 de abril de 621 A.E.C. Isto, naturalmente, fixa o primeiro ano de Nabucodonosor em 604 A.E.C. (já que o pai dele, Nabopolassar, reinou por 21 anos), e o décimo oitavo ano (momento em que ele desolou Jerusalém) em 587 A.E.C. Eu percebi há alguns anos que o livro Ajuda fez uma tentativa de identificar este eclipse com um que ocorreu 20 anos antes, em 1º de junho de 641 A.E.C., para corresponder com a cronologia do livro Ajuda. Em apoio desta identificação, acrescenta-se que “Este eclipse anterior foi total (isto é, 12 dígitos ou mais) em comparação com o muito menor de apenas 1,6 dígitos em 621 A.E.C.” (pág. 331, § 3 em inglês) 

[NOTA DO TRADUTOR: Esta matéria foi suprimida na versão do “Ajuda” em português.] 

Esta declaração provou-me que o autor do artigo do Ajuda nunca tinha lido a descrição registrada por Ptolomeu e conferido até que ponto esta descrição se harmoniza com a identificação alternativa que ele apresentou. A fonte de Ptolomeu dá uma descrição razoavelmente detalhada deste eclipse, incluindo sua magnitude. Afirma-se claramente que ele foi um menor e que só um quarto do diâmetro da lua foi eclipsado. Assim, o fato de o eclipse de 1º de junho de 641 A.E.C. ter sido total não apóia a identificação e de fato a torna impossível! Achei esse erro notável, sobretudo porque o autor havia enfatizado antes em seu artigo a importância de saber se um eclipse foi total ou não. Outros detalhes (o mês, o dia, a hora da noite, etc.) também tornam impossível que seja o de 1º de junho de 641 A.E.C. e estabelecem o eclipse de 22 de abril de 621 A.E.C. como o único eclipse possível que se ajusta à descrição. (A recente tentativa de R. R. Newton de “provar” que Ptolomeu forjou alguns dos eclipses que ele registra parece ter sido um erro: Suas evidências foram rejeitadas por todos os peritos competentes, até onde eu sei). Este é apenas um de vários outros erros com os quais me deparei ao examinar o verbete “Cronologia” do livro Ajuda. Desculpem-me por apontar isto, mas espero que tais erros sejam corrigidos em futuras edições deste excelente e extremamente valioso dicionário bíblico.

“DIÁRIOS” ASTRONÔMICOS: VAT 4956 – E BM 32312

Ao comentar sobre o VAT 4956, vocês repetem seu argumento anterior (Ajuda, pág. 331, parágrafo 8 [em inglês], considerado na página 39 de meu tratado), que “ao passo que a informação astronômica nesta tabuinha aponta para o ano -567/66 (568-567 A.E.C.), atribuir a tabuinha ao 37º ano de Nabucodonosor pode ser apenas a opinião de um escriba que juntou e datou ‘uma coleção de textos de observações astronômicas’, feitas em um período ‘muito posterior’”, etc. O que vocês sugerem é que os diários astronômicos não foram datados originalmente, mas essas datas (tais como “37º ano de Nabucodonosor”) foram inseridas no texto por copistas posteriores. É esta uma explicação plausível, ou é uma tentativa desesperada de invalidar um texto que de outro modo golpearia de vez a data 607 A.E.C. e estabelece 587 A.E.C. como a data absoluta para o 18º ano de reinado de Nabucodonosor?

Os diários astronômicos geralmente contêm informações bem detalhadas sobre as posições da lua e dos cinco planetas (conhecidos na época), bem como outras informações (eventos meteorológicos, terremotos, preços de mercado, e às vezes também eventos históricos). Conforme vocês mencionaram, o VAT 4956 é datado do início do 37º ano ao início do 38º ano de Nabucodonosor, mas isto não é tudo: por todo o diário, quase todos os eventos mencionados no texto são datados, fornecendo o mês, o dia, a hora do dia (ou da noite), etc. Cerca de quarenta datas deste tipo são fornecidas durante o 37º ano de Nabucodonosor, e, naturalmente, não foi necessário repetir o ano de reinado em todos estes lugares, uma vez que isto foi dado no início de cada ano (assim como se faz também em outros documentos, tais como anais e crônicas). Vocês realmente pensam que é comum que os textos originais contenham todas estas datas durante um ano, mas não os anos de reinado no início de cada ano? Com certeza deveria ser considerado como extremamente incomum que os astrônomos babilônicos deixariam de fora este importante detalhe! Todos os textos deste tipo que foram descobertos (cerca de 1.200 fragmentos de diários astronômicos foram descobertos, um terço dos quais são tão bem preservados que podem ser datados) são datados no ano do rei reinante. São todas estas datas inseridas por copistas posteriores? A maioria dos diários abrange o período de 385 a 60 A.E.C., mas vários deles são cópias de períodos anteriores. E agora apresentarei outro diário, mais antigo do que o VAT 4956, o qual mais uma vez confirma a cronologia fornecida pelo Cânon de Ptolomeu e refuta a data de 607 A.E.C.

Num artigo intitulado “Astronomia Observacional Babilônica” [em inglês] e publicada em Philos. Trans. Royal Soc. Londres, ser. A. 276 (1974), págs. 43-50, o professor Abraham J. Sachs (o erudito que cunhou o termo “diários” para denominar estes textos e sem dúvida a mais proeminente autoridade em diários astronômicos viva atualmente) faz uma breve apresentação sobre os diários. Na página 48 ele menciona que o diário datável mais antigo é do ano 652 A.E.C. e diz: “Encontrei o conteúdo astronômico que é perfeitamente adequado para tornar esta data virtualmente certa. Foi um grande alívio quando pude confirmar a data por combinar uma observação histórica no diário com a declaração correspondente a -651 em uma crônica histórica bem datada.” (o grifo é meu). Isto pareceu ser um texto de grande importância para a questão da cronologia babilônica, e como o texto e uma tradução dele ainda não tinham sido publicados, escrevi ao Prof. Sachs e fiz-lhe duas perguntas:

1 – Que informação no diário torna a data -651 ‘virtualmente certa’?
2 – Qual é o tipo de observação histórica do diário e a que declaração de qual crônica bem datada ela corresponde?

Em sua resposta, o Prof. Sachs deu-me toda a informação que eu tinha pedido e até mesmo enviou-me uma cópia computadorizada (quase tão boa quanto a foto original) do diário em questão, o BM 32312. De especial interesse é que o argumento de vocês de que o diário pode ter sido datado por copistas de um período muito posterior não pode ser aplicado a este diário, já que “tanto o ano como o nome do mês estão fragmentados”, todavia, graças à observação histórica no diário, esta informação pode ser suprida por meio de outra fonte.

Primeiramente, o ano – 652 A.E.C. – é fixado pela informação astronômica. Sachs escreve: “Os eventos astronômicos preservados (a última visibilidade de Mercúrio no leste atrás de Peixes, a última visibilidade de Saturno atrás de Peixes, ambas por volta do dia 14 do mês I; o ponto estacionário de Marte em Escorpião no dia 17 do mês I; a primeira visibilidade de Mercúrio em Peixes no dia 6 do mês XII) determinam a data de maneira única.” Segundo o Cânon de Ptolomeu, 652 A.E.C. corresponde ao 16º ano de “Samas-Sum-Yukin” (o predecessor de Kandalanu como rei de Babilônia, que foi sucedido por Nabopolassar, o pai de Nabucodonosor).Em segundo lugar, o diário declara que o rei de Babilônia esteve envolvido numa batalha em uma localidade chamada Hirit no dia 27 do 12º mês. Se a cronologia de Ptolomeu está correta, esta batalha foi travada no 16º ano de Samas-Sum-Yukin. Pode isto ser confirmado? Sim, pode. Conforme Sachs menciona, nós encontramos a mesma informação numa crônica bem conhecida.

A crônica é conhecida como “Crônica de Akitu”, BM 86379, traduzida recentemente por A. K. Grayson em Crônicas Assírias e Babilônicas (1975), págs. 131, 132. A crônica abrange uma parte do reinado de Samas-Sum-Yukin, incluindo seu 16º ano. Não só se menciona a Batalha de Hirit, como também o dia e o mês em que ela foi travada, precisamente como no diário. No anverso da crônica, linhas 13 a 16, lemos:“No dia vinte e sete de adar (= 12º mês) os exércitos da Assíria e de Acade batalharam em Hirit. O exército de Acade retirou-se do campo de batalha e uma grande derrota foi infligida sobre eles. (Todavia), ainda houve hostilidades (e) o conflito continuou.”

Tenho certeza de que vocês percebem o que esta nova evidência significa. Os eventos astronômicos descritos no diário fixam a Batalha de Hirit no dia 27 de adar do ano 652 A.E.C. A “Crônica de Akitu” mostra claramente que esta batalha, naquele lugar e naquele dia, foi travada no 16º ano de Samas-Sum-Yukin. Assim, o 16º ano de Samas-Sum-Yukin foi 652 A.E.C. Mas este é também o ano fornecido pelo Cânon de Ptolomeu para o 16º ano de Samas-Sum-Yukin! Mais uma vez, como em muitas ocasiões anteriores, o Cânon de Ptolomeu é confirmado, e de tal modo que também, mais uma vez, refuta nossa data de 607 A.E.C. Datar a destruição de Jerusalém no décimo oitavo ano de Nabucodonosor em 607 A.E.C. deslocaria todas as datas anteriores a Nabucodonosor em 20 anos. Isto colocaria, por exemplo, o 16º ano de Samas-Sum-Yukin em 672 A.E.C., não em 652 A.E.C. Mas isto é refutado por este novo diário, que é outra testemunha independente em apoio da data 587 A.E.C. para a destruição de Jerusalém. O Prof. Sachs acrescenta em sua carta: “Talvez eu deva acrescentar que a cronologia absoluta para o reinado de Samas-Sum-Yukin nunca esteve em dúvida, e é só confirmada novamente pelo diário astronômico.”

Para a conveniência de vocês, anexei a correspondência com o Prof. Sachs e o material que ele me enviou.

A ESTELA DE NABONIDO DE HARÃ – E A ESTELA DE NABONIDO DE BABILÔNIA

Seus comentários sobre as crônicas neobabilônicas concordam com a informação mais detalhada que apresentei em meu tratado, págs. 28 e 29, assim passarei para suas objeções à inscrição de Harã.

Vocês defendem que a inscrição de Harã está sujeita a dúvida, porque ela parece apresentar um reinado de 3 anos para o rei assírio Assur-Etillu-ili antes de Nabopolassar, ao passo que as tabuinhas comerciais são datadas além do 4º ano deste rei. Mas desde que Gadd publicou a tradução do texto em 1958, outros examinaram as dificuldades que ele mencionou e ofereceram soluções para elas. Os estudos mais importantes são os de Wolfgang Von Soden (ZA, Vol. 58, 1967, págs. 241-255), Joan Oates (Iraque, Vol. 28, 1965, págs. 135-159), e Julian Reade (JCS, Vol. 23, 1970, págs. 1-9).Depois da morte de Assurbanipal da Assíria e Kandalanu de Babilônia (estes reis podem ter sido a mesma pessoa, sendo Kandalanu o nome de Assurbanipal no trono de Babilônia) em 627 A.E.C., o direito legal de Assur-Etillu-ili ao trono foi contestado por um general, Sin-Shum-lishir, e daí por um irmão de Assur-Etillu-ili, Sin-shar-ishkun. Isto causou uma guerra civil, e Nabopolassar, um comandante militar do sul, aproveitou a situação e assumiu o trono de Babilônia. Daí, por alguns anos, é compreensível que várias cidades mudaram de lado mais de uma vez, já que não estava mais claro qual autoridade devia ser vista como a legítima. A situação confusa se reflete em todos os documentos datados neste período, sendo Assur-Etillu-ili considerado como rei numa cidade e seu irmão Sin-shar-ishkun sendo aceito como rei em outra.

Em seu artigo, Oates demonstra que Adade-Gupi, a mãe de Nabonido e um sacerdote do templo de Sin em Harã, abandonaram Harã no 3º ano de Assur-etillu-ili e se mudaram para Babilônia, embora na realidade a inscrição de Harã não declare que este foi o último ano, como Gadd concluiu. Deste momento em diante, Adade-Gupi serviu sob os reis babilônicos. Reade, que aceita esta conclusão básica, demonstra em seu artigo como podem ser harmonizados todos os documentos confusos do período. As soluções apresentadas estão de acordo com a inscrição de Harã, a qual tem até se provado muito útil na tentativa de reconstituir os eventos durante este período caótico. Portanto, não parece haver qualquer razão para manter uma atitude excessivamente crítica para com a inscrição de Harã.

Caso vocês ainda achem que há, considerem então o fato de que existe outra estela do reinado de Nabonido, A ESTELA DE NABONIDO DE BABILÔNIA (descoberta em 1896), que confirma a duração dos reinados fornecidos na estela de Harã para os reis babilônicos! Essa estela (conf. Gadd, pág. 73; eu não abordei esta evidência adicional em meu tratado) foi feita evidentemente no 2º ano de Nabonido (veja a abordagem de P.-R. Berger em Die Neubabylonischen Königsinschriften, Vol. I, 1973, pág. 110 e seguintes). Segundo a tradução publicada em ANET de Pritchard, págs. 308-311, essa estela declara que “o templo é.hul.hul em Harã esteve em ruínas durante 54 anos”, até que Nabonido, no começo de seu reinado tomou medidas para restaurá-lo. Ora, a inscrição de Harã, bem como a crônica BM 21901 datam a destruição do templo de Harã no 16º ano de Nabopolassar (isto é, 610/609 A.E.C.). Somando-se os anos remanescentes de reinado depois do começo do reinado de Nabonido, fornecidos na inscrição de Harã – 5+43+2+4 – obtemos exatamente 54 anos! Assim, se vocês acham que a informação da estela de Harã deve ser rejeitada, o que devemos fazer com a mesma informação que a confirma, fornecida pela estela de Nabonido de Babilônia? Rejeitá-la também? Por quê? Devemos rejeitar toda evidência nova que contradiz nossas teorias? É este um bom método? Será que ele nos conduziria para mais próximo da verdade?

AS TABUINHAS DA CASA DE EGIBI – E MILHARES DE OUTRAS TABUINHAS COMERCIAIS

Novamente, vocês simplesmente repetem os argumentos do livro Ajuda (abordados em meu tratado, págs. 32 e 33) segundo os quais, embora tenhamos muitas tabuinhas para todos os anos dos reis neobabilônicos representados no Cânon de Ptolomeu, poderia ainda haver um período de 20 anos que estão faltando nas tabuinhas.

Vocês fazem referência ao fato de que não temos qualquer tabuinhas de contratos na coleção da Casa de Egibi que abrange os anos 7, 32, 33, 34 e 36, do rei persa Dario.  Bem, conforme Boscawen e outros eruditos depois dele têm enfatizado, a firma Egibi e Filhos prosperou do tempo de Nabucodonosor até o tempo de Dario. A coleção de tabuinhas desta firma, descoberta em 1875-6 termina com Dario. Nenhuma tabuinha de reinado de reis posteriores foi encontrada na coleção. As tabuinhas do fim do reinado de Dario são muito esparsas nesta coleção. Mas o reinado de Dario teve início quase duas décadas depois do fim da era neobabilônica. A coisa importante a considerar é que as tabuinhas abrangem os reinados de todos os reis neobabilônicos que sabemos que existiram, não somente com base no Cânon de Ptolomeu, mas também com base em diversos documentos mais antigos, sendo que alguns dos quais foram escritos contemporaneamente com o período neobabilônico.Outra coisa a ser lembrada é que as tabuinhas de Egibi são apenas uma parte de muitos milhares de tabuinhas comerciais deste período. Estas outras tabuinhas comerciais também atribuem a mesma duração dos reinados para os reis neobabilônicos! Isto é também enfatizado em meu tratado, pág. 31 e seguintes. Cada ano do reinado de Dario é também abrangido por tabuinhas deste tipo, naturalmente.Meu argumento com base nesta evidência permanece ainda não respondido: Se houve um período adicional de 20 anos durante a era neobabilônica, por que temos tantas tabuinhas de todos os anos dos reis neobabilônicos que sabemos terem existido, não somente com base no Cânon de Ptolomeu, mas com base em todos os documentos mais antigos (e às vezes contemporâneos), a inscrição de Harã, as inscrições em construções, crônicas, listas de reis, Beroso, etc., abrangendo o período dos reinados conhecidos destes reis – mas nem uma única tabuinha do período de 20 anos que vocês gostariam de acrescentar á era neobabilônica? E mais, por que as milhares de tabuinhas que devem ter sido escritas durante este suposto período de 20 anos estão faltando no mesmo período de 20 anos que também está faltando em todos os outros documentos – e não em outro período de 20 anos? E mais ainda, por que faltam as tabuinhas de um período de 20 anos exatos? Por que não de 17, 13, 7 – ou anos diferentes distribuídos pelo período neobabilônico? Quem viajou pelo reino neobabilônico e retirou todos os muitos milhares de cartas comerciais datadas neste período de 20 anos e os escondeu ou destruiu, antes de arqueólogos modernos começarem a desenterrar os arquivos dos templos, arquivos públicos, etc. nas ruínas das cidades babilônicas? De tempos em tempos, novas quantidades de tabuinhas comerciais são descobertas, traduzidas e – às vezes – publicadas – mas o período de 20 anos que estamos procurando nunca aparece. Conforme eu formulei o argumento no tratado: “Se você lança um dado muitos milhares de vezes sem nunca obter um número seis, no mínimo você tem de concluir: ‘Não há número seis neste dado.’ O mesmo é verdade também no caso dos 20 anos pelos quais estamos procurando. Eles nunca aparecem, porque nunca existiram.”

Portanto, assim como vocês repetiram seu argumento que eu tinha respondido, eu repeti meu argumento que foi deixado sem resposta.

A 26ª DINASTIA DO EGITO: AMÁSIS E PSAMÉTICO III

Em “Os Tempos dos Gentios Reconsiderados”, págs. 39-44, eu mencionei diversos sincronismos entre governantes egípcios, babilônios e judaicos, sendo que três dos quais são fornecidos pela própria Bíblia (2 Reis 23:29; Jer. 46:2, e 44:30). Demonstrei que a cronologia egípcia para este período foi estabelecida de maneira independente, a partir de fontes egípcias contemporâneas. E que todos os sincronismos estão de pleno acordo em datar a destruição de Jerusalém em 587 A.E.C., ao passo que a divergência da data 607 A.E.C. para este evento é consistentemente de cerca de 20 anos. Desta forma, a cronologia egípcia contemporânea apresenta outro testemunho independente contra nossa data 607 A.E.C.Em sua carta vocês tentam minar esta forte evidência por fazerem referência aos números conflitantes dados pelos historiadores posteriores, Diodoro e Sincelo. Porém, ao se estabelecer uma cronologia, os documentos contemporâneos não podem, naturalmente, ser refutados, ou mesmo questionados, por números fornecidos por historiadores de um período muito posterior. Os números deles têm freqüentemente mostrado estar distorcidos, e esta distorção geralmente aumenta, quanto mais distante do período tais historiadores viveram. Quanto a Maneto, seus números são mais bem preservados por Júlio Africano (221/222 E.C., conf. Wadell em Maneto, Londres, 1948, págs. xvi, xvii), e os números dele para Amásis e Psamético III concordam com as fontes contemporâneas, assim como também os números fornecidos por Heródoto, o historiador que viveu próximo da época de Amásis e Psamético III (Heródoto nasceu por volta de 484 A.E.C., ou seja, cerca de 40 anos depois do reinado de Psamético III; assim, durante sua visita ao Egito, Heródoto pode até mesmo ter encontrado pessoas que tinham nascido antes do reinado de Psamético III). Diodoro da Sicília, por outro lado, viveu durante os reinados de Júlio César e Augusto, mais de 500 anos depois de Psamético, e Sincelo escreveu sua obra perto do fim do oitavo século E.C., ou mais de 13 séculos depois de Psamético! Vocês realmente acham que os números apresentados por estes dois historiadores posteriores podem ser usados para questionar números dados por fontes contemporâneas?

Acerca dos historiadores do período clássico (grego e romano) o livro Ajuda declara: “Todos estes viveram depois do período assírio e neobabilônico… Para os períodos assírio e neobabilônico, portanto, nenhum destes escritores apresenta informações baseadas em conhecimento pessoal, mas, antes, eles registram os conceitos tradicionais de que souberam, ou, em alguns casos, talvez lessem e copiassem… Não só isso, mas aquilo que sabemos sobre os escritos deles depende atualmente de cópias de cópias, a cópia mais antiga remontando às vezes apenas ao período medieval da Era Comum. (Ajuda, pág. 332, § 4 e 5 em inglês – NOTA DO TRADUTOR: Esta matéria foi suprimida na versão em português do “Ajuda”, mas aparece em “Estudo Perspicaz”, Vol. I, pág. 611) Os números que vocês citam de Diodoro e Sincelo, portanto, não significam muito e não têm peso algum contra evidência contemporânea.  Eu só citei Heródoto e Maneto/Africano porque os números deles foram confirmados por descobertas modernas de documentos, contemporâneos aos reinados de Amásis e Psamético III.Embora Psamético III tenha reinado por apenas seis meses, vocês mencionam que “a maior data disponível em monumentos para este rei é ano 2”. Esta informação não contradiz realmente um governo de seis meses para este rei, o que qualquer pessoa familiarizada com o método egípcio de contar anos de reinado perceberá facilmente. Os egípcios aplicavam o sistema não-ascensional (veja a página 42 de meu tratado, e o Apêndice A, págs. 88 e 89), isto é, o ano em que um rei assumia o poder era contado como seu primeiro ano de reinado. Psamético III assumiu  o poder  no final do ano 526 A.E.C., provavelmente  só umas poucas semanas antes do fim do ano. Na época, o ano do calendário egípcio era quase coincidente com o ano do calendário juliano, assim Psamético ascendeu ao trono no final do ano do calendário egípcio também. Embora ele tenha reinado durante apenas uma fração desse ano, isso foi (segundo o sistema não-ascencional egípcio) contado como o primeiro ano de reinado dele. Seu segundo ano de reinado, portanto, começou só umas poucas semanas depois de sua ascensão ao trono! Se ele governou durante apenas seis meses, deveríamos esperar encontrar apenas documentos datados até o quinto mês de seu segundo ano de reinado. Temos realmente três documentos (papiros) do segundo ano dele, datados no 3º, 4º e 5º meses de seu segundo ano, correspondendo à primeira metade do ano 525 A.E.C. Daí, em maio ou junho de 525 A.E.C., Psamético foi destronado por Cambises. – Veja F. K. Kienitz, Die politische Geschichte Ägyptens vom 7, bis zum 4. Jahrhundert vor der Zeitwende, Berlim, 1953, pág. 156, nota de rodapé 7.

Depois vocês fizeram referência a “um documento mencionado na publicação Notice des papyrus démotiques archaíques (de Revillout)” que “dá quatro anos de governo para um Rei Psamético que o autor alega ser Psamético III” (o grifo é meu). E. Revillout foi um dos fundadores da publicação Revue Egyptologique, na década de 1870, e o artigo a que vocês se referem é evidentemente o que foi publicado no Vol. VII, Nº II, 1892, págs. 41-44, embora eu não consegui encontrar a declaração que vocês citaram nesse artigo. Mas num artigo publicado no Vol. III, Nº IV, 1885, págs. 187-191 (e no Vol. VII, Nº III, 1896, págs. 139), Revillout menciona e cita um documento datado no 4º ano de um Rei Psamético que ele assegura ser Psamético III. Tal ponto de vista pode até ter sido defendido naquela época, mas desde então muitos documentos importantes foram descobertos, traduzidos e publicados, o que tornou a hipótese de Revillout antiquada e obsoleta. Por exemplo, algumas das estelas de Ápis foram traduzidas e publicadas por Breasted em 1906 (Registros Antigos do Egito [em inglês]), a “Petição de Petiese” foi publicada em inglês em 1909 (F. L. Griffith, Cat. de Papiros Demóticos, III), a “Crônica Demótica” em 1914 (W. Spiegelberg, Demotische Studion 7: Die sogenannte Demotische Chronik), e a inscrição em Wadi Hammamat também foi publicada durante essa época (H. Gauthier, Le livre de rois d’Egypt, Vol. 4). Os últimos três documentos mencionados dão todos 44 anos de reinado a Amásis. Devido a estas e outras evidências, a hipótese de Revillout não pode mais ser sustentada, e ela não é compartilhada por nenhum erudito da atualidade. O documento citado por Revillout refere-se, portanto, a um dos reis anteriores conhecidos pelo nome de Psamético.Quanto à data de Krall e Spiegelberg para Psamético III (528/527 em vez de 526/525 A.E.C.), estes eruditos estavam também em atividade antes de a cronologia da 26ª dinastia ser definitivamente estabelecida (eles pertencem á última parte do século dezenove e à primeira parte do século vinte). Por muito tempo, a única discordância entre os eruditos foi se Amásis governou por 43 ou 44 anos. Este problema foi definitivamente resolvido em 1957, quando Richard A. Parker publicou seu importante artigo “O Período de Reinado de Amásis e o Início da Vigésima Sexta Dinastia”, em Mitteilungen des Deutschen Archaologischen Instituts, Kairo Abteilung, XV, 1957, págs. 208-212. A evidência que ele apresentou em apoio do ano 570 A.E.C. como sendo o primeiro ano de Amásis foi tão forte que sua conclusão obteve aceitação geral em pouco tempo. Eu tentarei recapitulá-la brevemente abaixo:

Um papiro na coleção de papiros do Louvre, Nº 7848, datado em 21 de I smw do ano 12 de Amásis (= dia 21 do mês 9 do calendário civil egípcio, segundo Pachons) refere-se a um juramento feito “antes de Khonsu… em 13 de II smw do ano 12, sendo o dia lunar 15 de I smw (lunar).”Como se pode ver, este papiro é duplamente datado, fornecendo a data no 12º ano de Amásis, tanto de acordo com o calendário civil egípcio, como de acordo com o calendário lunar. Ao passo que o calendário civil de 365 dias “acompanhava” o ano solar (com aproximadamente um dia a mais a cada quatro anos), o calendário lunar, naturalmente, era fixado pela lua, com o primeiro dia de cada mês sempre começando na manhã de invisibilidade crescente.O papiro citado acima informa que no 12º ano de Amásis, o dia 13 de II smw (= mês 10, segundo Payni) caiu no dia 15 do mês lunar, o que significa que o 1º dia do mês lunar (a manhã de invisibilidade crescente!) caiu em 29 de I smw (= o dia 29 do mês 9) do ano civil. Tal situação não ocorria todos os anos, naturalmente. Com o auxílio de uma tabela astronômica, tais como as de Herman H. Goldstine, Luas Novas e Cheias de 1001 A.C. a 1651 A.D. (em inglês – Filadélfia, 1973) é fácil verificar em que anos durante o sexto século A.E.C. ocorreu tal situação. Embora as tabelas astronômicas geralmente forneçam datas de acordo com o calendário juliano, isto não é problema, já que as datas do calendário egípcio são fáceis de serem convertidas para datas do calendário Juliano. Que ano combina com a situação descrita no papiro do 12º ano de Amásis?

Parker conseguiu demonstrar que o ano, no qual a manhã de invisibilidade crescente caiu em 29 de I smw do calendário civil egípcio, deve ter sido 559 A.E.C. (5 de outubro no calendário Juliano). O primeiro ano de Amásis, portanto, deve ter sido 570 A.E.C. Isto deixa só 45 anos para a soma dos reinados de Amásis e Psamético III, anteriores à conquista do Egito por Cambises em maio ou junho de 525 A.E.C. (570 – 525 = 45). Como Amásis reinou durante 44 anos (cronologicamente), Psamético III deve ter reinado por 1 ano (cronologicamente). E não importa como sejam contados os reinados de Amásis e Psamético III, deve-se conceder a eles um reinado somado de 45 anos, e o período total da 26ª dinastia é clara e firmemente estabelecido de qualquer maneira.

Isto é uma notável confirmação dos reinados de Amásis e Psamético III, conforme fornecidos por outros documentos, não é? Naturalmente, encontraremos um ou dois outros anos anteriores no sexto século em que o mês lunar também começou em 29 de I smw, ou pelo menos terminou naquela data, mas estes anos anteriores não estão de acordo com qualquer outro documento, ou então com algum dos números fornecidos por historiadores posteriores.Assim, a cronologia da 26ª dinastia é firme e independentemente estabelecida e os sincronismos fornecidos na Bíblia apontam claramente para 587 A.E.C. como sendo a data da destruição de Jerusalém. Mais uma vez, encontramos uma testemunha independente contra nossa data 607 A.E.C. para esse evento.

OS 70 ANOS – CATIVEIRO OU SERVIDÃO?

Na página 4 de sua carta, vocês declaram que eu considero os 70 anos como “setenta anos de cativeiro para Babilônia”, começando “no ano de ascensão de Nabucodonosor”, e depois disso vocês apresentam alguns argumentos contra tal ponto de vista.

Infelizmente, vocês parecem ter entendido mal o ponto de vista que apresentei e defendi em meu tratado. Eu nunca fiz tal aplicação, como uma cuidadosa leitura do tratado provará. Embora eu tenha argumentado que alguns cativos – incluindo Daniel e seus amigos, conforme Dan. 1:1 em diante – foram trazidos a Babilônia logo depois da Batalha de Carquemis, eu apliquei estritamente os 70 anos a um período de servidão, não só para Judá, mas também para as nações circunvizinhas, em forte concordância com as palavras da predição de Jeremias (“estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos”, Jer. 25:11). Já pelo meu subtítulo, na página 49 do tratado, vocês devem ter notado que eu declarei o assunto como “OS SETENTA ANOS – DESOLAÇÃO OU SERVIDÃO – QUAL? – não como “Desolação ou Cativeiro”. Eu também notei que na edição em tipos grandes da NM [em inglês], no cabeçalho da pág. 826, vocês descreveram os setenta anos como “70 anos de servidão”, exatamente como eu fiz. [NOTA DO TRADUTOR: Em edições posteriores, a Torre de Vigia mudou isso para “70 anos de exílio”.].“Servidão”, naturalmente, não é exatamente o mesmo que “cativeiro”, e não significou cativeiro (ou desolação!) para as nações que eram circunvizinhas de Judá, não é? Para a maior parte das nações, a “servidão” significou apenas vassalagem, embora para Judá uma parte da servidão veio a incluir tanto um período de cativeiro como de desolação. Eu citei vários textos bíblicos em apoio do fato de que a servidão começou muito antes da destruição de Jerusalém (nas págs. 49-55 do tratado), tais como Dan. 1:1, Jer. 27, 28 e 35. Outros poderiam ser acrescentados, por exemplo 2 Reis 24:1, onde se declara a respeito de Jeoiaquim: “Nos seus dias subiu Nabucodonosor, rei de Babilônia, e Jeoiaquim tornou-se assim seu servo por três anos.”, etc. Quando ele se rebelou, isto causou imediatamente atos de represália para mantê-lo em sujeição. Assim, mesmo para Judá, a servidão começou muitos anos antes da destruição de Jerusalém, e – como este texto prova – vários anos antes do fim do reinado de Jeoiaquim.

Em seguida vocês apontam que minha citação na pág. 51 do tratado, da tradução que Wiseman fez da crônica BM 21946, a qual diz que Nabucodonosor, depois da Batalha de Carquemis, “conquistou toda a área do país de Hati”, deveria dizer mais corretamente, de acordo com a mais recente tradução de Grayson, “Ha[ma]te”, um distrito em Hati (=Siro-Palestina). Sou grato por sua correção deste detalhe (o recente trabalho de Grayson não me estava disponível em 1977). Mas será que isso muda alguma coisa? Na página seguinte de meu tratado (pág. 52) eu fiz mais citações da mesma crônica: “No ano de ascensão, Nabucodonosor voltou à terra de Hati e até o mês de sebate marchou sem oposição pela terra de Hati. No mês de sebate ele levou um pesado tributo do território de Hati para Babilônia…” E para o primeiro ano do reinado de Nabucodonosor, a crônica declara: “Todos os reis da terra de Hati vieram perante ele e ele recebeu o pesado tributo deles.” Em todos estes lugares a palavra “Hati” está bem preservada no original, e Grayson, naturalmente, a traduz também como “Hati” (“Hatu”). Não é bem evidente, com base na crônica, que Nabucodonosor subjugou todo o território de Hati (=Siro-Palestina) já em seu ano de ascensão e, o mais tardar em seu primeiro ano de reinado, todos os reis da terra de Hati (entre os quais razoavelmente deveria estar também Jeioaquim, o que é apoiado por 2 Reis 24:1) eram vassalos e pagaram tributo a Nabucodonosor?É interessante notar também as palavras na citação acima: “Em seu ano de ascensão, Nabucodonosor voltou (Grayson: “retornou”) à terra de Hati”. Evidentemente, ele tinha estado lá antes. Não parece muito provável que Nabucodonosor, depois da Batalha de Carquemis e da sua conquista de “Hamate”, prosseguiu em direção ao sul e começou a subjugar o restante do território de Hati, e até mesmo levou alguns cativos dentre os judeus, fenícios e sírios, como diz Beroso? Isso estaria em completa harmonia com o que é realmente dito (sem reinterpretações forçadas) em Dan. 1:1 em diante. Mas durante sua ofensiva em direção ao sul, Nabucodonosor recebeu a mensagem sobre a morte de seu pai, o que o fez voltar rapidamente para Babilônia com o fim de assegurar o trono. Depois disso – e ainda em seu ano de ascensão, segundo a crônica, – ele voltou para o território de Hati e continuou as operações militares lá.

O que aprendemos, com base tanto na Bíblia como na crônica, é que a servidão predita por Jeremias começou muito pouco depois da Batalha de Carquemis. Se alguns cativos judaicos foram trazidos a Babilônia naquele momento ou não, é uma questão bem diferente. Beroso diz que sim, e a declaração dele é confirmada por uma leitura natural e literal de Dan. 1:1 em diante e 2:1. Não posso ver como a declaração de Josefo, feita muitos séculos depois, segundo a qual Nabucodonosor não ocupou Judá naquele momento poderia contradizer isso. A declaração de Josefo não está de acordo com a Bíblia. As declarações dele têm freqüentemente mostrado estar erradas, e com muita freqüência ele se contradiz. Ele não fornece a fonte de sua declaração e é bem possível que ele tenha dado apenas sua própria interpretação ou palpite. Se ele está ou não está certo não altera o fato de que a servidão começou no reinado de Jeoiaquim, segundo a Bíblia, e no ano de ascensão de Nabucodonosor, segundo a BM 21946.

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Como demonstrei em meu tratado, todos os antigos e mais confiáveis documentos que temos refutam nossa data 607 A.E.C. Acrescentei acima duas linhas adicionais de evidência em apoio de 587 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de Nabucodonosor, além das apresentadas no tratado: (1) o diário BM 32312 e (2) a Estela de Nabonido de Babilônia. A Bíblia está de acordo com todas estas evidências: Uma leitura natural e simples de Jer. 25:10, 11; 29:10; Dan. 1:1; 2:1; Zac. 1:7-12 e 7:1-5 leva-nos claramente à mesma conclusão. Só por meio de uma interpretação especial de 2 Crô. 36:20, 21 e Dan. 9:2 é que podemos chegar à conclusão de que Jerusalém foi destruída em 607 A.E.C. Mas, para sustentar esta conclusão, temos de rejeitar todos os documentos seculares considerados acima e em meu tratado, e mais ainda: Temos de reinterpretar vários textos da própria Bíblia e dar a eles aplicações muito desnaturais e forçadas. Mas a evidência contra a data 607 A.E.C. é sobrepujante. Não é curioso o fato de que não podemos aceitar esta sobrepujante quantidade de evidências unânimes em apoio da data 587 A.E.C. (não podemos encontrar um documento ou mesmo uma linha num documento, que apóie a data 607 A.E.C.), enquanto que ao mesmo tempo aceitamos outra data secular – 539 A.E.C. – numa base muito mais fraca, chamando-a até mesmo de “data absoluta” ou “data fundamental”? Durante aproximadamente vinte anos fazia-se referência à “Crônica de Nabonido” para apoiar a data 539 A.E.C., mas desde que esta evidência foi rejeitada (em A Sentinela de 15 de maio de 1971, pág. 316 [15 de novembro de 1971, pág. 700, em português]), nossa única “evidência” para a data é o Cânon de Ptolomeu (!) e a referência a uma data olímpica feita pelos antigos historiadores Diodoro, Africano e Eusébio! – Ajuda pág. 328 § 7 e 408 § 9.[NOTA DO TRADUTOR: A primeira referência foi suprimida do “Ajuda” em português, mas aparece em “Estudo Perspicaz”, Vol. I, pág. 608. A segunda referência está em “Ajuda”, pág. 319 § 3].

Comentário: Ou seja, a sede da organização recebeu novas informações, relacionadas diretamente àquilo que havia contraposto à evidência de Jonsson. Em outras palavras, teve mais uma oportunidade de considerar o assunto, fazendo isso de maneira amigável e respeitosa. Mas não fez nada disso. O que fizeram foi enviar a seguinte carta final:

Resposta final do Corpo Governante – 15/05/1980

EF:ESA

Nova Iorque, 15 de maio de 1980

EF = Fred Rusk, Depto de Redação [ANOTAÇÃO DE C. O. JONSSON]

Prezado Irmão Jonsson:

Sua carta de 31 de março e os anexos foram recebidos pelo Departamento de Redação da Sociedade. A informação adicional e as observações são apreciadas.

Conforme mencionamos em nossa carta de 28 de fevereiro de 1980, qualquer resposta que você desejasse dar à nossa carta seria lida e seria objeto de cuidadosa consideração. O tempo não nos permitiu dar à sua última carta essa prometida atenção até este momento. Mas ela não está sendo ignorada. Sua pesquisa está sendo adicionada ao que já temos acumulado sobre cronologia bíblica. Sua pesquisa o levou à conclusão de que certos ajustes devem ser feitos na cronologia estabelecida nas publicações da Sociedade. Você tem fortes sentimentos acerca disso, mas, esta é para preveni-lo de que isso pode se mostrar um laço para você se não for exercido grande cuidado. Temos certeza de que se apercebe que não seria apropriado você começar a declarar seus pontos de vista e conclusões sobre cronologia que sejam diferentes daqueles publicados pela Sociedade de modo tal que levante questões e problemas sérios entre os irmãos. Você pode esperar em Jeová? Nós o incentivamos a fazer isso. Ele não deixará qualquer questão desta natureza em séria dúvida. Alguns ajustes podem ser necessários no assunto da cronologia, mas não seria apropriado fazer quaisquer ajustes sem levar em consideração qualquer item pertinente de informação e pesá-lo cuidadosamente e com oração à luz das Escrituras. Até agora não vimos que a evidência seja tão forte que deva haver um ajuste maior, como você sugere. Questões definidas foram levantadas. Há uma base para estudo adicional e mais detalhado da matéria. Isso está sendo feito. Nesse ínterim, recomendamos que você tenha confiança em Jeová e na organização que Ele obviamente está usando. Não tente minar ou semear dúvidas nas mentes dos irmãos e irmãs por fazer da cronologia a coisa mais importante nas vidas deles. Ajude-os a apreciar o amor de Jeová e o que ele fez ao enviar seu Filho para prover o sacrifício de resgate. Edifique a fé e permita que suas boas ações na pregação das “boas novas” e em ajudar outros o recomendem. Não deixe que este assunto das questões sobre cronologia o faça enfraquecer na fé e perder as oportunidades de ser de real valor para seus irmãos e na congregação.

Notamos sua oferta de dar assistência adicional à Sociedade no eventual esclarecimento adicional ou uma assistência que seja necessária no estudo da cronologia bíblica. Se você mantiver seu equilíbrio em relação a isso, há a possibilidade de que você possa ser útil à Sociedade em algum momento no futuro. Mas se você se mostrar simplesmente um crítico, mesmo o bem que você está tentando realizar não mostrará ser construtivo e de valor. Você está interessado em que a verdade seja apresentada nas publicações, mas pode estar certo de que nosso desejo quanto a isso não é menor do que o seu. Mas se alguns ajustes precisam ser feitos, como mencionamos acima, é nossa resolução que estes sejam feitos somente depois que todos os fatores tiverem sido considerados cuidadosamente e com oração, e com frequência tal análise requer um bom período de tempo.

Assim, enfatizamos novamente a necessidade de sua parte, irmão Jonsson, de esperar em Jeová como todos envidamos esforços de nos provar fiéis a Ele. Receber uma herança em seu novo sistema de coisas é a coisa importante. E como estamos andando com seu povo na estrada que conduz à vida, queremos ajudar ainda outros a tirar proveito por si mesmos das provisões de Jeová neste dia da salvação de Jeová. Que Jeová abençoe seu sincero desejo de servi-lo e mostrar ser um vaso muito útil e honroso para o louvor dele. – 2 Tim. 2:20, 21.

Aproveitamos esta ocasião para enviar uma expressão de nosso amor cristão e as melhores recomendações.

Seus irmãos no serviço de Jeová,

SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOSDE NOVA IORQUE, INC

EPÍLOGO

Todos aqueles que leram a Introdução do livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados sabem como terminou essa história. (A tradução desta encontra-se em nossa seção de Publicações.)

Vale a pena enfatizar esta frase da última carta:

Se alguns ajustes precisam ser feitos… é nossa resolução que estes sejam feitos somente depois que todos os fatores tiverem sido considerados cuidadosamente e com oração, e com freqüência tal análise requer um bom período de tempo.

É lamentável dizer que esse “bom período de tempo” para fazer essa ‘consideração cuidadosa e com oração’ já dura décadas, e não há qualquer previsão de que ele termine algum dia. E – mais lamentável ainda – as Testemunhas de Jeová continuam sendo ensinadas, crêem fervorosamente e ainda ensinam por toda a Terra uma série de doutrinas relacionadas com o ano de 1914, embora esta data e todo o significado atribuído a ela não tenha fundamento algum – nem histórico, nem bíblico, nem lógico – e a liderança da Torre de Vigia sabe muito bem disso!

Imagem: Livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia, EUA, 1982), págs. 140, 141.

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